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MELHOR EQUIPE E MAIOR ÍNDICE DE APROVAÇÃO– ESTAMOS JUNTOS NESSA BATALHA EM BUSCA DA VITÓRIA TEL 3885 0390 7853

0865 - MELHOR EQUIPE E MAIOR ÍNDICE DE APROVAÇÃO Organizada por: AILSON – Processo Seletivo Unificado de Oficiais RM-2 - Marinha do Brasil 2016 – Apostila - I

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Matriz – Rua Dr. Nunes, 1283 – Olaria - RJ. Av. 1º de Março n º 125, Centro – RJ.
Esquina com Av. Brasil, 9001, em frente ao CIAGA (EFOMM) Próximo ao 1º Distrito Naval.
CEP 21021-370 - CNPJ – 10.680.120/0001-30
CNPJ – 10.680.120/0001-11

Tel. 3885-0390 / 7853 0865 / 2263-06621 / ID 24*35 106


Processo Seletivo Unificado de
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Oficiais RM-2 Marinha do Brasil 2016

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A P O S T I L A - I
FORMAÇÃO MILITAR-NAVAL
 Organização Básica da Marinha - Forças Armadas;
 Estratégia Nacional de Defesa;
 Legislação Militar Naval - Estatuto dos Militares
 Relações Humanas e Liderança - Doutrina de Liderança da Marinha
 História Naval
Organização: AILSON CARLOS & VAGNER SOUZA

MATERIAL INTERNO EXCLUSIVO DOS ALUNOS DO PREPARATÓRIO AO


PROCESSO SELETIVO.
Proibida a reprodução total ou parcial.
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ESTAMOS JUNTOS!
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Apresentação
O presente trabalho é mais uma realização do Curso ADSUMUS que tem
por finalidade levar aos candidatos do Concurso do Concurso para o Processo
Seletivo Unificado de Oficiais RM-2 Marinha do Brasil 2016 a Apostila - I
contendo parte do conteúdo bibliográfico estabelecido para o referido
processo seletivo previsto no Edital de Convocação.
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Relembramos aos nossos alunos que a prova conterá um total de 50


questões distribuídas entre as matérias.
Pelo exposto, consideramos de fundamental importância que candidato
tenha foco, estude com afinco a presente Apostila e participe ativamente dos
simulados que além de oferecer uma grande quantidade de questões, estará,

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também, preparando o candidato psicologicamente para o momento mais
importante: a prova.
Bons estudos e boa prova.

Ailson Carlos Almeida


Curso ADSUMUS

Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes; porque o Senhor, teu Deus, é contigo,
por onde quer que andares. (Josué 1:9)”
Sustenta o fogo que a vitória é nossa!

Estamos juntos!
ADSUMUS
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Oficial RM-2 da Marinha do Brasil


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PROGRAMA E BIBLIOGRAFIA SUGERIDA PARA A PROVA OBJETIVA

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DO PROCESSO SELETIVO UNIFICADO DE OFICIAIS – RM2
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO - I – LÍNGUA PORTUGUESA
GRAMÁTICA - Sistema ortográfico em vigor: emprego das letras, acentuação gráfica e uso do sinal indicador de
crase; Morfossintaxe: estrutura e formação de palavras; Classes de palavras e valores sintáticos;
Flexão (nominal e verbal); Frase, oração, período; Estrutura da frase; