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CURSO ADSUMUS

SUA APROVAÇÃO É NOSSA MISSÃO!

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PORTUGUÊS Prof.: JULIO COUTO & MARCELO SILVA


HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza
LEGISLAÇÃO Prof.: AILSON & OTÁVIO
Apresentação

O presente trabalho é mais uma realização do Curso ADSUMUS que tem por
finalidade levar aos candidatos do Concurso para o Processo Seletivo Unificado
de Praças RM-2 Marinha do Brasil 2022 esta Apostila contém todo o conteúdo
bibliográfico de PORTUGUÊS, HISTÓRIA NAVAL e FORÇAS ARMADAS E SEGURANÇA
PÚBLICA, LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL e RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA,
estabelecido para o referido processo seletivo previsto no Aviso de Convocação
nº 09/2021.

Relembramos aos nossos alunos que a prova conterá um total de 50


questões distribuídas entre as matérias.

Pelo exposto, consideramos de fundamental importância que candidato


tenha foco, estude com afinco a presente Apostila e participe ativamente dos
simulados que além de oferecer uma grande quantidade de questões, estará,
também, preparando o candidato psicologicamente para o momento mais
importante: a prova.

Bons estudos e boa prova.

Ailson Carlos Almeida


Curso ADSUMUS

Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes; porque o Senhor, teu Deus, é contigo, por
onde quer que andares. (Josué 1:9)”

Sustenta o fogo que a vitória é nossa!


P
O
R
T
U
G
U
Ê
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SUMÁRIO

I. SEMÂNTICA ......................................................................................................................................................................... 2
II. FONEMAS X LETRAS ........................................................................................................................................................... 6
III. REGRAS DE ACENTUAÇÃO GRÁFICA ............................................................................................................................... 10
IV. USO DO HÍFEN - TABELA ESQUEMÁTICA – SÍNTESE DAS REGRAS .................................................................................. 12
V. ORTOGRAFIA – USO CORRETO DAS LETRAS .................................................................................................................... 13
VI. USO CORRETO DAS PALAVRAS ....................................................................................................................................... 15
VII. OS ELEMENTOS DA MORFOLOGIA................................................................................................................................. 19
VIII. SUBSTANTIVO ............................................................................................................................................................... 21
IX. ADJETIVO......................................................................................................................................................................... 27
X. ARTIGO ............................................................................................................................................................................. 30
XI. NUMERAL ........................................................................................................................................................................ 31
XII. CONCEITOS DE PRONOMES ........................................................................................................................................... 31
XIII. VERBOS ......................................................................................................................................................................... 42
XIV. ADVÉRBIOS ................................................................................................................................................................... 47
XV. CONECTIVOS – PREPOSIÇÕES E CONJUNÇÕES .............................................................................................................. 50
PARTE II – ANÁLISE SINTÁTICA - XVI. PERÍODO SIMPLES ................................................................................................... 56
XVII. PERÍODO COMPOSTO .................................................................................................................................................. 61
XVIII. CONCORDÂNCIA VERBAL ............................................................................................................................................ 64
XIX. CONCORDÂNCIA NOMINAL .......................................................................................................................................... 67
XX. REGÊNCIA NOMINAL ...................................................................................................................................................... 69
XXI. REGÊNCIA VERBAL ........................................................................................................................................................ 70
XXII. CRASE ........................................................................................................................................................................... 72
XXIII. PONTUAÇÃO ............................................................................................................................................................... 76
XXIV. COLOCAÇÃO PRONOMINAL........................................................................................................................................ 79
PARTE III - COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ................................................................................................. 81
VERBOS UTILIZADOS EM PROVA.......................................................................................................................................... 86
COESÃO E COERÊNCIA ......................................................................................................................................................... 89
SISTEMA LINGUÍSTICO, FALA E NORMA............................................................................................................................... 92
LINGUAGEM CÓDIGO........................................................................................................................................................... 94
FIGURAS DE LINGUAGEM .................................................................................................................................................... 96

1
I. SEMÂNTICA
1. Conceito de Semântica

A semântica é o ramo da linguística que estuda os significados e/ou sentido dos vocábulos da língua.

De acordo com duas vertentes, “sincrônica” e “diacrônica”, a semântica é dividida em:

- Semântica Descritiva: denominada de semântica sincrônica, essa classificação indica o estudo da significação das
palavras na atualidade.

- Semântica Histórica: denominada de semântica diacrônica, se encarrega de estudar o significado das palavras em
determinado espaço de tempo.

Basicamente trata de sinônimos, antônimos, parônimos e homônimos, hiperônimos e hipônimos.

2. Sinônimos e Antônimos

Os sinônimos e os antônimos designam palavras (substantivos, adjetivos, verbos, complementos, etc.), que segundo seu
significado, ora se assemelham (sinônimos) e ora são opostas (antônimos).

2.1 Sinônimos
Do grego, o termo sinônimo (synonymós) é formado pelas palavras “syn” (com); e “onymia” (nome), ou seja, no modo
literal significa aquele que está com o nome ou mesmo semelhante a ele. Não obstante, a sinonímia é o ramo da
semântica que estuda as palavras sinônimas, ou aquelas que possuem significado ou sentido semelhante, sendo muito
utilizadas nas produções dos textos, uma vez que a repetição das palavras empobrece o conteúdo.

Sinônimos Perfeitos: são as palavras que compartilham significados idênticos, por exemplo: léxico e vocabulário; morrer e
falecer; após e depois.
Sinônimos Imperfeitos: são as palavras que compartilham significados semelhantes e não idênticos, por exemplo: feliz e
alegre; cidade e município; córrego e riacho.

Segue abaixo alguns exemplos de palavras sinônimas:


Adversário e antagonista Adversidade e problema
Alegria e felicidade Alfabeto e abecedário
Ancião e idoso Apresentar e expor
Belo e bonito Brado e grito
Bruxa e feiticeira Calmo e tranquilo
Carinho e afeto Carro e automóvel
Cão e cachorro Casa e lar
Contraveneno e antídoto Diálogo e colóquio
Encontrar e achar Enxergar e ver
Extinguir e abolir Gostar e estimar
Importante e relevante Longe e distante
Moral e ética Oposição e antítese
Percurso e trajeto Perguntar e questionar
Saboroso e delicioso Transformação e metamorfose
Translúcido e diáfano

2
2.2 Antônimos
Do grego, o termo antônimo corresponde a união das palavras “anti” (algo contrário ou oposto) e “onymia” (nome). A
antonímia é o ramo da semântica que se debruça nos estudos sobre as palavras antônimas. Do mesmo modo que os
sinônimos, os antônimos são utilizados como recursos estilísticos na produção dos textos.

Segue abaixo alguns exemplos de palavras antônimas:


Aberto e fechado Alto e baixo
Amor e ódio Ativo e inativo
Bendizer e maldizer Bem e mal
Bom e mau Bonito e feio
Certo e errado Doce e salgado
Duro e mole Escuro e claro
Forte e fraco Gordo e magro
Grosso e fino Grande e pequeno
Inadequada e adequada Ordem e anarquia
Pesado e leve Presente e ausente
Progredir e regredir Quente e frio
Rápido e lento Rico e pobre
Rir e chorar Sair e entrar
Seco e molhado Simpático e antipático
Soberba e humildade Sozinho e acompanhado

3. Homônimos e Parônimos

Os Homônimos e os Parônimos são termos que fazem parte do estudo da semântica (significado das palavras). As
palavras homônimas possuem a mesma pronúncia (às vezes, a mesma escrita) e significados distintos; as palavras
parônimas são muito parecidas na pronúncia e na escrita, entretanto, possuem significados diferentes.

3.1 Homônimos
As palavras homônimas são classificadas em:

Homógrafas: são palavras iguais na grafia e diferentes na pronúncia, por exemplo: colher (verbo) e colher (substantivo);
jogo (substantivo) e jogo (verbo); denúncia (substantivo) e denuncia (verbo).
Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e diferentes na grafia, por exemplo: concertar (harmonizar) e consertar
(reparar); censo (recenseamento) e senso (juízo); acender (atear) e ascender (subir).
Perfeitas: são palavras iguais na grafia e iguais na pronúncia, por exemplo: caminho (substantivo) e caminho (verbo); cedo
(verbo) e cedo (advérbio de tempo); livre (adjetivo) e livre (verbo).

3.2 Parônimos
Os parônimos são as palavras que se assemelham na grafia e na pronúncia, entretanto, diferem no sentido. Por isso, é
muito importante tomar conhecimento desses termos para que não haja confusão.

A seguir, alguns exemplos de palavras parônimas:


Absolver (perdoar) e absorver (aspirar)
Apóstrofe (figura de linguagem) e apóstrofo (sinal gráfico)
Aprender (tomar conhecimento) e apreender (capturar)
Cavaleiro (que cavalga) e cavalheiro (homem gentil)
Comprimento (extensão) e cumprimento (saudação)
Coro (música) e couro (pele animal)
Delatar (denunciar) e Dilatar (alargar)
Descrição (ato de descrever) e discrição (prudência)
Despensa (local onde se guardam alimentos) e dispensa (ato de dispensar)
Docente (relativo a professores) e discente (relativo a alunos)
Emigrar (deixar um país) e imigrar (entrar num país)

3
Eminente (elevado) e iminente (prestes a ocorrer)
Flagrante (evidente) e fragrante (perfumado)
Fluir (transcorrer, decorrer) e fruir (desfrutar)
Imergir (afundar) e emergir (vir à tona)
Inflação (alta dos preços) e infração (violação)
Infligir (aplicar pena) e infringir (violar)
Mandado (ordem judicial) e mandato (procuração)
Osso (parte do corpo) e ouço (verbo ouvir)
Peão (aquele que anda a pé, domador de cavalos) e pião (brinquedo)
Precedente (que vem antes) e procedente (proveniente de; que possui fundamento)
Ratificar (confirmar) e retificar (corrigir)
Recrear (divertir) e recriar (criar novamente)
Tráfego (trânsito) e tráfico (comércio ilegal)
Soar (produzir som) e suar (transpirar)

4. Polissemia

A Polissemia representa a multiplicidade de significados de uma palavra. Do grego polis, significa "muitos", enquanto
sema refere-se ao "significado".

Portanto, um termo polissêmico é aquele que pode apresentar significados distintos de acordo com o contexto. Apesar
disso, eles têm a mesma etimologia e se relacionam em termos de ideia.
Vejamos alguns exemplos no qual as mesmas palavras são utilizadas em diferentes contextos:

Exemplo 1
a) A letra da música do Chico Buarque é incrível.
b) A letra daquele aluno é inteligível
c) Meu nome começa com a letra D.

Logo, constatamos que a palavra "letra" é um termo polissêmico, visto que abarca significados distintos dependendo de
sua utilização. Assim, na frase 1, a palavra é utilizada como "música, canção". Na 2 significa "caligrafia". Já na oração 3
indica a "letra do alfabeto". Apesar dos muitos significados, todos se relacionam com a ideia de escrita.

Exemplo 2
a) A boca da garrafa de cerveja está com ferrugem.
b) O seu João continua mandando bocas para a vizinha do 1.º D.
c) E que tal se você fechasse a boca?

Na oração 1 a boca da garrafa é a abertura do recipiente, enquanto na 2, tem o sentido de provocação. Apenas na oração
3 é feita referência à parte do corpo. Todos, nos entanto, se relacionam com a função da boca: abertura, fala.

4.1 Polissemia e Ambiguidade


Ambiguidade é variedade de interpretação que um discurso pode conter.
Exemplo: Ninguém conseguia se aproximar do porco do tio, tão bravo ele era.
Essa oração possui um duplo sentido no sentido de que pode ser entendida com ironia, na medida em que pode ser
interpretada como uma ofensa ao tio, ou, ao mesmo tempo, o tio pode realmente ter um suíno que é bravo.

4.2 Polissemia e Homonímia


Há outros termos que apesar das semelhanças gráficas e na pronúncia, apresentam significados diferentes. Trata-se dos
homônimos perfeitos.
A diferença entre os termos polissêmicos e os homônimos perfeitos é que a sua origem etimológica, além da ideia que
expressam, são diferentes.

4
Exemplo 1 – Temos Polissêmicos
a) A praia parecia um formigueiro no sábado.
b) O paciente queixou-se ao médico do formigueiro nas mãos.
c) Foi todo picado logo depois de pisar num formigueiro.
Na oração 1, formigueiro tem o sentido de multidão, na oração 2, tem o sentido de coceira. E, finalmente, na oração 3, o
formigueiro refere-se à toca das formigas. Todos se relacionam com a ideia de multidão, muitas formigas passando dão a
sensação de comichão, por exemplo.

Exemplo 2 – Termos Homófonos Perfeitos


Estava uma fila enorme no banco por causa do dia do pagamento dos trabalhadores.
Joana sentou no banco da praça para terminar de ler seu livro.
Se você não tiver dinheiro, eu banco nossa viagem ao exterior.
No exemplo acima, podemos constatar que o termo "banco" é homônimo. A mesma palavra significa: instituição
financeira (oração 1); assento (oração 2) e arcar com as despesas, pagar (oração 3).

5. Hiperônimos e Hipônimos
Hiperônimos são palavras de sentido genérico que têm mai abrangência que os vocábulos mais específicos (no caso, os
hipônimos)
Legume é hiperônimo de batata e cenoura.
Comprou flores e deu as rosas para a mulher.
Hipônimos são, hierarquicamente, mais específicos que os hiperônimos.
Maçã e morango são hipônimos de frutas.
Vinha um ônibus , mas o pedestre não vou o veículo.

6. Conotação e Denotação

A Conotação e a Denotação são as variações de significados que ocorrem no signo linguístico. O signo linguístico é
composto de um significante (letras e sons) e um significado (conceito, ideia).

Sentido conotativo é a linguagem em que a palavra é utilizada em sentido figurado, subjetivo ou expressivo. Ele depende
do contexto em que é empregado, sendo muito utilizado na literatura. Isso porque, no meio literário, muitas palavras tem
forte carga de sensações e sentimentos.
Sentido denotativo é a linguagem em que a palavra é utilizada em seu sentido próprio, literal, original, real, objetivo.

Exemplos
Aquele homem é um cachorro. (linguagem conotativa, sentido figurado)
O cachorro da vizinha fugiu essa manhã. (linguagem denotativa, sentido próprio)
Nesse exemplo, podemos notar que a palavra cachorro é utilizada em dois sentidos diferentes: conotativo e denotativo.
Na primeira frase o termo refere-se ao caráter do homem "cachorro", numa linguagem conotativa que indica que o
homem é mulherengo ou infiel. Na segunda frase o termo está empregado de forma denotativa, ou seja, no sentido real e
original da palavra cachorro: animal doméstico.

O sentido denotativo é, muitas vezes, caracterizado como o sentido do dicionário, ou seja, o primeira acepção da palavra.
Contudo, depois da acepção denotativa há uma abreviação, normalmente entre parênteses (fig), que indica o sentido
figurado da palavra, ou seja, o sentido conotativo.
Segundo o dicionário online de português (dicio.com.br), a palavra cachorro significa: “s.m. Cão novo. (...) Fig. Pop.
Homem desaforado, de mau caráter ou mau gênio; indivíduo desprezível, canalha."
6. Ortoépia

Ortoépia ou Ortoepia trata da pronúncia correta das palavras. Cotidianamente, e de forma natural, pronunciamos
palavras de forma incorreta, que fogem à norma culta, de modo que essa parte da fonologia trata da pronúncia de acordo
com a gramática normativa.
Assim, são inúmeros os exemplos de cacoépia (erros de pronúncia), como se segue.

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7. Curiosidades
Essa é a maior palavra da língua portuguesa: pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico. Não precisa contar. Ela
tem 46 letras! Segundo o Dicionário Online de Português, ela significa algo relacionado com a doença que ataca os
pulmões, causada pela inalação ou inspiração de cinzas vulcânicas, das cinzas provenientes de vulcões. Refere-se à
pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose (doença).

Além dessa, há várias palavras difíceis de falar especialmente em virtude de sua extensão. Muitas delas estão ligadas às
áreas de Biologia e Química: Paraclorobenzilpirrolidinonetilbenzimidazol e Piperidinoetoxicarbometoxibenzofenona,
com 43 e 37 letras, respectivamente, são nomes de substâncias químicas; Hipopotomonstrosesquipedaliofobia também é
o nome de uma doença e tem 33 letras.
Anticonstitucionalissimamente é o maior de todos os advérbios. Tem 29 letras.

II. FONEMAS X LETRAS


1. Conceito

1. Um fonema é a menor unidade sonora (fonológica) de uma língua que estabelece contraste de significado para
diferenciar palavras. Por exemplo, a diferença entre as palavras TATO e PATO, quando faladas, está apenas no primeiro
fonema: /t/ na primeira e /p/ na segunda. Já nas palavras PATA e TAPA, houve uma inversão de fonemas de modo a
formar uma nova palavra: /p/ /t/ na primeira e /t/ /p/ na segunda.

O fonema não deve ser confundido com a letra. Na língua escrita, representamos os fonemas por meio de sinais
chamados letras. Portanto, letra é a representação gráfica do fonema. Na palavra sapo, por exemplo, a letra s representa
o fonema /s/ (lê-se sê); já na palavra brasa, a letra s representa o fonema /z/ (lê-se zê).

Às vezes, o mesmo fonema pode ser representado por mais de uma letra do alfabeto. É o caso do fonema /z/, que pode
ser representado pelas letras z, s, x: zebra, casamento, exílio.
Em alguns casos, a mesma letra pode representar mais de um fonema. A letra x, por exemplo, pode representar /s/
(texto), /z/ (exibir), /chê/ (enxame), /ks/ (táxi), /c/ (auxílio), /Ø/ (excelente).

1.1 Palavras com o mesmo número de letras e fonemas:


Isso acontece nos casos em que cada letra representa um fonema diferente. Veja estes exemplos.
BONECA (Seis Letras e Seis Fonemas) BICICLETA (Nove Letras e Nove Fonemas)
FLÁCIDO (Sete Letras e Sete Fonemas) FELICITAÇÃO (Onze Letras e Onze Fonemas)
1.2 Palavras com mais letras do que fonemas.
Isso acontece pois, em alguns casos, as letras grafadas não representam nenhum som (fonema zero) ou apenas nasalisam
vogais.
HORA (4 Letras e 3 Fonemas: H = fonema zero) AMBIENTE (8 Letras e 6 Fonemas: M e N = nasalizadores)
EXCETO (6 Letras e 5 Fonemas: X = fonema zero) PENTE (5 Letras e 4 Fonemas: N = nasalizador)
QUERO (5 Letras e 4 Fonemas: U = fonema zero)
1.3 Palavras com mais fonemas do que letras.
Isso acontece quando a letra X representa som de KS. É o caso de palavras como Taxi, Sexo, Boxe, Crucifixo, dentre outras.
TAXI (Quatro Letras e Cinco Fonemas)
CRUCIFIXO (Nove Letras e Dez Fonemas)
2. Vogais, Semivogais e Consoantes
As cinco vogais são representadas pelas letras A, E, I, O, U.
As duas semivogais são representadas sobretudo pelas letras I e U. As vogais E e O ocasionalmente farão papéis de
semivogais; já a vogal A nunca fará papel de semivogal.
As vinte e uma consoantes são representadas pelas letras B, C, D, F, G, H, J, K, L, M, N, P, Q, R, S, T, V, W, X, Y, Z. As
consoantes K, W e Y foram inseridas em nosso alfabeto no Decreto 6583, que promulgou o Novo Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa.

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3. Regras de Separação Silábica

3.1) Nenhuma vogal terá mais de duas vogais.


Bo-Ne-Ca, Plan-Ta-Do, Ads-Trin-Gen-Te; Sa-Í-Da

3.2) Consoantes e Semivogais nunca ficam desacompanhadas.


Ad-Vo-Ga-Do; Psi-Co-Lo-Gi-A; Á-Gua; Es-Pé-Cie; Tungs-Tê-Nio; Pa-ra-guai

3.3) Letras iguais nunca ficam juntas na mesma sílaba.


Car-Ro, Ca-A-Tin-Ga, Ál-co-ol, Pas-sa-ro.

3.4) Dígrafos formados com a letra H não se separam.


A-cha-do; Mi-nha, Fi-lho

3.5) Divisão feita pela pronúncia.


Bi-sa-vô, tran-sa-tlan-ti-co, in-te-res-ta-du-al.

4. Encontros Vocálicos

4.1) Ditongo
Quando um conjunto composto por uma vogal e uma semivogal (ou vice-versa) é pronunciado numa mesma sílaba, o
encontro vocálico é classificado como ditongo.

4.1.1) Ditongo crescente


Quando a semivogal aparece antes da vogal. Ex.: início, promíscuo, supérfluo.

4.1.2) Ditongo decrescente


Quando a vogal aparece antes da semivogal. Ex.: saudade, pai, primeiro.

4.1.3) Ditongo oral


Quando a pronúncia ocorre com passagem de ar apenas pela boca. Ex.: naipe, cuidado, flauta.

4.1.4) Ditongo nasal


Quando a pronúncia ocorre com passagem de ar pelas fossas nasais. Ex.: mão, pães, quantidade, sequência

ATENÇÃO
Palavras como AMAM, ARMAZÉM e CUPOM também possuem ditongo! Você não vê a semivogal, mas as pronuncia: em
AMAM, AM sai com som de /ãu/; em ARMAZÉM, EM sai com som de /~ei/; em CUPOM, OM sai com som de /õu/

4.2.) Hiato
É o encontro de duas vogais fortes, por esse motivo não pertencentes à mesma sílaba.
saúde = sa – ú – de burocracia = bu – ro – cra – ci – a
maresia = ma – re – si – a seriado = se – ri – a – do

ATENÇÃO
A diferença entre ditongo e hiato está essencialmente na separação silábica decorrente da força da(s) vogal(is). Enquanto
naquele vogal e semivogal permanecem juntas na sílaba, neste as duas vogais se separam. Observe os pares "sai" / "sa-í",
"sa-bi-a" / "sá-bia".

4.3) Tritongo
É a junção de um grupo composto por uma vogal e duas semivogais numa única sílaba; sempre na ordem SV + V + SV;
nenhuma outra forma de tritongo será possível.

7
4.3.1) Tritongo oral
Quando a pronúncia ocorre com passagem de ar apenas pela boca. Ex.: Uruguai, iguais.

4.3.2) Tritongo nasal


Quando a pronúncia ocorre com passagem de ar pelas fossas nasais. Ex.: quão, saguões.

ATENÇÃO
Palavras como IGUAL e DESÁGUAM/DESÁGUEM também possuem tritongo! Você não vê as semivogais, mas as pronuncia:
em IGUAL, o L sai com som de /u/; em DESÁGUAM, AM sai com som de /ão/.

5. Encontros Consonantais
É o agrupamento de duas ou mais consoantes, desde que sem vogal intermediária e representando dois ou mais sons
distintos.

5.1) Encontros Consonantais Perfeito, Puros ou Próprios


Ocorrem numa mesma sílaba, como em: pe-dra, pla-no, a-tle-ta, cri-se, pneu, gno-mo, psi-có-lo-go.

5.2) Encontros Consonantais Imperfeitos, Disjuntos ou Impróprios:


Pertencentes a sílabas diferentes: por-ta, rit-mo, lis-ta, es-tra-da, ads-trin-gen-te.

5.3) Encontros Consonantais Fonéticos ou Dífonos:


Acontecem unicamente quando a palavra possui uma letra X representando os fonemas /ks/. Exemplos: fi-xo, se-xo, tá-xi.

6. Dígrafos
O dígrafo ocorre quando duas letras são usadas para representar um único fonema (di = dois + grafo = letra). Em
Português, temos vinte dígrafos catalogados – dez consonantais e dez vocálicos.

6.1) Dígrafos Consonantais


Quando o dígrafo tem som de consoante, como nos casos abaixo
lh (telhado) nh (marinha) ch (chave)
rr (carro) ss (passo) qu (queijo, quiabo)
gu (guerra, guia) sc (crescer) sç (desço)
xc (exceção)

ATENÇÃO
Na palavra "aquífero", a letra U é pronunciada, assim como em "quase". Atente que, nos grupos em que a letra U é
normalmente pronunciada, não teremos dígrafo. Outros casos: linguística, seriguela, cinquenta.
Nos casos em que as letras S e X representarem o fonema /s/, não teremos dígrafo, e sim encontro consonantal. Exemplo:
cas-ca; ex-cur-são.

6.2) Dígrafos Vocálicos


Registram-se na representação das vogais nasais, como nos casos abaixo.
am (tampa) an (canto) em (templo)
en (lenda) im (limpo) in (lindo)
om (tombo) on (tonto) um (chumbo)
un (corcunda)

ATENÇÃO
Os grupos AM, EM e OM, quando aparecem no final de uma palavra, formam ditongos nasais, e não dígrafos.

As palavras AMNÉSIA, AMNIÓTICO, GIMNOFILIA, LIMNOGRAFIA, LIMNOLOGIA e MNEMÔNICO formam encontros


consonantais MN, e não dígrafos.

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7. Classificação quanto ao número de sílabas
7.1) Monossílabo
Palavras compostas por uma única sílaba. Exemplos: pá, mel, fé, sol.
7.2) Dissílabo
Palavras compostas por duas sílabas. Exemplos: ca-sa, me-sa, lá-pis.
7.3) Trissílabo
Palavras compostas por três sílabas. Exemplos: ci-da-de, a-tle-ta.
7.4) Polissílabo
Palavras compostas por mais de três sílabas. Exemplos: es-co-la-ri-da-de, ha-bi-li-da-de.
8. Classificação quanto à tonicidade das sílabas
8.1) Monossílabo átono
Palavras de uma sílaba fraca, ou seja, pronunciada sem ênfase. Estes podem ser Artigos (o, a, um), Pronomes Pessoais
Oblíquos (se, te, ti, lhe, o, a), Pronome relativo (que, qual), Conjunção (e, ou, ma) ou Preposição (dos, de, a, na).
8.2) Monossílabo tônico
Palavras de uma sílaba tônica, ou seja, pronunciadas com ênfase, que podem ser verbos (li, vi, ter, ser, dê), substantivos
(sol, mar, flor, mel), adjetivos (mau, bom, má), Pronomes (eu, tu, nós), Advérbios (lá, cá, bem).
8.3) Oxítonas
A sílaba tônica é a última. Exemplos: Picolé; Ruim; Cateter; Alguém; Parabéns; Feijão; Nobel; Mister; Sutil.
8.4) Paroxítonas
A sílaba tônica é a penúltima. Exemplos: Safári; Sabonete; Álbum; Colégio; Vírus; Órgão; Imã; Móveis; Tórax; Varinha.
8.5) Proparoxítonas
A sílaba tônica é a antepenúltima e sempre será acentuada. Exemplos: Lâmpada; Árvore; Exército; Quilômetro; Médico;
Mágico; Pássaro; Péssimo; Xícara; Óculos;
9. Acentos Gráficos
9.1) Acento agudo
O acento agudo (´) é usado na maioria dos idiomas para assinalar geralmente uma vogal aberta ou longa. Exemplos:
tráfego, café, moído, sólido, úmido.
9.2) Acento grave
O acento grave (`) é usado para marcar o fenômeno da crase, ou seja, a junção de um A preposição e um A artigo ou
pronome demonstrativo. Exemplos: Vou à festa; Dirijo-me àquela aluna.
9.3) Acento circunflexo
O acento circunflexo (^) é usado em português e tem função de marcar a posição da sílaba tônica. No caso específico do
português, aparece sobre as vogais a, e, o quando são tônicas na última ou antepenúltima sílaba e têm timbre fechado.
Exemplos: lâmpada, pêssego, supôs.
9.4) Til
O til (~) não é um acento gráfico. Serve para indicar a nasalização das vogais - atualmente somente nos ditongos ão, ãe, õe
e isoladamente na vogal ã, mas no passado podia aparecer também sobre a vogal e. Também aparece, em vocábulos
oriundos do espanhol, sobre a letra n para indicar /nh/, como em "Saenz Peña". Exemplo: limão, mãe, põe.
9.5) Trema
O trema (¨) é um sinal gráfico usado em português até o acordo ortográfico de 1990 sobre a letra u nos grupos que, qui,
gue e gui quando fossem pronunciados, como em freqüência e ungüento. Hoje só é utilizado em palavras estrangeiras ou
seus derivados - Müller ou Mülleriano.
9.6) Cedilha
A cedilha (,) é usada geralmente para indicar que uma consoante deve ser pronunciada de forma sibilante. Em português,
aparece sob a letra c (ç) apenas antes das vogais A, O e U. Exemplos: pirraça, cansaço, açúcar.

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III. REGRAS DE ACENTUAÇÃO GRÁFICA
1) Regra das Proparoxítonas
Todas as proparoxítonas são acentuadas, sem exceção.
Exemplos: Sábado; Maiúscula; Ínterim; Período;

As palavras derivadas do Latim também são acentuadas: álibi, déficit, hábitat, ínterim e máxime, portanto, devem ter
acento.
Cuidado com os vocábulos cuja presença/ausência do acento forma palavras diferentes: pratica / prática; medico /
médico; trânsito, transito

2) Regra das Oxítonas


Todas as Oxítonas terminadas em A, E, O e EM serão acentuadas, seguidas ou não de S. Exemplos: Sofá/Sofás; Café/Cafés;
Cipó/Cipós; Armazém/Armazéns
Essa regra também vale para os verbos acrescentados de pronomes oblíquos átonos: transformá-lo, vendê-lo, transpô-lo;
contudo, observe que as formas verbais pedi-lo e transpu-lo não devem ser acentuadas.

3) Regra das Paroxítonas


Todas as Paroxítonas terminadas em RÃNULIXÃO-PSUM. Na verdade, você tem de notar que as paroxítonas terminadas
em R, Ã, N, U, L, I, X, ÃO, PS, UM, seguidas ou não de S. Exemplos: Revólver; Ímã; Pólen; Bônus; Móvel; Júri; Tórax; Irmão;
Bíceps; Álbum.

Atenção!
Palavras como Revólver e Tórax continuam sendo acentuadas quando passadas para o plural, mas a regra de acentuação
muda: se, no singular, elas são paroxítonas terminadas, respectivamente, em R e X, no plural elas passam a ser
proparoxítonas (Revólveres e Tóraxes).
Palavras como Pólen e Hífen, quando grafadas no plural, perderão o acento gráfico visto que palavras paroxítonas
terminadas em ENS não são acentuadas. Exemplo: Polens, Hifens, Itens

4) Regra das Proparoxítonas Terminadas em Ditongo


Todas as Paroxítonas terminadas em ditongos crescentes ou decrescentes são acentuadas, seguidas ou não de S.
Exemplos: Água; Aéreo; Variáveis
Boa parte das questões de concursos cobra justamente essa regra de acentuação.

5) Regra dos Hiatos


Acentuam-se as letras I e U que apareçam como segunda vogal de um hiato, desde que estejam sozinhas ou seguidas de S
e não antecedam o dígrafo NH. Exemplo: Saída; Egoísta; Baú; Balaústre
As palavras saiu, cair, ruim, Raul, ruindade, raiz e rainha não são acentuadas pois a segunda vogal do Hiato não está
sozinha ou está antes de NH.
Cabuçu e Jaú são oxítonas terminadas em U. Contudo, apenas Jaú é acentuada por se encontrar dentro das regras das
vogais I e U em posição de hiato. O mesmo acontece com Bati e Saí, sendo apenas esta última acentuada.

6) Regra dos Monossílabos


Acentuam-se os monossílabos tônicos terminados em A, E e O, seguidas ou não de S. Exemplos: má(s), pé(s), só(s).
Palavras terminadas em consoantes ou vogais I e U nunca serão acentuadas: mel, sol, vi, tu. Os acentos presentes nas
formas verbais "têm" e "vêm" serão justificadas abaixo.
Essa regra também vale para os verbos acrescentados de pronomes oblíquos átonos dá-lo, vê-lo, pô-lo; contudo, as
formas verbais fi-lo e pu-lo não devem ser acentuadas.

7) Regra dos Ditongos Abertos


Acentuam-se os ditongos abertos EI, OI, EU nas palavras oxítonas, seguidos ou não de S. Exemplos: Anéis; Herói; Chapéu
De acordo com o Decreto nº 6.583 (Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa), os ditongos abertos EI e OI perdem
seus acentos nas paroxítonas. Sendo assim, algumas palavras mudaram sua grafia, tais como assembleia, joia, heroico,
proteico - sem, contudo, mudar sua pronúncia.
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8) Regra das vogais após ditongo
Acentuam-se as letras I e U após ditongos nas palavras oxítonas. Exemplo: Tuiuiú; Piauí
De acordo com o Decreto nº 6.583 (Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa), as vogais paroxítonas I e U após
ditongo perdem seus respectivos acentos. Sendo assim, passamos a escrever feiura e maoista sem acento.

9) Regra dos verbos TER, VIR e VER


Acentuam-se os verbos TER, VIR e VER (e seus derivados) conforme quadro abaixo:

Ter Vir Ver


Ele Tem Vem Vê
Eles Têm Vêm Veem

Reter Advir Antever


Ele Retém Advém Antevê
Eles Retêm Advêm Anteveem

Observe que os verbos derivados de TER e VIR levarão acento também no singular. Isso acontece devido à regra da
acentuação das oxítonas terminadas em EM.

De acordo com o Decreto nº 6.583 (Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa), os hiatos EE e OO perdem seus
respectivos acentos. Sendo assim, passamos a escrever voo, enjoo, magoo, leem, deem, veem e creem sem acento.

10) Regra dos Acentos Diferenciais


Usa-se o acento diferencial apenas para se diferenciar:
- Pode (Presente) x Pôde (Pretérito Perfeito).
- Por (preposição) x Pôr (Verbo)
_ fôrma (substantivo), para se distinguir de forma (substantivo; 3a pessoa do singular do presente do indicativo ou 2a
pessoa do singular do imperativo do verbo formar). Nesse caso, é facultativo.

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IV. USO DO HÍFEN - Tabela esquemática – Síntese das regras

JUNTA-SE COM JUNTA-SE SEM


HÍFEN HÍFEN

LETRA INICIAL DO SEGUNDO


VOCÁBULO
PREFIXOS Vogal EXEMPLOS
igual à
vogal h r s b m n outros
final do
prefixo
aero, agro, alvi, ante, anti-inflamatório, antissocial, arqui-inimigo,
anti, arqui, auto, autoestima, autorretrato, autossuficiente,
contra, des, extra, contrarregra, contra-ataque, extrasseco,
foto, geo, hidro, in, infraestrutura, infravermelho, maxidesvalorização,
infra, intra, macro, mega-amiga, micro-organismo, microssistema, mini-
maxi, mega, micro, instrumento, minissaia, motosserra, multirracial,
mini, moto, multi, neoneonatal, proto-história, pseudociência,
neo, pluri, poli, proto, semiárido, semi-integral, semirrígido, sobre-erguer,
pseudo, retro, semi, sobre-humano, sobressaia, socioeconômico,
sobre, socio, supra, suprassumo, tele-homenagem, ultra-apressado,
tele, tri, ultra ultrainterino, ultrassom,
circum, pan circum-ambiente, circum-navegar, panceleste
ciber, hiper, inter, cibercafé, ciberespaço, interdisciplinar, super-
super homem, superamigo
sob, sub subalugar, sub-reitor, sub-humano
2
mal malsucedido, mal-estar, mal-humorado, malnascido
coautor, cooperar, corresponsável, reavaliar,
co, re
reescrever
além, aquém,
além-mar, bem-educado, pré-natal, pró-reitor,
bem2,ex, pós3, pré3,
recém-nascido, sem-terra, vice-campeão
pró3, recém, sem, vice
1
Não se usa hífen quando o segundo vocábulo perde o H original: desumano, inábil etc.
2
Usa-se o hífen quando ocorrer formação de um adjetivo (ex.: mal-amado) ou substantivo (ex.: bem-me-quer).
3
Quando a pronúncia for fechada (pos, pre, pro), liga-se sem hífen ao outro vocábulo: preencher, posposto
(exceções: preaquecer, predeterminar, preestabelecer, preexistir).
ATENÇÃO: quando a pronúncia exigir, dobra-se o R ou S do segundo vocábulo.

Palavras compostas ou formadas por justaposição: O hífen é mantido nas palavras compostas nas quais os termos
mantêm significado próprio, mantendo inclusive o acento: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, médico-
cirurgião, tenente-coronel, tio-avô, alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano,
porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, euro-africano, primeiro-
ministro, primeiro-sargento, segunda-feira; conta-gotas, guarda-chuva.

Nos topônimos: O hífen é utilizado nos topônimos começados por Grã e Grão, cujo primeiro termo seja uma
flexão verbal ou cujos termos estejam ligados por artigo: Grã-Bretanha, Grão-Pará; Abre-Campo; Passa-Quatro, Quebra-
Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes; Albergaria-a-Velha, Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-
Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes.

 Observação: Outros topônimos compostos escrevem-se com os elementos separados, sem hífen: A dos
Francos, América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta, etc.
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 Exceção: Guiné-Bissau e Timor-Leste mantêm o hífen, mesmo não estando no caso acima por configurarem exceções
consagradas pelo uso.

Nas palavras compostas que designam espécies animais ou vegetais:


Palavras que designam espécies estudadas pela zoologia ou pela botânica mantêm o hífen, tendo ou não ligação por
artigo ou começo por forma verbal: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde; bênção-de-deus, erva-do-chá,
ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inácio; bem-me-quer (nome de planta que também se dá à margarida e ao malmequer);
andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-do-mar, cobra-d'água, lesma-de-conchinha; bem-te-vi.

Nas locuções: Nas locuções em geral não se usa o hífen. O Acordo fornece vários exemplos:
 a) substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar;
 b) adjetivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho;
 c) pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja;
 d) adverbiais: à parte, à vontade, de mais, depois de amanhã, em cima, por isso;
 e) prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à parte de, apesar de, aquando de, debaixo de,
enquanto a, por baixo de, por cima de, quanto a;
 f) conjuncionais: a fim de que, ao passo que, contanto que, logo que, por conseguinte, visto que.

 Exceção: nos casos consagrados pelo uso o hífen é mantido - água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-
perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa.

 Nas colocações pronominais: O hífen continua a ser usado nas colocações enclíticas e mesoclíticas: amá-lo, dá-
se, deixa-o, partir-lhe; amá-lo-ei, enviar-lhe-emos, dar-se-vos-á

V. ORTOGRAFIA – USO CORRETO DAS LETRAS


 Emprego de X e CH

Casos X CH Exemplos Exceções

01. Após ditongo caixa, frouxo recauchutar


02. Após “en” enxaqueca, enxada, enxame
03. Após “en” (prefixos de palavras encher, enchimento, enchente, preencher, enchiqueirar,
iniciadas por ch) encharcado
04. Após a sílaba “me” mexerica, mexilhão,mexicano mecha
05. Vocábulos de origem indígena ou abacaxi, xavante, orixá, xará, xerife, xampu
africana
06. Nas seguintes palavras bexiga, bruxa, coaxar, faxina, graxa, lagartixa, lixa, lixo, puxar, rixa,
oxalá, praxe, roxo, vexame,
xadrez,xarope, xaxim, xícara, xale, xingar, etc.
07. Nas seguintes palavras bochecha, bucha, cachimbo, chalé, charque,
chimarrão, chuchu, chute, cochilo, debochar, fachada, fantoche,
ficha, flecha, mochila, pechincha, salsicha

 Emprego de G ou J

Casos J G Exemplos Exceções


01. Substantivos terminados em - Exs: barragem, miragem, viagem, origem, ferrugem pajem,viajem
agem, -igem, -ugem vertigem, origem, penugem enferrujem
02. Palavras terminadas em -ágio,- estágio,privilégio, prestígio, relógio, refúgio
égio, -ígio, -ógio, -úgio
03. Nas formas dos verbos arranjar: arranjo, arranje, arranjem
terminados em -jar ou -jear despejar: despejo, despeje, despejem
gorjear: gorjeie, gorjeiam, gorjeando
enferrujar: enferruje, enferrujem
viajar: viajo, viaje, viajem (3ª p. pl. pres. subjuntivo)
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04. Nas palavras derivadas de outras Exs: engessar (de gesso), massagista (de massagem), vertiginoso
que se grafam com g (de vertigem)
05. Nas palavras derivadas de outras laranja – laranjeira loja – lojista
que já apresentam j nojo – nojeira jeito - ajeitar
cereja – cerejeira varejo – varejista
rijo – enrijecer lisonja - lisonjeador
06. Palavras de origem tupi, africana, biju, jiboia, canjica, pajé, jerico, manjericão, Moji
árabe ou exótica
07. Nos seguintes vocábulos: algema, auge, bege, geada, gengiva, gibi, gilete, hegemonia,
herege, megera, monge, rabugento, vagem.
08. Nos seguintes vocábulos: berinjela, cafajeste, jeca, jegue, majestade, jeito, jejum, laje
 Emprego das Letras S, Z ou X (som de z)
Casos S Z X Exemplos Exceções
01. ISAR: Nas palavras derivadas de Exemplos: análise – analisar ; aviso – avisar catequizar
outras que já apresentam “s” no catálise – catalisador ; pesquisa – pesquisar batizar
radical
02. Nas palavras derivadas de outras deslize – deslizar; razão – razoável;
que já apresentam z no radical vazio – esvaziar ; raiz – enraizar;
cruz – cruzeiro;
03. Nos sufixos -izar, -ização ao real- realizar ; civilizar – civilização;
formar verbos e substantivos colonizar - colonização
04. Nos sufixos -ês e -esa, ao burguês – burguesa ; inglês – inglesa; chinês – chinesa ;
indicarem nacionalidade ou título milanês – milanesa; pequinês ; cortês etc
05. Sufixos -ez, -eza, formando inválido – invalidez ; limpo – limpeza;
substantivos abstratos a partir de macio – maciez ; rígido – rigidez;
adjetivos surdo – surdez ; frio - frieza
06. Nos sufixos formadores de catarinense – palmeirense - gostoso – gostosa ; teimoso –
adjetivos -ense, -oso e -osa teimosa - amoroso – amorosa.
08. Nas formas dos pus, pôs, pusemos, puseram, pusera, pusesse, puséssemos,
verbos pôr e querer, bem como em quis, quisemos, quiseram, quiser, quisera, quiséssemos, repus,
seus derivados: repusera, repusesse.
09. Palavras iniciadas com A azedo, azeite, azia, azeitona asa, Ásia e
asilo
10. Palavras iniciadas com E exame, exército, exemplo, exumar. exílio, esotérico
esôfago,
Ezequiel,
Ezequias
11. Palavras iniciadas com I, O, U Isaura, Osíris e usucapião ozônio
12. Nos derivados em -zal,
-zeiro, -zinho, -zinha, -zito, -zita: cafezal – cafezinho – cafezeiro, cãezito.
13. Nos seguintes vocábulos: abuso, asilo, através, aviso, besouro, brasa, cortesia,
decisão,despesa, empresa, freguesia, fusível, maisena,
mesada, paisagem, paraíso, pêsames, presépio, presídio,
querosene, raposa, surpresa, tesoura, usura, vaso, vigésimo,
visita, etc.
14. Nos seguintes vocábulos: azar, azeite, azedo, amizade, buzina, bazar, catequizar,
chafariz, cicatriz, coalizão, cuscuz, proeza, vizinho, xadrez,
verniz

 Emprego de S, Ç, SS, SC e X
Existem diversas formas para a representação do fonema /S/. Observe:
Casos S Ç SS SC X Exemplos

01. Nos substantivos derivados de expandir- expansão; estender- extensão


verbos terminados em "andir", pretender- pretensão; verter- versão
"ender", "verter" e "pelir" suspender- suspensão; converter – conversão
expelir – expulsão ; repelir - repulsão
02. Nos substantivos derivados dos ater – atenção ; torcer – torção; contorcer – contorção ; deter –
verbos "ter" e "torcer" detenção; manter – manutenção
03. Em alguns casos, a letra “X” soa auxílio, expectativa, experto, extroversão, sexta, texto, trouxe
como “ss”
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04. Nos termos eruditos acréscimo, ascensorista,consciência, descender, discente,
fascículo, fascínio, imprescindível, miscigenação, plebiscito,
rescisão, transcender
05. Na conjugação de alguns verbos nascer- nasço, nasça crescer- cresço, cresça
descer- desço, desça
06. Nos substantivos derivados de agredir – demitir – ceder – discutir
verbos terminados em "gredir", agressão demissão cessão discussão
"mitir", "ceder" e "cutir" transmitir – exceder – repercutir;
transmissão – excesso - repercussão

 Emprego das letras E e I


Casos E I Exemplos
01. Em sílabas finais dos verbos terminados em - magoar – magoe, magoes
oar, -uar continuar – continue, continues
02. Em palavras formadas com o antebraço, antecipar
prefixo ante (anterior)
03. Nos seguintes vocábulos: cadeado, confete, disenteria, empecilho, irrequieto, mexerico,
orquídea
04. Em sílabas finais dos verbos terminados em - cair- cai doer- dói influir - influi
air, -oer, -uir
05. Em palavras formadas com o prefixo anti- anticristo – antitetânico
(contra)
06. Nos seguintes vocábulos: aborígine, artimanha, chefiar, digladiar, penicilina, privilégio

 Emprego das letras O e U


Casos O U Exemplos
01. A oposição o/u é responsável pela diferença de comprimento (extensão) e cumprimento (saudação,
significado de algumas palavras. realização) ; soar (emitir som) e suar (transpirar)
02. Nos seguintes vocábulos: bolacha, bússola, costume, moleque.
03. Nos seguintes vocábulos: camundongo, jabuti, Manuel, tábua

VI. USO CORRETO DAS PALAVRAS


01. Há, A ou À?

"Há" só pode ser usado caso se refira a um tempo já transcorrido:


"A" é usado quando a ideia for de “tempo futuro”, caso em que devemos usar a preposição, ou de distância.
"À" só aparecerá no sentido de hora exata no relógio, podendo, nesse caso, aparecer antes da palavra "uma".
Exemplos
a) Só nos veremos daqui a um mês.
b) Estamos a dez quilômetros do estádio.
c) Não nos vemos há dez dias.
d) Há muito tempo, ocorreu aqui uma tragédia.
e) Encontrarei vocês à meia noite.

02. Abaixo / A Baixo


"Abaixo" tem o mesmo valor que "embaixo", "sob". Ou ainda representar uma crítica
"A baixo" significa "para baixo", "até embaixo":
Exemplos
a) Sua classificação foi abaixo da minha. d) O prédio foi a baixo em poucos minutos.
b) O livro está abaixo da mesa. e) Abaixo os altos preços !
c) Ela me olhava de alto a baixo.

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03. Ao invés de / Em vez de

“Em vez de” é usado como substituição.


“Ao invés de” é usado como oposição.

Exemplos
a) Vou a São Paulo em vez de BH. c) Estudei química em vez de matemática.
b) Ele era grande ao invés de pequeno. d) Subiu a escada ao invés de descer.

04. De encontro a / Ao encontro de

“Ao encontro de” expressa harmonia.


“De encontro a” expressa embate.

Exemplos
a) Obrigada! Sua ajuda veio ao encontro do que eu c) Discutimos, pois suas ideias vão de encontro às
precisava. minhas.
b) Brigaram porque a opinião dele ia de encontro ao que d) Estamos satisfeitos porque sua decisão vem ao
ela acreditava. encontro das nossas reivindicações.

05. Através de / Por meio de

“Por meio de” é o mesmo que “por intermédio”.


“Através de” expressa a ideia de atravessar.

Exemplos
a) Conseguimos por meio de muito trabalho.
b) Olhava através de janelas bem pequenas.
06. Em princípio / A princípio

“A princípio” equivale a “no início”.


“Em princípio” equivale a “em tese”.

Exemplos
a) A princípio, pensei como você, mas logo mudei de ideia.
b) Em princípio, todo homem é igual perante a lei.

07. Se não / Senão

“Senão” significa “caso contrário” ou “a não ser”.


“Se não” é usado para expressar uma condição.

Exemplos
a) Me avise, senão vou esquecer. c) Se não puder, nos avise antes.
b) Não fez senão o prometido. d) Não houve um senão no evento,

08. À medida que / Na medida em que

“Na medida em que” equivale a “porque”.


“À medida que” mostra relação de proporção.

Exemplos
a) Cancelamos a reunião na medida em que a negociação havia sido adiada.
b) A produtividade aumenta à medida que a equipe usa a ferramenta.

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09. Trás / Traz

“Trás” só existe na expressão “Para trás”.


Se você está se referindo ao verbo “trazer”, lembre-se da letra z nele e use sempre “traz”.
Exemplos
a) Ela trouxe os objetos para trás da parede de vidro.
b) Ela sempre nos traz esperanças de um dia melhor.

10. Afim / A fim de

“A fim de” indica ideia de finalidade, desejo.


“Afim” é um adjetivo, o mesmo que “semelhante”.

Exemplos
a) Irei ao evento a fim de praticar o networking. c) Temos uma grande ideia afim.
b) Estou a fim de sair com aquela menina. d) As duas amigas têm pensamentos afins.

11. Tão pouco / Tampouco

Tampouco corresponde a “também não”, “nem sequer”.


Tão pouco corresponde a “muito pouco”.

Exemplos
a) Ele não fez o que pedi, tampouco o que você pediu.
b) O fim de semana foi delicioso, mas durou tão pouco.

12. Mau / Mal

Mal opõe-se a bem e faz papel de advérbio ou substantivo.


Mau opõe-se a bom e faz papel de adjetivo.

Exemplos
a) Acordo mal humorada. c) Hoje é um mau dia para conversarmos.
b) Mal cheguei, tinha trabalho na mesa. d) João é um mau menino que pratica o mal.

13. Obrigado / Obrigada

Homens dizem “obrigado”. Mulheres dizem “obrigada”.


Atenção: "obrigado" e "obrigada" são adjetivos, portanto, variáveis!

Exemplos
a) Muito obrigado, disse o rapaz na cerimônia. c) Muito obrigados, disseram eles na cerimônia.
b) Muito obrigada disse a moça na cerimônia. d) Muito obrigadas, disseram as moças.

14. Mas / Mais / Más

"Mas" é conjunção adversativa, com valor de oposição, e significa “porém”.


"Mais" é advérbio de intensidade ou pronome indefinido (o oposto de "menos").
“Más” é o contrário de “boas” e sinônimo de “ruins”.
Exemplos
a) Gostaria de ter viajado, mas tive um imprevisto. d) Ninguém gosta mais de mim.
b) Adicione mais açúcar se quiser. e) Ela é bonitinha, mas antipática.
c) Joana está mais linda hoje. f) Não são pessoas más, apenas desatentas.

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15. Acerca de / A cerca de / Há cerca de / Cerca de / A cerca

“Acerca de” é o mesmo que “a respeito de”.


Já “a cerca de” indica aproximação (futuro ou distância).
“Há cerca de” indica “existe aproximadamente” ; “aproximadamente no passado”
“cerca de” indica “durante”, “aproximadamente”.
“A cerca” indica algo que demarca um espaço.

Exemplos
a) Deveríamos discutir mais acerca de política. d) A cerca de arame farpado foi cortada.
b) Moro a cerca de 3Km daqui. e) Estamos a cerca de dez quilômetros do estádio.
c) Eu me formei há cerca de 15 anos. f) Há cerca de dez pessoas na sala de espera.

16. Por hora / Por ora

"Por hora" significa "a cada hora".


"Por ora" significa "nesse momento", "agora".

Exemplos
a) João ganha em seu trabalho 83 reais por hora.
b) Por ora, terminemos a aula por aqui.

17. Quiz / Quis

"Quiz" existe e se refere a um jogo feito com perguntas e respostas. "Quis" é uma conjugação do verbo "querer", e, assim
como todas as outras conjugações, é escrita com S.

Exemplos
a) Joana não quis participar do quiz em seu colégio.
b) Se você quiser vir, será muito bem recebido.
c) Não pensei que ele quisesse chegar tão cedo à aula.

18. Onde / De onde / Aonde

“Onde” se refere a um lugar em que alguém ou alguma coisa se encontra naquele momento. “Aonde” é formado pela
preposição “a”, porque indica movimento de destino - quem vai vai a algum lugar. “De onde” indica movimento de
origem, por isso é grafado com a preposição "de".

Exemplos
a) Onde estou? Estou em casa!
b) Aonde vou? Vou ao curso!
c) De onde saí? Da escola.

19. Uso dos Porquês

a) Por que (Separado e sem acento)


Utilizado nas perguntas diretas ou indiretas, equivalente a "por que motivo" ou "por que causa".
Exemplo: Por que ele não voltou mais?
Exemplo: Quero saber por que vocês estão aqui.

Também pode ser utilizado quando assume o valor de "pelo qual" e suas variantes.
Exemplo: O caminho por que passei era de pedra.
A aluna por que estou apaixonado é muito simpática.

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b) Por quê (Separado e com acento circunflexo)
É usado no fim das frases interrogativas diretas ou de maneira isolada. Antes de um sinal de pontuação ainda assim
mantém o sentido interrogativo ou exclamativo. O “por quê” mantém o sentido de “por qual motivo”.
Exemplos: O almoço não foi servido por quê?
Andar a pé, por quê, João?
Andar a pé, por quê, se eu não estou bem?

c) Porquê (Junto e com acento circunflexo)


É utilizado com o mesmo sentido da palavra “motivo”, "causa" ou “razão”. Aparece normalmente precedido de artigo,
pronome, adjetivo ou numeral, visto que é um substantivo.
Exemplos:
Não foi explicado o porquê de tanto barulho na noite de ontem.
São vários porquês que me fizeram desistir da carreira.

d) Porque (Grafado junto e sem acento)


Conjunção subordinativa causal ou coordenativa explicativa que pode ser substituído por “pois”, "visto que" ou “uma vez
que”. Aparece também nas respostas, bem como no sentido de "para que".
Exemplo: Não fui à escola ontem porque fiquei doente.
Nós torcemos todos os dias porque a violência acabe.

VII. OS ELEMENTOS DA MORFOLOGIA


O radical é a forma mínima que indica o sentido básico de uma palavra. Alguns vocábulos são constituídos apenas por
radical (lápis, mar, hoje). Os radicais permitem a formação de famílias de palavras: menin-o, menin-a; menin-ada, menin-
inho, menin-ona.

A vogal temática é a vogal que, em alguns casos, une-se ao radical, preparando-o para receber as desinências: com-e-r.

O tema é o acréscimo da vogal temática ao radical, pois na língua portuguesa é impossível a ligação do radical com,
com a desinência r, por isso é necessário o uso do tema e.

As desinências estão apoiadas ao radical para marcar as flexões gramaticais. Podem ser nominais ou verbais:
As nominais indicam flexões de gênero e número dos nomes (gat-a e gato-s).
Já as verbais indicam tempo e modo (modo-temporais / fal-á-sse-mos) ou pessoa e número (número-pessoais / fal-á-
sse-mos) dos verbos.

Os afixos são morfemas derivacionais (gramaticais) agregados ao radical para formar palavras novas. Os afixos da língua
portuguesa são o prefixo, colocado antes do radical (infeliz) e o sufixo, colocado depois do radical (felizmente)

A vogal e consoante de ligação são elementos mórficos insignificativos que surgem para facilitar ou até possibilitar a
pronúncia de determinadas construções (silv-í-cola, pe-z-inho, pobre-t-ão, rat-i-cida, rod-o-via)

Já os alomorfes são as variações que os morfemas sofrem (amaria - amaríeis; feliz - felicidade).

1.1 Morfemas
São unidades mínimas de significação, integrantes da palavra, que não admitem subdivisão em unidades significativas
menores. Quanto à significação, podem ser:

 morfemas lexicais (lexemas ou semantemas) de significação externa, ou seja, cujo significado está ligado ao mundo
objetivo, indicando o significado da palavra.
 morfemas gramaticais (gramemas ou formantes) de significação interna, relacionados ao universo linguístico, isto é,
tem significado ligado somente ao sistema gramatical da língua.

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2. Processos de Formação de Palavras

As palavras estão em constante processo de evolução, o que torna a língua um fenômeno vivo que acompanha o
homem. Por isso alguns vocábulos caem em desuso (arcaísmos), enquanto outros nascem (neologismos) e outros mudam
de significado com o passar do tempo.
Na Língua Portuguesa, em função da estruturação e origem das palavras encontramos a seguinte divisão:
 palavras primitivas - não derivam de outras (casa, flor)
 palavras derivadas - derivam de outras (casebre, florzinha)
 palavras simples - só possuem um radical (couve, flor)
 palavras compostas - possuem mais de um radical (couve-flor, aguardente)

Para a formação das palavras portuguesas, é necessário o conhecimento dos seguintes processos de formação:

2.1 Composição
Processo em que ocorre a junção de dois ou mais radicais. São dois tipos de composição.
 justaposição: quando não ocorre a alteração fonética (girassol, sexta-feira);
 aglutinação: quando ocorre a alteração fonética, com perda de elementos (pernalta, de perna + alta).

2.2 Derivação
Processo em que a palavra primitiva (1º radical) sofre o acréscimo de afixos. São cinco tipos de derivação.
 prefixal: acréscimo de prefixo à palavra primitiva (in-útil);
 sufixal: acréscimo de sufixo à palavra primitiva (clara-mente);
 prefixal e sufixal: acréscimo de prefixo e sufixo à palavra primitiva (des+leal+dade, in+feliz+mente).
 parassintética ou parassíntese: acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo, à palavra primitiva (em + lata + ado). Esse
processo é responsável pela formação de verbos, de base substantiva ou adjetiva;
 regressiva, regressão ou deverbal: redução da palavra primitiva. Nesse processo forma-se substantivos abstratos por
derivação regressiva de formas verbais (ajuda / de ajudar);
 imprópria ou conversão: é a alteração da classe gramatical da palavra primitiva ("o jantar" - de verbo para substantivo;
"é um judas" - de substantivo próprio a comum).

2.3 Outros Processos


Além desses processos, a língua portuguesa também possui outros processos para formação de palavras, como:
 Hibridismo: são palavras compostas, ou derivadas, constituídas por elementos originários de línguas diferentes
(automóvel e monóculo, grego e latim / sociologia, bígamo, bicicleta, latim e grego / alcalóide, alcoômetro, árabe e
grego / caiporismo: tupi e grego / bananal - africano e latino / sambódromo - africano e grego / burocracia - francês e
grego);
 Onomatopéia: reprodução imitativa de sons (pingue-pingue, zunzum, miau);
 Abreviação vocabular: redução da palavra até o limite de sua compreensão (metrô, moto, pneu, extra, dr., obs.)
 Siglas: a formação de siglas utiliza as letras iniciais de uma sequência de palavras (Academia Brasileira de Letras - ABL).
A partir de siglas, formam-se outras palavras também (aidético, petista)
 Acrônimos: a formação de siglas utilizando sílabas iniciais de uma sequência de palavras (Empresa Brasileira de
Pecuária e Agricultura - Embrapa). A partir de acrônimos, formam-se outras palavras também (embrapismo). Via de
regra, apenas a primeira letra do acrônimo é grafada maiúscula.
 Neologismo: nome dado ao processo de criação de novas palavras, ou para palavras que adquirem um novo
significado.

3. Flexão Verbal
 Número: singular ou plural;
 Pessoa gramatical: 1ª, 2ª ou 3ª;
 Tempo: referência ao momento em que se fala;
 Voz: ativa, passiva, reflexiva e reflexiva reciproca;
 modo: indicativo (certeza de um fato ou estado), subjuntivo (possibilidade ou desejo de realização de um fato ou
incerteza do estado) e imperativo (expressa ordem, advertência ou pedido).
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3.1 Morfologia dos Verbos
3.1.1 Conjugação Verbal
Há três conjugações para os verbos da língua portuguesa:
1ª conjugação: -ar •• 2ª conjugação: -er •• 3ª conjugação: -ir.

Obs.: O verbo pôr e seus derivados pertencem à 2ª conjugação, por se originarem do antigo verbo poer.

Importante: os neologismos serão sempre formados na primeira conjugação com o sufixo AR (“deletar”, “startear”,
“cervejar”, “sapucar”, “butar”, “internetear” e tantos outros)

3.2 Estrutura Dos Verbos


Verbo Radical VT Tema DMT DNP
Estudar estud a estuda r ----
Amássemos am a ama sse mos
Vingou ving o vingo ---- u
partiríamos part i parti ria mos

Formação do verbo, então, será na ordem: Radical + VT + DMT + DNP.


Verbos regulares, radical sempre o mesmo. Presente e Pretérito Perfeito do Indicativo não tem DMT (DNP própria).
Primeira e Terceira pessoa do singular não tem DNP.

VIII. SUBSTANTIVO
É a palavra que nomeia seres, objetos, qualidades, ações, estados, sentimentos e idéias. É flexionado em gênero e
número; já o grau do substantivo se dá por derivação sufixal.

1.1 Classificação do substantivo


Quanto a sua classificação, ele pode ser:
a) próprio: Marcelo chegou. – MACETE: geralmente escrito com letra MAIÚSCULA.
b) comum: é aquele que designa todos os seres da mesma espécie. O martelo enferrujou.
c) concreto: é aquele que designa os seres que têm subsistência própria: folha, Deus, fada, gnomo.
d) abstrato: é aquele que designa sensações, estados, ações ou qualidades dos seres: paciência, paz, justiça.

Já quanto a sua formação, o substantivo pode ser:


a) simples: é aquele que apresenta UM só elemento formador, ou seja, UM só radical. Não gosto de goiaba.
b) composto: é aquele que é formado por MAIS DE UM radical. Não gosto de fruta-pão.
c) primitivo: é aquele que pode dar origem a outras palavras. Não gosto de goiaba.
d) derivado: é aquele que se origina (DERIVA) de outras palavras. Não gosto de goiabada.

1.2 Substantivos Coletivos


São palavras que indicam o agrupamento de pessoas, seres, coisas, objetos ou animais da mesma espécie. Seguem
alguns exemplos de substantivos coletivos de pessoas, animais, plantas e objetos.

1.3 Gênero dos substantivos


As Flexões de Gênero do Substantivo referem-se ao masculino e feminino de seres, objetos e entidades. Pertencem ao
gênero masculino todos os substantivos em que é possível antepor o artigo o ou um. Exemplos: o quarto, um médico.
Pertencem ao gênero feminino todos os substantivos em que é possível antepor o artigo a ou uma. Exemplos: a sala, uma
médica.

- Biforme: é aquele que possui duas formas para indicar o gênero, uma para o masculino e outra para o feminino:
menino/menina; burguês/burguesa; professor/professora; homem/mulher.

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Atenção 1. Há alguns substantivos que possuem os dois gêneros, mas que guardam, entre si, apenas um sentido
aproximado: chinelo/chinela; banheiro/banheira; cinto/cinta; cerco/cerca; jarro/jarra; casco/casca.
Atenção 2. Há, ainda, outros substantivos que apenas aparentemente apresentam os dois gêneros, mas que, na verdade,
são oriundos de radicais distintos e, por isso, a significação é diferente: prato/prata; caso/casa; mico/mica; colo/cola;
bolo/bola; tesouro/tesoura.
- Comum de dois: é aquele que apresenta uma só forma para o masculino e o feminino, porém, com artigos: o (a)
imigrante, o(a) indígena, o(a) paciente, o(a) artista.
- Sobrecomum: é aquele que apresenta um só gênero para indicar tanto os seres do sexo masculino como os do feminino:
a criança, a testemunha, o algoz, o indivíduo, a presa.
- Epiceno: é aquele invariável em gênero que designam nomes de certos animais: a formiga, a onça, a cobra, o gavião -
macho e fêmea: onça macho/fêmea, crocodilo macho/fêmea.
Formação do feminino dos substantivos biformes
1) Substantivos terminados em –o átono formam o feminino ao substituir a desinência por –a. Exemplos: gato - gata, lobo
- loba, menino - menina.
2) Substantivos terminados em consoantes formam o feminino com o acréscimo do –a. Exemplos: freguês - freguesa, deus
- deusa, contador - contadora.
3) Substantivos terminados em –ão podem formar o feminino de três formas:
3.1) Mudando o final –ão para –oa. Exemplos: ermitão - ermitoa, leitão - leitoa, patrão - patroa;
3.2) Mudando o final –ão para –ã. Exemplos: anão - anã, campeão - campeã, cidadão - cidadã;
3.3) Mudando o final –ão para –ona. Exemplos: espertalhão - espertalhona, folião - foliona, pobretão – pobretona.
4) Substantivos terminados em –or formam normalmente o feminino com o acréscimo da desinência –a, –eira ou –triz.
Exemplos: leitor - leitora, arrumador - arrumadeira, imperador - imperatriz.
5) Substantivos que referem-se a títulos de nobreza formam o feminino com as terminações–esa, –essa e –isa. Exemplos:
barão - baronesa, abade - abadessa, sacerdote - sacerdotisa.
6) Substantivos terminados em–e são uniformes, mas há exceções em que é acrescentado o –a ao fim da palavra.
Exemplos: elefante - elefanta, governante - governanta, gigante - giganta.
7) Outros Casos: Avô - avó; Cônego - canonisa; Cônsul - consulesa; Czar - czarina; Frade - freira; Herói - heroína; Maestro -
maestrina; Poeta - poetisa; Profeta - profetisa; Rapaz - rapariga ou moça; Rei - rainha; Réu - ré.

1.3.1 Substantivos de gênero vacilante


Substantivos de gênero vacilante são substantivos que, apresentando oscilação de gênero, são usados pelos falantes tanto
no feminino como no masculino. Em alguns casos, é correto apenas o uso de um dos gêneros. Em outros casos, o uso dos
dois gêneros é aceitável - havendo ou não mudanças de sentido.

Substantivos utilizados no gênero masculino: o açúcar; o afã; o ágape; o alvará; o anátema; o aneurisma; o antílope; o
apêndice; o apetite; o algoz; o bóia-fria; o caudal; o cataclismo; o cônjuge; o champanha; o clã; o cola-tudo; o cós; o coma;
o guaraná; o gengibre; o herpes; o lança-perfume; o haras; o lotação; o derma; o diagrama; o dó; o diadema; o decalque; o
epigrama; o eclipse; o estigma; o estratagema; o eczema; o formicida; o magma; o matiz; o magazine; o milhar; o nó-cego;
o pijama; o pé-frio; o plasma; o pão-duro; o sósia; o talismã; o toalete; o telefonema; o tira-teimas; o xérox; o quilograma;
o plasma; o apostema; o epigrama; o telefonema; o estratagema; o dilema; o teorema; o apotegma; o trema; o eczema; o
edema; o magma; o anátema; o estigma; o axioma; o tracoma; o hematoma.
Substantivos utilizados no gênero feminino: a abusão; a acne; a bacanal; a benesse; a bólide; a couve; a couve-flor; a cal;
a cataplasma; a comichão; a derme; a aguarrás; a dinamite; a debênture; a ênfase; a echarpe; a entorse; a enzima; a
faringe; a ferrugem; a fênix; a alface; a apendicite; a gênese; a grafite; a ioga; a libido; a matinê; a marmitex; a mascote; a
mídia; a nuança; a omoplata; a aguardente; a alcunha; a ordenança; a omelete; a própolis; a patinete; a quitinete; a
sentinela; a soja; a vernissagem
Substantivos falsos biformes, sem relação de oposição entre masculino e feminino: barco/barca (= barco grande);
jarro/jarra (um tipo especial de jarro); cerco/cerca (= objeto construído para estabelecer o cerco); grito/grita (= grande
quantidade de gritos); lenho/lenha (= pedaços de lenhos utilizados para produzir fogo); linho/linha (= fio de linho ou, por
extensão, de outro material); manto/manta (= grande manto); mato/ mata (= grande quantidade de árvores frondosas);
ribeiro/ribeira (= terreno às margens do ribeiro).

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Substantivos utilizados no gênero masculino ou no feminino sem mudança de sentido
o/a ágape: refeição que celebra o rito eucarístico
o/a agravante: que agrava sobrecarrega
o/a aluvião: sedimento deixado pelas águas, inundação
o/a amálgama: liga metálica que contém mercúrio
o/a avestruz: ave
o/a caudal: que jorra ou escorre em abundância.
o/a dengue: doença causada pelo mosquito aedes aegypt
o/a diabetes ou diabete: doença
o/a ilhós: aro circular de metal ou plástico
o/a íris: espectro luminoso produzido pela difração da luz branca
o/a laringe: cavidade que contém as cordas vocais
o/a preá: pequeno roedor
o/a sabiá: ave
o/a soprano: voz feminina mais aguda
o/a suéter: agasalho de lã
o/a tapa: pancada dada com a mão
o/a usucapião: aquisição de algo que se dá pela posse prolongada

Substantivos utilizados no gênero masculino ou no femininos com mudança de sentido


a) o capital = dinheiro investido / a capital = cidade onde está centralizado o governo do país/estado.
b) o vogal = pessoa com poder de voto em uma assembleia; a vogal = a, e, i, o, u.
c) o caixa = operador do local onde se realizam pagamentos; a caixa = recipiente que guarda coisas.
d) o cisma = separação; a cisma = obsessão, teimosia.
e) o guarda = profissional responsável pela segurança de pessoas; a guarda = ato de guardar, proteger.
f) o guia = conduzir pessoas; a guia = informativo responsável por auxiliar pessoas.
g) o lente = professor; a lente = instrumento óptico responsável por manipular a luz.
h) o moral = disposição; a moral = princípios, dogmas e costumes.
i) o praça = soldado ou cabo militar; a praça = espaço público.
j) o trama = conjunto de fios; a trama = sucessão de acontecimentos.
k) o lama = guia espiritual budista; a lama = mistura de terra e água.
l) o crisma = óleo de oliveira; a crisma = confirmação do batismo.
m) o grama = unidade de medida; a grama = formação vegetal rasteira.
n) o rádio = eletrônico telecomunicativo; a rádio = emissora veiculada pelo rádio por meio de uma estação.
o) o coral = grupo de pessoas que cantam ou animal cnidário aquático; a coral = cobra específica.
p) o cura = padre, sacerdote; a cura = recuperação de um corpo tomado por determinada doença.
q) o nascente = local onde nasce o sol; a nascente = local onde começa um rio.
r) o águia = pessoa sagaz; a águia = ave de rapina.
s) o língua = intérprete; a língua = idioma.
t) o coma = estado de inconsciência; a coma = cabelos longos.
u) o cabra = homem; a cabra = animal caprino.
v) o foca - repórter no inicio de carreira; a foca - animal marinho
w) o nascente - dia ao amanhecer; a nascente - local onde nasce um curso d’agua
x) a banana - fruta da bananeira; o banana - pessoa fraca, molenga, frouxa
y) a cabeça - parte do corpo humano; o cabeça - líder ou chefe de um grupo

1.4 Número dos substantivos:


– Flexão de número: singular e plural (-s).
 Particularidades de número:
 terminados em -r, -s ou -z: açúcar, mês, vez (-es)...
 terminados em -m: garagem, armazém (-ns)...
 terminados em -l: papel, jornal (-is)...
 terminados em -il: barril (-s), fóssil (-eis)...

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 terminados em -x ficam invariáveis: as xérox, os tórax...
 terminados em -n: hífen, abdômen (-s, -es)...
 terminados em -zinho ou -zito: fogãozinho (fogõe(s)+zinho+s = fogõezinhos), papeizitos...
 terminados apenas em plural: os óculos, as fezes, o/ os lápis, o/ os ônibus...
 muda significado quando flexionado: costa (-s) (litoral/ dorso), féria (-s) (dinheiro/ lazer)...
 metafônicos (-oso/posto): amistosos, dispostos, cornos, fornos, mornos, poços, trocos, socorros...

1.4.1 Plural de Substantivos Em -Ão


As palavras terminadas em –ão podem formar plural de três modos: -ões, -ãos ou –ães. Não há uma regra específica a ser
seguida para se fazer este plural, pois pode variar entre os três e dependerá unicamente da origem da palavra, ou seja, de
sua etimologia.

A maioria dos substantivos e adjetivos que terminam em –ão faz o plural em –ões. Vejamos:

Balão – balões Eleição - eleições


Botão - botões Fracção - fracções
Cordão – cordões Gavião - gaviões
Estação - estações Leão - leões
Limão – limões Nação - nações
Paixão - paixões Operação - operações
Visão – visões Opinião - opiniões
Razão – razões Questão - questões
Canção - canções Tubarão - tubarões
Confissão - confissões Vulcão - vulcões
Coração - corações

Neste grupo se incluem todos os aumentativos:

Amigalhão - amigalhões Moleirão - moleirões


Bobalhão - bobalhões Narigão - narigões
Casarão - casarões Paredão - paredões
Chapelão - chapelões Pobretão - pobretões
Dramalhão - dramalhões Rapagão - rapagões
Espertalhão - espertalhões Sabichão - sabichões
Facão - facões Vagalhão - vagalhões
Figurão - figurões Vozeirão - vozeirões

Todos os paroxítonos e um número pequeno de oxítonos acrescentam simplesmente um -s à forma singular:

Cidadão - cidadãos Irmão - irmãos Gólfão - gólfãos


Cortesão - cortesãos Pagão - pagãos Órfão - órfãos
Cristão - cristãos Acórdão - acórdãos Órgão - órgãos
Desvão - desvãos Bênção - bênçãos Sótão - sótãos

Observações:
1.ª Neste grupo se incluem os monossílabos tónicos chão, grão, mão e vão, que fazem no plural chãos, grãos, mãos e vãos.
2.ª Artesão, quando significa «artífice», faz no plural artesãos; no sentido de «adorno arquitectónico», o seu plural pode
ser artesãos ou artesões.

Poucos vocábulos tem seu plural em –ães:


Alemão- alemães Capitão – capitães Guardião – guardiães
cão – cães Catalão – catalães Pão – pães
Bastião - bastiães Charlatão – charlatães Sacristão – sacristães
Capelão - capelães Escrivão – escrivães Tabelião – tabeliães

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Outras palavras aceitam mais de uma forma de se fazer o plural, como os seguintes casos:

alão - alãos, alões, alães cirurgião – cirurgiões e cirurgiães refrão – refrães e refrãos
alazão - alazães e alazões corrimão – corrimãos e corrimões rufião – rufiões e rufiães
aldeão – aldeões, aldeãos e deão - deães e deões sacristão -sacristães e sacristãos
aldeães ermitão – ermitãos, ermitães e sultão – sultões, sultãos e sultães
anão – anões e anãos ermitões truão - truães, truões
ancião – anciãos, anciães e anciões faisão – faisães e faisões Verão – verões e verãos
artesão – artesães e artesãos guardião - guardiães e guardiões vilão – vilãos e vilões
castelão – castelãos e castelões hortelão – hortelãos e hortelões zangão – zangões e zangãos
Há substantivo que só se usam no plural: alvíssaras, anais, arredores, bodas, cócegas, condolências, esponsais, exéquias,
férias, fezes, lápis, núpcias, pêsames, primícias, olheiras, víveres e todos os naipes do baralho: copas, espadas, ouros e
paus.

Há substantivos que mudam de sentido quando usados no plural, especialmente os nomes de metais e os substantivos
abstratos, que se tornam concretos no plural;

amor: sentimento / amores: relações amorosas


bem: virtude / bens: propriedade
cobre: metal / cobres: dinheiro
copa: ramagem/ copas: naipe de baralho
féria: lucro, dinheiro / férias: período de descanso
liberdade: livre escolha / liberdades: regalias
ouro: metal / ouros: naipe de baralho
vencimento: fim de um contrato / vencimentos: salários

1.4.2 Plural dos Substantivos Compostos

Na formação do plural dos substantivos compostos pode ocorrer:


- a flexão dos dois elementos que formam a palavra;
- apenas a flexão do primeiro elemento que forma a palavra;
- apenas a flexão do segundo elemento que forma a palavra;
- a não flexão dos elementos, que se mantêm invariáveis.

FLEXÃO DOS DOIS ELEMENTOS


Nos substantivos compostos formados por palavras variáveis, especialmente substantivos e adjetivos:
segunda-feira - segundas-feiras; guarda-noturno - guardas-noturnos;
matéria-prima - matérias-primas; primeira-dama - primeiras-damas.

Nos substantivos compostos formados por temas verbais repetidos:


corre-corre - corres-corres; pula-pula - pulas-pulas.
pisca-pisca - piscas-piscas;

Nota: Nestes substantivos também é possível a flexão apenas do segundo elemento: corre-corres, pisca-piscas, pula-pulas.

FLEXÃO APENAS DO PRIMEIRO ELEMENTO


Nos substantivos compostos formados por substantivo + substantivo em que o segundo termo limita o sentido do
primeiro termo:
decreto-lei - decretos-lei; público-alvo - públicos-alvo;
cidade-satélite - cidades-satélite; elemento-chave - elementos-chave.

Nota: Nestes substantivos também é possível a flexão dos dois elementos: decretos-leis, cidades-satélites, públicos-alvos,
elementos-chaves.

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Nos substantivos compostos preposicionados:
cana-de-açúcar - canas-de-açúcar; pé de moleque - pés de moleque.
pôr do sol - pores do sol; Flexão apenas do segundo elemento
fim de semana - fins de semana;

Nos substantivos compostos formados por tema verbal ou palavra invariável + substantivo ou adjetivo:
bate-papo - bate-papos; ex-namorado - ex-namorados;
quebra-cabeça - quebra-cabeças; vice-presidente - vice-presidentes.
arranha-céu - arranha-céus;

Nos substantivos compostos em que há repetição do primeiro elemento:


zum-zum - zum-zuns; lufa-lufa - lufa-lufas;
tico-tico - tico-ticos; reco-reco - reco-recos.

Nos substantivos compostos grafados ligadamente, sem hífen:


girassol - girassóis; mandachuva - mandachuvas;
pontapé - pontapés; fidalgo - fidalgos;

Nos substantivos compostos formados com grão, grã e bel:


grão-duque - grão-duques; bel-prazer - bel-prazeres.
grã-fino - grã-finos;

Não flexão dos elementos


Em alguns casos, não ocorre a flexão dos elementos formadores, que se mantêm invariáveis. Isso ocorre em frases
substantivadas e em substantivos compostos por um tema verbal e uma palavra invariável ou outro tema verbal oposto:
o disse me disse - os disse me disse; o cola-tudo - os cola-tudo.
o leva e traz - os leva e traz;

1.5 Grau do substantivo


As flexões de grau do substantivo expressam aumento (grau aumentativo) e diminuição (grau diminutivo). O grau
aumentativo também pode indicar exagero, depreciação ou afeto, enquanto o grau diminutivo também pode indicar
moderação, afetividade ou desdém.

Formação do grau
Analítico: Na forma analítica, acrescenta-se ao substantivo um adjetivo que dê a indicação de aumento (ex. enorme,
grande, imenso) ou diminuição (ex. insignificante, minúsculo, pequeno).
Exemplos:
Copo grande – copo pequeno Trabalho enorme - trabalho insignificante
Pedra colossal - pedra minúscula Vaso enorme – vaso fino

Sintético: na forma sintética, há também um acréscimo ao substantivo. Desta vez, é um sufixo que dá a indicação de
aumento ou diminuição.

Sufixos aumentativos Sufixos diminutivos


-ão: paredão -acho: riacho
-aço: ricaço -ejo: lugarejo
-alhão: dramalhão -ela: ruela
-arra: bocarra -ico: namorico
-arrão: gatarrão -icho: barbicha
-zarrão: homenzarrão -inho: caderninho
-ázio: copázio -ito: casita
-eirão: vozeirão -ucho: gorducho
-ona: mulherona -zinho: colherzinha
-orra: beiçorra -zito: pezito
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Há os irregulares sintéticos: o copo (o copázio), a faca (o facalhão), o beijo (a beijoca)... [aumentativos] / a pele (a
película), o homem (o homúnculo), a rua (a ruela), o rio ( o riacho)... [diminutivos]...

Há substantivos que com o tempo adquiriram significado próprio e que não são mais considerados com grau aumentativo
ou diminutivo: célula, glóbulo, gotícula, opúsculo, óvulo, película, retículo, versículo, cartão, cartaz, caixão, portão,
pastilha, folhinha...

Grau exprimindo depreciação: gentalha/gentinha; beiçorra; chorão; jornaleco. Grau exprimindo afetividade: paizinho;
paizão; filhinho; amigão.

IX. ADJETIVO
É a palavra variável que modifica a compreensão do substantivo, atribuindo-lhe uma qualidade, um estado, um modo
de ser, um aspecto ou uma aparência exterior. É, portanto, a palavra que trabalha em função do substantivo.

2.1 Classificação do adjetivo


a) Primitivo: é aquele que dá origem a ouras palavras: bom-bondoso; rico-enriquecido; belo-embelezado.
b) Derivado: é formado a partir de um outro adjetivo, de um substantivo ou de um verbo: enriquecido (vem de rico);
sonorizado; barulhento; falante.
c) Simples: é formado por um só elemento: claro; surdo; grande; esperto.
d) Composto: é formado por um dois ou mais elementos: surdo-mudo; alviverde; azul-marinho.
e) Pátrio: indica a nacionalidade, a pátria, o lugar, a procedência de seres em geral. Continentes: África – africano; Europa
– europeu; Ásia – asiático. Paises: Arábia – árabe; Romênia – romeno; Estados Unidos – estadunidense, norte-
americano.
Alguns gramáticos distinguiam os adjetivos pátrios dos gentílicos: enquanto aqueles somente se referiam a cidades,
estados, países e continentes, estes referiam-se a raças e povos. Como exemplo dessa diferença, poderíamos citar o
adjetivo “Israelense”, que é um adjetivo pátrio referente a Israel, enquanto “Israelita” é um adjetivo gentílico, referente
ao povo de Israel.
Hoje em dia, o nome Pátrio (ou Gentílico) define ambos os adjetivos, independente de indicar povo, raça, etnia,
nacionalidade, origem e lugar de nascimento.
Os adjetivos pátrios têm várias terminações e formam-se diferentemente. São, geralmente, compostos das iniciais do
nome do lugar mais a terminação ou sufixo, de que se destacam os seguintes:
ês – português, inglês, francês, camaronês, norueguês, finlandês, holandês
ano – americano, africano, angolano, moçambicano, cabo-verdiano, mexicano, boliviano,
canadiano, peruano, colombiano, venezuelano, cubano, romano, napolitano, iraquiano
ense – estadunidense, fluminense, timorense, amazonense, catarinense, paranaense, matogrossense, parisiense,
nicaraguense, canadense, brasiliense
ão – afegão, alemão, catalão, letão, parmesão
eiro – brasileiro, mineiro, penicheiro
ol – espanhol, mongol
ita ou -eta – israelita, lisboeta, moscovita, vietnamita
ino – londrino, argelino
eu – europeu, judeu
ático -– asiático
enho – panamenho, costa-riquenho, porto-riquenho,

Alguns adjetivos pátrios são nomeados independentemente do nome da região:


Lisboa: alfacinha;
Porto: tripeiro;
Rio de Janeiro: carioca;
Rio Grande do Sul: gaúcho.
Outros, apesar de derivarem do nome do local não seguem, no entanto, uma regra predeterminada de sufixação: russo
(Rússia), sueco (Suécia), grego (Grécia).

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2.2 Locução adjetiva
Pode-se usar, no lugar de um adjetivo, uma expressão formada por mais de uma palavra para caracterizar o substantivo:
amor de mãe = amor materno; dever de pai = dever paterno; obediência de filho = filial; união de irmão = fraterna.
- preposicão + substantivo (este é o caso mais comum): rosto de anjo (angelical); homem sem cabelo (calvo).
- preposição + advérbio: jornal da tarde (vespertino): porta da frente (frontal).

OBS.: Nem sempre a locução adjetiva possui um adjetivo correspondente: a janela de cima; meninos de rua; artigo de
primeira; respostas sem-pés-nem-cabeça.

2.3 Grau comparativo e superlativo


Comparativo: como o nome já diz, estabelece comparação entre seres distintos ou entre as características de um mesmo
ser. É subdividido em três tipos: superioridade, inferioridade e igualdade.
Esta montanha é mais alta (do) que aquela. Superioridade – mais...que, mais... do que.
Esta montanha é menos alta (do) que aquela. Inferioridade – menos...que, menos... do que.
Esta montanha é tão alta como/quanto aquela. Igualdade – tão...como, tão... quanto.

Superlativo: dá sempre idéia de INTENSIDADE. Divide-se em dois tipos:


- superlativo relativo: é aquele que admite uma variação; por essa razão, subdivide-se em dois tipos:
a) relativo de superioridade: sempre acompanhado da palavra “mais”: Esta montanha é a mais alta da região.
b) relativo de inferioridade: sempre acompanhada da palavra “menos”: Esta montanha é a menos alta da região.
ATENÇÃO: ambas as palavras (mais, menos) são antecedidas do artigo A ou do artigo O.

- superlativo absoluto: considera a característica sem compará-la à de outro ser. Também se divide em dois tipos:
a) absoluto sintético: é aquele em que o adjetivo acaba sempre na terminação “ÍSSIMO(A)”, “ÍLIMO(A)” ou
“ÉRRIMO(A)”. Esta montanha é altíssima. Estou paupérrimo. A prova foi dificílima.
b) absoluto analítico: é aquele em que o adjetivo é modificado por um advérbio de intensidade. SÃO SEMPRE DUAS
PALAVRAS. Maria está muito triste. Esta montanha é muito alta. Ele é forte demais. Ele é bastante forte.

ATENÇÃO: 1 – para se fazer a distinção entre comparativo e superlativo relativo, tenha em mente o seguinte: o
comparativo tem QUE, mas não tem ARTIGO; o superlativo (relativo) tem ARTIGO, mas não tem QUE.

2. Os adjetivos terminados em “OR” apresentam uma característica pessoal: maior = mais grande; menor = mais pequeno;
melhor = mais bom; pior = mais ruim. SÓ POSSO usar MAIS e MENOS quando estiver comparando qualidades:
Paulo é mais bom que você = ERRADO; Paulo é mais bom que mau = CERTO.
Minha casa é mais grande que a sua = ERRADO; Minha casa é mais grande que pequena = CERTO

3. A repetição do próprio adjetivo pode funcionar como um intensificador, substituindo um advérbio de intensidade: O gol
foi lindo, lindo = o gol foi muito lindo. Os olhos eram verdes, verdes = os olhos eram muito verdes. O mesmo ocorre com
construções do seguinte tipo: Era linda de morrer =muito linda. Era feio como o diabo = muito feio.

4. Grau exprimindo afetividade, desprezo, ironia, e não tamanho: O gato era feiozinho. O vestido estava apertadinho.
Você está gordinho. Não me venha com esse dinheirinho.

5. A posição do adjetivo pode causar diferença de sentido da frase: grande homem (caráter) – homem grande (estatura);
mulher boa (gentil, fisicamente) – boa mulher (caráter); um simples homem (mero) – um homem simples (não complexo).

Algumas regras para formação do grau superlativo absoluto sintético:

1. Adjetivos terminados em -a, -e, -o perdem essas vogais:


doce – dulcíssimo ou docíssimo
sério – seriíssimo

2. Adjetivos terminados em -vel mudam esse final para -bil:


agradável – agradabilíssimo / horrível – horribilíssimo / amável - amabilíssimo

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3. Adjetivos terminados em -m e -ão passam respectivamente a -n e -an:
comum – comuníssimo / vão – vaníssimo /

4. Adjetivos terminados em -z passam essa consoante a -c:


feliz – felicíssimo / atroz – atrocíssimo / capaz – capacíssimo

Há ainda os adjetivos que não têm sua forma alterada, como é o caso daqueles terminados em -u, -l (com exceção da
terminação -vel) e -r:
cru – cruíssimo / difícil – dificílimo / regular - regularíssimo

Além desses casos, existem ainda os adjetivos que se prendem às formas latinas, também conhecidas como formas
eruditas. Veja os exemplos:
livre – libérrimo sábio – sapientíssimo
inimigo – inimicíssimo soberbo – superbíssimo
humilde – humílimo pessoal – personalíssimo
cristão – cristianíssimo mísero – misérrimo
amargo – amaríssimo pobre – paupérrimo
fiel – fidelíssimo célebre - celebérrimo

Atenção: As palavras terminadas em -io apresentam, na forma sintética, dois is, e essa regra, embora nem sempre seja
respeitada na modalidade escrita, deve ser preservada:
cheio – cheiíssimo vário – variíssimo
feio – feiíssimo sério - seriíssimo

Exemplos de superlativos absolutos sintéticos:

acre - acérrimo geral – generalíssimo pequeno – mínimo ou pequeníssimo


ágil – agilíssimo ou agílimo grande – máximo ou grandíssimo pessoal – personalíssimo ou
agradável – agradabilíssimo honorífico – honorificentíssimo pessoalíssimo
agudo – acutíssimo ou agudíssimo horrível - horribilíssimo popular – popularíssimo
alto – altíssimo, supremo ou sumo inconstitucional – precário – precaríssimo ou
amável – amabilíssimo inconstitucionalíssimo precariíssimo
amigo – amicíssimo incrível – incredibilíssimo pródigo – prodigalíssimo
antigo – antiquíssimo infiel – infidelíssimo próspero – prospérrimo
baixo – baixíssimo ou ínfimo íntegro – integérrimo provável – probabilíssimo
belo – belíssimo jovem – juveníssimo são – saníssimo
benéfico – beneficentíssimo magnífico – magnificentíssimo sagrado – sacratíssimo
benévolo – benevolentíssimo magro – macérrimo, magríssimo ou salubre – salubérrimo
bom – boníssimo ou ótimo magérrimo senil – senilíssimo
capaz – capacíssimo mal –malíssimo sensível - sensibilíssimo
cheio – cheiíssimo maléfico – maleficentíssimo simpático – simpaticíssimo
comum – comuníssimo malévolo – malevolentíssimo simples – simplíssimo ou
cruel – crudelíssimo manso – mansuetíssimo simplicíssimo
difícil – dificílimo mau – péssimo singular – singularíssimo
doce – dulcíssimo ou docíssimo miserável – miserabilíssimo tenaz – tenacíssimo
dócil – docílimo ou docilíssimo necessário – necessariíssimo ou terrível – terribilíssimo
estranho – estranhíssimo necessaríssimo triste – tristíssimo
fácil – facílimo negro – nigérrimo ou negríssimo vão – vaníssimo
feliz – felicíssimo nobre – nobilíssimo veloz – velocíssimo
feroz – ferocíssimo normal – normalíssimo visível – visibilíssimo
forte – fortíssimo notável - notabilíssimo vulgar – vulgaríssimo
frágil – fragílimo ou fragilíssimo original – originalíssimo vulnerável – vulnerabilíssimo
frio – friíssimo ou frigidíssimo pagão – paganíssimo

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X. ARTIGO
Precede o substantivo para determiná-lo, mantendo com ele relação de concordância. Assim, qualquer expressão ou
frase fica substantivada se for determinada por artigo (O 'conhece-te a ti mesmo' é conselho sábio). Em certos casos,
serve para assinalar gênero e número (o/a colega, o/os ônibus).

Os artigos podem ser classificado em:


 definido - o, a, os, as - um ser claramente determinado entre outros da mesma espécie;
 indefinido - um, uma, uns, umas - um ser qualquer entre outros de mesma espécie;

Podem aparecer combinados com preposições (numa, do, à, entre outros).

3.1 Particularidades de Uso dos Artigos


Quanto ao emprego do artigo:
 não é obrigatório seu uso diante da maioria dos substantivos, podendo ser substituído por outra palavra determinante
ou nem usado (o rapaz ≠ este rapaz / Lera numa revista que mulher fica mais gripada que homem). Nesse sentido,
convém omitir o uso do artigo em provérbios e máximas para manter o sentido generalizante (Tempo é dinheiro /
Dedico esse poema a homem ou a mulher?);
 não se deve usar artigo depois de cujo e suas flexões;
 outro, em sentido determinado, é precedido de artigo; caso contrário, dispensa-o (Fiquem dois aqui; os outros podem
ir ≠ Uns estavam atentos; outros conversavam);
 não se usa artigo diante de expressões de tratamento iniciadas por possessivos, além das formas abreviadas frei, dom,
são, expressões de origem estrangeira (Lord, Sir, Madame) e sóror ou sóror;
 é obrigatório o uso do artigo definido entre o numeral ambos (ambos os dois) e o substantivo a que se refere (ambos
os cônjuges);
 diante do possessivo (função de adjetivo) o uso é facultativo; mas se o pronome for substantivo, torna-se obrigatório
(os [seus] planos foram descobertos, mas os meus ainda estão em segredo);
 omite-se o artigo definido antes de nomes de parentesco precedidos de possessivo (A moça deixou a casa a sua tia);
 antes de nomes próprios personativos, não se deve utilizar artigo. O seu uso denota familiaridade, por isso é
geralmente usado antes de apelidos. Os antropônimos são determinados pelo artigo se usados no plural (os Maias, Os
Homeros);
 geralmente dispensado depois de cheirar a, saber a (= ter gosto a) e similares (cheirar a jasmim / isto sabe a vinho);
 não se usa artigo diante das palavras casa (= lar, moradia), terra (= chão firme) e palácio a menos que essas palavras
sejam especificadas (venho de casa / venho da casa paterna);
 na expressão uma hora, significando a primeira hora, o emprego é facultativo (era perto de / da uma hora). Se for
indicar hora exata, à uma hora (como qualquer expressão adverbial feminina);
 diante de alguns nomes de cidade não se usa artigo, a não ser que venham modificados por adjetivo, locução adjetiva
ou oração adjetiva (Aracaju, Sergipe, Curitiba, Roma, Atenas);
 usa-se artigo definido antes dos nomes de estados brasileiros. Como não se usa artigo nas denominações geográficas
formadas por nomes ou adjetivos, excetuam-se AL, GO, MT, MG, PE, SC, SP e SE;
 expressões com palavras repetidas repelem artigo (gota a gota / face a face);
 não se combina com preposição o artigo que faz parte de nomes de jornais, revistas e obras literárias, bem como se o
artigo introduzir sujeito (li em Os Lusíadas / Está na hora de a onça beber água);
 depois de todo, emprega-se o artigo para conferir idéia de totalidade (Toda a sociedade poderá participar / toda a
cidade ≠ toda cidade). "Todos" exige artigo a não ser que seja substituído por outro determinante (todos os familiares /
todos estes familiares);
 repete-se artigo: a) nas oposições entre pessoas e coisas (o rico e o pobre) / b) na qualificação antonímica do mesmo
substantivo (o bom e o mau ladrão) / c) na distinção de gênero e número (o patrão e os operários / o genro e a nora);
 não se repete artigo: a) quando há sinonímia indicada pela explicativa ou (a botânica ou fitologia) / b) quando adjetivos
qualificam o mesmo substantivo (a clara, persuasiva e discreta exposição dos fatos nos abalou).

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XI. NUMERAL
Numeral é a palavra que indica quantidade, número de ordem, múltiplo ou fração. Classifica-se como cardinal (1,
2, 3), ordinal (primeiro, segundo, terceiro), multiplicativo (dobro, duplo, triplo), fracionário (meio, metade, terço). Além
desses, ainda há os numerais coletivos (dúzia, par).

Quanto ao valor, os numerais podem apresentar valor adjetivo ou substantivo. Se estiverem acompanhando e
modificando um substantivo, terão valor adjetivo. Já se estiverem substituindo um substantivo e designando seres, terão
valor substantivo. [Ele foi o primeiro jogador a chegar. (valor adjetivo) / Ele será o primeiro desta vez. (valor substantivo)].

4.1 Particularidades de Uso dos Numerais


Quanto ao emprego dos numerais:
 os ordinais como último, penúltimo, antepenúltimo, respectivos... não possuem cardinais correspondentes.
 os fracionários têm como forma própria meio, metade e terço, todas as outras representações de divisão
correspondem aos ordinais ou aos cardinais seguidos da palavra avos (quarto, décimo, milésimo, quinze avos);
 designando séculos, reis, papas e capítulos, utiliza-se na leitura ordinal até décimo; a partir daí usam-se os cardinais.
(Luís XIV - quatorze, Papa Paulo II - segundo);
Se o numeral vier antes do substantivo, será obrigatório o ordinal (XX Bienal - vigésima, IV Semana de Cultura - quarta);
 zero e ambos(as) também são numerais cardinais. 14 apresenta duas formas por extenso catorze e quatorze;
 a forma milhar é masculina, portanto não existe "algumas milhares de pessoas" e sim alguns milhares de pessoas;
 alguns numerais coletivos: grosa (doze dúzias), lustro (período de cinco anos), sesquicentenário (150 anos);
 um: numeral ou artigo? Nestes casos, a distinção é feita pelo contexto;
 numeral indicando quantidade e artigo quando se opõe ao substantivo indicando-o de forma indefinida.

Quanto à flexão, varia em gênero e número:


 variam em gênero: os cardinais um, dois e os duzentos a novecentos; todos os ordinais; os multiplicativos e
fracionários, quando expressam uma idéia adjetiva em relação ao substantivo.
 variam em número: os cardinais terminados em -ão; todos os ordinais; os multiplicativos, quando têm função adjetiva;
os fracionários, dependendo do cardinal que os antecede.
variam em número em casos especiais: os cardinais, quando substantivos, vão para o plural se terminarem por som
vocálico (Tirei dois dez e três quatros).

XII. CONCEITOS DE PRONOMES


Pronomes são palavras que substituem ou determinam os substantivos. Existem vários tipos de pronomes: pronomes
pessoais, pronomes possessivos, pronomes demonstrativos, pronomes interrogativos, pronomes relativos e pronomes
indefinidos. Além desta classificação principal, os pronomes também podem ser classificados em pronomes adjetivos e
pronomes substantivos.

1.1 Pronome adjetivo


Pronomes adjetivos acompanham, determinam e modificam os substantivos, ou seja, atribuem particularidades e
características ao substantivo, como se fossem adjetivos. Tal como os substantivos que determinam, variam em gênero
(masculino e feminino), número (plural e singular) e pessoa (1ª, 2ª ou 3ª pessoa do discurso).
Exemplos de pronomes adjetivos
- Minha prima chega hoje da Europa. (O pronome adjetivo minha determina o substantivo comum prima.)
- Suas dúvidas serão respondidas pela professora. (O pronome adjetivo suas determina o substantivo comum dúvidas.)
- Aqueles estudantes passaram no exame com distinção.
(O pronome adjetivo aqueles determina o substantivo comum estudantes.)
- Este livro é muitíssimo bom.
(O pronome adjetivo este determina o substantivo comum livro.)

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1.1.1 Classificação de pronomes adjetivos
A classificação em pronome adjetivo não invalida outras classificações como possessivo, demonstrativo,…
Aquela caneta é azul. (pronome demonstrativo adjetivo)
Meu filho é indisciplinado. (pronome possessivo adjetivo)

1.2 Pronome substantivo


Pronomes substantivos substituem o substantivo numa frase. São utilizados de forma a tornar o discurso menos
repetitivo, mais rico e variado. Tal como os substantivos que substituem, variam em gênero (masculino e feminino),
número (plural e singular) e pessoa (1.ª, 2.ª ou 3.ª pessoa do discurso). Podem assumir a função de sujeito da oração.

Exemplos de pronomes substantivos


- Pedro sabe tocar piano. Ele sabe tocar piano. (O pronome substantivo ele substitui o substantivo próprio Pedro.)
- Helena e Paulo foram ao cinema. Eles foram ao cinema. (O pronome substantivo eles substitui os substantivos próprios
Helena e Paulo.)
- Alguns trabalhadores saíram mais cedo que outros trabalhadores. Alguns trabalhadores saíram mais cedo que outros. (O
pronome substantivo outros substitui o substantivo comum trabalhadores.)
- Minha mãe está quase chegando. E a sua mãe? Minha mãe está quase chegando. E a sua? (O pronome substantivo sua
substitui o substantivo comum mãe.)
- Este livro é muito bom. Levei o livro para a escola. Este livro é muito bom. Levei-o para a escola. (O pronome substantivo
o substitui o substantivo comum livro.)

1.2.1 Classificação de pronomes substantivos


A classificação em pronome substantivo não invalida outras classificações como pessoal, possessivo, demonstrativo,…
Nós vamos embora agora. (pronome pessoal substantivo)
Aquela caneta é a minha. (pronome possessivo substantivo)
O meu filho é aquele. (pronome demonstrativo substantivo)

1.3 Pronomes substantivos X Pronomes adjetivos


Os pronomes adjetivos distinguem-se dos pronomes substantivos. Enquanto os pronomes adjetivos acompanham o
substantivo numa frase, os pronomes substantivos substituem o substantivo.
- Luana fala francês. Ela fala francês. (O pronome substantivo ela substitui o substantivo próprio Luana.)
- Minha irmã viajou para Paris. (O pronome adjetivo minha determina o substantivo comum irmã.)

2. Classificação dos Pronomes

Os pronomes são classificados em:


- Pronomes Pessoais do Caso Reto - Pronomes Demonstrativos
- Pronomes Pessoais do Caso Oblíquo - Pronomes Relativos
- Pronomes de Tratamento - Pronomes Interrogativos
- Pronomes Possessivos - Pronomes Indefinidos

Antes de classificarmos, vamos ver aqui quais são as pessoas do discurso que irão compor boa parte deste capítulo. Elas se
definem pelo seu posicionamento frente ao ato comunicativo, ou seja:
- primeira pessoa, representando aquela que fala (eu/nós);
- segunda pessoa, representando aquela com quem se fala (tu/vós);
- terceira pessoa, demarcada por aquela de quem se fala (ele/eles/ela/elas).

Apesar de os pronomes de tratamento se referirem, em boa parte, à pessoa com quem se fala, a conjugação referente a
esses pronomes virá sempre em terceira pessoa.

2.1 Pronomes pessoais do caso reto


Pronomes pessoais retos são aqueles que substituem os substantivos, assumindo majoritariamente a função de sujeito da
oração, podendo, também, assumir a função de predicativo do sujeito em casos mais específicos.
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Os pronomes pessoais do caso reto indicam ainda as pessoas do discurso, ou seja, quem fala (eu e nós), com quem se fala
(tu e vós) e de quem se fala (ele, ela, eles, elas).

Pronomes pessoais retos


- 1.ª pessoa do singular - eu - 1.ª pessoa do plural - nós
- 2.ª pessoa do singular - tu - 2.ª pessoa do plural - vós
- 3.ª pessoa do singular - ele, ela - 3.ª pessoa do plural - eles, elas

Exemplos de uso dos pronomes pessoais retos

- Eu escrevi o texto. - Nós escrevemos o texto.


- Tu escreveste o texto. - Vós escrevestes o texto.
- Ele escreveu o texto. - Eles escreveram o texto.

2.1.1 Omissão dos pronomes pessoais retos


Para que se evitem repetições desnecessárias, pode ocorrer a omissão do pronome pessoal do caso reto nos enunciados,
uma vez que a pessoa do discurso é marcada pela desinência verbal indicada pelos pronomes pessoais do caso reto.
- Cursei veterinária, mas nunca segui a profissão. (eu)
- Passeamos muito no domingo passado. (nós)
- Gostaste do jogo? (tu)

2.1.2 Pronomes pessoais retos enquanto predicativo do sujeito


Os pronomes pessoais retos podem assumir a função de predicativo do sujeito nos predicados nominais, havendo a
existência de um verbo de ligação. Este verbo deverá concordar com o pronome pessoal reto que desempenha a função
de predicativo do sujeito.

Exemplos com função de predicativo do sujeito:


- A responsável sou eu.
- A responsável é ela.

2.1.3 Dúvidas na utilização dos pronomes pessoais do caso reto


Em alguns casos, é fácil confundir se deve ser usado um pronome pessoal reto ou um pronome pessoal oblíquo.

Para eu, para tu, para mim e para ti


As expressões para eu e para tu deverão ser usadas quando assumem a função de sujeito, sendo seguidas de uma ação,
ou seja, de um verbo no infinitivo.
- Façam silêncio para eu telefonar para este cliente.
- Para eu fazer isso, vou precisar da sua ajuda.
- Vê se tem algum erro para tu corrigires.

É errado dizer “Ela comprou este caderno para eu.” ou “Ela comprou este caderno para tu.”. Não se pode usar preposição
com os pronomes retos eu e tu. Com preposições têm que ser usados os pronomes oblíquos correspondentes: mim e ti.
- Ela comprou este caderno para mim.
- Ela comprou este caderno para ti.

Vi ele, ajudei ele, encontrei ele ou vi-o, ajudei-o, encontrei-o


É comum ouvirmos, na linguagem oral, as seguintes construções frásicas: “Ajudei ele na arrumação do armário.” e
“Encontrei ela na praia.”. Contudo, estas construções estão erradas! Nestas frases, os pronomes ele e ela não se referem
ao sujeito da ação, por isso não podem ser utilizados pronomes pessoais do caso reto. Têm que ser usados os pronomes
oblíquos correspondentes: o e a.
- Ajudei-o na arrumação do armário.
- Encontrei-a na praia.

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2.2 Pronomes pessoais oblíquos
Os pronomes pessoais do caso oblíquo assumem, majoritariamente, a função de objeto direto ou objeto indireto,
podendo ser tônicos ou átonos.

2.2.1 Pronomes pessoais oblíquos tônicos


Os pronomes pessoais oblíquos tônicos são sempre precedidos de uma preposição, como: para, a, de e com. Devem ser
usados quando, na frase, o substantivo que substituem tem função de objeto indireto. As formas contraídas comigo,
contigo, conosco,… podem ainda assumir a função de adjunto adverbial de companhia.

Pronomes pessoais oblíquos tônicos


1.ª pessoa do singular - mim, comigo 1.ª pessoa do plural - nós, conosco
2.ª pessoa do singular - ti, contigo 2.ª pessoa do plural - vós, convosco
3.ª pessoa do singular - ele, ela, si, consigo 3.ª pessoa do plural - eles, elas, si, consigo

Exemplos de uso dos pronomes oblíquos tônicos


- Você comprou esta blusa para mim? (objeto indireto)
- Você sabe que eu gosto de ti. (objeto indireto)
- Amanhã vou ao cinema contigo. (adjunto adverbial)

2.2.2 Pronomes pessoais oblíquos átonos


Os pronomes pessoais oblíquos átonos não são precedidos de uma preposição. Podem ser usados quando, na frase, o
substantivo que substituem tem função de objeto direto (o, a, os, as, se) ou de objeto indireto (lhe, lhes).

Pronomes pessoais oblíquos átonos


1.ª pessoa do singular - me 1.ª pessoa do plural - nos
2.ª pessoa do singular - te 2.ª pessoa do plural - vos
3.ª pessoa do singular - o, a, se, lhe 3.ª pessoa do plural - os, as, se, lhes

Exemplos de uso dos pronomes oblíquos átonos


- Eu comprei-o numa loja no centro da cidade. (objeto direto)
- Meu pai não a viu em lugar nenhum. (objeto direto)
- O diretor ligou-lhe, mas ele não atendeu o telefone. (objeto indireto)
- A professora não lhes deu mais nenhuma oportunidade. (objeto indireto)

2.2.3 Colocação dos pronomes oblíquos átonos


A ligação dos pronomes pessoais oblíquos átonos aos verbos pode ser feita através de:
- próclise (antes do verbo): não me ofereceram.
- mesóclise (intercalado no meio do verbo): oferecer-nos-ão.
- ênclise (depois do verbo): ofereceram-me.

2.2.4 Alterações nos pronomes oblíquos átonos

Conforme o verbo a que estão ligados, os pronomes pessoais oblíquos átonos podem sofrer alterações.

Quando a forma verbal termina em -r, -s ou -z, os pronomes oblíquos átonos assumem as formas lo, la, los, las:
- Ela vai seduzi-lo rapidamente.
- E o bolo? Tu fazê-lo bem?
- Os papéis? Ele trá-los amanhã de manhã.

Quando a forma verbal termina em -m ou noutro som nasal, os pronomes oblíquos átonos assumem as formas no, na,
nos, nas:
- Fizeram-nos esperar muito!
- Eles esperam-na apenas amanhã.

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2.3 Pronomes de tratamento
Pronomes de tratamento (ou axiônimos) estão incluídos no grupo dos pronomes pessoais e são formas mais corteses e
reverentes de nos dirigirmos à pessoa com quem estamos falando ou de quem estamos falando. São, majoritariamente,
utilizados em tratamentos formais, quando o interlocutor ocupa cargos ou posições sociais elevadas e prestigiadas.

Exemplos e uso dos pronomes de tratamento


V. - você - Usado em tratamentos informais, íntimos e familiares. Este pronome, em algumas regiões do Brasil, é
substituído pelo pronome tu.
Sr., Sr.ª, Srta. - senhor, senhora, senhorita - Usados em tratamentos formais e respeitosos, quando existe um
distanciamento entre os locutores. Senhor é utilizado quando o tratamento se dirige a homens, senhora é utilizado
quando o tratamento se dirige a mulheres casadas e senhorita é utilizado quando o tratamento se dirige a mulheres
solteiras.
V. S.ª - Vossa Senhoria - Usado em tratamentos cerimoniosos e respeitosos a pessoas com grande prestígio, como
vereadores, chefes, secretários e diretores de autarquias. Este pronome é também utilizado em textos escritos oficiais,
como correspondência comercial, ofícios e requerimentos.
V. Ex.ª - Vossa Excelência - Usado em tratamentos cerimoniosos e respeitosos a pessoas com alta autoridade, como o
Presidente da República, ministros, senadores, deputados, embaixadores, etc. No caso do Presidente da República, não
deverá ser utilizada a forma abreviada do pronome de tratamento.
V. Em.ª - Vossa Eminência - Usado em tratamentos cerimoniosos e respeitosos a cardeais, que são eclesiásticos do Sacro
Colégio pontifício e participam no conclave para a eleição de um novo Papa.
V. S. - Vossa Santidade - Usado em tratamentos cerimoniosos e respeitosos ao Papa. Este pronome de tratamento é
também utilizado por ocidentais em tratamentos cerimoniosos e respeitosos ao Dalai Lama, embora não seja utilizado
pelos tibetanos.
V. Rev.mª - Vossa Reverendíssima - Usado em tratamentos cerimoniosos e respeitosos a sacerdotes, bispos e religiosos em
geral.
V. A. - Vossa Alteza - Usado em tratamentos cerimoniosos e respeitosos a príncipes, princesas, duques e duquesas.
V. M. - Vossa Majestade - Usado em tratamentos cerimoniosos e respeitosos a reis e rainhas.
V. Mag.ª - Vossa Magnificência - Usado em tratamentos cerimoniosos e respeitosos a reitores de Universidades.
V.P. - Vossa Paternidade - Usado em tratamentos cerimoniosos e respeitosos a superiores de ordens religiosas.
V. M. I. - Vossa Majestade Imperial - Usado em tratamentos cerimoniosos e respeitosos a imperadores.
Vossa Onipotência - Usado em tratamentos cerimoniosos e respeitosos a Deus. Não se utiliza a forma abreviada.

Exemplos com pronomes de tratamento


- Vossa Excelência estará presente na cerimônia de encerramento?
- Vossa Eminência estará presente no conclave?
Estou ansioso pela missa que Vossa Santidade rezará no Rio de Janeiro.
- Vossa Majestade cumpriu, na perfeição, o protocolo na missa de entronização do novo Papa.
- Vossa Reverendíssima irá ministrar algum sacramento da igreja hoje?
- Vossa Magnificência presidirá a cerimônia de encerramento do ano letivo?
- Senhorita, queira fazer o favor de me desculpar, suas vontades serão realizadas imediatamente.

2.3.1 Concordância com os pronomes de tratamento


Embora os pronomes de tratamento se dirijam à 2ª pessoa do singular ou do plural, a concordância verbal deverá ser feita
sempre com a 3ª pessoa do singular ou do plural e com o gênero da pessoa que é tratada.
- Todos os fiéis da sua paróquia acreditam em si e seguem seus ensinamentos, Vossa Reverendíssima.
- Vossa Magnificência, sua opinião e suas decisões são muito importantes para os estudantes desta universidade.

Além do uso de Vossa Senhoria, Vossa Alteza, Vossa Majestade,…, também é possível o uso de Sua Senhoria, Sua Alteza,
Sua Majestade,… A diferença no uso dessas duas formas é muito simples: usamos o pronome vossa quando estamos
falando diretamente com a pessoa e usamos o pronome sua quando estamos falando sobre a pessoa
- Vossa Senhoria quer que eu lhe entregue os ofícios agora?
- Lamento informar que Sua Senhoria, o diretor da autarquia, não pode estar presente hoje neste evento.

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2.4. Pronomes Possessivos
Pronomes possessivos indicam, principalmente, uma relação de posse, ou seja, indicam que alguma coisa pertence a uma
das pessoas do discurso. A forma que o pronome possessivo assume concorda com a pessoa gramatical a que se refere
(1.ª, 2.ª ou 3.ª pessoa do discurso) e varia em gênero (masculino e feminino) e número (plural e singular) de acordo com
aquilo que é possuído.

Lista de Pronomes Possessivos


1.ª pessoa do singular (eu) - meu, minha, meus, minhas
2.ª pessoa do singular (tu) - teu, tua, teus, tuas
3.ª pessoa do singular (ele/ela) - seu, sua, seus, suas, dele, dela, deles, delas
1.ª pessoa do plural (nós) - nosso, nossa, nossos, nossas
2.ª pessoa do plural (vós) - vosso, vossa, vossos, vossas
3.ª pessoa do plural (eles/elas) - seu, sua, seus, suas, dele, dela, deles, delas

Exemplos de concordância dos pronomes possessivos:


- Eu não dormi na minha cama. - Nós não dormimos no nosso quarto.
- Tu não dormiste no teu quarto. - Vós não dormistes na vossa cama.
- Você não dormiu na sua cama. - Eles não dormiram nos seus quartos.

No caso do pronome possessivo determinar vários substantivos, deverá concordar em gênero e número com o
substantivo que estiver mais próximo: Nós trouxemos nossas roupas, sapatos e equipamento.

É facultativa a utilização de um artigo definido antes dos pronomes possessivos adjetivos, sem que isso altere o sentido
original da frase:
Meu irmão é muito bonito. O diretor não ouviu minha intervenção.
O meu irmão é muito bonito. O diretor não ouviu a minha intervenção.

Contudo, é obrigatória a utilização de um artigo definido antes dos pronomes possessivos substantivos.
Meu irmão é muito bonito; o seu não.
O diretor não ouviu sua intervenção, mas ouviu a nossa.

Outros Valores do Pronome Possessivo


Os pronomes possessivos, além da noção de posse, podem transmitir uma ideia de respeito, afeto, ofensa ou cálculo
aproximado:
- Não se preocupe, minha senhora, nós resolveremos o assunto. (respeito)
- Meu filho, por favor, tenha cuidado! (afeto)
- Seu irresponsável, você podia ter morrido! (ofensa)
- Aquela estátua já deve ter seus 15 anos. (cálculo aproximado)

Em algumas situações, os pronomes pessoais oblíquos podem assumir valores equivalentes aos pronomes possessivos:
- A chuva molhou-te o cabelo. (Molhou o teu cabelo).
- Agarrei-lhe a mão. (Agarrei a sua mão).

A utilização dos pronomes possessivos na 3.ª pessoa do singular ou do plural (seu, sua, seus, suas) pode originar dúvidas
quando ao elemento possuidor. Para evitar ambiguidades, utilizam-se as formas contraídas dele, dela, deles, delas.
- A professora proibiu que o aluno utilizasse seu dicionário. (O dicionário é da professora ou do aluno?)
- A professora proibiu que o aluno utilizasse o dicionário dele. (O dicionário é do aluno)
- A professora proibiu que o aluno utilizasse o dicionário dela. (O dicionário é da professora)

Pronomes possessivos adjetivos e substantivos


Os pronomes possessivos podem ser classificados ainda em pronome possessivo adjetivo, quando acompanha, determina
e modifica os substantivos, e em pronome possessivo substantivo, quando substitui o substantivo numa frase.
- Meu filho é indisciplinado. (pronome possessivo adjetivo)
- Aquela caneta é a minha. (pronome possessivo substantivo)

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Atenção!
Na frase “Seu Antônio, o senhor chegará hoje ou manhã?”, a palavra seu não é um pronome possessivo, é uma alteração
fonética da palavra senhor.

2.5 Pronomes demonstrativos


Pronomes demonstrativos situam alguém ou alguma coisa no tempo, no espaço e no discurso, em relação às próprias
pessoas do discurso: quem fala, com quem se fala, de quem se fala. Podem ser invariáveis ou variáveis em gênero
(masculino e feminino) e número (plural e singular). Possuem ainda uma finalidade expressiva, reforçando algum termo
anteriormente mencionado.

Listagem de Pronomes demonstrativos


1.ª pessoa: este, esta, estes, estas, isto
2.ª pessoa: esse, essa, esses, essas, isso
3.ª pessoa: aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo

Pronomes demonstrativos contraídos com preposições:


Preposição a – àquele, àquela, àqueles, àquelas, àquilo.
Preposição em – neste, nesta, nestes, nestas, nisto, nesse, nessa, nesses, nessas, nisso, naquele, naquela, naqueles,
naquelas, naquilo.
Preposição de – deste, desta, destes, destas, disto, desse, dessa, desses, dessas, disso, daquele, daquela, daqueles,
daquelas, daquilo.

Exemplos:
- Eu moro nesta casa.
- Não gosto dessa sua maneira de ser.
- Entregue seu teste àquele professor.

Regras de utilização dos pronomes demonstrativos


Este, esta, estes, estas, isto (e suas respectivas contrações)
Serão usados quando o que está sendo demonstrado está perto da pessoa que fala ou no tempo presente em relação à
pessoa que fala. Usa-se ainda para referir o que vai ser mencionado no discurso.
- Esta caneta aqui é minha.
- Isto que está acontecendo é horrível!
- Isto será explicado mais à frente.
- Neste momento não tenho para nada para fazer.
- Venha aqui e coloque tudo dentro deste recipiente.

- Temos os números 8 e 9, e temos também que aquele é menor que este.

Esse, essa, esses, essas, isso (e suas respectivas contrações)


Usados quando o que está sendo demonstrado está longe da pessoa que fala e perto da pessoa a quem se fala ou num
tempo passado recente em relação à pessoa que fala. Usa-se ainda para referir o que foi mencionado no discurso.
- Essa caneta aí é sua.
- Esse foi ser o ano em que fui mãe.
- Isso que aconteceu foi horrível!
- Isso foi explicado na aula passada.
- Nesse dia eu estava nervosa porque tinha visto um acidente.
- Antes de se ir embora, coloque tudo dentro desse recipiente que está perto de você.

Aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo (e suas respectivas contrações)


Usados quando o que está sendo demonstrado está longe da pessoa que fala e da pessoa a quem se fala. Também se usa
para referir a um passado distante, para referir algo que foi mencionado com uma grande distância no discurso ou, em
conjunto com o “este”, referir-se ao último elemento informado.
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- Aquela caneta ali é dele.
- Ela partiu a perna naquele fim de semana que fomos passear ao campo.
- Este livro é daquele menino da 6ª série. Você sabe quem ele é?
- Temos os números 8 e 9, e temos também que aquele é menor que este.
Outros pronomes demonstrativos
Outras palavras atuam como pronomes demonstrativos. São variáveis em gênero (masculino e feminino) e número (plural
e singular), mas não se relacionam diretamente com nenhuma das três pessoas discursivas.

O, a, os, as: Quando acompanharem os pronomes que e qual, podendo ser substituídos por aquele, aquela, aqueles,
aquelas, aquilo.
- Não entendi o que foi dito pelo apresentador. (aquilo que foi dito).
- Essa mochila não é a que eu comprei. (aquela que eu comprei).
Mesmo, mesma, mesmos, mesmas, próprio, própria, próprios, próprias: reforçam pronomes pessoais e se referem alguma
coisa citada anteriormente.
- Ela mesma resolveu o assunto.
- Foram os próprios responsáveis que fizeram a confusão.
Tal, tais, semelhante, semelhantes: referem-se a um nome anteriormente citado e transmitem um sentido completo (tal)
ou incompleto (semelhante), podendo ser substituídos por aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo, esse, essa, esses,
essas, isso, este, esta, estes, estas, isto. Estes dois pronomes podem ser utilizados ironicamente.
- Não tenha semelhante atitude. (aquela atitude)
- Em tais momentos, não devemos reagir de cabeça quente. (nesses momentos)
Pronomes demonstrativos adjetivos e substantivos
Os pronomes demonstrativos podem ser classificados ainda em pronome demonstrativo adjetivo, quando acompanha,
determina e modifica os substantivos, e em pronome demonstrativo substantivo, quando substitui o substantivo numa
frase.
- Aquela caneta é azul. (pronome demonstrativo adjetivo)
- O meu filho é aquele. (pronome demonstrativo substantivo)

2.6 Pronomes interrogativos


Pronomes interrogativos são utilizados para interrogar, ou seja, para formular perguntas de modo direto ou indireto.
Referem-se sempre à 3.ª pessoa gramatical e possuem uma significação indeterminada e imprecisa, que apenas é
esclarecida pela resposta dada à interrogação.
Quem ganhou a competição? (Interrogação Direta)
Qual o motivo desta confusão? (Interrogação Direta)
Gostaria de saber quem ganhou a competição. (Interrogação Indireta)
Diga-me, por favor, qual o motivo desta confusão. (Interrogação Indireta)

Os pronomes interrogativos existentes são: que, quem, qual e quanto, sendo que os pronomes que e quem são invariáveis,
o pronome qual pode variar em número para quais e o pronome quanto pode variar em gênero e número para quanta,
quantos e quantas.

Uso e valores dos pronomes interrogativos


O pronome interrogativo que se refere principalmente a coisas, podendo perguntar: que coisa? ou que espécie de coisa
ou pessoa? Pode vir acompanhado da expressão é que, reforçando a interrogação, bem como ser utilizado para conferir
maior ênfase à interrogação.
- Que comeremos agora?
- Que comunicado ele pretende fazer?
- Que é que você fez?
- O que terá acontecido?

O pronome interrogativo quem se refere principalmente a pessoas ou coisas personificadas.


- Quem quer ir comigo ao cinema?
- Gostaria de saber quem é o responsável da empresa.
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O pronome interrogativo qual se refere a coisas ou a pessoas. Pode transmitir uma ideia de seleção, ou seja, de
identificação de um ou vários elementos dentro de um grupo.
- Qual é o departamento certo?
- Qual de vocês me ajudará nesta tarefa?

O pronome interrogativo quanto se refere a coisas ou a pessoas. Transmite uma ideia de quantificação.
- Quanto mais terei que aturar?
- Quantas inscrições são precisas para que a atividade se realize?

Os pronomes interrogativos podem ainda ser usados em exclamações que simbolizem uma interrogação com admiração e
espanto.
- Que confusão!
- Quem diria!
- Quanta barbaridade!

Os vocábulos onde, aonde, quando e como, nas perguntas, são advérbios interrogativos com os respectivos valores de
lugar, lugar, tempo e modo. Não confunda com os pronomes relativos.
- Onde está você agora?
- Aonde iremos com tantos projetos?
- Gostaria de saber quando será a nossa próxima partida de futebol.
- Precisava apenas saber como ele chegou até aqui sem dinheiro.

2.7 Pronomes relativos


Pronomes relativos são pronomes que se relacionam sempre com o termo da oração que está antecedente, servindo ao
mesmo tempo de elo de subordinação das orações que iniciam. Exercem, assim, uma função sintática na frase.
Normalmente, introduzem as orações subordinadas adjetivas. Através da utilização de pronomes relativos, evitamos a
repetição dos termos nas orações, sendo fácil relacioná-los e sintetizá-los.
Este é o museu. Eu visitei o museu. Este é o museu que eu visite.
Eu comprei a blusa. A blusa é amarela. Eu comprei a blusa que é amarela.

Exemplos de pronomes relativos


Formas invariáveis: que, quem, onde.
Formas variáveis: o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.

Os pronomes relativos podem vir precedidos de preposição de acordo com a regência verbal dos verbos da oração.

2.7.1 Uso dos pronomes relativos


Que: É o pronome relativo mais utilizado, sendo considerado um pronome relativo universal. Refere-se a coisas ou a
pessoas e pode ser substituído por: o qual, a qual, os quais e as quais. Além disso, pode aparecer precedido pelos
pronomes demonstrativos o, a, os, as.
Acabei de lavar o vestido que estava sujo de tinta.
Já nem sei o que faço.

Quem: Refere-se somente a pessoas, nunca a coisas. Vem sempre antecedido de preposição quando tem um antecedente
explícito.
Este é o garoto a quem sempre amei.
É esta a professora de quem você falou?

Onde: É utilizado para indicar um lugar, podendo ser substituído por: em que, no qual, na qual, nos quais e nas quais.
Pode ser utilizado juntamente com preposições, formando as palavras aonde e donde para transmitir noções de
movimento.
Este é o apartamento onde vivi quando pequena.
O hotel onde ficamos era cinco estrelas.

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Qual e suas flexões: Vem sempre precedido de um artigo. Emprega-se depois de preposições com duas sílabas ou mais e
de locuções prepositivas.
Pensei nisso naquela noite de tempestade, durante a qual não consegui dormir.
Li um livro sobre o qual nunca tinha ouvido falar nada.

Quanto e suas flexões: Aparece depois dos pronomes indefinidos nada, tudo, tanto, todos, bem como suas flexões.
Compre tanto quanto for preciso.
Ele não fez tudo quanto havia prometido.

Cujo e suas flexões: Aparece entre dois substantivos e transmite uma ideia de posse, sendo equivalente a: do qual, da
qual, dos quais, das quais, de que e de quem. Deve concordar em gênero e número com a coisa possuída.
Escolheram os alunos cujas notas foram exemplares.
Preferem atletas cujo condicionamento físico está excelente.

Os antecedentes com os quais os pronomes relativos se relacionam podem ser um substantivo, um pronome, um adjetivo,
um advérbio ou uma oração. Contudo, com os pronomes quem e onde, é possível que sejam utilizados na frase sem o
antecedente, chamando-se então de pronomes relativos indefinidos.
- Quem copiou na prova, foi reprovado.
- Onde não morava ninguém, eu fiz a minha lojinha.

2.8 Pronomes indefinidos


Pronomes indefinidos indicam que algo ou alguém é considerado de forma indeterminada e imprecisa. Referem-se
sempre à 3.ª pessoa gramatical.
Alguém pode me ajudar?
Tem algo para comer?
Muitos faltaram à prova de português
Certos comentários serão ignorados.
Qualquer informação será considerada importante.

Existem pronomes indefinidos invariáveis, pronomes indefinidos variáveis em gênero e número e pronomes indefinidos
variáveis apenas em número.
Pronomes indefinidos invariáveis: alguém; ninguém; outrem; tudo; nada; cada; algo.
Pronomes indefinidos variáveis em gênero e número: algum, alguns, alguma, algumas; nenhum, nenhuns, nenhuma,
nenhumas; todo, todos, toda, todas; outro, outros, outra, outras; muito, muitos, muita, muitas; pouco, poucos, pouca,
poucas; certo, certos, certa, certas; vário, vários, vária, várias; tanto, tantos, tanta, tantas; quanto, quantos, quanta,
quantas.
Pronomes indefinidos variáveis em número: qualquer, quaisquer; bastante, bastantes.

2.8.1 Pronomes indefinidos adjetivos e substantivos


Alguns pronomes indefinidos são utilizados majoritariamente como pronomes indefinidos adjetivos, acompanhando o
substantivo. Podem, contudo, ser utilizados também como pronomes indefinidos substantivos. É o caso dos pronomes
algum, nenhum, todo, outro, muito, pouco, vário, tanto e quanto.
- Nenhum homem teve coragem de se pronunciar contra aquela tirania.
- Nenhum teve coragem de se pronunciar contra aquela tirania.
- Poucos alunos passaram para a oitava série.
- Poucos passaram para a oitava série.

Pronomes indefinidos substantivos


Alguns pronomes indefinidos são utilizados apenas como pronomes indefinidos substantivos, substituindo o substantivo
numa frase. É o caso dos pronomes alguém, ninguém, outrem, algo, nada e tudo.
Este livro é de alguém?
Tudo é importante, nada deverá ser esquecido!

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Pronomes indefinidos adjetivos
Outros pronomes indefinidos são utilizados apenas como pronomes indefinidos adjetivos, acompanhando o substantivo
na oração. É o caso dos pronomes certo, cada e qualquer.
- Certas atitudes são incompreensíveis.
- Qualquer escolha será longamente ponderada.
- Cada pessoa deverá seguir o seu próprio caminho.

O pronome cada, na ausência de um substantivo, poderá vir acompanhado de um numeral pronome, como um e qual:
cada um ou cada qual.
- Cada um deverá seguir o seu próprio caminho.
- Cada qual deverá seguir o seu próprio caminho.

2.8.2 Valores dos pronomes indefinidos


Os pronomes indefinidos apresentam diferentes valores, conforme o contexto frásico em que ocorrem.
Nenhum e algum: o pronome indefinido nenhum assume sempre um sentido negativo. Já o pronome indefinido algum
assume um sentido afirmativo quando anteposto ao substantivo e um sentido negativo quando posposto ao substantivo.
Nenhum motivo foi apresentado para a desistência da candidatura. (sentido negativo)
Algum motivo foi apresentado para a desistência da candidatura? (sentido afirmativo)
Motivo algum foi apresentado para a desistência da candidatura. (sentido negativo)

Ninguém e alguém: o pronome indefinido ninguém assume sempre um sentido negativo, enquanto o pronome indefinido
alguém assume um sentido afirmativo. Ambos se referem a pessoas.
Com certeza, ninguém seguiu este caminho. (sentido negativo)
Com certeza, alguém seguiu este caminho. (sentido afirmativo)

Nada e algo: o pronome indefinido nada assume sempre um sentido negativo, enquanto o pronome indefinido algo
assume um sentido afirmativo. Ambos se referem a coisas.
Não pretendia nada, além de uma vida descansada. (sentido negativo)
Queria sempre algo novo. (sentido afirmativo)
Nada: o pronome indefinido nada significa principalmente coisa nenhuma, mas pode significar alguma coisa em frases
interrogativas negativas. Pode ainda assumir a função de advérbio quando acompanhado de um substantivo.
Não quero nada, obrigado! (coisa nenhuma)
Você não viu nada de estranho ontem? (alguma coisa)
Não fiquei nada feliz com meu resultado na prova. (advérbio)

Certo: o pronome certo apenas atua como pronome indefinido quando anteposto ao substantivo, particularizando alguma
coisa. Quando posposto ao substantivo assume a função de um adjetivo, sinônimo de correto, certeiro, garantido,
combinado, apropriado, entre outros.
Certos alunos ficam para sempre na memória dos professores. (pronome indefinido)
O diretor tomou decisões certas. (adjetivo)

Qualquer: o pronome indefinido qualquer tem como principal função generalizar uma situação. Contudo, assume um
valor depreciativo quando posposto a um artigo indefinido ou a um substantivo próprio.
Qualquer ajuda será bem-vinda. (sentido generalizador)
Ele é apenas um qualquer. Nem me vou preocupar com suas opiniões. (sentido depreciativo)

Todo e tudo: os pronomes indefinidos todo e tudo indicam totalidades afirmativas. O pronome todo, no singular, indica a
totalidade das partes. No plural, indica uma totalidade numérica. O pronome tudo representa, normalmente, um termo
absoluto.
Ele comeu o bolo todo. (totalidade das partes)
Todos os alunos realizaram a prova. (totalidade numérica)
Já fizemos tudo. (termo absoluto)

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Outro: o pronome indefinido outro pode indicar um momento passado ou um momento futuro, como nas expressões
outro dia (passado) e no outro dia (futuro).
Outro dia fui ver a exposição de pintura de minha tia.
No outro dia, depois de regressar de viagem, irei ver a exposição de pintura de minha tia.

2.8.3 Locuções pronominais indefinidas


Além dos pronomes indefinidos, existem conjuntos de palavras que atuam como pronomes indefinidos, sendo chamadas
de locuções pronominais indefinidas: cada qual; cada um; qualquer um; todo aquele que; quem quer que; o que quer que;
seja quem for; seja qual for; o mais.

XIII. VERBOS
Definição: Verbo é a palavra que indica ação, praticada ou sofrida pelo sujeito, fato de que o sujeito participa
ativamente, estado ou qualidade do sujeito, fenômeno da natureza.

1.1 Conjugação verbal


Há três conjugações para os verbos da língua portuguesa:
1ª conjugação: verbos terminados em -ar .
2ª conjugação: verbos terminados em -er .
3ª conjugação: verbos terminados em -ir .

Obs.: O verbo pôr e seus derivados pertencem à 2ª conjugação, por se originarem do antigo verbo poer.

1.2 Pessoas verbais


1ª pes. do sing.: eu 1ª pes. do pl.: nós
2ª pes. do sing.: tu 2ª pes. do pl.: vós
3ª pes. do sing.: ele/ela 3ª pes. do pl.:eles/elas

1.3 Modos verbais


Indicativo, que expresa atitudes de certeza,
Subjuntivo, que expressa atitudes de dúvida, hipótese, desejo, e
Imperativo, que expressa atitude de ordem, pedido, conselho.

2. O modo indicativo

2.1 Presente
Indica fato que ocorre no dia-a-dia, corriqueiramente.
Ex. Todos os dias, caminho no Calçadão. Estudo no Dedicação. Confio em meus amigos.

2.2 Pretérito
Indica fatos que já ocorreram.

A) Pretérito Perfeito
Indica fato que ocorreu no passado em determinado momento, observado depois de concluído.
Ex. Ontem caminhei no Calçadão.
Estudei no Dedicação no ano passado.
Confiei em pseudo-amigos.

B) Pretérito Imperfeito
Indica fato que ocorria com frequência no passado, ou fato que não havia chegado ao final no momento em que estava
sendo observado.
Ex. Naquela época, todos os dias, eu caminhava no Calçadão.
Eu estudava no Dedicação, quando conheci Magali.
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C) Pretérito Mais-que-perfeito
Indica fato ocorrido antes de outro no Pretérito Perfeito ou Imperfeito do Indicativo.
Ex. Ontem, quando você foi ao Calçadão, eu já caminhara 6 Km.
Eu já estudara no Dedicação, quando conheci Magali.
Eu confiara naquele amigo que mentia a mim.

2.3 Futuro
Indica fatos que vão ou não ocorrer depois do momento da fala.

A) Futuro do Presente
Indica fato que, com certeza, ocorrerá.
Ex. Amanhã caminharei no Calçadão pela manhã.
Estudarei no Dedicação, no ano que vem.
Eu confiarei mais uma vez naquele amigo que mentiu a mim.

B) Futuro do Pretérito:
Indica uma hipótese futura, dependente de outro anterior a ele. Sozinho, indica uma cortesia ou desejo.
Ex. Eu caminharia todos os dias, se não trabalhasse tanto.
Estudaria no Dedicação, se morasse em Londrina.
Eu confiaria mais uma vez naquele amigo, se ele me prometesse não mais me trair.
Você gostaria de tomar um café? Eu preferiria suco!

3. O modo subjuntivo

3.1 Presente
Indica desejo atual, dúvida que ocorre no momento da fala.
Ex. Espero que eu caminhe bastante no ano que vem.
O meu desejo é que eu estude no Dedicação ainda.
Duvido de que eu confie nele novamente.

3.2 Pretérito Imperfeito


Indica condição, hipótese; normalmente é usado com o Futuro do Pretérito do Indicativo.
Ex. Eu caminharia todos os dias, se não trabalhasse tanto.
Estudaria no Dedicação, se morasse em Londrina.
Eu confiaria mais uma vez naquele amigo, se ele me prometesse não me trair.

3.3 Futuro
Indica hipótese futura.
Ex. Quando eu começar a caminhar todos os dias, sentir-me-ei melhor.
Quando eu estudar no Dedicação, aprenderei mais coisas.
Quando ele me prometer que não me trairá mais, voltarei a confiar nele.

3.4 Conjugação dos Verbos Regulares

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


Cantar Vender Partir

4. O modo Imperativo

O modo Imperativo expressa ordem, pedido ou conselho


Ex. Caminhe todos os dias, para a saúde melhorar.
Estude no Dedicação! Confie em mim!
Não saia tarde de casa. Não se atrasem para a prova.
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4.1 Conjugação dos Verbos Regulares

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


Cantar Vender Partir

IMPERATIVO AFIRMATIVO
tu canta vende parte
você cante venda parta
nós cantemos vendamos partamos
vós cantai vendei parti
vocês cantem vendam partam

IMPERATIVO NEGATIVO
tu não cantes não vendas não partas
você não cante não venda não parta
nós não cantemos não vendamos não partamos
vós não canteis não vendais não partais
vocês não cantem não vendam não partam

5. As formas nominais
Não exprimem com exatidão o tempo em que se dá o fato expresso – completam o esquema dos tempos simples. São
três:
5.1 Infinitivo
São as formas terminadas em ar, er ou ir. Infinitivo Impessoal (falar), Infinitivo Pessoal (falar eu, falares tu, etc.).
5.2 Gerúndio
São as formas terminadas em ndo (falando).

5.3 Particípio
São as formas terminadas em ado ou ido (falado, partido).

7. Classificação dos verbos


Os verbos classificam-se em:
7.1 Verbos Regulares
Verbos regulares são aqueles que não sofrem alterações no radical.
Ex. cantar, vender, partir.

7.2 Verbos Irregulares


Verbos irregulares são aqueles que sofrem pequenas alterações no radical.
Ex. fazer = faço; fazes; fizeste; fez; feito

7.3 Verbos Anômalos


Verbos anômalos são aqueles que sofrem grandes alterações no radical.
Ex. ser = sou, é, fui, era, serei; ir = vou, foi, ia, irei, iria

7.4 Verbos Impessoais


Verbos impessoais são aqueles que só podem ser conjugados na terceira pessoa do singular por não ter um agente
explícito que o conjugue.
Ex. fenômenos da natureza (chover), tempo decorrido (fazer), haver (no valor de existir), dentre outros.

7.5 Verbos Defectivos


Verbos defectivos são aqueles que não possuem conjugação completa.
Ex. falir, reaver, precaver = não possuem as 1ª, 2ª e 3ª pes. do presente do indicativo e o presente do subjuntivo inteiro.
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7.6 Verbos Abundantes
Verbos abundantes são aqueles que apresentam duas formas de mesmo valor. Geralmente ocorrem no particípio, que
chamaremos de particípio regular, terminado em -ado, -ido, usado na voz ativa, com o auxiliar ter ou haver, e particípio
irregular, com outra terminação diferente, usado na voz passiva, com o auxiliar ser ou estar.
Exemplos de verbos abundantes:
Infinitivo Part.Regular Part.Irregular
Aceitar aceitado aceito
Acender acendido aceso
Contundir contundido contuso
Eleger elegido eleito
Entregar entregado entregue
Enxugar enxugado enxuto
Expulsar expulsado expulso
Imprimir imprimido impresso
Limpar limpado limpo
Murchar murchado murcho
Suspender suspendido suspenso
Tingir tingido tinto

Obs.: Os verbos abrir, cobrir, dizer, escrever, fazer, pôr, ver e vir só possuem o particípio irregular aberto, coberto, dito,
escrito, feito, posto, visto e vindo. Os particípios regulares gastado, ganhado e pagado estão corretos, mas estão caindo
ao desuso - sendo substituídos frequentemente pelos irregulares gasto, ganho e pago.

Formas Rizotônicas: São as estruturas verbais com a sílaba tônica dentro do radical. São elas: eu, tu, ele e eles do
presente do indicativo, eu, tu, ele e eles do presente do subjuntivo, tu, você e vocês do imperativo afirmativo e tu, você e
vocês do imperativo negativo.
Formas Arrizotônicas: São as estruturas verbais com a sílaba tônica fora do radical. São todas as outras estruturas verbais,
com exceção das rizotônicas.

8. Verbos defectivos

a) Verbo defectivo, da 3ª conjugação. Faltam-lhe a 1ª pessoa do singular do Presente do Indicativo e as formas derivadas
dela. Colorir, abolir, aturdir (atordoar), brandir (acenar, agitar a mão), banir, carpir, delir (apagar), demolir, exaurir
(esgotar, ressecar), explodir, fremir (gemer), haurir (beber, sorver), delinquir, extorquir, puir (desgastar, polir), ruir,
retorquir (replicar, contrapor), latir, urgir (ser urgente), tinir (soar), pascer (pastar).

b) Verbo defectivo, da 3ª conjugação; Falir. Faltam-lhe as formas rizotônicas do Presente do Indicativo e as formas delas
derivadas. Como ele, conjugam-se aguerrir (tornar valoroso), adequar, combalir (tornar debilitado), embair (enganar),
empedernir (petrificar, endurecer), esbaforir-se, espavorir, foragir-se, remir (adquirir de novo, salvar, reparar,
indenizar, precaver, recuperar-se de uma falha), renhir (disputar), transir (trespassar, penetrar).

Nota: o verbo adequar, diferentemente de todos os outros defectivos nas formas rizotônicas, é conjugado no Presente do
Subjuntivo nas duas primeiras pessoas do plural, ou seja: que nós adequemos, que vós adequeis, consequentemente o
Imperativo Afirmativo também é conjugado de modo diferente: adequemos nós, adequai vós.

9. Vozes Verbais
Voz verbal é a flexão do verbo que indica se o sujeito pratica, ou recebe, ou pratica e recebe a ação verbal.

9.1 Voz Ativa


Quando o sujeito é agente, ou seja, pratica a ação verbal ou participa ativamente de um fato. Ex. As meninas exigiram a
presença da diretora. A torcida aplaudiu os jogadores. O médico cometeu um erro terrível.

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9.2 Voz Passiva
A voz passiva sintética é formada por verbo transitivo direto, pronome se (partícula apassivadora) e sujeito paciente. Ex.
Entregam-se encomendas. Alugam-se casas. Compram-se roupas usadas.
A voz passiva analítica é formada por sujeito paciente, verbo auxiliar ser ou estar, verbo principal indicador de ação no
particípio - ambos formam locução verbal passiva - e agente da passiva. Ex. As encomendas foram entregues pelo próprio
diretor. As casas foram alugadas pela imobiliária. As roupas foram compradas por uma elegante senhora.

9.3 Voz Reflexiva


Será chamada simplesmente de reflexiva, quando o sujeito praticar a ação sobre si mesmo. Ex. Carla machucou-se.
Osbirvânio cortou-se com a faca. Roberto matou-se.

9.4 Voz Reflexiva recíproca (ou Voz Recíproca)


Será chamada de reflexiva recíproca, quando houver dois elementos como sujeito: um pratica a ação sobre o outro, que
pratica a ação sobre o primeiro.
Ex. Paula e Renato amam-se.
Os jovens agrediram-se durante a festa.
Os ônibus chocaram-se violentamente.

Passagem da ativa para a passiva e vice-versa


Para efetivar a transformação da ativa para a passiva e vice-versa, procede-se da seguinte maneira:
O sujeito da voz ativa passará a ser o agente da passiva.
O objeto direto da voz ativa passará a ser o sujeito da voz passiva.
Na passiva, o verbo ser estará no mesmo tempo e modo do verbo transitivo direto da ativa.
Na voz passiva, o verbo transitivo direto ficará no particípio.
Atenção: apenas os verbos transitivos diretos ou bitransitivos possuem voz passiva. Os verbos transitivos indiretos,
intransitivos e de ligação não podem ser transformados para a voz passiva, com exceção do verbo “obedecer” e seu
derivado “desobedecer”.

Voz ativa
A torcida aplaudiu os jogadores. Sujeito = a torcida.
Verbo transitivo direto = aplaudiu. Objeto direto = os jogadores.

Voz passiva
Os jogadores foram aplaudidos pela torcida. Sujeito = os jogadores.
Locução verbal passiva = foram aplaudidos. Agente da passiva = pela torcida.

10. LOCUÇÕES VERBAIS

Outro tipo de conjugação composta - também chamada conjugação perifrástica - são as locuções verbais, constituídas de
verbos auxiliares mais gerúndio ou infinitivo. São conjuntos de verbos que, numa frase, desempenham papel equivalente
ao de um verbo único. Nessas locuções, o último verbo, chamado principal, surge sempre numa de suas formas nominais;
as flexões de tempo, modo, número e pessoa ocorrem nos verbos auxiliares. Observe os exemplos: Estou lendo o jornal.
Marta veio correndo: o noivo acabara de chegar. Ninguém poderá sair antes do término da sessão.

A língua portuguesa apresenta uma grande variedade dessas locuções, conseguindo exprimir por meio delas os mais
variados matizes de significado. Ser (estar, em algumas construções) é usado nas locuções verbais que exprimem a voz
passiva analítica do verbo. Poder e dever são auxiliares que exprimem a potencialidade ou a necessidade de que
determinado processo se realize ou não. Veja: Pode ocorrer algo inesperado durante a festa. Deve ocorrer algo
inesperado durante a festa.

Outro auxiliar importante é querer, que exprime vontade, desejo. Veja: Quero ver você hoje. Também são largamente
usados como auxiliares: começar a, deixar de, voltar a, continuar a, pôr-se a, ir, vire estar, todos ligados à noção
de aspecto verbal.

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XIV. ADVÉRBIOS
1. Conceito de Advérbios
Os advérbios são palavras que modificam um verbo, um adjetivo ou outro advérbio. São flexionados em grau
(comparativo e superlativo) e divididos em: advérbios de modo, intensidade, lugar, tempo, negação, afirmação, dúvida.

2. Classificação dos Advérbios


Os advérbios são classificados de acordo com as circunstâncias ou ideias que expressam: negação, modo, afirmação,
tempo, intensidade, lugar e dúvida.

2.1 Advérbio de Negação


Os advérbios mais utilizados são: não, nem, tampouco, nunca, jamais.

Exemplos:
De maneira alguma vamos te deixar sozinha. Jamais reatarei meu namoro com ele.
Não vou e ponto. Não saiu de casa naquela tarde.
Os alunos tampouco escutam os professores.

2.2 Advérbio de modo


Os advérbios mais utilizados são: assim, bem, debalde, depressa, devagar, melhor, pior, mal, adrede, acinte e grande parte
das palavras que terminam em "-mente": cuidadosamente, calmamente, tristemente, alegremente, bondosamente,
discretamente, elegantemente, dentre outros.

Exemplos:
Faço assim. Estava andando depressa por causa da chuva.
É melhor conversar com ele. Fala pouco.
Fui bem na prova. Sua voz é quase inaudível.

2.3 Advérbio de Afirmação


Os advérbios mais utilizados são: sim, deveras, indubitavelmente, decididamente, certamente, realmente, decerto, certo,
efetivamente, seguramente.

Exemplos:
Sim, vou sair. Certamente passearemos nesse domingo.
Realmente ela precisava de ajuda. Ele seguramente gostou do presente de aniversário.
Deveras é o melhor orador.

2.4 Advérbio de tempo


Os advérbios mais utilizados são: hoje, já, afinal, logo, agora, amanhã, amiúde, antes, ontem, anteontem, tarde, breve,
cedo, depois, enfim, entrementes, ainda, jamais, nunca, sempre, doravante, outrora, ora, outrora, atualmente,
primeiramente, imediatamente, antigamente, provisoriamente, sucessivamente, constantemente.

Exemplos:
Falamos amanhã. Ontem estivemos numa reunião de trabalho.
Nunca digas isso. Sempre estamos juntos.
É tarde.

2.5 Advérbio de Intensidade


Os advérbios mais utilizados são: muito, demais, pouco, tão, quão, demasiado, bastante, imenso, demais, mais, menos,
quanto, quase, tanto, assaz, tudo, nada, todo, apenas, bem, mal, deveras, quanto.

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Exemplos:
Comeu demasiado naquele almoço. Escreve bem.
Ela gosta bastante dele.

2.6 Advérbio de lugar


Os advérbios mais utilizados são: aí, aqui, acolá, cá, lá, ali, adiante, abaixo, embaixo, acima, adentro, dentro, afora, fora,
defronte, atrás, detrás, atrás, além, aquém, antes, algures, nenhures, alhures, aonde, longe, perto, através.

Exemplos:
Estou aqui. Minha casa é ali.
Pendure o quadro acima. O livro está embaixo da mesa.
O carro vinha detrás.

2.7 Advérbio de Dúvida


Os advérbios mais utilizados são: possivelmente, provavelmente, eventualmente, acaso, porventura, quiçá, será, talvez,
casualmente.

Exemplos:
Provavelmente irei ao banco. Provavelmente os adversários ganharão o jogo.
Quiçá chova hoje. Eles disseram que talvez viriam.
Acaso eu disse que você podia sair?

2.8 Informações Relevantes


A Gramática Portuguesa, por sua vez, admite ainda mais três advérbios:
- Advérbio de ordem: depois, primeiramente, ultimamente
- Advérbio de exclusão: apenas, salvo, senão, só, somente.
- Advérbio de designação: eis.

Há também os advérbios, também chamados, em algumas gramáticas brasileiras, como palavras denotativas que
exprimem exclusão (só, somente, salvo, exclusivamente, apenas), inclusão (também, inclusivamente, ainda, mesmo, até) e
ordem (ultimamente, depois, primeiramente).

Fazendo referência a uma oração, na qual dois ou mais advérbios terminados em “-mente” modificam a mesma palavra,
podemos contar com o recurso de tornar o discurso mais conciso, mais elegante – representado pelo procedimento de
juntar tal sufixo ao último deles, somente.

Exemplos:
Elegante e simpaticamente cumprimentava a todos que por ali passavam.
Ela agiu calma(mente) e reservadamente.

Porém, no caso de o emissor se prestar ao serviço de realçar as circunstâncias expressas pelos advérbios, o ideal é omitir a
conjunção e acrescentar o referido sufixo a cada um deles.

Exemplos:
Carinhosamente, respeitosamente ele chegou para animar a plateia.
Ferozmente, enfurecidamente o cão latia para as crianças que o rodeavam

Os Advérbios Interrogativos são utilizados nas interrogações diretas e indiretas relacionados com as circunstâncias de
modo, tempo, lugar e causa. São eles: como, onde, aonde, donde (de onde), por que, quando.

Exemplos:
Como faço isto? / Quero saber como devo fazer isto.
Onde você está? / Gostaria de saber onde você está.
Aonde vamos? / Queria saber onde vamos.
Donde vem esta carta? / Gostaria de saber donde vem esta carta.

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3. Flexão dos Advérbios
Os advérbios são consideradas palavras invariáveis pois, à exceção da palavra “todo”, não sofrem flexão de número
(singular e plural) e gênero (masculino, feminino); porém, são flexionadas nos graus comparativo e superlativo.

3.1 Grau Comparativo


No Grau Comparativo, o advérbio pode caracterizar relações de igualdade, inferioridade ou superioridade.

Igualdade: formado por "tão + advérbio + quanto" (como).


Exemplos: Ele iniciou tão tarde quanto o pai.
Cantava tão bem como a colega.

Inferioridade: formado por "menos + advérbio + que" (do que).


Exemplos: Joana fala menos alto que Sílvia.

Superioridade analítico: formado por "mais + advérbio + que" (do que).


Exemplos: Ele iniciou mais tarde que (do que) o pai.
Cantava melhor que (do que) a colega.

Superioridade sintético: formado por "melhor que” ou “pior que" (do que).
Exemplos: Na prova, Carla saiu melhor que (do que) Cristina.
De saúde, Talita está pior que (do que) eu.

Importante: antes de particípios não se devem usar as formas irregulares do comparativo de superioridade (melhor, pior)
não se devem usar as formas irregulares do comparativo de superioridade (melhor, pior), e sim as formas analíticas (mais
bem, mais mal).
Exemplos: Ele está mais bem informado do que eu (e não “melhor informado).
Ele está mais bem informado do que eu (e não “melhor informado).

3.2 Grau Superlativo


Analítico: quando acompanhado de outro advérbio.
Exemplo: Isabel fala muito baixo.

Sintético, quando é formado por sufixos ou por meio de uma repetição do advérbio.
Exemplo:
Isabel fala baixíssimo. João saiu agorinha.
Estou muitíssimo feliz. Parto logo, logo.
Isabel fala baixinho João chegou cedo, cedo.

4. Locução Adverbial

Locução adverbial é uma expressão formada por uma ou mais palavras que, juntas, têm a função de advérbio. É dessa
forma que alteram o sentido de um verbo, de um adjetivo ou mesmo de um advérbio.
As preposições iniciam a maior parte das locuções adverbiais, que são formadas pela união com um substantivo, adjetivo
ou advérbio.
Exemplos:
Preposição + substantivo: O incentivo chegará com certeza
Preposição + adjetivo: Choverá em breve
Preposição + advérbio: O caminho é por ali

4.1 Classificação
As locuções adverbiais são muito numerosas e, entre outras, podem ser classificadas como:
- lugar: a distância, à distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda, ao lado, em volta, por aqui.
- tempo: às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, às vezes, de vez em quando, de quando em quando, a qualquer
momento, de tempos em tempos, hoje em dia.
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- modo: de cor, em vão, em geral, de soslaio, frente a frente, de viva voz.
- quantidade: em excesso, de todo, de muito, por completo.
- afirmação: sem dúvida, de fato, por certo, com certeza.
- negação: de modo algum, de forma alguma, de jeito nenhum, de forma nenhuma.
- intensidade: de muito, de pouco, de todo, em excesso.
- dúvida: com certeza, quem sabe, por certo.
- inclusão: além disso.

Além destas classificações, dentro dos contextos, outras possibilidades também podem ser verificadas:
- finalidade: eu me esforcei para vencer. - meio: viajamos de avião.
- companhia: fomos com os amigos. - concessão: saímos, apesar da chuva.
- causa: o animalzinho morreu de sede. - preço: compramos o presente por cem reais.
- assunto: ele falava sobre você. - condição: não saia sem dinheiro.
- matéria: os artesanatos são feitos de barro. - conformidade: agiremos conforme o regulamento.
- instrumento: ele se feriu com a faca.

XV. CONECTIVOS – PREPOSIÇÕES E CONJUNÇÕES


1. Conceito de Conectivos
Conectivos são palavras ou expressões que interligam termos, frases, períodos, orações ou parágrafos, permitindo a
sequência de ideias.
Esse papel é desempenhado, sobretudo, pelas preposições e pelas conjunções, palavras invariáveis usadas para ligar os
termos e orações em um período. Além disso, alguns advérbios e pronomes também podem exercer essa função.
Os conectivos são elementos essenciais no desenvolvimento dos textos, uma vez que estão relacionados com a coesão
textual.
Assim, se forem mal empregados, reduzem a capacidade de compreensão da mensagem e comprometem o texto.

2. Preposição
Preposição é a palavra invariável que liga dois termos da oração numa relação de subordinação donde, geralmente, o
segundo termo subordina o primeiro.
Exemplos:
O navio veio de São Paulo.
A cinco quilômetros daqui passa uma estrada.

2.1 Classificação das Preposições


As preposições podem ser divididas em dois grupos:
- Preposições Essenciais – são as palavras que só funcionam como preposição, a saber: a, ante, após, até, com, contra, de,
desde, em, entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre, trás.
- Preposições Acidentais – são as palavras de outras classes gramaticais que, em certas frases funcionam como
preposição, a saber: afora, como, conforme, consoante, durante, exceto, mediante, menos, salvo, segundo, visto etc.

2.2 Locuções Prepositivas


A locução prepositiva é formada por duas ou mais palavras com o valor de preposição, sempre terminando por uma
preposição, por exemplo: abaixo de, acima de, a fim de, além de, antes de, até a, depois de, ao invés de, ao lado de, em
que pese a, à custa de, em via de, à volta com, defronte de, a par de, perto de, por causa de, através de, etc.

2.3 Combinação, Contração e Crase


Importante notar que algumas preposições podem aparecer combinadas com outras palavras. Assim, quando na junção
dos termos não houver perda de elementos fonéticos, teremos uma combinação, por exemplo: ao (a + o); aos (a + os)
aonde (a + onde).
Por conseguinte, quando da junção da preposição com outra palavra houver perda fonética, teremos a chamada
contração, por exemplo: do (de + o); dum (de + um); desta (de + esta); no (em + o); neste (em + este); nisso (em + isso)
Por fim, toda fusão de vogais idênticas forma uma crase: à = contração da preposição a + o artigo a; àquilo = contração da

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preposição a + a primeira vogal do pronome aquilo.
Apenas na linguagem coloquial ou cotidiana, seja ela falada ou escrita, aparecem as reduções pra (para a) e pro (para o).
Importante relembrar que essas palavras não pedem acento, já que se trata de palavras átonas. por exemplo: Este é um
país que vai pra frente.

2.4 Preposições e seus Valores Semânticos


No caso das preposições, a mesma palavra também pode assumir valores diferentes. É por isso que, embora algumas
delas sejam mais frequentes em determinado tipo, o seu valor semântico somente pode ser verificado mediante a relação
estabelecida em determinado contexto, como se vê a seguir.
Assunto: O livro trata de culinária. Matéria: Fiz bolo de chocolate.
Causa: Com a barba feita, conseguiu emprego. Meio: Falei com ela por telefone.
Companhia: Se for para ir com você eu vou. Modo: Faz tudo com disposição.
Conformidade: Entreguei tudo como ele pediu. Oposição: Agiu contra a minha vontade.
Distância: A poucos metros está a padaria. Origem: De onde você é?
Finalidade: Vim cedo para não perder o ônibus. Posse: Este livro é da biblioteca?
Instrumento: Com o que você se machucou? Tempo: Vou me aposentar por tempo de contribuição.
Lugar: Mudou-se para a Alemanha.

3. Conjunção
Conjunção é um termo que liga duas orações ou duas palavras de mesmo valor gramatical, estabelecendo uma relação
entre eles.
Exemplos:
Ele joga futebol e basquete. (dois termos semelhantes)
Eu iria ao jogo, mas estou sem companhia. (duas orações)

3.1 Conjunções Coordenativas


As conjunções coordenativas são aquelas que ligam duas orações independentes. São divididas em 5 tipos:
3.1.1 Conjunções Aditivas
Essas conjunções exprimem soma, adição de pensamentos: e, nem, não só...mas também, não só...como também, mas
ainda, como, assim.
Exemplo: Ana não fala nem ouve.

3.1.2 Conjunções Adversativas


Exprimem oposição, contraste, compensação de pensamentos: mas, porém, contudo, entretanto, no entanto, todavia,
senão, não obstante, ainda assim, apesar disso, mesmo assim, de outra sorte, ao passo que.
Exemplo: Não fomos campeões, todavia exibimos o melhor futebol.

3.1.3 Conjunções Alternativas


Exprimem escolha de pensamentos: ou, ou...ou, já...já, ora...ora, quer...quer, seja...seja.
Exemplo: Ou você vem conosco ou você não vai.

3.1.4 Conjunções Conclusivas


Exprimem conclusão de pensamento: logo, por isso, pois (quando vem depois do verbo), portanto, por conseguinte,
assim, por fim, então, consequentemente.
Exemplo: Chove bastante, portanto a colheita está garantida.

3.1.5 Conjunções Explicativas


Exprimem razão, motivo: que, porque, pois (quando vem antes do verbo), porquanto.
Exemplo: Não choveu, porque nada está molhado.

3.1.6 Conjunções com mais de uma classificação


A conjunção E pode exprimir os seguintes valores semânticos:
Soma: Estudo e trabalho. (conjunção aditiva)

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Adversidade: Estudo e não aprendo. (conjunção adversativa, equivalente a “mas”)
Conclusão: Dê mais uma palavra e verá o que acontece. (conjunção conclusiva equivalente a “logo”)

A conjunção MAS pode exprimir os seguintes valores semânticos:


Adversidade: Estudo, mas não aprendo. (conjunção adversativa).
Soma: Estudo, mas também trabalho. (conjunção aditiva com valor de “e”).

A conjunção POIS pode exprimir os seguintes valores semânticos:


Conclusão: Choveu muito; a rua está, pois, alagada. (conjunção conclusiva, após o verbo).
Explicação: Choveu muito, pois a rua está alagada. (conjunção explicativa, antes do verbo).

A conjunção OU pode exprimir os seguintes valores semânticos:


Adição: Circos fazem a alegria de crianças, jovens ou adultos. (conjunção aditiva, com valor de inclusão).
Alternância: Ela passou as férias na Europa ou na Ásia. (conjunção alternativa, com valor de exclusão).
3.2 Conjunções Subordinativas
As conjunções subordinativas servem para ligar orações dependentes uma da outra e são divididas em 10 tipos:

3.2.1 Conjunções Integrantes


Introduzem orações subordinadas com função substantiva: que, se.
Exemplo: Quero que você volte já. Não sei se devo voltar lá.

3.2.2 Conjunções Causais


Introduzem orações subordinadas que dão ideia de causa: que, porque, como, pois, visto que, já que, uma vez que.
Exemplo: Não fui à aula porque choveu. Como fiquei doente não pude ir à aula.

3.2.3 Conjunções Comparativas


Introduzem orações subordinadas que dão ideia de comparação: que, do que, como.
Exemplo: Meu professor é mais inteligente do que o seu.

3.2.4 Conjunções Concessivas


Iniciam orações subordinadas que exprimem um fato contrário ao da oração principal: embora, ainda que, mesmo que, se
bem que, posto que, apesar de que, por mais que, por melhor que.
Exemplo: Vou à praia, embora esteja chovendo.

3.2.5 Conjunções Condicionais


Iniciam orações subordinadas que exprimem hipótese ou condição para que o fato da oração principal se realize ou não:
caso, contanto que, salvo se, desde que, a não ser que.
Exemplo: Se não chover, irei à praia.

3.2.6 Conjunções Conformativas


Iniciam orações subordinadas que exprimem acordo, concordância de um fato com outro: segundo, como, conforme,
consoante.
Exemplo: Cada um colhe conforme semeia.

3.2.7 Conjunções Consecutivas


Iniciam orações subordinadas que exprimem a consequência ou o efeito do que se declara na oração principal: que, de
forma que, de modo que, de maneira que.
Exemplo: Foi tamanho o susto que ela desmaiou.

3.2.8 Conjunções Temporais


Iniciam orações subordinadas que dão ideia de tempo: logo que, antes que, quando, assim que, sempre que.
Exemplo: Quando as férias chegarem, viajaremos.

3.2.9 Conjunções Finais


Iniciam orações subordinadas que exprimem uma finalidade: a fim de que, para que.
Exemplo: Estamos aqui para que ele fique tranquilo.
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3.2.10 Conjunções Proporcionais
Iniciam orações subordinadas que exprimem concomitância, simultaneidade: à medida que, à proporção que, ao passo
que, quanto mais, quanto menos, quanto menor, quanto melhor.

Exemplo: Quanto mais trabalho, menos recebo.

4. Valores Semânticos dos Conectivos

Valor semântico é o sentido atribuído às palavras mediante o seu contexto. Muitas vezes, as mesmas palavras têm
significados distintos.
Vejamos os exemplos:
Tinha uma vizinha que era uma cobra!
O caseiro encontrou uma cobra no sítio.
A palavra cobra usada nos dois exemplos diferem no seu significado. No primeiro deles, a pessoa não está contente com a
vizinha, que segundo ela é uma pessoa má, cuja convivência é difícil. No segundo, a palavra tem o sentido literal, ou seja,
de um réptil.
Os conectivos são essenciais para ligar as ideias no texto colaborando com a coesão textual. A aplicação da conjunção ou
mesmo da locução conjuntiva como elementos conectores, depende do tipo de relação que é estabelecida entre as duas
orações.
Confira abaixo os tipos de conectivos, acompanhados de exemplos:
4.1. Prioridade e relevância
Esses conectores são muito usados no início das frases para apresentar uma ideia. Eles também podem oferecer
relevância ao que está sendo apresentado. Principais conectivos: Em primeiro lugar; antes de mais nada; antes de tudo;
em princípio; primeiramente; acima de tudo; principalmente; primordialmente; sobretudo; a priori; a posteriori;
precipuamente.
Exemplo: Primeiramente devemos atentar ao conceito de pluralidade cultural.

4.2. Tempo, frequência, duração, ordem ou sucessão


Esses conectivos situam o leitor na sucessão dos acontecimentos ou das ideias. Por esse motivo, são muito explorados em
textos narrativos. Principais conectivos: Então; enfim; logo; logo depois; imediatamente; logo após; a princípio; no
momento em que; pouco antes; pouco depois; anteriormente; posteriormente; em seguida; afinal; por fim; finalmente;
agora; atualmente; hoje; frequentemente; constantemente; às vezes; eventualmente; por vezes; ocasionalmente; sempre;
raramente; não raro; ao mesmo tempo; simultaneamente; nesse ínterim; nesse meio tempo; nesse hiato; enquanto,
quando; antes que; depois que; logo que; sempre que; assim que; desde que; todas as vezes que; cada vez que; apenas; já;
mal; nem bem.
Exemplo: Logo após sair da aula, Bianca teve um encontro com Arthur.

4.3. Semelhança, comparação ou conformidade


Para estabelecer uma relação com uma ideia ou um conceito que já foi apresentado anteriormente no texto, utilizamos
esse tipo de conectivos. Além disso, podem ser utilizados para apontar ideias de outro texto (intertextualidade). Principais
conectivos: Igualmente; da mesma forma; assim também; do mesmo modo; similarmente; semelhantemente;
analogamente; por analogia; de maneira idêntica; de conformidade com; de acordo com; segundo; conforme; sob o
mesmo ponto de vista; tal qual; tanto quanto; como; assim como; como se; bem como.
Exemplo: De acordo com as ideias de Darcy Ribeiro, o povo brasileiro é muito diverso.

4.4. Condição ou hipótese


Esses termos são utilizados em situações circunstanciais que podem oferecer hipóteses para uma situação futura.
Principais conectivos: Se; caso; contanto que, desde que, eventualmente.
Exemplo: Caso chova essa tarde, não iremos na academia.

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4.5. Continuação ou adição
Para acrescentar algo ao texto, e que esteja relacionado com o que anteriormente foi apresentado, usamos os conectivos
de continuação ou adição. Principais conectivos: Além disso; demais; ademais; outrossim; ainda mais; por outro lado;
também; e; nem; não só; como também; não apenas; bem como.
Exemplo: Suzana foi professora na Universidade de Minas Gerais no período da Ditadura Militar. Além disso, foi
coordenadora do Departamento de Artes vinculado à Secretaria de Cultura do município de Belo Horizonte.

4.6. Dúvida
Para inserir no texto uma dúvida ou probabilidade utilizamos esses conectivos. Principais conectivos: Talvez;
provavelmente; possivelmente; quiçá; quem sabe; é provável; não certo; se é que.
Exemplo: É provável que Tomás não venha trabalhar hoje.

4.7. Certeza ou ênfase


Quando queremos ressaltar algo que temos certeza ou mesmo para enfatizar uma ideia no texto, utilizamos esses
elementos de coesão. Principais conectivos: Por certo; certamente; indubitavelmente; inquestionavelmente; sem dúvida;
inegavelmente; com certeza.
Exemplo: Certamente Cecília esteve envolvida no caso de roubo.

4.8. Surpresa ou imprevistos


Esses elementos enfatizam uma surpresa ou mesmo algo que não estava previsto acontecer. São muito utilizados em
textos descritivos e narrativos. Principais conectivos: Inesperadamente; de súbito; subitamente; de repente;
imprevistamente; surpreendentemente.
Exemplo: De repente vimos o dono da empresa nas galerias de arte.

4.9. Ilustração, retificação ou esclarecimento


Como forma de esclarecer ou corrigir algum conceito ou ideia apresentados no texto, utilizamos esses conectivos.
Principais conectivos: Por exemplo; isto é; ou seja; aliás.
Exemplo: Os estudantes poderão utilizar diversos locais da faculdade durante o evento, ou seja, o anfiteatro, a biblioteca,
o refeitório e o pátio.

4.10. Propósito, intenção ou finalidade


Nesse caso, o produtor do texto tem um propósito ou uma finalidade definida. Ou seja, ele quer apresentar o objetivo
relacionado com o que almeja alcançar. Principais conectivos: Com o fim de; a fim de; como propósito de; com a finalidade
de; com o intuito de; para que; a fim de que; para; ao propósito.
Exemplo: Com o intuito de ganhar mais votos para as eleições, Joaquim divulgou muito seu trabalho.

4.11. Lugar, proximidade ou distância


Advérbios de lugar e pronomes demostrativos são algumas classes gramaticais que envolvem esses conectivos. Eles são
utilizados para indicarem a distância entre algo. Principais conectivos: Perto de; próximo a ou de; justo a ou de; dentro;
fora; mais adiante; aqui; além; acolá; lá; ali; este; esta; isto; esse; essa; isso; aquele; aquela; aquilo; ante, a.
Exemplo: Eles viveram muitos anos próximos da Catedral, no centro da cidade.

4.12. Conclusão ou resumo


Muito comum serem utilizados na conclusão de um parágrafo ou mesmo de uma redação, para resumir as ideias que
foram apontadas no texto. Principais conectivos: Em suma; em síntese; enfim; em resumo; portanto; assim; dessa forma;
dessa maneira; desse modo; logo; pois; assim sendo; nesse sentido.
Exemplo: Em resumo, podemos notar o aumento das taxas alfandegárias durante o período apresentado.

4.13. Causa, consequência e explicação


Esses elementos conectivos servem para explicar as causas e consequências de uma ação, um fenômeno, etc. Principais
conectivos: Por consequência; por conseguinte; como resultado; por isso; por causa de; em virtude de; assim; de fato; com
efeito; tão; tanto; tamanho; que; porque; porquanto; pois; já que; uma vez que; visto que; como (no sentido de porquê);
portanto; que; de tal forma que; haja vista.
Ex: O aquecimento global tem afetado o ser humano e os animais. Como resultado, temos a extinção de muitas espécies.

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4.14. Contraste, oposição, restrição, ressalva
Os conectivos de oposição, como o próprio nome indica, servem para opor ideias ou conceitos num período. Principais
conectivos: Pelo contrário; em contraste com; salvo; exceto; menos; mas; contudo; todavia; entretanto; no entanto;
embora; apesar de; ainda que; mesmo que; posto que; ao passo que; em contrapartida.
Exemplo: Embora o Brasil seja um país diverso, podemos encontrar singularidades em muitas regiões do país.

4.15. Ideias alternativas


Nesse caso, usamos os conectivos quando queremos citar mais de uma opção. Principais conectivos: Ou...ou; quer...quer;
ora...ora.

Exemplo: Ou enfrentamos o problema, ou não poderemos mais trabalhar juntos.

4.16 Preposições, Conjunções e Valores Semânticos


No caso das conjunções, a mesma palavra também pode assumir valores diferentes. É por isso que, embora algumas delas
sejam mais frequentes em determinado tipo, o seu valor semântico somente pode ser verificado mediante a relação
estabelecida em determinado contexto.

Valor semântico das conjunções


Adição: Passeei e descansei. Condição: Se resolver ir, chame.
Adversidade: Faço tudo e não vejo nada pronto. Conformidade: Faço tudo como ele quer.
Alternativa: Ora estudava, ora fingia que estudava. Consequência: Você mexe-se, e eu atiro.
Causa: Como estou doente, não vou à festa. Explicação: Fica, pois ela vai precisar de ajuda.
Comparação: Anda como a mãe. Proporção: Tanto mais faz, tanto menos é reconhecido.
Concessão: Vou à praia, e está chovendo. Tempo: Quando o professor chegar, eu guardo o
Conclusão: Não dormiu em casa porque a cama está telefone.
arrumada.

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PARTE II – ANÁLISE SINTÁTICA
XVI. PERÍODO SIMPLES
1. Frase, Período e Oração
Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para estabelecer comunicação. Expressa juízo, indica ação, estado ou
fenômeno, transmite um apelo, ordem ou exterioriza emoções.

Normalmente a frase é composta por dois termos - o sujeito e o predicado - mas não obrigatoriamente, pois, em
Português há orações ou frases sem sujeito: Há muito tempo que não chove.

Enquanto na língua falada a frase é caracterizada pela entoação, na língua escrita, a entoação é reduzida a sinais de
pontuação.

Quanto aos tipos de frases, além da classificação em verbais e nominais, feita a partir de seus elementos constituintes,
elas podem ser classificadas a partir de seu sentido global:
 frases interrogativas: o emissor da mensagem formula uma pergunta. / Que queres fazer?
 frases imperativas: o emissor da mensagem dá uma ordem ou faz um pedido. / Dê-me uma mãozinha! - Faça-o sair!
 frases exclamativas: o emissor exterioriza um estado afetivo. / Que dia difícil!
 frases declarativas: o emissor constata um fato. / Ele já chegou.

A oração, às vezes, é sinônimo de frase ou período (simples) quando encerra um pensamento completo e vem limitada
por ponto-final, ponto-de-interrogação, ponto-de-exclamação e por reticências.
Um vulto cresce na escuridão. Clarissa se encolhe. É Vasco.
Acima temos três orações correspondentes a três períodos simples ou a três frases. Mas nem sempre oração é
frase: "convém que te apresses" apresenta duas orações mas uma só frase, pois somente o conjunto das duas é que traduz
um pensamento completo.

Outra definição para oração é a frase ou membro de frase que se organiza ao redor de um verbo. A oração possui
sempre um verbo (ou locução verbal), que implica, na existência de um predicado, ao qual pode ou não estar ligado um
sujeito.
Assim, a oração é caracterizada pela presença de um verbo. Dessa forma, Rua! é uma frase, não é uma oração.
Já em "Quero a rosa mais linda que houver, para enfeitar a noite do meu bem", temos uma frase e três orações: As
duas últimas orações não são frases, pois em si mesmas não satisfazem um propósito comunicativo; são, portanto,
membros de frase.

Quanto ao período, ele denomina a frase constituída por uma ou mais orações, formando um todo, com sentido
completo. O período pode ser simples ou composto.
Período simples é aquele constituído por apenas uma oração, que recebe o nome de oração absoluta.
Chove.
A existência é frágil.
Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres de opinião.
Quero uma linda rosa.

Período composto é aquele constituído por duas ou mais orações:


"Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver."
Cantei, dancei e depois dormi.

2. Termos Essenciais da Oração


O sujeito e o predicado são considerados termos essenciais da oração, ou seja, sujeito e predicado são termos
indispensáveis para a formação das orações. No entanto, existem orações formadas exclusivamente pelo predicado. O
que define, pois, a oração, é a presença do verbo.

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2.1 Sujeito
O sujeito é o termo que estabelece concordância com o verbo.
a) "Minha primeira lágrima caiu dentro dos teus olhos.";
b) "Minhas primeiras lágrimas caíram dos teus olhos".
Na primeira frase, o sujeito é minha primeira lágrima. Minha e primeira referem-se ao conceito básico expresso em
lágrima. Lágrima é, pois, a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, denominada núcleo do sujeito. O núcleo do sujeito
se relaciona com o verbo, estabelecendo a concordância.

A função do sujeito é basicamente desempenhada por substantivos, o que a torna uma função substantiva da oração.
Pronomes substantivos, numerais e quaisquer outras palavras substantivadas (derivação imprópria) também podem
exercer a função de sujeito.
a) Ele já partiu;
b) Os dois sumiram;
c) Um sim é suave e sugestivo.

Um sujeito é expresso quando é visto na frase e facilmente identificável pela concordância verbal. Esse sujeito que
aparece na frase é chamado de determinado pode ser simples ou composto.

O sujeito simples é o sujeito determinado que possui um único núcleo. Esse vocábulo pode estar no singular ou no
plural; pode também ser um pronome indefinido.
a) Nós nos respeitamos mutuamente;
b) A existência é frágil;
c) Ninguém se move;
d) O amar faz bem.

O sujeito composto é o sujeito determinado que possui mais de um núcleo.


a) Alimentos e roupas andam caríssimos;
b) Ela e eu nos respeitamos mutuamente;
c) O amar e o odiar são tidos como duas faces da mesma moeda.

Além desses dois sujeitos determinados, é comum a referência ao sujeito oculto, elíptico ou desinencial, isto é, ao
núcleo do sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido pela desinência verbal ou pelo contexto.
Abolimos todas as regras.

O sujeito indeterminado surge quando não se quer ou não se pode identificar claramente a que o predicado da oração
se refere. Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso contrário teríamos uma oração sem sujeito.

Na língua portuguesa o sujeito pode ser indeterminado de duas maneiras:

a) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que o sujeito não tenha sido identificado anteriormente:
a.1) Bateram à porta;
a.2) Andam espalhando boatos a respeito da queda do ministro.

b) com o verbo na terceira pessoa do singular, acrescido do pronome se. Esta é uma construção típica dos verbos que não
apresentam complemento direto:

b.1) Precisa-se de mentes criativas;


b.2) Vivia-se bem naqueles tempos;
b.3) Trata-se de casos delicados;
b.4) Sempre se está sujeito a erros.
O pronome se, nesses casos, funciona como índice de indeterminação do sujeito.

As orações sem sujeito, formadas apenas pelo predicado, articulam-se a partir de m verbo impessoal. A mensagem
está centrada no processo verbal. Os principais casos de orações sem sujeito com:

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a) os verbos que indicam fenômenos da natureza:
a.1) Amanheceu repentinamente;
a.2) Está chuviscando.

b) os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao tempo em geral:
b.1) Está tarde.
b.2) Ainda é cedo.
b.3) Já são três horas, preciso ir;
b.4) Faz frio nesta época do ano;
b.5) Há muitos anos aguardamos mudanças significativas;
b.6) Deve fazer meses que ele partiu.

c) o verbo haver, na indicação de existência ou acontecimento:


c.1) Havia bons motivos para nossa apreensão;
c.2) Houve alguns problemas durante o trabalho.

2.2 Predicado
O predicado é o conjunto de enunciados que numa dada oração contém a informação nova para o ouvinte.
Nas orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia um fato qualquer:
a) Chove muito nesta época do ano;
b) Houve problemas na reunião.

Nas orações que surge o sujeito, o predicado é aquilo que se declara a respeito desse sujeito.
Com exceção do vocativo, que é um termo à parte, tudo o que difere do sujeito numa oração é o seu predicado.
a) Os homens (sujeito) pedem amor às mulheres (predicado);
b) Passou-me (predicado) uma idéia estranha (sujeito) pelo pensamento (predicado).

Para o estudo do predicado, é necessário verificar se seu núcleo está num nome ou num verbo. Deve-se considerar
também se as palavras que formam o predicado referem-se apenas ao verbo ou também ao sujeito da oração.
Os homens sensíveis (sujeito) pedem amor sincero às mulheres de opinião.
O predicado acima apresenta apenas uma palavra que se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras ligam-se direta
ou indiretamente ao verbo.
A existência (sujeito) é frágil (predicado).
O nome frágil, por intermédio do verbo, refere-se ao sujeito da oração. O verbo atua como elemento de ligação entre o
sujeito e a palavra a ele relacionada.

O predicado verbal é aquele que tem como núcleo significativo um verbo:


a) Chove muito nesta época do ano;
b) Senti seu toque suave;
c) O velho prédio foi demolido.
Os verbos acima são significativos, isto é, não servem apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam processos.

O predicado nominal é aquele que tem como núcleo significativo um nome; esse nome atribui uma qualidade ou
estado ao sujeito, por isso é chamado de predicativo do sujeito. O predicativo é um nome que se liga a outro nome da
oração por meio de um verbo.

Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, isto é, não indica um processo. O verbo une o sujeito ao
predicativo, indicando circunstâncias referentes ao estado do sujeito.
"Ele é senhor das suas mãos e das ferramentas."
Na frase acima o verbo ser poderia ser substituído por estar, andar, ficar, parecer, permanecer ou continuar, atuando
como elemento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele relacionadas.

A função de predicativo é exercida normalmente por um adjetivo ou substantivo.

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O predicado verbo-nominal é aquele que apresenta dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No predicado
verbo-nominal, o predicativo pode referir-se ao sujeito ou ao complemento verbal.
O verbo do predicado verbo-nominal é sempre significativo, indicando processos. É também sempre por intermédio do
verbo que o predicativo se relaciona com o termo a que se refere.
a) O dia amanheceu ensolarado;
b) As mulheres julgam os homens inconstantes
No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de ligação.
Esse predicado poderia ser desdobrado em dois, um verbal e outro nominal: “O dia amanheceu” e “O dia estava
ensolarado”.
No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona o complemento homens como o predicativo inconstantes.

3. Termos Integrantes da Oração


Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o complemento nominal são os chamados termos integrantes.
Os complementos verbais integram o sentido dos verbos transitivos, com eles formando unidades significativas. Esses
verbos podem se relacionar com seus complementos diretamente, sem a presença de preposição ou indiretamente, por
intermédio de preposição.
O objeto direto é o complemento que se liga diretamente ao verbo.
a) Os homens pedem amor às mulheres de opinião;
b) Os homens pedem-no às mulheres de opinião;
c) Dou-lhes três.
d) Buscamos incessantemente o Belo;
e) Houve muita confusão na partida final.

O objeto direto preposicionado ocorre principalmente:


a) com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns referentes a pessoas:
a.1) Amar a Deus;
a.2) Adorar a Xangô;
a.3) Estimar aos pais.

b) com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes de tratamento:


b.1) Não excluo a ninguém;
b.2) Não quero cansar a Vossa Senhoria.

c) para evitar ambiguidade, distinguindo sujeito e objeto:


c.1) A raposa ao lobo ameaçava. (sem a preposição, a situação seria outra)

d) com pronomes oblíquos tônicos (preposição obrigatória):


d.1) Nem ele entende a nós, nem nós a ele.

O objeto direto cognato ocorre quando o objeto direto possui um núcleo cujo radical é o mesmo do verbo regido por
ele.
a) João morreu uma morte dolorosa e sofrida.
b) Esses alunos vivem uma vida de reis.
O objeto direto pleonástico ocorre quando o objeto é antecipado na frase e retomado posteriormente por meio de um
pronome oblíquo átono que o repete.
a) Amigos, não os tenho.
b) Meus alunos, eu os ajudo em tudo que precisarem.

O objeto indireto é o complemento que se liga indiretamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição.
a) Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres;
b) Os homens pedem-lhes amor sincero;
c) Gosto de música popular brasileira.

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O objeto direto pleonástico ocorre quando o objeto é antecipado na frase e retomado posteriormente por meio de um
pronome oblíquo átono que o repete.
a) Amigos, não os tenho.
b) Meus alunos, eu os ajudo em tudo que precisarem.

O termo que integra o sentido de um nome chama-se complemento nominal. O complemento nominal liga-se ao nome
que completa por intermédio de preposição e possui valor sempre passivo:
a) Desenvolvemos profundo respeito à arte;
b) A arte é necessária à vida;
c) Moramos longe de todos.
d) A entrega dos prêmios ocorrerá mês que vem.

Os nomes que se fazem acompanhar de complemento nominal pertencem a dois grupos:


a) substantivos em que tenham valor de passividade (se for ativo, será adjunto adnominal);
b) adjetivos ou advérbios, em qualquer situação.

O termo que complementa uma locução verbal na voz passiva chama-se agente da passiva. O agente da passiva se liga
a essa locução verbal para atribuir um autor à ação e vem acompanhado de "por" (mais comum), "de" ou "com".
a) O ladrão foi preso por dois policiais.
b) O presidente é respeitado pelo povo.
c) O jardim está cercado de flores.
d) As ruas ficaram cobertas com lama.

4. Termos Acessórios da Oração e Vocativo


Os termos acessórios recebem esse nome por serem acidentais, explicativos ou circunstanciais. São termos acessórios
o adjunto adverbial, adjunto adnominal e o aposto.

O adjunto adverbial é o termo da oração que indica uma circunstância do processo verbal, ou intensifica o sentido de
um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais exercer o papel
de adjunto adverbial.
Amanhã voltarei de bicicleta àquela velha praça.

As circunstâncias comumente expressas pelo adjunto adverbial são:


 acréscimo: Além de tristeza, sentia profundo cansaço.
 afirmação: Sim, realmente irei partir.
 assunto: Falavam sobre futebol.
 causa: Morrer ou matar de fome, de raiva e de sede... são tantas vezes gestos naturais.
 companhia: Sempre contigo bailando sob as estrelas.
 concessão: Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.
 conformidade: Fez tudo conforme o combinado.
 dúvida: Talvez nos deixem entrar.
 fim: Estudou para o exame.
 frequência: Sempre aparecia por lá.
 instrumento: Fez o corte com a faca.
 intensidade: Corria bastante.
 limite: Andava atabalhoado do quarto à sala.
 lugar: Vou à cidade.
 matéria: Compunha-se de substâncias estranhas.
 meio: Viajarei de trem.
 modo: Foram recrutados a dedo.
 negação: Não há ninguém que mereça.
 preço: As casas são vendidas a preços exorbitantes.
 substituição ou troca: Abandonou suas convicções por privilégios econômicos.
 tempo: Ontem à tarde encontrou o velho amigo.

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O adjunto adnominal é o termo acessório que determina, especifica ou explica um substantivo. É uma função adjetiva,
pois são os adjetivos e as locuções adjetivas que exercem o papel de adjunto adnominal na oração. Também atuam como
adjuntos adnominais os artigos, os numerais e os pronomes adjetivos.
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu amigo de infância.

O adjunto adnominal se liga diretamente ao substantivo a que se refere, sem participação do verbo. Já o predicativo do
objeto se liga ao objeto por meio de um verbo.
O poeta português deixou uma obra originalíssima. O poeta deixou-a.
O poeta português deixou uma obra inacabada. O poeta deixou-a inacabada.

Enquanto o complemento nominal relaciona-se a um substantivo, adjetivo ou advérbio; o adjunto nominal relaciona-se
apenas ao substantivo.

O aposto é um termo acessório que permite ampliar, explicar, desenvolver ou resumir a idéia contida num termo que
exerça qualquer função sintática.
Ontem, segunda-feira, passei o dia mal-humorado.
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo ontem. Dizemos que o aposto é sintaticamente equivalente ao
termo que se relaciona porque poderia substituí-lo:
Segunda-feira passei o dia mal-humorado.

O aposto pode ser classificado, de acordo com seu valor na oração, em:
a) explicativo: A lingüística, ciência das línguas, permite-nos interpretar nossa relação com o mundo.
b) enumerativo: A vida humana se compõe de muitas coisas: amor, arte, ação.
c) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e sonho, tudo isso forma o carnaval.
d) especificativo: A rua Augusta está muito longe do rio São Francisco.

O vocativo é um termo que serve para chamar, invocar ou interpelar um ouvinte real ou hipotético.
A função de vocativo é substantiva, cabendo a substantivos, pronomes substantivos, numerais e palavras substantivadas
esse papel na linguagem.

XVII. Período Composto

1. Períodos Compostos por Coordenação


Período Composto por Coordenação é aquele cujas orações não dependem sintaticamente umas das outras porque
possuem estruturas gramaticais independentes.
Exemplos: Gritou com o irmão/ e correu para o quarto.
Descansei,/ fui à praia/ e visitei lugares maravilhosos.

As orações coordenadas podem ser Sindéticas ou Assindéticas. Nas sindéticas é utilizada conjunção coordenativa,
enquanto nas assindéticas, não.
Exemplos: Não coma bolo quente;/ ficará com dores de barriga. (Temos duas orações coordenadas assindéticas)
Vou sair/ e já volto! (Temos uma Oração Coordenada Assindética e uma Oração Coordenada Sindética)

A classificação das orações coordenadas sindéticas é feita de acordo com a conjunção coordenativa que inicia o período, a
saber:
Aditivas: Chegamos à praia e nadamos.
Adversativas: Eles queriam sair, porém estava chovendo.
Alternativas: Ora gosta de vestidos, ora gosta de sapatos.
Conclusivas: São adolescentes, logo irão namorar.
Explicativas: Não saia de casa agora, porque o trânsito estava parado.

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2. Períodos Compostos por Subordinação

Período Composto por Subordinação é aquele cujas orações dependem sintaticamente uma da outra para que façam
sentido. É o contrário do que acontece com o período composto por coordenação, em que as orações independem em
termos sintáticos.
Exemplos:
Não saímos porque estava chovendo. (Período Composto por Subordinação Adverbial)
Quero que ele volte! (Período Composto por Subordinação Substantiva)
O aluno que faltou ficou sem grupo. (Período Composto por Subordinação Adjetiva)

O período composto por subordinação é formado pela oração principal (sem conectivo) e pela oração subordinada (com
conectivo). A oração subordinada tem uma função sintática em relação à oração principal e, justamente por esse motivo,
é chamada de subordinada.

Existem 3 tipos de orações subordinadas, as quais são classificadas de acordo com a função que exercem:

Substantivas: função de substantivo.


Adjetivas: função de adjetivo.
Adverbiais: função de advérbio.

2.1 - Orações Subordinadas Adverbiais


As orações subordinadas adverbiais são aquelas que exercem função de advérbio em relação à principal. A classificação
das orações subordinadas adverbiais é feita de acordo com a conjunção coordenativa que inicia o período, a saber:

Causal: Já que está nevando ficaremos em casa.


Comparativa: Maria era mais estudiosa que sua irmã.
Concessiva: Alguns se retiraram da reunião apesar de não terem terminado a exposição.
Condicional: Você fará uma boa prova desde que se esforce.
Conformativa: Realizamos nosso projeto conforme as especificações da biblioteca.
Consecutiva: Gritei tanto, que fiquei sem voz.
Final: Todos trabalham para que possam vencer.
Temporal: Fico feliz sempre que vou visitar minha mãe.
Proporcional: À medida que o tempo passa, a chuva aumenta.

2.2 - Orações Subordinadas Substantivas


As orações subordinadas substantivas são aquelas que exercem função de substantivo. São introduzidas sempre por uma
conjunção subordinativa integrante e classificadas de acordo com a função sintática exercida na oração principal:
Subjetiva (sujeito): É provável que ela venha jantar.
Predicativa (predicativo do sujeito): Meu desejo era que me dessem um presente.
Completiva Nominal (complemento nominal): Temos necessidade de que nos apoiem.
Objetiva Direta (objeto direto): Nós desejamos que sua vida seja boa.
Objetiva Indireta (objeto indireto): Recordo-me de que tu me amavas.
Apositiva (aposto): Desejo-te uma coisa: que tenhas muita sorte.

2.3. Orações Subordinadas Adjetivas

As orações subordinadas adjetivas exercem a função sintática dos pronomes relativos. Exerce a função sintática de
adjunto adnominal de um termo da oração principal, sendo introduzida por pronome relativo (que, qual/s, como,
quanto/a/s, cujo/a/s, onde). Estes pronomes relativos podem ser precedidos de preposição.
As subordinadas adjetivas dividem-se em restritivas e explicativas.

As restritivas restringem o sentido da oração principal, sendo indispensáveis. Apresentam sentido particularizante do
antecedente.
O professor castigava os alunos que se comportavam mal.

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As explicativas tem a função de explicar o sentido da oração principal, sendo dispensável. Apresentam sentido
universalizante do antecedente.
Grande Sertão: Veredas, que foi publicado em 1956, causou muito impacto.

Geralmente, as orações explicativas vêm separadas da oração principal por vírgulas ou travessões.

Os pronomes relativos que introduzem as orações subordinadas adjetivas desempenham funções sintáticas. Para esse
tipo de análise, deve-se substituir o pronome relativo por seu antecedente e proceder a análise como se fosse um período
simples.
O homem, que é um ser racional, aprende com seus erros - sujeito
Os trabalhos que faço me dão prazer - objeto direto
Os filmes a que nos referimos são italianos - objeto indireto
O homem rico que ele era hoje passa por mazelas - predicativo do sujeito
O filme a que fizeram referência foi premiado - complemento nominal

Cujo sempre funciona como adjunto adnominal; onde como adjunto adverbial de lugar; quem sempre se referirá a
seres vivos e como será adjunto adverbial de modo.
O filme cujo artista foi premiado não fez sucesso – adjunto adnominal
O bandido por quem fomos atacados fugiu – agente da passiva
A escola onde estudamos foi demolida – adjunto adverbial
O modo como foi feita a casa denunciava a tragédia – adjunto adverbial de modo

3. Período Composto por Coordenação e Subordinação

Há períodos que são formados por orações coordenadas e por orações subordinadas. Assim, esse período apresenta
oração independente ao mesmo tempo que apresenta oração dependente em termos sintáticos.
Exemplo: Eu estudava e trabalhava enquanto meu pai se divertia.
Eu estudava - oração coordenada assindética
e trabalhava - oração coordenada sindética aditiva
enquanto meu pai se divertia - oração subordinada adverbial

Logo, estamos diante de um período composto por coordenação e subordinação.

4. Conjunções Aparentemente Equivalentes

4.1 Coordenativa Adversativa ou Subordinativa Concessiva?


As conjunções coordenativas adversativas introduzem um resultado inesperado ligado a uma oração assindética; já as
conjunções subordinativas concessivas introduzem uma ação que, embora se oponha, não impede a execução de uma
outra ação expressa na principal.
Vejamos na prática.
- O homem seguiu seu caminho, embora chovesse muito. Temos uma conjunção subordinativa concessiva. Percebemos
que a ação de chover ocorreu antes de o homem seguir o seu caminho e deveria ser um impeditivo a tal ação, mas não
foi.
- Chovia muito, mas o homem seguiu seu caminho. Temos uma conjunção coordenativa adversativa. Percebemos que a
ação de o homem seguir seu caminho ocorreu após a ação de chover, ou seja, o resultado final foi inesperado.
Ambas as conjunções ligam apenas ideias contraditórias entre si. Ou seja, partindo-se de duas ideias que se oponham
(João estudou muito e João tirou nota baixa), temos uma conjunção:
- subordinativa concessiva quando a conjunção recai na ação que deveria impedir a principal, ou seja, na primeira ação:
Embora João estudasse muito, tirou nota baixa.

- coordenativa adversativa quando a conjunção recai na ação que não necessariamente é o resultado da ação anterior, ou
seja, na segunda ação: João estudou muito, mas tirou nota baixa.

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4.2 Coordenativa Explicativa ou Subordinativa Causal?
As conjunções coordenativas explicativas introduzem orações que explicam a anterior, ou seja, não são a causa da ação
anterior; já as conjunções subordinativas causais introduzem uma oração que causa a ação anterior.
Vejamos na prática.
- Volte cedo, porque a rua é perigosa. Após orações sem conectivos feitas com verbos no imperativo, sempre teremos
conjunção coordenativa explicativa, e não subordinativa causal.
- Choveu muito, porque a rua está alagada. Temos uma conjunção coordenativa explicativa. Percebemos que o fato de a
rua estar alagada não causou a ação de chover muito, ou seja, classificamos
- A rua está alagada, porque choveu muito. Temos uma conjunção subordinativa causal. Percebemos que o fato de a rua
estar alagada foi claramente causado pela ação de chover muito.

Outros exemplos:
- Não almoço, porque não tenho fome. (Causal)
- O Manuel tem dinheiro, porque comprou um carro novo. (Explicativa)
- O Vítor domina o vocabulário, visto que lê muito. (Causal)
- Sobe, que te quero mostrar uns livros. (Explicativa)
- Aplaudiram o orador, pois o discurso foi brilhante. (Causal)
- O discurso foi brilhante, pois aplaudiram o orador. (Explicativa)

5. Orações Subordinadas Reduzidas


As subordinadas reduzidas apresentam duas características básicas:
 Não é introduzida por conectivos, mas equivale a uma oração desenvolvida;
 Apresenta verbo numa das três formas nominais.

Não é a falta de conectivo que determina a existência de uma oração reduzida, e sim a forma nominal do verbo.
Classificam-se em reduzida de particípio, gerúndio ou infinitivo, em função da forma verbal que apresentam.

As reduzidas de infinitivo podem vir ou não precedidas de preposição e, geralmente, são substantivas ou adverbiais,
raramente adjetivas. As orações adverbiais, em geral, vêm precedidas de preposição. Entretanto, as proporcionais e as
comparativas são sempre desenvolvidas.
Algumas orações reduzidas de infinitivo merecem atenção: vem depois dos verbos deixar, mandar, fazer, ver, ouvir,
olhar, sentir e outros verbos causativos e sensitivos. Deixei-os fugir (= que eles fugissem) - orações subordinada
substantiva objetiva direta. Este é o único caso em que o pronome oblíquo exerce função sintática de sujeito (caso de
sujeito de infinitivo).

As reduzidas de gerúndio são geralmente adverbial, raramente adjetiva e coordenada aditiva. A maioria das reduzidas
adverbiais são temporais. Não há consecutiva, comparativa e final reduzida de gerúndio.

A reduzida de particípio, geralmente adjetiva ou adverbial, também sendo mais comuns as temporais. Eventualmente,
uma oração coordenada pode vir como reduzida de gerúndio.

XVIII. CONCORDÂNCIA VERBAL


Regra geral: O verbo concorda em número e grau com o seu sujeito, venha ele claro ou subentendido.
Ex: André resolveu o caso.
Nada sou, nada posso, nada sigo.

1) Sujeito Composto leva o verbo para o plural.


Ex: Pablo e Thiago foram à festa.
Eu e ele dividimos o mesmo quarto.
Tu e ele dividireis o mesmo quarto.
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Obs.: Se o verbo vier antes do sujeito, pode haver a concordância atrativa.
Ex: Seguiam pela estrada o homem e seu filho. (concordância gramatical)
Seguia pela estrada o homem e seu filho. (concordância atrativa)

2) Expressões partitivas como: parte de, uma porção de, o grosso de, o resto
de, metade de e equivalentes, o verbo poder+a ir para o singular ou plural.
Ex: A maioria das pessoas correram. (ou correu)
A maioria correu.

3) Expressões perto de, cerca de, mais de e menos de levam o verbo a concordar com o numeral.
Ex: Perto de cem pessoas o aplaudiram.
Mais de um sujeito correu na salvação do pescoço-pelado.

Obs: Mais de um levará o sujeito para o plural apenas quando houver idéia de reciprocidade, ou aparecer repetida.

Ex: Mais de uma mulher desmaiou


Mais de um orador se criticaram
Mais de um aluno, mais de um professor participaram.

4) Pronome QUE leva o verbo a concordar com o antecedente. (p.514)


Ex: Não fui eu que falei.
És tu que vais acompanhá-lo

5) Um dos que leva o sujeito para 3° do plural ou 3° do singular.


Ex: Era uma das que mais faltava.
Era uma das que mais faltavam.
6) Pronome relativo QUEM leva o verbo à 3° pessoa do singular ou a concordar com o seu antecedente.
Ex: Fui eu quem errou
Fui eu quem errei

7) Sujeito formado por pronome interrogativo ou indefinido seguidos de (dentre nós ou vós) o verbo pode ficar na 3° do
plural ou concordar com o pronome pessoal.
Ex: Qual de nós receberá o prêmio?

Obs: Se o pronome estiver no plural, a concordância pode ser também com o pronome pessoal.
Ex: Quais de nós voltaremos?
Quais de vós voltarão?

8) Quando o substantivo é um nome próprio usado com artigo plural, a concordância se faz com o artigo.
Ex: Alegrias de Nossa Senhora tem a sua história.
Os Estados Unidos assinaram o tratado.
9) Concordância do verbo SER
- Se o sujeito é representado pelos pronomes interrogativos quem ou que, o verbo ser concorda com o predicativo.
Ex: Quem eram os pretendentes ao cargo?
Que são as tristezas da vida?

10) Sujeito formado por o, tudo, nada, isto, isso, aquilo: o verbo ser concorda com o sujeito ou com o predicativo.
Ex: Tudo são flores - Tudo é flores

11) Verbo Ser indicando horas ou data, concorda com o numeral.


Ex: São duas horas - É uma hora e vinte.
Obs.: com a palavra dia, fica no singular
Hoje é dia vinte.

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DICA: Se o sujeito for nome de pessoa ou pronome pessoal, o verbo não concordará com o predicativo. Se o predicativo
for parte do corpo, haverá duas possibilidades.
Ex: Ovídio é muitos poetas ao mesmo tempo, e todos excelentes.
Eu era olhos e coração.
Santinha eram dois olhos míopes, quatro incisivos claros à boca.

12) Dar, Bater Tocar e Soar, em relação a horas, concordam com o numeral. (p. 521)
Ex: Já deram três horas
Bateram doze horas no relógio

Obs.: Quando há o sujeito relógio (ou sino, sineta, etc.), o verbo naturalmente concorda com ele:
Ex: O sino da Matriz bateu seis horas
O relógio de uma das igrejas bateu duas horas.

13) O verbo ser é invariável em expressões numéricas que indiquem a totalidade do tipo é o preço, é muito, é pouco, é
suficiente, é a distância.
Ex: Dez contos?! Não será demais?
Cem reais é pouco.
Trinta quilômetros é a distância.

14) Sujeitos sinônimos ou em gradação levam o verbo para o singular


Ex: A conciliação, a harmonia entre uns e outros é possível
Um olhar, uma carícia, um beijo era suficiente
A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provoca ora risadas, ora castigos.

15) Infinitivos sujeito, verbo no singular. (pp. 524 e 525)


Ex.: Olhar e ver era para mim um recurso de defesa.
Fazer e escrever é a mesma coisa.

Mas o verbo pode ir para o plural quando os infinitivos exprimem ideias nitidamente contrárias.
Em sua vida se alternam rir e chorar.

16) Sujeitos representantes da mesma pessoa ou coisa, verbo singular


Ex.: A Ideia, o sumo Bem, o Verbo, a Essência só se revela aos homens e às nações no céu incorruptível da consciência.

17) Sujeito ligados por OU ou por NEM


Para o plural, se o fato expresso pelo verbo pode ser atribuído a todos os sujeitos:
Ex.: O mal ou o bem dali teriam de vir.
Mãe ou pai são os responsáveis pelos filhos.

Para o singular, se o fato expresso pelo verbo só pode ser atribuído a um dos sujeitos, isto é, se há ideia alternativa.
Ex.: Fui devagar, mas o pé ou o espelho traiu-me.
Nem tormenta nem tormento nos poderia parar.

18) Um ou outro e nem um nem outro usados como pronomes substantivos ou pronomes adjetivos pedem o verbo no
singular.
Ex: Só um ou outro menino usava sapatos.
Nem um nem outro havia idealizado previamente este contato.

Obs.: Quando a expressão nem um nem outro se emprega como pronome substantivo não é raro o verbo ir para o plural.
Ex: Nem um nem outro desejavam questionar.

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19) Um e outro verbo no plural ou singular.
Ex: Um e outro esportista vencerá
Um e outro esportista vencerão

20) Sujeitos ligados pela conjunção COM.


Verbo no plural quando os sujeitos estão em pé de igualdade praticando juntos a ação verbal. Temos a conjunção com
valor de “E”
Ex: O mestre com o boleeiro fizeram a emenda.

Verbo concorda com o primeiro, quando se pretende realçá-lo em detrimento do segundo (o segundo é reduzido à
condição de adjunto adverbial de companhia).
Ex: A viúva, com o resto da família, mudara-se para Vila Isabel.

21) Sujeitos ligados por conjunção comparativa.


Singular, se quisermos destacar o primeiro – note a separação por vírgula; ou plural, se considerarmos termos que se
adicionam.
Ex: O dólar, como a girafa, não existe.
É inútil acrescentar que tanto ele como eu esperamos que você nos dê sempre notícias.

XIX. CONCORDÂNCIA NOMINAL


1) Quando o adjetivo se referir a um só nome, o substantivo concorda com ele em gênero e número.
Ex.: Boa árvore não dá maus frutos.

2) Quando o adjetivo se referir a dois ou mais substantivos do mesmo gênero e no singular e vier posposto, toma o gênero
deles e vai facultativamente, para o singular ou plural.
Ex.: Disciplina, ação e coragem digna ou dignas.
Observação: Adjetivo anteposto ao substantivo concorda com o mais próximo.
Ex.: Sinto eterno amor e gratidão.

3) Quando o adjetivo se referir a dois ou mais substantivos de gêneros diferentes e no singular e vier posposto, poderá ir
para o masculino plural ou concordar com o mais próximo.
Ex.: Escolhestes lugar e hora maus.
Escolheste lugar e hora má.

4) Quando o adjetivo se referir a dois ou mais substantivos de gêneros diferentes e no plural e vier posposto, tomará o
plural masculino ou concordará com o mais próximo.
Ex.: Rapazes e moças estudiosos ou estudiosas.
Primos, primas e irmãos educadíssimos.

5) Pode o adjetivo ainda concordar com o mais próximo quando os substantivos são ou podem ser considerados
sinônimos.
Ex.: Gratidão e reconhecimento profundo ou profundos.

6) Quando dois ou mais adjetivos se referem ao mesmo substantivo determinado pelo artigo, ocorrem dois tipos de
concordância.
Ex.: Estudo as línguas inglesa e francesa.
Estudo a língua inglesa e a francesa.

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7) As palavras “mesmo”, “próprio” e “só” (quando equivale a sozinho) concordam em gênero e número com a palavra a
que se referem. A palavra “só”, quando equivale a “somente”, é advérbio e invariável.

Ex.: Ela mesma me avisou. Nós não ficamos sós.


Elas mesmas organizaram a festa. Só eles não concordaram.
Vocês próprios me trouxeram a notícia.

Observação: A expressão “a sós” é invariável.


Ex.: Gostaria de ficar a sós por uns momentos.

8) As palavras “anexo”, “incluso”, “junto”, “bastante” e “nenhum” concordam com os substantivos a que se referem.

Ex.: Segue anexa a cópia do documento. Bastantes pessoas ignoram esse plural.
Vão inclusos os requerimentos. Homens nenhuns, nenhumas causas.
Seguem juntas as notas.

Observação: As palavras “alerta”, “menos” e “em anexo” são sempre invariáveis.

Ex.: Estamos alerta.


Há situações menos complicadas.
Há menos pessoas no local.
Seguem, em anexo, as fotografias.

9) As palavras “meio” e “meia”, como adjetivo, concordam em gênero e número com o substantivo que modificam, mas,
como advérbio, “meio” permanece invariável.

Ex.: Quero meio quilo de café. Ela sentia-se meio cansada.


Só usei meia laranja. Elas pareciam meio tontas.

Observação: Estão nesse caso palavras como pouco, muito, bastante, barato, caro, longe.

10) As palavras “dado” e “visto” e qualquer outro particípio concordam com o substantivo a que se referem.

Ex.: Dados os conhecimentos...


Dadas as condições...
Vistas as dificuldades...

11) As expressões “um e outro” e “nem um nem outro” são seguidas de um substantivo singular.
Ex.: Aprovei um e outro ato.
Uma e outra coisa duraram.

Observação: Quando “um e outro” for seguido de adjetivo, o substantivo fica no singular e o adjetivo vai para o plural.
Ex.: Uma e outra parede sujas.
Um e outro lado escuros.

12) A palavra “possível” em “o mais ... possível”, “o pior ... possível”, “o melhor ... possível”, mantém-se invariável; porém
com o plural “os mais”, “os menos”, “os piores”, “os melhores”, a palavra “possível” vai para o plural.

Ex.: Praias o mais tentadoras possível.


Praias as mais tentadoras possíveis.

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13) A palavra “obrigado” concorda com o nome a que se refere.

Ex.: A moça disse muito obrigada e sorriu.


O rapaz disse muito obrigado, mas saiu andando.

14) Verbo SER mais adjetivo


Nos predicados nominais em que ocorre o verbo ser mais um adjetivo, formando expressões do tipo é bom, é claro, é
evidente etc., há duas construções:

a) Se o sujeito não vem precedido de nenhum modificador, o adjetivo fica invariável.


Ex.: Cerveja é bom.
É proibido entrada.

b) Se o sujeito vem precedido de modificador, flexiona-se o adjetivo.


Ex.: A cerveja é boa.
É proibida a entrada.

15) Concordância do Adjetivo com o Predicativo


a) O predicativo do sujeito concorda com o sujeito em número e gênero.
Ex.: As crianças estavam tristonhas.

b) O predicativo do objeto, se o objeto direto for simples, o adjetivo predicativo concorda em gênero e número com o
objeto; se o objeto for composto, o adjetivo predicativo deverá flexionar-se no plural e no gênero do objeto.
Ex.: Trouxeram-na desmaiada.
A justiça declarou criminosas a atriz e suas amigas.

16) Dois ou mais numerais ordinais precedidos de artigo determinando o substantivo, este ficará no singular ou no plural;
mas se apenas o primeiro vier com artigo, o substantivo irá para o plural.
Ex.: Já estudei a primeira e a segunda série ou séries do 1º. grau.
Já estudei a primeira e segunda séries do 1º. grau.

XX. REGÊNCIA NOMINAL


Regência Nominal é o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos
por esse nome. Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar
em conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
um verbo significa, nesses casos, conhecer o dos nomes cognatos. Por exemplo, podemos observar o verbo obedecer e os
nomes correspondentes: todos regem complementos com a preposição "a". Veja: Obedecer a algo/ a alguém. Obediente
a algo/ a alguém.

Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados da preposição ou preposições que os regem.

Substantivos:
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

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Adjetivos:
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios:
Longe de Perto de

Obs.: Os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a;
paralelamente a; relativa a; relativamente a.

XXI. REGÊNCIA VERBAL


Regência Verbal é a relação entre o verbo (termo regente) e o seu complemento (termo regido), orientada pela
transitividade dos verbos, os quais podem ser diretos ou indiretos. Exigindo, portanto, um complemento na forma de
objeto direto ou indireto.

1. ASPIRAR
a) VTD = sorver, respirar  Gosto de aspirar o ar puro do campo.
b) VTI (prep. A) = desejar, almejar  O escriturário aspira ao cargo de gerente.

2. ASSISTIR
a) VTI (A) = ver, presenciar  Vou assistir ao jogo.
b) VTD = socorrer, ajudar  O médico assistiu o enfermo.
c) VTI (A) = caber, ter direito  Não assiste ao professor reclamar tanto.
d) VI (EM) = morar, residir  Ele assiste no Rio de Janeiro.

3. CHAMAR
a) VTD = convocar, solicitar a presença  Chamei o jovem à minha presença.
b) VTI (POR) = invocar, pedir ajuda  Chamei por Deus.
c) VTD ou VTI = qualificar, nomear, apelidar  Chamei-o patriota (de patriota) // Chamei-lhe patriota (de patriota).
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4. CUSTAR
a) VTI (sempre na 3ª pessoa) = ser difícil, ser penoso  Custou-me (a) entender este assunto.
b) VTDI = acarretar  A imprudência custou-lhe lágrimas amargas.
c) VI = estabelecer preço  Este rádio custou vinte reais.

5. ESQUECER/LEMBRAR
a) VTD  Esqueceu o livro.
b) VTI (DE) = verbo pronominal  Esqueceu-se do livro.
c) VTI = a coisa esquecida torna-se sujeito, e a pessoa torna-se objeto indireto  Esqueceu-me o livro.

6. IMPLICAR
a) VTD = acarretar, trazer consequência  Teu nervosismo implicou a tua reprovação.
b) VTI (COM) = antipatizar  Ela implica muito com o seu irmão.
c) VTD e VI com a preposição EM, quando significar envolver alguém  Implicou o advogado em negócios ilícitos.

7. INFORMAR/AVISAR/CIENTIFICAR/NOTIFICAR
a) VTDI  Informei a prova ao aluno. // Informei o aluno da prova.

8. IR/CHEGAR (verbos dinâmicos, de movimento)


a) VI (não admitem prep. EM com ADV. LUGAR)  Vou à praia. // Cheguei ao Brasil. (certo)
Vou na praia. // Cheguei no Brasil. (errado)
b) VTI (admitem prep. A como OI)  Vou ao ponto principal da questão. // Cheguei a uma conclusão. (certo)

9. PAGAR/PERDOAR/AGRADECER/OFERECER/DAR/ DOAR/ENTREGAR
VTD = coisa // VTI (A) = pessoa  Paguei a dívida ao credor. // Perdoou a dívida ao devedor

10. PREFERIR
a) VTDI (A)  Prefiro cinema a televisão. (certo) // Prefiro o cinema à televisão. (certo) // Prefiro mais cinema do que
televisão. (errado)

11. PROCEDER
a) VTI (A) = dar início, realizar  O chefe procedeu à reunião.
b) VI (DE) = originar-se, provir  O trem procedia de São Lourenço.
c) VI (sem prep.) = comportar-se  Zezinho não procedeu como devia.
d) VI (sem prep.) = ter fundamento  Tal atitude não procede neste recinto.

12. QUERER
a) VTD = querer, desejar  O bebê queria a chupeta.
b) VTI (A) = estimar, gostar  Quero muito a meu irmão.

13. RESPONDER
a) VTDI (A) = coisa e pessoa  Respondi o telegrama ao amigo.
b) VTI (A) = pessoa  Respondi ao meu pai.
c) VTI (A) = com relação à pergunta  Ele respondeu às próprias perguntas.
d) VTD = com relação ao que foi respondido  Ele respondeu que não iria à praia.

14. VISAR
a) VTD = mirar, ver  O caçador visou o tigre.
b) VTD = rubricar, dar visto  O gerente visou o cheque.
c) VTI = almejar, ter como objetivo  Visamos ao bom ensino da linguagem.

15. MORAR/RESIDIR/SITUAR
a) VI (EM)  Ela reside na rua Dr. Nilo Peçanha. (certo).
Ela reside à rua Dr. Nilo Peçanha. (errado)

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16. NAMORAR
a) VTD  Namorei a gerente. (certo) // Namorei com a gerente (errado)

17. CRER/ACREDITAR/PENSAR
a) VTI (EM)  Creio em você. // Acredito em você. // Penso em você.
b) VTD = objeto direto oracional  Creio que seremos aprovados. // Acredito que seremos aprovados. // Penso que
seremos aprovados.

18. PISAR
a) VTD  Pisei a grama. (certo) // Pisei na grama. (errado).

19. OBEDECER/DESOBEDECER
a) VTI (A)  Obedeço a meu pai. // Desobedeço a meu pai.

20. VERBOS COM REGÊNCIAS DIFERENTES (PARALELISMO)


a) Li e gostei do livro. (errado) // Li o livro e gostei dele. (certo)
Sentei e caí da cadeira. (errado) // Sentei na cadeira e dela caí. (certo)

* São estes os principais verbos que, quando TI, não aceitam LHE/LHES como complemento, estando em seu lugar
preposição e pronome ele (a/s) - aspirar, visar, assistir (ver), aludir, referir-se, anuir , gostar, confiar (creditar) e preferir.

* Avisar, advertir, certificar, cientificar, comunicar, informar, lembrar, noticiar, notificar, prevenir são TD e I, admitindo
duas construções: Quem informa, informa algo a alguém ou Quem informa, informa alguém de algo.

* Segundo Pasquale Cipro-Neto e Ulysses Infante, seguem verbos que podem ser usados como TD ou TI, sem alteração de
sentido: abdicar (de), acreditar (em), almejar (por), ansiar (por), anteceder (a), atender (a), atentar (em, para), cogitar (de,
em), consentir (em), deparar (com), desdenhar (de), gozar (de), necessitar (de), preceder (a), precisar (de), presidir (a),
renunciar (a), satisfazer (a), versar (sobre).

XXII. CRASE
1. Conceito
Antes de qualquer coisa, é importante frisar que a crase não é acento, e sim a representação gráfica da superposição
de duas vogais – no caso da língua portuguesa, possível somente na junção de dois "as" - o primeiro é uma preposição; o
segundo, pode ser um artigo definido, um pronome demonstrativo a(as) ou aquele(a/s),e aquilo. O acento gráfico que
marca este fenômeno é o grave (`).
O domínio da crase depende de o aluno conhecer a regência de alguns verbos e nomes.

2. Condições para Ocorrência da Crase


Para que a crase aconteça, o termo regente deve exigir a preposição e o termo regido tem de ser uma palavra feminina
que admita artigo – tendo, assim, dois “a” que a justifiquem.
Uma dica que quase sempre funciona é trocar a palavra feminina por uma masculina equivalente, se aparecer ao (s)
usa-se crase, caso apareça a ou o (s) não haverá crase.
a) Todos iriam (a+a) à reunião.
b) Todos iriam (a+o) ao encontro.

Isso quer dizer que, para que a crase ocorra, ela obrigatoriamente deverá vir antes de palavra no feminino.

Nota do professor: Sabe aqueles exemplos que você aprendia como crase por estar subentendida a expressão “à moda
de”?
Comi um bife à (moda de) Oswaldo Aranha.
Ela usava um salto à (moda de) Luís XV.
Marta fez um gol à (moda de) Pelé.
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Tome cuidado com os casos em que a expressão “moda” não está subentendida e, consequentemente, não haverá
crase.
Comi um frango a (moda de) passarinho. Marta dedicou seu gol a (moda de) Pelé.

Repare que são sempre os mesmos exemplos e raramente vêm em provas de concurso militar.
Assim, pense na crase majoritariamente vindo sempre antes de uma palavra no feminino ou com sentido feminino
(marcas famosas de produtos femininos, por exemplo), nunca antes de uma palavra masculina.

3. Quando Há Crase?
Em locuções prepositivas, adverbiais ou conjuntivas femininas.
à queima-roupa, às cegas, às vezes, à beça, à medida que, à proporção que, à procura de, à vontade.

Atenção 1: Em palavras que designam adjunto adverbial de instrumento, a crase é opcional.


Escrevi esse documento a máquina (à máquina).

Atenção 2: Em alguns casos, a crase evita ambigüidades entre adjunto adverbial de instrumento e objeto direto.
Sou péssimo para desenhar à mão. (a lápis)

Quando as palavras "rua", "loja", "rádio" ou “emissora” estiverem subentendidas e, no uso comum, sejam utilizados
os devidos artigos.
Maria dirigiu-se à Globo (Eu vejo a Globo [TV]).
Na expressão devido à (s) + palavra feminina ocorre a crase.
Devido às circunstâncias, desisti das aulas. (aos casos)

4. Quando Não Há Crase


Antes de palavra masculina e verbos.
a) Vende-se a prazo.
b) O texto foi redigido a lápis.
c) Ele começou a fazer dietas.
Antes de pronomes demonstrativos esta(s) e essa(s).
a) Refiro-me a estas flores.
b) Não deram valor a esta idéia.
Antes de pronomes indefinidos, com exceção de outra (por ser o único pronome indefinido que aceite artigo).
a) Direi a todas as pessoas.
b) Fiz alusão a esta moça e à outra. (ao outro)

Antes da preposição a tiver outra preposição.


Compareceu perante a juíza no dia da audiência.
Atenção: Com a preposição até o uso é facultativo.
Foi até ao (o) salão de beleza.
Ele viajou até à (a) pousada que estava em promoção.

No meio de expressões com palavras repetitivas.


Ficamos cara a cara.

Após o a singular seguido de palavra no plural.


Pediu apoio a pessoas estranhas.
Atenção: nesses casos, só teremos a preposição. Se vier o artigo, o as vai para o plural e teremos a crase.
Pediu apoio às pessoas estranhas.

Antes de artigo indefinido e numeral cardinal (exceto em horas).


a) Refiro-me a uma blusa mais fina.
b) O vilarejo fica a duas léguas daqui.
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Atenção 1: quando vier acompanhado ou subentendido da palavra “horas”, sempre haverá crase.
a) Buscarei vocês à uma hora.
b) Às duas, virei aqui te ver.

Atenção 2: quando a expressão “uma hora” se referir a “qualquer hora”, não haverá crase.
a) Esse edifício cairia a uma hora qualquer.

6. Casos em que o Uso da Crase é Variante

Antes de topônimos que exijam artigo definido ou, caso não exijam artigo, estejam determinados.
a) Iremos à França.
b) Iremos à Bahia.
c) Iremos a Curitiba.
d) Iremos à bela Curitiba.

Atenção: Quando o topônimo não estiver determinado, usa-se o teste da troca do verbo para chegar. Se nesta troca
aparecer chego da, há crase; se for chego de, não há crase.
a) Iremos a Curitiba. Chegamos de Curitiba.
b) Iremos a Salvador. Chegamos de Salvador.
c) Iremos à Bahia. Chegamos da Bahia

- Com os demonstrativos aquele (s), aquela (s) e aquilo, basta verificar se, por regência, alguma palavra pede a
preposição que irá se fundir com o "a" inicial do próprio pronome. Uma dica é trocar aquele (a/s) por este (a/s) e aquilo
por isto, se antes aparecer a, há crase.
a) Enviei presentes àquela menina. (a esta)
b) A matéria não relaciona aqueles problemas.(este)
c) Não se de ênfase àquilo. (a isto)

- O pronome demonstrativo a(s) aparece antes de que ou de e pode ser trocado por aquela(s). Deve-se fazer o teste
da troca por um masculino similar e verificar se aparece ao(s).
a) Esta estrada é paralela à que corta a cidade (o caminho é paralelo ao que corta a cidade).
b) Conheço a moça de azul, não a de branco.

Antes dos pronomes relativos "que" e "quem" não ocorre crase. Já o pronome qual(is) admite crase. Uma dica é
trocar o substantivo feminino anterior ao pronome por um masculino, se aparecer ao(s) há crase.
a) A menina a que me refiro não estudou.
b) A professora a quem me refiro é bonita.
b) A fama à qual almejo não é difícil.

Antes da palavra casa.


Quando a palavra casa significa lar, domicílio e não vem acompanhada de adjetivo, ou locução adjetiva, não se usa a
crase. Ex.: Iremos a casa assim que chegarmos (iremos ao lar assim que chegarmos).

Quando a palavra casa estiver modificada por adjetivo ou locução adjetiva.


Iremos à casa de minha mãe.

Antes da palavra terra.


Oposto de mar, ar e bordo - não há crase: Ex.; O Marinheiro forma a terra.
Quando significa solo, planeta ou lugar - pode haver crase:
a) Voltei à terra natal. b) A espaçonave voltará à Terra em um mês.

Antes da palavra distância. Não se usa crase, salvo se vier determinada.


a) Via-se o barco à distância de quinhentos metros (determinado).
b) Olhava-nos a distância.

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7. Quadro Bizurado Sobre a Crase

Caso Uso obrigatório Uso proibido Uso facultativo

Antes de Quando estiver implícito “à moda Viajar a convite, traje a rigor,


palavras masculinas de”: móveis à Luís 15; Quando passeio a pé, sal a gosto, TV a
(o uso obrigatório não subentendido termo feminino: Vou cabo, barco a remo, carro a álcool
costuma cair em concursos) à [praça]João Mendes etc.

Estou disposto a colaborar.


Antes de verbos
Ele a convidou para sair.

Antes de pronomes Pronomes adjetivos


Pronomes substantivos possessivos: Antes da maior parte deles:
possessivos:
Referiu-se a (à) sua família e à Disse a ela que não virá; nunca se
Referiu-se a (à) sua família.
minha. Vou a (à) sua casa e à nossa. refere a você.
Vou a (à) minha casa.
Quando "a" vem antes de A pesquisa não se refere a
plural mulheres casadas.
Quando não se trata de uma
Expressões formadas Cara a cara; ponta a ponta frente
expressão fechada: “declare guerra
por palavras repetidas a frente; gota a gota.
à guerra de egos”.
Depois de "para", "até",
O jogo está marcado para as 16h; Preposição até:
"perante", "com",contra"
lutou contra as americanas. Foi até a (à) esquina.
outras preposições

Antes de cidades, Foi à Itália (voltou da Itália). Foi a Roma (voltou de Roma).
estados, países Chegou à Paris dos poetas (voltou da Foi a Paris (voltou de Paris).
Paris dos poetas).
Todas elas podem vir com crase: Meio ou Instrumento:
Às vezes, às pressas, à primeira vista, À vela/a vela; à bala/a bala; à
Locuções adverbiais,
à medida que, à noite, à custa de, à vista/a vista; à mão/a mão.
conjuntivas ou prepositivas de
procura de, à beira de, à tarde, à (Prefira crase quando for
base feminina
vontade, às cegas, às escuras, às preciso evitar ambiguidade:
claras. Receber à bala).
Referiu-se àquilo;
Aquele, aqueles, aquilo,
Foi àquele restaurante;
aquela, aquelas
Dedicou-se àquela tarefa.

A capitania de Minas Gerais estava


Com demonstrativo
ligada à de São Paulo;
“a”
Falarei às que quiserem me ouvir.

Especificado: Sem especificação:


Com as palavras casa, terra, Voltei à casa dos meus pais. Voltei a casa.
distância O navio chegou à terra nova. O navio chegou a terra.
Estou à distância de 300 metros. Eu estudo a distância
Qualquer outro uso:
Hora exata:
Antes de “uma” Ele virá a uma hora qualquer.
Ele chegou à uma hora.
Refiro-me a uma aluna.
Especificados: Pessoas públicas: Sem especificação:
Antes de nomes próprios
Refiro-me à Maria do açougue. Refiro-me a Dilma Rousseff Refiro-me a (à) Maria
Quando vem artigo: Quando não vem artigo:
de... a... Seus sentimentos variam Seus sentimentos variam
da raiva à saudade. de raiva a saudade.
Bateram à porta, vou atender. Bateram a porta com raiva.
Bater, sentar
Sentou-se à mesa, na cadeira. Sentou na mesa.

75
XXIII. PONTUAÇÃO
1. O uso da pontuação

Há certos recursos da linguagem - pausa, melodia, entonação e até mesmo, silêncio - que só estão presentes na
oralidade. Na linguagem escrita, para substituir tais recursos, usamos os sinais de pontuação.
Estes são também usados para destacar palavras, expressões ou orações e esclarecer o sentido de frases, a fim de
dissipar qualquer tipo de ambiguidade.

2. Quando usar a Vírgula

Nas frases fora da ordem direta. Uso mais comum.


Ontem, eu estive aqui.
A floresta, o homem a tudo destrói.
Com uma caneta, desenhei todo o mapa brasileiro.

Para separar os elementos mencionados numa relação:


A nossa empresa está contratando engenheiros, economistas, analistas de sistemas e secretárias.
O apartamento tem três quartos, sala de visitas, sala de jantar, área de serviço e dois banheiros.

Mesmo que o e venha repetido antes de cada um dos elementos da enumeração, a vírgula deve ser empregada:
Rodrigo estava nervoso. Andava pelos cantos, e gesticulava, e falava em voz alta, e ria, e roía as unhas.

Para isolar o aposto e o vocativo:


Cristina, desligue já esse telefone!
Por favor, Ricardo, venha até o meu gabinete.
Rafael, o gênio da pintura italiana, nasceu em Urbino.

Atenção 1: as vírgulas não podem isolar o aposto especificativo.


O pintor italiano Rafael nasceu em Urbino.

Atenção 2: as vírgulas não podem isolar o sujeito do verbo. Veja os dois exemplos abaixo.
O pintor Rafael, italiano, nasceu em Urbino.
O pintor Rafael italiano, nasceu em Urbino. (errado)
O pintor Rafael, italiano nasceu em Urbino. (errado)

Para isolar palavras e expressões explicativas (a saber, por exemplo, isto é, ou melhor, aliás, além disso etc.):
Gastamos R$ 5.000,00 na reforma do apartamento, isto é, tudo o que tínhamos economizado durante anos.
Eles viajaram para a América do Norte, aliás, para o Canadá.

Para isolar o adjunto adverbial antecipado:


Lá no sertão, as noites são escuras e perigosas.
Ontem à noite, fomos todos jantar fora.

Para isolar elementos repetidos:


O palácio, o palácio está destruído.
Estão todos cansados, cansados de dar dó!

Para isolar, nas datas, o nome do lugar:


São Paulo, 22 de maio de 1995.
Roma, 13 de dezembro de 1995.

76
Para isolar os adjuntos adverbiais:
A multidão foi, aos poucos, avançando para o palácio.
Os candidatos serão atendidos, das sete às onze, pelo próprio gerente.

Para isolar as orações coordenadas, exceto as introduzidas pela conjunção e:


Ele já enganou várias pessoas, logo não é digno de confiança.
Você pode usar o meu carro, mas tome muito cuidado ao dirigir.
Não compareci ao trabalho ontem, pois estava doente.

Para indicar a elipse de um elemento da oração (vírgula vicária):


Foi um grande escândalo. Às vezes gritava; outras, estrebuchava como um animal.
Não se sabe ao certo. Paulo diz que ela se suicidou, a irmã, que foi um acidente.

Para separar o paralelismo de provérbios:


Ladrão de tostão, ladrão de milhão.
Ouvir cantar o galo, sem saber onde.

Após a saudação em correspondência social e comercial:


Com muito amor,
Respeitosamente,

Para isolar as orações adjetivas explicativas:


Marina, que é uma criatura maldosa, "puxou o tapete" de Juliana lá no trabalho.
Vidas Secas, que é um romance contemporâneo, foi escrito por Graciliano Ramos.

Para isolar orações intercaladas:


Não lhe posso garantir nada, respondi secamente.
O filme, disse ele, é fantástico.

3. Quando usar o Ponto

Emprega-se o ponto, basicamente, para indicar o término de um frase declarativa de um período simples ou composto.
Desejo-lhe uma feliz viagem.
A casa, quase sempre fechada, parecia abandonada, no entanto tudo no seu interior era conservado com primor.
O ponto é também usado em quase todas as abreviaturas: fev. = fevereiro, hab. = habitante, rod. = rodovia. Não são
usados após siglas: UERJ, IBAMA, FMI, CRVG.
Os pontos feitos ao longo de um texto são chamados simplesmente de “ponto” ou, também, “ponto continuativo”. Os
pontos que encerram uma das ideias de um texto e finalizam um parágrafo são chamados “ponto parágrafo”. O ponto que
é empregado para encerrar um texto escrito recebe o nome de ponto final.

4. Quando usar o Ponto-E-Vírgula?

Separar orações coordenadas que tenham um certo sentido ou aquelas que já apresentam separação por vírgula:
Criança, foi uma garota sapeca; moça, era inteligente e alegre; agora, mulher madura, tornou-se uma doidivanas.
É muito utilizado em orações coordenadas assindéticas com sentido de acréscimo de ideias.
Eu fui à festa; ele, à igreja; ela, à escola.

Separar vários itens de uma enumeração:


Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino em estabelecimentos oficiais.
77
Em perguntas de múltipla escolha, quando a pergunta termina com dois pontos.
1) A alternativa que responde melhor ao enunciado é:
a)duas; b)três; c)quatro; d)cinco; e)seis.
Quando a questão termina com interrogação, utiliza-se o ponto-e-vírgula ou o ponto.
1) Que alternativa responde melhor ao enunciado?
a)Duas;(.) b)Três;(.) c)Quatro;(.) d)Cinco;(.) e)Seis.

5. Quando usar Dois-Pontos?

Em um esclarecimento:
Joana conseguira enfim realizar seu desejo maior: seduzir Pedro. Não porque o amasse, mas para magoar Lucila.
Observe que os dois-pontos são também usados na introdução de exemplos, notas, apostos ou observações.

Em perguntas de múltipla escolha que não sejam perguntas:


1) A alternativa que responde melhor ao enunciado é:
a)duas; b)três; c)quatro; d)cinco; e)seis.

Uma citação de discurso direto:


Visto que ela nada declarasse, o marido indagou:
- Afinal, o que houve?

NOTA: A invocação em correspondências, sejam elas sociais ou comerciais é seguida de dois-pontos ou de vírgula,
tanto faz.
Querida amiga:
Prezados senhores,

6. Quando usar o Ponto De Interrogação?

O ponto de interrogação é empregado para indicar uma pergunta direta, ainda que esta não exija resposta:
O criado pediu licença para entrar:
- O senhor não precisa de mim?
- Não obrigado. A que horas janta-se?
- Às cinco, se o senhor não der outra ordem.
- O senhor sai a passeio depois do jantar?
- Não. (José de Alencar)

7. Quando usar o Ponto De Exclamação?

O ponto de exclamação é empregado para marcar o fim de qualquer enunciado com entonação exclamativa, que
normalmente exprime admiração, surpresa, assombro, indignação etc.
- Viva o meu príncipe! Sim, senhor... Eis aqui um comedouro muito compreensível e muito repousante, Jacinto!
- Então janta, homem!
(Eça de Queiroz)
O ponto de exclamação é também usado com interjeições e locuções interjetivas:
Oh! Valha-me Deus!

8. Quando usar as Reticências?

Indicar que a frase foi interrompida com a finalidade de provocar dúvida, hesitação, surpresa ou um entrave à
escrita ou fala do autor.
Quanto à Joana, ela... você sabe...
Inconstuit... Inconstitiu... Como se fala, mesmo?
“Sou de Angra, mas...” Mal terminei essa frase, interromperam meu discurso com um enorme grito.
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Indicar uma enumeração de fatos, ações ou artigos, normalmente utilizado no lugar da expressão “etc”.
Peguei as roupas, os objetos, as camisas...
Ande, fale, pense, viva, deseje...

9. Quando usar os Parênteses?

Intercalam, num texto, qualquer indicação acessória (explicação, circunstância, nota, ironia...) e, ao final dele, indica
autoria, ano ou outra informação sobre o texto.
Deus (ou talvez o Diabo?) me deu esse amor maduro. (Drummond).
Maria (a vilã da novela) era assustadora. (também podendo utilizar vírgulas ou travessões)
Ganhara muito dinheiro na loteria (grande coisa!).
Não digo nada, espero o vendaval passar. (1989).

10. Quando usar os Travessões


Indicam uma fala num discurso direto.
- Bom dia, nhá Benta!
- Bom dia, meu filho.

Isola palavras ou frases (travessão duplo) ou isola a parte final de um enunciado, dando-lhe ênfase.
Ninguém – ninguém mesmo! – via aquelas formas.
Todos juntos tem grande força – a força de uma vida.

Também serve para enumerar itens quando estes são colocados em forma de listagem.
Precisaremos também de:

- cozinheiros; - açougueiros;
- paneleiros; - padeiros.

11. Quando usar as Aspas?

Isolar do contexto frases ou palavras de outros autores/personagens ou, então, evidenciar determinados
termos, tais como gírias, neologismos, arcaísmos, estrangeirismo, dentre outros.
Deus disse: “faça-se a luz”. E a luz se fez.
Utilize a função “deletar” do seu celular.
Vou “internetear” bastante nesse final de semana.
Estou “out” para vocês.

XXIV. COLOCAÇÃO PRONOMINAL


(Ou Emprego e Uso dos Pronomes Oblíquos Átonos)
É o estudo da colocação dos pronomes oblíquos átonos (me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes) em relação ao verbo.
Os pronomes átonos podem ocupar 3 posições: antes do verbo (próclise), no meio do verbo (mesóclise) e depois do verbo
(ênclise).
Esses pronomes se unem aos verbos porque são “fracos” na pronúncia.

1. Próclise
Usamos a próclise nos seguintes casos:

(1) Com palavras ou expressões negativas: não, nunca, jamais, nada, ninguém, nem, de modo algum.

- Nada me perturba. - De modo algum me afastarei daqui.


- Ninguém se mexeu. - Ela nem se importou com meus problemas.

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(2) Advérbios
- Aqui se tem paz.
- Sempre me dediquei aos estudos.
- Talvez o veja na escola.

(3) Com conjunções subordinativas: quando, se, porque, que, conforme, embora, logo, que.
- Quando se trata de comida, ele é um “expert”.
- É necessário que a deixe na escola.
- Fazia a lista de convidados, conforme me lembrava dos amigos.

(4) Com conjunções alternativas: ou...ou, ora...ora, quer...quer


- Ou ele se corrige ou lhe voltarão as costas.
- O rio, ora se estreita, ora se alarga caprichosamente.
- Quer nos atacasse, quer se escondesse, a onça era sempre um perigo.

(5) Pronomes relativos


- A pessoa que me ligou era minha amiga.
- Não conheço a cidade onde me registraram.
- Este é o rapaz por quem se apaixonaste.

(6) Pronomes indefinidos.


- Alguém me ligou? (indefinido)
- Nada lhe agradava ali.

(7) Em frases com palavras ou expressões interrogativas.


- Quanto me cobrará pela tradução?
- Eu preciso saber quanto me cobrará pela tradução.

(8) Em frases exclamativas ou optativas (que exprimem desejo) em que o sujeito aparece antes do verbo.
- Deus o abençoe! - Deus te abençoe, meu filho!
- Macacos me mordam! - Como ela se ilude!

(9) Com verbo no gerúndio antecedido de preposição EM.


- Em se plantando tudo dá.
- Em se tratando de beleza, ele é campeão.

(10) Com formas verbais proparoxítonas


- Nós o censurávamos.

1.1 Quando não usar a Próclise


(1) Início de frase ou após pontuação (mais precisamente vírgula).
- Me entregaram as camisas.
- Nos faça esse favor urgentemente.
- Aqui, se trabalha.
- Quando chegamos, se percebeu um estranhamento no ar.

(2) Com verbos no futuro do presente ou no futuro do pretérito sem nenhuma atrativa.
- Eu te darei o céu, meu bem.
- Joana me entregaria os livros essa semana.
(3) Com o verbo iniciando oração reduzida de gerúndio.
- Saiu nos deixando por instantes.

Atenção: quando se tratar de locução verbal com verbo no gerúndio, verificar as regras específicas para esse caso.

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2. Mesóclise
Usada quando o verbo estiver no futuro do presente (vai acontecer – amarei, amarás, …) ou no futuro do pretérito (ia
acontecer mas não aconteceu – amaria, amarias, …)

- Convidar-me-ão para a festa.


- Convidar-me-iam para a festa.

2.1 Quando não usar a Mesóclise


Se houver uma palavra atrativa, a próclise será obrigatória.
- Não (palavra atrativa) me convidarão para a festa.

3. Ênclise
Usamos a ênclise nos seguintes casos:

(1) Com o verbo no início da frase


- Entregaram-me as camisas.
- Faça-nos esse favor urgentemente.

(2) Após vírgula, mesmo depois do advérbio.


- Aqui, trabalha-se.
- Nos dias atuais, percebe-se um forte avanço da tecnologia.
- Quando chegamos, entreguei-lhe logo a documentação.

(3) Com o verbo no imperativo afirmativo


- Alunos, comportem-se.
- Procure suas colegas e convide-as.

(4) Com o verbo iniciando oração reduzida de gerúndio.


- Saiu deixando-nos por instantes.

(5) Junto ao infinitivo não flexionado, precedido da preposição a, em se tratando dos pronomes o, a, os, as:

- Todos corriam a ouvi-lo.


- Começou a maltratá-la.
- Sabe ele se tornará a vê-los algum dia?

1 Quando não usar a Ênclise


(1) Ênclise de verbo no futuro ou no particípio estará sempre errada.
- Tornarei-me……. (errada)
- Tinha entregado-nos……….(errada)

(2) Assim como frases em que haja uma palavra denominada atrativa.
- Ninguém mexeu-se....... (errada)

4. Próclise ou Ênclise, indiferentemente


(1) Em casos em que não haja impedimento de um ou de outro.
- Ela mostrou-se feliz com o resultado. / - Ela se mostrou feliz com o resultado.
- Isso me deixa muito feliz. / Isso deixa-me muito feliz.
- Mariana deu-me motivos para ir. / Mariana me deu motivos para ir.
- Soldados brasileiros se preparam para a guerra. / Soldados brasileiros se preparam para a guerra.

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(2) Com verbo conjugado no infinitivo, independente de palavra atrativa.
- Corri para defendê-lo / Corri para o defender.
- Calei-me para não contrariá-lo. / Calei-me para não o contrariar

5. Colocação Pronominal Nas Locuções Verbais

Locuções verbais são formadas por um verbo auxiliar + infinitivo, gerúndio ou particípio.

5.1 Auxiliar + Particípio (Tempos Compostos)


O pronome deve ficar antes (caso não seja início de frase) ou depois do verbo auxiliar, ligado a ele por hífen. Se houver
palavra atrativa, o pronome deverá ficar antes do verbo auxiliar.
- João havia-lhe contado a verdade. - Havia-lhe contado a verdade.
- João lhe havia contado a verdade. - Não (palavra atrativa) lhe havia contado a verdade.

Quaisquer outras formas de colocação serão consideradas inadequadas.

5.2 Auxiliar + Gerúndio ou Infinitivo


Infinitivo no início de frase
- Quero-lhe dizer o que aconteceu. - Quero dizer-lhe o que aconteceu.
- Quero lhe dizer o que aconteceu. - Lhe quero dizer o que aconteceu. (errada)

Infinitivo no meio de frase


- Eu lhe quero dizer o que aconteceu. - Eu quero lhe dizer o que aconteceu.
- Eu quero-lhe dizer o que aconteceu. - Eu quero dizer-lhe o que aconteceu.

Infinitivo com palavra atrativa


- Não lhe quero dizer o que aconteceu. - Não quero dizer-lhe o que aconteceu.
- Não quero lhe dizer o que aconteceu. - Não quero-lhe dizer o que aconteceu. (errada)

Infinitivo preposicionado em início de frase


Há de acostumar-se
Há de se acostumar.
Se há de acostumar. (errada)

Infinitivo preposicionado em meio de frase


João o deixou de visitar.
João deixou de visitá-lo
João deixou de o visitar.

Infinitivo preposicionado em início de frase com atrativa


Não o deixou de visitar.
Não deixou de visitá-lo.
Não deixou de o visitar.
Gerúndio no início de frase
- Lhe ia dizendo o que aconteceu. (errada) - Ia-lhe dizendo o que aconteceu.
- Ia lhe dizendo o que aconteceu. - Ia dizendo-lhe o que aconteceu.

Gerúndio no meio de frase


- As sombras foram-se dissipando. - As sombras foram se dissipando.
- As sombras se foram dissipando. - As sombras foram dissipando-se.

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PARTE III - COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
TEXTO
 São as construções que envolvem as frases, orações, períodos, parágrafos...
 Pode vir em forma tradicional ou charges, cartuns, sinais
 É uma unidade básica de organização e transmissão de ideias, conceitos e informações de modo geral.
 Um (a) escultura, quadro, símbolo, sinal de trânsito, foto, filme ou uma novela são formas textuais.

TEXTO – É um conjunto de ideias organizadas e relacionadas entre si, formando um todo significativo capaz de produzir
interação comunicativa (capacidade de codificar e decodificar). O texto designa uma manifestação linguística expressa por
meio das ideias ou argumentos de um autor. Essas ideias serão interpretadas pelo leitor de acordo com seus
conhecimentos linguísticos, culturais, sociais, históricos.

CONTEXTO – Um texto é constituído por diversas frases. Em cada uma delas, há uma certa informação que a faz ligar-se
com a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa
interligação dá-se o nome de CONTEXTO. Nota-se que o relacionamento entre as frases é tão grande, que, se uma frase
for retirada de seu contexto original e analisada separadamente, poderá ter um significado diferente daquele inicial.
O contexto é uma circunstância essencial na produção de textos. Ele corresponde ao conjunto de conjunturas (materiais
ou abstratas) que rodeiam um acontecimento ou fato.

Para compreendermos a mensagem de um texto, precisamos estar a par do contexto ao qual pertence. Isso para que a
mensagem transmitida pelo locutor (autor, emissor) seja inteligível para o interlocutor (leitor, receptor).
Nesse sentido, uma piada pode não fazer sentido, quando por exemplo está contextualizada numa determinada cultura, a
qual não faz parte do seu repertório interpretativo.

Compreensão de Textos: Significa entendimento. Os testes de compreensão exigem do candidato uma postura muito
voltada para o que está escrito, para o que está explícito. De forma geral, significa coletar dados do texto.
Pode também receber o nome de INTELECÇÃO.

Comandos para Questão de Compreensão:


 O narrador diz que ...
 O texto informa que ...
 Segundo o texto, é correto ou errado dizer que...
 De acordo com o texto, é certo...
 Na opinião do autor do texto...
 As considerações do autor se voltam para...
 Tendo em vista o texto, é incorreto...
 O autor sugere ainda...
 O autor afirma que...

Interpretação: Interpretação significa dedução, inferência, conclusão. As questões de interpretação não pretender cobrar
o que está escrito, mas o que se pode entender daquilo que está escrito.

Comandos para Questão de Interpretação:


 O texto permite deduzir que ...
 Depreende-se do texto que ...
 Qual a intenção do narrador quando afirma que ...
 Subentende-se das ideias e informações do texto que
 Conclui-se do texto que...
 O texto encaminha o leitor para...
 Pretende o texto mostrar que o leitor...
 O texto possibilita o entendimento de que...
 Com apoio no texto, infere-se que...

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Três erros capitais na análise de textos
1 – Extrapolação: É o fato de se fugir do texto. Ocorre quando se interpreta o que não está escrito. Muitas vezes são fatos
reais, mas que não estão expressos no texto. Deve-se ater somente ao que está relatado.
2 – Redução: É o fato de se valorizar uma parte do contexto, deixando de lado a sua totalidade. Deixa-se de considerar o
texto como um todo para se ater apenas à parte dele.
3 – Contradição: É o fato de se entender justamente o contrário do que está escrito. É bom que se tome cuidado com
algumas palavras, como: “pode”, “deve”, “não”, verbo “ser”, etc.

 Normalmente o candidato é convidado a:


 identificar: Reconhecer elementos fundamentais apresentados no texto.
 comparar: Descobrir as relações de semelhanças ou de diferenças entre situações apresentadas no texto.
 comentar: Relacionar o conteúdo apresentado com uma realidade, opinando a respeito.
 resumir: Concentrar as ideias centrais em um só parágrafo.
 parafrasear: Reescrever o texto com outras palavras.
 continuar: Dar continuidade ao texto apresentado, mantendo a mesma linha temática.

INTERTEXTO – Comumente, os textos apresentam referências diretas ou indiretas a outros autores através de citações. A
esse tipo de recurso denominamos “intertexto”

 INTERTEXTUALIDADE
=> Entende-se a criação de um texto a partir de outro pré-existente. Suas fu Suas funções dependem muito dos
textos/contextos em que ela é inserida, ou seja, dependendo da situação.

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 PARÁFRASE

* A paráfrase pode ser construída de várias formas, veja algumas delas.


a) substituição de locuções por palavras;
b) uso de sinônimos;
c) mudança de discurso direto por indireto e vice-versa;
d) converter a voz ativa para a passiva;
e) emprego de antonomásias ou perífrases (Rui Barbosa = A águia de Haia; o povo lusitano = portugueses).

Observe a mudança de posição de palavras ou de expressões nas frases.


a) Certos alunos no Brasil não convivem com a falta de professores.
Alunos certos no Brasil não convivem com a falta de professores.
b) Os alunos determinados pediram ajuda aos professores.
Determinados alunos pediram ajuda aos professores.

Explicações:
a) Certos alunos = qualquer aluno Alunos certos = aluno correto
b) Alunos determinados = alunos decididos Determinados alunos = qualquer

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E o que é analisar ?
O que se pretende com a análise textual?
• identificar o gênero e a tipologia;
• verificar o significado das palavras;
• contextualizar a obra no espaço e tempo;
• esclarecer fatos históricos do texto;
• conhecer dados biográficos do autor;
• relacionar o título ao texto;
• levantar o problema abordado;
• apreender a ideia central do texto;
• aprender as ideias secundárias do texto;
• buscar a intenção do texto;
• verificar a coesão e coerência textual;
• reconhecer se há intertextualidade.
• levantar elementos para a compreensão e, posteriormente, fazer julgamento crítico.

Verbos utilizados em provas:

Afirmar: certificar, comprovar, declarar.


Explicar: expor, justificar, expressar, significar.
Caracterizar: distinguir e destacar as particularidades.
Consistir: ser, equivaler, traduzir-se por (determinada coisa), ser feito, formado ou composto de.
Associar: estabelecer uma correspondência entre duas coisas, unir-se, agregar.
Comparar: relacionar (coisas animadas ou inanimadas, concretas ou abstratas, da mesma natureza ou que apresentem
similitudes), ver relações de semelhança ou de disparidade;
Justificar: provar, demonstrar, argumentar, explicar.
Relacionar: fazer conexão, ligação, adquirir relações.
Definir: revelar, estabelecer limites, indicar a significação precisa de, retratar, conceituar, explicar o significado.
Diferenciar: fazer ou estabelecer distinção entre, reconhecer as diferenças.
Classificar: distribuir em classes e nos respectivos grupos, de acordo com um sistema ou método de classificação;
determinar a classe, ordem, família, gênero e espécie; pôr em determinada ordem, arrumar (coleções, documentos);
Identificar: distinguir os traços característicos de; reconhecer; permitir a identificação, tornar conhecido.
Referir-se: fazer menção, reportar-se, aludir-se.
Determinar: precisar, indicar (algo) a partir de uma análise, de uma medida, de uma avaliação; definir.
Citar: transcrever, referir ou mencionar como autoridade ou exemplo ou em apoio do que se afirma.
Indicar: fazer com que, por meio de gestos ou sinais, algo ou alguém seja visto; assinalar, designar, mostrar.
Deduzir: concluir (algo) pelo raciocínio; inferir.
Inferir-se: concluir, deduzir.
Equivaler: ser idêntico no peso, na força, no valor etc.
Propor: submeter (algo) à apreciação (de alguém); oferecer como opção; apresentar, sugerir.
Depreender: alcançar clareza intelectual a respeito de; entender, perceber, compreender; tirar por conclusão, chegar à
conclusão de; inferir, deduzir.
Aludir: fazer rápida menção a; referir-se.

TIPOS DE DISCURSO
=> Os personagens que participam da história evidentemente falam. É o que se conhece como discurso, que pode ser:

1) Direto
=> O narrador apresenta a fala do personagem, integral, palavra por palavra. Geralmente se usam dois pontos e travessão.
Ex.: O funcionário disse ao patrão:
- Espero voltar no final do expediente.
Rui perguntou ao amigo:
- Posso chegar mais tarde?
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2) Indireto
=> O narrador incorpora à sua fala a fala do personagem. O sentido é o mesmo do discurso direto, porém é utilizada uma
conjunção integrante (que ou se) para fazer a ligação.
Ex.: O funcionário disse ao patrão que esperava voltar no final do expediente.
Rui perguntou ao amigo se poderia chegar mais tarde.

Obs.: O conhecimento desse assunto é muito importante para as questões que envolvem as paráfrases. Cuidado, pois,
com o sentido. Procure ver se está sendo respeitada a correlação entre os tempos verbais e entre determinados
pronomes. Abaixo, outro exemplo, bem elucidativo.
Minha colega me afirmou:
- Estarei aqui, se você precisar de mim.
Minha colega me afirmou que estaria lá se eu precisasse dela.
O sentido é, rigorosamente, o mesmo. Foi necessário fazer inúmeras adaptações.

3) Indireto livre
=> É praticamente uma fusão dos dois anteriores. Percebe-se a fala do personagem, porém sem os recursos do discurso
direto (dois pontos e travessão) nem do discurso indireto (conjunções que ou se).
Ex.: Ele caminhava preocupado pela avenida deserta. Será que vai chover, logo hoje, com todos esses compromissos!?

IMPORTANTE: Em um texto pode haver mais de uma tipologia, sabendo-se que apenas uma prevalecerá.

 TIPOLOGIA TEXTUAL

A - Descritivo: Ressalta características, podendo ser físicas e/ou psicológicas, seja de um objeto, de uma pessoa, de um
ambiente, de um animal. Predomina o uso de adjetivos, qualificando o elemento descrito.

Ex.: Nas proximidades deste pequeno vilarejo, existe uma chácara de beleza incalculável. Ao centro avista-se um lago de
águas cristalinas. Através delas, vemos dança rodopiante dos pequenos peixes. Em volta desse lago pairam, imponentes,
árvores seculares que parecem testemunhas vivas de tantas histórias que se sucederam pelas gerações.

B - Narrativo: É o contar de uma situação verídica ou não. Pode ser fábula, conto, relato, crônica, depoimento, piada,
novela ou romance.

Ex.1: O rapaz, depois de estacionar seu automóvel em um pequeno posto de gasolina daquela rodovia, perguntou a um
funcionário onde ficava a cidade mais próxima. Ele respondeu que havia um vilarejo a dez quilômetros dali.

b. ( )Ex.2: O rapaz, depois de estacionar seu automóvel em um pequeno posto de gasolina daquela rodovia, perguntou:
 Onde fica a cidade mais próxima?
 Há um vilarejo a dez quilômetros daqui  respondeu o funcionário.

 O objetivo aqui foi mostrar que, mesmo em um exercício de tipologia textual, pode ser solicitada a distinção ente
discurso direto e indireto.

C – Descritivo-Narrativo: Junção de características com predominância dos elementos descritivos.

Ex.: Joaquim trabalhava em um escritório que ficava no 12º andar de um edifício da Avenida Paulista. De lá avistava todos
os dias a movimentação incessante dos transeuntes, os frequentes congestionamentos dos automóveis e a beleza das
arrojadas construções que se sucediam do outro lado da avenida. Estes prédios moderníssimos alternavam-se com
majestosas mansões antigas. O presente e o passado ali se combinavam e, contemplando aquelas mansões, podia-se, por
alto, imaginar o que fora, nos tempos de outrora, a paisagem desta mesma avenida, hoje tão modificada pela ação do
progresso.

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D – Narrativo-Descritivo: Junção de características com predominância dos elementos narrativos.

Ex.1: As crianças sabiam que a presença daquele cachorro vira-lata em seu apartamento seria alvo da mais rigorosa
censura de sua mãe. Não tinha qualquer cabimento: um apartamento tão pequeno que mal acolhia Álvaro, Alberto e
Anita, além de seus pais, ainda tinha de dar abrigo a um cãozinho! Os meninos esconderam o animal em um armário
próximo ao corredor e ficaram sentados na sala à espera dos acontecimentos. No fim da tarde a mãe chegou do trabalho.
Não tardou em descobrir o intruso e a expulsá-lo, sob os olhares aflitos de seus filhos.

Ex.2: O candidato à vaga de administrador entrou no escritório onde iria ser entrevistado. Ele se sentia inseguro, apesar de
ter um bom currículo, mas sempre ficava assim quando estava por ser testado. O dono da firma entrou, sentou-se com ar
de extrema seriedade e começou a lhe fazer perguntas variadas. O interrogatório parecia sem fim. Porém, aquela
sensação desagradável acabou quando ele foi informado de que o lugar era seu.

E – Dissertativo-Argumentativo – Tem o objetivo de convencer o leitor, persuadi-lo a concordar com a ideia ou ponto de
vista exposto, isso se faz por intermédio de argumentação, utilizando-se de dados, estatísticas, provas, opiniões relevantes
etc.

Ex.1: Acredita-se firmemente que só o esforço conjunto de toda a nação brasileira conseguirá vencer os gravíssimos
problemas econômicos, por todos há muito conhecidos. Quaisquer medidas econômicas, por si só, não são capazes de
alterar a realidade, se as autoridades que as elaboram não contarem com o apoio da opinião pública, em meio a uma
comunidade de cidadãos conscientes.

Ex.2: A televisão aliena o homem por requisita-lo inteiramente para si, uma vez que as informações que traz são
bombardeadas em frações de segundos, não permitindo o menor desvio de sua atenção e nem uma reflexão mais
aprofundada devido à rapidez e à quantidade de informações.

F – Dissertativo-Expositiva – Texto em que se expõem as ideias, conceitos ou definições já pré-concebidos, sem se


argumentar ou defender teses com argumentação de um determinado ponto de vista.

Ex.: Dizem as pessoas ligadas ao estudo da Ecologia que são incalculáveis os danos que o homem vem causando ao meio
ambiente. O desmatamento de grandes extensões de terra, transformando-as em verdadeiras regiões desérticas, os
efeitos nocivos da poluição e a matança indiscriminada de muitas espécies são apenas alguns dos aspectos a serem
mencionados. Os que se preocupam com a sobrevivência e o bem-estar das futuras gerações temem que a ambição
desmedida do homem acabe por tornar esta terra inabitável.

G – Injunção (Prescrição): Usa-se para pedir, recomendar ou ordenar. Ex.: manual de instruções.
- Instrucional: O texto apresenta apenas um conselho, uma indicação e não uma ordem.
- Prescrição: O texto apresenta uma ordem, a orientação dada no texto é uma imposição.

H – Preditivo: Texto que cita previsões: Exemplos: horóscopos

Breve Resumo Para Fixação

Narração: Personagens, Enredo, Espaço...


Descrição: Enumeração, Comparação, Retrato Verbal...
Dissertação: Expositiva, Argumentativa, Debater...
Injunção: Instrucional (Manuais, Receitas, Bulas...)
Exposição: Fatos, Impessoal (Notícias Jornalísticas)

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COESÃO E COERÊNCIA

COESÃO – é o emprego de mecanismo de sintaxe que relacionam palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si. Em
outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um pronome
oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se vai dizer e o que já foi dito.

=> Três princípios básicos são necessários para compreendermos melhor o que é coerência textual:

1) Princípio da Não-contradição: Um texto deve apresentar situações ou ideias lógicas que não se contradigam;

2) Princípio da Não-tautologia: A tautologia nada mais é do que um vício de linguagem que repete ideias com palavras
diferentes ao longo do texto, o que compromete a transmissão da informação;
3) Princípio da Relevância: Informações fragmentadas, incompletas, tornam as ideias do texto incoerentes, ainda que
cada fragmento apresente certa coerência individual. Se as ideias não dialogam entre si, então elas são irrelevantes. É
importante ressaltar que o uso adequado dos conectivos também colabora na construção de um texto coerente, pois a
coesão textual é um importante mecanismo de estruturação do texto.

 Coesão textual
=> Para que um texto apresente coesão, devemos escrever de maneira que as ideias se liguem umas às outras, formando
um fluxo lógico e contínuo.

1. Coesão referencial: Ocorre quando se utilizam expressões que retomam ou antecipam nossas ideias:

=> onde: indica a noção de "lugar" e pode substituir outras palavras. Ex.: São Paulo é uma cidade onde a poluição atinge
níveis muito altos. [No caso, "onde" retoma a palavra "cidade".]

=> cujo: pode estabelecer uma relação de posse entre dois substantivos. Lavei a escada cujos degraus estavam sujos..

=> que: pode substituir (e evitar a repetição de) palavras ou de uma oração inteira. Ex.: Pedro Álvares Cabral descobriu o
Brasil, o que permitiu aos portugueses ampliarem seu império marítimo.

=> esse (a), isso: podem conectar duas frases, apontando para uma ideia que já foi mencionada no texto. Ex.: O
presidente de uma ONG tem inúmeras funções a cumprir. Essas responsabilidades, no entanto, podem ser divididas com
outros membros .

=> este(a), isto: podem conectar duas frases, apontando para uma ideia que será mencionada no texto.
Ex.: O que me fascina em Machado de Assis é isto: sua ironia.

* Cuidado com o uso da palavra através, que só deve ser usado em caso de se atravessar algum espaço determinado ou o
tempo

2. Coesão lexical: Permite evitar a repetição de palavras e, também, unir partes de um texto. Pode ser alcançada
utilizando-se:

=> Sinônimos: Ex.: O presidente do Palmeiras, Silvano Eustáquio, afirmou que o time tem todas as condições de ser
campeão. Segundo o dirigente, com Miudinho, o gol palmeirense será impenetrável. Na opinião do cartola, a torcida só
terá alegrias.

=> Hiperônimos: Comprou frutas e deu as maças para a mulher.

=> Hipônimo: Vinha um ônibus, mas o pedestre não viu o veículo.

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=> Perífrases: Ex.: O Rio de janeiro continua lindo. A cidade maravilhosa atrai turistas nos estádios de futebol é sempre
necessária, pois as torcidas às vezes agem com violência. Na verdade, não é mais possível a realização de qualquer
campeonato sem a presença de elementos treinados para garantir não só a ordem, mas também proteger a segurança
dos cidadãos que desejam acompanhar o jogo em tranquilidade.

=> Nomes genéricos: Trouxe cadernos, livros e outras coisas

=> Termos simbólicos: Inácio tinha dúvidas se iria para a Igreja, mas o apelo da cruz foi forte.

3. Coesão sequencial: Estabelece relações lógicas entre as ideias do texto. Para tanto, utilizamos os chamados conectivos.
Vamos explorar este assunto com riqueza de detalhes quando estudarmos “CONJUNÇÕES”.

Cuidado com conectivos que podem apresentar diferentes sentidos de acordo com o contexto em que estejam inseridos.

Observem os exemplos a seguir:


I) Como combinamos, não haverá aula amanhã. (CONFORMIDADE)
II) Os manifestantes correram como loucos após os primeiros disparos. (COMPARAÇÃO)
III) Como houve muitas reclamações, o professor anulou a prova. (CAUSA)

Notem que, apesar de o conectivo ser o mesmo nas três sentenças (“como”), as relações de sentido estabelecidas são
completamente diferentes. Nunca deixem de levar o contexto em consideração!

Coesão recorrencial: Esse tipo de coesão se caracteriza pela repetição de algum tipo de elemento anterior. Essa repetição
não funciona como na coesão referencial, quando fazemos alusão a um mesmo referente, mas sim como uma
“lembrança” de um mesmo padrão. Ela pode aparecer de várias formas:

 Através da recorrência de termos:


Exemplo: Marta falava, falava, falava...

=> A recorrência nesse caso dá uma ideia de continuidade. Não é uma repetição vocabular vista como desnecessária, mas
sim enfática.

 Através de recursos fonológicos, ou sons, caso da rima, ou da ênfase:


Exemplo 1: Ela estava calada, quieta, quietinha...
 A repetição “quieta”, “quietinha” intensifica a ideia.

 Através de uma paráfrase, que se refere à recorrência de conteúdos semânticos.


Ex.: isto é, ou seja, ou melhor, quer dizer...

 COERÊNCIA X COESÃO

Coerência: É a organização de ideias que mantém a lógica no raciocínio do início ao fim. Faz com que o texto não seja
uma sucessão de frases apenas e não apresente contradições, encadeando harmonicamente o que é escrito.

Ex falta de coerência: “Sou totalmente a pena de morte, exceto em casos de estupro.

Uma afirmação como "Foi um verdadeiro milagre! O menino caiu do décimo andar e não sofreu nenhum
arranhão." é coerente, na medida que a frase inicial ("Foi um verdadeiro milagre") instrui o leitor para a
anormalidade do fato narrado.

Resumindo, podemos dizer que a coesão é a ligação, a união entre partes de um texto; Coerência é o sentido lógico, o
nexo.

90
 REESCRITURA

=> As conjunções causais ou explicativas são trocadas pelas consecutivas ou conclusivas quando há a inversão da frase. E
vice-versa.
Ex.: Estudei muito, por isso fui aprovado. (conclusão) / Fui aprovado, pois estudei muito (explicação)

=> As conjunções adversativas são substituídas pelas concessivas em situações idênticas ao caso anterior.
Nos demais casos, só o contexto pode nos direcionar para o uso correto do conectivo.
Estudou muito, mas não foi aprovado. (adversativa)
Não foi aprovado, embora tenha estudado muito.

Elementos conectores - Eis os mais importantes:

1) Pronomes pessoais, retos ou oblíquos


Ex.: Meu filho está na escola. Ele tem uma prova hoje. Ele = meu filho (referente)
Carlos trouxe o memorando e o entregou ao chefe. O = memorando (referente)

2) Pronomes possessivos
Ex.: Pedro, chegou a sua maior oportunidade. Sua = Pedro (de Pedro)

3) Pronomes demonstrativos
Os demonstrativos estão entre os mais importantes conectores da língua portuguesa. Frequentemente se criam
questões de interpretação ou compreensão com base em seu emprego. Veja os casos seguintes.

a) O filho está demorando, e isso preocupa a mãe. Isso = O filho está demorando.
b) Isto preocupa a mãe: o filho está demorando. Isto = o filho está demorando.

Parecidos, não é mesmo? A diferença é que isso (esse, esses, essa, essas) é usado para fazer referência a coisas ou
fatos passados no texto. Isto (este, estes, esta, estas) refere-se a coisas ou fatos que ainda aparecerão. Embora se faça
uma certa confusão hoje em dia, o seu emprego adequado é exatamente o que acabamos de expor.

c) O homem e a mulher estavam sorrindo. Aquele porque foi promovido; esta por ter recebido um presente.
Aquele = homem esta = mulher
4) Pronomes indefinidos
Ex.: Naquela época, os homens, as mulheres, as crianças, todos acreditavam na vitória.
todos = homens, mulheres, crianças
5) Pronomes relativos
Ex.: Havia ali pessoas que me ajudavam. que = pessoas

6) Pronomes interrogativos
Ex.: Quem será responsabilizado? O rapaz do almoxarifado, por não ter conferido os materiais.
Quem = rapaz do almoxarifado
7) Substantivos
Ex.: José e Helena chegaram de férias. Crianças ainda, não entendem o que aconteceu com o professor.
Crianças = José e Helena
8) Advérbios
Ex.: A faculdade ensinou-o a viver. Lá se tornou um homem. Lá = faculdade

9) Preposições
As preposições ligam palavras dentro de uma mesma oração. Em casos excepcionais, ligam duas orações. Elas não
possuem referentes no texto, simplesmente estabelecem vínculos.Ex.: Preciso de ajuda.Morreu de frio

91
SISTEMA LINGUÍSTICO, FALA E NORMA
=> As noções de certo e errado, bem e mal mudaram. Assim como tudo, a língua também mudou. Muitos de nós já
escutamos alguma conversa, em lugar público e formamos alguma impressão sobre o que as pessoas estão falando e
sobre o modo como falam. Essa impressão nos faz identificar socialmente a pessoa que está falando, descobrindo a
origem geográfica e talvez até a classe social do falante.

=> Imagine alguém dizer “Farta muito pra “chegá ?” Percebemos, ao ouvir esse enunciado, uma diferença entre a palavra
“falta”, e a forma como a pessoa falou, Em razão desses traços da fala, muitas pessoas poderiam concluir que o falante
vem do meio rural e/ou que possui baixa escolaridade. É possível fazer essas suposições visto que toda língua varia, não
existe lugar ou comunidade em que todas as pessoas falem da mesma maneira. E, também, porque essas variações são
reflexos de diferenças sociais, tais como origem geográfica e classe social.

=> No consenso popular, não existe a noção de que não há falar “certo” ou falar “errado”. A maioria das pessoas não
consegue conceber que existem variações linguísticas ou, se percebem que existem, pensam que devem ser evitadas.
Essas variações podem ser geográficas, de sotaques, de classes e ainda históricas, a variação temporal da língua;

=> Dessa forma, ocorre a discriminação das pessoas que falam de forma diferente da norma utilizada por uma elite
linguística. Essa elite é formada por pessoas em situação econômica mais favorável que outras e, por conseguinte, com
maior escolaridade. As pessoas se prendem, então, a conceitos de que a língua é imutável. De que só existe uma
variedade aceitável. E, muitas vezes, praticam preconceitos linguísticos e geram exclusões.

1- Linguagem; Toda forma de comunicação. É a capacidade que possuímos de expressar nossos pensamentos, ideias,
opiniões e sentimentos. Num sentido mais genérico, a Linguagem pode ser classificada como qualquer sistema de sinais
que se valem os indivíduos para comunicar-se.

Tipos de Linguagem: A linguagem pode ser:


Verbal: Faz uso das palavras para comunicar algo.

Não Verbal: Utiliza outros métodos de comunicação: a linguagem de sinais, as placas e sinais de trânsito, corporal, uma
figura, a expressão facial, um gesto...

2 - Língua: Conjunto de signos que o homem utiliza para transmitir sentido. É composta por regras gramaticais que
possibilitam que determinado grupo de falantes consiga comunicar-se e compreender-se.
Quando se cria uma língua particular em relação a determinados grupos apenas, temos um dialeto.

Língua portuguesa no Brasil

 Língua comum: É a língua-padrão do país, aceita pelo povo e imposta pelo uso.

 Língua regional: É a língua comum, porém com tonalidade regionais na fonética e no vocabulário, sem, no
entanto quebrar a estrutura comum. Quando se quebrar essa estrutura aparecerão os dialetos.

 Língua popular: É a fala espontânea do povo, eivada de plebeísmo, isto é, de palavras vulgares, grosseiras e gírias;
é tanto mais incorreta quanto mais inculta a camada social que a usa.

Língua culta: É usada pelas pessoas instruídas, orienta-se pelos preceitos da gramática normativa e caracteriza-se pela
correção e riqueza vocabular.

 Língua literária: É a língua culta em sua forma mais artificial, usada pelos poetas e escritores brasileiros em suas
obras.

92
 Língua falada: Utiliza apenas signos vocais, a expressão oral; é a mais comunicativa e insinuante, porque as
palavras são subsidiadas pela sonoridade e inflexões da voz, pelo jogo fisionômico, gesticulação e mímica; é
prolixa e evanescente.

 Língua escrita: É o registro formal da língua, a representação da expressão oral, utiliza-se de signos gráficos e de
normas expressas; não é tão insinuante quanto a falada, mas é sóbria, exata e duradoura.

 Fatores regionais: Há diferença no português falado por um habitante da região Nordeste e outro da região
Sudeste do Brasil, ou até na mesma região. No RS, por exemplo, há diferenças entre a língua utilizada por um
cidadão que vive na capital e aquela utilizada por um cidadão do interior do estado.

 Fatores culturais: A escolarização e a formação cultural colaboram para os diferentes usos da língua.
Uma pessoa escolarizada utiliza a língua de uma maneira diferente da pessoa que não teve acesso à escola.

 Fatores contextuais: Nosso modo de falar varia de acordo com a situação em que nos encontramos: quando
conversamos com nossos amigos, não usamos os termos que usaríamos se estivéssemos discursando em uma
solenidade de formatura.

 Fatores profissionais: O exercício de algumas atividades requer o domínio de certas formas de língua
chamadas línguas técnicas. Essas formas têm uso restrito numa conversa de engenheiros, químicos, profissionais
da área de direito e da informática, biólogos, médicos, linguistas e outros especialistas.

 Fatores naturais: Influência da idade e do sexo. Uma criança não utiliza a língua igual a um adulto, daí falar-se em
linguagem infantil e linguagem adulta.

 Fala: É a forma espontânea de usar a Língua. É um ato individual, pois cada indivíduo, para a manifestação da fala,
pode escolher os elementos da língua que lhe convém, conforme seu gosto e sua necessidade.

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA - Lista de formas gráficas variantes:


abdome e abdômen; engambelar e engabelar percentagem e porcentagem
açoitar, açoite ; entoação e entonação pitoresco, pinturesco e pintoresco
afeminado e efeminado; enumerar e numerar plancha e prancha
afoito ou afouto; espuma e escuma presépio e presepe
aluguel ou aluguer; estalar e estralar quadrênio e quatriênio
aritmética e arimética este e leste quatrilhão e quatrilião
arrebitar e rebitar exorcizar e exorcismar radioatividade e radiatividade
arremedar e remedar fação e facção rastro e rasto
assoalho e soalho flauta e frauta registro e registo
assobiar e assoviar flecha e frecha relampear, relampejar, relampaguear
assoprar e soprar geringonça e gerigonça remoinho e redemoinho
bêbado e bêbedo gorila e gorilha réptil ou reptil
bilhão e bilião gueixa e guexa retorquir e retorquir
bílis e bile heem? e hein? salsicha e salchicha
biscoito e biscouto hemorróidas e hemorróides salobra e salobre
bravo e brabo homogeneizar e homogenizar seção e secção
caatinga e catinga impingem e impigem selvageria e selvajaria
cãibra e câimbra imundícia, imundície e imundice sobressalente e sobresselente
cálice e cálix lantejoula e lentejoula súbdito e súdito
carroçaria e carroceria lisonjear e lisonjar surripiar e surrupiar
catorze e quatorze louça e loiça susceptível e suscetível
catucar e cutucar louro e loiro taberna e taverna
chipanzé e chimpanzé macaxeira e macaxera taramela e tramela
cobarde e covarde maçom e mação televisar e televisionar

93
cociente e quociente maltrapilho e maltrapido tesoura e tesoira
coisa e cousa maquiagem e maquilagem tesouro e tesoiro
cota e quota limpar e alimpar toicinho e toucinho
cotidiano e quotidiano marimbondo e maribondo transvestir e travestir
cotizar e quotizar melancólico e merencório trilhão e trilião
cuspe e cuspo menosprezo e menospreço vasculhar e basculhar
degelar e desgelar mobiliar, mobilhar e mobilar várzea, várgea
demonstrar e demostrar neblina e nebrina vargem e varge
dependurar e pendurar nenê, neném e nenen volibol e voleibol
enfarte, infarto, enfarte parênteses e parêntesis

LINGUAGEM - CÓDIGO

É o conjunto de símbolos e sinais de que se vale o homem para, intencionalmente, comunicar-se.

A Linguagem pode ser:

1. Verbal: Utilizando a palavra, falada ou escrita (signo lingüístico)


2. Não-verbal: Qualquer outro signo que não seja a palavra falada ou escrita. Esses signos são criados com sons,
gestos, desenhos e cores.

LINGUAGEM: É TODO SISTEMA ORGANIZADO DE SIGNOS QUE SERVE COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO ENTRE OS
INDIVÍDUOS.

Conclui-se ser possível falar em linguagem do trânsito, linguagem matemática, linguagem dos gestos, sinais, da música
e outras.

LÍNGUA: Refere-se ao idioma. É a linguagem verbal usada por um grupo de indivíduos que constituem uma comunidade.

FALA: É a maneira particular de usar a língua em uma determinada região. Possui níveis que são o comum ou o literário;
coloquial ou formal e popular ou erudito.

FUNÇÕES DA LINGUAGEM: São seis os elementos da comunicação:

1. Emissor ou emitente (remetente)


2. Receptor (destinatário)
3. Mensagem – é o que se escreve ou se diz
4. Referente – são os fatos e as evidências, vivências ou juízos.
5. Código – é a linguagem em si.
6. Canal – É o fio condutor da mensagem.

Existem diferentes estratégias de persuasão, que põem estes elementos em destaque. A esse destaque, damos o nome
de funções da linguagem.

1. EMOTIVA OU EXPRESSIVA: Põe o emissor e seus sentimentos em destaque. O emissor deixa no texto a sua marca
manifestada por emoções, opiniões. Ex.: As cartas pessoais, as canções sentimentais.
Ex.: “Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou.” (Legião Urbana)

“Eu sei que vou te amar,


Por toda a minha vida eu vou te amar
A cada despedida, eu vou te amar

94
FUNÇÃO CONATIVA OU APELATIVA: Põe em destaque o receptor , cujo comportamento se quer influenciar ou alterar.
Isto acontece quando se emite uma ordem,ou se faz um pedido, uma apelo, uma súplica, uma sugestão. É função nas
mensagens publicitárias. Pode ser imperativa.
“Vem pra caixa você também, vem”

FUNÇÃO POÉTICA OU CONOTATIVA: Realça fundamentalmente a mensagem. Apresenta uma maneira especial de
elaborar o código, a fim de obter um efeito estético, através até de desvios de normas e de neologismos (novos
vocábulos) . Existe preocupação com a escolha de vocábulos cuja sonoridade está a serviço da significação pretendida na
mensagem. Esta preocupação é artística ou literária e pode ser em prosa ou em verso.
“Uma tigresa de unhas negras ... E íris cor de mel
Uma mulher, uma beleza ... Que me aconteceu” (Caetano Veloso)

FUNÇÃO REFERENCIAL (ou DENOTATIVA): Também é chamada de cognitiva ou informativa. Está centralizada
principalmente no referente, procurando fornecer informações, transmitir a mensagem com clareza e objetividade, com
as palavras sendo empregadas em seu sentido real.
Ex.: “Com a utilização de computadores e da técnica do DNA, O FBI descobriu que o Imperador foi vítima de um crime
cuidadosamente planejado. Os pesquisadores americanos chegaram a essa conclusão após analisarem uma mecha de
cabelo pertencente a um colecionador francês.

FUNÇÃO METALINGUÍSTICA: Enfatiza o próprio código da linguagem. Ela se volta para si mesma, visando a tradução do
código. É o que acontece nos dicionários, textos que estudam outros textos, nos poemas que cuidam da rima, nos filmes
que tratam de cinema etc.
“Esta canção é mais que uma canção... Quem dera fosse uma declaração de amor... “

FUNÇÃO FÁTICA: Destaca o canal de comunicação. Por ela, verifica-se se o contato emissor / receptor continua efetivo.
Inicia ou fecha um diálogo.
Alô, está me ouvindo? E aí, cara!?

95
FIGURAS DE LINGUAGEM
FIGURAS DE PALAVRA: As figuras de palavra consistem no emprego de um termo com sentido diferente daquele
convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito mais expressivo na comunicação.

Comparação: Ocorre comparação quando se estabelece aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por
conectivos comparativos explícitos - feito, assim como, tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem - e alguns verbos -
parecer, assemelhar-se e outros. Exemplos: "Amou daquela vez como se fosse máquina. / Beijou sua mulher como se
fosse lógico." (Chico Buarque);

Metáfora: Ocorre metáfora quando um termo substitui outro através de uma relação de semelhança resultante da
subjetividade de quem a cria. A metáfora também pode ser entendida como uma comparação abreviada, em que o
conectivo não está expresso, mas subentendido.
Exemplo: "Minha vida é um livro.” “O mundo é uma bola.”

Metonímia: Quando há substituição de uma palavra por outra, o continente pelo conteúdo e -versa: Antes de sair,
tomamos um cálice (o conteúdo de um cálice) de licor.
- a causa pelo efeito e vice-versa: "E assim o operário ia / Com suor e com cimento (com trabalho) / Erguendo uma casa
aqui / Adiante um apartamento." (Vinicius de Moraes).
- o lugar de origem ou de produção pelo produto: Comprei uma garrafa do legítimo porto (o vinho da cidade do Porto).
- o autor pela obra: Ela parecia ler Jorge Amado (a obra de Jorge Amado).
- o abstrato pelo concreto e vice-versa: Não devemos contar com o seu coração (sentimento, sensibilidade).
- o símbolo pela coisa simbolizada: A coroa (o poder) foi disputada pelos revolucionários.
- a coisa pelo lugar: Vou à Prefeitura (ao edifício da Prefeitura).
- o instrumento pela pessoa que o utiliza: Ele é um bom garfo (guloso, glutão).

Catacrese: É um tipo de especial de metáfora, "é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente nenhum
vestígio de inovação, de criação individual e pitoresca. É a metáfora tornada hábito linguístico, já fora do âmbito
estilístico." (Othon M. Garcia).
São exemplos de catacrese: folhas de livro / pele de tomate / dente de alho / montar em burro / céu da boca / cabeça
de prego / mão de direção / ventre da terra / asa da xícara / sacar dinheiro no banco.

Sinestesia: Consiste na fusão de sensações diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser físicas
(gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas (subjetivas).
Exemplo: "A minha primeira recordação é um muro velho, no quintal de uma casa indefinível. Tinha várias feridas no
reboco e veludo de musgo. Milagrosa aquela mancha verde [sensação visual] e úmida, macia (sensações táteis], quase
irreal." (Augusto Meyer)

Antonomásia: Quando designamos uma pessoa por uma qualidade, característica ou fato que a distingue. Na linguagem
coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido, alcunha ou cognome, cuja origem é um aposto (descritivo, especificativo
etc.) do nome próprio.
Exemplos: "Pelé (= Edson Arantes do Nascimento) / O poeta dos escravos (= Castro Alves)

FIGURAS DE SOM
Chamam-se figuras de som os efeitos produzidos na linguagem quando há repetição de sons ou, ainda, quando se procura
"imitar" sons produzidos por coisas ou seres.

Aliteração: Quando há repetição da mesma consoante Exemplo: "Toda gente homenageia Januária na janela." "Pedro
pedreiro penseiro esperando o trem. " (Chico Buarque).

Assonância: Quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema.

Exemplo: "Sou Ana, da cama / da cana, fulana, bacana / Sou Ana de Amsterdam." (Chico Buarque).

96
Paronomásia: Quando há reprodução de sons semelhantes em palavras de significados diferentes.
Exemplo: "Berro pelo aterro pelo desterro / berro por seu berro pelo seu erro / quero que você ganhe que você me
apanhe / sou o seu bezerro gritando mamãe." (Caetano Veloso).

Onomatopeia: Quando uma palavra imita um ruído ou som.


Exemplo: "O silêncio fresco despenca das árvores. / Veio de longe, das planícies altas, / Dos cerrados onde o guaxe
passe rápido... / Vvvvvvvv... passou." (Mário de Andrade).

FIGURAS DE PENSAMENTO
Referem-se ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico.

Antítese: Palavras ou expressões de sentidos opostos.


Exemplo: "Amigos ou inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos
almejam o bem, e nos trazem o mal." (Rui Barbosa).

Paradoxo: ideias que se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade enunciada com aparência de mentira.
Oxímoro é outra designação para paradoxo.
Exemplo: "Amor é fogo que arde sem se ver; / É ferida que dói e não se sente; / É um contentamento descontente;

Eufemismo: expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante. Exemplo:
Descansa nos braços do Senhor.

Gradação: Quando há uma sequência de palavras que intensificam uma mesma ideia

Hipérbole: Quando há exagero de uma ideia, a fim de proporcionar uma imagem emocionante e de impacto.
Exemplo: "Rios te correrão dos olhos, se chorares!"

Ironia: Quando, pelo contexto, pela entonação, pela contradição de termos, sugere-se o contrário do que as palavras ou
orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa ou sarcástica.
Exemplo: "Moça linda, bem tratada, / três séculos de família, / burra como uma porta: / um amor." (Mário de
Andrade).

FIGURAS DE SINTAXE
As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a desvios em relação à concordância entre os termos da oração, sua
ordem, possíveis repetições ou omissões. Elas podem ser construídas por:
a) omissão: assíndeto, elipse e zeugma;
b) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto;
c) inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage;
d) ruptura: anacoluto;
e) concordância ideológica: silepse.
Assíndeto: Quando orações ou palavras deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas, aparecem justapostas ou
separadas por vírgulas.
Exemplo: "Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se,
fundindo-se." (Machado de Assis).

Elipse: Quando omitimos um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto. Pode
ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos. Exemplo: "Veio sem pinturas, em vestido leve,
sandálias coloridas." (elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de (de sandálias...).

Zeugma: Quando um termo já expresso na frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição.
Exemplo: "O bem representa a luz; o mal, as trevas"

Anáfora: Quando há repetição intencional de palavras no início de um período, frase ou verso.


Exemplo: "Depois o areal extenso... / Depois o oceano de pó... / Depois no horizonte imenso / Desertos... desertos
só..."(C. Alves).
97
Pleonasmo: Quando há repetição da mesma ideia, isto é, redundância de significado.
a) Pleonasmo literário: É o uso de palavras redundantes para reforçar uma ideia, tanto do ponto de vista semântico
quanto do ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico, enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem.
Ex:"Morrerás morte vil na mão de um forte." (G.Dias)
"Ó mar salgado, quando do teu sal / São lágrimas de Portugal" (Fernando Pessoa).

b) Pleonasmo vicioso: É o desdobramento de ideias que já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas.
Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de reforço de uma ideia, sendo apenas fruto do
descobrimento do sentido real das palavras.
Exs: subir para cima / entrar para dentro / repetir de novo / ouvir com os ouvidos / hemorragia de sangue / monopólio
exclusivo / principal protagonista.

Polissíndeto: Quando há repetição enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige a norma gramatical
(geralmente a conjunção e). É um recurso que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos.
Exemplo: "E onde houver dúvidas, que eu leve a fé; e onde houver erro, que eu leve a verdade”. (Oração de São
Francisco).

Anástrofe: Quando há uma simples inversão de palavras vizinhas (determinante/determinado).


Exemplo: "Tão leve estou (estou tão leve) que nem sombra tenho." (Mário Quintana).

Hipérbato: Ocorre hipérbato quando há uma inversão completa de membros da frase.


Exemplo: "Passeiam à tarde, as belas na Avenida. " (As belas passeiam na Avenida à tarde.) (Drummond).

Sínquise: Ocorre sínquise quando há uma inversão violenta de distantes partes da frase. É um hipérbato exagerado. Ex: "A
grita se alevanta ao Céu, da gente. " (A grita da gente se alevanta ao Céu ) (Camões).

Hipálage: Ocorre hipálage quando há inversão da posição do adjetivo: uma qualidade que pertence a um objeto é
atribuída a outro, na mesma frase.
Exemplo: "... as lojas loquazes dos barbeiros." (as lojas dos barbeiros loquazes.) (Eça de Queiros).

Anacoluto: Quando há interrupção do plano sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a sequência lógica. A
construção do período deixa um ou mais termos - que não apresentam função sintática definida -desprendidos dos
demais, geralmente depois de uma pausa sensível.
Exemplo: "Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas." (Alcântara Machado).
Silepse: Ocorre silepse quando a concordância não é feita com as palavras, mas com a ideia a elas associada.

a) Silepse de gênero: Ocorre quando há discordância entre os gêneros gramaticais (feminino ou masculino).
Exemplo: "Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito." (Guimarães Rosa).
b) Silepse de número: Ocorre quando há discordância envolvendo o número gramatical (singular ou plural).
Ex: Corria gente de todos lados, e gritavam." (Mário Barreto).
c) Silepse de pessoa: Ocorre quando há discordância entre o sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou
escreve se inclui no sujeito enunciado.
Exemplo: "Na noite seguinte estávamos reunidas algumas pessoas." (Machado de Assis).

98
H
I
S
T
Ó
R
I
A
Diretoria de Ensino da Marinha
Serviço de Documentação da Marinha

Introdução à História
Marítima Brasileira

2006

3
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
S U M Á R I O ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

APRESENTAÇÃO 9

INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO I
A História da Navegação
– Sinopse 16
– Os navios de madeira: construindo embarcações e navios 18
– O desenvolvimento dos navios portugueses 19
– O desenvolvimento da navegação oceânica: os instrumenos e as cartas de marear 20
– A vida a bordo dos navios veleiros 22

CAPÍTULO II
A Expansão Marítima Européia e o Descobrimento do Brasil
– Sinopse 24
– Fundamentos da organização do Estado português e a expansão ultramarina 26
– O reconhecimento da costa brasileira 38
– As expedições guarda-costas 39
– A expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa 40

CAPÍTULO III
Invasões Estrangeiras ao Brasil
– Sinopse 44
– Invasões francesas no Rio de Janeiro e no Maranhão 47
– Invasores na foz do Amazonas 50
– Invasões holandesas na Bahia e em Pernambuco 50
– Corsários franceses no Rio de Janeiro no século XVIII 58
– Guerras, tratados e limites no Sul do Brasil 58

CAPÍTULO IV
Formação da Marinha Imperial Brasileira
– Sinopse 66
– A vinda da Família Real 68
– Política externa de D. João e a atuação da Marinha: a co quista de Caiena e a
ocupação da Banda Oriental 68
– Guerra de Independência 73

7
CAPÍTULO V
A Atuação da Marinha nos Conflitos da Regência
e do Início do Segundo Reinado
– Sinopse 82
– Conflitos internos 86
– Conflitos externos 89

CAPÍTULO VI
A Atuação da Marinha na Guerra da Tríplice Aliança
contra o Governo do Paraguai
– Sinopse 104
– O bloqueio do Rio Paraná e a Batalha Naval do Riachuelo 108
– Navios encouraçados e a invasão do Paraguai 113
– Curuzu e Curupaiti 115
– Caxias e Inhaúma 116
– Passagem de Curupaiti 116
– Passagem de Humaitá 117
– O recuo das forças paraguaias 118
– O avanço aliado e a Dezembrada 118
– A ocupação de Assunção e a fase final da guerra 119

CAPÍTULO VII
A Marinha na República
– Sinopse 124
– Primeira Guerra Mundial 128
– Segunda Guerra Mundial 141

CAPÍTULO VIII
O Emprego Permanente do Poder Naval
– O Poder Naval na guerra e na paz 162

GLOSSÁRIO 173

BIBLIOGRAFIA 180

8
INTRODUÇÃO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
O mar sempre teve uma importância fundamental na
história do Brasil. Do mar, de Portugal, veio Pedro Álvares
Cabral, em 1500, para encontrar o nosso País. Do mar, vieram
as invasões francesas, holandesas e as incursões inglesas nos
séculos XVI e XVII. O mar também foi o principal meio em
que se transportaram colonos e funcionários administrativos
portugueses para o Brasil durante o período colonial. 1
De 7 de abril de 1831, quando D. Pedro I abdi-
Durante a Guerra da Independência do Brasil, a então cou do trono, até 23 de junho de 1840, quando a
Assembléia votou a maioridade de D. Pedro II, acla-
recém-criada Esquadra brasileira teve papel primordial nas mando-o Imperador do Brasil.
mãos do Primeiro Almirante Lorde Thomas Cochrane,
bloqueando os portos conflagrados e combatendo os
lusitanos. As tropas de Dom Pedro I, que lutaram contra as
juntas governativas da Bahia, Maranhão, Pará e Banda Oriental
– aliadas das Cortes (parlamento) portuguesas – foram
transportadas pelo mar.
No período regencial1, o mar novamente foi o caminho
natural para o transporte de tropas para as províncias
insurgentes que ameaçavam se separar do Império. Naquela
ocasião, as estradas que ligavam as principais cidades do Brasil
eram muito rudimentares, daí a enorme importância
estratégica que o mar adquiriu mais uma vez.
Com a Proclamação da República e o aumento da
tecnologia náutica, a importância do mar ficou ainda mais
evidente. Do mar aumentaram as nossas importações e
escoaram os nossos produtos para o exterior. Também do
mar vieram nossos inimigos: os submarinos alemães que
atacaram os navios mercantes que transportavam nossas
mercadorias, tanto na Primeira como na Segunda Guerra
Mundiais. Naquela oportunidade houve a necessidade
premente de se proteger as comunicações marítimas.
Aparece aqui o primeiro conceito importante. Procure
escrever em um papel à parte essa nova definição. Entende-
se por comunicações marítimas os caminhos existentes no
mar para o comércio exterior ou interno, isto é, as rotas por
onde trafegam os navios, desde seus portos de origem até os
de destino. Elas não são vias físicas, somente se materializando
quando existirem navios, tanto de transporte ou de guerra,
navegando com suas cargas.
Cada nação atribui determinada importância às

11
comunicações marítimas segundo o seu grau de

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
dependência. Sua importância econômica e militar
determinará o esforço a ser realizado para a manutenção
dessas rotas abertas e livres de ataque do inimigo. Para o País
a proteção dessas comunicações tem sido fundamental.
Hoje em dia o mar assume uma importância cada vez
maior para o Brasil. Nosso comércio é transportado quase
que exclusivamente por ele. Do mar extraímos o petróleo,
tão importante para o desenvolvimento do País, e os peixes,
que servem de alimento aos brasileiros e proporcionam
melhores condições de vida aos nossos pescadores.
Enfim, o mar é fundamental para a sobrevivência do País.
Devemos cada vez mais desenvolver o nosso Poder Marítimo
para nos projetarmos no cenário internacional. Surge o
segundo conceito de nossa discussão: o que vem a ser o Poder
Marítimo de uma nação? Anote aí mais uma vez.
Poder Marítimo é a capacidade que resulta da
integração dos recursos que dispõe o Brasil para a utilização
do mar e também das águas interiores, quer como instrumento
de ação política e militar, quer como fator de desenvolvimento
econômico e social, visando a conquistar e a manter os
objetivos nacionais.
Esse conceito pode parecer teórico demais, mas não é.
Vejamos agora quais os elementos constitutivos desse Poder
Marítimo.
Esses elementos, que constituem o nosso Poder
Marítimo, são componentes das expressões do poder da
Nação, relacionados com a capacidade de utilização do mar e
hidrovias interiores. Há situações em que um certo recurso
ou organização é componente do Poder Marítimo quando
vinculado ao uso do mar e deixa de sê-lo fora dessa situação.
Assim, tudo ou quase tudo que se relaciona com o mar faz
parte do Poder Marítimo.
Quais os elementos que constituem o nosso Poder
Marítimo?
– A Marinha Mercante, com suas facilidades, serviços
e organizações relacionadas com os transportes marítimo
e fluvial. Dessa maneira, o navio mercante, a companhia
de navegação e os representantes marítimos fazem parte
desse Poder.

12
– A infra-estrutura hidroviária, incluindo-se os portos,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
os terminais, os meios e as instalações de apoio e controle.
Assim, todos os portos brasileiros fazem parte desse Poder.
– A indústria naval com seus estaleiros de construção e
reparos e setor de navipeças.
– A indústria bélica de interesse do aprestamento
naval.
– A indústria de pesca com suas embarcações, terminais
e indústrias de processamento de pescado.
– As organizações e os meios de pesquisa e desen- 2
Parte da arte da guerra que trata do planejamento
volvimento tecnológico de interesse para o uso do mar e águas e da realização de: a) projeto e desenvolvimento,
obtenção, armazenamento, transporte, distribuição,
interiores e de seus recursos, aí se incluindo as universidades reparação, manutenção e evacuação de material
(para fins operativos ou administrativos); b) recru-
e os centros de pesquisa voltados para o mar. tamento, incorporação, instrução e adestramento,
– As organizações e os meios de exploração (sondagem, designação, transporte, bem-estar, evacuação,
hospitalização e desligamento de pessoal; c) aquisi-
pesquisa, estudo) e explotação (retirada de recursos para fins ção ou construção, reparação, manutenção e ope-
ração de instalações e acessórios destinados a aju-
de utilização) dos recursos do mar, seu leito e subsolo, inclusive dar o desempenho de qualquer função militar;
d) contrato ou prestação de serviços.
as que operam embarcações de apoio offshore (movimento
terra para o mar).
– O pessoal que desempenha atividades relacionadas
com o mar e hidrovias interiores e os estabelecimentos
destinados à formação e ao treinamento.
– O Poder Naval.
O que seria esse elemento? Anote mais um conceito no
seu caderno de estudos.

Você deve ter notado que mostramos os elementos


constitutivos sem apresentar o nosso elemento militar.
Dessa maneira, o Poder Naval é o componente militar
do Poder Marítimo, capaz de atuar no mar e nas águas
interiores na conquista e manutenção dos objetivos
estabelecidos pelo Estado brasileiro. Pronto, parece que
conseguimos fechar todos os elementos, correto? Que tal
discutirmos um pouco mais o Poder Naval?
O Poder Naval compreende os meios navais,
aeronavais e de fuzileiros navais, as bases e posições de apoio,
suas estruturas de comando e controle, logística 2 e
administração, bem como as forças e os meios de apoio não
constitutivos da Marinha do Brasil, quando vinculados ao
cumprimento da missão da Marinha e submetidos a algum
tipo de orientação, comando ou controle de autoridade naval.
Podemos, assim, observar que um Poder Naval, para
ser eficaz, necessita ser capaz de atuar em grandes áreas, por
um período de tempo ponderável e nelas adotar atitudes tanto
defensivas quanto ofensivas, com aproveitamento de suas

13
características de mobilidade, permanência, versatilidade e

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
flexibilidade.
Vejamos o que significa cada uma dessas características.
A mobilidade representa a capacidade de deslocar-se
prontamente e a grandes distâncias, mantendo elevado nível
de prontidão em condições de emprego. Assim, quando uma
força naval se desloca rapidamente para uma área conflagrada
a característica por ela utilizada é a mobilidade.
A permanência indica a possibilidade de operar
continuamente por longos períodos em áreas distantes e de
grandes dimensões com independência.
A versatilidade permite regular o poder de destruição e
alterar a postura militar, mantendo a aptidão para executar
uma grande gama de tarefas. Um exemplo dessa característica
é a utilização de uma força naval como instrumento de
combate, ao mesmo tempo em que ela pode transformar-se
em instrumento da paz por meio de apoio a populações
atingidas por sinistros naturais, como furacões e tsunamis.
A última característica importante para um Poder Naval
com credibilidade é a flexibilidade, que pode ser sintetizada
pela capacidade de organizar grupamentos operativos de
diferentes valores, em função da missão recebida. Por
exemplo, um grupo de navios varredores pode limpar as minas
de um campo marítimo, assim como pode, devido ao seu
armamento, realizar uma patrulha no mar territorial
reprimindo a pesca ilegal.
Agora você já sabe o que é Poder Naval.
Com esses conceitos bem estabelecidos, a partir desse
momento você irá passear pela História Marítima Brasileira.
Inicialmente vamos investigar a História da Navegação,
abordando a evolução dos navios, dos instrumentos náuticos
e das chamadas cartas de marear.
Nos capítulos dois e três, discutiremos a expansão
marítima européia e o descobrimento do Brasil, abordando a
conjuntura político-social ibérica durante o chamado período
colonial brasileiro. Nesses capítulos serão descritos o
reconhecimento da costa brasileira pelos primeiros
navegadores que aqui chegaram, o envio de expedições
guarda-costas ao litoral da terra descoberta e a atuação de
invasores que atacaram em nossas costas. A reação a essas
incursões dependeu do emprego do Poder Naval português,
em alguns casos com apoio espanhol.

14
No capítulo quatro, iremos analisar a formação da

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Marinha Imperial e sua importância para o Brasil. Nesse
ponto discutiremos a transmigração da Família Real
portuguesa para o Brasil, devido à invasão dos exércitos
de Napoleão Bonaparte na Península Ibérica, com a
conseqüente abertura dos portos e a discussão das
questões de fronteira nas áreas das Guianas e da Banda
Oriental. Em seguida, será apresentada a Guerra da
Independência, sob o ponto de vista naval e suas repercussões
para a história do País.
O capítulo cinco discutirá a atuação da Marinha nos
conflitos internos e externos, abordando a Guerra
Cisplatina, as revoltas regenciais e a guerra contra Oribe e
Rosas. No capítulo seguinte, será apresentada a Guerra da
Tríplice Aliança contra o Governo do Paraguai, conflito
importante na história da Marinha do Brasil. Nessa parte
serão discutidas questões logísticas e estratégicas da guerra
e suas conseqüências para o Poder Naval brasileiro.
No capítulo sete, serão analisados o panorama político
que levou à República e a situação da Marinha durante
aquele episódio e, em seguida, discutidas questões relativas
à Marinha no final do século XIX e meados do XX –
incluindo nessa parte a atuação na Primeira Guerra Mundial,
a Marinha entre guerras e, por fim, a participação na
Segunda Guerra Mundial.
No capítulo oito, serão apresentadas considerações
sobre o emprego permanente do Poder Naval a partir da
Segunda Guerra Mundial e as principais tendências seguidas
pela Marinha até o final do século XX. Por fim, serão discutidas
as possibilidades de atuação do Poder Naval e os desafios
que se apresentam para o desenvolvimento de nosso Poder
Marítimo .

Comecemos a passear pela História Marítima com os


olhos da Marinha.

15
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Formação da Marinha Imperial Brasileira


Sinopse
1
O Decreto de Berlim, assinado em 1806, estabe- Emergindo das dificuldades do período revolucionário (1789-
lecia o bloqueio continental. Tratava-se de medidas
protecionistas, pelas quais países europeus associa-
1799), a França erguia-se perante a Europa aristocrática com o
dos e aliados à França deviam abster-se de importar “Grande Exército” chefiado por Napoleão Bonaparte. As notáveis
mercadorias inglesas. vitórias militares francesas subjugaram a maior parte do Velho
2
Pela Convenção Secreta de Londres, de 1807, Mundo e esse expansionismo teve repercussões intensas na própria
entre Inglaterra e Portugal, decidiu-se, dentre ou- América, abrindo caminho para a emancipação política das colônias
tras providências, a mudança da sede da monarquia
portuguesa para o Brasil e a assinatura de novo ibéricas.
tratado de comércio quando da sua chegada. As guerras napoleônicas (1804-1815) foram caracterizadas
3
Charruas e algumas fustalhas (embarcação com- por dois aspectos: o primeiro na luta de uma nação burguesa contra
prida e estreita, de pequeno calado, proa lançada e uma Europa aristocrática; e o segundo na luta entre França e
armada de esporão, dotada de 10 a 26 bancos de
remadores, mastro envergando vela bastarda, e Inglaterra. Com a derrota da Marinha francesa na Batalha de
tendal à popa). Trafalgar (1805) para a Marinha inglesa, muito superior, decide
4
A Força Naval era composta das Naus Príncipe Napoleão investir contra seus inimigos continentais (Áustria e
Real, Afonso de Albuquerque e Medusa, da Nau ingle- Prússia) e, ao tomar Berlim, iniciou guerra econômica à Inglaterra,
sa Bedford, da Fragata Urânia, do Bergantim Três
Corações e Transporte Imperador Alexandre.
estabelecendo em 1806 um “bloqueio continental”1. Os demais
Estados europeus foram concitados a aderir ao bloqueio, dentre
eles Portugal.
Portugal sempre manteve laços comerciais com a Inglaterra
e a sua não-adesão ao bloqueio2 foi determinante para a decisão
de sua invasão por Exército francês sob o comando do General
Junot. Ao saber da chegada do Exército invasor de Napoleão, o
Conselho de Estado com o Príncipe Regente D. João acordaram
na retirada para o Brasil de toda a Família Real.
A 29 de novembro de 1807, a Família Real embarca rumo
ao Brasil. O comboio de transportes que conduziu todo o aparato
(15.000 pessoas dentre militares e civis) era de 30 navios, e várias
embarcações3. Foi protegido por uma escolta inglesa composta
por 16 naus.
A 22 de janeiro de 1808, a Nau Príncipe Real, onde o Príncipe
Regente D. João encontrava-se embarcado, chegou à Bahia. A 28,
D. João proclamava a independência econômica do Brasil com a
publicação da famosa carta régia que abriu ao comércio estrangeiro
os portos do país; e a 7 de março de 1808 D. João, à testa de uma
força naval composta por três naus, um bergantim e um transporte4,
entrou na Baía de Guanabara. A bordo também vinham os

66
integrantes da Brigada Real da Marinha encarregados da artilharia

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
e da defesa dos navios.5
Vamos ver neste capítulo o que ocorreu quanto ao
estabelecimento da Marinha na Corte e a política externa de D.
João, caracterizada pela invasão da capital da Guiana Francesa,
Caiena, e a ocupação da Banda Oriental, atual Uruguai.
No campo interno veremos a Revolta Nativista de 1817,
movimento separatista ocorrido em Pernambuco, onde a Marinha
atuou na sua repressão, bloqueando o porto de Recife.
Com o retorno de D. João VI para Portugal, permaneceu no
Brasil seu filho D. Pedro, que passou a sofrer pressão vinda da
Corte de Portugal para que regressasse a Lisboa. Como 5
O desembarque no Rio de Janeiro da Brigada Real
da Marinha, em 7 de março de 1808, é considerado
conseqüência, temos o Dia do Fico (09/01/1822) e, posteriormente, o marco zero da história dos Fuzileiros Navais.
após novas pressões, D. Pedro proclama a nossa Independência.
Para concretizar a nossa Independência e levar a todos os
recantos do litoral brasileiro a notícia do dia 7 de setembro, foi
necessário organizar uma força naval capaz de atingir todas as
províncias, e fazer frente aos focos de resistência à nova ordem.

Vamos, então, iniciar esta viagem.....

Embarque da Família Real


óleo s/tela de Francisco Bartolozzi
Acervo do Museu Histórico Nacional

67
A vinda da Família Real

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
A Corte no Rio de Janeiro

Junto com a Família Real


todo o aparato burocrático e
administrativo foi transferido
para o Rio de Janeiro. Dentre
as primeiras decisões de D.
João, já no dia 11 de março de
6
Salvo o Conselho Supremo, o Arquivo, a Conta-
1808, está a instalação do
doria e a Fábrica de Pólvora, as demais repartições Ministério dos Negócios da
citadas eram verdadeiros desdobramentos das já
existentes em Portugal.
Marinha e Ultramar, q u e
continuou a ter o mesmo Desembarque da corte portuguesa no
Rio de Janeiro, 7 de março de 1808.
O primeiro estaleiro organizado oficialmente foi a regulamento instituído pelo
7

Ribeira das Naus de Salvador, depois Arsenal de Óleo sobre tela de Miranda Júnior.
Marinha da Bahia, fundado no final do século XVI. Alvará de 1736.
Apesar das dificuldades, o estaleiro de Salvador A seguir, foram sucessivamente criadas ou estabelecidas várias
desenvolveu-se rapidamente, tornando-se o mais
importante centro de construção naval do Brasil repartições necessárias ao funcionamento do Ministério da Marinha,
durante todo o período colonial, e mesmo até me- tais como: Quartel-General da Armada, Intendência e Contadoria,
ados do século XIX. Além de Salvador e do Rio de
Janeiro, a construção naval desenvolveu-se também Arquivo Militar, Hospital de Marinha, Fábrica de Pólvora e Conselho
em vários outros pontos do nosso litoral: Belém, Supremo Militar6.
Recife, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, São Paulo
e Santa Catarina; sendo que os de Recife e Belém A Academia Real de Guardas-Marinha, que também
existiram como arsenais de Marinha. acompanhou a Família Real, teve sua instalação nas dependências
do Mosteiro de São Bento, se tornando desta feita o primeiro
estabelecimento de ensino superior no Brasil.
No tocante à infra-estrutura já existente no Rio de Janeiro,
observamos que o Arsenal Real da Marinha, localizado então ao
pé do morro do Mosteiro de São Bento, cuja criação data de 29
de dezembro de 1763, teve sua capacidade ampliada para poder
apoiar a recém-chegada Esquadra7.

Política externa de D. João e a atuação


da Marinha: a conquista de Caiena e a
ocupação da Banda Oriental
Diante da invasão do território continental português pelas
tropas do General Junot, D. João assinou, a 1o de maio de 1808,
manifesto declarando guerra à França, considerando nulos todos
os tratados que o imperador dos franceses o obrigara a assinar,
principalmente o de Badajós e de Madri, ambos de 1801, e o de
neutralidade, de 1804. Os limites entre o Brasil e a Guiana Francesa
voltaram a ser questionados.
Como a guerra não poderia ser levada a cabo no território
europeu, e sendo importante a ocupação de território inimigo em
qualquer guerra, o objetivo ideal se tornou a colônia francesa.

68
Determinou então a Corte ao Capitão-General da Capitania do

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Grão-Pará, Tenente-Coronel José Narciso Magalhães de Meneses,
que ocupasse militarmente as margens do Rio Oiapoque. Ordem
recebida, tratou de arregimentar pessoal e material, se valendo
inclusive (diante dos escassos recursos existentes nos cofres da
capitania) de subscrição popular.
Em outubro de 1808, a força estava pronta. Sob o comando
do Tenente-Coronel Manuel Marques d’Elvas Portugal, compunha-
se de duas companhias de granadeiros, duas companhias de
caçadores e uma bateria de artilharia, totalizando 400 homens com
armas. Para conduzir essa força ao lugar de destino, aprestou-se
uma esquadrilha composta por dez embarcações8. A 3 de 8
Escuna General Magalhães (capitânia); Cúteres Vin-
gança e Leão; três barcas-canhoneiras; Sumaca Ninfa;
novembro, a esquadrilha foi acrescida de três navios vindos da dois obuseiros; Iate Santo Antônio; e a Lancha São
Corte: Corveta inglesa Confidence (comando do Capitão-de-Mar- Narciso.

e-Guerra James Lucas Yeo) e Brigue Voador (comando do Capitão- 9


O Almirante Luís da Cunha Moreira teve carreira
Tenente José Antônio Salgado), Brigue Infante D. Pedro (comando brilhante, sendo após a proclamação da Indepen-
dência nomeado Ministro da Marinha, se tornando
do Capitão-Tenente Luís da Cunha Moreira)9. Juntos traziam um portanto o primeiro ministro brasileiro nato da nos-
reforço de 300 homens. Tinham ordens de ocupar o território sa Marinha. Em Caiena, praticamente seu batismo
de fogo, se destacou em combate, sendo ferido
da Guiana Francesa e submeter Caiena. por golpe de sabre, cuja cicatriz o acompanhou por
toda vida.

Invasão de Caiena, 1808-1809


Óleo sobre tela de Álvaro Martins

A 1o de dezembro, desembarcaram as nossas tropas no


território inimigo, ficando o comando da expedição assim
repartido: o Tenente-Coronel Manuel Marques dirigiria as forças
terrestres; os navios ficariam sob as ordens do Comandante Yeo.
Este, com os navios menores (os demais foram bloquear Caiena
por mar), subiu o Oiapoque e foi dominando, sem maior resistência,
os pontos fortificados que ia encontrando. Quatro escunas
francesas foram aprisionadas, incorporadas e rebatizadas de
Lusitana, D. Carlos, Sydney Smith e Invencível Meneses.

69
O governador de Caiena, Victor Hughes, tratou, em vão, de

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
preparar a resistência, levantando baterias, fortificando os melhores
pontos estratégicos e guarnecendo os fortes. As forças de ataque
foram ganhando terreno, apertando cada vez mais o cerco à capital
Caiena, até sua rendição final, a 12 de janeiro de 1809. A importância
dessa operação recai na condição de ter sido o primeiro ato
consistente de política externa de D. João realizada por meio
militar, contando com forças navais e terrestres anglo-luso-brasileira.
A ocupação portuguesa da Guiana Francesa durou mais de
oito anos. Embora temporária, foi de grande valia para a fixação
dos limites do País, porquanto, na ocasião de sua devolução, em
10
De Portugal veio uma Divisão de Voluntários
Reais, sob o comando do Tenente-Coronel Carlos 1817, ficaram tacitamente estabelecidos os limites do Oiapoque.
Frederico Lecor, embarcados em dez navios. O
comboio, que entrou no Rio de Janeiro no dia 30 de
março de 1816, trazia a última tropa de Lisboa. A Banda Oriental
11
José Gervásio Artigas se intitulava Chefe dos
Orientais e Protetor dos Povos Livres. Outro movimento importante de D. João na política externa
foi a ocupação da Banda Oriental. Na operação, foi de grande
12
Fragatas Graça e Príncipe Real, Charrua
Voador, Brigues Lebre, Providente e Atrevido.
importância o papel que desempenhou a Marinha, não só no
transporte das tropas, desde Portugal10 (já liberado do domínio
francês), como também em todo o desenrolar da ocupação.
O movimento de independência da América espanhola
provocou o aparecimento de novas nações americanas, cada qual
com lideranças individuais. Foi o caso do Uruguai, então chamado
de Banda Oriental, que se recusava a fazer parte das Províncias
Unidas do Rio da Prata, encabeçada por Buenos Aires. Seu líder
José Gervásio Artigas11 arregimentou as camadas populares contra
o domínio espanhol e para o ideal da anexação promovido por
Buenos Aires. Neste intento invadiu as fronteiras portenhas e
brasileiras, o que ocasionou o acordo entre as duas últimas para
uma ação conjunta contra Artigas.
A 12 de junho de 1816, partiu do Rio de Janeiro uma Divisão
Naval, composta de uma fragata, uma corveta, cinco naus (das
quais uma era inglesa e outra francesa) e de seis brigues, capitaneada
pela Nau Vasco da Gama, onde achavam-se embarcados o Chefe-
de-Divisão Rodrigo José Ferreira Lobo, responsável pelas atividades
navais da expedição, e o Tenente-Coronel Carlos Frederico Lecor,
então nomeado Governador e Capitão-General da Praça e
Capitania de Montevidéu.
A Divisão Naval foi se
reunir com o 1o Escalão,
c o m p o s t o p o r seis na-
vios12, que já havia seguido
para Santa Catarina em
janeiro.
Aportando a Divisão
na Ilha de Santa Catarina a Embarque na Praia Grande
26 de junho, decidiu Lecor Fonte: O Exército na História do Brasil:
Reino Unido e Império
seguir por terra com sua

70
tropa para o Rio Grande do Sul e, então, iniciar a invasão, visto que

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
as condições climáticas só eram favoráveis à navegação no Rio
da Prata em outubro. Seguiu então à frente dos seus 6 mil
comandados, margeando o mar até as proximidades de
Maldonado. A Esquadra, por sua vez, rumou em direção ao Rio
da Prata, devendo antes estacionar naquele porto.
Do Rio de Janeiro, a 4 de agosto, partiu nova flotilha,
composta por quatro navios 13 com a missão de operar em
combinação com a Divisão dos Voluntários Reais. A 22 de
novembro de 1816, deu-se o desembarque em Maldonado pelas
forças navais de Rodrigo José Ferreira Lobo. Com a ocupação do 13
Era composta da Corveta Calipso (capitânia), sob
cidade, e a vitória pelas forças terrestres em Índia Morta, o caminho o comando do Capitão-de-Mar-e-Guerra D. José
para Montevidéu ficou livre. Lecor encontrava-se acampado no Manuel de Meneses; Escuna Tártara, comando do
Primeiro-Tenente Vitorino A. J. Gregório; Brigue
passo de São Miguel, quando recebeu uma deputação de Real Pedro, comando do Segundo-Tenente José da
Montevidéu que apresentou-lhe as chaves da cidade e seu Costa Couto; e Transporte Patrimônio, comando do
Mestre Antonio Francisco Firmo.
submisso respeito e completa adesão ao governo de D. João VI.
Nessa época, o governo das Províncias do Rio da Prata não 14
Também nos portos de Buenos Aires e de
Baltimore (EUA), armaram-se a princípio muitos
mais apoiava a intervenção armada do Brasil na Banda Oriental, corsários contra nós; porém devido a reclamações
deixando-nos em campo sozinhos. do governo português, tal irregularidade cessou.
Não foi imediata a completa submissão da Banda Oriental.
Ainda por alguns anos, fez José Artigas tenaz resistência à
dominação portuguesa, até sua derrota final na Batalha de
Taquarembó, a 22 de janeiro de 1820.
Durante esse período, os partidários de Artigas valiam-se de
corsários que, com base na Colônia de Sacramento14, ocasionavam
grandes prejuízos ao comércio de nossa Marinha Mercante. Com
recursos navais reduzidos para liquidar a nova ameaça, o comando
português empregou tropas terrestres para tentar destruir as bases
inimigas. Assim, o Tenente-Coronel Manuel Jorge Rodrigues,
auxiliado por forças navais, atacou e conquistou Colônia, Paissandu
e outros locais às margens do Uruguai, tendo em Sacramento
conseguido aprisionar vários corsários que aí se encontravam.
Para as operações realizadas no Rio Uruguai, foi constituída
uma pequena flotilha, sob o comando do Capitão-Tenente Jacinto
Roque Sena Pereira, formada pela Escuna Oriental e Barcas Cossaca,
Mameluca e Infante D. Sebastião. Esta flotilha prestou auxílio
inestimável às forças de terra, tanto na tomada de Arroio de La
China, quanto na tomada de Calera de Barquin, Perucho Verna e
Hervidero. Em Perucho Verna, doze embarcações inimigas, uma
lancha artilhada e um escaler foram apresados.
No mar, o último episódio em que a força naval atuou,
ocorrido em 15 de junho de 1820, foi o aprisionamento do corsário
General Rivera, com a recuperação dos mercantes Ulisses e
Triunfantes, pela Corveta Maria da Glória, comandada pelo Capitão-
de-Fragata Diogo Jorge de Brito.
A 31 de julho de 1821, em assembléia formada por deputados
representantes de todas as localidades orientais, foi aprovada por

71
unanimidade a incorporação da Banda Oriental à Coroa portuguesa,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
fazendo parte do domínio do Brasil com o nome de Província
Cisplatina.

Situação geral inicial da guerra com Artigas


e a marcha de Lecor ao longo da Costa.
Fonte: O Exército na História do Brasil:
Mapas, Esquemas e Esboços

72
A Revolta Nativista de 1817

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
e a atuação da Marinha

Em paralelo ao que ocorria no Sul, teve a Corte que se


mobilizar para fazer frente ao movimento separatista que eclodiu
em Pernambuco, em março de 1817.
As primeiras providências para o restabelecimento da ordem
legal em Pernambuco foram tomadas pelo Conde dos Arcos,
Governador da Bahia, que fez armar em guerra alguns navios
mercantes, e mandou seguir para Pernambuco sob o comando do
Capitão-Tenente Rufino Peres Batista. A esquadrilha era composta
15
Corveta Carrasco, Brigue Mercúrio e uma
por três navios15, e tinha como missão o bloqueio do porto do escuna.
Recife.
Brigues Benjamin, comando do Capitão-Tenente
A 2 de abril partiu da Corte uma Divisão sob o comando do
16

Fernando José Melo; e Aurora, comando do Capi-


Chefe-de-Esquadra Rodrigo José Ferreira Lobo, composta por três tão-de-Fragata José Felix Pereira de Campos; e
navios16, enquanto que da Bahia seguiram por terra dois regimentos pela Escuna Maria Teresa, comando do Capitão-
Tenente Nuno José de Sousa Manuel de Melo.
de cavalaria e dois de infantaria. A 4 de maio outra Divisão Naval,
sob o comando do Chefe-de-Divisão Brás Caetano Barreto Era constituída pela Nau Vasco da Gama (capitânia),
17

e dos transportes Santiago Maior, comando do Ca-


Cogomilho, partiu do Rio de Janeiro17. pitão-Tenente José de Oliveira; Almirante, comando
O cerco da cidade de Recife por terra e o bloqueio efetuado do Segundo-Tenente Luís Antonio Ribeiro; Harmo-
nia, comando do Primeiro-Tenente Isidoro da Cos-
por mar fizeram com que os rebeldes abandonassem a cidade a ta Chaves; Feliz Eugenia, comando do Segundo-
20 de maio, dando fim ao movimento separatista. Tenente Francisco José Damásio; Joaquim Guilher-
me, comando do Capitão Bernardo José Carreirão;
Olímpia, comando do Capitão-Tenente José

Guerra de Independência Domingues; Ateneu, comando do Primeiro-Tenente


Estevão do Vale; Bela Americana, comando do Pri-
meiro-Tenente Cipriano J. Pires; e Bonfim, coman-
do do Segundo-Tenente José da Fonseca Figueiredo.
Elevação do Brasil a Reino Unido Mais tarde a Divisão foi acrescida da Fragata Pérola,
comando do Capitão-Tenente José Maria Monteiro.

Do mesmo modo que a transferência para o Brasil da sede 18


Pacto Colonial foi o nome dado às relações entre
do reino português foi motivada pela ameaça representada pelo a metrópole e a colônia, que implicavam sempre na
subordinação da segunda à primeira. O pacto colo-
expansionismo francês na Europa, seria esperado o retorno do nial implicava que todo o comércio dos produtos
Rei D. João VI a Lisboa e a restauração do pacto colonial18 após produzidos na colônia só poderia ser feito com a
metrópole. De maneira inversa, todos os produtos
a paz européia. Com a queda de Napoleão e o movimento de que os colonos quisesse importar só poderia ser
restauração das monarquias absolutistas encabeçado pelo vendido pela metrópole, isto se chama monopólio
comercial ou exclusivismo mercantil.
Congresso de Viena19, os portugueses esperavam que seu rei
retornasse para Portugal e trouxesse a Corte de volta para Lisboa. 19
O Congresso de Viena (1814-1815) foi a reunião
dos representantes dos países que derrotaram a
Entretanto, o monarca permaneceu no Rio de Janeiro e, para França de Napoleão para restaurar a organização
viabilizar esta situação, elevou o Brasil a uma condição equivalente política dos países da Europa afetados pela Revolu-
ção Francesa e pela invasão das tropas de Napoleão.
de Portugal com a formação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Os principais objetivos dos representantes das gran-
Algarves. des potências que derrotaram a França (Inglaterra,
Prússia, Áustria e Rússia) era refazer o mapa políti-
Enquanto os comerciantes e fazendeiros brasileiros co europeu, promovendo a volta do Antigo Regime,
desfrutavam do afrouxamento dos laços coloniais, a sociedade e das monarquias absolutistas derrubadas por
Napoleão.
portuguesa via-se deixada em segundo plano, com o território
luso sendo administrado por uma junta sob controle de um
militar britânico.

73
O retorno de D. João VI

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
para Portugal

Tal estado de “abrasileiramento” da monarquia portuguesa,


somado ao clamor por uma flexibilização do absolutismo vindo de
setores da sociedade portuguesa, fez estourar na Cidade do Porto
um movimento revolucionário liberal. Logo a revolução se espalhou
por todo o Portugal, fomentando a instalação de uma Assembléia
Nacional Constituinte denominada de “Cortes”, que visava a
instaurar uma monarquia Constitucional. O estado revolucionário
da antiga metrópole provocou o retorno do Rei em 26 de abril de
1821, deixando seu filho D. Pedro como Príncipe Regente. Tentava,
assim, a dinastia de Bragança manter sob controle, e longe dos
ventos liberais, as duas partes de seu reino.
Mesmo com o retorno do Rei, as Cortes reunidas em Lisboa
mantiveram-se atuantes na imposição de uma monarquia
constitucional a D. João VI. Contudo, o posicionamento das Cortes
em relação ao Brasil era completamente contrário ao seu discurso
Bandeira do Reino Unido de Portugal, Brasil
e Algarves
liberal: vinha no sentido de reativar a subordinação política e
econômica posterior a 1808, reerguendo o pacto colonial. A
oposição que as Cortes faziam à dinastia de Bragança em Portugal
e suas crescentes imposições ao Príncipe Regente provocaram
reações de D. Pedro. Em 9 de janeiro de 1822, no que ficou
conhecido como Dia do Fico, D. Pedro declarou que permaneceria
no Brasil apesar da determinação das Cortes para que retornasse
a Lisboa. Concomitantemente, o Príncipe nomeou um novo
Gabinete de Ministros, sob a liderança de José Bonifácio de Andrada
e Silva, que defendia a emancipação do Brasil sob uma monarquia
constitucional encabeçada pelo Príncipe Regente.
A pressão das Cortes pela restauração do pacto colonial com
o conseqüente esvaziamento das suas atribuições de regente
levaram D. Pedro a defender a autonomia brasileira perante a
restauração da condição de colônia pretendida pelas Cortes.

A Independência
Princesa D. Leopoldina, esposa de D. Pedro, Em 7 de setem-
investida das funções de Princesa Regente do
Brasil, reúne o Conselho de Estado em 2 de
bro de 1822, o Príncipe
setembro de 1822 e ouve de José Bonifácio de D. Pedro declarava a
Andrada e Silva os argumentos pela imediata
proclamação da Independência do Brasil.
Independência do Brasil.
Motivada por esta reunião,a princesa teria Porém, só as províncias
enviado a carta que, lida às margens do Ipiranga,
levou D. Pedro ao definitivo rompimento com
do Rio de Janeiro, São
Lisboa. Paulo e Minas Gerais
Óleo sobre tela de Georgina de Albuquerque.
Acervo do Museu Histórico Nacional.
atenderam de imediato
à conclamação emanada
das margens do Ipiranga.

74
Até pela proximidade

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
geográfica, estas manti-
veram-se fiéis às decisões
emanadas do Paço 20
mesmo após a partida de
D. João VI. As capitais das
províncias ao Norte do
País mantiveram sua li-
gação com a metrópole,
pois as peculiaridades da
navegação a vela e a falta
de estradas as punham 20
Paço Imperial foi a sede administrativa
mais próximas desta do do governo durante o período do reinado de
que do Rio de Janeiro. D. João VI e por todo o Império, localiza-se na
Praça XV de Novembro, no centro da cidade
Mormente o expressivo do Rio de Janeiro.

Retrato do Imperador D. Pedro I, cuja coroação


número de patriotas no
ocorreu em 1 de dezembro de 1822.
o interior destas províncias,
Óleo sobre tela de Manoel de Araújo Porto-Alegre. nas capitais e nas poucas
Acervo do Museu Histórico Nacional.
Fonte: http://www.museuhistóriconacional.com.br principais cidades, a elite
de comerciantes era
majoritariamente por-
tuguesa e adepta da restauração colonial realizada pelo movimento
liberal português. Durante a “queda-de-braço” empreendida entre
as Cortes e D. Pedro, foram reforçadas as guarnições militares Paço Imperial
das províncias do Norte e Nordeste para manter a vinculação Fonte: http://portal.iphan.gov.br

com Lisboa.
A resistência mais forte estava justamente em Salvador,
Bahia, onde essa guarnição era mais numerosa. No sul, a recém-
incorporada Província Cisplatina viu as guarnições militares que lá
ainda estavam dividirem-se perante a causa da Independência,
enquanto o comandante das tropas de ocupação, General Carlos
Frederico Lecor, colocou-se ao lado dos brasileiros, seu
subcomandante, D. Álvaro da Costa de Souza Macedo, e a maior
parte das tropas defenderam o pacto com Lisboa.
A situação que se descortinava no Brasil parecia cada vez
mais desfavorável ao processo de Independência. Mesmo que as
forças brasileiras, constituídas de militares e milícias patrióticas
forçassem e sitiassem as guarnições portuguesas, o mar era uma
via aberta para o recebimento de reforços. Por esta via, Portugal
aumentou sua força com tropas, suprimentos e navios de guerra à
guarnição de Salvador comandada pelo Governador das Armas da
Província Brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo.

A Formação de uma Esquadra Brasileira

O governo brasileiro, por intermédio de seu Ministro do


Interior e dos Negócios Estrangeiros José Bonifácio de Andrada e
Silva, percebeu que somente com o domínio do mar conseguiriam

75
manter a unidade territorial brasileira, pois eram por meio do mar

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
que as províncias litorâneas, onde estava concentrada a maior parte
da população e da força produtiva brasileira, se interligavam e
comercializavam seus produtos. A rápida formação de uma Marinha
de Guerra nacional constituía-se no melhor meio de transportar
e concentrar tropas leais e suprimentos para as áreas de embate
com os portugueses.
Este conjunto de navios de guerra, a Esquadra, impediria que
chegassem aos portos das cidades brasileiras ocupadas pelos
portugueses os reforços que Portugal enviasse, interceptando e
combatendo os navios que os trouxessem. Privando as guarnições
O conceito de dissuasão será exposto no
21
portuguesas de mais soldados e armas vindos por mar, as
Capítulo VIII – O Emprego Permanente do
Poder Naval. bombardeando com canhões embarcados e transportando
soldados brasileiros para reforçar os patriotas que lutavam
contra os portugueses no interior, a Marinha Brasileira contribuiu
para a Independência do Brasil, permitindo que do território da
colônia portuguesa na América emergisse um só país, com um
grande território.
O nascimento da Marinha Imperial, portanto, se deu nesse
regime de urgência, aproveitando os navios que
tinham sido deixados no porto do Rio de Janeiro
pelos portugueses, que estavam em mal estado de
conservação, e os oficiais e praças da Marinha
portuguesa que aderiram à Independência. Os navios
foram reparados em um intenso trabalho do Arsenal
de Marinha do Rio de Janeiro e foram adquiridos
outros, tanto pelo governo como por subscrição
pública. E as lacunas encontradas nos corpos de
oficiais e praças foram completadas com a
contratação de estrangeiros, sobretudo experientes
remanescentes da Marinha inglesa. A
necessidade de se dispor da Força Naval como
Nau Pedro I. um eficiente elemento operativo e como um fator de
Navio capitânia da primeira Esquadra do Brasil
independente. Exemplo maior dos vários navios dissuasão 21para as pretensões de reconquista portuguesa fez com
da Marinha portuguesa que se encomtravam no que o governo imperial brasileiro contratasse Lorde Thomas
porto do Rio de Janeiro em mal estado de
conservação e foram reparados pelo Arsenal de Cochrane, um brilhante e experiente oficial de Marinha inglês,
Marinha da Corte (Arsenal de Marinha do Rio de como Comandante-em-Chefe da Esquadra.
Janeiro). Na Marinha Portuguesa era nomeada
Martin de Freitas e fez parte da Esquadra que
transportou a Família Real para o Brasil em Operações Navais
1808.
Óleo sobre tela de Eduardo de Martino
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha. A 1o de abril de 1823, a Esquadra brasileira comandada por
Cochrane, deixava a Baía de Guanabara com destino à Bahia, para
bloquear Salvador e dar combate às forças navais portuguesas que
lá se concentravam sob o comando do Chefe-de-Divisão Félix dos
Campos. A primeira tentativa de dar combate aos navios
portugueses foi desfavorável à Cochrane, tendo enfrentado, além
do inimigo, a indisposição para luta dos marinheiros portugueses
nos navios da Esquadra, muitos dos quais guarneciam os canhões
com uma inabilidade próxima ao motim. Depois de reorganizar

76
suas forças e expurgar os elementos desleais, e a despeito das

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Forças Navais portuguesas, Cochrane colocou Salvador sob
bloqueio naval, capturando os navios que provinham o
abastecimento da cidade, que já se encontrava sitiada por terra
pelas forças brasileiras.
Pressionados pelo desabastecimento, as tropas portuguesas
abandonaram a cidade em 2 de julho, em um comboio de mais de
70 navios, escoltados por 17 navios de guerra. Este foi
acompanhado e fustigado pela Esquadra brasileira, destacando-se
a atuação da Fragata Niterói, comandada pelo Capitão-de-Fragata
John Taylor, que, apresando vários navios, atacou o comboio
português até a foz do Rio Tejo.

Primeira Esquadra do Brasil independente,


capitaneada pela Nau Pedro I que largou do
Rio de Janeiro em 1o de abril de 1823
com destino à Bahia.
Aquarela do Almirante Trajano Augusto de
Carvalho.
Acervo do Serviço de Documentação da
Marinha.

Fragata Niterói persegue os navios


portugueses que se retiram da Bahia.
Aquarela do Almirante Trajano Augusto de
Carvalho.
Acervo do Serviço de Documentação da Lorde Thomas Cochrane, Conde de Dundonald
Marinha (Grã-Bretanha) e Marquês do Maranhão (Brasil),
comandante da Esquadra Brasileira na Guerra
da Independência.
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

O próximo passo para expulsão dos portugueses do


Norte-Nordeste brasileiro era o Maranhão, onde Cochrane,
utilizando-se de um hábil ardil, fez da Nau Pedro I, sua capitânia,
a ponta de lança de uma grande força naval que viria próxima,
transportando um vultoso Exército nacional que tomaria São
Luís. Porém, tudo não passava de um blefe para levar a
deposição da Junta Governativa que se mantinha fiel à Lisboa, o
que aconteceu em 27 de julho de 1823.
Seguiu-se a utilização do mesmo ardil no Grão-Pará,
conduzido pelo Capitão-Tenente John Pascoe Grenfell, no comando
do Brigue Maranhão. Tais estratagemas, que conduziram a aceitação
da Independência brasileira pelas elites formadas em sua maioria
de portugueses em São Luís e em Belém, não se deram tão
facilmente como um vislumbre superficial do evento histórico

77
permite concluir, a luta pelo poder provincial entre brasileiros e

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
portugueses recém-adeptos da Independência levou que o
contingente da Marinha naquelas cidades atuasse tanto num
sentido apaziguador, mesmo diplomático, como trazendo a
ordem pela força das armas.
As operações navais na Cisplatina assemelharam-se às
realizadas na Bahia, sendo empreendido um bloqueio naval
conjugado com um cerco por terra a Montevidéu, isolando as
tropas portuguesas comandadas por D. Álvaro Macedo. Em março
de 1823, a Força Naval no Sul, comandada pelo Capitão-de-Mar-
e-Guerra Pedro Antônio Nunes, foi reforçada com a chegada de
navios vindos do Norte-Nordeste do Império, a tempo de se opor
à tentativa portuguesa de romper o bloqueio em 21 de outubro. A
batalha que se seguiu, embora violenta, terminou sem a vitória de
nenhum dos oponentes, mas configurou-se como uma vitória
estratégica das forças brasileiras com a manutenção do bloqueio.
O desabastecimento provocado pelo bloqueio e pelo cerco por
terra, somado a desalentadora notícia
que Montevidéu era a última resistência
GUERRA DE INDEPENDÊNCIA
Deslocamento das Forças Navais brasileiras
portuguesa na ex-colônia, provocou a
que possibilitou a expulsão das forças portuguesas evacuação do contingente português da
Cisplatina em novembro de 1823.

Confederação do Equador
Ainda no reinado de D. Pedro I, uma
revolta na Província de Pernambuco
colocou em perigo a integridade territorial
do Império. A Marinha atuou contra a
Confederação do Equador a partir de abril
de 1824, que congregou, no seu ápice,
também as províncias da Paraíba, Rio
Grande do Norte e Ceará. Porém, o
aumento do combate à revolta só se deu
com o envio da Força Naval comandada
por Cochrane, onde foi embarcada a 3a
Brigada do Exército Imperial, com 1.200
homens, comandada pelo Brigadeiro
Francisco Lima e Silva. As tropas foram
desembarcadas em Alagoas e seguiriam
por terra para a província rebelada;
enquanto a Força Naval alcançou Recife
em 18 de agosto de 1824, instituindo
severo bloqueio naval. Com a Marinha e
o Exército atuando conjuntamente, as
forças rebeldes de Recife foram
derrotadas em 18 de setembro.

78
C R O N O L O G I A
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

DATA EVENTO

29/11/1807 Saída de Lisboa da Família Real.


22/01/1808 Chegada da Família Real em Salvador.
29/01/1808 Abertura dos portos ao comércio estrangeiro.
07/03/1808 Chegada da Família Real ao Rio de Janeiro.
Desembarque da Brigada Real de Marinha no Rio de Janeiro,
marco zero da história dos Fuzileiros Navais.
11/03/1808 Instalação do Ministério dos Negócios da Marinha e Ultramar no Rio de Janeiro.
01/05/1808 D. João assina manifesto declarando guerra à França.
01/12/1808 Desembarque das tropas luso-brasileiras em território da Guiana
Francesa.
12/01/1809 Caiena, capital da Guiana Francesa se rende.
12/06/1816 Saída da Divisão Naval para a Banda Oriental.
22/11/1816 Desembarque em Maldonado.
02/04/1817 Parte da Corte a Divisão Naval com a missão de bloquear Recife,
durante a Revolta Nativista de 1817.
20/05/1817 Fim do movimento nativista de Pernambuco.
26/04/1821 Regresso de D. João VI para Portugal.
31/07/1821 Incorporação da Banda Oriental à Coroa de Portugal.
09/01/1822 Dia do Fico, o Príncipe Regente D. Pedro declara que não
obedecerá às determinações das Cortes portuguesas e que permanecerá
no Brasil.
07/09/1822 Independência do Brasil.
10/11/1822 Primeira vez em que é içada a Bandeira Imperial em navio da nova Esquadra.
Aniversário da Esquadra.

79
DATA EVENTO

01/04/1823 A Esquadra brasileira, sob o comando do Primeiro-Almirante Cochrane,


deixou o porto do Rio de Janeiro rumo à Bahia.
02/07/1823 Larga do porto de Salvador comboio de navios levando as tropas
portuguesas para Portugal.
27/07/1823 Adesão à causa da Independência pela Província do Maranhão.
15/08/1823 Adesão à causa da Independência pela Província do Grão-Pará.
21/10/1823 Tentativa de rompimento do bloqueio naval brasileiro pelos navios fiéis
a Portugal estacionados na Província Cisplatina. Vitória estratégica da
Força Naval brasileira.
18/11/1823 Capitulação de Montevidéu e retirada das tropas portuguesas da
Província Cisplatina.
18/09/1824 As forças rebeldes de Recife foram derrotadas.

FIXAÇÃO

1- O que motivou a vinda da Família Real para o Brasil?


2- Quais foram as duas ações iniciais de política externa empreendida por D. João?
3- Do que se tratou a Revolta de 1817 e qual atuação da Marinha nesse episódio?
4- Proclamada a Independência, como o novo governo resolveu a questão
da falta de pessoal para guarnecer os navios?
5- Na sua opinião, qual a relação de uma Marinha forte no período em estudo e
a extensão do litoral brasileiro ?

80
SAIBA MAIS

ALBUQUERQUE, Antonio Luiz Porto e. História do Brasil. Rio de Janeiro: Serviço de


Documentação da Marinha, 1985.

DIEGUES, Fernando. A revolução brasílica: o projeto e a estratégia da Independência. Rio de


Janeiro: Objetiva, 2004.

HISTÓRIA geral do Brasil. Org. de Maria Yedda Linhares. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1990.

HISTÓRIA naval brasileira. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 1975- . v.2.
t.2. e v.3. t.1.

MAIA, João do Prado. A Marinha de Guerra do Brasil na colônia e no império: (tentativa de


reconstituição histórica). Rio de Janeiro: J. Olympio, 1965.

PÁGINAS NA INTERNET

Museu Histórico Nacional: http://www.museuhistoriconacional.com.br/


Museu do Primeiro Reinado: http://www.sec.rj.gov.br/webmuseu/mpr.htm
Centro de Informações de História do Brasil – Educação MultiRio: http://
www.multirio.rj.gov.br/historia/index.html
Biblioteca Virtual sobre História do Brasil – Grupo de Estudos da História do Brasil:
http://br.geocities.com/grupohistoriadobrasil/Biblioteca.htm
História do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro: http://www.mar.mil.br/amrj/historia
historia.html
Marinha do Brasil: http://www.mar.mil.br
Serviço de Documentação da Marinha: http://www.sdm.mar.mil.br

81
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A Atuação da Marinha nos Conflitos


da Regência e do Início do Segundo Reinado
Sinopse
1
A constituição de 1824 tinha como principal carac- A peculiar Independência brasileira, que pôs à frente do
terística a criação do Poder Moderador (exercido
exclusivamente por D. Pedro I, que podia dissolver processo de emancipação da ex-colônia o herdeiro do trono real
a Câmara dos Deputados, convocar as Forças Ar- português, produziu uma divisão na política brasileira que marcaria
madas e nomear ministros, presidentes de provín-
cias, senadores e juízes), que tinha o direito de
o reinado de D. Pedro I: a separação entre brasileiros, liberais, que
intervir nos outros três poderes: Executivo, defendiam a monarquia constitucional, e portugueses, que propunham
Legislativo e Judiciário.
a concentração de poder nas mãos do Imperador.
2
Esta divisão entre o Imperador e o Partido Portu- O Imperador D. Pedro I tornava-se cada vez mais autoritário,
guês contra o Partido Brasileiro se tornou mais buscando o apoio da facção dos portugueses que defendiam maior
radical pela crise econômica que o Brasil tinha en-
trado logo no começo de sua história como Estado poder ao monarca. Já a facção dos brasileiros queria que o poder
autônomo, causada pelos gastos com o reconheci- do Estado brasileiro fosse dividido entre o Imperador e a Assembléia
mento da Independência e com a guerra empreen-
dida pela posse da Província Cisplatina, da qual tra-
Legislativa, constituída de representantes eleitos da sociedade, que
taremos mais tarde.- redigiria a Carta Constitucional e faria as leis. Ou seja, defendiam
que a monarquia de D. Pedro fosse uma monarquia constitucional.
3
Os donos das casas comerciais que tratavam do
movimento de produtos importados e exportados A Assembléia Constituinte foi reunida, em maio de 1823,
pelos portos brasileiros eram, em sua maioria, por- para redigir a primeira Constituição brasileira. A maioria dos
tugueses de nascimento. Esses estabelecimentos
intermediavam a exportação da produção agrícola
deputados constituintes queria uma Constituição que limitasse os
das grandes propriedades, como o algodão e o açú- poderes do Imperador. Tal fato desagradava D. Pedro e os
car. Também eram os intermediários na importa- homens que o apoiavam, já que o monarca queria no Brasil
ção da mão-de-obra que trabalhava nas plantações;
os escravos trazidos da África. uma monarquia absolutista.
O conflito entre D. Pedro e os deputados constituintes
acabou quando o Imperador dissolveu a Assembléia Constituinte
em 1823. Em seguida, nomeou um Conselho de Estado composto
por dez membros, com a tarefa de redigir um projeto de
Constituição. Resultando na imposição uma Constituição,
outorgada em 1824, que praticamente resgatava o regime
absolutista1. A atitude autoritária do Imperador aumentou em muito
a oposição liberal a ele, representada pelo Partido Brasileiro2.
Foram vários anos de disputa política entre os Partidos
Português e Brasileiro, e de críticas, cada vez mais violentas, ao
Imperador vindas dos políticos do Partido Brasileiro e de todos
que defendiam que o poder do Estado não ficasse concentrado
nas mãos de D. Pedro. Também desagradava muito aos brasileiros
a influência que os portugueses residentes no país tinham junto ao
Imperador, ampliando o poder dos portugueses adesistas na
sociedade brasileira, pois monopolizavam o comércio exterior nas
capitais das principais províncias, motivo de insatisfação do resto
da população3.

82
O embate entre portugueses e brasileiros na Assembléia Geral

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Legislativa transpareceu na imprensa, que atacou o absolutismo
do Imperador, e foi para as ruas, onde partidários do monarca
entraram em choque com defensores do Partido Brasileiro.
Preocupava D. Pedro I não somente a oposição ao seu reinado,
que crescia entre os brasileiros, mas também a situação política
em Portugal, onde tinha pretensão de ascender ao trono.
Pressionado pela população, em 7 de abril de 1831, D. Pedro I
abdicou do trono em favor de seu filho, D. Pedro de Alcântara,
que tinha apenas cinco anos de idade. Como o herdeiro não tinha
idade para assumir o trono, instalou-se no Brasil um governo
regencial. O Poder Executivo seria composto por três membros,
uma regência trina, conforme determinava a Carta Constitucional.
Posteriormente, a regência seria constituída de uma só pessoa, a
regência una.
No período regencial, o conturbado ambiente político da
Corte se refletiu nas províncias do Império em movimentos
armados que explodiram por todos os principais centros regionais,
desde 1831 até os anos de consolidação do reinado de D. Pedro
II. A Marinha da Independência e da Guerra Cisplatina, constituída
por elevado número de navios de grande porte, foi sendo
transformada em uma Marinha de unidades menores, próprias para
enfrentar as conflagrações nas províncias e ajustadas às limitações
orçamentárias.
Revoltas deflagradas em diversas províncias foram abafadas
pelo governo regencial com a utilização da Marinha e do Exército.
A Marinha se fez mais presente nos combates no Pará
(Cabanagem), no Rio Grande do Sul (Guerra dos Farrapos ou
Revolução Farroupilha), na Bahia (Sabinada), no Maranhão e Piauí
(Balaiada) e em Pernambuco (Revolta Praieira), esta já anos após a
coroação de D. Pedro II.
Em todas estas revoltas, a Marinha não enfrentou nenhum
grande inimigo no mar. Embora na Guerra dos Farrapos os rebeldes
tenham formado uma pequena flotilha de embarcações armadas,
que foi prontamente combatida e vencida, a Marinha se fez
presente no rápido transporte de tropas do Exército Imperial da
Corte e de outras províncias até as áreas conflagradas. Também
dependeu do transporte por mar, em grande parte realizado pela
Marinha, o abastecimento das tropas que lutavam nas províncias
rebeladas, pois não existiam estradas que ligassem a Corte às
províncias do Norte e do Sul.
A Marinha também cumpriu ações de bloqueio nos portos
ocupados pelos rebeldes, evitando que recebessem qualquer
abastecimento vindo do mar, como armas e munições desviadas
de outras províncias ou compradas no estrangeiro. Finalmente,
militares da Marinha Imperial atuaram diversas vezes em
desembarques, lutando com grupos rebelados lado a lado com
tropas do Exército, da Guarda Nacional e milicianos.

83
Fragata Imperatriz, navio com 54 canhões que operou na Escuna Rio da Prata (esquerda) e Corveta Dorrego. Detalhe do desenho de
Marinha Imperial entre 1824 a 1845. Com 46 metros de Gaston Roullet.
comprimento e 12,20 metros de boca, era um exemplo A Escuna Rio da Prata, com 23 metros de comprimento e armada com dez
tipico dos grandes navios que formavam a Esquadra brasileira canhões, representa os pequenos navios de guerra utilizados para auxiliar no
no Primeiro Reinado. sufocamento das diversas insurreições que se abateram sobre as províncias do
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha. Império do Brasil durante o período regencial.
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha.

No contexto externo, os dois grandes conflitos que o Império


brasileiro se envolveu, desde sua Independência até o início das
hostilidades que levariam à guerra contra o Paraguai, foram a Guerra
Cisplatina, entre 1825 e 1828, e a Guerra contra Manuel Oribe e
Juan Manuel de Rosas, em 1850 e 1852. A área marítimo-fluvial
em que se desenrolaram a maioria das operações navais destes
dois conflitos, separados no tempo por quase um quarto de século,
foi a mesma, o estuário do Rio da Prata, que separa o Uruguai da
Argentina.
Na Guerra Cisplatina, Brasil e as Províncias Unidas do Rio
da Prata, atual Argentina, lutaram pela posse do território
uruguaio, ainda não independente. Nesta guerra, que custou
muito à economia de um país recém-formado como o Brasil, a
Marinha lutou longe de sua base principal, o Rio de Janeiro,
contra a Marinha argentina que, embora menor, atuava muito
perto de sua principal base de apoio, Buenos Aires, e
conhecendo o teatro de operações repleto de obstáculos
naturais à navegação, o Rio da Prata.
A Marinha Imperial brasileira, além das atividades de
abastecimento das tropas em combate, operou de modo ofensivo
no Rio da Prata. A Força Naval brasileira efetuou um bloqueio naval4

84
sobre Buenos Aires visando a isolar a capital adversária de

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
abastecimento vindo do exterior e impedir que embarcações
argentinas transportassem tropas e armamento para reforçar
argentinos e orientais que lutavam contra as tropas brasileiras no
território uruguaio.
Além do bloqueio, a Força Naval brasileira combateu a
Esquadra argentina até seu desmembramento, privando o
adversário do principal e primeiro braço do Poder Naval. Os navios
da Marinha que não foram deslocados para aquela guerra não
deixaram de se envolver no conflito. A Marinha defendeu as linhas
de comunicação marítimas, dando combate aos corsários armados
pela Argentina e pelos rebeldes uruguaios que atacaram a
navegação mercante brasileira ao longo de toda a nossa costa.
A próxima guerra que o Brasil se envolveria no Rio da Prata
seria contra Juan Manuel de Rosas, governador da Província de
Buenos Aires e Manuel Oribe, presidente da República Oriental
do Uruguai e líder do Partido Blanco. Tendo como seus aliados os
governadores das províncias argentinas de Entre Rios e Corrientes
e o Partido Colorado uruguaio, o Império brasileiro se interpôs a
uma tentativa de união de seus vizinhos do sul, que enfraqueceria
a posição brasileira no Rio da Prata e se tornaria uma ameaça na
fronteira do Rio Grande do Sul, há pouco pacificado e impedido de
se separar do Brasil na Guerra dos Farrapos.
Coube à Marinha um grande momento neste curto conflito:
a Passagem de Tonelero. Pela primeira vez se utilizando navios a
vapor em um conflito externo, a Força Naval brasileira ultrapassou sob
os disparos dos canhões das
tropas Juan Manuel de Rosas
o ponto fortificado adversário MARINHA IMPERIAL BRASILEIRA
no Rio Paraná, o Passo de CONFLITOS INTERNOS E EXTERNOS DE 1831 A 1852
Tonelero, e conduziu as tropas
aliadas rio acima para uma
INTERNOS
posição de desembarque
favorável, onde foi possível o CABANAGEM

ataque e a pos-terior vitória BALAIADA


sobre as tropas adversárias.
REVOLTA PRAIEIRA

SABINADA

GUERRA DOS FARRAPOS

EXTERNOS

GUERRA CISPLATINA

GUERRA CONTRA
ORIBE E ROSAS

85
Conflitos internos

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Cabanagem

A primeira sublevação ocorrida no período regencial foi a


Cabanagem, no Grão-Pará, que se generalizou em 1835 com a
ocupação da capital da província, Belém. O governo central enviou
uma força interventora constituída de elementos da Marinha e do
Exército Imperial que, após primeira tentativa frustrada de
reconquistar a capital, desembarcou e a ocupou sem a resistência
dos rebeldes. Contudo, os cabanos retomaram o fôlego para a
luta com o crescimento da revolta no interior e retomaram a
capital em agosto de 1835.
Durante o conflito, as forças militares atuaram contra focos
rebeldes espalhados por um território inóspito e desconhecido, a
floresta amazônica. A Marinha bloqueou o porto de Belém,
dificultando o seu abastecimento, bombardeou posições rebeldes,
desembarcou tropas do Exército e embrenhou-se nos rios
amazônicos para dar combate aos mais isolados focos de revolta.
O desgaste que as forças militares impuseram aos cabanos levou-
os ao abandono da capital em maio de 1836 continuando a resistir
no interior. A luta se estendeu até 1840, com a ação conjunta da
Força Naval e das tropas do Exército debelando a resistência
Vice-Almirante Frederico Mariath, como capitão-
de-fragata, substituiu o Chefe-de-Divisão John
dos cabanos por todo o Pará.
Taylor no comando da Força Naval que combateu
a Cabanagem. Também atuou na Guerra dos
Farrapos, comandando a Força Naval do Império
brasileiro no Rio Grande do Sul (1838-1839) e na
Província de Santa Catarina (1839).
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha.

Litografia da primeira metade do século XIX


mostrando o porto da cidade do Pará,
atual Belém do Pará.
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha.

86
Guerra dos Farrapos

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
A Guerra dos Farrapos, rebelião no sul do Império que durou
dez anos, de 1835 a 1845, atingiu uma região de fronteira já
conturbada por conflitos externos. A Marinha novamente atuaria
em cooperação com o Exército no transporte e abastecimento
das tropas e apoiando ações em terra com o fogo dos canhões
embarcados.
Porém, na Guerra dos Farrapos os navios de guerra
estiveram envolvidos em pequenos combates navais com os
farroupilhas. Os combates não ocorreram em mar aberto, mas
em águas restritas, como as Lagoas dos Patos e Mirim. O primeiro
combate naval da Guerra dos Farrapos opôs o Iate Oceano, da
Marinha Imperial, e o Cúter Minuano, dos revoltosos, na Lagoa
Mirim, quando o navio rebelde foi posto a pique.
A pequena Força Naval que os farroupilhas mantinham na
Lagoa dos Patos foi completamente vencida em agosto de 1839,
quando o Chefe-de-Divisão John Pascoe Grenfell, comandante das
Forças Navais no Rio Grande, apresou dois lanchões rebeldes em
Camaquã. A rebelião rio-grandense estendeu-se para Santa
Catarina, onde os farroupilhas formaram uma pequena Força Naval
com navios mercantes apresados e lanchões remanescentes das
operações na Lagoa dos Patos e Mirim, que foi vencida pela Marinha
em um combate no porto de Laguna. Foi neste conflito regional
que pela primeira vez a Marinha brasileira empregou um navio
movido a vapor em operações de guerra.

Sabinada

A Sabinada, revolta que eclodiu contra a autoridade da


Regência na Bahia, em novembro de 1837, foi combatida pela
Marinha Imperial com um bloqueio da província e o combate a
uma diminuta Força Naval montada pelos rebeldes com navios
apresados. A revolta foi finalmente sufocada em 1838.

Balaiada

A Balaiada, agitação que tomou conta das Províncias do


Maranhão e do Piauí, entre 1838 e 1841, reuniu a população pobre
e os escravos contra as autoridades constituídas da própria
província. Em agosto de 1839, seguiu para o Maranhão o Capitão-
Tenente Joaquim Marques Lisboa, futuro Marquês de Tamandaré,
nomeado comandante da Força Naval em operação contra
os insurretos.
Após estudar a região, armou pequenas embarcações que,
enviadas para diversos pontos dos principais rios maranhenses,

87
combateriam os rebeldes isoladamente ou apoiariam forças em

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
terra. A partir de 1840 e até o final da Balaiada, o Capitão-Tenente
Joaquim Marques Lisboa atuaria em cooperação com o então
Coronel Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, que
comandava a Divisão Pacificadora do Norte, reunida para debelar
a revolta. A união dos futuros patronos das forças singulares de
mar e terra no combate à Balaiada simboliza uma situação
recorrente em todos os conflitos internos durante a Regência e o
Segundo Império: a atuação conjunta da Marinha e do Exército na
manutenção da ordem constituída e da unidade do Império.

Revolta Praieira

A Revolta Praieira estourou em Pernambuco em novembro


de 1848. Iniciada na capital, tomou corpo nas vilas e engenhos da
zona da mata e interior pernambucanos. Para combatê-la, tropas
leais ao governo provincial deixaram Recife, a capital da província,
para engajar as forças praieiras que estariam no interior. Ao ver a
capital desguarnecida, forças praieiras atacaram-na, em 2 de
fevereiro de 1849. O pequeno contingente militar que guarnecia a
cidade foi imediatamente apoiado pela Força Naval fundeada no
porto. Contingentes de marinheiros e fuzileiros navais
desembarcaram dos navios para reunir-se aos defensores da capital
na batalha, enquanto os canhões da Marinha fustigaram as investidas
dos revoltosos. A atuação da Marinha nesta revolta, embora breve,
Vice-Almirante Joaquim José Ignácio, Visconde de evitou que a capital provincial caísse nas mãos dos rebeldes.
Inhaúma. Como capitão-de-fragata comandou a
Força Naval do Império brasileiro que combateu
os rebeldes praieiros. Tinha como capitânia a
Fragata Constituição, porém sua Força Naval era
composta de pequenos navios, brigues-escunas,
escunas e barcas a vapor.
Acervo do serviço de Documentação da Marinha
Aspectos do porto de Recife, Pernambuco, no século XIX. Deste porto, os pequenos navios de
guerra da Força Naval comandada pelo Capitão-de-Fragata Joaquim José Ignácio, partiam para combater
as forças da Revolta Praieira nos pequenos portos e ancouradores no Norte e no Sul da Província de
Pernambuco.
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha.

88
Conflitos externos

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Guerra Cisplatina

O Brasil recém-independente envolveu-se numa guerra com


as Províncias Unidas do Rio da Prata, atual Argentina, pela posse
da então Província brasileira da Cisplatina, atual República Oriental
do Uruguai, anexada ainda por D. João VI, em 1821. Esta guerra
pouco aparece nos livros de história e, mesmo tendo durado quatro
anos, entre 1825 e 1828, é desconhecida para a maioria dos
brasileiros.
O interesse pelo domínio daquelas terras não era novo. O
Império do Brasil e a Argentina herdaram as aspirações e as disputas
dos colonizadores portugueses e espanhóis pela margem esquerda
do estuário do Rio da Prata. Nos séculos XVII e XVIII, o centro da
disputa era a Colônia de Sacramento, o enclave português na região.
No início do século XIX, com os movimentos de independência
na América espanhola e portuguesa, a conflagração atingiu o Brasil
e a Argentina, no conflito conhecido como Guerra Cisplatina.
A guerra não envolvia só a disputa pela posse do território
da Província Cisplatina que, além do gado criado nos pampas e de
dois portos comerciais importantes (Montevidéu e Maldonado),
não continha recursos naturais de monta, mas tinha como objetivo
o controle do Rio da Prata, área geográfica de suma importância
estratégica desde o início da colonização européia na América do
Sul. No estuário do Rio da Prata desembocavam dois grandes rios
(Uruguai e Paraná), que constituíam o caminho natural para a
penetração no continente sul-americano, representando uma
estrada fluvial para a colonização, o acesso aos recursos naturais
e a viabilização das trocas comerciais por todo o interior da
América do Sul.
Apesar do controle português e, depois de 1822, brasileiro,
a Cisplatina, ou Banda Oriental, mantinha uma população de
ascendência e hábitos hispânicos, culturalmente distantes dos
brasileiros. Os cisplatinos, liderados por Juan Antonio Lavalleja,
iniciaram um levante buscando sua independência, procurando
apoio das Províncias Unidas do Rio da Prata, o único Estado
Nacional à época constituído na Bacia do Rio da Prata que poderia
rivalizar com o Império brasileiro.
O Estado argentino, naquela época, era formado por várias
províncias com alto grau de autonomia, que reconheciam a
liderança exercida pela Província de Buenos Aires. A confederação
de províncias argentinas tinha um interesse comum na sublevação
dos cisplatinos contra o Império brasileiro: a possibilidade de
incorporação da Banda Oriental aos seus domínios. Por isso, deram
apoio político, militar e financeiro à revolta, passando,
posteriormente, a envolver-se oficialmente na luta.

89
Para se opor à sublevação, nitidamente suportada pela

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Argentina, o Brasil desenvolveu uma campanha militar na Banda
Oriental entre os anos de 1825 e 1828. Além de tropas, deslocou
vários meios navais da Esquadra recém-formada na Guerra de
Independência para o Estuário da Prata, comandadas pelo Vice-
Almirante Rodrigo Lobo. Com o fortalecimento das forças de
Lavalleja na Banda Oriental, as Províncias Unidas do Rio da Prata
oficializaram seu apoio à revolta, declarando anexada a Banda
Oriental ao território argentino, o que significava uma declaração
de guerra ao Governo Imperial brasileiro.
Destacaremos aqui a participação brasileira na guerra naval,
que teve como seu principal palco o Estuário do Rio da Prata. A
ênfase no aspecto naval não indica que as operações de guerra
conduzidas pelos Exércitos em terra tenham sido menos
importantes para a história da Guerra Cisplatina. O Exército
Brasileiro e as forças de Lavalleja, somadas ao Exército argentino,
confrontaram-se em diversas batalhas, mas até o final da guerra,
em 1828, nenhum dos oponentes alcançou uma nítida vantagem
na guerra terrestre.
A batalha mais significativa da Guerra Cisplatina, a Batalha do
Selo uruguaio comemorativo dos 175 anos da Batalha Passo do Rosário, ou Ituzaingó, como os argentinos e uruguaios a
de Ituzaingó (ou Batalha do Passo do Rosário). chamam, ocorrida em 20 de fevereiro de 1827, teve resultados
Fonte: http//pt:wikipedia.org
tão indecisos como toda a guerra terrestre que se travou na
Província Cisplatina. Nenhum dos lados conseguiu impor-se sobre
o outro, não sendo possível apontar vitoriosos nem derrotados.
Contudo, a função desta obra é destacar a participação da Marinha
brasileira na nossa história. Assim, descreveremos as operações
navais realizadas na Guerra Cisplatina.
A Marinha Imperial brasileira na Guerra Cisplatina lutou com
a Força Naval argentina, mas também atuou contra os corsários
que, com Patentes de corso emitidas pelas Províncias Unidas do
Rio da Prata e pelo próprio Exército de Lavalleja, atacavam os
navios mercantes brasileiros por toda a nossa costa.
O embate entre a Esquadra brasileira e a Esquadra argentina
teve lugar no estuário do Rio da Prata e nas suas proximidades –
região com grande número de bancos de areia que dificultava a
navegação. Isto ajudou os argentinos a desenvolver uma variação
naval da guerra de guerrilha. Os navios argentinos atacavam e,
quando repelidos, escapavam da perseguição dos navios brasileiros
pelos estreitos canais que se formavam entre os vários bancos de
areia da região, em sua maioria desconhecidos dos marinheiros
brasileiros.
Como primeira ação de guerra, a Força Naval brasileira no
Rio da Prata, comandada pelo Vice-Almirante Rodrigo Lobo,
estabeleceu um bloqueio naval no Rio da Prata, pretendendo
impedir qualquer ligação marítima entre as Províncias Unidas e os
rebeldes de Lavalleja, e dos dois adversários com o exterior. O

90
inimigo a ser confrontado pela Força Naval brasileira era liderado

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
pelo experiente irlandês William George Brown, comandante
da pequena Esquadra sediada em Buenos Aires, desde as lutas
pela independência daquele país. O adversário, apesar de contar
com um menor número de navios de guerra, tinha suas ações
facilitadas não só pelo conhecimento da conformação
hidrográfica4 do estuário do Rio da Prata, como também por
permanecer operando próximo ao seu porto base, o
ancoradouro de Los Pozos, em Buenos Aires, onde seus navios
eram abastecidos e reparados.
Nos primeiros meses da guerra, o bloqueio naval imposto
pela Esquadra brasileira provocou o primeiro embate entre as 4
Hidrografia é a topografia marítima, ciência utiliza-
forças navais. O Combate de Colares ocorreu em 9 de fevereiro da para a produção de plantas da costa e ilhas,
chamadas de cartas náuticas.
de 1826, quando a Esquadra argentina, composta de 14 navios,
deixou seu ancoradouro para empreender uma ação de desgaste
à Força Naval brasileira em bloqueio, também composta de 14
navios. As forças navais adversárias, dispostas em colunas, trocaram
tiros de canhão a grande distância uma da outra, causando p e r d a s
h u m a n a s e avarias
materiais reduzidas
de parte a parte. A
Esquadra argentina
se retirou para o
refúgio de Los Pozos
e a Força Naval
brasileira foi fundear
entre os Bancos de
Ortiz e Chico.
Combate Naval de Colares. O passo poste-
Aquarela do Almirante Trajano Augusto de Carvalho.
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
rior do comandante
das forças argen-
tinas teria conseqüências muito mais significativas para os
destinos da guerra no mar e em terra se bem-sucedido. Seu
alvo era a Colônia de Sacramento, uma praça fortificada situada
na margem esquerda do Rio da Prata e guarnecida por 1.500
homens chefiados pelo Brigadeiro Manoel Jorge Rodrigues,
complementados por uma pequena força de quatro navios,
comandada pelo Capitão-de-Fragata Frederico Mariath. Sete
navios da Esquadra argentina, capitaneados pela Fragata 25 de
Mayo, romperam o bloqueio brasileiro ao largo de Buenos Aires
e fizeram vela para a Colônia de Sacramento, simultaneamente
aquela praça era cercada por tropas.
Devido ao maior poder de combate da Força Naval
Argentina perante a flotilha brasileira que defendia a Colônia, as
tripulações e os canhões dos navios brasileiros foram
desembarcados e incorporados às defesas de terra. Em 26 de
fevereiro de 1826, os navios argentinos e as tropas de cerco

91
iniciaram o bombardeio, respondido pelas fortificações da Colônia

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
do Sacramento, que inutilizaram um dos navios adversários.
Repelido o primeiro ataque, os defensores da Colônia do
Sacramento enviaram uma escuna para pedir auxílio às forças navais
brasileiras estacionadas em Montevidéu, esperando que o socorro
chegasse o mais rápido possível àquela praça sitiada.
O Vice-Almirante Rodrigo Lobo não acudiu de imediato a
cidade acossada pelo inimigo. Na noite de 1o de março, a Força
Naval argentina, reforçada por seis canhoneiras, tentou
desembarcar 200 homens naquela praça. Depois de severa luta,
os atacantes argentinos foram repelidos, com a perda de duas
5
Expediente comum nas guerras no mar no tem-
canhoneiras e muitos homens, não sem antes conseguirem
po dos navios a vela, utilizando-se da bandeira incendiar um dos nossos navios. Os navios argentinos só desistiram
de outra nação um navio de guerra ocultava sua
identidade perante o inimigo. Este ardil foi utili-
do cerco em 12 de março, escapando da Esquadra brasileira, que
zado pelo Capitão-de-Fragata John Taylor quan- chegara com atraso em defesa de Sacramento.
do no comando da Fragata Niterói na épica per-
seguição aos navios portugueses em retirada, na
A Força Naval argentina empreendia ações mais ousadas
Guerra da Independência. contra a Esquadra brasileira. De uma troca de tiros sem muitas
conseqüências, em fevereiro, tentou a conquista de uma praça
fortificada na margem esquerda do Rio da Prata que, se conquistada,
transformaria-se em um importante ponto de abastecimento das
tropas uruguaias e argentinas.
Uma das missões da Esquadra argentina era justamente a
manutenção do abastecimento dos exércitos que lutavam na
Província Cisplatina. Como obstáculo, antepunha-se a Esquadra
brasileira comandada pelo Almirante Rodrigo Lobo que, apesar da
ineficiência desse início de bloqueio naval (pelos primeiros embates
navais da guerra, observa-se que a Esquadra argentina
movimentava-se com relativa facilidade), mantinha-se superior em
número às forças navais comandadas por Brown.
O Comandante da Esquadra argentina William Brown reuniu
sua capitânia, a Fragata 25 de Mayo, e dois brigues em uma audaciosa
ação para capturar navios que se dirigissem a Montevidéu, tentando
aumentar o tamanho de sua Esquadra e tomar alguma carga de
valor em navios mercantes. Em 10 de abril de 1826, conseguiu
capturar a pequena Escuna Isabel Maria. No dia seguinte, ao
perseguir um navio mercante, a Fragata 25 de Mayo aproximou-se
muito do porto de Montevidéu, onde foi reconhecida pelos navios
da Esquadra brasileira, mesmo arvorando a bandeira francesa5.
Saiu em sua perseguição a Fragata Niterói, comandada pelo
Capitão-de-Mar-e-Guerra James Norton, ambos, navio e
comandante, veteranos da Guerra de Independência e recém-
chegados para reforçar a Força Naval brasileira no Rio da Prata.
Acompanharam o encalço à capitânia argentina quatro outros
pequenos navios, mas o combate se concentrou nos navios de
maior porte, com a Fragata Niterói trocando disparos com a Fragata
25 de Mayo e com um dos brigues que a acompanhava. Com o cair
da noite, os navios argentinos, com graves avarias, retiraram-se

92
para Buenos Aires, dando por encerrado o embate que ficou

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
conhecido como o Combate de Montevidéu.
Após o malogro da tentativa de capturar navios ao largo do
porto de Montevidéu, William Brown planejou outra ação para
reforçar sua esquadra com navios brasileiros capturados.

Combate de Montevidéu.
Em primeiro plano a Fragata Niterói,
à direita o navio capitânia argentino,
a Fragata 25 de Mayo no momento
em que perde o joanete do mastro
grande.
Aquarela do Almirante Trajano
Augusto de Carvalho.
Acervo do Serviço de Documentação
da Marinha.

Tencionava abordar e capturar a Fragata Niterói, o mesmo navio


que frustrou sua incursão anterior. Na noite de 27 de abril, sete
navios argentinos rumaram para próximo de Montevidéu, onde
os navios brasileiros se reuniam, e tentaram identificar seu alvo.
Enganados pela escuridão, investiram contra a Fragata Imperatriz
que, tendo percebido a aproximação do inimigo, se preparara para
o combate. Os navios argentinos 25 de Mayo e Independencia
tentaram a abordagem, mas foram repelidos pela tripulação da
Imperatriz. O comandante do navio brasileiro, Capitão-de-Fragata
Luís Barroso Pereira, liderou seus homens na renhida luta até
tombar morto no convés, atingido por disparos do inimigo. Foi
uma das duas vítimas fatais da Imperatriz no combate. Momento em que a Fragata argentina 25 de Mayo
A 3 de maio de 1826, a Esquadra comandada por Brown foi aborda a Fragata Imperatriz.
Aquarela do Almirante Trajano Augusto de Carvalho
avistada pelos navios brasileiros quando tentava escapar do bloqueio Acervo do Serviço de Documentação da Marinha.
naval ao seu porto. Os navios
argentinos tentaram alcançar o
Banco de Ortiz na esperança de
atrair os perseguidores, que,
com navios de maior porte,
encalhariam naquele banco de
areia, tornando-se alvos imóveis
para seus canhões.
Contudo, no combate que
ficou conhecido como o do
Banco de Ortiz, foi justamente
a Fragata argentina 25 de Mayo a
primeira a ficar encalhada, logo
seguida pela nossa Fragata
Niterói. Os dois navios

93
imobilizados empenharam-se em um duelo de artilharia. A Niterói

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
conseguiu livrar-se do encalhe. A seguir, a 25 de Mayo também
escapou do Banco de Ortiz e se reuniu ao restante da Esquadra
argentina. O Combate do Banco de Ortiz acabou sem grandes
perdas para ambos os adversários, mas mostrou o perigo que os
bancos de areia do Estuário do Rio da Prata representavam para
as Esquadras em luta.
Em 13 de maio de 1826, o Almirante Rodrigo Pinto Guedes,
o Barão do Rio da Prata, substituiu o Almirante Rodrigo Lobo, que
tinha se mostrado pouco capaz no comando da Força Naval do
Império do Brasil em operações de guerra no Rio da Prata. A
primeira medida tomada pelo Almirante Pinto Guedes foi
estabelecer uma nova disposição das forças navais que reforçasse
o bloqueio naval. Dividiu suas forças em quatro divisões, sob o
comando de oficiais capazes e experientes, devendo em todas as
oportunidades engajar o inimigo, obrigando-o a aceitar a luta. A 1a
Divisão, reunindo os maiores e mais poderosos navios que estavam
no Rio da Prata, formaria a linha exterior do bloqueio, impedindo
que navios entrassem no Rio da Prata para abastecer a Argentina e
seu Exército lutando na Cisplatina e tentando capturar os corsários
que transitassem pela região. A 2a Divisão, constituída de navios
mais leves, manobreiros e numerosos, operaria no interior do
estuário, efetuando um rigoroso bloqueio naval entre a Colônia
de Sacramento, Buenos Aires e a Enseada de Barregã, isolando a
Esquadra argentina no seu ancoradouro e tentando impedir o
abastecimento por mar da capital argentina. A 3a Divisão, composta
de pequenos navios adequados à navegação fluvial, defenderia a
Colônia do Sacramento e patrulharia os Rios Uruguai, Negro e
Paraná, que formavam a fronteira natural entre as Províncias Unidas
do Rio da Prata e a Província Cisplatina, impedindo que as forças
de Lavalleja e o Exército argentino fossem supridos desde o
território argentino. A 4a Divisão era formada por navios em reparo,
e foi mantida em Montevidéu, para atuar como uma força de
reserva. A reorganização das forças navais brasileiras mostrou sua
eficiência na contenção dos movimentos da Esquadra adversária.
Em 15 de maio de 1826, as três linhas de bloqueio
determinadas pelo novo comandante da Força Naval brasileira no
Rio da Prata já se achavam em posição. Em 23 de maio, a Esquadra
argentina decidiu testar a resistência da Força Naval brasileira
responsável pelo bloqueio de Buenos Aires, a 2a Divisão da Esquadra
Imperial, chefiada pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra James Norton.
Os navios brasileiros engajaram-se no Combate das Balizas
Exteriores, mesmo com o risco de encalharem nos bancos de
areia em torno de Buenos Aires. Os navios argentinos perceberam
a resolução da força bloqueadora e voltaram ao seu ancoradouro,
em Los Pozos. Dois dias depois, o navio capitânia da 2a Divisão, a
Fragata Niterói, navegando sozinha, atraiu a Esquadra argentina para

94
o combate, mas, novamente, a troca de tiros não causou danos

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
significativos a nenhum dos lados.
Mesmo a nova estratégia de bloqueio, mais agressiva, não se
mostrava eficiente na destruição dos navios argentinos, que se
mantinham protegidos no ancoradouro de Los Pozos.
No começo de junho de 1826, buscando um engajamento
decisivo, o Almirante Rodrigo Pinto Guedes planejou atacar a
Esquadra inimiga dentro de Los Pozos. Para isso, a 2a Divisão foi
reunida à 3a Divisão da Esquadra Imperial, composta por navios
menores que poderiam transpor os bancos de areia que protegiam
o ancoradouro de Buenos Aires.
Em 7 de junho, antes que as duas forças brasileiras se
reunissem, cinco navios de transporte argentinos, escoltados por
navios de guerra, largaram de Buenos Aires com soldados e
suprimentos para apoiar as tropas argentinas que lutavam junto
aos cisplatinos. Ao mesmo tempo, o resto da Esquadra argentina,
comandada por Brown, fez vela para atrair a atenção da força
brasileira. Nem a 2a Divisão, junto a Buenos Aires, nem a 3a, ainda
em águas da Colônia de Sacramento, alcançaram os navios de
transporte argentinos.
Em 11 daquele mês, as 2a e 3a Divisões, comandadas por
Norton, executaram o plano de ataque e investiram contra a
Esquadra argentina em Los Pozos. Novamente, os bancos de areia
protegeram os navios argentinos. O comandante da Força Naval
brasileira, Norton, desistiu do ataque que seria infrutífero. Apesar
dos insucessos da ação planejada, a Escuna Isabel Maria, apresada
pelos argentinos, foi recuperada.
Considerando o malogro do último ataque brasileiro à
Esquadra argentina como sua vitória, Brown preparou uma nova
investida à 2a Divisão, determinado a livrar Buenos Aires do bloqueio
naval. Protegidos pela noite, em 29 de julho de 1826, 17 navios da
Esquadra argentina tentaram surpreender os navios sob o comando
do Capitão-de-Mar-e-Guerra James Norton. Porém, alertados por
uma escuna que fazia a vigilância, os brasileiros responderam ao
ataque. O combate tornou-se confuso; a mesma noite que
escondia os atacantes, prejudicava a precisão dos disparos e a
identificação do inimigo. A possibilidade de atingir navios amigos
determinou que ambos os lados suspendessem a luta.
Ao alvorecer, o combate recomeçou. O Comandante da
Esquadra argentina Brown conduziu seu navio capitânia, a Fragata
25 de Mayo, na direção dos navios brasileiros, mas só foi
acompanhado pela Escuna Rio de La Plata. Os dois navios argentinos
receberam todo o peso dos disparos dos canhões brasileiros e
ficaram completamente inutilizados. O chefe das forças argentinas
foi obrigado a transferir-se sob fogo para um navio argentino que
ousou aproximar-se. O restante da Esquadra argentina retirou-se
para a segurança de seu ancoradouro. O Combate de Lara-Quilmes

95
foi a última tentativa da Esquadra argentina de destruir os navios

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
da 2a Divisão da Esquadra Imperial e desmantelar o bloqueio naval
brasileiro em torno de Buenos Aires.
Depois dessa expressiva vitória das forças navais brasileiras,
no começo do ano de 1827, a 3a Divisão, composta pelos menores
navios da Esquadra brasileira, comandada pelo Capitão-de-Fragata
Jacinto Roque Sena Pereira, foi derrotada no Combate de Juncal.

Combate Naval de Lara-Quilmes (30 de julho de 1826).


Desenho de Gaston Roullet, segundo indicações do Barão do Rio Branco.
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

No final do ano anterior a 3a Divisão recebeu ordens de subir o


Rio Uruguai para auxiliar as operações do Exército Imperial
Brasileiro na Cisplatina. Sabendo daquela movimentação, o
comandante da Esquadra argentina reuniu uma força composta
de 16 navios adaptados à navegação fluvial para destruir a 3a Divisão
brasileira e permitir o livre trânsito de reforços vindos das Províncias
Unidas para os seus exércitos na Cisplatina.
Em 29 de dezembro de 1826, a Força Naval argentina atacou
a 3 Divisão, fundeada na foz do Rio Iaguari, mas foi repelida pelo
a

intenso fogo da artilharia dos pequenos navios de Sena Pereira e


recuou, descendo o Rio Uruguai. Embora tivesse repelido o ataque
argentino, a 3a Divisão brasileira se viu presa dentro do Rio Uruguai,
uma vez que os navios inimigos postaram-se na foz daquele rio.
Foi organizada uma Força Naval com unidades da 2a Divisão
para combater os argentinos que bloqueavam a 3a Divisão no
interior do Rio Uruguai, chamada de Divisão Auxiliadora. Apesar
da urgência no socorro, a progressão desta Força Naval foi lenta e
difícil, devido ao grande número de bancos de areia que tornavam
aquelas águas pouco profundas e inadequadas para navios de maior
porte, como os que compunham a 2a Divisão brasileira.
A Corveta Maceió, a capitânia e o maior navio da divisão,
ficou isolada dos outros navios brasileiros perto de um banco de
areia conhecido como Playa Honda. A Maceió era o alvo perfeito

96
para as forças argentinas, sempre em busca de navios para reforçar

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
sua já diminuída Esquadra. Cinco navios inimigos aproximaram-se
da corveta, que estava acompanhada apenas da Escuna Dois de
Dezembro, e tentaram a abordagem. A tripulação da Maceió repeliu
o inimigo com o fogo de seus 20 canhões. Por fim, os navios
argentinos recuaram, mas a missão da Divisão Auxiliadora ainda
não terminara. Os navios brasileiros da 3a Divisão permaneciam
presos no Rio Uruguai.
No início de fevereiro de 1827, a 3a Divisão desceu o Rio
Uruguai para combater a Força Naval argentina que o bloqueava.
Com ajuda da Divisão Auxiliadora, planejou-se colocar o inimigo
entre os canhões das duas divisões brasileiras.
Em 8 de fevereiro, começava o Combate de Juncal, nome
tomado da Ilha fluvial de Juncal, segmento do Rio Uruguai onde os
navios da 3a Divisão foram derrotados pela Força Naval argentina,
pois não receberam o esperado apoio da Divisão Auxiliadora, que
permaneceu longe do local da batalha.
O bloqueio naval mais rigoroso realizado desde maio de
1826 pela 2a Divisão da Esquadra Imperial mantinha a maior
parte do tempo a Esquadra argentina confinada em seu
ancoradouro. Porém, a Esquadra brasileira não conseguia uma
vitória definitiva frente ao inimigo, não evitando pequenas
incursões que, algumas vezes, mostravam-se desastrosas, como
o combate fluvial em Juncal.
Já nesse período da guerra no mar, o governo de Buenos
Aires concentrava seu esforço na guerra de corso, que afetava o
comércio marítimo do Império brasileiro. Mesmo a Esquadra
argentina, já muito debilitada depois do Combate de Lara-
Quilmes, cedia seus navios para campanhas de corso na costa
brasileira. E foi com esse propósito que os quatro principais
navios argentinos tentaram romper o bloqueio brasileiro na noite
de 6 de abril de 1827.
A Força Naval argentina, composta pelos Brigues República,
Congresso e Independência, e pela Escuna Sarandi, comandada pelo
próprio comandante da Esquadra argentina, William Brown, foi
interceptada pelos navios da 2a Divisão quando tentava contornar
o bloqueio naval brasileiro.
Neste último grande encontro entre as forças adversárias,
conhecido como Combate de Monte Santiago, a 2a Divisão
brasileira, reforçada pelos navios das outras duas divisões
bloqueadoras, fustigou os navios argentinos com os seus canhões,
que, encurralados entre a força brasileira e os bancos de areia,
foram sendo destroçados. Os Brigues República e Independência
foram abordados e capturados pelos brasileiros. O Brigue Congresso
e a Escuna Sarandi, navios menores e mais leves, conseguiram passar
pelos bancos de areia e refugiaram-se em Buenos Aires, ainda assim
bastante atingidos pelos canhões brasileiros e com muitos mortos
e feridos a bordo.

97
Foi o golpe final contra a Esquadra argentina e a

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
demonstração de que o bloqueio naval organizado pelo Almirante
Rodrigo Pinto Guedes foi efetivo no combate ao inimigo.
As grandes perdas argentinas no Combate de Monte
Santiago, em abril de 1827, ratificaram a opção pela guerra de
corso. Durante todo o conflito, as Províncias Unidas armaram
corsários. Alguns corsários eram armados no porto de Buenos
Aires e conseguiam romper o bloqueio naval brasileiro; outros
vinham das bases de corsários de Carmen de Patagones e San Blas,
em território das Províncias Unidas do Rio da Prata, e havia mesmo
os que, recebendo as patentes de corso do governo de Buenos
Aires em portos do exterior,
daí largavam para acossar os
navios mercantes nas costas
brasileiras.
A guerra de corso em-
preendida contra o nosso
comércio marítimo (à época,
como hoje, essencial para
economia nacional) foi mais
efetiva contra o esforço de
guerra brasileiro do que a
Esquadra argentina. A ope-
ração ofensiva que a Marinha
Imperial brasileira realizou com
o bloqueio naval no Prata
Combate Naval de Monte Santiago (7 e 8 de coexistiu com a ação defensiva na vigilância das extensas águas
abril de 1827). territoriais brasileiras, defendendo nosso comércio marítimo dos
Desenho de Gaston Roullet segundo as indicações
do Barão do Rio Branco. corsários.
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha. Exemplos da ação da Marinha Imperial no combate aos
corsários foram as duas incursões da Esquadra sediada no Rio da
Prata às bases corsárias de Carmen de Patagones e San Blas, na
região da Patagônia. Ambas ocorreram em 1827 e pretendiam
destruir esses verdadeiros ninhos de corsários e recapturar alguns
dos navios mercantes que estes tinham tomado.
Contudo, as condições hidrográficas da costa argentina da
Patagônia, completamente desconhecida dos brasileiros, e,
especialmente na incursão a Carmen de Patagones, a falta de
informação sobre as defesas a serem enfrentadas determinaram o
fracasso das duas expedições.
Entretanto, o combate aos corsários foi mais efetivo no
bloqueio naval empreendido a outra de suas “bases”, a localizada
no Rio Salado. Outros corsários também foram batidos no mar
pela Marinha Imperial, como o Brigue Niger, capturado em março
de 1828, e o Brigue General Brandsen, destruído por navios
brasileiros após longa campanha de corso.

98
A indefinição da campanha terrestre e o esgotamento
econômico e militar de ambos os contendores levaram o Brasil a
aceitar a mediação da Grã-Bretanha para o fim da guerra. A
Convenção Preliminar de Paz foi assinada entre o Império do Brasil
e as Províncias Unidas do Rio da Prata em 27 de agosto de 1828.
O acordo estipulava que ambos os lados renunciariam a suas
pretensões sobre a Banda Oriental, que se tornaria um país
independente: a República Oriental do Uruguai.
O término da Guerra Cisplatina não seria o fim dos conflitos
na região. A Marinha Imperial brasileira permaneceria guarnecendo
a segurança do Império do Brasil no Rio da Prata.

Aprisionamento do navio corsário Gobernador Dorrego em 24 de agosto de 1828, no que foi último combate naval antes da vigência da
Convenção Preliminar de Paz. O corsário Gobernador Dorrego foi uma fragata mercante francesa de nome Mandarine que adquiriu patente
de corso das Províncias Unidas do Rio da Prata e, sob o comando de Jean Soulin, juntou-se a dois outros navios corsário, o General Rondeau
e Argentina, para empreender uma campanha de corso sobre as costas da Província do Rio Grande do Sul. Foram interceptados pela Esquadra
brasileira ainda no Rio da Prata e o Gobernador Dorrego, depois de ter sua mastreação destruída pela Fragata Piranga, Corveta Bertioga (que
aparece a direita na pintura), Brigue Caboclo e Escuna Rio da Prata, foi capturado e incorporado à Marinha Imperial.
Aquarela do Almirante Trajano Augusto de Carvalho.
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha.

99
Guerra contra Oribe e Rosas

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Terminada a revolta que sublevou as Províncias do Rio
Grande e de Santa Catarina, o Império brasileiro pôde retomar
a vigilância na fronteira sul e ater-se ao conflito que crescia na
área do Rio da Prata. Mesmo com o fim da Guerra Cisplatina e
a independência da República Oriental do Uruguai, as lideranças
políticas argentinas continuavam com a pretensão de restituir o
mando de Buenos Aires sobre o território do Vice-Reinado do
Prata.
O projeto de anexação do Uruguai ao território argentino
encontrou em Juan Manuel de Rosas liderança máxima da
Confederação Argentina desde 1835 e em Manuel Oribe, líder
do partido de oposição ao governo uruguaio (o Partido Blanco),
seus executores.
O Império brasileiro, que se opunha frontalmente à anexação,
apoiava o governo constituído do Uruguai, exercido pelo Partido
Colorado. A situação política no Uruguai aproximava-se a de uma
guerra civil, com tropas partidárias de Oribe e apoiadas por Rosas
cercando a capital, Montevidéu.
Em 1851, o Governo brasileiro procedeu uma aliança com
o governo uruguaio e com um oposicionista de Rosas, o governador
da Província argentina de Entre Rios, Justo José de Urquiza, para
defender o Uruguai do ataque das forças de Rosas e Oribe.
A ação da Marinha novamente seria realizada em estreita
colaboração com o Exército Imperial. O comando da Força Naval
foi entregue ao Chefe-de-Esquadra John Pascoe Grenfell, veterano
das lutas na Independência e na Cisplatina.
Chefe-de-Esquadra John Pascoe Grenfell, Somente com a intervenção da força terrestre, as tropas
comandante da Força Naval que irrompeu pelo
passo fortificado de Tonelero.
que cercavam Montevidéu capitularam e Manuel Oribe foi
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha derrotado. A Esquadra brasileira, disposta ao longo do Rio da Prata,
impediu que as tropas vencidas pudessem evacuar para a margem
direita, o lado argentino.
Tendo pacificado o Uruguai, a força brasileira e seus aliados
platinos voltaram-se contra Rosas, que mantinha-se como uma
ameaça à estabilidade da região. Nessa nova ação militar coube à
Marinha a tarefa de transportar as tropas aliadas pelo Rio Paraná
até a localidade de Diamante, para ali desembarcá-las.
A Força Naval brasileira, composta por quatro navios com
propulsão a vapor e três navios a vela, tinha como obstáculo o
Passo de Tonelero, nas proximidades da Barranca de Acevedo,
onde o inimigo instalara uma fortificação guarnecida por 16 peças
de artilharia e 2.800 homens. Devido à pouca largura do rio naquele
trecho, os navios brasileiros seriam obrigados a passar a menos de
400 metros daquela fortificação, recebendo o peso da artilharia
inimiga. A solução encontrada pelo Chefe-de-Esquadra Grenfell

100
foi o emprego conjunto dos navios a vela e a vapor na operação

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
de transposição daquele obstáculo.
Os navios a vela, mais artilhados (pois tinham artilharia
postada por todo seu costado, substituída nos navios a vapor pelas
rodas laterais), foram rebocados pelos navios a vapor, mais rápidos
e ágeis nas manobras.
Tonelero foi vencida em 17 de dezembro de 1851, com as
tropas desembarcando em Diamante com sucesso.
Naquela localidade, os navios a vapor auxiliaram também na
transposição do rio pelas tropas oriundas das províncias argentinas
aliadas que tinham marchado até aquela posição.
O Exército de Buenos Aires foi derrotado pelas tropas
brasileiras e de seus aliados platinos, em fevereiro de 1852. A
Passagem de Tonelero representou a única operação ofensiva
realizada pela Marinha Imperial naquele conflito.
Contudo, o emprego da Força Naval no transporte de tropas
para a área do conflito e, notadamente depois de Tonelero, na
transposição das tropas aliadas da margem uruguaia para território
argentino, no Rio da Prata e Rio Paraná, constituiu fator essencial
para o sucesso das ações militares desenvolvidas pelos aliados
contra Rosas e Oribe.

Planta esquemática representando a Passagem de Tonelero.


Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

101
C R O N O L O G I A
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

DATA EVENTO

1825 a 1828 Guerra Cisplatina.


1835 a 1838 Cabanagem (Província do Pará).
1835 a 1845 Guerra dos Farrapos (Província do Rio Grande do Sul).
1837 a 1838 Sabinada (Província da Bahia).
1838 a 1841 Balaiada (Províncias do Maranhão e Piauí).
1848 a 1849 Revolta Praieira (Província de Pernambuco).
1850 a 1852 Guerra contra Oribe e Rosas.

102
F I X A Ç Ã O

1– Quais foram duas das principais ações efetuadas pela Marinha Imperial brasileira no
combate às revoltas internas da Regência e início do reinado de D. Pedro II?

2– Durante o reinado de D. Pedro I, quais eram as duas principais forças políticas contrárias?

3– Cite uma das atividades militares desenvolvidas pela Marinha Imperial Brasileira na Guerra
Cisplatina.

4– Qual foi a área de atuação da Marinha comum aos dois conflitos externos que o Brasil se
envolveu no período entre o reinado de D. Pedro e o início do reinado de seu herdeiro,
D. Pedro II?

5– Por que uma das atividades essenciais que a Marinha provia em qualquer operação militar
durante as várias revoltas eclodidas nas províncias durante o período das regências era o
transporte e abastecimento das tropas que combatiam os rebeldes?

SAIBA MAIS
ALBUQUERQUE, Antonio Luiz Porto e. História do Brasil. Rio de Janeiro: Serviço de
Documentação da Marinha, 1985.

HISTÓRIA geral do Brasil. Org. de Maria Yedda Linhares. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1990.

HISTÓRIA naval brasileira. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 1975-


v.3. t.2.

MAIA, João do Prado. A Marinha de Guerra do Brasil na Colônia e no Império: (tentativa de


reconstituição histórica). Rio de Janeiro: J. Olympio, 1965.

MARTINS, Hélio Leôncio ; BOITEUX, Lucas Alexandre. Campanha naval na Guerra Cisplatina.
In: HISTÓRIA naval brasileira. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 1975-
v.3. t.1.

PÁGINAS NA INTERNET
Museu Histórico Nacional: http://www.museuhistoriconacional.com.br/

103
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A Atuação da Marinha na Guerra da Tríplice


Aliança contra o Governo do Paraguai
Sinopse
A livre navegação nos rios e os limites entre o Brasil e o
norte do Paraguai eram motivos de discordância entre os dois
países. Não se chegou a um acordo satisfatório até a conclusão
da Guerra da Tríplice Aliança. Para os brasileiros, era muito
importante acessar, sem empecilhos, a Província de Mato
Grosso, navegando pelo Rio Paraguai. Sabendo disto, os
paraguaios mantinham a questão dos limites, que reivindicavam
associada à da livre navegação. O litígio existia, principalmente
em relação a um território situado à margem esquerda do Rio
Paraguai, entre os Rios Apa e Branco, ocupado por brasileiros.
Apesar dessas questões, o entendimento entre o Brasil e o
Paraguai era cordial, excetuando-se algumas crises que não
chegaram a ter maiores conseqüências. Interessava
principalmente ao Império que o Paraguai se mantivesse fora
da Confederação Argentina, que muitas dificuldades lhe vinha
causando, com sua permanente instabilidade política.
Com a morte de Carlos López, ascendeu ao governo do
Paraguai seu filho, Francisco Solano López, que ampliou a política
externa do País, inclusive estabelecendo laços de amizade com o
General Justo José de Urquiza, que liderava a Província argentina
de Entre Rios, e com o Partido Blanco uruguaio. Essas alianças,
sem dúvida, favoreciam o acesso do Paraguai ao mar.
Com a invasão do Uruguai por tropas brasileiras, na
intervenção realizada em 1864, contra o governo do Presidente
uruguaio Manuel Aguirre, do Partido Blanco, Solano López
considerou que seu próprio país fora agredido e declarou guerra
ao Brasil. Aliás, ele havia enviado um ultimato ao Brasil, que fora
ignorado. Como foi negada pelos portenhos permissão para que
seu exército atravessasse território argentino para atacar o Rio
Grande do Sul, invadiu a Província de Corrientes, envolvendo a
Argentina no conflito.

104
O Paraguai estava se mobilizando para uma possível guerra

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
desde o início de 1864. López se julgava mais forte – o que
provavelmente era verdadeiro, no final de 1864 e início de 1865
– e acreditava que teria o apoio dos blancos uruguaios e do
argentino Urquiza. Tal não ocorreu. Ele superestimou o poderio
econômico e militar do Paraguai e subestimou o potencial do
Poder Militar brasileiro e a disposição para a luta do Brasil.

Paraguai: da independência à Guerra da Tríplice Aliança

Ex-colônia espanhola na América do Sul, o Paraguai foi diretamente beneficiado pela


política expansionista de Napoleão Bonaparte na Europa. A Espanha era aliada da França nas
Guerras Napoleônicas, inclusive permitindo que as tropas de Napoleão atravessassem seu terri-
tório para invadir Portugal, em 30 de novembro 1807, um dia após a Família Real e a Corte
portuguesa terem rumado para o Brasil.
Enquanto a invasão de Portugal se sucedia, Napoleão forçou a abdicação do Rei Carlos IV
de Espanha e de seu herdeiro, D. Fernando, conduzindo ao trono espanhol o seu irmão José
Bonaparte. Os espanhóis revoltaram-se contra os usurpadores franceses, obtendo apoio das
tropas inglesas estacionadas no Norte de Portugal. As tropas anglo-portuguesas expulsariam os
franceses em 1813 e Fernando VII restauraria o trono em 1814, pelo Tratado de Valença.
Neste ínterim, com o trono espanhol ocupado por estrangeiros, o isolamento da metró-
pole favoreceu aos patriotas hispano-americanos das colônias espanholas na América que dese-
javam a independência das terras em que viviam. O Paraguai declara a sua independência, derru-
bando as autoridades espanholas locais a 15 de maio de 1811 e derrotando, neste mesmo ano,
tropas argentinas que queriam sua adesão às Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina).
Daí para a frente, as relações com a Argentina seriam complicadas.
Assumiu o governo do Paraguai uma junta composta por três membros. Em 1817, um dos
membros da junta, Dr. José Gaspar Rodriguez de Francia, por maioria no Congresso, passou a ser
o Ditador Perpétuo do Paraguai. O Dr. Francia adotou uma política de isolamento em relação ao
resto do mundo. Consolidou a independência do país e, enquanto governou, ela não foi contestada
oficialmente. O Brasil foi o primeiro país que a reconheceu.
Por seu turno, a Argentina não apenas não reconhecia a independência do Paraguai, como
também não autorizava quaisquer relações exteriores através de território argentino. Mesmo os
estrangeiros em missão oficial eram obrigados a chegar a Assunção sem transitar por território
argentino. O acesso ao mar também era fundamental para o Paraguai.
Em 1844, Carlos López foi aclamado Presidente da República do Paraguai por um
período de dez anos. Durante seu governo, incentivou a abertura ao comércio internacional
e o país começou a participar dos acontecimentos políticos da região. Já no ano seguinte,
firmou uma convenção de aliança ofensiva e defensiva com a Província de Corrientes, decla-
rou guerra a Rosas e enviou 4 mil homens, comandados por um de seus filhos, o jovem
Francisco Solano López, para Corrientes. Solano López viria a ser o ditador paraguaio
que provocou a Guerra da Tríplice Aliança.

105
Os seguintes atos de

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
hostilidade do Paraguai
levaram à assinatura
do Tratado da Tríplice
Aliança contra o Governo do
Paraguai, pelo Brasil,
Argentina e Uruguai 1, em Assinatura da Tríplice Aliança entre o General
Venâncio Flores (Uruguai), Dr. Francisco
1 de maio de 1865:
o
Otaviano (Brasil) e o Presidente da Argentina
Bartolomeu Mitre
· o apresamento do Vapor
brasileiro Marquês de Olinda, que viajava para Mato Grosso
Entre outros itens importantes, o Tratado da Tríplice
transportando o novo presidente dessa província, em 12 de
1

Aliança estabelecia que o Comando da Força Naval


do Brasil em Operações contra o Governo do novembro de 1864, em Assunção;
Paraguai não ficaria subordinado ao Comando
Geral. · a invasão do Sul de Mato Grosso por tropas paraguaias, em 28
de dezembro de 1864; e
· a invasão de território da Argentina por tropas paraguaias, em
13 de abril de 1865, ocupando a Cidade de Corrientes e
apresando os vapores argentinos Gualeguay e 25 de Mayo.
A aliança com os argentinos era, na opinião de um dos
observadores estrangeiros, uma “aliança de cão e gato”. Havia
muitas desavenças recentes e ao Brasil não interessava subordinar
Tratado da Tríplice Aliança
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
sua Força Naval a um comandante argentino. A Argentina possuía,
durante essa guerra, apenas uma pequena Marinha e o esforço
2
Como, aliás, ocorrera na Campanha do Mississipi,
durante a Guerra Civil Americana. No vale do Rio naval foi quase totalmente da Marinha do Brasil. O Império não
Mississipi, onde os rios eram as principais vias de
comunicação, houve semelhanças com o conflito
queria criar uma situação em que um estrangeiro pudesse decidir
sul-americano. o destino de seu Poder Naval. Poder que sempre desempenhara
3
O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (Arsenal um papel importante, de diferenciador nos conflitos da região
de Marinha da Corte) passara por uma moderniza-
ção em meados do século XIX. Alguns de seus
do Rio da Prata.
engenheiros, como Napoleão Level e Carlos Isto significava, também, que no início da guerra, as
Braconnot, haviam estagiado em estaleiros eu-
ropeus e eram capazes de projetar navios movidos operações envolvendo forças navais e terrestres seriam
por hélice e sistemas de propulsão a vapor. Diver-
sos dos navios do início da guerra foram
operações conjuntas, sem unidade de comando2.
projetados e construídos no País. No início da Guerra da Tríplice Aliança, a Marinha do Brasil
dispunha de 45 navios armados. Destes, 33 eram navios de
propulsão mista, a vela e a vapor, e 12 dependiam exclusivamente
do vento. A propulsão a vapor, no entanto, era essencial para
operar nos rios. Todos tinham casco de madeira. Muitos deles
já estavam armados com canhões raiados de carregamento
pela culatra3.

Navios da Marinha Imperial Brasileira fundeados


na Baía de Guanabara em 1865.
Foto de George Leuzinger
Acervo do Instituto Moreira Salles, 1998

106
Os navios brasileiros, no entanto, mesmo os de propulsão

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
mista, eram adequados para operar no mar e não nas condições
de águas restritas e pouco profundas que o teatro de operações
nos Rios Paraná e Paraguai exigia; a possibilidade de encalhar era
um perigo sempre presente. Além disso, esses navios, com casco
de madeira, eram muito vulneráveis à artilharia de terra,
posicionada nas margens.
Era uma época de freqüentes inovações tecnológicas no
hemisfério norte e a Guerra Civil Americana trouxera muitas
novidades para a guerra naval e, especificamente, para o combate
O Pirabebe, um pequeno navio fluvial, tinha a
nos rios. Sua influência, logo depois dessa primeira fase de navios
4

estrutura de ferro e era a hélice.


de madeira, na Guerra da Tríplice Aliança fez-se sentir,
principalmente, com o aparecimento dos navios protegidos por
couraça de ferro, projetados para a guerra fluvial, e a mina naval.
Todos os navios da Esquadra paraguaia, exceto um4, eram
navios de madeira, mistos, a vela e a vapor, com propulsão por
rodas de pás. Embora todos eles fossem adequados para navegar
nos rios, somente o Taquary era um verdadeiro navio de guerra;
os outros, apesar de convertidos, não foram projetados para tal.
Os paraguaios desenvolveram a chata com canhão como
arma de guerra. Era um barco de fundo chato, sem propulsão,
com canhão de seis polegadas de calibre, que era rebocado até
o local de utilização, onde ficava fundeado. Transportava apenas
a guarnição do canhão e sua borda ficava próximo da água,
deixando à vista um reduzidíssimo alvo. Via-se somente a boca
do canhão acima da superfície da água.
Discriminadas as forças, sigamos então no conflito.
A seguir serão destacados os pontos de maior relevância
da nossa Força Naval...

107
O bloqueio do Rio Paraná e a

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Batalha Naval do Riachuelo
O Paraguai enviou duas
colunas de tropas invasoras, uma
destinada ao Rio Grande do Sul e
outra para o sul, em território
argentino, acompanhando o Rio
Paraná.
Foi designado comandante das
Forças Navais Brasileiras em Operação
o Almirante Joaquim Marques Lisboa,
Visconde de Tamandaré. A estratégia
naval adotada foi a de negar o acesso
ao território paraguaio através do Almirante Tamandaré
Acervo do Serviço de
bloqueio. Tamandaré, logo no início, Documentação da Marinha
tratou também de organizar a difícil
logística que o teatro de operações exigia. Os rios eram as principais
vias de comunicação da região, e navios e embarcações teriam
que transportar os suprimentos para as tropas, o carvão para servir
como combustível dos próprios navios e,
muitas vezes, soldados, cavalos e armamento.
Com o avanço das tropas paraguaias ao
longo do Rio Paraná, ocupando a Província
de Corrientes, Tamandaré resolveu designar
seu chefe de estado-maior, o Chefe-de-
Divisão Francisco Manoel Barroso da Silva,
para assumir o comando da Força Naval
brasileira, que subira o rio para efetivar o
bloqueio do Paraguai. Ele queria mais ação.
Barroso partiu em 28 de abril de 1865, na
Fragata Amazonas, e assumiu o cargo em Bela
Vista. Sua primeira missão foi um ataque à
Cidade de Corrientes, então ocupada pelos
paraguaios. O desembarque das tropas
Batalha Naval do Riachuelo aliadas em Corrientes ocorreu com bom
Óleo sobre tela de Victor Meireles
Acervo do Museu Histórico Nacional êxito no dia 25 de maio.
Não era, sabidamente, possível manter a posse dessa cidade
na retaguarda das tropas invasoras, principalmente naquele
momento da luta, em que os paraguaios mantinham uma ofensiva
vitoriosa, e foi preciso, logo depois, evacuá-la. Mas, o ataque deteve
o avanço paraguaio para o Sul. Ficou evidente que a presença da
Força Naval brasileira deixava o flanco direito dos invasores, que
se apoiava no Rio Paraná, sempre muito vulnerável. Para os
paraguaios, era necessário destruí-la e isto levou Solano López a
planejar a ação que levaria à Batalha Naval do Riachuelo.

108
Os preparativos para o ataque aos navios brasileiros foram

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
realizados sob a orientação direta do próprio López. O plano
consistia em surpreender os navios brasileiros fundeados, abordá-
los e, após a vitória, rebocá-los para Humaitá. Por isso, os navios
paraguaios estavam superlotados com tropas.
Tirando o máximo proveito do terreno ao longo do Rio
Paraná, ele mandou, também, assentar canhões nas barrancas da
Ponta de Santa Catalina, que fica imediatamente antes da foz do
Riachuelo5, e reforçar com tropas de infantaria o Rincão de
Lagraña6, que lhe fica rio abaixo.
Da extremidade Sul do Rincão de Lagraña, que tem uma 5
17 quilômetros distante ao Sul da cidade de
barranca mais elevada, os paraguaios podiam atirar, de cima, sobre Corrientes, portanto, em território argentino ocu-
os conveses dos navios brasileiros que escapassem, descendo o pado pelo Paraguai.

Paraná. O local era perfeito para uma armadilha, pois o canal 6


Assim chamado porque era uma estância do Go-
navegável era estreito e tortuoso, com risco de encalhe em bancos vernador Lagraña.

submersos, o que forçava as embarcações a passarem próximo à 7


Existem, também, diversas ilhas nesse trecho do
margem esquerda7. rio, as principais são as Palomeras, baixas e cober-
tas com vegetação. Elas ficam entre o canal que era
Na noite de 10 para 11 de junho de 1865, a Força Naval utilizado nessa época e a margem direita, que é
brasileira comandada por Barroso, constituída pela Fragata ocupada pelo Chaco, região alagadiça e inóspita.

Amazonas e pelos Vapores Jequitinhonha, Belmonte, Beberibe,

Plano da Batalha Naval do Riachuelo feito pelo


Parnaíba, Mearim, Araguari, Iguatemi e Ipiranga, estava fundeada ao Primeiro Tenente Antônio Luiz Von Hoonholtz
(futuro Barão de Teffé), comandante da
sul da Cidade de Corrientes, próximo à margem direita, em um Canhoneira Araguari.
trecho largo do rio. De lá avistaram, pouco depois das oito horas Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
da manhã, a força paraguaia comandada pelo Capitão-de-Fragata
Pedro Inácio Mezza, com os navios: Tacuary, Paraguary, Igurey, Ipora,
Jejuy, Salto Oriental, Marquês de Olinda e Pirabebe; rebocando seis
chatas artilhadas.

109
Mezza se atrasara

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
devido a problemas na
propulsão de um de seus
navios, o Ibera, que acabou
sendo deixado para trás. As
chatas que rebocava tinham
uma pequena borda-livre, Em destaque o Vapor Araguari
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
fazendo água quando os
navios aumentavam a velocidade procurando recuperar o tempo
perdido.
Ele decidiu não largar as chatas, pois sua presença na batalha
8
Coube a iniciativa desse primeiro combate aos era uma determinação de López, e, chegando tarde, desistiu de
paraguaios. A força brasileira somente conseguiu iniciar o combate com a abordagem. Julgava que não havia
pressão nas caldeiras para se movimentar às
10h50min, aproximadamente. surpreendido os brasileiros e é acusado de ter, assim, perdido sua
melhor chance de vitória. A surpresa, na realidade, foi maior até
do que se poderia supor. Era uma manhã de domingo, parte das
guarnições estava em terra para trazer lenha, com o propósito de
poupar carvão. É sempre difícil manter um estado prolongado de
alerta quando as ameaças não se fazem freqüentemente sensíveis.
Alertada, a Força Naval brasileira se preparou para o iminente
combate, as tripulações assumindo seus postos, despertando o
fogo das fornalhas das caldeiras com carvão e largando as amarras.
Às 9h25min, dispararam-se os primeiros tiros de artilharia. Passou,
logo em seguida, a força paraguaia, em coluna, pelo través da
brasileira, ainda imobilizada, indo, logo depois, rio abaixo, para as
proximidades da margem esquerda, logo após o local onde
estavam as baterias de terra. Fechou-se, assim, a armadilha em
uma extensão de uns seis quilômetros, ao longo de um trecho do
Paraná, junto à foz do Riachuelo8.
Pouco tempo depois, a coluna brasileira, com o Belmonte à
“O Brasil espera que frente, seguido pelo Jequitinhonha e por outros navios, avistou as
cada um cumpra o seu
dever.”
barrancas de Santa Catalina. Somente mais adiante, já com as
barrancas pelo través, era possível ter a visão completa da curva
do Rincão de Lagraña, rio abaixo da foz do Riachuelo, onde estavam
parados os navios e as chatas da força paraguaia. A vegetação
“Sustentar o fogo que a impedia que se soubesse que as barrancas de Santa Catalina
vitória é nossa.”
estavam artilhadas.
Barroso resolveu deter a Amazonas, reservando-a para
interceptar uma possível fuga dos paraguaios rio acima. Alguns
navios brasileiros não entenderam a manobra e ficaram indecisos.
Sinais de Barroso Como conseqüência, o Jequitinhonha encalhou num banco, sob as
baterias de terra, e o Belmonte, à frente, prosseguiu sozinho,
recebendo o fogo concentrado da artilharia do inimigo e tendo
que encalhar, propositadamente, após completar a passagem para
não afundar, devido às avarias sofridas em combate.
Para reorganizar sua força naval, Barroso avançou com a
Amazonas, assumiu a liderança dos navios que estavam a ré do
Belmonte e, seguido por eles, completou a passagem sob o fogo

110
dos canhões paraguaios e da fuzilaria de terra. Afastou-se,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
depois, descendo o Rio Paraná com apenas seis dos seus nove
navios, porque o Parnaíba, com o leme avariado, também não
conseguira passar. Completou-se assim, às 12h10min, a primeira
fase da batalha.
Então, Barroso mostrou toda a sua coragem, decidindo
regressar para o interior da armadilha de Riachuelo. Foi necessário
descer o rio até um lugar onde o canal permitia fazer a volta com
os navios e, cerca de uma hora depois, ele estava novamente em
frente à ponta sul do Rincão de Lagraña.
Até aquele instante, o resultado era altamente insatisfatório
para o Brasil. O Belmonte fora de ação, o Jequitinhonha encalhado,
para sempre, e o Parnaíba sendo abordado e dominado pelo
inimigo, apesar de resistência heróica de brasileiros, como o Guarda-
Marinha Guilherme Greenhalgh e o Marinheiro Marcílio Dias, que
lutaram até a morte.
Tirando, porém, vantagem do porte da Amazonas e contando
com a perícia do prático argentino que tinha a bordo, Barroso
usou seu navio para abalroar os paraguaios e vencer a batalha. Foi
um improviso, seu navio não tinha a proa propositadamente
reforçada para ser empregada como aríete.
Repetindo aqui as próprias palavras do Chefe-de-Divisão
Barroso, na parte que transmitiu ao Visconde de Tamandaré, assim
se deu a batalha (grafia de época):

– “....Subi, minha resolução foi de acabar de uma vez, com tôda a


esquadra paraguaya, que eu teria conseguido se os quatro vapôres que Guarda-Marinha Greenhalgh
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
estavam mais acima não tivessem fugido. Pus a prôa sôbre o primeiro, que
o escangalhei, ficando inutilisado completamente, de agoa aberta, indo
pouco depois ao fundo. Segui a mesma manobra contra o segundo, que
era o Marques de Olinda, que inutilisei, e depois o terceiro, que era o
Salto, que ficou pela mesma fórma. Os quatro restantes vendo a manobra
que eu praticava e que eu estava disposto a fazer-lhes o mesmo, trataram
de fugir rio acima. Em seguimento ao terceiro vapor destruído, aproei a
uma chata que com o choque e um tiro foi a pique.
Exmº Sr. Almirante, todas estas manobras eram feitas pela
Amazonas, debaixo do mais vivo fogo, quer dos navios e chatas, como das
baterias de terra e mosquetaria de mais de mil espingardas. A minha tenção
era destruir por esta forma toda a Esquadra Paraguaya, do que andar para
baixo e para cima, que necessariamente mais cedo ou mais tarde havíamos de
encalhar, por ser naquella localidade o canal mui estreito.
Concluída esta faina, seriam 4 horas da tarde, tratei de tomar as
chatas, que ao approximar-me d’ellas eram abandonadas, saltando todos
ao rio, e nadando para terra, que estava a curta distância.
O quarto vapor paraguayo Paraguary, de que ainda não fallei, recebeu
tal rombo no costado e caldeiras, quando desceram, que foi encalhar
em uma ilha em frente, e toda a gente saltou para ella, fugindo e Imperial Marinheiro Marcílio Dias
abandonando o navio”. Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

111
Quatro navios paraguaios conseguiram fugir e, com a

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
aproximação da noite, os navios brasileiros que os perseguiam
regressaram, para evitar encalhes em território inimigo. Além disto,
apesar de não comentarem, na época, não seria sensato abordar
um navio lotado com tropas.
Antes do pôr-do-sol de 11 de junho, a vitória era brasileira.
Foi uma batalha naval, em alguns aspectos, decisiva.

9
Tamandaré explicou sua ordem de recuar a força
naval pela necessidade dela estar sempre próxima à
frente do exército inimigo.

10
López ordenara o regresso da coluna que avança-
ra junto ao Rio Paraná, logo após a derrota das
forças que invadiram o Rio Grande do Sul, em
Uruguaiana. Só então foi possível recuperar, defini-
tivamente, a cidade de Corrientes. Em dezembro
de 1865, os Exércitos Aliados estavam acampados
em locais próximos a essa cidade e a Força Naval Batalha Naval do Riachuelo
brasileira, sob o comando de Barroso, também Óleo sobre tela de Eduardo de Martino
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
estava fundeada nas imediações.

A Esquadra paraguaia foi praticamente aniquilada, e não teria


mais participação relevante no conflito. Estava garantido o bloqueio
que impediria que o Paraguai recebesse armamentos e, até mesmo,
os navios encouraçados encomendados no exterior.
Comprometeu, também, a situação das tropas invasoras e, pouco
tempo depois, a guerra passou para o território paraguaio.
Barroso, sem dúvida, foi o responsável pelo bom êxito de
sua força naval em Riachuelo. O futuro Barão de Teffé declarou
que o vira, do Araguari, em plena batalha, destemido, expondo-se
Francisco Solano López
sobre a roda da Amazonas, com a barba branca, que deixara crescer,
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha ao vento e sentira por ele um grande respeito e admiração.
A cidade de Corrientes continuava ocupada pelo inimigo e a
Força Naval brasileira, que mostrara sua presença, fundeada
próxima a ela, precisou iniciar, alguns dias após o 11 de junho, a
descida do rio, que estava baixando.
Os paraguaios haviam retirado suas baterias, que estavam
na Ponta de Santa Catalina, e as instalaram, primeiro em
Mercedes, depois em Cuevas, criando dificuldades para o
abastecimento dos navios brasileiros, que era realizado pelo rio.
Sob todos esses aspectos, incluindo a diminuição do nível do
Rio Paraná, que aumentava o risco de encalhe, a posição da
Força Naval, avançada em território ainda ocupado por tropas
do Paraguai, mostrava-se muito vulnerável9.
Barroso passou com seus navios por Mercedes e Cuevas,
enfrentando a artilharia paraguaia, e somente regressou passados
alguns meses, apoiando o avanço das tropas aliadas, que progrediam
Barão de Teffé - Antonio Luiz Von Hoonholtz
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
aproveitando o recuo do inimigo10.

112
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Passagem de Mercedes Passagem de Cuevas
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

Tudo levava à ilusão de que a Tríplice Aliança venceria a guerra


em pouco tempo, mas tal não ocorreu. O que parecia fácil 11
Incidente com a Inglaterra, ocorrido em 1863.
estagnou. O Paraguai era um país mobilizado para a guerra que,
aliás, foi ele que iniciou, achando que tinha vantagens. 12
O Encouraçado Brasil foi o primeiro navio
encouraçado da Marinha do Brasil.
Humaitá ainda era uma fortaleza inexpugnável enquanto não
estivessem disponíveis os novos meios navais que estavam em
obtenção pelo Brasil: os navios encouraçados.
Para avançar ao longo do Rio Paraguai, era necessário vencer
diversas passagens fortificadas, destacando-se, inicialmente, Curuzu,
Curupaiti e Humaitá. Navios oceânicos de calado inapropriado para
navegar em rios, de casco de madeira, sem couraça, como os da
Força Naval brasileira que combatera em Riachuelo, não teriam
bom êxito. Era evidente que o Brasil necessitava de navios
encouraçados para o prosseguimento das ações de guerra. Os
obstáculos e fortificações de Humaitá eram uma séria ameaça,
mesmo para estes navios.

Navios encouraçados e
a invasão do Paraguai
Os navios encouraçados começaram a chegar à frente de
combate em dezembro de 1865. O Encouraçado Brasil,
encomendado após a Questão Christie11 na França, foi o primeiro
que chegou a Corrientes em dezembro de
186512.
No Arsenal de Marinha da Corte, no Rio
de Janeiro, iniciara-se a construção de outros
navios encouraçados, especificados para lutar
naquele teatro de operações fluviais. O projeto
e a construção estavam a cargo de brasileiros,
como os engenheiros Napoleão Level e Carlos
Braconnot. Destacou-se, também, o Capitão-
de-Fragata Henrique Antônio Baptista,
especialista em armamento, que também
chefiara o recebimento e trouxera o
Encouraçado Brasil da França.
Durante a guerra, foram incorporados à Encouraçado Brasil – Aquarela do Almirante Trajano Augusto de Carvalho
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
Armada brasileira 17 navios encouraçados,

113
incluindo alguns classificados como monitores, que obedeciam a

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
características de projeto inovadoras, desenvolvidas poucos anos
antes na Guerra Civil Americana.
Em 21 de fevereiro de 1866, Tamandaré chegou a Corrientes
e assumiu o comando da Força Naval, mantendo Barroso como
seu chefe de estado-maior. Em 17 de março, os navios
suspenderam para iniciar as operações rio acima. Quatro dos
encouraçados já estavam disponíveis nessa força. Um deles tinha
o nome de Barroso, e outro o de Tamandaré. Era uma grande
homenagem, em vida, aos dois ilustres chefes.
A ofensiva aliada para a invasão do Paraguai necessitava
de apoio naval. Passo da Pátria foi uma operação conjunta de
forças navais e terrestres. Coube, inicialmente, à Marinha fazer
os levantamentos hidrográficos, combater as chatas paraguaias
e bombardear o Forte de
Itapiru e o acampamento
inimigo. Em março de 1866,
já estavam disponíveis nove
navios encouraçados, inclu-
sive três construídos no
Brasil: Tamandaré, Barroso e
Rio de Janeiro. A reação da
artilharia paraguaia ceifou
vidas preciosas, como a do
Encouraçado Barroso
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha Tenente Mariz e Barros,
comandante do Tamandaré.
Houve, depois, perfeita cooperação entre as forças, na grande
operação de desembarque que ocorreu em 16 de abril de 1866.
Enquanto parte da Força Naval bombardeava a margem direita do
Rio Paraná, de modo a atrair a atenção do inimigo, os
transportes avançaram e entraram no Rio Paraguai.
Os navios transportaram inicialmente cerca de 45 mil
homens, de um efetivo de 66 mil (38 mil brasileiros, 25 mil
argentinos e 3 mil uruguaios), artilharia, cavalos e material. O
General Osório foi o primeiro a desembarcar em território inimigo.
Com a invasão, os paraguaios abandonaram Itapiru e Passo da Pátria
e, após tentativas infrutíferas de derrotar o invasor em Estero
Bellaco e Tuiuti, concentraram suas defesas nas fortificações que
barravam o caminho: Curuzu, Curupaiti e Humaitá.

114
Curuzu e Curupaiti

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Em 31 de agosto de 1866, as tropas comandadas pelo
General Manoel Marques de Souza, o Barão de Porto Alegre,
desembarcaram na margem esquerda para atacar Curuzu e, no
dia seguinte, os navios começaram a bombardear a fortificação.
Em 2 de setembro, o navio encouraçado Rio de Janeiro foi
atingido por duas minas flutuantes e afundou com perda de vidas
humanas.
Curuzu foi conquistada pelo Barão de Porto Alegre, apoiado
pelo fogo naval, em 3 de setembro.
O próximo ataque foi a Curupaiti. O Presidente argentino,
General Bartolomeu Mitre, comandante das Forças da Tríplice
Aliança, assumiu pessoalmente o comando da operação. Apesar
do intenso bombardeio naval, o ataque aliado, ocorrido em 22 de
setembro, levou à maior derrota da Tríplice Aliança nessa guerra.
Seguiram-se acusações e críticas, que causaram uma crise
entre Mitre e Tamandaré. O preparo da operação, sem dúvida,
fora insuficiente e as dificuldades do ataque incorretamente
avaliadas. Como Mitre permaneceria exercendo o comando geral
dos Exércitos Aliados, o governo brasileiro aceitou o pedido de
afastamento feito anteriormente por Tamandaré. Ele e
Barroso foram substituídos, não mais participando das
operações dessa guerra.

Aquarela do Almirante Trajano Augusto de Carvalho retratando o Encouraçado Rio de janeiro


no momento em que afundava durante o ataque a Curuzu.
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha.

115
Caxias e Inhaúma

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
O Marquês de Caxias, General Luís Alves de Lima e Silva,
futuro Duque de Caxias e Patrono do Exército Brasileiro, foi
designado para o cargo de Comandante-em-Chefe das Forças
Brasileiras em Operações contra o Governo do Paraguai.
O comando da Força Naval coube ao Chefe-de-Esquadra
Joaquim José Ignácio, futuro Visconde de Inhaúma, que assumiu
seu cargo, substituindo Tamandaré, em 22 de dezembro de 1866.
Ele estava subordinado a Caxias, mas não a Mitre.
Caxias empregou com maestria a Força Naval de Inhaúma,
13
Caxias e Inhaúma eram amigos e sua amizade e para apoiar sua ofensiva ao longo do Rio Paraguai, até a ocupação
confiança mútua contribuíram para o excelente re-
sultado das operações combinadas. Ambos possuí- da cidade de Assunção; bombardeando fortificações; fazendo
am, também, uma boa experiência política, o que reconhecimentos pelo rio; transportando tropas de uma margem
ajudou no, às vezes, difícil relacionamento com os
aliados da Tríplice Aliança. para a outra, para contornar o flanco inimigo; e fazendo o apoio
logístico necessário13.

Passagem de Curupaiti
Há meses que a Força Naval bombardeava diariamente
Curupaiti, tentando diminuir seu poder de fogo e abalar o moral
dos defensores.
Em 15 de agosto de 1867, já promovido a Vice-Almirante,
Joaquim Ignácio comandou a Passagem de Curupaiti, enfrentando
o fogo das baterias de terra e
Duque de Caxias obstá-culos no rio. Pelo feito,
Acervo do Serviço de
Documentação da Marinha re-cebeu, logo depois, o título
de Barão de Inhaúma. Partici-
param da passagem dez navios
encouraçados que, em se-
guida, fundearam um pouco
abaixo de Humaitá e
Passagem de Curupaiti
começaram a bombardeá-la. Aquarela do Almirante Trajano Augusto de Carvalho
A posição desses navios, Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
porém, expunha-os aos tiros
das fortificações paraguaias e Inhaúma considerava que ainda não
era o momento de forçar Humaitá. Caxias apoiou esta decisão.
O apoio logístico a essa Força Naval operando entre
Curupaiti e Humaitá era muito difícil e exigiu que os brasileiros
fizessem o caminho pela margem direita do Rio Paraguai, no Chaco.
Visconde de Inhaúma Logo depois construiu-se uma pequena ferrovia nesse caminho,
Acervo do Serviço de
Documentação da Marinha para transportar as provisões necessárias.
Para apoiar o material das forças em combate, construíra-se
um arsenal em Cerrito, próximo à confluência dos Rios Paraguai e
Paraná. Graças a ele, foi possível fazer essa estrada de ferro.
Ultrapassar Humaitá com uma força naval e mantê-la rio
acima exigiria também uma base de suprimentos rio acima. Caxias,

116
após reorganizar as forças terrestres brasileiras, iniciou, em julho

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
de 1867, a marcha de flanco e ocupou Tayi, no Rio Paraguai, acima
de Humaitá, que serviria depois para apoiar os navios.
Em dezembro de 1867, os três primeiros monitores
construídos no Arsenal de Marinha da Corte chegaram à frente de
combate. Esses monitores, por suas características, seriam
importantes para o prosseguimento das operações.
Em 14 de janeiro de 1868, Mitre precisou reassumir a
presidência da Argentina e passou definitivamente o comando-em-
chefe dos Exércitos da Tríplice Aliança para Caxias.

Passagem de Humaitá
Na madrugada de 19 de fevereiro de 1868, iniciou-se a
Passagem de Humaitá.
A Força Naval de Inhaúma intensificou o bombardeio e a
Divisão Avançada, comandada pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra
Delfim Carlos de Carvalho, depois Almirante e Barão da
Passagem, avançou rio acima.
Essa divisão era formada por seis
navios: os Encouraçados Barroso,
Tamandaré e Bahia e os Moni-
tores Rio Grande, Pará e Alagoas.
Eles acometeram a passa-
gem formando três pares com-
postos, cada um, por um encou-
raçado e um monitoramarrado ao
seu contrabordo.
Após a passagem, três dos
seis navios tiveram que ser
encalhados, para não afundarem
devido às avarias sofridas no
percurso. O Alagoas foi atingido
por mais de 160 projéteis.
Estava, no entanto, vencida
Humaitá, que aos poucos seria
desguarnecida pelos paraguaios.
Solano López decidiu que era
necessário retirar-se com seu
exército para uma nova posição
defensiva, mais ao norte.

Planta geral mostrando


a posição da Esquadra na
Passagem de Humaitá.

117
O recuo das forças paraguaias

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Na madrugada de 3 de março de 1868, López se
retirou de Humaitá com cerca de 12 mil homens. Os aliados
fecharam o cerco.
Em 25 de julho, os últimos defensores abandonaram
Humaitá, que foi ocupada pelos aliados. Era preciso reforçar o
cerco para evitar que eles se juntassem ao grosso do
Exército paraguaio. Para isso, os aliados criaram uma flotilha
de escaleres, lanchas e canoas para bloquear a passagem dos
fugitivos pela Lagoa Verá.
Almirante Saldanha da Gama
14

Acervo do Serviço de Documentação da Marinha.


Os combates que ali ocorreram, corpo-a-corpo, entre as
tripulações de embarcações, constituíram um dos conjuntos de
episódios mais dramáticos da guerra. Participaram deles, com
grande bravura, jovens oficiais brasileiros, como os Tenentes
Saldanha da Gama14 e Júlio de Noronha, entre outros. Ao final,
renderam-se 1.300 paraguaios.

O avanço aliado e a Dezembrada


Superado o obstáculo de Humaitá, Caxias pôde avançar para
o norte. Era necessário que a Força Naval acompanhasse o
movimento das forças terrestres aliadas e, no dia 16 de agosto de
1868, Inhaúma começou a subir o Rio Paraguai. A partir de então,
os navios participaram das operações prestando o apoio
determinado por Caxias.
Logo, Caxias alcançou Palmas e iniciou seus planos para atacar
a nova posição do inimigo, em Piquissiri. Ele próprio efetuou vários
reconhecimentos empregando os navios e decidiu por não realizar
uma ação frontal. Para atacar os paraguaios pela retaguarda, era
preciso utilizar a margem direita, onde se situava o Chaco, um
alagadiço quase intransponível, exposto às inundações.
A genial manobra do Piquissiri, que contornou a posição do
inimigo, foi uma operação em que a Força Naval exerceu um papel
relevante. Foi construída uma estrada pelos pântanos do Chaco,
ultrapassando diversos cursos d’água, para que as tropas, que
cruzaram o rio nos navios, avançassem pela margem direita até
um ponto em que podiam embarcar novamente, para serem
transportadas para a margem esquerda, acima das posições
inimigas. Em 4 de dezembro, a Força Naval apoiou o desembarque
das tropas em Santo Antônio, sobre a retaguarda paraguaia.
O ataque de Caxias para o Sul é conhecido como a
Dezembrada. Ocorreu uma sucessão de combates terrestres, dos
quais se destacam Itororó, Avaí e Lomas Valentinas. Ao final, as
forças paraguaias estavam derrotadas e López fugiu.

118
Não se rendendo, apesar de seu exército estar praticamente

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
aniquilado, ele conseguiu prolongar a guerra por mais de um ano,
na região montanhosa do Norte de seu país, na chamada Campanha
da Cordilheira, causando enormes sacrifícios a todos os envolvidos,
principalmente ao povo paraguaio15.

A ocupação de Assunção e
a fase final da guerra
Como não havia mais obstáculos até Assunção, ela foi
ocupada pelos aliados e a Força Naval fundeou em frente à cidade, 15
A Guerra da Tríplice Aliança contra o governo do
Paraguai só foi superada na América em número de
em janeiro de 1869. mortes pela Guerra Civil Americana.
Em fevereiro, o Chefe-de-Esquadra Elisário Antônio dos
Santos assumiu o comando da Força Naval. Ficaram no Paraguai
os navios de menor calado, mais úteis para atuar nos afluentes.
Uma Força Naval subiu o Rio Paraguai até território brasileiro, em
Mato Grosso. Houve um último combate no Rio Manduvirá. Seguiu-
se a Campanha da Cordilheira, em que a Marinha não mais
confrontou o inimigo.
Em 1870, o Paraguai estava derrotado e seu povo dizimado.
A Guerra foi muito importante para a consolidação dos
Estados Nacionais na região do Rio da Prata. Foi durante o conflito
que a unidade da Argentina se consolidou. Para o Brasil, foi um
grande desafio que mobilizou o País e uniu sua população. Foi lá
que os brasileiros das diferentes regiões do País se conheceram
melhor, passando a se respeitar e a se entender.

119
C R O N O L O G I A
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

DATA EVENTO
12/11/1864 O governo paraguaio apreende o Navio Mercante brasileiro
Marquês de Olinda, quando este navegava 30 milhas acima de
Assunção, rumo ao Mato Grosso levando o novo presidente dessa
província.

28/12/1864 Forças paraguaias invadem a Província do Mato Grosso, atacando e


ocupando o Forte Coimbra.

27/01/1865 O Império do Brasil declara oficialmente que responderá às


hostilidades do Paraguai.

05/04/1865 Parte de Buenos Aires uma Força Naval brasileira para bloquear o
Rio Paraná.

13/04/1865 O Governo paraguaio declara guerra à Argentina e forças paraguaias


atacam Corrientes.

01/05/1865 Assinado em Buenos Aires o Tratado da Tríplice Aliança, entre os


governos do Brasil, Argentina e Uruguai.

20/05/1865 O Chefe-de-Divisão Francisco Manoel Barroso da Silva assume o


comando das duas divisões navais brasileiras incumbidas do bloqueio.

10/06/1865 Forças paraguaias invadem a Província do Rio Grande do Sul.

11/06/1865 Batalha Naval do Riachuelo.

21/02/1866 O Vice-Almirante Tamandaré, Comandante-em-Chefe da Esquadra


brasileira, chega à cidade argentina de Corrientes.

16/04/1866 Inicia-se a travessia de Passo da Pátria.

27/07/1866 Início do reconhecimento, pelos navios da Esquadra, da área da


Fortaleza de Curuzu.

31/08/1866 As tropas brasileiras, comandadas pelo Barão de Porto Alegre,


desembarcam para a tomada do Forte de Curuzu, apoiadas pelo
fogo dos navios.

120
02/09/1866 A Marinha perde o Encouraçado Rio de Janeiro, posto a pique pela
explosão de duas minas flutuantes.

03/09/1866 Tomada da Fortaleza de Curuzu.

22/09/1866 A Esquadra bombardeia pesadamente o Forte de Curupaiti, enquanto


tentavam conquistá-lo. Percebendo a impossibilidade de tomar a praça,
ordena a retirada. Foi a maior derrota da Tríplice Aliança nessa guerra.

22/12/1866 O Chefe-de-Esquadra Joaquim José Ignácio recebe do Almirante


Tamandaré o comando da Esquadra Brasileira em Operações no Paraguai.

13/01/1867 A Esquadra brasileira inicia os bombardeios ao Forte de Curupaiti.

15/08/1867 O Vice-Almirante Joaquim José Ignácio comanda a 1a Passagem de Curupaiti.

13/02/1868 Os Monitores Pará, Rio Grande e Alagoas forçam durante a noite a Passagem
de Curupaiti, indo reunir-se aos encouraçados que se destinavam a passar
Humaitá. (2a Passagem de Curupaiti).

19/02/1868 Inicia-se a Passagem de Humaitá. (1a Passagem de Humaitá).

21/03/1868 A Fortaleza de Curupaiti é conquistada.

02/05/1868 A Divisão Avançada da Esquadra, composta dos Encouraçados Bahia, Barroso


e Tamandaré e dos Monitores Rio Grande e Pará, transporta para a Península
do Araça as tropas que cortarão as comunicações do inimigo concentrado
em Humaitá, impedindo o recebimento de socorro.

21/07/1868 Os Encouraçados Cabral, Silvado e Piauí forçam a Passagem de Humaitá,


para se reunirem à Divisão do Chefe Delfim. (2ª Passagem de Humaitá).

25/07/1868 As tropas aliadas conquistam a Fortaleza de Humaitá.

01/08/1868 Combate na Lagoa Verá entre chalanas paraguaias e escaleres dos navios
brasileiros.

16/08/1868 Início da Dezembrada.

30/08/1868 O Barão da Passagem, Chefe-de-Divisão Delfim Carlos de Carvalho,


comandando uma divisão composta do Encouraçado Bahia, e dos Monitores
Alagoas, Ceará, Pará, Piauí e Rio Grande, entra pelo Rio Tebiquari para
proteger a passagem do Exército.

121
01/10/1868 Os Encouraçados Bahia, Barroso, Tamandaré e Silvado forçam as baterias
de Angostura, ao mesmo tempo que os encouraçados restantes
bombardeam o acampamento inimigo.

19/11/1868 A Esquadra bombardea as fortificações de Angostura – manobra do


Pissiquiri.

04/12/1868 A Esquadra inicia a passagem do Exército do Chaco para a Barranca de


Santo Antônio.

01/01/1869 Tropas brasileiras, sob o comando o Coronel Hermes da Fonseca, ocupam


Assunção, que se encontrava deserta.

16/01/1869 O Vice-Almirante Joaquim José Ignácio, gravemente enfermo, deixa o


comando da Esquadra brasileira em Operações no Paraguai e regressa ao
Rio de Janeiro.

06/02/1869 O Chefe-de-Esquadra Elisário Antônio dos Santos assume o comando da


Força Naval.

18/04/1869 O Comandante-em-Chefe da Esquadra no Paraguai ordena a perseguição


e a captura de embarcações paraguaias no Rio Manduvirá e afluentes.

122
FIXAÇÃO

1 – Quais foram os atos de hostilidade do Paraguai que levaram à assinatura do Tratado da


Tríplice Aliança em 1o de maio de 1865?

2 – Quais eram os países que compunham a Tríplice Aliança?

3 – Qual o nome dos três comandantes-em-chefe da Força Naval Aliada?

4 – Qual o nome dos dois rios onde ocorreu grande parte do conflito?

5 – Como podemos caracterizar a guerra antes e depois de Riachuelo?

6 – Por onde se deu a invasão do território paraguaio?

SAIBA MAIS

BITTENCOURT, Armando de Senna. Visitando Riachuelo e revendo controvérsias: 132 anos


depois. Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v.117, n.7/9, p.41-57, jul./set. 1997.

MARTINS, Hélio Leôncio. A estratégia naval brasileira da Guerra do Paraguai: com algumas
observações sobre ações táticas e o apoio logístico. Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro,
v.117, n.7/9, p.59-86, jul./set. 1997.

123
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A Marinha na República
Sinopse
1
Encilhamento se refere ao processo
Os primeiros anos da República foram marcados pela
especulativo que ocorreu na Bolsa de Valores progressiva desmobilização da Esquadra brasileira. As revoltas que
do Rio de Janeiro. Podem ser incluídos no
Encilhamento outros problemas econômicos que
assolaram a Nação e o desgaste econômico conhecido como
ocorreram no período, especialmente a brusca Encilhamento1 provocaram o gradativo desmantelamento das
desvalorização cambial, provocando grande nú-
mero de falências e recessão econômica. Essa
unidades da Força Naval. A situação interna do País se refletia nos
política foi idealizada por Rui Barbosa, Ministro orçamentos insuficientes que negavam à Marinha os recursos
da Fazenda de então. necessários à modernização dos meios flutuantes e à criação de
uma infra-estrutura de apoio.
Essa situação se manteve por toda a década final do século
XIX. A sucessão de quatro ministros da Marinha em apenas seis
anos contribuiu negativamente para a elaboração de um programa
naval condizente com o litoral e os interesses a serem defendidos.
Em 15 de novembro de 1902, o Almirante Júlio de Noronha2
assumiu a pasta da Marinha, encontrando uma Força Naval
composta de navios reformados, sendo, na sua maioria, modelos
obsoletos frente às classes mais modernas que estavam em
processo de construção pelas potências industriais da época.
Em 1904, o Ministro das Relações Exteriores, Barão do Rio
Branco, percebeu que a Marinha, apesar de querer se equipar com
os melhores meios, não alcançava um nível aceitável de Força
Armada para o porte do Brasil. Apresentou então ao Almirante
Júlio de Noronha pessoas interessadas em oferecer navios ou
indicar estaleiros para a construção daqueles que fariam parte do
Programa Naval que o almirante imaginava.
2
O Almirante Júlio de Noronha assumiu o Mi- Procurando satisfazer a justa aspiração brasileira em constituir
nistério da Marinha em 1902, durante o gover- uma Marinha bem aparelhada, o Deputado Dr. Laurindo Pitta
no de Rodrigues Alves, passando a pasta, em
1906, ao Almirante Alexandrino Faria de Alencar. apresentou à Câmara, em julho de 1904, um projeto que continha
o programa naval do Almirante Júlio de Noronha, o qual poderia
atender a tais expectativas. Em um discurso entusiasmado, propôs
a aprovação de orçamento que financiasse os navios requisitados.
Pitta encabeçou então uma grande luta nos bastidores da política
nacional com a finalidade de obter a aprovação, no Congresso
Nacional, do projeto que reorganizaria toda a Esquadra brasileira.
Sendo o projeto finalmente aprovado, quase que por
unanimidade, ele se transformou no Decreto no 1.296, de 14
de novembro de 1904.

124
Segundo o próprio Laurindo Pitta, em seu discurso, por

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
ocasião da apresentação do seu projeto de reaparelhamento naval,
encouraçados, cruzadores, torpedeiras não eram invenções
modernas, eram aperfeiçoamentos que a ciência e a indústria
adaptavam aos navios. O encouraçado era o pesado e bem artilhado
navio de linha, o cruzador era a leve e ligeira fragata e o torpedeiro,
o brulote3, destinado a incendiar as antigas naus.
O Programa de 1904, de autoria de Júlio de Noronha,
apresentava a vantagem de ser um plano de conjunto, ou seja,
incluía a criação de um moderno arsenal e um porto militar, que
juntamente com os navios formaria um tripé de sustentação da 3
Brulote – Embarcação carregada de matérias
Marinha brasileira. Foi o Almirante Júlio de Noronha quem fez inflamáveis e explosivas destinada a levar fogo
nascer a campanha de remodelação da Esquadra, que deveria aos navios inimigos.

impressionar principalmente a opinião pública e que gerou os


resultados necessários para a reforma da nossa Marinha.
O programa incluía os modelos de navios que, no momento,
equipavam as melhores Esquadras do mundo, logo a seguir
empregados nas Batalhas de Port Arthur e Tsushima, travadas
durante a Guerra Russo-Japonesa. O estudo estratégico das
experiências proporcionadas por essas batalhas (1905) e o
lançamento do Encouraçado Dreadnought4, pela Marinha britânica
(1906), que aparecia como o navio mais poderoso do mundo,
inspiraram debates em torno do 4
Encouraçado Dreadnought – Idealizado pelo
Programa de 1904. O Deputado José Almirante Lorde Fisher, Primeiro Lorde do Mar
Carlos de Carvalho e o Almirante da Marinha britânica. Tinha como característi-
cas forte armamento com canhões de até 12
Alexandrino Faria de Alencar, então polegadas, grande deslocamento, motores de
senador, foram os grandes propulsão mais eficientes e poderosa blinda-
gem.
defensores da remodelação do
Programa Júlio de Noronha.
Em 15 de novembro de 1906,
assumiu a Presidência da República o
Conselheiro Afonso Pena e, com ele,
o seu novo ministério, sendo a pasta
da Marinha ocupada pelo Almirante
Alexandrino Faria de Alencar. Não
Almirante Alexandrino Faria de Alencar
demorou que este conseguisse do
Congresso a reforma do Programa
de 1904. A alteração mais marcante trazida pelo novo programa
do Almirante Alexandrino foi a adição de três novos encouraçados
do tipo dreadnought de 20 mil toneladas, cuja aprovação resultou
no Decreto no 1.567, de 24 de novembro de 1906.
Nesse programa, foi cancelado o projeto de um novo
arsenal. Em seu lugar, optou-se por modernizar as instalações
da Ilha das Cobras, porém, admitia-se a construção de bases
secundárias em Belém e em Natal, e um porto militar de
pequeno porte em Santa Catarina.

125
Como conseqüência direta do Programa Alexandrino, a

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Esquadra de 1910, assim chamada por haver chegado ao Brasil
nesse ano a maior parte de seus componentes, representou um
verdadeiro revigoramento militar e tecnológico da Marinha
brasileira. Dessa forma, o Brasil passou a possuir uma frota de alto-
mar ofensiva, podendo levar a outros rincões o Pavilhão Nacional
e, principalmente, apoiar a ação diplomática do governo brasileiro
em qualquer local que se fizesse necessário.
A incorporação de navios Encouraçado Minas Gerais
como os Encouraçados Minas Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
5
Recebeu o nome de Agincourt na Marinha ingle-
Gerais e São Paulo, pertencentes
sa, sob as ordens do Almirante Sir John Jellicoe na à classe dos dreadnoughts mais
Batalha da Jutlândia, travada entre a Grã-Bretanha
e a Alemanha durante a 1a Guerra Mundial.
poderosos do mundo, encheu
de orgulho e confiança os brasi-
leiros. Além dessas embarcações,
também chegaram os Cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul e os
Contratorpedeiros Amazonas, Pará, Piauí, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Alagoas, Sergipe, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso.

Cruzador Bahia Contratorpedeiro Pará


Acervo do Serviço de Documentação da Marinha Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

Posteriormente ao ano de 1910, o Contratorpedeiro Maranhão,


os Submarinos F1, F3, F5 e Humaitá, o Tender Ceará e outros
navios auxiliares complementaram os efetivos navais da Marinha.
O terceiro encouraçado previsto pelo Programa Alexandrino
era o Rio de Janeiro, lançado ao mar em 22 de janeiro de 1913. A
demora em sua construção se deveu à necessidade de se introduzir
novas modificações que o
tornassem ainda mais poderoso.
Este navio não chegou a ser
incorporado à Armada brasileira.
Foi adquirido pela Marinha turca
e depois pela Marinha inglesa,
tendo participado da Batalha da
Jutlândia 5 .
A Esquadra brasileira passou a
Submarinos F1,F3 e F5
Acervo do Serviço de ser organizada, essencialmente,
Documentação da Marinha em divisões de encouraçados e

126
cruzadores, e flotilhas de contratorpedeiros e de submarinos.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Porém, com o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o
Ministro da Marinha Alexandrino de Alencar determinou que as
principais unidades operativas de superfície fossem reorganizadas
em três divisões a fim de patrulhar as águas costeiras dentro de
cada área de responsabilidade, sendo criadas as Divisões Navais do
Sul (São Francisco do Sul), Centro (Rio de Janeiro) e Norte (Belém).
Dessa maneira, a Marinha iria enfrentar os seus dois principais
desafios no Século XX. As duas grandes guerras mundiais.

As duas grandes guerras


Eclodido o conflito na Europa em 1914, que veio a ser conhecido por Primeira Grande Guerra, o Brasil
permaneceu neutro nos primeiros três anos de guerra. O bloqueio submarino sem restrições aos países Aliados,
firmado pelo governo alemão em 31 de janeiro de 1917, trouxe não só mal-estar a todos os países neutros, como
também preocupação ao Governo brasileiro, que dependia fundamentalmente do mar para escoar a sua produção
e importar produtos que necessitava.
O Brasil apresentou inicialmente seu protesto formal à Alemanha, seguido do rompimento das relações
comerciais. Mantínhamos ainda nossa neutralidade, postura que veio a ser modificada em 11 de abril de 1917,
devido ao afundamento do Navio Mercante Paraná ao largo da costa francesa, quando o governo brasileiro
rompeu as relações diplomáticas com o governo alemão. Após o ataque a mais três dos nossos mercantes, em 26
de outubro de 1917 o Brasil reconheceu e proclamou o estado de guerra com o Império alemão.
A participação da Marinha brasileira na Primeira Grande Guerra formalizou-se com o envio para o teatro
de operação da Divisão Naval em Operação de Guerra (DNOG), sob o comando do Almirante Pedro Max
Fernando de Frontin. Era composta pelos seguintes meios navais: Cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul;
Contratorpedeiros Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina; Cruzador-Auxiliar Belmonte; e Rebocador
Laurindo Pitta, e tinha como missão o patrulhamento da área entre Dakar–São Vicente–Gibraltar na costa da
África. A tripulação da DNOG foi gravemente atingida pela “gripe espanhola”, mas mesmo com muitas baixas
sofridas, cumpriu a missão a ela determinada.
Outra participação significativa da Marinha foi a designação de 12 oficiais aviadores para servirem junto
à Royal Air Force (RAF). Foram depois empregados no patrulhamento do Canal da Mancha.
Na Segunda Guerra Mundial, também mantivemo-nos neutros a princípio. Com a vinculação de interesses
comuns que tínhamos com os Estados Unidos, concretizada pelo Tratado do Rio de Janeiro, no qual nos
comprometíamos a formar ao lado de qualquer nação americana que fosse atacada, com eles nos solidarizamos
quando do ataque japonês a Pearl Harbour, em 7 de dezembro de 1941. Como represália, nossa Marinha
Mercante começou a ser agredida pelos submarinos alemães. A primeira perda foi o Navio Mercante Cabedelo,
em fevereiro de 1942. Seguiram-se outros afundamentos, terminando com o ataque fulminante do U-507, que
em cinco dias, levou a pique seis embarcações nacionais dedicadas à linha de cabotagem nas costas de
Sergipe, com 507 vítimas, inclusive soldados do Exército.
Este ato levou o Brasil a declarar guerra, a 31 de janeiro de 1942, às potências do Eixo – Alemanha, Itália
e Japão. Imediatamente a Marinha mobilizou-se, criando a Força Naval do Nordeste (com navios já em operação
e meios recebidos do Acordo Lend Lease com os Estados Unidos). Essa Força foi comandada pelo Almirante
Alfredo Soares Dutra, subordinada operativamente à Quarta Esquadra norte americana.
Era missão da Marinha, cumprida desde o primeiro dia de guerra até o armistício, a proteção de comboios
internacionais e nacionais, garantindo a segurança de mais de três mil navios, de muitas nacionalidades, contra a
ameaça submarina germânica. Cada passagem de um comboio ao seu destino era considerado uma vitória
Garantiu-se o suprimento, vital na época, de combustível, insumos e alimentos, sem que o Brasil sofresse as
agruras da guerra.

127
Primeira Guerra Mundial

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Antecedentes

No ano de 1914, as relações entre as principais nações


européias estavam tensas. Nos últimos 60 anos havia ocorrido a
Segunda Revolução Industrial e várias potências econômicas
surgiram ameaçando a supremacia da Grã-Bretanha, com destaque
para os Estados Unidos, Itália, Rússia, Alemanha e Japão. Isto
significava que todos esses países tinham como produzir, mas
precisavam de matérias-primas e de mercados para vender
a sua produção.
Se na primeira Revolução Industrial o grande fato
impulsionador foi a invenção da máquina a vapor, na segunda a
eletricidade foi o mecanismo que revolucionou os meios de
produção. Outro grande fator de crescimento econômico foi o
aumento da disponibilidade de ferro e aço. A mecanização da
indústria se elevou, proporcionando o conseqüente aumento do
número de máquinas e motores menores, que viriam dotar os
bens de consumo duráveis, os maiores símbolos da sociedade
moderna.
Naquele ano de 1914 vigorava a Paz Armada, uma situação
em que todas as nações procuravam se armar para inibir o
adversário de atacá-las. Duas grandes alianças político-militares
predominavam: a Tríplice Aliança, formada pelo Império Austro-
Húngaro, Itália e Alemanha, e a Tríplice Entente, formada pela
França, Inglaterra e Rússia. Pequenas frentes de luta surgiam nas
áreas em disputa. Todos queriam se apossar de territórios. Um
terrorista sérvio conseguiu assassinar o Arquiduque Francisco
Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, em um atentado em
Sarajevo, na Bósnia. Esta morte imediatamente provocou a guerra
entre a Áustria e a Sérvia; a Rússia, fiadora da Sérvia, iniciou um
confronto com a Áustria, provocando a intervenção alemã e unindo
a França e a Inglaterra. Aliados de um ou outro lado entraram na
Guerra.Iniciava-se a Primeira Guerra Mundial.
De 1914 até o seu final, a guerra assumiu seu lado mais cruel.
Milhões de vidas foram ceifadas na chamada guerra de trincheiras,
quando as tropas limitavam-se a defender determinadas
posições estratégicas.
Em 1917, os Estados Unidos da América (EUA) entraram
no conflito. No mesmo ano, eclodiu a revolução socialista na
Rússia e seus dirigentes assinaram com a Alemanha o Tratado de
Brest-Litovsky, se retirando da guerra.
Em 1917, o Brasil entrou no conflito quando a campanha
submarina alemã atingiu seus navios mercantes, afundados em razão
do bloqueio alemão a Grã-Bretanha.
O Brasil enviou então uma Divisão Naval para operar com a
Marinha britânica entre Dakar e Gibraltar em 1918.

128
A Alemanha, depois de uma fracassada ofensiva no teatro

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
de operação ocidental, se viu exausta com as perdas sofridas, vindo
a assinar o Armistício com os aliados no mês de novembro de 1918.

O preparo do Brasil

A disposição do Brasil em manter-se neutro no conflito foi


evidenciada desde o primeiro minuto de combates na Europa em
1914. Naqueles dias conturbados, prevalecia no País uma tendência
natural de simpatia a favor dos aliados, principalmente porque a
elite nacional via na educação e na cultura francesas seus principais 6
O Presidente Wenceslau Braz assumiu o governo
em 15 de novembro de 1914 e o transferiu quatro
paradigmas. A neutralidade foi a marca brasileira nos três primeiros anos depois ao Vice-Presidente Delfim Moreira,
anos de guerra, mesmo quando Portugal foi a ela arrastada em que substituiu o titular Rodrigues Alves, doente e
que viria a falecer pouco tempo depois.
março de 1916.
O bloqueio sem restrições firmado pelo governo alemão
em 31 de janeiro de 1917 trouxe não só mal-estar a todos os
neutros, mas também preocupação ao governo brasileiro que
dependia fundamentalmente do mar para escoar
a produção de café para a Europa e os Estados
Unidos, nossos principais compradores.
Ademais, importávamos muitos produtos da
Inglaterra, que naquela altura lutava
desesperadamente nos campos franceses e
enfrentava, com preocupação, os ataques dos
submarinos alemães a seu tráfego marítimo.
O Brasil apresentou, inicialmente, seu
protesto formal à Alemanha, sendo logo depois
obrigado a romper relações comerciais com
esse país, mantendo-se, contudo, ainda, na mais
rigorosa neutralidade.
O que veio a modificar a atitude brasileira
foi o afundamento do Navio Mercante Paraná
ao largo de Barfleur, na França, apesar de
ostentar a palavra Brasil pintada no costado e
a Bandeira Nacional içada no mastro. Naquela
oportunidade, a população na capital Rio de
Janeiro atacou firmas comerciais alemãs,
criando grande desconforto para o governo de Presidente Wenceslau Braz
Wenceslau Braz6. Seguiu-se então o rompimento das relações assinando a declaração de guerra em 26 de
diplomáticas com o governo alemão em 11 de abril de 1917. Um outubro de 1917, tendo ao seu lado o Ministro
das Relações Exteriores, o Sr. Nilo Peçanha.
fato importante que influiu na decisão de se romper relações com Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
o Império Alemão foi a atitude de protesto dos Estados Unidos
com o bloqueio irrestrito, tendo sofrido por isso o torpedeamento
de dois de seus navios. Tais acontecimentos motivaram a declaração
de guerra norte-americana. Mantínhamos até esse ponto laços
comerciais profundos com esse país e claras simpatias com os
aliados.

129
No mês de maio, o segundo navio brasileiro, o Tijuca, foi

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
torpedeado nas proximidades de Brest na costa francesa. Seis dias
depois seguiu-se o Mercante Lapa. Antes ele fora abordado por
um submarino alemão, mandando que a tripulação deixasse o vapor
para depois torpedeá-lo. Esses três ataques levaram o Presidente
Wenceslau Braz a decretar o arresto de 45 navios dos impérios
centrais aportados no Brasil e a revogação da neutralidade. Muitos
deles encontravam-se danificados por sabotagem dos próprios
tripulantes. Isso não impediu que o Brasil utilizasse 15 deles e
repassasse 30 por afretamento para a França. Um fato curioso foi
o arresto da Canhoneira alemã Eber, surta no porto de Salvador.
Tratava-se de navio militar e não de vapor mercante, como os 45
navios arrestados. Antes de ser abordada por autoridades
brasileiras, e percebendo essa medida, os tripulantes queimaram
esse vaso de guerra e conseguiram se transferir para outro navio
mercante que se evadiu dos portos nacionais com o armamento e
os homens especializados, que seriam ainda úteis à Marinha alemã
no conflito.
Quatro meses se passaram até que um novo navio brasileiro
fosse atacado e afundado, dessa feita foi o Vapor Tupi nas mediações
do Cabo Finisterra. O caso tornou-se grave na medida em que o
comandante e o despenseiro foram aprisionados por um
submarino alemão e nunca mais se teve notícia de seus destinos.
Oito dias depois, 26 de outubro de 1917, o Brasil reconhecia
e proclamava o estado de guerra com o Império alemão.
Como estava o Brasil naquela oportunidade para enfrentar
os germânicos?
O governo brasileiro tinha consciência de que a grande
ameaça seria o submarino alemão, ávido por atacar os nossos
navios mercantes que mantinham o comércio com outros países
em pleno desenvolvimento. Além disso, naquela oportunidade, não
existiam estradas ligando o Sul e Sudeste com o Norte e Nordeste.
Todas as comunicações entre essas regiões eram feitas por mar,
daí nossa grande vulnerabilidade estratégica. Tanto a Marinha
Mercante como a de Guerra seriam as grandes protagonistas
brasileiras nesse confronto.
A Marinha Mercante brasileira era modesta, no entanto,
desde os primeiros anos do século, os governos que se sucederam
procuraram aparelhá-la, o que foi auspicioso, pois teríamos na
guerra um teste fundamental para a manutenção de nosso fluxo
comercial. No início do conflito – quando o Brasil ainda mantinha
irrestrita neutralidade –, diversos países envolvidos na guerra, ávidos
para cobrir as perdas provocadas por afundamentos, ofereceram
propostas de compras de muitos de nossos mercantes.
Propostas de compras do Lloyd Brasileiro, maior companhia
de navegação do período, foram comuns. Entretanto, o governo

130
nacional, premido pela necessidade de manter o comércio com

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
outros países e de escoar o nosso principal produto, o café,
principalmente para os Estados Unidos, impediu todas essas
tentativas de arrendamento. Ao final essa ação veio a ser
fundamental para o Brasil.
Nossa Marinha de Guerra era centrada na chamada
Esquadra de 1910, com navios relativamente novos construídos
na Inglaterra sob o Plano de Construção Naval do Almirante
Alexandrino Faria de
Alencar, Ministro da
Marinha, como an-
teriormente mencio- Cruzadores leves e velozes que tinham a tarefa de
7

nado. Eram ao todo esclarecer em apoio a linha de batalha formada por


encouraçados e cruzadores de batalha.
dois encouraçados tipo
dreadnought, o Minas
Gerais e o São Paulo,
dois cruzadores tipo
scouts 7, o Rio Grande
do Sul e o Bahia, que
viria a ser perdido tra-
gicamente na Segunda
O Encouraçado Minas Gerais fundeado na cidade de Salvador Guerra Mundial, e dez
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha contratorpedeiros de
pequenas dimensões.
Esses meios eram todos movidos a vapor, q u e i m a n d o
carvão.
Desde o início da participação brasileira no conflito, o
governo nacional decidiu-se pelo envio de uma divisão naval para
operar em águas européias, o que representaria um grande
esforço para a Marinha.
Uma outra contribuição significativa foi a designação de 13
oficiais aviadores, sendo 12 da Marinha e um do Exército para se
aperfeiçoarem como pilotos de caça da RAF no teatro europeu.
Depois de árduo adestramento em que
dois pilotos se acidentaram, sendo um
fatal, eles foram considerados qualificados
para operações de combate, tendo sido
empregados no 16o Grupo da RAF, com
sede em Plymouth, em missões de
patrulhamento no Canal da Mancha.
A propósito, a Escola de Aviação
Naval Brasileira, localizada na Ilha das
Enxadas, na Baía de Guanabara, e a Flotilha
de Aviões de Guerra haviam sido criadas
no dia 23 de agosto de 1916, com-
portando inicialmente apenas três aviões
Curtiss que chegaram ao Brasil dois meses
antes. A Aviação Militar, por outro lado, Aviadores brasileiros na Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
operava no Campo dos Afonsos, onde
funcionava a Escola de Aviação Militar.

131
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Hidroavião Curtiss pertencente à Escola de Aviação Naval brasileira


Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

Um fato inusitado e curioso que na época provocou grande


sucesso promocional foi o primeiro vôo do Presidente da República
Wenceslau Braz em hidroavião da Armada, em 2 de abril de 1917,
um dia antes do torpedeamento de primeiro navio brasileiro, o
Paraná, nas costas francesas. O mais interessante foi que Wenceslau
havia comparecido à formatura dos novos pilotos na Ilha das
Enxadas e não estava previsto o vôo realizado com o primeiro
mandatário da República. Ao ser provocado pelo Ministro da
Marinha, Wenceslau Braz aceitou o convite para um vôo sobre o
Rio de Janeiro e Niterói. Imediatamente colocou o capacete e a
túnica a ele oferecida e se posicionou no avião para início da
aventura. Por cerca de 30 minutos, o Presidente se deliciou com
aquele sobrevôo, para o espanto dos repórteres que esperavam
o seu regresso.
No principal porto do país, o do Rio de Janeiro, centro
econômico e político mais importante, instituiu-se uma linha de
minas submarinas cobrindo 600 metros entre as Fortalezas da Laje
e Santa Cruz. Duas ilhas oceânicas preocupavam as autoridades
navais devido a possibilidade de serem utilizadas como pontos de
refúgio de navios inimigos. As de Trindade e Fernando de Noronha.
A primeira foi ocupada militarmente em maio de 1916 com um
grupo de cerca de 50 militares. Uma estação radiotelegráfica
mantinha as comunicações com o continente e freqüentemente
Trindade era visitada por navios de guerra para o seu
reabastecimento. Quanto a Fernando de Noronha, lá existia um
presídio do Estado de Pernambuco. A Marinha, então, passou a
assumir a defesa dessa ilha, destacando um grupo de militares
para guarnecê-la. Não houve nenhuma tentativa de ocupação
por parte dos alemães.

132
Com o estado de guerra declarado, os ataques aos mercantes

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
brasileiros continuaram. Em 2 de novembro, nas proximidades da
Ilha de São Vicente, na costa africana, foram torpedeados mais
dois navios, o Guaíba e o Acari. Depois de atingidos, seus
comandantes conseguiram os encalhar, salvando-se a carga, não
impedindo, no entanto, que vidas brasileiras fossem perdidas.
Outro ataque, já no ano de 1918, aconteceu ao Mercante
Taquari da Companhia de Comércio e Navegação, na costa inglesa.
Desta feita o navio foi atingido por tiros de canhão, tendo tempo
de arriar as baleeiras que, no entanto, foram metralhadas,
provocando a morte de oito tripulantes. 8
As potências centrais eram compostas pelo Impé-
Esses ataques insuflaram ainda mais a opinião pública brasileira rio Alemão, pela Austro-Hungria e pela Turquia.
que, influenciada por campanhas jornalísticas e declarações de
diversos homens públicos, exigiu um comprometimento maior
com a causa Aliada, com a participação efetiva no esforço bélico
contra as Potências Centrais8.
Desde o início do conflito, a participação da Marinha no
confronto baseou-se no patrulhamento marítimo do litoral
brasileiro com três divisões navais, como já mencionado, distribuídas
nos portos de Belém, Rio de Janeiro e São Francisco do Sul. Esse
serviço tinha por finalidade colocar a navegação nacional, a aliada e
a neutra ao abrigo de possíveis ataques de navios alemães de
qualquer natureza nas nossas águas.
A Divisão Naval do Norte era composta dos Encouraçados
guarda-costas Deodoro e Floriano, dos Cruzadores Tiradentes e
República, de dois contratorpedeiros, três avisos e duas
canhoneiras. Sua sede era Belém.
A Divisão Naval do Centro compunha-se dos Encouraçados
Minas Gerais e São Paulo e de seis contratorpedeiros, com sede no
Rio de janeiro.
Por fim, a Divisão Naval do Sul era composta dos Cruzadores
Barroso, Bahia e Rio Grande do Sul, de um iate e dois
contratorpedeiros, com sede em São Francisco do Sul.
A Marinha possuía também três navios mineiros; uma flotilha
de submersíveis, com um tênder, três pequenos submarinos
construídos na Itália e uma torpedeira; as Flotilhas do Mato Grosso,
Amazonas e de aviões de guerra; e, por fim, navios soltos.

133
A Divisão Naval em Operações de Guerra

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
O governo de Wenceslau Braz decidiu enviar uma divisão
naval para operar sob as ordens da Marinha britânica, na ocasião a
maior e mais poderosa do mundo. Logicamente, os navios
escolhidos deveriam ser da Esquadra adquirida oito anos antes na
própria Inglaterra, pois eram os mais modernos que o Brasil
possuía. No entanto, devido aos avanços tecnológicos provocados
pela própria guerra, esses navios se tornaram obsoletos
rapidamente. Em que pese tal fato, a escolha da alta administração
naval recaiu nos dois cruzadores (Rio Grande do Sul e Bahia), em
9
O Cruzador-Auxiliar Belmonte fora um dos navios quatro contratorpedeiros (Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa
alemães apresados logo após a declaração de guerra
pelo Brasil. Levava o nome de Valesia.
Catarina), um rebocador (Laurindo Pitta) e um cruzador-auxiliar
(Belmonte)9, ao todo oito navios.
Contra quem iríamos lutar? A Alemanha, apesar de
possuir uma Esquadra menor que a Inglaterra, possuía uma
frota muito agressiva e motivada, que se batera com valentia
até aquele momento.
No início da guerra os alemães se
lançaram à guerra de corso utilizando
navios de superfície, no estilo de
corsários independentes que atacavam
os mercantes navegando solitários.
Essa estratégia, com o decorrer da
guerra, foi abandonada. Preferiu-se a
Cruzador Rio Grande do Sul
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha guerra submarina, que mostrou-se
muito mais eficiente. Esses submarinos
não chegaram a atuar nas nossas costas
como aconteceu na Segunda Guerra
Mundial, no entanto atacaram nossos
navios nas costas européias e os
afundaram sem trégua.
Há que se notar que a Marinha
brasileira era dependente de supri-
mentos vindos do exterior. Não
existiam estaleiros capacitados, nem
Contratorpedeiro Piauí fábricas de munição e estoques Divisão Naval em Operações de Guerra
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha logísticos adequados. Dessa forma, a Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
preparação da Divisão Naval em
Operações de Guerra (DNOG), como ficou conhecida essa
pequena força, foi muito dificultada por limitações que não eram
só da Marinha, mas também do Brasil. Como critério de escolha,
abriu-se o voluntariado para os seus componentes e foi escolhido
um contra-almirante ainda muito jovem, com 51 anos de idade,
habilidoso e com grande experiência marinheira, na ocasião
comandante da Divisão de Cruzadores com base no porto de

134
Santos, o Almirante Pedro Max Fernando de Frontin, irmão do

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
engenheiro Paulo de Frontin10.
A principal tarefa a ser cumprida por essa divisão seria
patrulhar uma área marítima contra os submarinos alemães,
compreendida entre Dakar no Senegal e Gibraltar, na entrada do
Mediterrâneo, com subordinação ao Almirantado inglês.
A preparação dos navios ainda no Brasil requereu muitos
recursos de toda a ordem. Entre os pontos a serem corrigidos
estava a deficiência de abastecimento, principalmente a escassez
de combustível, o carvão. Dava-se preferência a um tipo de carvão
proveniente da Inglaterra, o tipo cardiff ou dos Estados Unidos da 10
O Engenheiro Paulo de Frontin teve destacado
América. O carvão nacional, por possuir grande quantidade de papel nas reformas urbanas empreendidas pelo
enxofre, era contra-indicado e esse ponto nevrálgico preocupou Prefeito Pereira Passos no Rio de Janeiro, tendo
sido nomeado chefe da Comissão Construtora da
os chefes navais durante toda a comissão da DNOG. Avenida Central em 1903.
Depois de três meses de adestramento contínuo com as
tripulações, os navios suspenderam do Rio de Janeiro em grupos
pequenos para se juntarem na Ilha de Fernando de Noronha.
Inicialmente, os contratorpedeiros deixaram a Guanabara no dia 7
de maio de 1918, seguidos no dia 11
pelos dois cruzadores. Em 6 de julho,
suspendeu do Rio de Janeiro o
Cruzador Auxiliar Belmonte e, dois dias
depois, o Rebocador Laurindo Pitta.
Esses navios ficaram responsáveis de
transportar o carvão necessário para a
DNOG, daí sua grande importância
logística.
No dia 1o de agosto a Divisão unida
suspendeu de Fernando de Noronha
com destino a Dakar, passando por
Almirante Pedro Max Fernando de Frontin
Freetown. Comandante da DNOG
O propósito dessa primeira Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
derrota até Freetown era destruir
os submarinos inimigos que se
encontravam na rota da DNOG. O
armamento naquela ocasião para se
neutralizar esses submarinos era
bastante primitivo, não se comparando
com nada que se viu na Segunda Guerra
Mundial. Existiam hidrofones primitivos e bombas de profundidade
de 40 libras, que eram lançadas pela borda no local provável onde
se encontrava o submarino. É interessante mencionar que o
próprio submarino, naquela oportunidade, não possuía capacidade
de permanecer mergulhado durante longo período de tempo, o Rebocador Laurindo Pitta
que era uma grande limitação. Normalmente, os ataques contra Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
mercantes eram realizados utilizando-se os canhões localizados

135
em seus conveses. A maior possibilidade de se destruir esses

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
submarinos acontecia quando o inimigo vinha à superfície para
destruir o alvo ou por canhão ou mesmo com o uso de torpedos.
Nessa travessia inicial, alguns rebates de “prováveis submarinos”
foram dados, porém não tiveram confirmação.
Outro ponto interessante na travessia Fernando de
Noronha–Freetown era a faina de transferência de carvão em alto-
mar. Esses recebimentos aconteciam em quaisquer condições de
tempo e de mar e obrigavam a atracação dos navios ao Cruzador-
Auxiliar Belmonte e a utilização do Rebocador Laurindo Pitta para
auxílio nas aproximações. Foram manobras perigosas que
Pandemia que teve o seu ápice no segundo se-
11 demandaram muita capacidade marinheira dos tripulantes, além
mestre de 1918, não só na África, mas em todo o da natural vulnerabilidade durante os abastecimentos, quando os
mundo, inclusive no Brasil.
submarinos inimigos poderiam aproveitar a baixa velocidade dos
navios para o ataque torpédico. A tensão reinante durante esses
eventos era enorme, sem contar com as difíceis condições em
que eram realizadas. Os navios ficavam literalmente negros de
carvão e todos trabalhavam do nascer do sol até o término do
abastecimento.
Depois de oito dias de travessia, a DNOG chegou ao porto
de Freetown, onde se agregou ao Esquadrão britânico. Nessa
cidade, os navios permaneceram por 14 dias, reabastecendo-se e
sofrendo os reparos necessários à continuação da missão.
Em 23 de agosto de 1918, a Divisão suspendeu em direção a
Dakar, tendo essa derrota sido muito desconfortável para as
tripulações dos navios devido ao mau tempo reinante. Na véspera
da chegada a esse porto africano, no período noturno, foi avistado
um submarino navegando na superfície. Imediatamente foi atacado
pela força brasileira, no entanto o submarino conseguiu lançar um
contra-ataque contra o Cruzador-Auxiliar Belmonte, quase atingindo
seu intento, uma vez que a esteira fosforescente do torpedo foi
perfeitamente observada a 20 metros da popa do navio brasileiro.
A 26 de agosto, os navios aportavam em Dakar e aí começariam
as grandes provações dos tripulantes nacionais.
Todo esse martírio teria início quando o navio inglês Mantua
iniciou uma rotina observada por nossos marinheiros que o viam
suspender de quando em vez para o alto-mar regressando em
seguida. Logo após, soube-se que essas saídas eram para lançar
ao mar os corpos dos homens de sua tripulação que haviam
contraído a terrível “gripe espanhola”11. Possivelmente o Mantua
foi o responsável pela transmissão da moléstia que vitimaria diversos
tripulantes que nunca retornariam ao Brasil.
No início de setembro as primeiras vítimas brasileiras eram
atingidas pela gripe mortal. Os sintomas eram quase sempre os
mesmos. Fraqueza generalizada, seguida de grande aumento de
temperatura, com transpiração excessiva. Depois de três ou quatro
dias de grande mal-estar, seguia-se tosse com expectoração

136
sangüínea e congestão pulmonar. Alguns iniciavam as convulsões e

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
os soluços, outros se debatiam em agonia, todos ávidos por água
para debelar a sede incontrolável. Dentro de pouco tempo a morte
se abatia derradeira e incontrolável.
A permanência em Dakar deveria ser curta. No entanto,
devido a gravidade da situação sanitária com a gripe, os navios lá
permaneceram mais tempo. A tudo isso somou-se o impaludismo
e as febres biliares africanas. Dos navios atingidos pelas doenças, o
mais afetado foi o Cruzador-Auxiliar Belmonte que, entre seus 364
tripulantes, contaram-se 154 doentes. Substituições foram
solicitadas ao Brasil, que vieram no Paquete Ásia para completar
os claros com as moléstias apontadas. 12
Total de marinheiros brasileiros enterrados no
Foram vitimados 156 brasileiros12 da DNOG pela “gripe cemitério de Dakar. Outros vieram a falecer mais
tarde, não podendo-se, desta feita, precisar o nú-
espanhola”. mero exato de perdas por causa da gripe.
Os navios britânicos e brasileiros em Freetown e Dakar
ficaram inoperantes em face das condições
sanitárias reinantes, estando a defesa do
estreito entre Dakar e Cabo Verde somente
a cargo de dois pequenos navios
portugueses. Com grande esforço pessoal,
a DNOG conseguiu logo depois designar o
Piauí e o Paraíba para a u x i l i a r e m o s
portugueses naquela área de operações.
Em 3 de novembro, a DNOG largou
de Dakar em direção a Gibraltar, sem o Rio
Grande do Sul, o Rio Grande do Norte, o
Belmonte e o Laurindo Pitta, os dois primeiros
avariados e os dois seguintes designados para
outras missões. Sete dias depois os navios
da Divisão faziam sua entrada em Gibraltar. Cemitério São João Batista
No dia seguinte, o Armistício foi assinado, dando a Grande Guerra Mausoléu erguido em homenagem aos mortos
da Divisão Naval em Operações de Guerra
como terminada. Nossa missão de guerra findara, no entanto nossa (DNOG)
Divisão prolongou sua permanência na Europa, já que foi convidada Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
para participar das festividades promovidas pelos vitoriosos. Por
cerca de seis meses nossos navios permaneceram em águas
européias participando das comemorações pela vitória, e visitando
países que tomaram parte naquele grande conflito.
A vitória dos aliados seria confirmada em Paris, em 28 de
junho de 1919, quando se reuniram os representantes de 32 países
e assinaram o Tratado de Versalhes, que foi imposto à Alemanha
derrotada.
Em 9 de junho de 1919, depois de parar Recife por breves
dias, os navios da DNOG entravam na Baía de Guanabara, porto-
sede da Divisão Naval. Acabara assim, a participação da Marinha
na Primeira Guerra Mundial.

137
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

13
Relatório do Ministro da Marinha, Almirante
Protógenes Pereira Guimarães encaminhado ao
presidente da República em junho de 1932.

14
Incluíam-se nesse programa três submarinos ad- Chegada da DNOG no Rio de Janeiro.
quiridos na Itália (Tupi, Timbira e Tamoio) dois navi- Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
os hidrográficos (Jaceguai e Rio Branco), um navio-
escola (Almirante Saldanha), três contratorpedeiros
(Marcílio Dias, Mariz e Barros e Greenhalgh), dois
monitores (Paraguassu e Parnaíba) e um navio-tan-
que fluvial (Potengi), entre outros.
O Período entre Guerras

O período entre guerras, que abarcou os anos de 1918 até


1939, caracterizou-se pelo abandono a que foi submetida não só a
Marinha de Guerra como praticamente toda a atividade nacional
relacionada com o mar. A ausência de mentalidade marítima do
povo brasileiro revelou-se em toda a sua intensidade.
No entanto, iniciativas modestas, ainda durante a Grande
Guerra, como a criação da Escola Naval de Guerra (depois Escola
de Guerra Naval), da Flotilha dos Submarinos, com os três
pequenos submarinos da Classe F, e da Escola de Aviação Naval,
indicaram a necessidade de se avançar na melhoria das condições
de prontidão da nossa Força Naval.
A Revolução de 1930 representou para a Marinha um divisor
de águas entre duas épocas distintas. Em relatório do Ministro da
Marinha no ano de 1932, em que foi feita uma análise da situação
da Marinha, encontra-se registrada a seguinte declaração: “Estamos
deixando morrer a nossa Marinha. A Esquadra agoniza pela idade
[a maior parte dos navios era da Esquadra de 1910], e, perdido
Almirante Protógenes Pereira Guimarães
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
com ela o hábito das viagens, substituído pela vida parasitária e
burocrática dos portos, morrem todas as tradições(...) Estamos
numa encruzilhada: ou fazemos renascer o Poder Naval sob bases
permanentes e voluntariosas, ou nos resignamos a ostentar a nossa
f r a q u e z a p r o v o c a d o r a (. . .) e s t a m o s c o m p l e t a m e n t e
desaparelhados....”13.
O programa naval estabelecido em 1932, e ajustado em
193614, elaborado sem obedecer nenhum planejamento estratégico
ou político, criou uma Força Naval modesta, um pouco melhor

138
equilibrada, dentro das possibilidades financeiras e técnicas do País,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
podendo ministrar adestramento satisfatório e de intervir em
operações limitadas, mais no campo interno que externo. Devemos
reconhecer, no entanto, que tal modesta iniciativa foi um marco
de coragem, pois utilizou a incipiente indústria brasileira na tentativa
de se reconstituir em termos nacionais um Poder Naval com alguma
credibilidade.
Em 1935, foi iniciada uma grande reforma no Encouraçado
Minas Gerais, que constou da substituição de suas caldeiras e do
aumento do alcance de seus canhões de 305 mm.

Os seis navios da classe Carioca.


Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

As atividades de minagem e varredura tinham sido mantidas


em segundo plano desde o fim da Grande Guerra, utilizando-se
navios mineiros varredores improvisados. Em 1940, obedecendo
ao novo programa naval então aprovado, decidiu-se pela
construção no Brasil de uma série de navios mineiros varredores,
todos pertencentes à classe Carioca.
Em 1940, a nossa Força de Alto-Mar era assim constituída:

139
Esquadra:

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
– Divisão de Encouraçados: Minas Gerais e São Paulo.

– Divisão de Cruzadores: Rio Grande do Sul e Bahia.

– Flotilha de Contratorpedeiros: Maranhão, Piauí, Rio Grande do


Norte, Sergipe, Santa Catarina e Mato Grosso.

– Flotilha de Submarinos: Humaitá, Tupi, Timbira e Tamoio.

– Trem: Tênderes Belmonte e Ceará; Navios-Tanques Novais de


Abreu e Marajó; Rebocadores Aníbal de Mendonça, Muniz Freire,
Henrique Perdigão e DNOG.

Flotilha de Navios Mineiros Varredores:


– dez navios.

Flotilha da Diretoria de Hidrografia e Navegação:


– três navios hidrográficos e dois navios faroleiros.

Navio isolado:
– Navio-Escola Almirante Saldanha.

Navio-Escola Almirante Saldanha


Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

Flotilha Fluviais:
Dispondo o Brasil de imensas bacias potamográficas, as forças
fluviais sempre representaram um papel importante em nossa
concepção estratégica. Em 1940, elas eram assim constituídas:

– Flotilha do Amazonas: Canhoneira Amapá e Rebocador


Mário Alves.

140
– Flotilha de Mato Grosso: Monitores Parnaíba, Paraguaçu e

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Pernambuco; Avisos Oiapoque e Voluntários; e Navio-Tanque Potengi.

Pode-se perceber, claramente, a vulnerabilidade de nosso Poder


Naval para o enfrentamento da guerra A/S (anti-submarino). Não
possuíamos sensores adequados, nem adestramento para a luta
contra os submarinos. A doutrina A/S era baseada ainda nas lições
apreendidas na Primeira Guerra Mundial, muito diferente do que
vinha ocorrendo nas águas do Atlântico Norte e Mediterrâneo
desde 1939.
15
Linhas de cabotagem – Linhas de comunicação

A situação em 1940 marítima ao longo da costa, geralmente ligando por-


tos nacionais.

Como vimos, no início da década de 1940 o nosso Poder


Naval possuía limitações operacionais importantes. No início da
Segunda Guerra Mundial, em 1939, na Europa, o Brasil contava
com praticamente os mesmos navios da Primeira Guerra Mundial.
A verdade é que não se equipam e treinam forças navais
sem verbas condizentes, que eram seguidamente preteridas pelo
governo Getúlio Vargas.
As grandes preocupações do nosso Estado-Maior da Armada
eram a defesa de nossa enorme e desprotegida costa marítima e,
fundamentalmente, a proteção das linhas de comunicação, vitais
para a conservação de nossas artérias comerciais com o exterior
e para a manutenção das linhas de cabotagem15. Devemos observar
que no ano de 1940 esse tipo de transporte era fundamental, pois
não existia uma única comunicação terrestre entre Belém e São
Luís, entre Fortaleza e Natal e entre Salvador e Vitória.

Segunda Guerra Mundial


Antecedentes

Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha foi


obrigada a restituir a Alsácia e a Lorena à França, ceder as minas
de carvão, suas colônias, submarinos e navios mercantes. Além
disso, deveria pagar aos vencedores uma indenização em dinheiro,
ficando proibida de possuir Força Aérea e de fabricar alguns tipos
de armas. Era proibido também possuir um Exército superior a
100 mil homens.
Estas medidas do Tratado de Versalhes atingiram duramente
a economia alemã, afligindo seu povo, que passou a nutrir um
sentimento de aversão às principais potências da época. Estavam
constituídos os elementos que os nazistas necessitavam para
alcançar o poder. Muitas dessas restrições, sob o comando de Hitler,

141
começaram a ser ignoradas. A Alemanha crescia e, por isso,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
necessitava de mercado para os seus produtos e de colônias onde
pudesse adquirir matérias-primas.
Por outro lado, também dispostos a destruírem a ordem
colonial vigente, Japão e Itália adotaram, na década de 1930, uma
política expansionista contra a qual a Liga das Nações mostrou-se
impotente. Cobiçando as matérias-primas e os vastos mercados
da Ásia, o Japão reiniciou sua investida imperialista em 1931,
conquistando a Manchúria, região rica em minérios que pertencia
à China. Em outubro de 1935, a Itália de Mussolini invadiu a Etiópia.
Em 1936, a Alemanha nazista começou a mostrar suas intensões
ocupando a Renânia (região situada entre a França e a Alemanha),
indo juntar-se à Itália fascista e intervir na Guerra Civil Espanhola a
favor do General Franco. Neste ano de 1936, Itália, Alemanha e
Japão assinaram um acordo para combater o comunismo
internacional (Pacto Anti-Comintern), formalizando o Eixo Roma-
Berlim-Tóquio.
Em agosto de 1939, a Alemanha e a União Soviética firmaram
entre si um Pacto de Não Agressão, que estabelecia, secretamente,
a partilha do território polonês entre as duas nações. Hitler se
sentiu à vontade para agir, invadindo a Polônia e dando início à
Segunda Guerra Mundial, que se alastrou por toda a Europa.

Início das hostilidades e ataques


aos nossos navios mercantes

A Marinha Mercante brasileira somava 652.100 toneladas


brutas de arqueação no início da guerra. Mesmo pequena e
composta de navios antiquados, se comparada com as grandes
potências de então, ela exercia papel fundamental na economia
nacional, não só no transporte das exportações brasileiras, mas
também na navegação de cabotagem que mantinha o fluxo
comercial entre as economias regionais, isoladas pela deficiência
das nossas redes rodoviárias e ferroviárias.
No decorrer da guerra, foram perdidos por ação dos
submarinos alemães e italianos 33 navios mercantes, que somaram
cerca de 140 mil toneladas de arqueação (21% do total) e a morte
de 480 tripulantes e 502 passageiros.
Os primeiros ataques à nossa Marinha Mercante ocorreram
quando o Brasil ainda se mantinha neutro no conflito europeu. Em
22 de março de 1941, no Mar Mediterrâneo, o Navio Mercante
(NM) Taubaté foi metralhado pela Força Aérea alemã, tendo sido
avariado apesar da pintura em seu costado da Bandeira Brasileira.
Com a entrada dos Estados Unidos da América naquele conflito,
os submarinos alemães passaram a operar no Atlântico ocidental,

142
ameaçando os navios de bandeiras neutras que tentassem adentrar

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
portos norte-americanos.
A primeira perda brasileira foi o NM Cabedelo, que deixou o
porto de Filadélfia, nos Estados Unidos, com carga de carvão, em
14 de fevereiro de 1942. Naquele momento ainda não existia o
sistema de comboios nas Antilhas. O navio desapareceu
rapidamente sem dar sinais, podendo ter sido torpedeado por um
submarino alemão ou italiano. Ele foi considerado perdido por ação
do inimigo, uma vez que o tempo reinante era bom e claro.

Navio Mercante Cabedelo 16


No torpedeamento desse navio aconteceu um
fato inusitado: segundo relato do comandante, às
19h30min, um avião sobrevoou o navio para iluminá-
lo. Hoje, sabe-se que os alemães tinham uma aero-
nave espiã, com base em território norte-america-
no, para orientar os submarinos para os ataques.

Seguiu-se o torpedeamento do NM Buarque, em 16 de


fevereiro de 1942, pelo Submarino alemão U-432, comandado pelo
Capitão-Tenente Heins-Otto Schultze, a 60 milhas do Cabo
Hatteras, quando levava para os Estados Unidos 11 passageiros,
café, algodão, cacau e peles. O navio, do tipo misto, era do Lloyd
Brasileiro, tendo se salvado toda a tripulação de 73 homens16.
Em 18 de fevereiro de 1942 foi a vez do NM Olinda,
torpedeado pelo mesmo U-432, ao largo da Virgínia, Estados
Unidos. O submarino veio à superfície, mandando o mercante
parar, dando ordem de abandonar o navio. Esperou que todos
embarcassem nas baleeiras e, a tiros de canhão, pôs a pique o
Olinda. A tripulação, de 46 homens, foi salva pelo USS Dallas.
Seguiram-se, em 1942, os torpedeamentos dos mercantes
Arabutã, em 7 de março; Cairu, em 8 de março; Parnaíba, em 1o
de maio; Gonçalves Dias, em 24 de maio; Alegrete, em 1o de junho;
Pedrinhas e Tamandaré, em 26 de
junho, todos ocorridos ou na
costa norte-americana ou no
Mar das Antilhas, área que os
submarinos alemães atuaram no
início do envolvimento dos
Estados Unidos no conflito,
quando ainda eram precárias Navio Mercante Alegrete
as patrulhas anti-submarinas
norte-americanas.

143
A única exceção nesse período foi o NM Comandante Lira,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
torpedeado no litoral brasileiro, ao largo do Ceará, pelo Submarino
italiano Barbarigo. Foi o único navio a ser salvo, graças ao pronto
auxílio dado pelo Rebocador
da Marinha brasileira Heitor Rebocador Heitor Perdigão
Perdigão e por alguns navios
norte-americanos.
O NM Barbacena e NM
Piave, torpedeados pelo Subma-
rino alemão U-155 ao largo da
Ilha de Trinidad, em 28 de julho
de 1942, foram as últimas perdas
ocorridas por ação do inimigo enquanto o Brasil ainda se mantinha
formalmente como país neutro.
Em 28 de janeiro de 1942, o Brasil rompeu relações
diplomáticas com os países que compunham o Eixo. A colaboração
militar entre o Brasil e os Estados Unidos, que desde meados de
1941 já era notória, intensificou-se com a assinatura de um acordo
político-militar em 23 de maio de 1942.
Neste período deslocava-se para o saliente nordestino
brasileiro a Força-Tarefa 3 da Marinha norte-americana, tendo o
governo Vargas colocado os portos de Recife, Salvador e,
posteriormente, Natal à disposição das forças norte-americanas.
As atitudes cada vez mais claras de alinhamento do Brasil
com os países aliados levaram o Alto Comando alemão a planejar
uma operação contra os principais portos brasileiros.
Posteriormente, por ordem de Hitler, esta ofensiva submarina foi
reduzida em tamanho, mas não em intensidade, com o envio de
um submarino ao litoral com ordens para atacar nossa navegação
de longo curso e de cabotagem.
Capitão-de-Corveta Harro Schacht No cair da tarde de 15 de agosto de 1942, o Submarino
alemão U-507, comandando pelo Capitão-de-Corveta Harro
Schacht, torpedeou o Paquete
Baependi, que navegava ao largo Submarino U-507
da costa de Alagoas com destino
ao Recife. O velho navio foi ao
fundo levando 270 almas de um
total de 306 tripulantes e passa-
geiros embarcados, inclusive
parte da guarnição do 7o Grupo
de Artilharia de Dorso do
Exército Brasileiro que iria reforçar as defesas do Nordeste.
Algumas horas depois, o U-507 encontrou o Paquete
Araraquara navegando escoteiro e inteiramente iluminado e o
afundou com dois torpedos, vitimando 131 das 142 pessoas a bordo.
Na madrugada do dia 16, foi a vez do Paquete Aníbal Benévolo,
também utilizado nas linhas de cabotagem.

144
Em 17 de agosto, na altura do Farol do Morro de São Paulo,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
ao Sul de Salvador, o U-507 torpedeou o Paquete Itagiba, que tinha,
entre os seus 121 passageiros, o restante do 7o Grupo de Artilharia
de Dorso.
Nesse mesmo dia, o NM Arará foi torpedeado quando
recolhia náufragos dos primeiros alvos do submarino germânico.
A última vítima do Comandante Schacht foi a Barcaça Jacira,
pequena embarcação que foi posta a pique em 19 de agosto.
A ação de cinco dias do submarino alemão U-507 levou a
pique seis embarcações dedicadas às linhas de cabotagem,
vitimando 607 pessoas, chocando a opinião pública brasileira e
levando o governo a declarar o estado de beligerância com a
Alemanha em 22 daquele mês e, finalmente, o estado de guerra
contra esse país, a Itália e o Japão em 31 de agosto de 1942.
Com comboios organizados ainda de maneira incipiente,
foram afundados os navios mercantes Osório e Lages, em 27 de
setembro de 1942, seguindo-se o afundamento do pequeno NM
Antonico, que navegava escoteiro ao largo da costa da Guiana
Francesa. Este ataque alemão ficou tragicamente gravado na mente
dos protagonistas, pois o U-516 com sua artilharia metralhou os
náufragos nas baleeiras, após o pequeno navio ter sido posto a
pique, matando e ferindo muitos deles. Ainda em 1942, foram
perdidos os NM Porto Alegre e Apalóide.
A organização dos comboios nos portos nacionais, que
reuniam navios mercantes da navegação de longo curso e de
cabotagem, escoltados por navios de guerra brasileiros e norte-
americanos e a intensa patrulha anti-submarino empreendida pelas
forças aeronavais aliadas levaram a uma drástica diminuição nas
perdas dos navios de Bandeira Brasileira, com oito torpe-
deamentos, comparados aos 24 ocorridos ao longo do ano anterior.

Comboio na costa brasileira


Acervo do Serviço de
Documentação da Marinha

145
MORTES NA MARINHA MERCANTE (1941–1943)
MORTOS OU
Nº DE D AT A D O Nº DE Nº DE SALVOS TOTAL DOS MORTOS
NAVIOS DESAPARECIDOS
ORDEM AT AQ U E TRIPULAN. PASSAG. OU DESAPARECIDOS
Trip. Pass. Trip. Pass.

1 Taubaté 22 de mar. de 1941 - - - 1 - 1

2 Cabedel o Desconhecida 54 - - - 54 - 54

3 Buarque 16 de fev. de 1942 74 11 74 10 - 1 1

-
4 Ol i nda 18 de fev. 1942 46 - 46 - - -

5 Arabutã 7 de mar. 1942 51 - 50 - 1 - 1

53
6 Cai ru 8 de mar. 1942 75 14 28 8 47 6

7 Parnaí ba 1 de mai. 1942 72 - 65 - 7 7 7

Comandante 2
8 18 de mai. de 1942 52 - 50 - 2 -
L i ra
Gonaçal ves
9 24 de mai. de 1942 52 - 46 - 6 - 6
Di as
-
10 Al egrete 1 de jun. de 1942 64 - 64 - - -

11 Pedri nhas 26 de jun. de 1942 48 - 48 - - - -

12 Tamandaré 26 de jul. de 1942 52 - 48 - 4 - 4

13 Pi ave 28 de jul. 1942 35 - 34 - 1 - 1

14 Barbacena 28 de jul. de 1942 61 1 55 1 6 - 6

15 Baependi 15 de ago de 1942 73 233 18 18 55 215 270

16 Araraquara 15 de ago de 1942 74 68 8 3 66 65 131

Aní bal
17 16 de ago de 1942 71 83 4 - 67 83 150
Benévol o

18 Itagi ba 17 de ago de 1942 60 121 50 95 10 26 36

19 Arará 17 de ago de 1942 35 - 15 - 20 - 20

20 Jaci ra 19 de ago. de 1942 5 1 5 1 - - -

21 Osóri o 27 de set. de 1942 39 - 34 - 5 - 5

22 Lajes 27 de set.de 1942 49 - 46 - 3 - 3

23 Antoni co 28 de set. de 1942 40 - 24 - 16 - 16

24 Porto Al egre 3 de nov.. de 1942 47 11 46 11 1 - 1

25 Apal ói de 22 de nov. 1942 57 - 52 - 5 - 5

26 Brasi l ói de 18 de fev. de 1943 46 4 46 4 - - -

27 Afonso Pena 2 de mar de 1943 89 153 56 61 33 92 125

28 Tutói a 30 de jun. de 1943 37 - 30 - 7 - 7

29 Pel otasl ói de 4 de jul de 1943 42 - 37 - 5 - 5

30 Shangri -l á 22 de jul de 1943 10 - - - 10 - 10

31 Bagé 31 de jul de 1943 107 27 87 19 20 8 28

32 Itapagé 26 de set. de 1943 70 36 52 32 18 4 22

33 Campos 23 de out. de 1943 57 6 47 4 10 2 12

T. Ge ral 1.744 769 1.265 267 480 502 982

146
A maioria dos navios mercantes brasileiros vitimados por

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
submarinos alemães em 1943 navegava fora dos comboios. O NM
Brasilóide navegava escoteiro quando foi torpedeado em 18 de
fevereiro de 1943; já o NM Afonso Pena, indevidamente, abandonou
o comboio do qual fazia parte e foi afundado em 2 de março; o
NM Tutóia foi atingido em 20 de junho, também viajando isolado.
O NM Pelotaslóide, fretado ao governo norte-americano para
transporte de material bélico, foi afundado na entrada do canal
para o Porto de Belém quando esperava o embarque do prático,
estando escoltado por três caça-submarinos da Marinha brasileira.
O NM Bagé compunha um comboio quando, na tarde de 31 de
julho, foi obrigado a seguir viagem isolado, pois suas máquinas
produziam fumaça em demasia, fazendo com que o comboio
pudesse ser localizado por submarinos do Eixo a grandes distâncias,
colocando em risco os outros navios comboiados. Naquela mesma
noite foi torpedeado. Os dois últimos torpedeamentos de navios
mercantes brasileiros foram o Itapagé, em 26 de setembro, e o
Campos, em 21 de outubro de 1943, todos os dois navegando
escoteiros.

Navio Mercante Bagé


Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

147
A Lei de Empréstimo e Arrendamento e

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
modernizações de nossos meios e defesa
ativa da costa brasileira

A Lei de Empréstimo e Arrendamento – Lend Lease – com


os Estados Unidos permitia, sem operações financeiras
imediatas, o fornecimento dos materiais necessários ao
esforço de guerra dos países aliados. Ela foi assinada a 11de
março de 1941.
Em acordo firmado a 1o de outubro de 1941, o Brasil obteve,
nos termos dessa lei, um crédito de 200 milhões de dólares, o
qual, por ordem do presidente da República, coube ao Exército
100 milhões e à Marinha e à Força Aérea 50 milhões cada. Da cota
destinada à Marinha, um total de 2 milhões de dólares foi
despendido com o armamento dos navios mercantes.
Ao rompermos relações diplomáticas como Eixo, a
Marinha do Brasil desconhecia as novas táticas anti-submarino e
estava, conseqüentemente, desprovida do material flutuante e dos
equipamentos necessários para executá-las, como bem
Caça-Submarinos Juruema mostramos anteriormente.
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
Os progressos verificados nos entendimentos entre o Brasil
e os Estados Unidos, depois dos torpedeamentos dos primeiros
navios na costa leste norte-americana e nas Antilhas, permitiram
incluir na agenda de discussões o fornecimento ao Brasil de
pequenas unidades de proteção ao tráfego e de ataque a
submarinos.
Os primeiros navios recebidos pelo Brasil, depois da
declaração de guerra, foram os caça-submarinos da classe G
(Guaporé e Gurupi), entregues em Natal, a 24 de setembro
de 1942.
Em seguida, foram incorporados à Marinha do Brasil, em
Miami, oito caça-submarinos da classe J (Javari, Jutaí, Juruá,
Juruema, Jaguarão, Jaguaribe,
Jacuí e Jundiaí). Caça-Submarinos Gurupi
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
No ano de 1943, foram
entregues mais seis unidades
da classe G (Guaíba, Gurupá,
Contratorpedeiro Bauru
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
Guajará, Goiana, Grajaú e
Graúna).
Nos anos de 1944 e 1945,
mais oito unidades foram
entregues, dessa vez os exce-
lentes contratorpedeiros-de-escolta que já operavam em
nossas águas (Bertioga, Beberibe, Bracuí, Bauru, Baependi,
Benevente, Babitonga e Bocaina).

148
Após o término da guerra na Europa, a Marinha recebeu

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
dos Estados Unidos, a 16 de julho de 1945, em Tampa, na Flórida,
o Navio-Transporte de Tropas Duque de Caxias.
Mais tarde, a cessão desses navios ao Brasil foi tornada
permanente, com o compromisso de não os entregarmos a outros
países, sendo então fixado o seu aluguel em 5 milhões de dólares,
descontando-se o que nos era devido pelo arrendamento de navios
brasileiros aos Estados Unidos, pela cessão do mercante misto
alemão Windhunk aos norte-americanos e pelos navios perdidos
durante a guerra.
Nada se conhece sobre indenizações norte-americanas, em
troca das facilidades concedidas à sua Marinha em nossos portos,
nem pelo uso do território nacional para instalação de suas bases
aéreas e navais. Simplesmente, ficamos de posse das benfeitorias
realizadas e dos materiais existentes em seus armazéns.
Quanto às construções navais aqui no Brasil, tivemos a
incorporação de contratorpedeiros da classe M (Mariz e Barros,
Marcílio Dias e Greenhalgh) e das Corvetas Matias de Albuquerque,
Contratorpedeiro Greenhalgh
Felipe Camarão, Henrique Dias, Fernandes Vieira, Vidal de Negreiros Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
e Barreto de Menezes.
Declarada a guerra, foi desenvolvido um
trabalho intenso para adaptar nossos antigos
navios, dentro de suas possibilidades, para a
campanha anti-submarino. Os seguintes serviços
foram executados:
– Cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul: instalados
sonar e equipamento para ataques anti-
submarino (duas calhas para lançamento de
bombas de profundidade de 300 libras);
– Navios mineiros varredores classe Carioca:
reclassificados como corvetas. Retirados os trilhos
para lançamento de minas e instalados sonar e
equipamentos para ataques anti-submarino (dois
morteiros K e duas calhas para lançamento de Corveta Carioca
bombas de profundidade de 300 libras); Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
– Navios Hidrográficos Rio Branco e Jaceguai:
mesmas instalações das Corvetas classe Carioca e
mais duas metralhadoras de 20mm Oerlikon;
– Navio-Tanque Marajó: instalado um canhão de
120mm na popa e uma metralhadora de 20mm
Oerlikon;
– Tênder Belmonte: reinstalados dois canhões de
120 mm;
– Contratorpedeiros classe Maranhão e restante
de classe Pará: instaladas duas calhas para

149
lançamento de bombas de profundidade de 300 libras; e

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
– Rebocadores e demais navios-auxiliares, armados com uma ou
duas metralhadoras de 20 mm Oerlikon.
Essas aquisições pelo Lend Lease e os aperfeiçoamentos
impetrados em nossa Força Naval vieram aumentar em muito nossa
capacidade de reagir de forma adequada aos novos desafios que
se afiguravam. Seria injusto não mencionar que o auxílio norte-
americano foi vital para que pudéssemos nos contrapor aos
submarinos alemães.
Além disso, algumas providências de caráter administrativo,
de treinamento e modificações materiais foram se tornando
necessárias.
Como primeira medida de caráter orgânico, foram instalados
os Comandos Navais, criados pelo Decreto no 10.359, de 31 de
agosto de 1942, com o propósito de prover uma defesa mais eficaz
da nossa fronteira marítima, orientando e controlando as operações
em águas a ela adjacentes, não só as relativas à navegação comercial,
como às de guerra propriamente ditas e de assuntos correlatos. A
área de cada Comando abrangia determinado setor de nossas
costas marítimas e fluviais.
Foram instalados os seguintes comandos:
Comando Naval do Norte, com sede em Belém, abrangendo
os Estados do Acre, Amazonas, Pará, Maranhão e Piauí.

Comando Naval do Nordeste, com sede em Recife, abrangendo


os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco
e Alagoas.

Comando Naval do Leste, com sede em Salvador, abrangendo


os Estados de Sergipe, Bahia e Espírito Santo.

Comando Naval do Centro, com sede no Rio de Janeiro,


abrangendo os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo.

Comando Naval do Sul, com sede em Florianópolis, abrangendo


os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Comando Naval do Mato Grosso, com sede em Ladário,


abrangendo as bacias fluviais de Mato Grosso e Alto Paraná.

Esses Comandos, ordenando suas atividades conforme a


concepção estratégica da guerra no mar (da preparação logística e
do emprego das forças ou outros elementos de defesa nas zonas
que lhes eram atribuídas, e obedecendo às diretrizes gerais
estabelecidas pelo Estado-Maior da Armada, a quem se achavam
subordinadas), constituíram uma organização da maior importância

150
na conduta eficaz das operações navais. Sua existência facilitou o

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
desenvolvimento dos recursos disponíveis nas respectivas áreas
de influência, mobilizando elementos para o apoio logístico e para
a defesa local.
O chefe do Estado-Maior da Armada entrou em
entendimento com seus colegas do Exército e da Aeronáutica para
organizar um serviço conjunto de vigilância e defesa da costa,
tendente a prevenir a possibilidade de aproximação e desembarque
inimigos.

Defesas Locais Um desses exemplos foi Duguay-Trouin em 1711,


17

na Baía de Guanabara.
Desde julho de 1942, por meio da Circular no 40, do dia 14,
em atendimento às Circulares Secretas nos 9 e 33, respectivamente
de 22 de janeiro e 12 de junho de 1942, o Estado-Maior da Armada
determinou que se observassem as instruções que orientavam as
atividades de cada capitania de porto ou delegacia, em benefício da
Segurança Nacional.
A ação do Estado-Maior da Armada estendeu-se ao serviço
de carga e descarga dos navios mercantes nos portos, tendo, para
esse fim, coordenado sua ação com a do Ministério da Viação e
Obras Públicas e com a Comissão de Marinha Mercante.
Preocupou-se, também, com as luzes das praias e edifícios
próximos aos portos, ou em regiões que pudessem silhuetar os
navios no mar, alvos dos submarinos inimigos.
Imaginava-se que o Alto Comando alemão traçaria planos
para realizar ataques maciços aos portos brasileiros. Em agosto de
1942, chegou a ser ventilada pelo Alto Comando Naval alemão a
autorização para investida em nossas águas de vários submarinos.
No entanto, somente o U-507 foi designado para operar em nossas
águas. A 20 de agosto de 1943, pela Circular no 5, o Comando da
Força Naval do Nordeste alertou para a possibilidade de
desembarque de elementos isolados, tendo como objetivo realizar
atos de sabotagem contra portos, depósitos, comunicações e
outros pontos vitais do território brasileiro.

Defesa Ativa

Na História há numerosos exemplos de navios corsários que


surgiram de surpresa diante de um porto para danificarem suas
instalações ou amedrontarem suas populações17. Do ponto de vista
militar, os efeitos dessas incursões são reduzidos, sendo a ação, na
maioria das vezes, executada para desorganizar a vida da localidade
e obter efeitos morais.
Com o advento do submarino, o perigo tornou-se maior,
com a possibilidade de torpedeamento de navios surtos nos portos.

151
Por esses motivos, foi organizada a defesa ativa, atuando em pontos
focais da costa, com a finalidade de repelir qualquer ataque aéreo
ou naval inimigo, por meio de ações coordenadas da Marinha de
Guerra, do Exército e da Aeronáutica. Adotaram-se seguintes
medidas de defesa ativa adotadas:

Rio de Janeiro – Instalação de uma rede de aço protetora no


alinhamento Boa Viagem – Villegagnon e coordenação do serviço
de defesa do porto com as fortalezas da barra. A rede era fiscalizada
por lanchas velozes, e a sua entrada aberta e fechada por
rebocadores. O patrulhamento interno cabia aos navios da chamada
Flotilha “João das Bottas” (constituída de navios mineiros e de
instrução), rememorando a flotilha de pequenas embarcações
comandada pelo Segundo-Tenente João Francisco de Oliveira
Bottas, que fustigou os portugueses encastelados em Salvador e
na Baía de Todos os Santos na Guerra de Independência.
Externamente, ou onde fosse necessário, atuavam os antigos
contratorpedeiros classe Pará, oriundos do programa de
reaparelhamento naval de 1906, recebidos em 1910, com mais de
30 anos de intensa operação. A responsabilidade da defesa ficou
afeta ao Comando da Defesa Flutuante, subordinado ao Comando
Naval do Centro.
Em junho de 1944, afastado o perigo de um ataque de
submarinos aos navios surtos no porto, suspendeu-se a patrulha
externa feita pelos veteranos contratorpedeiros, sendo mantida
apenas a vigilância interna, a cargo de um rebocador portuário.
Um especialista norte-americano, o Tenente Jacowski,
estabeleceu planos para a utilização de bóias de escuta submarina,
a serem adotadas de acordo com as necessidades. Em julho de
1943, teve início o serviço de varredura de minas do canal da barra,
realizada pelo USS Flincker, substituído mais tarde pelo USS Linnet.
Observamos aí, mais uma vez, o auxílio direto norte-americano
Encouraçado Sâo Paulo
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha ao nosso plano de defesa local;

Recife – O Encouraçado São Paulo, amarrado no


interior do arrecife, provia a defesa da artilharia e
supervisionava a rede antitorpédica. A varredura
de minas era feita por navios mineiros varredores
norte-americanos. Estava estacionado no Recife
um grupo de especialistas em desativação de
minas, as quais, por vezes, davam à costa, sendo
estudadas cuidadosamente antes de serem
destruídas.
As minas encontradas à deriva eram
destruídas pelos navios de patrulha com tiros de
canhão. O Terceiro Grupamento Móvel de
Artilharia de Costa e o Segundo Grupo do

152
Terceiro Regimento de Artilharia Antiaérea do Exército
coordenavam-se com os elementos da Marinha, o que permitia
uma cobertura completa da costa;

Salvador – A defesa principal do porto cabia ao Encouraçado Minas


Gerais, com sua artilharia controlada em conjunto com as baterias
do Exército, situadas na Ponta de Santo Antônio e na Ilha de
Itaparica. Em abril de 1943, os Monitores Parnaíba e Paraguaçu foram Monitor Parnaíba
movimentados de Mato Grosso para Salvador, por solicitação do Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
Comandante Naval do Leste. Depois de sofrerem
algumas modificações no Rio de Janeiro (em
especial no armamento), ficaram em condições
de operar na Baía de Todos os Santos.
Aparelhos de radiogoniometria de alta
freqüência cruzavam as marcações com
equipamentos semelhantes no Recife, a fim de
localizar submarinos;

Natal – Os serviços de proteção do porto


estavam a cargo do Comando da Base Naval de
Natal. Também eram acionadas unidades do
Exército (que mantinham baterias na barra) e da
Força Aérea Brasileira;

Vitória – A proteção do porto ficou entregue ao Exército, havendo


a Marinha cedido alguns canhões navais de 120 mm para artilhar
a barra;

Ilhas oceânicas – Na Ilha da Trindade foi estacionado um


destacamento de fuzileiros navais, em 20 de março de 1942, levado
pelo Navio-Transporte José Bonifácio.
A defesa do Arquipélago de Fernando de Noronha, situado
Navio-Transporte José Bonifácio
em ponto focal no Atlântico, ficou entregue ao Exército, que o Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
artilhou fortemente, levando contingentes em
comboios escoltados por navios da Marinha. A
ocupação se deu logo depois que o Brasil rompeu
relações diplomáticas com o Eixo, sendo o
primeiro grupo de militares transportados, junto
com material de guerra, em um comboio, em 15
de abril de 1942;

Santos – Os Rebocadores São Paulo (eram dois


com o mesmo nome, sendo um chamado de iate)
foram artilhados; outras embarcações menores
requisitadas faziam serviço de vigilância;
Rio Grande – Foi artilhado o Rebocador Antonio
Azambuja. Como reforço às defesas locais, foram

153
criadas Companhias Regionais do Corpo de Fuzileiros Navais em
Belém, Natal, Recife e Salvador.
Ao se lembrar da participação da Marinha na Segunda Guerra
Mundial, a primeira imagem que surge é a conhecida Força Naval
do Nordeste. Como era afinal a sua composição e tarefas?

A Força Naval do Nordeste


A missão da Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial
foi patrulhar o Atlântico Sul e proteger os comboios de navios
mercantes que trafegavam entre o Mar do Caribe e o nosso litoral
sul contra a ação dos submarinos e navios corsários germânicos e
italianos.
A capacidade de combate da Marinha do Brasil no alvorecer
do conflito era modesta se comparada com as grandes Esquadras
em luta no Atlântico Norte e no Pacífico. O nosso pessoal e nossos
meios não estavam preparados para se engajar com o inimigo oculto
sob o mar, que assolava o transporte marítimo em nosso litoral.
Ingressaríamos em uma guerra anti-submarino sem
equipamentos para detecção e armamento apropriados, porém
este obstáculo não impediu que navios e tripulações estivessem
patrulhando nossas águas, mesmo antes do envolvimento oficial
do governo brasileiro no conflito, apesar de todos os perigos.
A criação da Força Naval do Nordeste, pelo Aviso no 1.661,
de 5 de outubro de 1942, foi parte de um rápido e intenso processo
de reorganização das nossas forças navais para adequar-se à
situação de conflito. Sob o comando do Capitão-de-Mar-e-Guerra
Alfredo Carlos Soares Dutra, a recém-criada força foi inicialmente
composta pelos seguintes navios: Cruzadores Bahia e Rio Grande
do Sul, Navios Mineiros Carioca, Caravelas, Camaquã e Cabedelo
(posteriormente reclassificados como corvetas) e os Caça-
Submarinos Guaporé e Gurupi.
Ela seria posteriormente acrescida do Tênder Belmonte, caça-
submarinos, contratorpedeiros-de-
escolta, contratorpedeiros classe M,
submarinos classe T, constituindo-se na
Força-Tarefa 46 da Força do Atlântico Sul,
reunindo a nossa Marinha sob o comando
operacional da 4a Esquadra Americana.
A atuação conjunta com os norte-
americanos trouxe novos meios navais e
armamentos adequados à guerra anti-
submarino, bem como proporcionou
treinamento para o nosso pessoal.
O combate, porém, nos custou
muitas vidas. As perdas brasileiras na guerra Contra-Almirante Soares Dutra
marítima somaram 31 navios mercantes e

154
três navios de guerra, tendo a Marinha do Brasil perdido 486
homens. Nesse ponto seria interessante descrever em maiores
detalhes as perdas de nossas unidades de combate durante a Batalha
do Atlântico.
A primeira perda da Marinha de Guerra foi a do Navio-
Auxiliar Vital de Oliveira, torpedeado por submarino alemão pelo
través do Farol de São Tomé, em 19 de julho de 1944. Às 23h55min,
foi sentida forte explosão na popa, abrindo grande rombo, por Caça-Submarino Gurupi
onde começou a entrar água em enormes proporções. Segundo Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
algumas testemunhas, o afundamento do navio deu-se em apenas
três minutos. A maior parte dos sobreviventes foi resgatada no
dia seguinte por um barco pesqueiro e por outros dois navios
da Marinha, o Javari e o Mariz e Barros. Morreram nesse ataque
99 militares.
Quarenta e oito horas após o torpedeamento do Vital de
Oliveira, a cerca de 12 milhas a nordeste da barra de Recife,
perdeu-se a Corveta Camaquã, afundada devido a violento mar.
Discutem-se até hoje os motivos que levaram esse navio a seu
Navio-Auxiliar Vital de Oliveira afundamento. O Comandante
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha Antônio Bastos Bernardes,
sobrevivente do sinistro,
afirmou alguns anos após esse
acidente que o emborcamento
se deu por “fortuna do mar”.
Seja como for, pereceram
nessa oportunidade 33
pessoas.
Por fim, o pior desastre enfrentado pela Marinha durante a
Segunda Guerra Mundial foi a perda do Cruzador Bahia, no dia 4
de julho de 1945. E s s a t r a g é d i a foi exacerbada pelo Corveta Camaquã
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
conhecimento dos terríveis sofrimentos dos náufragos,
abandonados no mar durante muitos dias, por incompreensível
falha de comunicações.
Três infortúnios e cerca de 486 mortos, incluindo os falecidos
em outros navios e em navios mercantes afundados, mais que os
mortos brasileiros em combate na Força Expedicionária
Brasileira que lutou na Itália.
Cruzador Bahia Pouco discutida é a
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha atuação da Quarta Esquadra
Norte-Americana, subordinada
ao Vice-Almirante Jonas Ingram.
Figura notável que teve o
mérito de congregar forças
heterogêneas em um coman-
do unificado, eficiente e coeso,
auxiliado pelos Almirantes

155
Oliver Read e Soares Dutra, comandantes das principais forças-

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
tarefas.
Essa força norte-americana compreendeu, em seu maior
efetivo, seis cruzadores, 33 contratorpedeiros, diversas esquadrilhas
de patrulha, bombardeiros e dirigíveis, além de caça-submarinos,
patrulheiros, tênderes, varredores, auxiliares e rebocadores.
Um dos principais pontos desse relacionamento Brasil–
Estados Unidos foi a integração operacional entre as duas Marinhas.
Foram aperfeiçoados procedimentos comuns e táticas eficazes
na luta anti-submarino.
Em 7 de novembro de 1945, concluída a sua missão, a Força
Naval do Nordeste regressou ao Rio de Janeiro em seu último
cruzeiro, tendo contribuido para a livre circulação nas linhas de
navegação do Atlântico Sul.

E o que ficou?

Não se pode analisar a participação da Marinha de Guerra


brasileira na Segunda Guerra Mundial sem apontar alguns dados
que delimitam todo o seu esforço para manter nossas linhas de
comunicação abertas.
Foram comboiados cerca de 3.164 navios, sendo 1.577
brasileiros e 1.041 norte-americanos, em 575 comboios.
Considerando esse número de navios e as perdas em comboios,
chegamos à conclusão de que cerca de 99,01% dos navios
protegidos atingiram os seus destinos.
Foram percorridos pelos escoltas, sem contar os ziguezagues
realizados para dificultar a detecção submarina e o tiro torpédico,
um total de 600.000 milhas náuticas, ou seja, 28 voltas em redor
da Terra pelo Equador.
A Esquadra americana comboiou no Atlântico 16 mil navios,
o que corresponde a 16 mercantes por cada navio de guerra. A
Marinha do Brasil comboiou mais de tres mil navios, o que
corresponde a 50 mercantes por cada navio de guerra brasileiro.
Foram atacados 33 navios mercantes brasileiros, com um
total de 982 mortos ou desaparecidos na Marinha Mercante. Em
tonelagem bruta, foram perdidos 21,47% da frota nacional.
O navio de guerra que mais tempo passou no mar foi o
Caça-Submarinos Guaporé, num total de 427 dias de mar, em
pouco mais de três anos de operação, o que perfez uma média
anual de 142 dias de mar.
O navio que participou no maior número de comboios foi a
Corveta Caravelas, com 77 participações.
Com todos esses dados, o que efetivamente significou para
a nossa Marinha de Guerra a sua participação no conflito mundial?

156
A primeira conclusão a que se pode chegar é a que adquirimos

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
maior capacidade para controlar áreas marítimas e maior poder
dissuasório. No entanto, deve ser admitido que tal situação foi fruto
do auxílio norte-americano. Se estivéssemos sozinhos nessa
empreitada, poderíamos ficar em situação delicada, principalmente
na manutenção de nossas linhas de comércio marítimo.
A segunda conclusão aponta para uma mudança de
mentalidade na Marinha, com a assimilação de novas técnicas de
combate e a incorporação de meios modernos para as forças
navais. Essa mudança de mentalidade fez a Marinha tornar-se bem
mais profissional.
A terceira foi a oportunidade de a Marinha “sentir o odor do
combate”, participar de ações de guerra e adquirir experiências da
Corveta Caravelas
refrega, das adversidades, do medo e da dor com a perda de navios Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
e companheiros. Essa experiência
de combate foi fundamental para
forjar os futuros almirantes, oficiais
e praças da Marinha, acostumados
com a vida dura da guerra anti-
submarino e da monotonia e do
estresse dos comboios.
A quarta conclusão é a
percepção de que a logística ocupa
lugar de importância na manu-
tenção de uma força combatente
operando eficientemente. Esse tipo
de percepção refletiu-se na cons-
trução da Base Naval de Natal e
outros pontos de apoio logístico do
nosso litoral. Nisso os Estados
Unidos foram os grandes mestres.
A quinta foi a nossa aproximação com os norte-americanos.
Essa associação nos alinhou diretamente com suas doutrinas e com
uma exacerbada ênfase na guerra anti-submarino. Essa percepção
só foi mudada a partir da denúncia, em 1977, do Acordo Militar
assinado com esse país em 1952. Com esta denúncia, optamos
por uma tecnologia relativamente autóctone.
E, por fim, a guerra no mar mostrou-nos que, no caso do
Brasil, em uma conflagração generalizada, as nossas linhas de
comunicação serão os alvos prioritários em nossa defesa, pois ainda
somos dependentes do comércio marítimo.

157
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Desfile das tripulações da Força Naval do Nordeste e da Força


Naval do Sul em 7 de setembro de 1945 na Avenida Rio
Branco (RJ)
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

158
C R O N O L O G I A
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

DATA EVENTO

Julho de 1904 Apresentação na Câmara dos Deputados do programa de reaparelhamento


naval do Almirante Júlio de Noronha pelo Deputado Laurindo Pitta.
Nov. de 1906 Aprovação do programa de reaparelhamento naval do Almirante Júlio de
Noronha modificado pelo Almirante Alexandrino de Alencar.

Ago. de 1914 Começa a Primeira Guerra Mundial.

17 /01/ 1917 A Alemanha estabelece bloqueio sem restrições ao comércio


marítimo com os Aliados.

11/04/ 1917 Rompimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a Alemanha.

26/10/ 1917 Declaração de guerra entre o Brasil e a Alemanha.

01/08/ 1918 DNOG suspende de Fernando de Noronha com destino à África.

09/11/ 1918 Termina a Primeira Guerra Mundial.

09/06/1919 DNOG regressa ao Rio de Janeiro.

01/09/1939 Começa a Segunda Guerra Mundial.

11/03/1941 Assinatura da Lei de Empréstimos e Arrendamentos – Lend Lease – com


os Estados Unidos da América.
28/01/1942 Brasil rompe relações diplomáticas com os países do Eixo.

31/08/1942 Declaração de guerra entre o Brasil e a Alemanha – Criação


dos Comandos Navais na costa brasileira e Mato Grosso.

05/10/1942 Criação da Força Naval do Nordeste.

19/07/1944 Torpedeamento do Navio-Auxiliar Vital de Oliveira no través do


Farol de São Tomé.

21/07/1944 Afundamento da Corveta Camaquã próximo a Recife.

08/05/1945 Termina a Segunda Guerra Mundial.

04/07/1945 Afundamento do Cruzador Bahia entre o Nordeste e a África.

07/11/1945 A Força Naval do Nordeste regressa ao Rio de Janeiro.

159
FIXAÇÃO
1– O Programa de Reaparelhamento da Marinha de 1904, além da aquisição de navios,
incluía alguns melhoramentos fundamentais para um Poder Naval que se desejava no
Brasil. Quais eram esses melhoramentos? Quem foi o idealizador desse Programa?
Quem o modificou? Por que? Quais as alterações propostas?

2– Como estava a Marinha preparada para enfrentar os germânicos na Primeira Guerra


Mundial? Qual foi a principal contribuição da Marinha na luta contra as potências centrais?
Descreva em quinze linhas essa contribuição.

3– Por que o Brasil declarou guerra ao Eixo na Segunda Guerra Mundial? Como era
constituída a Marinha brasileira e quais as Defesas Ativas do Rio de Janeiro? Quais as
perdas na Marinha de Guerra nesse conflito?

4– O que foi o Programa Lend Lease?

5– O que efetivamente significou para a Marinha do Brasil a sua participação na Segunda


Guerra Mundial? Descreva em 15 linhas as suas conclusões.

SAIBA MAIS:

HISTÓRIA naval brasileira. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 1975- .


v.5. t.1B e t.2.

PÁGINAS NA INTERNET

Marinha do Brasil: www.mar.mil.br


Mundo Educação: www.mundoeducacao.com.br/primeira-guerra-mundial
Cultura Brasileira: www.culturabrasil.pro.br/segundaguerra.htm
Naufrágios.com: www.naufragios.com.br/subbra.htm

160
161
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O Emprego Permanente do Poder Naval


O Poder Naval na guerra e na paz

Sem o Poder Naval não haveria este Brasil que herdamos de


nossos antepassados. Conforme se verifica neste livro, o Poder
Naval português, por algum tempo o luso-espanhol, e, mais tarde,
após a Independência, o brasileiro, foram empregados com a
violência necessária nos conflitos e nas guerras que ocorreram no
passado. Toda vez que alguém utilizou a força para impor seus
próprios interesses encontrou a oposição de um Poder Naval que
defendeu com eficácia o território e os interesses que possibilitaram
a formação do Brasil.
Cabe observar que, em geral, o que qualquer nação mais
deseja é a paz. Mesmo os países que promoveram as guerras do
passado queriam alcançar a paz. A paz, porém, da forma que
Símbolo da Organização das Nações Unidas desejavam, impondo aos outros o que lhes convinha.
A Alemanha mandou seus submarinos afundarem os navios
mercantes brasileiros porque não queria que o Brasil, apesar de
ser ainda neutro na Segunda Guerra Mundial, continuasse a fornecer
matérias-primas para seus inimigos. Algumas dessas matérias-primas
eram muito importantes para o esforço de guerra deles. O
interesse do Brasil era continuar comerciando com quem desejasse
e transportando as mercadorias livremente em seus navios, mas
isto não era bom para os alemães, que precisavam vencer a guerra
para alcançar a paz da forma que desejavam, o mais breve possível.
Na paz que a Alemanha queria, suas conquistas territoriais deveriam
ser reconhecidas pelos outros países e sua expansão, julgada por
ela importante para o futuro dos alemães, imposta aos povos
vencidos.
A guerra resulta de conflitos de interesses. Ela ocorre porque
não há um árbitro supremo para resolver completamente as
questões entre os países. Existem organizações internacionais,
como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização
dos Estados Americanos (OEA), por exemplo, que muito ajudam
para evitar a violência e manter essas questões no campo da
diplomacia. Verifica-se, no entanto, que o poder delas é limitado,
porque as nações são ciosas de sua soberania. Cada país precisa
Símbolo da Organização dos Estados Americanos se precaver, cuidando da defesa de seus interesses, para que

162
os outros nunca pensem em empregar meios violentos para

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
resolver os conflitos.
Não seria lógico pensar que alguém possa empregar a
violência sem que imagine ter uma boa probabilidade de êxito,
sofrendo apenas perdas aceitáveis. Cabe ao Poder Militar de um
país – do qual o Poder Naval é também um dos componentes –
criar permanentemente uma situação em que seja inaceitável,
para os outros, respaldar seus interesses conflitantes com o
emprego de força. Isto é, o nosso Poder Militar deve
permanentemente dissuadir1 os outros países de usar a violência
e é, conseqüentemente, o guardião da paz – daquela paz que nos 1
Dissuadir – desestimular a ação contrária aos
interessa, evidentemente. interesses.
No caso do Brasil, por exemplo, na paz
que desejamos, a Amazônia é território nacional;
o comércio internacional deve ser livre, assim
como o uso do transporte marítimo nas rotas
de nosso interesse; a maior parte do petróleo
continua sendo extraída do fundo do mar, sem
ingerências de outros países; a enorme área
compreendida pela Zona Econômica Exclusiva
e pela Plataforma Continental brasileira,
chamada de Amazônia Azul2, é controlada pelo
País; não ocorrem exigências anormais no
pagamento de nossa dívida externa; entre outras
coisas. A dissuasão é, portanto, uma das
principais formas de emprego permanente do
Poder Militar em tempo de paz, existindo outras,
como veremos adiante.
Na paz, ou no que se denomina paz no
mundo, o confronto entre os países, resultante
de conflitos de interesses, ocorre evitando, ao
máximo, o uso da violência, porém, disputando
politicamente, econo-micamente e em todas as
outras manifes-tações da potencialidade
nacional. Nesse contexto, o potencial ofensivo
intrínseco dos instrumentos do Poder Militar faz
com que seu emprego, mesmo indireto, possa
excitar reações em países observadores. Tais 2
A Amazônia Azul é a área marítima costeira
reações podem simplesmente resultar de excitação acidental ou compreendida pela Zona Econômica Exclusiva
(ZEE) – uma faixa de 200 milhas de extensão, con-
refletir resultados intencionalmente desejados por quem exerce tadas a partir da linha de baixa-mar – e a Plataforma
esse emprego indireto do Poder Militar, chamado de persuasão Continental (PC), onde existir – uma extensão do
território continental que se prolonga mar adentro.
armada. Essa PC, representada na figura azul mais escuro e
Como a paz é relativa, a persuasão armada não exclui nem após a ZEE (azul mais claro), foi reivindicada junto à
ONU e foi levantada em trabalho conjunto da Mari-
o uso da força, de maneira limitada, desde que entendido como nha, Petrobras e universidades lideradas pela MB.
simbólico pelo país agredido. As grandes potências internacionais, Aceita integralmente a proposta brasileira, nossas
águas costeiras abrangerão uma área um pouco in-
como os Estados Unidos da América, a Rússia e outros utilizam ferior à Amazônia Legal, daí ser chamada de
permanentemente seus poderes militares. Amazônia Azul.

163
Dos componentes do Poder Militar, o Poder Naval pode ser

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
empregado para exercer persuasão armada, em tempo de paz,
no que se denominou, na década de 1970, de “emprego político
do Poder Naval”. Ele pode ser empregado em condições
inigualáveis com outros poderes militares, graças a seus atributos
de: mobilidade, versatilidade de tarefas, flexibilidade tática,
autonomia, capacidade de projeção de poder e alcance geográfico
– que já foram referidos no primeiro capítulo deste livro. Concorre
para isso o conceito de liberdade dos mares, que possibilita aos
navios de guerra se deslocar livremente em águas internacionais,
atingindo locais distantes e lá permanecendo, sem maiores
comprometimentos, em tempo de paz.
Antes da invasão do Afeganistão em outubro de 2001, por
exemplo, os americanos deslocaram para águas internacionais,
próximas do local do conflito, uma poderosa força naval. Influíam
assim nos países da região, sinalizando apoio aos aliados,
dissuadindo as ações dos que lhes eram hostis e favorecendo o
apoio dos indecisos, em suma, criando intencionalmente uma
variedade de reações.
O sentido indireto da palavra persuasão é significativo, pois é
através da reação dos outros que ela se manifesta. Então, é
essencial que eles percebam o emprego das forças navais,
modificando seu ambiente político e, conseqüentemente, afetando
suas decisões, por se sentirem apoiados, dissuadidos ou mesmo
compelidos a uma reação específica. Exerce-se, portanto, a
persuasão armada estimulando resultados que dependem de
reações alheias, políticas e/ou táticas, às vezes conflitantes e em
princípio imprevisíveis. Existe sempre a possibilidade de se
configurarem situações inesperadas, até pelo resultado, não
intencional, da excitação
de terceiros. Daí a impor-
tância de uma permanente
avaliação em qualquer ação
de emprego político do
Poder Naval.

Manobra no mar do
Navio-Tanque Gastão Motta
e Fragata União

164
Classificação

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Os tipos de persuasão naval, específicos do emprego do
Poder Naval em tempo de paz, classificados quanto aos modos
em que os efeitos políticos se manifestam são:
– sustentação;
– dissuasão;
– coerção.
Na sustentação e na dissuasão, a persuasão se manifesta
comportamentalmente em termos de se sentir apoiado ou
contrariado em suas intenções, de acordo com o próprio significado 3
Coerção deterrente – a ação fez com que o
dos termos empregados. Os aliados se sentem apoiados e quem é oponente desistisse de sua atitude.
hostil se sente inibido de agir, portanto, dissuadido.
A coerção, por sua vez, pode ser positiva ou compelente,
quando a uma ação já iniciada é forçada uma determinada linha de
ação, modificando-a, ou negativa, também chamada de deterrente,
quando inibe uma determinada atitude, impedindo que seja tomada.
Na crise da década de 1960, chamada de Guerra da Lagosta,
por exemplo, a França enviou navios de guerra, em tempo de paz,
para proteger seus barcos de pesca, que capturavam lagostas na
plataforma continental brasileira. O governo brasileiro determinou
que diversos navios da Marinha do Brasil se dirigissem para o local
da crise, mostrando que o País estava disposto a defender seus
direitos, se necessário com o emprego da força. Logo os navios
franceses retornaram e o conflito de interesses voltou para o
campo da diplomacia – de onde nunca deveria ter saído. A
persuasão naval exercida pelo emprego do Poder Naval
Contratorpedeiro Araguari, que compôs junto
brasileiro foi de coerção deterrente3, porque inibiu o apoio que com os contratorpedeiros Pará, Pernambuco,
intencionalmente os franceses pretendiam dar a seus barcos Paraná e Greenhalgh, a Força Naval que se dirigiu
para o local onde se encontravam os navios
de pesca. franceses na chamada Guerra da Lagosta.
No passado, muitas
vezes as nações detentoras
de Poder Naval utilizaram
seus navios de guerra e
forças navais com o pro-
pósito de sustentação ou de
dissuasão. A simples exis-
tência de um Poder Naval
preparado para a guerra
pode fazer com que aliados
se sintam apoiados em suas
decisões políticas nas
relações internacionais e
inimigos sejam dissuadidos de
suas intenções agressivas.
Evidentemente, os
efeitos da persuasão armada

165
podem se manifestar em diferentes níveis de intensidade. A relação

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
entre as forças empregadas para a persuasão naval e a intensidade
dos efeitos que elas estimulam não é nem direta nem proporcional.
A resultante final da persuasão depende da integração das inibições
e incitações provocadas pela ameaça ou apoio, que são, por sua
vez, função de decisões tomadas sob pressões políticas,
condicionadas por fatores psicossociais e culturais e pela interação
entre os líderes e a opinião pública. A percepção, portanto, além
de relativa, é essencial à análise da persuasão.

A percepção do Poder Naval

Como toda percepção, a do Poder Naval depende das


capacidades que são visíveis ao observador. Esse observador está
embebido num contexto político, doméstico, regional e
internacional, que não apenas molda suas reações, como também
influi na própria percepção.
Enquanto numa guerra preponderam as qualidades reais dos
meios empregados, que decidem os resultados das ações militares,
em situação de paz ou conflitos de natureza limitada, as ameaças
são medidas em termos de previsões e comparações. Essas
previsões se baseiam nos dados quantitativos e qualitativos ao
Treinamento de fuzileiros
navais brasileiros
alcance do observador, de sua capacidade de perceber, portanto.
Os países desenvolvidos têm, em
geral, maior capacidade para avaliar as
verdadeiras ameaças resultantes do
Poder Militar, inclusive do Poder Naval,
que é um de seus componentes. Sabem
utilizar seus meios de comunicação para
divulgar notícias que valorizam a
capacidade de seus armamentos. O
mesmo não ocorre com países em
desenvolvimento, que podem até ter sua
percepção bastante influenciada por
essas notícias, tendo em vista suas
próprias limitações de análise.
Conseqüentemente, as avaliações das
forças navais podem levar a conclusões
bastante distorcidas em relação à
capacidade real em combate, mas, em
tempo de paz, são estas avaliações
subjetivas que importam e que
produzem resultados.
São “invisíveis” aos leigos em guerra
naval, por exemplo, a complexidade
sistêmica dos navios modernos,
necessárias às respostas rápidas e

166
eficazes, quando em combate. Por outro lado, são “visíveis” os

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
mísseis, os canhões e o próprio porte e aspecto externo do navio.
Na realidade, é importante que o navio tenha suficiente flexibilidade
para possibilitar seu emprego político, mas a função política de
tempo de paz não deve levar à preparação de um Poder Naval
apenas aparente.
O prestígio de uma Marinha sempre foi um dos atributos
mais importantes para a percepção do Poder Naval. O prestígio
está principalmente baseado nas capacidades “visíveis” e pode levar
à necessidade de demonstrar permanente superioridade. A Marinha
Real da Grã-Bretanha, por exemplo, durante a época em que
dominava os mares, fazia questão de manter o seu prestígio.
O Cruzador russo Askold, por exemplo, era o único navio
de cinco chaminés do mundo e, em 1902, visitou o Golfo Pérsico.
Sua visita causou profunda impressão, devido à percepção de
potência mecânica que o número de chaminés transmitia. Em
resposta, os britânicos desviaram o Cruzador HMS Amphritite para
Mascate (capital de Omã). Para eles, a disputa de prestígio com a
Rússia no Oriente era importante. Seu comandante providenciou
mais duas chaminés de lona para seu navio, totalizando seis e
restaurando o prestígio local da Marinha Real.
Possivelmente, a percepção mais importante do emprego
político de uma força naval não está na aparência da força em si,
nem no prestígio da Marinha a que pertence, mas na percepção
do quanto é realmente importante o objetivo pretendido para
quem aplica a persuasão armada. A disposição de usar a força e
de sofrer as perdas conseqüentes deste ato é essencial e deve ser
claramente perceptível. A percepção da capacidade de alcançar o
objetivo pela força também é muito importante. Pode ocorrer
que não exista essa capacidade, ou que não se possa alcançar o
objetivo sem um sacrifício superior ao seu valor, ou basta que
assim seja avaliado pelo país alvo, para que os resultados não sejam
atingíveis através do emprego político do Poder Naval.
É interessante observar que, atualmente, os mísseis ar-
superfície e superfície-superfície colocaram países relativamente
fracos em condições de causar danos consideráveis a uma força
naval próxima a suas costas. Tal fato, porém, não impede que uma
força naval possa exercer persuasão, porque não é sua capacidade
absoluta que importa, mas sim o que ela significa como
representante do Poder Naval e da vontade de seu país de alcançar
o objetivo suportando as perdas prováveis, se tal for assim
percebido.
Na crise provocada pelos mísseis que a União Soviética
pretendia instalar em Cuba, em 1962, a Marinha dos Estados Unidos
mostrou determinação suficiente para que os soviéticos decidissem
que os navios que transportavam os mísseis deveriam regressar.
Foi portanto uma ação de coerção deterrente do emprego político

167
do Poder Naval americano, pois modificou uma ação que já estava

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
em andamento, em face de terem percebido que os americanos
estavam dispostos a usar a força para não ter seu território ao
alcance dos mísseis de Cuba.
Considerando o conflito pela posse das Ilhas Falklands/
Malvinas, em 1982, os argentinos deixaram de ser dissuadidos pelo
Poder Naval britânico e invadiram as ilhas, porque julgaram que o
valor daquelas ilhas não compensava o esforço de projetar o poder
da Marinha da Grã-Bretanha àquela distância no Atlântico Sul, em
face das perdas humanas e materiais que provavelmente teria. Por
seu turno, a ocupação militar das ilhas falhou porque o governo
britânico levou a questão ao ponto de defesa da honra do
Reino Unido.
O ambiente doméstico do país que é alvo da persuasão é
básico no contexto político das decisões que governam sua eficácia.
É fundamental que os líderes desse país aceitem serem persuadidos
e até cooperem, servindo de intermediários com a opinião pública,
para que o objetivo da persuasão seja considerado uma necessidade
imposta e a atitude tomada como pragmática.

O emprego permanente do Poder Naval

A teoria do emprego político do Poder Naval mostra a


possibilidade do uso permanente das forças navais em tempo de
paz, em apoio aos interesses de uma nação. Isso é verdade tanto
para os países desenvolvidos quanto para os países em
desenvolvimento e a intensidade e tipos de emprego são apenas
funções do ambiente regional onde se situam e das vulnerabilidades
que possuem.
Para os países mais pobres, o armamento moderno
possibilita condições excepcionais, em relação ao passado. O
conflito das Falklands/Malvinas, em 1982, apesar do desfecho
desfavorável à Argentina, é um exemplo que não pode deixar de
ser citado, porque poderia, até, ter outro resultado, se houvesse
submarinos argentinos eficazes e suficientes.
Táticas podem ser descritas para a persuasão naval. Essas
táticas são as diversas formas de emprego das forças navais para
alcançarem resultados políticos em tempo de paz. Elas são:
· demonstração permanente do Poder Naval;
· posicionamentos operativos específicos;
· auxílio naval;
· visitas operativas a portos; e
· visitas específicas de boa vontade.
A demonstração permanente do Poder Naval permite,
através de ações como deslocamentos e manobras com forças,
inclusive estrangeiras, participação em missões de paz da
Organização das Nações Unidas; reforços e reduções de nível de

168
forças; aumento ou redução da prontificação para combate; e obter

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
efeitos desejados como: aumentar a intensidade da persuasão;
desencorajar; demonstrar preocupação em crises entre terceiros;
exercer coerção ou apoio de maneira limitada ou restrita, entre
outros.
Os posicionamentos operativos específicos, situando navios
ou forças navais próximo a um local de crise constituem apenas
um caso especial da demonstração permanente e as ações podem
ser semelhantes.
O auxílio naval inclui a instalação de missões navais, o
fornecimento de navios e o apoio de manutenção.
As visitas a portos estrangeiros, para reabastecimento,
descanso das tripulações, ou mesmo, específicas de boa vontade,
no que se denomina “mostrar a bandeira”, podem transmitir a
imagem do prestígio da Marinha, aumentando a influência e
acumulando vantagens psicossociais sobre o país visitado.

O Poder Naval brasileiro é empregado em tempo de paz de Placa existente, em 2006, no portão de entrada da
diversas maneiras, podendo-se destacar: Base de Fuzileiros Navais no Haiti. Acadêmica
Rachel de Queiroz.
– as operações com Marinhas aliadas, como a Operação Unitas, O nome da Base é em homenagem à escritora,
com a Marinha dos Estados Unidos e de países sul-americanos; a autora da frase estampada em português e francês
Operação Fraterno, com a Armada da República Argentina; e muitas (língua oficial do Haiti).

outras;
– a participação em diversas missões de paz, transportando as tropas
ou através de seus fuzileiros navais, como em São Domingos,
Angola, Moçambique, Nicarágua e Haiti;
– e as viagens de instrução do navio-escola e as visitas a portos
estrangeiros, “mostrando a bandeira”.
Cabe também ressaltar o apoio que a Marinha do Brasil presta
a outras Marinhas aliadas, na América do Sul e no continente
africano.

169
A análise do passado demonstra a necessidade do emprego
permanente do Poder Naval. Para o Brasil, é importante manter
um Poder Naval capaz de inibir interesses antagônicos e de
conservar a paz como desejada pelos brasileiros.

Navio Veleiro Cisne Branco

Navio-Escola Brasil

170
L
E
G
I
S
L
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Ç
Ã
O
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Praças RM-2 da Marinha do Brasil

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PROGRAMA E BIBLIOGRAFIA PARA A PROVA OBJETIVA DO PROCESSO


SELETIVO UNIFICADO DE PRAÇAS - RM2 (NÍVEL MÉDIO)

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO II – FORMAÇÃO MILITAR-NAVAL


ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
FORMAÇÃO MILITAR-NAVAL
FORÇAS ARMADAS E SEGURANÇA PÚBLICA – A Constituição Federal e as Forças Armadas; a Constituição
Federal e a Segurança Pública.

LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
ESTATUTO DOS MILITARES – Disposições preliminares; Do ingresso nas Forças Armadas; Da hierarquia militar
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e disciplina; Do cargo e da função militares; Das obrigações militares; Valor e ética militar; Dos deveres
militares; Conceituação; compromisso militar, comando e subordinação; Violação das obrigações e deveres
militares; Crimes militares; Contravenções ou transgressões disciplinares; e Conselhos de justificação e
disciplina.
REGULAMENTO DISCIPLINAR PARA A MARINHA – Generalidades; Propósito; Disciplina e hierarquia militar;
Esfera de ação disciplinar; Das contravenções disciplinares; definição e especificação; Natureza das
contravenções e suas circunstâncias; Da parte, prisão imediata e recursos.
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA – Doutrina de Liderança da Marinha: Chefia e Liderança; Aspectos
Fundamentais da Liderança; Estilos de Liderança; Seleção de Estilos de Liderança; Fatores da Liderança;
Atributos de um Líder; Níveis de Liderança. Manual de Liderança da Marinha: Fundamentos Conceituais de
Liderança; Falácias da Liderança; Conceito de Liderança; Chefiar, Dominar e Manipular; Bases da Liderança;
Níveis de Liderança.

BIBLIOGRAFIA
FORÇAS ARMADAS E SEGURANÇA PÚBLICA
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Título V. Capítulos II e III. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível para download em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/legislacaoConstituicao/anexo/CF.pdf
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Regulamento Disciplinar para a Marinha.
Títulos I, II e IV. Vade Mécum Naval. Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha. Ed. rev.
Rio de Janeiro, 2009. Disponível para download em: https://www.marinha.mil.br/
com5dn/sites/www.marinha.mil.br.com5dn/files/RDM.pdf
Estatuto dos Militares.
Títulos I e II. Brasília, 1980. Diário Oficial da União. Disponível para download em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6880.htm

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RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA


DEnsM-1005 – Manual de Liderança da Marinha. Capítulo 1 e 2, rev 1. Rio de Janeiro. RJ, 2018. Disponível

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para download em: http://www.densm.mb/drupal/sites/default/files/portal-lideranca/DEnsM-


1005%20MANUAL %20DE%20LIDERAN%C3%87A%20DA%20MARINHA.pdf 2021

EMA-137 – Doutrina de Liderança da Marinha.


Capítulo 1, rev. 1. Brasília, DF, 2013. Disponível para download em:
http://www.marinha.mil.br/com1dn/sites/www.marinha.mil.br.com1dn/files/upload/EMA
%20137%20CAP%C3%8DTULO%201%20REV.1_1.pdf

ÍNDICE

 Forças Armadas e Segurança Públicas ............................................................................ 3


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 Estatuto dos Militares .................................................................................................... 7


 Regulamento Disciplinar para a Marinha ........................................................................ 19
 Relações Humanas e Liderança - Doutrina de Liderança da Marinha ............................... 25

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Constituição Federal de 1988.

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL
CAPÍTULO II - DAS FORÇAS ARMADAS
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de
qualquer destes, da lei e da ordem.
§ 1º - Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na organização, no preparo e no emprego das
Forças Armadas.
§ 2º - Não caberá "habeas-corpus" em relação a punições disciplinares militares.
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas
em lei, as seguintes disposições
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, são conferidas pelo Presidente da República
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e asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou reformados, sendo-lhes privativos os títulos e
postos militares e, juntamente com os demais membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas;
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil permanente, ressalvada a hipótese
prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c", será transferido para a reserva, nos termos da lei;
“XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto,
quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso
o disposto no inciso XI: (“Caput” do inciso com redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro, técnico ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com
profissões regulamentadas; (Alínea com redação dada pela Emenda
Constitucional nº 34, de 2001)”
III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego ou função pública civil temporária,
não eletiva, ainda que da administração indireta, ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c",
ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser promovido
por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para aquela promoção e transferência para a
reserva, sendo depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos
da lei;

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IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;


V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos;

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VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por
decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo
de guerra;
VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de liberdade superior a dois anos, por
sentença transitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto no inciso anterior;
VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI,
XIII,XIV e XV, bem como, na forma da lei e com prevalência da atividade militar, no art. 37, inciso XVI, alínea
"c";
Art. 7º :
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;
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XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches
e pré-escolas;
Art. 37º :
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração
direta,autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dosMunicípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos,
pensões ou outra espécieremuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens
pessoais ou de qualquer outra natureza, nãopoderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros
do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite,nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos
Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbitodo Poder Executivo, o subsídio
dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dosDesembargadores do
Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídiomensal, em
espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite
aosmembros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos;
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração
depessoal do serviço público;
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público não serão computados nem acumulados para
finsde concessão de acréscimos ulteriores;
XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos públicos são irredutíveis, ressalvado
odisposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
XVI - c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas;

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X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras condições
de transferência do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras
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situações especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por
força de compromissos internacionais e de guerra.

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.


§ 1º - às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após
alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de
convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar.
§ 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém,
a outros encargos que a lei lhes atribuir.

CAPÍTULO III - DA SEGURANÇA PÚBLICA


Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (EC 104/2019)

§ 1º A POLÍCIA FEDERAL, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da
União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem
prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

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§ 2º A POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em
carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.

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§ 3º A POLÍCIA FERROVIÁRIA FEDERAL, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em
carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
§ 4º - ÀS POLÍCIAS CIVIS, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência
da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
§ 5º - ÀS POLÍCIAS MILITARES cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de
bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
§ 5º -A. Às POLÍCIAS PENAIS, vinculadas ao órgão administrador do sistema penal da unidade federativa
a que pertencem, cabe a segurança dos estabelecimentos penais. (EC 104/2019)
6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército
subordinam-se, juntamente com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governadores dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (EC 104/2019)
§ 7º - A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de
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maneira a garantir a eficiência de suas atividades.


§ 8º - Os Municípios poderão constituir GUARDAS MUNICIPAIS destinadas à proteção de seus bens, serviços
e instalações, conforme dispuser a lei.
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será fixada na
forma do § 4º do art. 39.
§ 10 º A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
seu patrimônio nas vias públicas: (EC 82/2014)
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei,
que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e (EC 82/2014)
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou
entidadesexecutivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei. (EC 82/2014)

RESUMO DE PRAZOS – Estado de Defesa e sítio


1. Qual o prazo Máximo para Estado de Defesa, prorrogável por igual período? 30 dias
2. Qual o prazo Máximo de duração de prisão ou detenção durante Estado de Defesa? 10 dias
3. Qual o prazo para o Presidente da República encaminhar o Ato que decreta o Estado de Defesa ao Congresso
Nacional para apreciação?
24 horas
4. Qual o prazo para Congresso Nacional DECIDIR sobre Estado de Defesa? 10 dias
5. Qual o prazo para Congresso Nacional se reunir estando em recesso em caso de Estado de Defesa? 5 dias
6. Qual a duração do Estado de Sitio no caso de Comoção Social de grave repercussão, prorrogável por igual período? 30
dias
7. Prazo do Estado de Sítio se for agressão estrangeira?
Durante o tempo que durar essa agressão
8. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes partidários, designará Comissão composta de quantos de seus
membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de defesa e ao estado de
sítio? 5 membros

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Estatuto dos Militares.

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(Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980 –Edição Revisada 2009 - Última alteração: 2019)

TÍTULO I - Generalidades
CAPÍTULO 1- Disposições Preliminares
Art. 1º - O presente Estatuto regula a situação, obrigações, deveres, direitos e prerrogativas dos membros das Forças Armadas.
Art. 2° - As Forças Armadas, essenciais à execução da política de segurança nacional, são constituídas pela Marinha, pelo
Exército e pela Aeronáutica, e destinam-se a defender a Pátria e a garantir os poderes constituídos, a lei e a ordem. São
Instituições nacionais, permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
suprema do Presidente da República e dentro dos limites da lei.
Art. 3° - Os membros das Forças Armadas, em razão de sua destinação constitucional, formam uma categoria especial de
servidores da Pátria e são denominados militares.
§ 1º - Os militares encontram-se em uma das seguintes situações:
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a) na ativa:
I - os de carreira;
II - os temporários, incorporados às Forças Armadas para prestação de serviço militar, obrigatório ou voluntário,
durante os prazos previstos na legislação que trata do serviço militar ou durante as prorrogações desses
prazos; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
III - os componentes da reserva das Forças Armadas quando convocados, reincluídos, designados ou mobilizados;
IV - os alunos de órgão de formação de militares da ativa e da reserva; e
V - em tempo de guerra, todo cidadão brasileiro mobilizado para o serviço ativo nas Forças Armadas.
b) na inatividade:
I - os da reserva remunerada, quando pertençam à reserva das Forças Armadas e percebam remuneração da União,
porém sujeitos, ainda, à prestação de serviço na ativa, mediante convocação ou mobilização;
II - os reformados, quando, tendo passado por uma das situações anteriores estejam dispensados, definitivamente,
da prestação de serviço na ativa, mas continuem a perceber remuneração da União; e
III - os da reserva remunerada e, excepcionalmente, os reformados, que estejam executando tarefa por tempo certo,
segundo regulamentação para cada Força Armada. (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
§ 2º - Os militares de carreira são aqueles da ativa que, no desempenho voluntário e permanente do serviço militar,
tenham vitaliciedade, assegurada ou presumida, ou estabilidade adquirida nos termos da alínea “a” do inciso IV
do caput do art. 50 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
§ 3º Os militares temporários não adquirem estabilidade e passam a compor a reserva não remunerada das Forças
Armadas após serem desligados do serviço ativo. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
Art. 4° - São considerados reserva das Forças Armadas:
I - individualmente:
a) os militares da reserva remunerada; e
b) os demais cidadãos em condições de convocação ou de mobilização para a ativa.
II - no seu conjunto:
a) as Polícias Militares; e
b) os Corpos de Bombeiros Militares.
§ 1° - A Marinha Mercante, a Aviação Civil e as empresas declaradas diretamente devotadas às finalidades precípuas
das Forças Armadas, denominada atividade efeitos de mobilização e de emprego, reserva das Forças Armadas.

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§ 2o - O pessoal componente da Marinha Mercante, da Aviação Civil e das empresas declaradas diretamente
relacionadas com a segurança nacional, bem como os demais cidadãos em condições de convocação ou mobilização para

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a ativa, só serão considerados militares quando convocados ou mobilizados para o serviço nas Forças Armadas.
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Art. 5° - A carreira militar é caracterizada por atividade continuada e inteiramente devotada às finalidades precípuas das
Forças Armadas, denominada atividade militar.
§ 1o - A carreira militar é privativa do pessoal da ativa, inicia-se com o ingresso nas Forças Armadas e obedece às
diversas sequências de graus hierárquicos.
§ 2o - São privativas de brasileiro nato as carreiras de oficial da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.
Art. 6° - São equivalentes as expressões “na ativa”, “da ativa”, “em serviço ativo”, “em serviço na ativa”, “em serviço”,
“em atividade” ou “em atividade militar”, conferidas aos militares no desempenho de cargo, comissão, encargo,
incumbência ou missão, serviço ou atividade militar ou considerada de natureza militar, nas organizações militares das
Forças Armadas, bem como na Presidência da República, na Vice-Presidência da República, no Ministério da Defesa e nos
demais órgãos quando previsto em lei, ou quando incorporados às Forças Armadas. (Redação dada pela Medida Provisória
no 2.215-10, de 31 de agosto de 2001)
Art. 7° - A condição jurídica dos militares é definida pelos dispositivos da Constituição que lhes sejam aplicáveis, por este
Estatuto e pela Legislação, que lhes outorgam direitos e prerrogativas e lhes impõem deveres e obrigações.
Art. 8° - O disposto neste Estatuto aplica-se, no que couber:
I - aos militares da reserva remunerada e reformados;
II - aos alunos de órgão de formação da reserva;
III - aos membros do Magistério Militar; e
IV - aos Capelães Militares.
Art. 9° - Os oficiais-generais nomeados Ministros do Superior Tribunal Militar, os membros do Magistério Militar e os
Capelães Militares são regidos por legislação específica.

CAPÍTULO II
Do Ingresso nas Forças Armadas
Art. 10 – O ingresso nas Forças Armadas é facultado, mediante incorporação, matrícula ou nomeação, a todos os
brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei e nos regulamentos da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica.

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§ 1° – Quando houver conveniência para o serviço de qualquer das Forças Armadas, o brasileiro possuidor de reconhecida
competência técnico-profissional ou de notória cultura científica poderá, mediante sua aquiescência e proposta do

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Ministro da Força interessada, ser incluído nos Quadros ou Corpos da Reserva e convocado para o serviço na ativa
em caráter transitório.
§ 2° – A inclusão nos termos do parágrafo anterior será feita em grau hierárquico compatível com sua idade, atividades
civis e responsabilidades que lhe serão atribuídas, nas condições reguladas pelo Poder Executivo.

Art. 11 – Para matrícula nos estabelecimentos de ensino militar destinados à formação de oficiais, da ativa e da reserva,
e de graduados, além das condições relativas à nacionalidade, idade, aptidão intelectual, capacidade física e
idoneidade moral, é necessário que o candidato não exerça ou não tenha exercido atividades prejudiciais ou perigosas
à segurança nacional.
Parágrafo único – O disposto neste artigo e no anterior aplica-se, também, aos candidatos ao ingresso nos Corpos ou
Quadros de Oficiais em que é exigido o diploma de estabelecimento de ensino superior reconhecido pelo Governo
Federal.
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Art. 12 – A convocação em tempo de paz é regulada pela legislação que trata do serviço militar.
§ 1° – Em tempo de paz e independentemente de convocação, os integrantes da reserva poderão ser designados para o
serviço ativo, em caráter transitório e mediante aceitação voluntária.
§ 2° – O disposto no parágrafo anterior será regulamentado pelo Poder Executivo.

Art. 13 – A mobilização é regulada em legislação específica.


Parágrafo único – A incorporação às Forças Armadas de deputados federais e senadores, embora militares e ainda
que em tempo de guerra, dependerá de licença da Câmara respectiva.

CAPÍTULO III
Da Hierarquia Militar e da Disciplina
Art. 14 - A hierarquia e a disciplina são a base institucional das Forças Armadas. A autoridade e a responsabilidade crescem
com o grau hierárquico.

§ 1o - A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas. A ordenação
se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo posto ou graduação se faz pela antiguidade no posto ou na graduação. O
respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade.
§ 2o - Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam
o organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por
parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo.
§ 3o - A disciplina e o respeito à hierarquia devem ser mantidos em todas as circunstâncias da vida entre militares da ativa, da
reserva remunerada e reformados.

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Art. 15 - Círculos hierárquicos são âmbitos de convivência entre os militares da mesma categoria e têm a finalidade de
desenvolver o espírito de camaradagem, em ambiente de estima e confiança, sem prejuízo do respeito mútuo.

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Art. 16 - Os círculos hierárquicos e a escala hierárquica nas Forças Armadas, bem como a correspondência entre os postos e as
graduações da Marinha, do Exército e da Aeronáutica são fixados nos parágrafos seguintes e no Quadro em anexo.
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§ 1o - Posto é o grau hierárquico do oficial, conferido por ato do Presidente da República ou do Ministro de Força
Singular e confirmado em Carta Patente.

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§ 2o - Os postos de Almirante, Marechal e Marechal-do-Ar somente serão providos em tempo de guerra.


§ 3o - Graduação é o grau hierárquico da praça, conferido pela autoridade militar competente.
§ 4o - Os Guardas-Marinha, os Aspirantes-a-Oficial e os alunos de órgãos específicos de formação de militares são
denominados praças especiais.
§ 5o - Os graus hierárquicos inicial e final dos diversos Corpos, Quadros, Armas, Serviços, Especialidades ou
Subespecialidades são fixados, separadamente, para cada caso, na Marinha, no Exército e na Aeronáutica.
§ 6o - Os militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, cujos graus hierárquicos tenham denominação comum,
acrescentarão aos mesmos, quando julgado necessário, a indicação do respectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço e, se
ainda necessário, a Força Armada a que pertencerem, conforme os regulamentos ou normas em vigor.
§ 7o - Sempre que o militar da reserva remunerada ou reformado fizer uso do posto ou graduação, deverá fazê-lo com
as abreviaturas respectivas de sua situação.
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Art. 17 - A precedência entre militares da ativa do mesmo grau hierárquico, ou correspondente, é assegurada pela
antiguidade no posto ou graduação, salvo nos casos de precedência funcional estabelecida em lei.
§ 1o - A antiguidade em cada posto ou graduação é contada a partir da data da assinatura do ato da respectiva
promoção, nomeação, declaração ou incorporação, salvo quando estiver taxativamente fixada outra data.
§ 2o - No caso do parágrafo anterior, havendo empate, a antiguidade será estabelecida:
a) entre militares do mesmo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, pela posição nas respectivas escalas numéricas ou
registros existentes em cada força;
b) nos demais casos, pela antiguidade no posto ou graduação anterior; se, ainda assim, subsistir a igualdade, recorrer-
se-á, sucessivamente, aos graus hierárquicos anteriores, à data de praça e à data de nascimento para definir a precedência,
e, neste último caso, o de mais idade será considerado o mais antigo;
c) na existência de mais de uma data de praça, inclusive de outra Força Singular, prevalece a antiguidade do militar
que tiver maior tempo de efetivo serviço na praça anterior ou nas praças anteriores; e
d) entre os alunos de um mesmo órgão de formação de militares, de acordo com o regulamento do respectivo órgão,
se não estiverem especificamente enquadrados nas letras a, b e c.
§ 3o - Em igualdade de posto ou de graduação, os militares da ativa têm precedência sobre os da inatividade.
§ 4o - Em igualdade de posto ou de graduação, a precedência entre os militares de carreira na ativa e os da reserva
remunerada ou não, que estejam convocados, é definida pelo tempo de efetivo serviço no posto ou graduação.
Art. 18 - Em legislação especial, regular-se-á:
I - a precedência entre militares e civis, em missões diplomáticas, ou em comissão no País ou no estrangeiro; e
II - a precedência nas solenidades oficiais.
Art. 19 - A precedência entre as praças especiais e as demais praças é assim regulada:
I - os Guardas-Marinha e os Aspirantes-a-Oficial são hierarquicamente superiores às demais praças;
II - os Aspirantes da Escola Naval, os Cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras e da Academia da Força Aérea e
os alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, do Instituto Militar de Engenharia e das demais instituições de
graduação de oficiais da Marinha e do Exército são hierarquicamente superiores aos Suboficiais e aos
Subtenentes; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
III - os alunos de Escola Preparatória de Cadetes e do Colégio Naval têm precedência sobre os Terceiros-Sargentos, aos
quais são equiparados;

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IV - os alunos dos órgãos de formação de oficiais da reserva, quando fardados, têm precedência sobre os Cabos, aos
quais são equiparados; e

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V - os Cabos têm precedência sobre os alunos das escolas ou dos centros de formação de sargentos, que a eles são
equiparados, respeitada, no caso de militares, a antiguidade relativa.

CAPÍTULO IV
Do Cargo e da Função Militares

Art. 20 – Cargo militar Art. 23 – Função militar Art. 34 – Comando


é um conjunto de é o exercício das é a soma de autoridade, deveres e
atribuições, deveres e obrigações inerentes ao responsabilidades de que o militar é
responsabilidades cargo militar. investido legalmente quando conduz homens
cometidos a um militar em ou dirige uma organização militar.
serviço ativo.
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Art. 20 – Cargo militar é um conjunto de atribuições, deveres e responsabilidades cometidos a um militar em serviço
ativo.
§ 1° – O cargo militar, a que se refere este artigo, é o que se encontra especificado nos Quadros de Efetivo ou Tabelas de
Lotação das Forças Armadas ou previsto, caracterizado ou definido como tal em outras disposições legais.
§ 2° – As obrigações inerentes ao cargo militar devem ser compatíveis com o correspondente grau hierárquico e definidas
em legislação ou regulamentação específica.
Art. 21 – Os cargos militares são providos com pessoal que satisfaça os requisitos de grau hierárquico e de qualificação
exigidos para o seu desempenho.
Parágrafo único – O provimento de cargo militar far-se-á por ato de nomeação expressa da autoridade competente.

Art. 22 – O cargo militar é considerado vago:


1. a partir de sua criação e até que um militar nele tome posse, ou
2. desde o momento em que o militar exonerado, ou
3. desde o momento que tenha recebido determinação expressa da autoridade competente, o deixe e até que outro
militar nele tome posse de acordo com as normas de provimento previstas no parágrafo único do artigo anterior.
Parágrafo único – Consideram-se também vagos os cargos militares cujos ocupantes tenham:
a) falecido;
b) sido considerados extraviados;
c) sido feitos prisioneiros; e
d) sido considerados desertores.

Art. 23 – Função militar é o exercício das obrigações inerentes ao cargo militar.

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Art. 24 – Dentro de uma mesma organização militar, a seqüência de substituições para assumir cargo ou responder por
funções, bem como as normas, atribuições e responsabilidades relativas, são as estabelecidas na legislação ou

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regulamentação específica respeitadas a precedência e a qualificação exigidas para o cargo ou o exercício da função.

Art. 25. O militar ocupante de cargo da estrutura das Forças Armadas, provido em caráter efetivo ou interino,observado
o disposto no parágrafo único do art. 21 desta Lei, faz jus aos direitos correspondentes ao cargo, conformeprevisto em
lei. (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
Parágrafo único. A remuneração do militar será calculada com base no soldo inerente ao seu posto ou à suagraduação,
independentemente do cargo que ocupar. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)

Art. 26 – As obrigações que, pela generalidade, peculiaridade, duração, vulto ou natureza, não são catalogadas como
posições tituladas em "Quadro de Efetivo", "Quadro de Organização", "Tabela de Lotação" ou dispositivo legal, são
cumpridas como encargo, incumbência, comissão, serviço ou atividade, militar ou de natureza militar.
Parágrafo único – Aplica-se, no que couber, a encargo, incumbência, comissão, serviço ou atividade, militar ou de natureza
militar, o disposto neste Capítulo para cargo militar.
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TÍTULO II
Das Obrigações e dos Deveres Militares
DEVERES/ETICA /VALORES RESUMO
DEVER 1. É OBRIGATÓRIO;
2. NÃO CUMPRIMENTO É CRIME OU CONTRAVENÇÃO;
ÉTICA 1. REGRAS DO BOM RELACIONAMENTO;
2. APLICA-SE NA VIDA CIVIL E VIDA MILITAR;
3. SEMPRE INICIADO COM VERBO NO INFINITIVO.
VALOR 1. NÃO É OBRIGATÓRIO;
2. NÃO CUMPRIMENTO NÃO É CRIME NEM CONTRAVENÇÃO; e
3. O EXATO CUMPRIMENTO VALORIZA O MILITAR E DÁ CONCEITO ELEVADO.

CAPÍTULO I - Das Obrigações Militares


SEÇÃO I - Do Valor Militar
Art. 27 – São manifestações essenciais do valor militar:
I – o patriotismo, traduzido pela vontade inabalável de cumprir o dever militar e pelo solene juramento de fidelidade à
Pátria até com o sacrifício da própria vida;
II – o civismo e o culto das tradições históricas;
III – a fé na missão elevada das Forças Armadas;
IV – o espírito de corpo, orgulho do militar pela organização onde serve;
V – o amor à profissão das armas e o entusiasmo com que é exercida; e
VI – o aprimoramento técnico-profissional.

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SEÇÃO II - Da Ética Militar


Art. 28 – O sentimento do dever, o pundonor militar e o decoro da classe impõem, a cada um dos integrantes das Forças

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Armadas, conduta moral e profissional irrepreensíveis, com a observância dos seguintes preceitos da ética militar:
I – amar a verdade e a responsabilidade como fundamento de dignidade pessoal;
II – exercer, com autoridade, eficiência e probidade, as funções que lhe couberem em decorrência do cargo;
III – respeitar a dignidade da pessoa humana;
IV – cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as instruções e as ordens das autoridades competentes;
V – ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação do mérito dos subordinados;
VI – zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual e físico e, também, pelo dos subordinados, tendo em vista o
cumprimento da missão comum;
VII – empregar todas as suas energias em benefício do serviço;
VIII – praticar a camaradagem e desenvolver, permanentemente, o espírito de cooperação;
IX – ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua linguagem escrita e falada;
X – abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria sigilosa de qualquer natureza;
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XI – acatar as autoridades civis;


XII – cumprir seus deveres de cidadão;
XIII – proceder de maneira ilibada na vida pública e na particular;
XIV – observar as normas da boa educação;
XV – garantir assistência moral e material ao seu lar e conduzir-se como chefe de família modelar;
XVI – conduzir-se, mesmo fora do serviço ou quando já na inatividade, de modo que não sejam prejudicados os princípios
da disciplina, do respeito e do decoro militar;
XVII – abster-se de fazer uso do posto ou da graduação para obter facilidades pessoais de qualquer natureza ou para
encaminhar negócios particulares ou de terceiros;
XVIII – abster-se, na inatividade, do uso das designações hierárquicas;
a) em atividades político-partidárias;
b) em atividades comerciais;
c) em atividades industriais;
d) para discutir ou provocar discussões pela imprensa a respeito de assuntos políticos ou militares, excetuando-
se os de natureza exclusivamente técnica, se devidamente autorizado; e
e) no exercício de cargo ou função de natureza civil, mesmo que seja na administração pública; e
XIX – zelar pelo bom nome das Forças Armadas e de cada um de seus integrantes; obedecendo e fazendo obedecer os
preceitos da ética militar.
Art. 29 – Ao militar da ativa é vedado comerciar ou tomar parte na administração ou gerência de sociedade ou dela ser
sócio ou participar, exceto como acionista ou quotista, em sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada.
§ 1° – Os integrantes da reserva, quando convocados, ficam proibidos de tratar, nas organizações militares e nas
repartições públicas civis, de interesse de organizações ou empresas privadas de qualquer natureza.
§ 2° – Os militares da ativa podem exercer, diretamente, a gestão de seus bens, desde que não infrinjam o disposto no
presente artigo.
§ 3° – No intuito de desenvolver a prática profissional, é permitido aos oficiais titulados dos Quadros ou Serviços de Saúde
e de Veterinária o exercício de Atividade técnico-profissional no meio civil, desde que tal prática não prejudique o serviço
e não infrinja o disposto neste artigo.
Art. 30 – Os Ministros das Forças Singulares poderão determinar aos militares da ativa da respectiva Força que, no
interesse da salvaguarda da dignidade dos mesmos, informem sobre a origem e natureza dos seus bens, sempre que
houver razões que recomendem tal medida.

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Capítulo II
Dos deveres militares

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SEÇÃO I
Conceituação
Art. 31 – Os deveres militares emanam de um conjunto de vínculos racionais e morais que ligam o militar à Pátria e ao
seu serviço, e compreendem, essencialmente:
I – a dedicação e a fidelidade à Pátria, cuja honra, integridade e instituições devem ser defendidas mesmo com o sacrifício
da própria vida;
II – o culto aos Símbolos Nacionais;
III – a probidade e a lealdade em todas as circunstâncias;
IV – a disciplina e o respeito à hierarquia;
V – o rigoroso cumprimento das obrigações e das ordens; e
VI – a obrigação de tratar o subordinado dignamente e com urbanidade.
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Art. 27 – São manifestações essenciais do valor militar: Art. 31 – Os deveres militares emanam de um conjunto
de vínculos racionais e morais
I – o patriotismo, traduzido pela vontade inabalável de I – a dedicação e a fidelidade à Pátria, cuja honra,
cumprir o dever militar e pelo solene juramento de integridade e instituições devem ser defendidas
fidelidade à Pátria até com o sacrifício da própria mesmo com o sacrifício da própria vida;
vida; II – o culto aos Símbolos Nacionais;
II – o civismo e o culto das tradições históricas; III – a probidade e a lealdade em todas as circunstâncias;
III – a fé na missão elevada das Forças Armadas; IV – a disciplina e o respeito à hierarquia;
IV – o espírito de corpo, orgulho do militar pela V – o rigoroso cumprimento das obrigações e das ordens;
organização onde serve; e
V – o amor à profissão das armas e o entusiasmo com VI – a obrigação de tratar o subordinado dignamente e
que é exercida; e com urbanidade.
VI – o aprimoramento técnico-profissional.

SEÇÃO II
Do Compromisso Militar
Art. 32 – Todo cidadão, após ingressar em uma das Forças Armadas mediante incorporação, matrícula ou nomeação,
prestará compromisso de honra, no qual afirmará a sua aceitação consciente das obrigações e dos deveres militares e
manifestará a sua firme disposição de bem cumpri-los.

Art. 33 – O compromisso do incorporado, do matriculado e do nomeado, a que se refere o artigo anterior, terá caráter
solene e será sempre prestado sob a forma de juramento à Bandeira na presença de tropa ou guarnição formada,
conforme os dizeres estabelecidos nos regulamentos específicos das Forças Armadas, e tão logo o militar tenha adquirido
um grau de instrução compatível com o perfeito entendimento de seus deveres como integrante das Forças Armadas.
§ 1° – O compromisso de Guarda-Marinha ou Aspirante-a-Oficial é prestado nos estabelecimentos de formação,
obedecendo o cerimonial ao fixado nos respectivos regulamentos.
§ 2° – O compromisso como oficial, quando houver, será regulado em cada Força Armada.

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SEÇÃO III
Do Comando e da Subordinação

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Art. 34 – Comando é a soma de autoridade, deveres e responsabilidades de que o militar é investido legalmente quando
conduz homens ou dirige uma organização militar. O comando é vinculado ao grau hierárquico e constitui uma
prerrogativa impessoal, em cujo exercício o militar se define e se caracteriza como chefe.
Parágrafo único – Aplica-se à direção e à chefia de organização militar, no que couber, o estabelecido para comando.
Cargo militar Função militar Art. 34 – Comando
é um conjunto de atribuições, é o exercício das é a soma de autoridade, deveres e
deveres e responsabilidades obrigações inerentes ao responsabilidades de que o militar é investido
cometidos a um militar em serviço cargo militar. legalmente quando conduz homens ou dirige
ativo. uma organização militar.

Art. 35 – A subordinação não afeta, de modo algum, a dignidade pessoal do militar e decorre, exclusivamente, da estrutura
hierarquizada das Forças Armadas.
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Art. 36 – O oficial é preparado, ao longo da carreira, para o exercício de funções de comando, de chefia e de direção.

Art. 37 – Os graduados auxiliam e complementam as atividades dos oficiais, quer no adestramento e no emprego de
meios, quer na instrução e na administração.
Parágrafo único – No exercício das atividades mencionadas neste artigo e no comando de elementos subordinados, os
suboficiais, os subtenentes e os sargentos deverão impor-se pela lealdade, pelo exemplo e pela capacidade profissional
e técnica, incumbindo-lhes assegurar a observância minuciosa e ininterrupta das ordens, das regras do serviço e das
normas operativas pelas praças que lhes estiverem diretamente subordinadas e a manutenção da coesão e do moral das
mesmas praças em todas as circunstâncias.

Art. 38 – Os Cabos, Taifeiros-Mores, Soldados-de-Primeira-Classe, Taifeiros-de-Primeira-Classe, Marinheiros, Soldados,


Soldados-de-Segunda-Classe e Taifeiros-de-Segunda-Classe são, essencialmente, elementos de execução.

Art. 39 – Os Marinheiros-Recrutas, Recrutas, Soldados-Recrutas e Soldados-de-Segunda-Classe constituem os elementos


incorporados às Forças Armadas para a prestação do serviço militar inicial.

Art. 40 – Às praças especiais cabe a rigorosa observância das prescrições dos regulamentos que lhes são pertinentes,
exigindo-se-lhes inteira dedicação ao estudo e ao aprendizado técnico-profissional.
Parágrafo único – Às praças especiais também se assegura a prestação do serviço militar inicial.

Art. 41 – Cabe ao militar a responsabilidade integral pelas decisões que tomar, pelas ordens que emitir e pelos atos que
praticar.
CAPÍTULO III
Da Violação das Obrigações e dos Deveres Militares
SEÇÃO I
Da Conceituação
Art. 42 – A violação das obrigações ou dos deveres militares constituirá crime, contravenção ou transgressão disciplinar,
conforme dispuser a legislação ou regulamentação específica.
§ 1° – A violação dos preceitos da ética militar será tão mais grave quanto mais elevado for o grau hierárquico de quem a
cometer.
§ 2° – No concurso de crime militar e de contravenção ou transgressão disciplinar, quando forem da mesma natureza, será
aplicada somente a pena relativa ao crime.
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Art. 43 – A inobservância dos deveres especificados nas leis e regulamentos, ou a falta de exação no cumprimento dos
mesmos, acarreta para o militar responsabilidade funcional, pecuniária, disciplinar ou penal, consoante a legislação

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específica.
Parágrafo único – A apuração da responsabilidade funcional, pecuniária, disciplinar ou penal poderá concluir pela
incompatibilidade do militar com o cargo, ou demonstrar incapacidade no exercício das funções militares a ele inerentes.

Art. 44 – O militar que, por sua atuação, se tornar incompatível com o cargo, ou demonstrar incapacidade no exercício
das funções militares a ele inerentes, será afastado do cargo.
§ 1° – São competentes para determinar o imediato afastamento do cargo ou o impedimento do exercício da função:
a) o Presidente da República;
b) os titulares das respectivas pastas militares e o Chefe do Estado-Maior das forças Armadas; e
c) os comandantes, os chefes e os diretores, na conformidade da legislação ou regulamentação específica de cada
Força Armada.
§ 2° – O militar afastado do cargo, nas condições mencionadas neste artigo, ficará privado do exercício de qualquer função
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militar até a solução do processo ou das providências legais cabíveis.

Art. 45 – São proibidas quaisquer manifestações coletivas, tanto sobre atos de superiores quanto de caráter
reivindicatório ou político.

SEÇÃO II - Dos Crimes Militares


Art. 46 – O Código Penal Militar relaciona e classifica os crimes militares, em tempo de paz e em tempo de guerra, e
dispõe sobre a aplicação aos militares das penas correspondentes aos crimes por eles cometidos.

SEÇÃO III - Das Contravenções ou Transgressões Disciplinares


Art. 47 – Os regulamentos disciplinares das Forças Armadas especificarão e classificarão as contravenções ou
transgressões disciplinares e estabelecerão as normas relativas à amplitude e aplicação das penas disciplinares, à
classificação do comportamento militar e à interposição de recursos contra as penas disciplinares.
§ 1° – As penas disciplinares de impedimento, detenção ou prisão não podem ultrapassar 30 (trinta) dias.
§ 2° – À praça especial aplicam-se, também, as disposições disciplinares previstas no regulamento do estabelecimento de
ensino onde estiver matriculada.

SEÇÃO IV - Dos Conselhos de Justificação e de Disciplina


Art. 48 – O oficial presumivelmente incapaz de permanecer como militar da ativa será, na forma da legislação específica,
submetido a Conselho de Justificação.
§ 1° – O oficial, ao ser submetido a Conselho de Justificação, poderá ser afastado do exercício de suas funções, a critério
do respectivo Ministro, conforme estabelecido em legislação específica.
§ 2° – Compete ao Superior Tribunal Militar, em tempo de paz, ou a Tribunal Especial, em tempo de guerra, julgar, em
instância única, os processos oriundos dos Conselhos de Justificação, nos casos previstos em lei específica.
§ 3° – A Conselho de Justificação poderá, também, ser submetido o oficial da reserva remunerada ou reformado
presumivelmente incapaz de permanecer na situação de inatividade em que se encontra.
Art. 49 – O Guarda-Marinha, o Aspirante-a-Oficial e as praças com estabilidade assegurada, presumivelmente incapazes
de permanecerem como militares da ativa, serão submetidos a Conselho de Disciplina e afastados das atividades que
estiverem exercendo, na forma de regulamentação específica.
§ 1° – O Conselho de Disciplina obedecerá a normas comuns às três Forças Armadas.
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§ 2° – Compete aos Ministros das Forças Singulares julgar, em última instancia, os processos oriundos dos Conselhos de
Disciplina convocados no âmbito das respectivas Forças Armadas.

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§ 3° – A Conselho de Disciplina poderá, também, ser submetida a praça na reserva remunerada ou reformada,
presumivelmente incapaz de permanecer na situação de inatividade em que se encontra.

COMPARANDO O CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO COM CONSELHO DE DISCIPLINA


CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO CONSELHO DE DISCIPLINA
1. Oficiais da ativa, 1. Guarda-Marinha;
2. Oficiais da reserva e 2. Aspirante-a-Oficial;
3. Oficiais da reformados 3. Praças da Ativa com estabilidade; e
4. Praças da reserva e reformados.
 PODERÁ ser afastado da função a critério do  SERÁ afastados das atividades que estiverem
respectivo Ministro exercendo
 Compete ao Superior Tribunal Militar, em  Compete aos Ministros das Forças Singulares julgar,
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tempo de paz, ou a Tribunal Especial, em em última instância


tempo de guerra, julgar, em instância ÚNICA.

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REGULAMENTO DISCIPLINAR PARA A MARINHA

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TÍTULO I
GENERALIDADES
CAPÍTULO I

Do Propósito
Art. 1o - O Regulamento Disciplinar para a Marinha tem por propósito a especificação e a classificação das contravenções
disciplinares e o estabelecimento das normas relativas à amplitude e à aplicação das penas disciplinares, à classificação
do comportamento militar e à interposição de recursos contra as penas disciplinares.

CAPÍTULO II
Da Disciplina e da Hierarquia Militar
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Art. 2o - Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições que
fundamentam o organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo perfeito
cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo.
Parágrafo único - A disciplina militar manifesta-se basicamente pela:
- obediência pronta às ordens do superior;
- utilização total das energias em prol do serviço;
- correção de atitudes; e
- cooperação espontânea em benefício da disciplina coletiva e da eficiência da instituição.

Art. 3o - Hierarquia Militar é a ordenação da autoridade em níveis diferentes, dentro da estrutura militar. A ordenação se
faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo posto ou graduação, se faz pela antiguidade no posto ou na
graduação.
Parágrafo único - O respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade.

Art. 4o - A boa educação militar não prescinde da cortesia. É dever de todos, em serviço ou não, tratarem-se mutuamente
com urbanidade, e aos subordinados com atenção e justiça.

CAPÍTULO III
Da Esfera de Ação Disciplinar
Art. 5o - As prescrições deste Regulamento aplicam-se aos militares da Marinha da ativa, da reserva remunerada e aos
reformados.

TÍTULO II
DAS CONTRAVENÇÕES DISCIPLINARES
CAPÍTULO I
Definição e Especificação
Art. 6o - Contravenção Disciplinar é toda ação ou omissão contrária às obrigações ou aos deveres militares estatuídos nas
leis, nos regulamentos, nas normas e nas disposições em vigor que fundamentam a Organização Militar, desde que não
incidindo no que é capitulado pelo Código Penal Militar como crime.

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Art. 7o - São contravenções disciplinares:


1. dirigir-se ou referir-se a superior de modo desrespeitoso;

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2. censurar atos de superior;


3. responder de maneira desatenciosa ao superior;
4. dirigir-se ao superior para tratar de assuntos de serviço ou de caráter particular em inobservância à via hierárquica;
5. deixar o subalterno, quer uniformizado quer trajando à paisana, de cumprimentar o superior quando uniformizado, ou
em traje civil, desde que o conheça;
ou deixar de prestar-lhe as homenagens e sinais de consideração e respeito previstos nos regulamentos militares;
6. deixar deliberadamente de corresponder ao cumprimento do subalterno;
7. deixar de cumprir ordem recebida da autoridade competente;
8. retardar, sem motivo justo, o cumprimento de ordem recebida da autoridade competente;
9. aconselhar ou concorrer para o não cumprimento de qualquer ordem de autoridade competente ou para o
retardamento da sua execução;
10. induzir ou concorrer intencionalmente para que outrem incida em contravenção;
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11. deixar de comunicar ao superior a execução de ordem dele recebida;


12. retirar-se da presença do superior sem a sua devida licença ou ordem para fazê-lo;
13. deixar o Oficial presente a solenidade interna ou externa onde se encontrem superiores hierárquicos de apresentar-
se ao mais antigo e saudar os demais;
14. deixar, quando estiver sentado, de oferecer seu lugar ao superior, ressalvadas as exceções regulamentares previstas;
15. representar contra o superior:
a) sem prévia autorização deste;
b) em inobservância à via hierárquica;
c) em termos desrespeitosos; e
d) empregando argumentos falsos ou envolvendo má-fé.
16. deixar de se apresentar, finda a licença ou cumprimento de pena, aos seus superiores ou a quem deva fazê-lo, de
acordo com as normas de serviço de Organização Militar;
17. permutar serviço sem autorização do superior competente;
18. autorizar, promover, tomar parte ou assinar representação ou manifestação coletiva de qualquer caráter contra
superior;
19. recusar pagamento, fardamento, equipamento ou artigo de recebimento obrigatório;
20. recusar-se ao cumprimento de castigo imposto;
21. tratar subalterno com injustiça;
22. dirigir-se ou referir-se a subalterno em termos incompatíveis com a disciplina militar;
23. tratar com excessivo rigor preso sob sua guarda;
24. negar licença a subalterno para representar contra ato seu;
25. protelar licença, sem motivo justificável, a subalterno para representar contra ato seu;
26. negar licença, sem motivo justificável, a subalterno para se dirigir à autoridade superior, a fim de tratar dos seus
interesses;
27. deixar de punir o subalterno que cometer contravenção, ou de promover sua punição pela autoridade competente;
28. deixar de cumprir ou fazer cumprir, quando isso lhe competir, qualquer prescrição ou ordem regulamentar;
29. atingir física ou moralmente qualquer pessoa, procurar desacreditá-la ou concorrer para isso, desde que não seja tal
atitude enquadrada como crime;
30. desrespeitar medidas gerais de ordem policial, embaraçar sua execução ou concorrer para isso;
31. desrespeitar ou desconsiderar autoridade civil;

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32. desrespeitar, por palavras ou atos, a religião, as instituições ou os costumes de país estrangeiro em que se achar;
33. faltar à verdade ou omitir informações que possam conduzir à sua apuração;

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34. portar-se sem compostura em lugar público;


35. apresentar-se em Organização Militar em estado de embriaguez ou embriagar-se e comportar-se de modo
inconveniente ou incompatível com a disciplina militar em Organização Militar;
36. contrair dívidas ou assumir compromissos superiores às suas possibilidades, comprometendo o bom nome da classe;
37. esquivar-se a satisfazer compromissos assumidos de ordem moral ou pecuniária;
38. não atender a advertência de superior para satisfazer débito já reclamado;
39. participar em Organização Militar de jogos proibidos, ou jogar a dinheiro os permitidos;
40. fazer qualquer transação de caráter comercial em Organização Militar;
41. estar fora do uniforme determinado ou tê-lo em desalinho;
42. ser descuidado no asseio do corpo e do uniforme;
43. ter a barba, o bigode, as costeletas, o cavanhaque ou o cabelo fora das normas regulamentares;
44. dar, vender, empenhar ou trocar peças de uniformes fornecidas pela União;
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45. simular doença;


46. executar mal intencionalmente qualquer serviço ou exercício;
47. ser negligente no desempenho da incumbência ou serviço que lhe for confiado;
48. extraviar ou concorrer para que se extraviem ou se estraguem quaisquer objetos da Fazenda Nacional ou documentos
oficiais, estejam ou não sob sua responsabilidade direta;
49. deixar de comparecer ou atender imediatamente à chamada para qualquer exercício, faina, manobra ou formatura;
50. deixar de se apresentar, sem motivo justificado, nos prazos regulamentares, à Organização Militar para que tenha sido
transferido e, às autoridades competentes, nos casos de comissões ou serviços extraordinários para que tenha sido
nomeado ou designado;
51. deixar de participar em tempo à autoridade a que estiver diretamente subordinado a impossibilidade de comparecer
à Organização Militar ou a qualquer ato de serviço a que esteja obrigado a participar ou a que tenha que assistir;
52. faltar ou chegar atrasado, sem justo motivo, a qualquer ato ou serviço de que deva participar ou a que deva assistir;
53. ausentar-se sem a devida autorização da Organização Militar onde serve ou do local onde deva permanecer;
54. ausentar-se sem a devida autorização da sede da Organização Militar onde serve;
55. deixar de regressar à hora determinada à Organização Militar onde serve;
56. exceder a licença;
57. deixar de comunicar à Organização Militar onde serve mudança de endereço domiciliar;
58. contrair matrimônio em desacordo com a legislação em vigor;
59. deixar de se identificar quando solicitado por quem de direito;
60. transitar sem ter em seu poder documento atualizado comprobatório de identidade;
61. trajar à paisana em condições que não as permitidas pelas disposições em vigor;
62. permanecer em Organização Militar em traje civil, contrariando instruções em vigor;
63. conversar com sentinela, vigia, plantão ou, quando não autorizado, com preso; (Alterado pelo Decreto no 1.011, de
22 de dezembro de 1993)
64. conversar, sentar-se ou fumar, estando de serviço e quando não for permitido pelas normas e disposições da
Organização Militar; (Alterado pelo Decreto no 1.011, de 22 de dezembro de 1993)
65. fumar em lugares onde seja proibido fazê-lo, em ocasião não permitida, ou em presença de superior que não seja do
seu círculo, exceto quando dele tenha obtido licença;
66. penetrar nos aposentos de superior, em paióis e outros lugares reservados sem a devida permissão ou ordem para
fazê-lo;

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67. entrar ou sair da Organização Militar por acesso que não o determinado;
68. introduzir clandestinamente bebidas alcoólicas em Organização Militar;

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69. introduzir clandestinamente matérias inflamáveis, explosivas, tóxicas ou outras em Organização Militar, pondo em
risco sua segurança, e desde que não seja tal atitude enquadrada como crime;
70. introduzir ou estar de posse em Organização Militar de publicações prejudiciais à moral e à disciplina;
71. introduzir ou estar de posse em Organização Militar de armas ou instrumentos proibidos;
72. portar arma sem autorização legal ou ordem escrita de autoridade competente;
73. dar toques, fazer sinais, içar ou arriar a Bandeira Nacional ou insígnias, disparar qualquer arma sem ordem;
74. conversar ou fazer ruído desnecessário por ocasião de faina, manobra, exercício ou reunião para qualquer serviço;
75. deixar de comunicar em tempo hábil ao seu superior imediato ou a quem de direito o conhecimento que tiver de
qualquer fato que possa comprometer a disciplina ou a segurança da Organização Militar, ou afetar os interesses da
Segurança Nacional;
76. ser indiscreto em relação a assuntos de caráter oficial, cuja divulgação possa ser prejudicial à disciplina ou à boa ordem
do serviço;
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77. discutir pela imprensa ou por qualquer outro meio de publicidade, sem autorização competente, assunto militar,
exceto de caráter técnico não sigiloso e que não se refira à Defesa ou à Segurança Nacional;
78. manifestar-se publicamente a respeito de assuntos políticos ou tomar parte fardado em manifestações de caráter
político-partidário;
79. provocar ou tomar parte em Organização Militar em discussão a respeito de política ou religião;
80. faltar com o respeito devido, por ação ou omissão, a qualquer dos símbolos nacionais, desde que em situação não
considerada como crime;
81. fazer uso indevido de viaturas, embarcações ou aeronaves pertencentes à Marinha, desde que o ato não constitua
crime.
82. disparar arma em Organização Militar por imprudência ou negligência;
83. concorrer para a discórdia ou desarmonia ou cultivar inimizades entre os militares ou seus familiares; e
84. disseminar boatos ou notícias tendenciosas.
Parágrafo único - São também consideradas contravenções disciplinares todas as omissões do dever militar não
especificadas no presente artigo, desde que não qualificadas como crimes nas leis penais militares, cometidas contra
preceitos de subordinação e regras de serviço estabelecidos nos diversos regulamentos militares e determinações das
autoridades superiores competentes.

Da Natureza das Contravenções e suas Circunstâncias


Art. 8º – As contravenções disciplinares são Classificadas em graves e leves – conforme o dano – grave ou leve –
que causarem à disciplina ou ao serviço, em virtude da sua natureza intrínseca, ou das conseqüências que delas advierem,
ou puderem advir, pelas circunstâncias em que forem cometidas.

Art. 9º - No concurso de crime militar e de contravenção disciplinar, ambos de idêntica natureza, será aplicada
somente a penalidade relativa ao crime.

Parágrafo Único – No caso de descaracterização de crime para contravenção disciplinar, esta deverá ser julgada pela
autoridade a que o contraventor estiver subordinado.

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a) Acúmulo de contravenções simultâneas e correlatas;


b) Reincidência;

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c) Conluio de duas ou mais pessoas;


d) Premeditação
Art.10–São circunstâncias
e) Ter sido praticada com ofensa à honra e ao pundonor militar;
agravantes da contravenção
f) Ter sido praticada durante o serviço ordinário ou com prejuízo do serviço;
disciplinares:
g) Ter sido cometida estando em risco a segurança da OM;
h) Maus antecedentes militares;
i) Ter o contraventor abusado da sua autoridade ou funcional; e
j) Ter cometido a falta em presença de subordinado.
a) Bons antecedentes militares;
b) Idade menor 18 anos;
Art. 11 – São circunstâncias c) Tempo de serviço militar menor de seis meses;
atenuantes da contravenção d) Prestação anterior de serviços relevantes já reconhecidos;
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Disciplinar: e) Tratamento em serviço ordinário com rigor não autorizado pelos


regulamentos militares; e
f) Provocação.
a) ignorância plenamente comprovada da ordem transgredida;
Art.12 – São circunstâncias b) força maior ou caso fortuito plenamente comprovado;
justificativas ou dirimentes da c) evitar mal maior ou dano ao serviço ou a ordem pública;
contravenção disciplinar: d) ordem de superior hierárquico;
e) legítima defesa, própria ou de outrem.

TÍTULO IV
DA PARTE, PRISÃO IMEDIATA E RECURSOS
CAPÍTULO I
Da Parte e da Prisão Imediata
Art. 40 - Todo superior que tiver conhecimento, direto ou indireto, de contravenção cometida por qualquer subalterno,
deverá dar parte escrita do fato à autoridade sob cujas ordens estiver, a fim de que esta puna ou remeta a parte à
autoridade sob cujas ordens estiver o contraventor, para o mesmo fim.
Parágrafo único - Servindo superior e subalterno na mesma Organização Militar e sendo o subalterno Praça de graduação
inferior a Suboficial, será efetuado o lançamento da parte no Livro de Registro de Contravenções Disciplinares.

Art. 41 - O superior deverá também dar voz de prisão imediata ao contraventor e fazê-lo recolher-se à sua Organização
Militar quando a contravenção ou suas circunstâncias assim o exigirem, a bem da ordem pública, da disciplina ou da
regularidade do serviço.
Parágrafo único - Essa voz de prisão será dada em nome da autoridade a que o contraventor estiver diretamente
subordinado, ou, quando esta for menos graduada ou antiga do que quem dá a voz, em nome da que se lhe seguir em
escala ascendente. Caso o contraventor se recuse a declarar a Organização Militar em que serve, a voz de prisão será dada
em nome do Comandante do Distrito Naval ou do Comando Naval em cuja jurisdição ocorrer a prisão.

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Art. 42 - O superior que houver agido de acordo com os artigos 40 e 41 terá cumprido seu dever e resguardada sua
responsabilidade. A solução que for dada à sua parte pela autoridade superior é de inteira e exclusiva responsabilidade

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desta, devendo ser adotada dentro dos prazos previstos neste Regulamento e comunicada ao autor da parte.
Parágrafo único - A quem deu parte assiste o direito de pedir à respectiva autoridade, DENTRO DE OITO DIAS ÚTEIS, pelos
meios legais, a reconsideração da solução, se julgar que esta deprime sua pessoa ou a dignidade de seu posto, não
podendo o pedido ficar sem despacho. Para tanto, a autoridade que aplicar a pena disciplinar deverá comunicar ao autor
da parte a punição efetivamente imposta e o enquadramento neste Regulamento, com as circunstâncias atenuantes ou
agravantes que envolveram o ato do contraventor.

Art. 43 - O subalterno preso nas condições do artigo 41 só poderá ser solto por determinação da autoridade a cuja ordem
foi feita a prisão, ou de autoridade superior a ela.

Art. 44 - Esta prisão, de caráter preventivo, será cumprida como determina o artigo 24.
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CAPÍTULO II
Dos Recursos
Art. 45 - Àquele a quem for imposta pena disciplinar será facultado solicitar reconsideração da punição à autoridade que
a aplicou, devendo esta apreciar e decidir sobre a mesma dentro de oito dias úteis, contados do recebimento do pedido.

Art. 46 - Aquele a quem for imposta pena disciplinar poderá, verbalmente ou por escrito, por via hierárquica e em termos
respeitosos, recorrer à autoridade superior à que a impôs, pedindo sua anulação ou modificação, com prévia licença da
mesma autoridade.
§ 1o - O recurso deve ser interposto após o cumprimento da pena e DENTRO DO PRAZO DE OITO DIAS ÚTEis.
§ 2o - Da solução de um recurso só cabe a interposição de novos recursos às autoridades superiores, até o Ministro da
Marinha.
§ 3o - Contra decisão do Ministro da Marinha, o único recurso admissível é o pedido de reconsideração a essa mesma
autoridade.
§ 4o - Quando a punição disciplinar tiver sido imposta pelo Ministro da Marinha, caberá interposição de recurso ao
Presidente da República, nos termos definidos no presente artigo.

Art. 47 - O recurso deve ser remetido à autoridade a quem dirigido, dentro do prazo de oito dias úteis, devidamente
informado pela autoridade que tiver imposto a pena.

Art. 48 - A autoridade a quem for dirigido o recurso deve conhecer do mesmo sem demora, procedendo ou mandando
proceder às averiguações necessárias para resolver a questão com justiça.
Parágrafo único - No caso de delegação, para proceder a estas averiguações será nomeado um Oficial de posto superior
ao do recorrente.

Art. 49 - Se o recurso for julgado inteiramente procedente, a punição será anulada e cancelado tudo quanto a ela se referir;
se apenas em parte, será modificada a pena.
Parágrafo único - Se o recurso fizer referência somente aos termos em que foi aplicada a punição e parecer à autoridade
que os mesmos devem ser modificados, ordenará que isso se faça, indicando a nova forma a ser usada.

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EMA – 137
DOUTRINA DE LIDERANÇA DA MARINHA – Rev. 1 – 2013

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a) Elementos conceituais de Liderança (Cap. I);


b) O exercício da liderança pelo pessoal da MB (Cap. II);
c) Principais atributos de um líder (Anexo A); e
d) Juramento à Bandeira e Rosa das Virtudes (Anexo B)
e) Orientação sobre expedição de ordens (Anexo C).

CAPÍTULO 1
ELEMENTOS CONCEITUAIS DE LIDERANÇA
1.1 – PROPÓSITO
Este capítulo aborda conceitos, aspectos fundamentais, estilos, fatores, atributos e níveis de liderança, para
prover conhecimentos básicos que definam a natureza das relações desejáveis entre líderes e liderados.
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1.2 - CHEFIA E LIDERANÇA


O exercício da chefia é entendido pelo conjunto de ações e decisões tomadas pelo mais antigo, com autoridade
para tal, na sua esfera de competência, a fim de conduzir de forma integrada o setor que lhe é confiado.
No desempenho de suas funções, os mais antigos, normalmente, desempenham dois papéis funcionais, a saber:
o de “chefe” e o de “condutor de homens”. Em relação ao primeiro papel, prevalece a autoridade advinda da
responsabilidade atribuída à função, associada com aquela decorrente de seu posto ou graduação, à qual passaremos a
definir, genericamente, como chefia. Com respeito ao segundo papel, identifica-se um estreito relacionamento com o
atributo de líder. Neste contexto, fica ressaltada a importância da capacidade individual dos mais antigos em
influenciarem e inspirarem os seus subordinados.
Caracterizados esses dois atributos do comandante, o de chefe e o de líder, pode-se afirmar que comandar é
exercer a chefia e a liderança, a fim de conduzir eficazmente a organização no cumprimento da missão. Sendo o exercício
do comando um processo abrangente, a divisão ora apresentada será utilizada para efeito de uma melhor compreensão
do tema em lide, pois chefia e liderança não são processos alternativos e sim, simultâneos e complementares.
A liderança deve ser entendida como um processo dinâmico e progressivo de aprendizado, o qual, desenvolvido
nos cursos de carreira e no dia a dia das OM, trará não só evidentes benefícios às organizações, como também contribuirá
para o sucesso profissional individual de cada militar. Desta forma, o contínuo desenvolvimento das qualidades dos
militares da MB como líderes deverá ser objeto de atenta e permanente atenção, a ser trabalhada, conjuntamente, pela
instituição e, prioritariamente, por cada militar.
RESUMO
CHEFIA E LIDERANÇA
 LÍDER – Condutor de Pessoas com capacidade de influenciar e inspirar.
 CHEFE – Pessoa investida em um cargo. Atribuída ao Posto/Graduação.
 COMANDAR – Exercer chefia e liderança em prol da instituição.
 CHEFIA E LIDERANÇA – Não são alternativos. São simultâneos e complementares.
 EXERCÍCIO DE CHEFIA, CMDO e DIREÇÃO – Papel de Chefe e Líder.
 LIDERANÇA - “o processo que consiste em influenciar pessoas no sentido de que ajam,
voluntariamente, em prol dos objetivos da Instituição”.
 LIDERANÇA – Processo dinâmico e progressivo de aprendizado.
 ELEMENTOS BÁSICOS DA LIDERANÇA – Grupo – Situação – Líder.
 AGENTES DA LIDERANÇA – Líder, Liderados e Relações.

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1.3 - ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA LIDERANÇA


Neste tópico serão abordados aspectos relacionados aos tipos de liderança.

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Existem diversas conceituações para liderança na literatura especializada. A Marinha do Brasil define liderança como:
“o processo que consiste em influenciar pessoas no sentido de que ajam, voluntariamente, em prol do cumprimento
da missão”. Fica evidenciado, pela definição, que a liderança inclui não só a capacidade de fazer um grupo realizar uma
tarefa específica mas, sobretudo, executá-la de forma voluntária, atendendo ao desejo do líder como se fosse o seu
próprio.
Nessa definição de liderança, estão implícitos os seus agentes, ou seja, o líder e os liderados, as relações entre
eles e os princípios filosóficos, psicológicos e sociológicos que regem o comportamento humano.

1.3.1 - Aspectos Filosóficos


A Filosofia tem como característica desenvolver o senso crítico, que fornece ao indivíduo bases metodológicas
para efetuar, permanentemente, o exame corrente da situação, favorecendo o processo de tomada de decisões. Tal
prática é fundamental ao exercício da liderança, podendo-se verificar que o requisito pensamento crítico está direta
ou indiretamente associado a diversos atributos de liderança prescritos nesta Doutrina.
A Axiologia, também conhecida como a teoria dos valores, é considerada a parte mais nobre da Filosofia. O
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processo de influenciação de um grupo, que é a essência da liderança, está profundamente ligado aos valores éticos e
morais que devem ser transmitidos e praticados pelo líder.
A prática dos fundamentos filosóficos da educação, seja ela formal ou informal, desenvolvida por grupos
sociais, independente de suas crenças e culturas, constitui-se no elemento catalisador dos valores universais.
O ser humano precisa receber uma educação adequada para ser capaz de valorizar um objeto (a vida humana,
a Pátria, a família). Sem essa educação, perde-se a capacidade de perceber esses valores, especialmente quando se
trata daqueles universais, tais como: honra, dignidade e honestidade.
A característica fundamental da Axiologia consiste na hierarquização desses valores, que são transmitidos pela
educação familiar, pela sociedade e pelo grupo. Essa hierarquização de valores varia de um país para o outro, de uma
sociedade organizada para outra, de um grupo social para outro. Por exemplo, os fundamentalistas islâmicos, que se
sacrificam em atentados, contrariando o instinto de preservação, valor primordial do ser humano.
Valores como a honra, a dignidade, a honestidade, a lealdade e o amor à pátria, assim como todos os outros
considerados vitais pela Marinha, devem ser praticados e transmitidos, permanentemente, pelo líder aos seus
liderados. A tarefa de doutrinamento visa a transmitir a sua correta hierarquização, priorizando-os em relação aos
valores materiais, como o dinheiro, o poder e a satisfação pessoal.
Este é o maior desafio a ser enfrentado por aquele que pretende exercer a liderança de um grupo.

1.3.2 - Aspectos Psicológicos


“Em essência, a liderança envolve a realização de objetivos com e através de pessoas. Consequentemente, um
líder precisa preocupar-se com tarefas e relações humanas.” (HERSEY; BLANCHARD, 1982, p. 105).
O líder influencia outros indivíduos, provocando, basicamente, mudanças psicológicas e “[...] num nível de
generalidade que inclui mudanças em comportamentos, opiniões, atitudes, objetivos, necessidades, valores e todos
os outros aspectos do campo psicológico do indivíduo.” (FRENCH; RAVEN, 1969, apud NOBRE, 1998, p. 43)
Os processos grupais e a liderança são os principais objetos de estudo da Psicologia Social e a subjetividade
humana, a personalidade e as mudanças psicológicas oriundas de processos de influenciação e de aprendizagem são
focos de estudo e de análise da Psicologia.
O caminho para a liderança passa pelo conhecimento profissional, mas também pelo autoconhecimento e por
conhecer bem seus subordinados. Para os dois últimos requisitos, a Psicologia pode oferecer ferramentas úteis para o
líder. Pesquisas mostram que o quociente emocional (QE) ou inteligência emocional está, cada mais, destacando-se
como o principal diferencial de competência no trabalho, por se tratar da capacidade de autoconsciência, controle de
impulsos, persistência, empatia e habilidade. Esta conclusão é especialmente pertinente, em se tratando do
desempenho em funções de liderança. A Psicologia é, portanto, uma ciência que fornece firme embasamento teórico
e prático para que o líder possa influenciar pessoas.

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1.3.3 - Aspectos Sociológicos


Os textos deste subitem foram retirados, com adaptações, do Manual de Liderança, editado em 1996 (130-

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Bases Sociológicas).
Sociólogos concordam que a perspectiva sociológica envolve um processo que vai permitir examinar as
coletividades além das fachadas das estruturas sociais, com o propósito de refletir, com profundidade, sobre a
dinâmica de forças atuantes em dada coletividade.
A liderança envolve líder, liderados, e contexto (ou situação), constituindo, fundamentalmente, uma relação.
Para muitos teóricos, a liderança, dadas as características singulares que envolve, constitui-se em um processo ímpar
de interação social. Partindo desta visão da liderança, é evidente o quanto a Sociologia tem para contribuir em termos
de embasamento teórico no estudo e na construção do processo da liderança.
Os militares, em geral, em função da peculiaridade de suas atividades profissionais, constituem uma subcultura
dentro da sociedade brasileira. Focalizando mais de perto ainda, pode-se afirmar que a Marinha, dentro das Forças
Armadas, face a suas atribuições muito próprias, constitui-se, igualmente, em uma subcultura. A liderança, por
definição, pressupõe a atuação do líder sobre grupos humanos; os membros destes grupos são, em geral, oriundos de
diferentes subculturas. Estes indivíduos, ao ingressarem na Marinha, passarão a integrar-se a esta nova subcultura,
após um período de adaptação. No âmbito da Marinha, pode-se distinguir subculturas correspondentes aos diferentes
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Corpos e Quadros, em função da missão atribuída a cada um deles. Cultura e subcultura são, portanto, temas de estudo
da Sociologia de interesse para a liderança.
Outro tópico de Sociologia avaliado como relevante é o dos processos sociais, estes definidos como a interação
repetitiva de padrões de comportamento comumente encontrados na vida social. Os processos sociais de maior
incidência nas sociedades e grupos humanos são: cooperação, competição e conflito. O líder, cuja matéria-prima é o
grupo liderado, necessita identificar a existência de tais processos, estimulando- os ou não, em função das
especificidades da situação corrente e da natureza da missão a ser levada a termo.
Cooperação, etimologicamente, significa trabalhar em conjunto. Implica uma opção pelo coletivo em
detrimento do individual, mas nada impede o desenvolvimento e o estímulo das habilidades de cada membro, em prol
de um objetivo comum. Sob muitos aspectos, e de um ponto de vista humanista, é a forma ideal de atuação de grupos.
Ocorre que nem sempre é possível, dentro de um grupo, manter, exclusivamente, o processo cooperativo. Em função
do contexto, das circunstâncias da própria tarefa a realizar, da natureza do grupo, ou das características do líder, outros
processos se desenvolvem.
Competição é definida como a luta pela posse de recompensas cuja oferta é limitada.
Tais recompensas incluem dinheiro, poder, status, amor e muitos outros. Outra forma de descrever o processo
competitivo o mostra como a tentativa de obter uma recompensa superando todos os rivais.
A competição pode ser pessoal – entre um número limitado de concorrentes que se conhecem entre si – ou
impessoal – quando o número de rivais é tal, que se torna impossível o conhecimento entre eles, como ocorre, por
exemplo, nos exames vestibulares ou em concursos públicos.
Atualmente, os especialistas concordam que ambos os processos – cooperação e competição – coexistem e,
até mesmo, sobrepõem-se na maioria das sociedades. O que varia, em função de diferenças culturais, é a intensidade
com que cada um é experimentado.
Sob o ponto de vista psicológico, é relevante considerar que, se a competição tem o mérito inicial de estimular
a atividade dos indivíduos e dos grupos, aumentando-lhes a produtividade, tem o grave inconveniente de desencorajar
os esforços daqueles que se habituaram a fracassar. Vencedor há um só; todos os demais são perdedores. Outro
inconveniente sério, decorrente do estímulo à competição, consiste na forte possibilidade de desenvolvimento de
hostilidades e desavenças no interior do grupo, contribuindo para sua desagregação. A instabilidade inerente ao
processo competitivo faz com que este, com bastante frequência, se transforme em conflito. Na liderança, a
competição tem sempre que ser saudável e estimulante.
Conflito é a exacerbação da competição. Uma definição mais específica afirma que tal processo consiste em
obter recompensas pela eliminação ou enfraquecimento dos competidores. Ou seja, o conflito é uma forma de
competição que pode caminhar para a instalação de violência e, que se vai intensificando, à medida que aumenta a
duração do processo, já que este tem caráter cumulativo – a cada ato hostil surge uma represália cada vez mais
agressiva.

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O processo social de conflito inclui aspectos positivos e negativos. Por um lado, o conflito tende a destruir a
unidade social e, da mesma forma, desagregar grupos menores, pelo aumento de ressentimento, pelo desvio dos

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objetivos mais elevados do grupo, pela destruição dos canais normais de cooperação, pela intensificação de tensões
internas, podendo chegar à violência. Por outro lado, doses regulares de conflito de posições, podem ter efeito
integrador dentro do grupo, na medida em que obrigam os grupos a se autocriticarem, a reverem posições, a forçarem
a formulação de novas políticas e práticas, e, em consequência, a uma revitalização dos valores autênticos próprios
daquele grupo.
Uma vez instalado e manifesto o conflito no seio de um grupo, seu respectivo líder terá de buscar soluções e
alternativas para manter o controle da situação. Não é fácil ou agradável para os líderes atuar em situações de conflito,
o que não justifica sua pura e simples negação.
É indispensável que o líder seja capaz de diagnosticar as situações de conflito, mesmo quando ainda latentes,
de modo a buscar estratégias adequadas para gerenciá-las construtivamente.

1.4 - ESTILOS DE LIDERANÇA


Nos primórdios do século XX, prevaleceram as pesquisas sobre liderança, entendida como qualidade inerente
a certas pessoas ou traço pessoal inato. A partir dos anos 30, evoluiuse para uma concepção de liderança como
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conjunto de comportamentos e de habilidades que podem ser ensinadas às pessoas que, desta forma, teriam a
possibilidade de se tornarem líderes eficazes.
Progressivamente, os pesquisadores abandonaram a busca de uma essência da liderança, percebendo toda a
complexidade envolvida e evoluindo para análises bem mais sofisticadas, que incluíam diversas variáveis situacionais.
Nesse contexto, observa-se a proliferação de publicações sobre liderança, incluindo trabalhos científicos e literatura
sensacionalista e de autoajuda. Diferentes autores propõem uma infinidade de estilos de liderança que se sobrepõem.
Alguns fundamentam-se em estudos e pesquisas e outros são meramente empíricos e intuitivos. Há também muitos
modismos, alguns consistindo, apenas, ematribuição de novos nomes e roupagens a antigos conceitos, sendo
reapresentados como se fossem avanços na área de liderança.
Para simplificar a apresentação e o emprego de uma gama de estilos de liderança consagrados e relevantes
para o contexto militar-naval, foram considerados alguns estilos selecionados em três grandes eixos:
 grau de centralização de poder;
 tipo de incentivo; e
 foco do líder.

Pode-se afirmar, genericamente, que os diferentes estilos de liderança, propostos à luz das diversas teorias, se
enquadram em três principais critérios de classificação, apresentados como eixos lógicos em que se agrupam apenas
sete estilos principais:
A) QUANTO AO GRAU DE CENTRALIZAÇÃO DE PODER: Liderança Centralizadora, Liderança Participativa e Liderança
Delegativa;
B) QUANTO AO TIPO DE INCENTIVO: Liderança Transformacional e Liderança Transacional; e
C) QUANTO AO FOCO DO LÍDER: Liderança Orientada para Tarefa e Liderança Orientada para Relacionamento.
Os subitens a seguir descrevem os sete principais estilos de liderança propostos pelas diversas teorias.

1.4.1 - Liderança Centralizadora


A liderança centralizadora é baseada na autoridade formal, aceita como correta e legítima pela estrutura do grupo.
O líder centralizador baseia a sua atuação numa disciplina rígida, impondo obediência e mantendo-se afastado
de relacionamentos menos formais com os seus subordinados, controla o grupo por meio de inspeções de verificação
do cumprimento de normas e padrões de eficiência, exercendo pressão contínua. Esse tipo de liderança pode ser útil
e, até mesmo, recomendável, em situações especiais como em combate, quando o líder tem que tomar decisões
rápidas e não é possível ouvir seus liderados, sendo a forma de liderança mais conhecida e de mais fácil adoção.
A principal restrição a esse tipo de liderança é o desinteresse pelos problemas e ideias, tolhendo a iniciativa e,
por conseguinte, a participação e a criatividade dos subordinados. O uso desse estilo de liderança pode gerar resistência

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passiva dentro da equipe e inibir a iniciativa do subordinado, além de não considerar os aspectos humanos, dentre
eles, o relacionamento líder-liderados.

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1.4.2 - Liderança Participativa ou Democrática


Nesse estilo de liderança, abre-se mão de parte da autoridade formal em prol de uma esperada participação dos
subordinados e aproveitamento de suas ideias. Os componentes do grupo são incentivados a opinarem sobre as formas
como uma tarefa poderá ser realizada, cabendo a decisão final ao líder (exemplo típico é o Estado-Maior). O êxito
desse estilo é condicionado pelas características pessoais, pelo conhecimento técnico-profissional e pelo engajamento
e motivação dos componentes do grupo como um todo. Em se obtendo sucesso, a satisfação pessoal e o sentimento
de contribuição por parte dos subordinados são fatores que permitem uma realimentação positiva do processo. Na
ausência do líder, uma boa equipe terá condições de continuar agindo de acordo com o planejamento previamente
estabelecido para cumprir a missão.
O líder deve estabelecer um ambiente de respeito, confiança e entendimento recíprocos, devendo possuir, para
tanto, ascendência técnico-profissional sobre seus subordinados e conduta ética e moral compatíveis com o cargo que
exerce. Um líder que adota o estilo democrático encoraja a participação, mas nunca perde de vista sua autoridade e
responsabilidade.
Um chefe inseguro dificilmente conseguirá exercer uma liderança democrática, mas tenderá a submeter ao
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grupo todas as decisões. Isso poderá fazer com que o chefe acabe sendo conduzido pelo próprio grupo.

1.4.3 - Liderança Delegativa


Esse estilo é indicado para assuntos de natureza técnica, onde o líder atribui a assessores a tomada de decisões
especializadas, deixando-os agir por si só. Desse modo, ele tem mais tempo para dar atenção a todos os problemas
sem se deter especificamente a uma determinada área. É eficaz quando exercido sobre pessoas altamente qualificadas
e motivadas.
O ponto crucial do sucesso deste tipo de liderança é saber delegar atribuições sem perder o controle da situação
e, por essa razão, o líder, também, deverá ser altamente qualificado e motivado. O controle das atividades dos
elementos subordinados é pequeno, competindo ao chefe as tarefas de orientar e motivar o grupo para atingir as
metas estabelecidas.

1.4.4 - Liderança Transformacional


Esse estilo de liderança é especialmente indicado para situações de pressão, crise e mudança, que requerem
elevados níveis de envolvimento e comprometimento dos subordinados, sendo que “uma ou mais pessoas engajam-
se com outras de tal forma que líderes e seguidores elevam um ao outro a níveis mais altos de motivação e moral”
(BURNS, 1978, apud SMITH; PETERSON, 1994, p. 129)
Quatro aspectos caracterizam a liderança transformacional: 1º) “[...] carisma (influência idealizada) associado
com um grau elevado de poder de referência por parte do líder [...]” (NOBRE, 1998, p. 54), que é capaz de despertar
respeito, confiança e admiração; 2º) inspiração motivadora, que consiste na capacidade de apresentar uma visão,
dando sentido à missão a ser realizada, de instilar orgulho. Inclui também a capacidade de simplificar o entendimento
sobre a importância dos objetivos a serem atingidos e, a “[...] possibilidade de criar símbolos, “slogans” ou imagens
que sintetizam e comunicam metas e ideais, concentrando assim os esforços [...]” (NOBRE, 1998, p. 54); 3º) estimulação
intelectual, consiste “[...] em encorajar os subordinados a questionarem sua forma usual de fazer as coisas, [...] além
de incentivar a criatividade, o auto- desenvolvimento e a autonomia de pensamento” (NOBRE, 1998, p. 54-55),
propiciando a formulação de críticas construtivas, em busca da melhoria contínua; 4º) “consideração individualizada,
implica em considerar as necessidades diferenciadas dos subordinados, dedicando atenção pessoal, orientando
tecnicamente e aconselhando individualmente” (CAVALCANTI et al., 2005) e “[...] oferecendo também meios efetivos
de desenvolvimento e auto-superação.” (NOBRE, 1998, p. 55). Segundo o enfoque da liderança transformacional, ao
encontrarem significado e perspectivas de realização pessoal no trabalho, os subordinados alcançam os mais elevados
níveis de produtividade e criatividade, fazendo desaparecer a dicotomia trabalho e prazer. (BARRETT, 2000, apud
CAVALCANTI et al., 2005).

1.4.5 - Liderança Transacional

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Nesse estilo de liderança, o líder trabalha com interesses e necessidades primárias dos seguidores, oferecendo
recompensas de natureza econômica ou psicológica, em troca de esforço para alcançar os resultados organizacionais

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desejados (CAVALCANTI et al., 2005).

A liderança transacional envolve os seguintes fatores:


“A recompensa é contingente, buscando-se uma sintonia entre o atendimento das necessidades dos
subordinados e o alcance dos objetivos organizacionais; Esse estilo de liderança caracteriza-se também pela
administração por exceção, que implica num gerenciamento atuante somente no sentido de corrigir erros [...].”
(NOBRE, 1998, p. 55)
Neste estilo de liderança, o líder “[...] observa e procura desvios das regras e padrões, toma medidas corretivas.”
(CAVALCANTI et al., 2005, p. 120).

1.4.6 - Liderança Orientada para Tarefa


A especialização em tarefas é uma das principais responsabilidades do líder, na medida em que possui a
necessária qualificação profissional para o exercício da função. Nesse estilo de liderança, então, o líder focaliza o
desempenho de tarefas e a realização de objetivos, transmitindo orientações específicas, definindo maneiras de
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realizar o trabalho, o que espera de cada um e quais são os padrões organizacionais.

1.4.7 - Liderança Orientada para Relacionamento


Nesse estilo de liderança, o foco do líder é a manutenção e fortalecimento das relações pessoais e do próprio
grupo. O líder demonstra sensibilidade às necessidades pessoais dos liderados, concentra-se nas relações
interpessoais, no clima e no moral do grupo. Esse estilo de liderança, que está significativamente associado às medidas
de satisfação dos liderados em relação ao trabalho e ao chefe, pode ser útil em situações de tensão, frustração,
insatisfação e desmotivação do grupo.

1.5 - SELEÇÃO DE ESTILOS DE LIDERANÇA


Ao proporem diferentes estilos de liderança, os autores condicionam a eficácia do seu emprego a algumas
variáveis, tais como:
 relevância da qualidade da tarefa ou decisão;
 importância da aceitação da decisão pelos subordinados para obtenção de seu envolvimento na implantação
de determinada linha de ação;
 tempo disponível para realização da missão;
 riscos envolvidos;
 níveis de prioridade no que diz respeito à produtividade ou à satisfação do grupo; e
 nível de maturidade psicológica e profissional dos subordinados.

Destacando-se apenas esta última variável como exemplo, pode-se afirmar, genericamente, que a identificação
de um baixo nível de maturidade (profissional e/ou emocional) no grupo de subordinados induz à aplicação de estilos
com maior centralização de poder, mais foco na tarefa e que incentivos no nível transacional (licença, rancho, conforto
etc) tendem a ter mais valência para o grupo. Por outro lado, grupos mais maduros, em geral, respondem melhor a
estilos menos centralizadores de poder e a incentivos no nível da autorrealização, como ocorre no estilo
transformacional. Naturalmente, não apenas uma, mas todas as variáveis relevantes de cada situação devem ser
consideradas pelo líder.
Portanto, diferentes estilos de liderança podem ser adotados, de acordo com as circunstâncias. Pode-se
considerar que:
“[...] quando se abandona a ideia de que deve existir uma melhor forma de liderar, todas as teorias subsequentes
de liderança devem ser contingenciais ou situacionais, isto é, devem definir as circunstâncias que afetam o
comportamento e a eficácia dos líderes.” (SMITH; PETERSON, 1994, p. 173)
À luz da abordagem situacional, que prevalece na atualidade, na qual a liderança pode assumir diversos estilos,
os principais requisitos de liderança passam a ser a capacidade de diagnosticar as variáveis situacionais, a flexibilidade

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e a adaptabilidade às mudanças. Os melhores líderes utilizam estilos diferentes, em distintas situações. Assim, é
necessário um esforço pessoal do líder no sentido de se adaptar, continuamente, às mudanças de estilo adequadas a

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cada contexto.

1.6 - FATORES DA LIDERANÇA


Os fatores da liderança, mencionados neste item, baseiam-se na publicação Liderança Militar, Instruções
Provisórias IP 20-10, de 1991, do Estado-Maior do Exército.

1.6.1 - O Líder
O líder deve conhecer a si mesmo, para saber de suas capacidades, características e limitações, evitando atribuir
aos seus liderados falhas ou restrições.
“Os bons líderes eficientes são também bons seguidores [...]” (BRASIL, 1991, p. 3-3) e cumpridores das
orientações de seus superiores, passando esse exemplo a seus subordinados.
“O líder, independentemente de sua vontade, atua como elemento modificador do comportamento de seus
liderados subordinados. [...] A função militar está relacionada com a segurança e a responsabilidade pela vida de seres
humanos.”(BRASIL, 1991, p. 3-3, 3-4)
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Provavelmente, poucos profissionais são forçados a assumir tarefa tão grave ao liderar subordinados. (BRASIL,
1991).
1.6.2 - Os Liderados
“O conhecimento dos liderados é fator essencial para o exercício da liderança e depende do entendimento claro
da natureza humana, das suas necessidades, emoções e motivações.” (BRASIL, 1991, p. 3-4)
Isto é, ainda, crucial para o salutar exercício de Delegação de Autoridade.
1.6.3 - A Situação
“Não existem normas nem fórmulas que mostrem com exatidão o que deve ser feito. O líder precisa
compreender a dinâmica do processo de liderança, os fatores principais que a compõem, as características de seus
liderados e aplicar estes conhecimentos como guia para cada situação em particular.” (BRASIL, 1991, p. 3-5)
Fica, assim, bem clara a necessidade exaustiva da prática da liderança, para o sucesso do líder, levando sempre
em conta a cultura e/ou a subcultura organizacional da instituição.
1.6.4 - A Comunicação
“A comunicação é um processo essencial à liderança, que consiste na troca de ordens, informações e ideias, só
ocorrendo quando a mensagem é recebida e compreendida. [...] É através desse processo que o líder coordena,
supervisiona, avalia, ensina, treina e aconselha seus subordinados.[...] O que é comunicado e a forma como isto é feito
aumentam ou diminuem o vínculo das relações pessoais, criam o respeito, a confiança mútua e a compreensão. Os
laços que se formam, com o passar do tempo, entre o líder e seus liderados, são a base da disciplina e da coesão em
uma organização. O líder deve ser claro e “escolher” cuidadosamente as palavras, de tal forma que signifiquem a
mesma coisa para ele e para seus subordinados.” (BRASIL, 1991, p. 3-4).

1.7 - ATRIBUTOS DE UM LÍDER


A natureza e as especificidades da profissão militar, a destinação constitucional das Forças Armadas e a cultura
organizacional da Forças Armadas como um todo e, da Marinha, mais especificamente, fazem com que certos traços
de personalidade tornem-se desejáveis e tendam a encontrar-se especialmente acentuados nos líderes militares.
Embora não existam fórmulas de liderança, a História, a experiência e também a pesquisa psicossocial têm
demonstrado que é importante que os chefes procurem desenvolver esses traços em si e nos seus subordinados,
porque em momentos críticos ou nas situações difíceis eles podem contribuir para um exercício mais eficaz da liderança
no contexto militar.
Os atributos de um líder têm como componente comum a capacidade de influenciar. Um bom líder deve
perseguir, manter, desenvolver e cultivar essa capacidade e, sobretudo, transmiti-la aos seus subordinados, formando
assim, novos líderes que, por sua vez, devem agir da mesma forma, na tentativa de alcançar um círculo virtuoso.

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O Anexo A define os principais atributos de um líder, que devem estar em consonância com os preceitos da Ética
Militar, segundo os fundamentos estabelecidos no Estatuto dos Militares. Nunca é demais ressaltar que a Ética é

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parâmetro fundamental para o exercício da liderança, notadamente no âmbito militar.

1.8 - NÍVEIS DE LIDERANÇA


Com a evolução das técnicas de gestão empresarial, o foco do estudo sobre o comportamento dos dirigentes
passou a ser voltado para as diferenças entre o líder de base e o de cúpula. Foi então idealizado um padrão de
organização baseado em três níveis funcionais: operacional, tático e estratégico, discriminando as características
desejáveis para um líder nos três níveis, de acordo com suas habilidades.
Em consonância com esses novos conceitos, foram estabelecidos três níveis de liderança: direta, organizacional
e estratégica. Estes três níveis definem com precisão toda a abrangência da liderança e será adotado ao longo desta
Doutrina.
A liderança direta é obtida por meio do relacionamento face a face entre o líder e seus liderados e é mais
presente nos escalões inferiores, quando o contato pessoal é constante. A liderança direta, conquanto seja mais
intensa no comando de pequenas frações ou unidades, tendo em vista que a estrutura organizacional da Força exige
o trato com assessores e subordinados diretos.
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A liderança organizacional desenvolve-se em organizações de maior envergadura, normalmente estruturadas


como Estado-Maior, sendo composta por liderança direta, conduzida em menor escala e voltada para os subordinados
imediatos, e por delegação de tarefas.
A liderança estratégica militar é aquela exercida nos níveis que definem a política e a estratégia da Força. É um
processo empregado para conduzir a realização de uma visão de futuro desejável e bem delineada.

1.8.1 - Liderança Direta


Essa é a primeira linha de liderança e ocorre em organizações onde os subordinados estão acostumados a ver
seus chefes frequentemente: seções, divisões, departamentos, navios, batalhões, companhias, pelotões e esquadras
de tiro. Para serem eficazes, os líderes diretos devem possuir muitas habilidades interpessoais, conceituais, técnicas e
táticas.
Os líderes diretos aplicam os atributos conceituais de pensamento crítico-lógico e pensamento criativo para
determinar a melhor maneira de cumprir a missão. Como todo líder, usam a Ética para pautar suas condutas e adquirir
certeza de que suas escolhas são as melhores e contribuem para o aperfeiçoamento da performance do grupo, dos
subordinados e deles próprios. Eles empregam os atributos interpessoais de comunicação e supervisão para realizar o
seu trabalho. Desenvolvem seus liderados por instruções e aconselhamento e os moldam em equipes coesas,
treinando-os até a obtenção de um padrão.
São especialistas técnicos e os melhores mentores. Tanto seus chefes quanto seus subordinados esperam que
eles conheçam bem sua equipe, os equipamentos e que sejam “expert” na área em que atuam.
Usam a competência para incrementar a disciplina entre os seus comandados. Usam o conhecimento dos
equipamentos e da doutrina para treinar homens e levá-los a alcançar padrões elevados, bem como criam e sustentam
equipes com habilidade, certeza e confiança no sucesso na paz e na guerra.
Exercem influência continuamente, buscando cumprir a missão, tendo por base os propósitos e orientações
emanadas das decisões e do conceito da operação do chefe, adquirindo e aferindo resultados e motivando seus
subordinados, principalmente pelo exemplo pessoal. Devido a sua liderança ser face a face, veem os resultados de suas
ações quase imediatamente.
Trabalham focando as atividades de seus subordinados em direção aos objetivos da organização, bem como
planejam, preparam, executam e controlam os resultados.
Se aperfeiçoam ao assumirem os valores da instituição e ao estabelecerem um modelo de conduta para seus
subordinados, colocando os interesses da instituição e do Grupo que lideram acima dos próprios. Com isto, eles
desenvolvem equipes fortes e coesas em um ambiente de aprendizagem saudável e efetiva.
Os líderes diretos devem, ainda, estimular ao máximo o desenvolvimento de líderes subordinados, de forma a
potencializar a sua influência até os níveis organizacionais mais baixos e obter melhores resultados.

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1.8.2 - Liderança Organizacional


Ao contrário do que acontece no nível de liderança direta, onde os líderes planejam, preparam, executam e

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controlam diretamente os resultados dos seus trabalhos, a influência dos líderes organizacionais é basicamente
indireta: eles expedem suas políticas e diretivas e incentivam seus liderados por meio de seu staff e comandantes
subordinados. Devido ao fato de não haver proximidade, os resultados de suas ações são frequentemente menos
visíveis e mais demorados. No entanto, a presença desses líderes em momentos e lugares críticos aumenta a confiança
e a performance dos seus liderados. Independente do tipo de organização que eles chefiem, líderes organizacionais
conduzem operações pela força do exemplo, estimulando os subordinados e supervisionando-os apropriadamente.
Sempre que possível, o líder organizacional deve mostrar sua presença física junto aos escalões subordinados, seja por
intermédio de visitas e mostras, seja por meio de reuniões funcionais com os comandantes subordinados.

1.8.3 - Liderança Estratégica


Líderes estratégicos exercem sua liderança no âmbito dos níveis mais elevados da instituição. Sua influência é
ainda mais indireta e distante do que a dos líderes organizacionais. Desse modo, eles devem desenvolver atributos
adicionais de forma a eliminar ou reduzir esses inconvenientes.
Os líderes estratégicos trabalham para deixar, hoje, a instituição pronta para o amanhã, ou seja, para enfrentar os
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desafios do futuro, oscilando entre a consciência das necessidades nacionais correntes e na missão e objetivos de longo
prazo.
Desde que a incerteza quanto às possíveis ameaças não permita uma visualização clara do futuro, a visão dos
líderes estratégicos é especialmente crucial na identificação do que é importante com relação ao pessoal, material,
logística e tecnologia, a fim de subsidiar decisões críticas que irão determinar a estrutura e a capacidade futura da
organização.
Dentro da instituição, os líderes estratégicos constroem o suporte para facilitar a busca dos objetivos finais de
sua visão. Isto significa montar um staff que possa assessorá-los convenientemente a conduzir seus subordinados de
maneira segura e flexível. Para obter o suporte necessário, os líderes estratégicos procuram obter o consenso não só
no âmbito interno da organização, como também trabalhando junto a outros órgãos e instituições a que tenham
acesso, em questões como orçamento, estrutura da Força e outras de interesse, bem como estabelecendo contatos
com representações de outros países e Forças em assuntos de interesse mútuo.
A maneira como eles comunicam as suas políticas e diretivas aos militares e civis subordinados e apresentam
aquelas de interesse aos demais cidadãos vai determinar o nível de compreensão alcançado e o possível apoio para as
novas ideias. Para se fazer entender por essas diversas audiências, os líderes estratégicos empregam múltiplas mídias,
ajustando a mensagem ao público alvo, sempre reforçando os temas de real interesse da instituição.
Os líderes estratégicos estão decidindo hoje como transformar a Força para o futuro.
Eles devem trabalhar para criar e desenvolver a próxima geração de líderes estratégicos, montar a estrutura
para o futuro e pesquisar os novos sistemas que contribuirão na obtenção do sucesso.
Para capitanear as mudanças pessoalmente e levar a instituição em direção à realização do seu projeto de futuro,
esses líderes transformam programas conceituais e políticos em iniciativas práticas e concretas. Este processo envolve
uma progressiva alavancagem tecnológica e uma modelagem cultural. Conhecendo a si mesmos e aos demais “atores”
estratégicos, tendo um nítido domínio dos requisitos operacionais, da situação geopolítica e da sociedade, os líderes
estratégicos conduzem adequadamente a Força e contribuem para o desenvolvimento e a segurança da Nação. Tendo
em vista que os conflitos nos dias de hoje podem ser desencadeados muito rapidamente, não permitindo um longo
período de mobilização para a guerra – como se fazia no passado –, o sucesso de um líder estratégico significa deixar
a Força pronta para vencer uma variedade de conflitos no presente e permanecer pronta para enfrentar as incertezas
do futuro.
Em resumo, esses líderes preparam a instituição para o futuro por meio de sua liderança. Isto significa influenciar
pessoas – integrantes da própria organização, membros de outros setores do governo, elites políticas – por meio de
propósitos significativos, direções claras e motivação consistente. Significa, também, acompanhar o desenrolar das
missões atuais, sejam quais forem, e buscar aperfeiçoar a instituição – tendo a certeza que o pessoal está adestrado e
de que seus equipamentos e estrutura estão prontos para os futuros desafios.

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ANEXO A
PRINCIPAIS ATRIBUTOS DE UM LÍDER

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1 - Exemplo

Apresentação pessoal e comportamento coerentes com valores, normas e crenças da instituição, em todas as
circunstâncias.
“Não há nada que se exija tanto de um líder quanto dar o exemplo pessoal, ou seja o exemplo do seu
comportamento, pleno de valores inerentes à ética militar, aceitos e respeitados pelo grupo.” (BRASIL, 1996, p. 54)
“A todo momento, o líder é observado por seus subordinadas e deve buscar conquistarlhes a confiança, o
respeito e a admiração.” (BRASIL, 1996).

2 - Integridade Ética
Honestidade, transparência e comprometimento inquebrantável com os valores éticos da instituição, tais
como: honra, lealdade para com seus superiores, pares e subordinados, fidelidade e coragem, dentre outros, expressos
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na Rosa das Virtudes (Anexo B).

Dentre os atributos que compõem a integridade ética, pode-se destacar:

Integridade Ética 2.1 - Lealdade


“A Lealdade é o verdadeiro, espontâneo e incansável devotamento a uma causa, a sincera obediência à
autoridade dos superiores e o respeito aos sentimentos de dignidade alheia.” (BRASIL, 2009, p. 33).

Integridade Ética 2.2 - Coragem


A coragem apresenta-se sob duas formas: coragem física – superação do medo ao dano físico no cumprimento
do dever; e coragem moral – disposição para defender suas convicções, sobretudo em situações críticas, e para “[...]
opinar e agir sempre pelo bem, mesmo e, principalmente, quando não favorecer e ou até contrariar as conveniências
pessoais.” (BRASIL, 2009, p. 39).
Por sua importância na paz ou no combate, ressalta-se que a coragem moral é a capacidade de assumir
responsabilidade por suas decisões e erros.

Integridade Ética 2.3 - Caráter


“O caráter é [...] a combinação de traços de personalidade que dão consistência ao comportamento e tem por
base as crenças e valores, sendo o fator preponderante nas decisões e no modo de agir de qualquer pessoa.”(BRASIL,
1991, p.6-2). Merecem destaque como traços essenciais do caráter, a honestidade e a integridade.

3 - Humildade
É ter consciência de que o líder pode não saber tudo sobre determinado assunto, que pode estar equivocado
em seu julgamento ou sua posição e que mais modernos, ou mais antigos, com suas experiências, podem saber mais
e ajudá-lo no cumprimento da missão.

4 - Competência Profissional
“Competências representam combinações sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes, expressas pelo
desempenho profissional, dentro de determinado contexto organizacional.” (DURAND, 2000; NISEMBAUM, 2000, apud
BRUNOFARIA; BRANDÃO, 2003, p. 37)
O militar deve sempre aprimorar seus conhecimentos e habilidades e, por meio de uma atitude positiva
compatível com seu grau hierárquico, conseguir resultados eficazes para a instituição.

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5 - Determinação
Persistência para a realização de tarefas, possibilitando vencer as dificuldades encontradas até concluí-las com

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eficácia, dentro dos prazos estabelecidos.

6 - Entusiasmo
É uma disposição para assumir responsabilidades e enfrentar desafios, demonstrando vibração espontânea e
contagiante pelo seu trabalho e pela Organização.

7 - Capacidade Decisória
É a habilidade para considerar diversas linhas de ação, diante de uma situação-problema, escolhendo, em
tempo hábil, aquela mais adequada para, assim, implementá-la.
Quando necessário, o líder deve ser capaz de tomar decisões difíceis ou impopulares com firmeza e coragem.
O líder deve ter firmeza em suas decisões, não sendo, irredutível, diante das circunstâncias que se apresentam.

8 - Autoconfiança
Capacidade de pensar e de decidir, autonomamente, e convicção de ter competência para ser bem sucedido
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diante de dificuldades, expressa pela segurança, firmeza e otimismo no modo de falar e de agir.

9 - Autocontrole
Estabilidade de humor e capacidade de atuar eficazmente, mesmo sob pressão.

10 -Flexibilidade
Maleabilidade de ideias e habilidade para integrar informações novas, mesmo que divergentes em relação a
crenças e planejamentos prévios, desde que agreguem valor.
Capacidade de adaptação a mudanças. Habilidade para atuar corretamente de modo diverso em diferentes
situações.

11 -Altruísmo
Capacidade de se colocar no lugar dos liderados, compreendendo-os, demonstrando interesse genuíno por
suas necessidades, preocupando-se e provendo o desenvolvimento e bem-estar pessoal e profissional destes.

12 -Respeito
O líder deve ter respeito pela dignidade humana, que é inerente a todo indivíduo. O líder que respeita seu
subordinado é educado ao dirigir-lhe a palavra. É imparcial em seus julgamentos, seus elogios e suas críticas. Age com
tato e demonstra consideração com cada um de seus comandados.

13 -Capacidade de Relacionamento Interpessoal


Habilidade para lidar com pessoas, sejam superiores, pares ou subordinados, com tato, respeito e consideração
individualizada. Capacidade de exercer o papel de mentor, cultivando habilidades alheias, fornecendo feedback
construtivo e reconhecimento oportuno.
“Os líderes que trabalham bem em grupo produzem uma atmosfera de solidariedade amistosa e constituem,
eles mesmos, modelos de respeito, prestimosidade e cooperação. Inspiram nos demais um compromisso ativo e
entusiástico com o esforço coletivo, e promovem a fidelidade e a identificação.” (GOLEMAN; BOYATZIS; McKEE, 2002,
p. 254)

14 -Comunicação
Habilidade verbal para persuadir e inspirar os liderados, fomentando um sentido de objetivo, que vá além das
tarefas cotidianas, tornando o trabalho mais estimulante, de forma a conquistar a adesão voluntária dos subordinados.
Clareza, objetividade e propriedade de linguagem na expressão oral e escrita. Preocupação com a disseminação pronta
e eficaz de ordens e notícias, de forma a prevenir mal-entendidos, rumores e boatos nocivos ao moral do grupo.

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É de extrema importância que o líder procure desenvolver esta capacidade, tanto escrita como oral, para se
fazer entender por seus comandados, em todos os níveis. A expedição de ordens, a orientação sobre tarefas ou

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missões, tudo se faz por meio dessa comunicação. Nunca é demais lembrar que, não raras vezes, ordens são mal
executadas não por deficiência de quem as cumpriu, mas por falta de clareza de quem as deu.
É também por meio da boa comunicação que o líder pode persuadir e motivar seus comandados.

15 -Iniciativa
“A Iniciativa, em um plano mais elevado, é a faculdade de deliberar acertadamente em circunstâncias
imprevistas ou na ausência dos superiores, agindo sob responsabilidade própria, mas dentro da doutrina, a bem do
serviço. Para assim fazer, é preciso ter capacidade profissional, confiança em si e estar bem orientado.” (BRASIL, 2009,
p. 34)
Cabe aos mais antigos, criar um clima propício e estimular tal prática em seus comandados.

16-Senso de Justiça
Capacidade de julgar, imparcial e respeitosamente, com base em dados objetivos, de acordo com o mérito e o
desempenho de cada um, não se deixando influenciar por sentimentos pessoais, estereótipos ou preconceitos.
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MANUAL DE LIDERANÇA DA MARINHA DO BRASIL


DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA

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2018
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FINALIDADE: BÁSICA
1ª REVISÃO
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS CONCEITUAIS DE LIDERANÇA
- Aspectos filosóficos
- Aspectos psicológicos
- Aspectos sociológicos
- A teoria dos grupos humanos
CAPÍTULO 2 - ASPECTOS TEÓRICOS DA LIDERANÇA
- Falácias da liderança
- Conceito de liderança
- Chefiar, dominar e manipular
- Bases da liderança
- Níveis de liderança

CAPÍTULO 1
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FUNDAMENTOS CONCEITUAIS DE LIDERANÇA


Este capítulo destina-se a discorrer sobre aspectos fundamentais conceituais de Liderança.
Tais aspectos foram agrupados, de forma didática, em três: filosóficos, psicológicos e sociológicos.
Tendo em vista que a Liderança é um processo de influenciar pessoas, ao longo deste capítulo buscou-se apresentar
aspectos fundamentais da relação líder-liderados, incluindo questões como ética, percepção, estereótipo, preconceito,
bem como outros temas que versam sobre o homem e seu comportamento no grupo.
O objetivo principal é estabelecer uma base conceitual essencial para o estudo da Liderança.

1.1 - Aspectos filosóficos


Entre outros aspectos, o homem se distingue do animal porque questiona; não aceita, sem indagação,
nem mesmo a realidade concreta que o cerca. A criança, nos primeiros anos de vida, tão logo começa a
dominar a linguagem verbal, inicia a fase dos porquês e para quê, quando busca, ansiosamente, resposta
para o mundo, ainda restrito, na sua vida. Desde os primórdios, o homem buscou entender os fenômenos
naturais que ora o amedrontavam, ora o fascinavam.
O que a filosofia tem buscado até nossos dias são respostas a indagações fundamentais do homem:
"Quem somos?" "Qual o sentido da vida?" Obviamente não foram encontradas respostas definitivas para
dúvidas de tal magnitude, o que não invalida a pesquisa filosófica.
Inclusive porque a filosofia pretende fomentar uma atitude de permanente questionamento (de não
aceitação plena de verdades acabadas). Sempre que traçamos planos para nossa vida pessoal, que
estabelecemos prioridades em casa, no trabalho, que educamos nossos filhos, que selecionamos objetivos,
que interagimos com os outros, de uma forma consciente e crítica, estamos na verdade pondo em prática
alguma forma de filosofia.
O que fazer e como fazer, a hierarquização de prioridades, em todos os níveis, pessoal, social, nacional,
fazem parte do domínio da filosofia. O mundo contemporâneo caracteriza-se pelo culto à ciência e à
tecnologia.
O extraordinário progresso digital dá ao homem de hoje a ilusão de onipotência, bem como a sensação
de que os SIVO DEnsM-1005 problemas que nos angustiam e as questões por responder poderão ser
solucionadas pelo computador. No entanto, em um exame mais apurado, percebemos que, a despeito da
revolução tecnológica, persistem inúmeras indagações que afligem a humanidade, afora outras, mais
recentes, que vieram a se somar às primeiras.
Além da fome e da miséria, em escala mundial, intensificam-se outros desafios: desemprego, conflitos
étnicos e religiosos, violência crescente nos grandes centros urbanos, a questão do tráfico etc.

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1.1.1 - Atributos da filosofia


Os atributos específicos da Filosofia são: o instrumento de trabalho, o método, e o escopo (ou finalidade). No dizer

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de Platão, o instrumento de trabalho do filósofo é a razão pura. De nada valem os instrumentos materiais, tais como
microscópios ou computadores, na pesquisa e análise filosóficas.
Mesmo os sentidos e a imaginação têm, no caso, valor limitado, restringindo-se à fase inicial da especulação
filosófica, com o propósito de obter dados do real. Quanto ao escopo (ou finalidade), a filosofia não tem compromisso
com fins imediatos ou interesseiros de qualquer ordem; seu objetivo único é o conhecimento e a pesquisa da verdade
em si mesma. Ela está, portanto, segundo Aristóteles, livre para contemplar o verdadeiro.

1.1.2 - Os grandes temas filosóficos


Um dos grandes temas filosóficos é a questão da lógica, que pretende servir instrumentalmente à filosofia,
fornecendo-lhe as regras do pensamento correto. Outras questões abrangidas pela filosofia incluem o problema do
conhecimento (suas origens, formas, e valor); o problema da linguagem (que interessa também a outras áreas de
conhecimento, tais como fisiologia, psicologia, sociologia etc.); o problema antropológico (que estuda o homem em
seus múltiplos aspectos); a questão pedagógica (que se refere à educação, em geral); a questão cultural (que se refere
ao estudo do homem inserido em seu grupo social e de sua produção de cultura) etc.
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A Liderança é um processo de influenciar pessoas e deve existir em função daquilo que é do interesse específico
da instituição Marinha do Brasil, tendo propósitos absolutamente impessoais. A essência da liderança caracteriza-se
ainda pela relação da ética e da axiologia com o processo de influenciação.
A ética trata fundamentalmente da moral e de sua prática; ao passo que a axiologia ou teoria dos valores refere-
se ao estudo e à hierarquia desses. Outro aspecto que reforça o ponto de vista da ligação entre liderança e os temas
da ética e da axiologia consiste no fato de que o líder é alguém que tem poder sobre um grupo (maior ou menor) de
indivíduos. E o uso do poder assume aspectos bastante espinhosos podendo gerar abusos ou aplicações indesejáveis.
Com base neste entendimento, abordaremos alguns aspectos da ética e da axiologia.

1.1.3 - A ética
“A ética não é um valor em si mesma, é, sim, um processo de escolha por meio de valores. Assim, um
comportamento ético é aquele selecionado, dentre tantos outros, a partir de valores culturalmente consagrados. Esses
valores se referem às virtudes. Dessa forma, somos levados a concluir que o viver ético é complexo, pois pressupõe
optar por virtudes” (DEnsM-2002, 2016). “A ética, ou filosofia moral, é a parte da filosofia que se ocupa com a reflexão
a respeito dos fundamentos da vida moral” (DGPM-319, MOD 2 - 2011).
Dessa forma, podemos definir moral como um conjunto de regras que determinam o comportamento dos
indivíduos em uma dada sociedade. As normas são externas e anteriores ao indivíduo; ou seja, ao nascer a criança já
se encontra dentro de um conjunto de regras de comportamento, as quais deverão ser respeitadas (atos morais), ou
não (atos imorais). Dois aspectos devem ser enfatizados, segundo Vásquez (1995):
1. Tais regras são dinâmicas, variam no tempo e no espaço. Por exemplo, a moral da Idade Média (e seus conceitos
de vassalagem e servidão) já não valia no período da Revolução Industrial. Além disso, o que é moral em uma dada
sociedade (como a poligamia praticada pelos muçulmanos) pode não ser moral no seio de outros grupos sociais (o
mesmo exemplo, no caso de uma sociedade ocidental cristã).
2. A moral, ao mesmo tempo em que tem caráter coletivo, expressando as normas estabelecidas pela sociedade,
só tem valor real se for aceita, em termos pessoais, por cada membro de tal grupo social. Portanto, quando educamos
jovens (nossos filhos ou nossos alunos, por exemplo), não basta citarmos um elenco de regras de convívio social; é
indispensável que acreditemos efetivamente nelas e as pratiquemos, por meio do exemplo, para que os jovens
acreditem em tais normas e possam praticá-las, voluntariamente.
Podemos ainda acrescentar que o ato moral é complexo, livre, consciente e intencional; o que implica na
responsabilidade do indivíduo com a comunidade à qual pertence. Ao líder em geral cabe transmitir permanentemente
o comportamento ético da instituição a que pertence, ou do seu grupo social em que trabalha. Em todos os níveis,
desde o grupo familiar (célula da vida social) até a condução de um povo, há que haver uma ética norteando qualquer
ato dos indivíduos em sociedade.

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1.1.4 - A axiologia (ou teoria dos valores)


Para a grande maioria dos filósofos, a axiologia é considerada a parte mais nobre - e a mais importante - da

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filosofia. Além de ser bastante urgente no atual momento histórico que o mundo vive, pois, esta disciplina é basilar no
sentido de lançar sólidos alicerces para a elaboração de uma nova cultura de dimensões cosmopolitas e da criação de
uma nova sociedade. A característica fundamental da axiologia consiste na hierarquização dos valores. Tanto aqueles
estabelecidos pela sociedade à qual pertencemos, quanto aqueles (que em geral coincidem com os primeiros) que nos
são transmitidos pela educação familiar e são por nós escalonados, isto é, a eles são atribuídas prioridades.
Assim é que, geralmente, o homem tem como valor primordial a própria vida e a luta permanente por sua
preservação. Nem sempre, repetimos, este é o valor maior. Por exemplo, a prática dos kamikazes, pilotos-suicidas
japoneses, que, durante a Segunda Guerra Mundial, lançavam-se contra objetivos inimigos, privilegiando como valor
primeiro a pátria e não a própria vida. Podemos afirmar que tais valores devem ser transmitidos e, evidentemente,
praticados, pelo líder, de forma permanente e cotidiana.
Atualmente, para bem cumprir tal tarefa de doutrinamento, há que se enfrentarem dificuldades adicionais;
a começar pela relativização de valores praticada pelas sociedades em geral, embora nem sempre de forma explícita:
privilegia-se o que é concreto e transitório (o dinheiro, como fonte de poder e satisfação; o culto ao corpo, à beleza e
à juventude etc), em detrimento de valores abstratos e perenes, como os acima mencionados.
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Aqueles que pretendem liderar - em todos os níveis da hierarquia militar - devem ter sempre em mente, como
um farol a norteá-los, a fundamental importância de conhecer claramente a prioridade estabelecida pela Marinha com
relação aos valores virtuosos que lhe são vitais (Rosa das virtudes - Anexo A).
Conhecendo-os com clareza, conquistas da nossa cultura, como a honra, a honestidade, a bondade etc. devem
ser praticados inquestionavelmente, em quaisquer circunstâncias, e transmitidos, dia e noite, aos liderados. Este é o
desafio inicial a ser enfrentado pelo líder.

1.2 - Aspectos Psicológicos


Conhece-te a ti mesmo, célebre máxima socrática, provavelmente foi a primeira afirmação consequente sobre a
natureza psicológica do homem. Mas a Psicologia só muito recentemente, em fins do século XIX, ganhou status de
ciência, com o advento da chamada Psicologia Científica. Antes disto, estivera sucessivamente subordinada à Filosofia,
à religião e à Medicina. Podemos assegurar que a matéria prima da Psicologia é a vida humana em seus múltiplos
aspectos: mentais, corporais e de interação com o mundo externo. Seu objeto de estudo são os fenômenos
psicológicos.
Mas, o que vem a ser isto? São processos que ocorrem no mundo interno dos indivíduos, construídos ao longo
de sua vida; são contínuos, e nos permitem sentir o mundo de forma própria, comportarmo-nos desta ou daquela
maneira, adequarmo-nos à realidade e transformá-la. Tais processos são constitutivos de nossa subjetividade. E a
Liderança, onde entra na questão? Que relação tem com a Psicologia? Pelo que já foi mencionado acima, não nos
parece difícil responder.
A Liderança consiste em uma relação que envolve pessoas (líder e liderados) interagindo, muito específica,
estreita, construída ao longo do tempo e sujeita a permanente reavaliação. Fica, pois, evidente, o quanto é importante
para o líder conhecer seu próprio perfil psicológico, ao mesmo tempo em que necessita exercitar, pacientemente, o
conhecimento dos membros do grupo sob suas ordens, suas possibilidades e limitações, além de avaliar suas possíveis
reações em diferentes contextos. Vamos nos ater, portanto, a três conceitos da psicologia os quais interessam,
objetivamente, ao processo da liderança. São eles: percepção, motivação e atitude.

1.2.1 - Percepção
O conceito psicológico de percepção é uma contribuição da escola psicológica da Gestalt (termo alemão, cuja
significação é referente à forma ou ao todo). Para esta escola, o homem é sempre capaz de receber estímulos do mundo
externo e responder a eles após os haver interpretado. Tais estímulos incluem coisas, pessoas e situações. Claro está
que o psiquismo do próprio observador, sua subjetividade, vai interferir decisivamente em seu processo de percepção.
Quanto mais complexo for este estímulo, maiores são as possibilidades de ocorrerem percepções distintas, por
parte de diferentes observadores. Quando conhecemos alguém, tendemos a formar impressões imediatas sobre a
pessoa. Podemos achá-la simpática, inteligente, mas um pouco arrogante, por exemplo. Um segundo observador, ao

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conhecer esta mesma pessoa, pode considerá-la simpática, não muito inteligente, e bastante simples já um terceiro,
poderá dizer que nem se aproximou muito por considerá-la antipática.

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O exemplo citado é superficial. Foram usadas poucas características da pessoa percebida. Claro está que quanto
mais atributos forem utilizados, maiores são as possibilidades de percepções distintas por parte de diferentes
observadores. Ou seja, a subjetividade de quem percebe interfere poderosamente no processo de formação de juízos.
Esta é uma primeira constatação quando estudamos o processo de percepção.
Tais constatações nos levam a uma primeira conclusão: nossa percepção é falha, quando estamos observando
pessoas (ou grupos delas); isto porque os seres humanos (sujeitos e objetos do processo) têm emoções muitas vezes
secretas. Por este motivo é que, em algumas ocasiões, somos surpreendidos por manifestações imprevisíveis de
comportamento de outra pessoa.
Quantos exemplos já tivemos ao longo de nossa vida? O indivíduo descontraído, brincalhão, que subitamente
entra em processo de depressão e se suicida; ou aquele sempre pacífico e cordato, que de repente se torna agressivo
e violento. Surpresas desta ordem ocorrem com relativa frequência e serão maiores quanto mais despreparados
estivermos para lidar com as emoções dos outros.
Como poderíamos reduzir a tendência de estabelecermos percepções equivocadas sobre terceiros?
Primeiramente, reconhecer que as pessoas não são formulações matemáticas que apresentam solução-padrão; em
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seguida, ter suficiente humildade para não confiar cegamente na própria percepção, tendo capacidade para reformulá-
la após observação mais duradoura. Examinemos, neste ponto, alguns dos processos mais comumente postos em
prática pelos observadores, em geral, que conduzem à graves equívocos na formação de juízos sobre terceiros.
a) Efeito halo
- É muito comum categorizarmos o objeto de nossa percepção em termos de bom e mau, deduzindo, a partir
desta primeira classificação, os demais traços do indivíduo observado. Esta tendência é chamada de efeito halo, porque
a pessoa rotulada de boa passa a ser cercada por uma aura positiva, sendo a ela atribuídas todas as qualidades
consideradas favoráveis. Ao contrário, se o indivíduo é rotulado de mau, passa a possuir um halo negativo (alguns
autores classificam como efeito horn), sendo a ele atribuídas todas as más qualidades. Experiências já demonstraram
como as pessoas observadas, uma vez incluídas em uma dessas categorias, dificilmente são avaliadas com alguma
riqueza de detalhes por parte da grande maioria dos observadores. Verificou-se, pois, que os observadores, em geral,
formam impressões bastante superficiais sobre os outros, tendendo à simplificação e à descrição empobrecida dos
objetos percebidos.
b) Similaridade suposta
- É comum a tendência das pessoas de suporem que as outras são semelhantes a elas mesmas. Se o indivíduo
gosta de futebol, tende a crer que os outros também gostam; se é agressivo, supõe que os outros também o são e
assim por diante. Por exemplo, o avaliador atribui seus próprios valores ou características de personalidade ao avaliado.
É o que se chama similaridade suposta.
c) Estereótipo
- Segundo Rodrigues (2015), estereótipos são crenças sobre características que atribuímos a pessoas ou grupos.
O termo foi empregado pelo jornalista americano Walter Lippman ao referir-se à imputação de certas características a
pessoas pertencentes a um determinado grupo. Os psicólogos sociais contemporâneos identificam o estereótipo como
a base cognitiva do preconceito. Como veremos adiante, os sentimentos negativos em relação a um grupo constituiriam
o componente afetivo, e a discriminação, o componente comportamental. O uso do estereótipo na avaliação de
pessoas revela tendência à generalização e à simplificação grosseira no juízo que pretendemos formular sobre alguém,
o que conduzirá, fatalmente, a uma impressão absolutamente imprecisa da pessoa observada.
d) Preconceito e discriminação
- Ainda de acordo com Rodrigues (2015), se o estereótipo é a base cognitiva do preconceito, os sentimentos
negativos em relação a um grupo constituiriam o componente afetivo do preconceito, e, as ações, o componente
comportamental. Em sua essência, o preconceito é uma atitude, sendo assim uma pessoa preconceituosa pode
comportar-se de maneira ofensiva com determinado grupo, por acreditar que aquele grupo possui características
negativas. Tecnicamente, o preconceito pode ser positivo ou negativo. Pode ser, por exemplo, a favor ou contra
estrangeiros, dependendo de sua nacionalidade, se você já supõe, em princípio, que suecos tinham a faculdade de
despertar sentimentos positivos e negativos. No entanto, em Psicologia Social o termo é usado apenas no caso de
atitudes negativas, não levando necessariamente a atos hostis ou comportamentos discriminatórios. Por sua vez,

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quando nos referimos ao comportamento, utilizamos o termo discriminação. Neste caso sentimentos hostis somados
a crenças estereotipadas deságuam numa atuação que pode variar de um tratamento diferenciado a expressões verbais

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de desprezo e a atos manifestos de agressividade. e) Principais conclusões - Pelo exposto acima, podemos identificar
alguns aspectos e características gerais que devem ser evitadas:
I) No processo de percepção de indivíduos interagem três variáveis, a saber: o observador, sujeito da ação; a
pessoa percebida, objeto da ação; e a situação em que ambos (sujeito e objeto) estão envolvidos.
II) O observador deverá evitar a tendência à simplificação e à generalização (que revelam acomodação) no
processo de percepção de pessoas. Deverá tentar formular juízos da forma mais acurada e abrangente possível,
considerando que os outros são indivíduos complexos.

1.2.2 - Motivação e incentivo


Robbins (2009) conceitua a motivação como resultante da interação do indivíduo com a situação e que seu
nível varia tanto de indivíduo para indivíduo, quanto em um mesmo indivíduo em diferentes situações. Afirmou
também que os indivíduos motivados permanecem na realização de suas tarefas até atingirem seus objetivos.
Assim, podemos definir motivo como uma condição interna que leva o indivíduo a agir e persistir em um dado
comportamento, visando um determinado objetivo. Todo comportamento humano é motivado. Nossos atos, mesmo
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os mais rotineiros, têm, por trás de si, motivos que os norteiam. Um conceito importante, relacionado à motivação, é
o de incentivo, de grande utilidade para aqueles que, como os líderes, necessitam influenciar os comportamentos de
outras pessoas.
Incentivos são objetos ou condições que podem despertar motivos ou simplesmente modificar o
comportamento do indivíduo. Só serão eficazes se a intensidade, a direção e a persistência atenderem às necessidades
do indivíduo em determinada circunstância. Vamos exemplificar: o alimento só funcionará como incentivo para alguém
que esteja faminto, não tendo efeito para outra pessoa cuja fome esteja saciada. Visa atender aos fatores extrínsecos
(periféricos) ao indivíduo. Todo aquele que pretende exercer uma liderança efetiva necessita atuar sobre o
comportamento dos membros do grupo liderado, mantendo-o (em caso de recompensas e punições, elogio, censura e
competição).

1.2.3 - Atitude e comportamento


Atitude é um conceito hipotético (como muitos outros em psicologia), isto é, não pode ser diretamente
observável, o que não impede que seu efeito possa ser inferido a partir do comportamento decorrente (o qual, como
vimos, é manifestado pelo sujeito). Podemos, assim, assegurar que o comportamento é a expressão de uma atitude
(ou de uma combinação de atitudes).
Vamos examinar, mais detidamente, a definição enunciada acima. De início, afirma-se que atitude é um
sistema; portanto, compõe-se de partes. Que partes são estas? Uma delas, de caráter racional, é chamada de elemento
cognitivo; é conceitual, ligado, portanto, à consciência do indivíduo. Outra parte componente do sistema de atitudes
de uma pessoa é o elemento afetivo, relacionado a sentimentos e emoções do sujeito; este elemento trata de gostar
(ou não) de um determinado objeto, independente de argumentos racionais.
Um terceiro elemento, chamado comportamental, trata das tendências ou predisposições do indivíduo para agir de
maneira própria.
É importante ressaltar que os elementos citados não atuam isoladamente, mas se interpenetram, imbricam-
se, apresentando uma resultante final que se manifestará através do comportamento por ela gerado. Convém chamar
atenção para outra parte da definição que afirma que as atitudes são sempre relativas a um dado objeto. Os objetos
podem ser pessoas (o pai, o vizinho, o patrão etc.), grupos sociais (negros, judeus, membros de uma seita ou religião,
componentes de um partido político etc.), ideias ou crenças.
O fato é que a liderança, como processo de influenciação, consiste precisamente em atuar no complexo sistema
de atitudes de indivíduos.
A efetiva liderança não se limita à simples manifestação de comportamento, já que esta pode ser meramente
a adesão aparente - e não voluntária e legítima - aos objetivos propostos.

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1.3 - Aspectos Sociológicos


Neste tópico pretende-se estabelecer a relação entre Sociologia e Liderança. Ou seja, a medida pela qual a

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Sociologia fornece alguns conceitos à Liderança, sobre os quais esta pode ser construída.
Assim, como foram desenvolvidos os aspectos filosóficos e psicológicos, vamos examinar conceitos sociológicos
que também possuem relação com a Liderança.
A Sociologia tem como objeto de estudo as sociedades com as suas relações humanas em um amplo sistema
de interações. Importante ressaltar, neste ponto, que o termo “sociedade” não está vinculado à ideia de maior ou
menor ordem de grandeza. Podemos nos referir a sociedades compostas por milhões de seres humanos (a sociedade
brasileira, por exemplo), ou a sociedade de dimensão muito mais modesta (a associação de moradores de um
condomínio).
O que, então, caracteriza uma sociedade? O grau de complexidade das relações internas desta coletividade,
suficientemente amplo para ser analisado do ponto de vista sociológico. Max Weber afirma que uma situação social é
aquela em que as pessoas orientam suas ações umas para as outras.
O resultado desta orientação de forças agindo no seio de uma coletividade é que vai constituir o material de
análise sociológica. Sociólogos concordam que a perspectiva sociológica envolve um processo que vai permitir
examinar as coletividades além das fachadas das estruturas sociais.
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Nesta medida, a sociologia tem como meta mostrar o lado de dentro das sociedades, com o propósito de
refletir, com profundidade, sobre a dinâmica de forças atuantes em dada coletividade. Pode-se verificar o quanto a
Sociologia tem para contribuir em termos de embasamento teórico no estudo e na construção do processo da
Liderança. Para muitos teóricos, a Liderança, dadas as características singulares que envolve, constitui-se em um
processo ímpar de interação social, o que só vem corroborar sua relação com a Sociologia.

1.3.1 - A questão da cultura


O homem, além de um ser natural, é, fundamentalmente, um ser cultural. Todos nós, representantes da
espécie humana, nascemos dentro de determinado contexto cultural, do qual recebemos uma herança social. Podemos
introduzir modificações nesta última e transformá-la, contribuindo para o legado de futuras gerações.
Portanto, podemos definir cultura como tudo que é socialmente aprendido e partilhado pelos membros de
dada sociedade. Esclarecendo melhor, cultura é um termo que pode ter significado elitista, pedagógico ou
antropológico.
Na primeira acepção, refere-se à quantidade de saber em geral (ou em um aspecto específico) que alguém é
capaz de deter; no sentido pedagógico refere-se à formação, à educação, ao cultivo do homem; antropologicamente
trata do conjunto de língua, costumes, técnicas e valores que caracteriza um grupo social, um povo, uma nação.
A língua é, sem dúvida, o primeiro elemento a unir grupos de indivíduos sob um signo comum; é o elemento
catalisador, agente das relações sociais. Mas a língua não é suficiente por si só para caracterizar uma cultura (por
exemplo, o português falado em culturas diversas como a brasileira, a portuguesa e a angolana).
Os costumes abrangem inúmeros aspectos, tais como o vestuário, a alimentação, a música, a religião etc.
Tratam, de fato, do estilo de vida de um povo, sua maneira de lidar com a realidade. Os costumes são relativos ao
comportamento em geral. As técnicas tratam das formas próprias pelas quais culturas diferentes desenvolvem meios
próprios de trabalho e produção de bens; por exemplo formas específicas de trabalhar a terra e desenvolver a
agricultura.
Os valores referem-se a critérios, normas e ideias de uma dada sociedade; Eles têm íntima relação com o
processo de formação de atitudes. Tais normas definem o que é moral ou não no seio de determinada sociedade; esta
cobra determinados comportamentos de seus membros, proibindo outros.
Os sociólogos, em geral, afirmam que, em uma sociedade com um sistema de valores claramente definido e
firmemente implantado, existe muito pouco probabilidade de conduta pessoal desviante. Importante perceber que,
dentro de uma determinada cultura, podemos notar grupos de pessoas que desenvolvem comportamentos próprios,
não compartilhados por todos os membros desta cultura; é o que se define como subcultura.
As subculturas se distinguem umas das outras por traços específicos entre os quais podemos citar a religião, a
ocupação, a faixa etária, a classe social e outros. Claro está que os indivíduos, em geral, participam de várias destas
subculturas, embora todos incluídos na cultura maior de âmbito nacional. Buscando maior especificidade, podemos
constatar que os militares, em geral, em função da peculiaridade de suas atividades profissionais, constituem uma

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subcultura dentro da sociedade brasileira; focalizando mais de perto ainda, podemos afirmar que a Marinha, dentro
das Forças Armadas, em face de suas atribuições muito próprias, constitui-se, igualmente, em uma subcultura.

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No âmbito mesmo da Marinha, podemos distinguir subculturas, correspondentes aos diferentes Corpos
(Armada, Fuzileiros Navais e Intendentes), em função da missão atribuída a cada um deles.
A Liderança, por definição, pressupõe a atuação do líder sobre grupos humanos; os membros destes grupos
são, em geral, oriundos de diferentes subculturas, conceito que acabamos de examinar. Estes indivíduos, ao
ingressarem na Marinha, passarão a integrar-se a esta nova subcultura após um período de adaptação.

1.3.2 - Etnocentrismo
Diretamente decorrente do conceito de cultura, a noção de etnocentrismo é de capital importância, uma vez
que sua prática é muito frequente no interior de grupos humanos. Tal prática consiste em considerar a cultura do
próprio grupo como superior às demais; ou seja, é usada como padrão de referência em relação às outras.
Afirmações do tipo povo eleito, raça superior, verdadeiros fiéis etc., são claramente etnocêntricas. Os
sociólogos afirmam que o etnocentrismo é um produto de cultivo inconsciente, mas que, em maior ou menor escala,
toda raça, classe social, grupo etário ou regional estimulam o etnocentrismo de seus membros. Já que é comum a
prática entre grupos, e tal prática pode ser desenvolvida pelos líderes junto a seus liderados, devemos examiná-la com
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rigor crítico.
O que tem o etnocentrismo de bom e de mau? É aconselhável ou não o estímulo a sua aceitação plena dentro
de um grupo humano? O aspecto positivo refere-se ao fortalecimento da autoestima do grupo, sua lealdade interna e,
consequentemente, sua autopreservação; é fator de estímulo do patriotismo, do nacionalismo, do espírito de corpo e
do "espírito de navio", como dizemos na Marinha.
O aspecto negativo diz respeito à proteção contra eventuais mudanças e a não aceitação de elementos
externos àquela cultura. Se meu grupo é o mais perfeito do mundo, por que mudar? Esta é a pergunta óbvia. Portanto,
o etnocentrismo pode conduzir ao isolamento, à cristalização e à falta de autocrítica no seio do grupo.

1.3.3 - Papel e status


Dentro das sociedades, em geral, papel e status são conceitos fundamentais, já que vivenciados a todo
momento por seus membros. As normas da cultura são retidas através da aprendizagem de papéis; todos nós, ao longo
da existência, devemos aprender a desempenhar vários papéis, como de: cidadão, pai, filho, marido, profissional,
membro de determinada classe social ou de uma religião, e assim por diante. Para tanto, dois aspectos, basicamente,
apoiam a aprendizagem de papéis, quais sejam:
a) aprendemos a cumprir deveres e reivindicar direitos relativos a um dado papel; e
b) devemos adquirir atitudes positivas em relação ao papel.
A formação dos líderes, em geral, pressupõe o atendimento dos dois aspectos acima; além disto, na sua
interação com os liderados é fundamental que o líder atue como um estimulador de atitudes positivas de seus
subordinados. Devemos aprofundar um pouco mais a noção de "papel", estabelecendo o conceito de papel atribuído
e papel adquirido.
Os status e papéis atribuídos independem de escolha do indivíduo e se referem a atribuições por sexo, idade,
raça, nacionalidade, classe social etc. Assim, por exemplo, ser homem, brasileiro e de classe média, formam um
conjunto de papéis atribuídos a determinado indivíduo. Já status e papel adquirido são pertinentes às escolhas do
indivíduo, e são obtidos através de sua capacidade e desempenho. Por exemplo, o status de marido, como o de militar,
é adquirido.
É possível a ocorrência de conflitos entre os diferentes papéis que o indivíduo desempenha na vida, podendo
ocorrer choques entre o status e o desempenho real do papel. Líder é um papel de grande complexidade, entre outras
razões, porque a liderança tem caráter situacional, como será exposto ao longo deste manual.
Isto nos faz constatar que o papel do líder modifica-se em função de eventuais mudanças contextuais. Liderar
em situação de paz, por exemplo, requer atributos muito distintos daqueles da Liderança em situação de combate. Do
líder, portanto, é exigida grande capacidade de flexibilizar sua atuação, em função das diferentes situações em que tal
atuação pode ocorrer.

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1.3.4 - Processos sociais


Os sociólogos Horton e Hunt (1981) definem processos sociais como a interação repetitiva de padrões de

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comportamento comumente encontrados na vida social.


É importante examinarmos alguns destes processos, uma vez que sua ocorrência é frequente no interior dos
grupos humanos. Não nos esqueçamos que o líder, cuja matéria-prima é o grupo liderado, necessita identificar a
existência de tais processos, estimulando-os ou não, em função das especificidades da situação corrente e da natureza
da missão a ser levada a termo. Neste tópico, trataremos dos processos de interação de maior incidência nas
sociedades e grupos humanos. São eles: cooperação, competição e conflito.
a) Cooperação
- Etimologicamente, cooperação significa trabalhar em conjunto. Implica uma opção pelo coletivo em
detrimento do individual. Para tal, torna-se importante o desenvolvimento e o estímulo das habilidades de cada
membro em prol de um objetivo comum. Sob muitos aspectos, é a forma ideal de atuação de grupos.
Se quisermos estabelecer analogias com o mundo animal, verificamos que algumas espécies que caçam em
matilhas, como lobos e hienas, enquanto outras, como abelhas e formigas, trabalham em conjunto, visando a
preservação da colmeia ou do formigueiro. Isto equivale a dizer que a natureza mostra a possibilidade de cooperação,
tanto quanto de competição ou de conflito. As sociedades humanas também são ilustrativas deste processo tanto nos
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menos complexos, como podemos constatar nas pequenas cooperativas agrícolas ou de pesca, quanto nos mais
amplos, como em processos de cooperação científica e cultural entre instituições governamentais, não governamentais
e Estados, como o caso da Organização das Nações Unidas, entre outros.
Ocorre que nem sempre é possível, dentro de um grupo, manter, exclusivamente, o processo cooperativo. Em
função do contexto, das circunstâncias da própria tarefa a realizar, da natureza do grupo, ou das características do
líder, outros processos se desenvolvem.
b) Competição
Tratamos anteriormente deste tema, quando examinamos as bases psicológicas da Liderança. Vamos, agora,
estudar a competição como um dos processos de interação social absolutamente distinto da cooperação. Competição
é definida como a luta pela posse de recompensas cuja oferta é limitada. Tais recompensas incluem dinheiro, poder,
status, amor e muitos outros. Outra forma de descrever o processo competitivo o mostra como a tentativa de obter
uma recompensa superando todos os rivais.
A competição pode ser pessoal (entre um número limitado de concorrentes que se conhecem), ou impessoal
(quando o número de rivais é tal, que se torna impossível o conhecimento entre eles, como ocorre, por exemplo, nos
exames vestibulares ou em concursos públicos).
Alguns sociólogos mais antigos sustentavam que a competição seria uma lei universal, segundo a qual a luta
pela sobrevivência implica eliminação dos mais fracos, em favor da manutenção dos mais fortes; consideravam que a
cooperação e a filantropia, ao permitirem a preservação dos menos capazes, atuavam contra o aprimoramento da
espécie. Modernamente, os especialistas concordam que ambos os processos (cooperação e competição) coexistem e,
até mesmo, sobrepõem-se na maioria das sociedades.
O que varia, em função de diferenças culturais, é a intensidade com que cada um é experimentado. Quando
tratamos da competição sob um ponto de vista psicológico, mencionamos seus efeitos.
Se por um lado ela pode ter o mérito inicial de estimular a atividade dos indivíduos e dos grupos, aumentando-
lhes a produtividade; por outro, pode ter o grave inconveniente de desencorajar os esforços daqueles que se
habituaram a fracassar. Como já citamos, vencedor há um só; todos os demais são perdedores. Para cada gênio a quem
a competição estimulou, é provável que correspondam centenas ou milhares de fracassados, a quem esta mesma
competição desmoralizou. (Horton e Hunt, 1981).
Outro inconveniente sério, decorrente do estímulo à competição, consiste na forte possibilidade de
desenvolvimento de hostilidades e desavenças no interior do grupo, contribuindo para sua desagregação. Além dos
aspectos já citados, a instabilidade inerente ao processo competitivo faz com que este, com bastante frequência, se
transforme em conflito, cuja natureza passaremos a examinar a seguir.
c) Conflito
- Podemos dizer que o conflito é a exacerbação da competição. Uma definição mais específica afirma que tal
processo consiste em obter recompensas pela eliminação ou enfraquecimento dos competidores (e não pela superação
destes, como ocorre no processo de competição). Ou seja, o conflito é uma forma de competição em que a violência

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tende a se instalar, e vai-se intensificando, à medida que aumenta a duração do processo, já que este tem caráter
cumulativo (a cada ato hostil surge uma represália cada vez mais agressiva). Um grupo de modernos sociólogos

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considera o conflito como processo social básico, correspondendo ao estado normal das sociedades; seus protagonistas
rivais podem ser representantes de diferentes classes sociais, de raças distintas, de grupos etários (como o tradicional
conflito de gerações1 ).

1.4 - A teoria dos grupos humanos


No estudo da Liderança, quatro componentes coexistem e interagem; são eles: o líder, os liderados, a cultura
organizacional e a situação. Em face de sua importância, decidimos dedicar um espaço exclusivo aos grupos humanos.
Duas correntes de pensamento manifestam-se com relação à visão que se tem dos grupos.
A primeira delas, difundida no passado, considera a personalidade do grupo como sendo o somatório das
personalidades dos indivíduos que o compõem. A segunda, mais recente, defende que a personalidade do grupo é algo
novo, resultante da combinação das personalidades de seus membros; ou seja, o grupo tem “cara” própria.
A atual psicologia social considera que o estudo desta personalidade do grupo, bem como a influência que este
último exerce sobre cada um de seus membros, faz parte integrante do domínio da Liderança, em geral. O grupo reage
à liderança tanto quanto cada um de seus 1Enquanto na base, a geração Z, dos jovens que nasceram a partir do fim
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dos anos 1990, faz sua estreia no mercado de trabalho, os baby boomers, no topo, – nascidos entre 1946 e 1964 – se
encaminham para aposentadoria. Ligando a base – repleta de novatos – ao topo, o lugar é ainda bastante ocupado por
veteranos, representados por duas letras, que nomeiam gerações: a X (nascidos entre 1960 e 1980) e a Y (nascidos
entre 1981 e meados da década de 1990). Assim, a diversidade etária se faz completa no ambiente corporativo.
À parte o perigo de incorrermos nas generalizações, há distinções que procedem. Entre as principais, está a
dificuldade maior que, em geral, os baby boomers tendem a enfrentar com aparatos tecnológicos em oposição à
extrema facilidade dos profissionais Y e Z neste campo. membros. Tal influência se exerce em dois sentidos: do grupo
sobre o indivíduo e do indivíduo sobre o grupo. Feitas estas considerações iniciais, vamos tentar definir o que é,
efetivamente, um grupo social. O grupo é um ser eminentemente coletivo, uma síntese ou reunião de indivíduos, que
possui uma unidade interna, e como tal é percebido por seus membros.
O grupo não é um simples aglomerado de pessoas; seus membros estão em permanente interação. Ou seja, os
transeuntes em uma rua, ou os passageiros do metrô não se constituem um grupo, já que não atendem às condições
acima. Podemos concluir que a simples proximidade física das pessoas não caracteriza o grupo social e sim a consciência
de interação conjunta. Podemos acrescentar outras definições de grupo, no sentido de facilitar a compreensão do
leitor. Uma delas considera "grupo" um conjunto de diversas pessoas que partilham de características comuns; por
exemplo, os milionários, ou os velhos, ou os indivíduos do sexo masculino, ou os fumantes etc.

CAPÍTULO 2
ASPECTOS TEÓRICOS DA LIDERANÇA
No capítulo anterior, foram apresentadas as noções fundamentais dos aspectos filosóficos, psicológicos e
sociológicos, que interessam ao estudo da Liderança. Embora existam diferentes teorias a respeito do tema, este
capítulo inicia-se esclarecendo as falácias e definindo qual o conceito de liderança será utilizado neste Manual.
Apresenta, ainda, os quatro fatores predisponentes para o exercício desta atividade.

2.1 - Falácias da Liderança


Diversas teorias e abordagens têm sido propaladas sobre Liderança. Algumas delas carregam uma visão
superficial, baseada em estudos não sistematizados, o que compromete sua veracidade. Dentre as várias afirmações
equivocadas, quatro mitos sobressaem:
a) a Liderança é inata (é um dom natural)
– A ideia de que algumas pessoas nascem prontas para liderar, por possuírem algumas características genéticas
específicas, é um mito. Pesquisas mostram que traços de personalidade não são os únicos fatores determinantes para
o exercício da liderança. Uma pessoa que aprimorou suas Competências na área da Inteligência Intrapessoal e
Interpessoal terá mais facilidade para exercer a liderança do que aquela que não as otimizou. Na verdade a liderança

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pode ser desenvolvida em maior ou menor grau por qualquer ser humano, desde que desenvolva suas Competências
para exercer influência sobre outras pessoas. (CORTELLA, 2009; GOLDSMITH, 2007)

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b) Liderança é função da posição (cargo) que ocupa


- A liderança não é advinda de um cargo ou função exercida por um chefe dentro da estrutura organizacional,
onde prevalece a autoridade hierárquica e o poder é exercido somente de cima para baixo (obediência pura). Na
Liderança, este processo, também vertical, é reconhecido de baixo para cima. Os seguidores seguem o Líder
voluntariamente. Por ser ato espontâneo, terá que ser alcançado com muito empenho, por meio de Processos de
Influenciação eficazes.
c) Liderança é popularidade
- Não deve ser uma preocupação do líder a conquista da popularidade junto aos seus seguidores. Ser querido
é sempre bom, mas em muitas situações, o Líder terá de tomar decisões consideradas “amargas”, mas necessárias a
consecução dos objetivos institucionais, o que, provavelmente, irá gerar descontentamento temporário em seus
liderados.
d) Sempre é exercida por um arquétipo da virtude humana
- Caracterizar um Líder sempre como um indivíduo virtuoso, pode ser considerado um estereótipo. O Líder
como todo ser humano, é possuidor de qualidades e defeitos, entretanto, se destaca em algumas circunstâncias, por
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possuir a amplitude de competências necessárias para o eficaz exercício da Liderança em situações adversas
específicas.(CORTELLA, 2009)

2.2 - Conceito de Liderança


A Doutrina de Liderança da Marinha (EMA-137, 1ª Revisão) é taxativo e perfeitamente claro em definir como:
“É um processo que consiste em influenciar pessoas no sentido de que ajam, voluntariamente, em prol do cumprimento
da missão”. Pode ainda ser definida como o processo que permite a alguém dirigir os pensamentos, planos e ações de
outras pessoas, de forma a obter sua obediência, confiança, respeito e leal cooperação. Este conceito é, moralmente,
neutro. O líder pode influenciar para o bem (regida pela virtude) ou para o mal (regida pelo ódio), os objetivos, estes
sim, podem ser questionados moralmente dentro de uma circunstância. (CORTELLA, 2009)

2.3 - Chefiar, Dominar e Manipular


A Chefia é caracterizada pela autoridade, ou seja, pelo poder para ordenar fazer com que (alguém) obedeça,
mesmo que preferisse não fazê-lo, advinda da responsabilidade atribuída à função, associada com aquela decorrente
de seu posto ou graduação (EMA-137, 1ª Revisão). O chefe segue as regras obtidas por meio de alguma formalidade
(por exemplo, um decreto). Detentor dessa autoridade, do poder de se fazer obedecer, o Chefe pode, se não possuir
controle de suas ações, extrapolar para a utilização da violência física ou verbal (coação) ou ameaça psicológica (apelo
à disciplina, aos regulamentos e à obediência pura, coerção). Com a ocorrência dessas ações, a chefia fica desvirtuada,
caracterizando a dominação.
Como mencionado anteriormente, a Liderança é um processo de influenciação de pessoas para que ajam em
prol do alcance de objetivos de interesse de uma instituição. No entanto, quando este suposto Líder é seduzido a usar
seu poder de influenciação em prol de interesses particulares e com propósitos absolutamente pessoais, a liderança
fica desvirtuada, caracterizando a manipulação. Na manipulação, os objetivos não são sociais, estão camuflados e
atendem ao interesse do suposto “líder”. Aquele que usa a sua influência sobre uma pessoa ou grupo para obter
benefícios pessoais, por exemplo, utilizando-se do carisma, pode gerar idolatria, que é o extremo da manipulação.
Segundo Cortella (2009), “todo poder que, em vez de servir, se serve, é um poder que não serve”.

2.4 - Bases da Liderança


São quatro os fatores predisponentes para o exercício da Liderança: autoridade organizacional, autoridade
moral, conhecimento técnico e carisma:
a) A autoridade organizacional:
consiste no direito legal e funcional em exercer o mando. A autoridade organizacional pode provir:
I) do ato de designação para o cargo;
II) de ordem superior.

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b) A autoridade moral:
é consequência da identificação entre o líder e seus liderados no que diz respeito a: valores, crenças, ideias,

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objetivos e metas a atingir.


c) Conhecimento Técnico:
capacidade a respeito do assunto ou tema sobre o qual dá ordens. É fundamental para conquistar a confiança
dos liderados.
d) Carisma:
identificação dos liderados com os traços de personalidade do líder que eles gostariam de ter. O carisma em
alto grau é magnético e hipnótico (exagerada Transferência de Trabalho, pode gerar Idolatria). A pessoa dotada de
carisma poderá exercer esse poder com tanta intensidade que os outros deixam de questionar, deixam de perguntar
os por quês e perdem o poder sobre suas vontades. O seguidor passa a depender dele (Patologia-Seitas, falsos profetas,
cometimento de crimes etc).

2.5 - Níveis de Liderança


Com a evolução das técnicas de gestão empresarial, o foco do estudo sobre o comportamento dos dirigentes
passou a ser voltado para as diferenças entre o líder de base e o de cúpula. Foi então idealizado um padrão de
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organização baseado em três níveis funcionais: operacional, tático e estratégico, discriminando as características
desejáveis para um líder nos três níveis, de acordo com suas habilidades. Em consonância com esses novos conceitos,
foram estabelecidos três níveis de liderança: direta, organizacional e estratégica. Estes três níveis definem com precisão
toda a abrangência da liderança e será adotado ao longo deste manual.
A liderança direta é obtida por meio do relacionamento face a face entre o líder e seus liderados e é mais
presente nos escalões inferiores, quando o contato pessoal é constante.
A liderança direta, conquanto seja mais intensa no comando de pequenas frações ou unidades, tendo em vista
que a estrutura organizacional da Força exige o trato com assessores e subordinados diretos.
A liderança organizacional desenvolve-se em organizações de maior envergadura, normalmente estruturadas
como Estado-Maior, sendo composta por liderança direta, conduzida em menor escala, voltada para os subordinados
imediatos e por delegação de tarefas.
A liderança estratégica militar é aquela exercida nos níveis que definem a política e a estratégia da Força. É
um processo empregado para conduzir a realização de uma visão de futuro desejável e bem delineada.

2.5.1 - Liderança Direta


Essa é a primeira linha de liderança e ocorre em organizações onde os subordinados estão acostumados a ver
seus chefes frequentemente: seções, divisões, departamentos, navios, batalhões, companhias, pelotões e esquadras
de tiro.
Para serem eficazes, os líderes diretos devem possuir muitas habilidades interpessoais, conceituais, técnicas e
táticas. Os líderes diretos aplicam os atributos conceituais de pensamento crítico-lógico e pensamento criativo para
determinar a melhor maneira de cumprir a missão.
Como todo líder, usam a Ética para pautar suas condutas e adquirir certeza de que suas escolhas são as
melhores e contribuem para o aperfeiçoamento da performance do grupo, dos subordinados e deles próprios. Eles
empregam os atributos interpessoais de comunicação e supervisão para realizar o seu trabalho. Desenvolvem seus
liderados por instruções e aconselhamento e os moldam em equipes coesas, treinando-os até a obtenção de um
padrão. Pode-se dizer ainda que são especialistas técnicos e os melhores mentores.
Tanto seus chefes quanto seus subordinados esperam que eles conheçam bem sua equipe, os equipamentos e
que sejam “expert” na área em que atuam. Usam a competência para incrementar a disciplina entre os seus
comandados. Usam o conhecimento dos equipamentos e da doutrina para treinar homens e levá-los a alcançar padrões
elevados, bem como criam e sustentam equipes com habilidade, certeza e confiança no sucesso na paz e na guerra.
Líderes exercem influência continuamente, buscando cumprir a missão, tendo por base os propósitos e
orientações emanadas das decisões e do conceito da operação do chefe, adquirindo e aferindo resultados e motivando
seus subordinados, principalmente pelo exemplo pessoal.

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Devido a sua liderança ser face a face, veem os resultados de suas ações quase imediatamente. Trabalham
focando as atividades de seus subordinados em direção aos objetivos da organização, bem como planejam, preparam,

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executam e controlam os resultados.


Se aperfeiçoam ao assumirem os valores da instituição e ao estabelecerem um modelo de conduta para seus
subordinados, colocando os interesses da instituição e do Grupo que lideram acima dos próprios. Com isto, eles
desenvolvem equipes fortes e coesas em um ambiente de aprendizagem saudável e efetiva.
Os líderes diretos devem, ainda, estimular ao máximo o desenvolvimento de líderes subordinados, de forma a
potencializar a sua influência até os níveis organizacionais mais baixos e obter melhores resultados.

2.5.2 - Liderança Organizacional


Ao contrário do que acontece no nível de liderança direta, onde os líderes planejam, preparam, executam e
controlam diretamente os resultados dos seus trabalhos, a influência dos líderes organizacionais é basicamente
indireta: eles expedem suas políticas e diretivas e incentivam seus liderados por meio de seu staff e comandantes
subordinados.
Devido ao fato de não haver proximidade, os resultados de suas ações são frequentemente menos visíveis e
mais demorados. No entanto, a presença desses líderes em momentos e lugares críticos aumenta a confiança e a
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performance dos seus liderados. Independentemente do tipo de organização que eles chefiem, líderes organizacionais
conduzem operações pela força do exemplo, estimulando os subordinados e supervisionando-os apropriadamente.
Sempre que possível, o líder organizacional deve mostrar sua presença física junto aos escalões subordinados,
seja por intermédio de visitas e mostras, seja por meio de reuniões funcionais com os comandantes subordinados.

2.5.3 - Liderança Estratégica


Líderes estratégicos exercem sua liderança no âmbito dos níveis mais elevados da instituição. Sua influência é
ainda mais indireta e distante do que a dos líderes organizacionais. Desse modo, eles devem desenvolver atributos
adicionais de forma a eliminar ou reduzir esses inconvenientes.
Os líderes estratégicos trabalham para deixar hoje a instituição pronta para o amanhã, ou seja, para enfrentar
os desafios do futuro, oscilando entre a consciência das necessidades nacionais correntes e na missão e objetivos de
longo prazo. Desde que a incerteza quanto às possíveis ameaças não permita uma visualização clara do futuro, a visão
dos líderes estratégicos é especialmente crucial na identificação do que é importante com relação ao pessoal, material,
logística e tecnologia, a fim de subsidiar decisões críticas que irão determinar a estrutura e a capacidade futura da
organização.
Dentro da instituição, os líderes estratégicos constroem o suporte para facilitar a busca dos objetivos finais de
sua visão. Isto significa montar um staff que possa assessorá-los convenientemente a conduzir seus subordinados de
maneira segura e flexível. Para obter o suporte necessário, os líderes estratégicos procuram obter o consenso não só
no âmbito interno da organização, como também trabalhando junto a outros órgãos e instituições a que tenham
acesso, em questões como orçamento, estrutura da Força e outras de interesse, bem como estabelecendo contatos
com representações de outros países e Forças em assuntos de interesse mútuo.
A maneira como eles comunicam as suas políticas e diretivas aos militares e civis subordinados e apresentam
aquelas de interesse aos demais cidadãos vai determinar o nível de compreensão alcançado e o possível apoio para as
novas ideias. Para se fazer entender por essas diversas audiências, os líderes estratégicos empregam múltiplas mídias,
ajustando a mensagem ao público-alvo, sempre reforçando os temas de real interesse da instituição.
Os líderes estratégicos estão decidindo hoje como transformar a Força para o futuro. Eles devem trabalhar
para criar e desenvolver a próxima geração de líderes estratégicos, montar a estrutura para o futuro e pesquisar os
novos sistemas que contribuirão na obtenção do sucesso. Para capitanear as mudanças pessoalmente e levar a
instituição em direção à realização do seu projeto de futuro, esses líderes transformam programas conceituais e
políticos em iniciativas práticas e concretas.
Esse processo envolve uma progressiva alavancagem tecnológica e uma modelagem cultural. Conhecendo a si
mesmos e aos demais “atores” estratégicos, tendo um nítido domínio dos requisitos operacionais, da situação
geopolítica e da sociedade, os líderes estratégicos conduzem adequadamente a Força e contribuem para o
desenvolvimento e a segurança da Nação.

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Tendo em vista que os conflitos nos dias de hoje podem ser desencadeados muito rapidamente, não permitindo
um longo período de mobilização para a guerra – como se fazia no passado –, o sucesso de um líder estratégico significa

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deixar a Força pronta para vencer uma variedade de conflitos no presente e permanecer pronta para enfrentar as
incertezas do futuro.
Em resumo, esses líderes preparam a instituição para o futuro por meio de sua liderança. Isto significa
influenciar pessoas – integrantes da própria organização, membros de outros setores do governo, elites políticas – por
meio de propósitos significativos, direções claras e motivação consistente. Significa, também, acompanhar o desenrolar
das missões atuais, sejam quais forem e buscar aperfeiçoar a instituição – tendo a certeza que o pessoal está adestrado
e de que seus equipamentos e estrutura estão prontos para os futuros desafios.

MATERIAL INTERNO DE USO EXCLUSIVO DOS ALUNOS


Proibida a reprodução total ou parcial.

Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes; porque o Senhor,
teu Deus, é contigo, por
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onde quer que


andares.
(Josué 1:9)”

Sustenta o fogo que a vitória é nossa!

Estamos juntos!
ADSUMUS

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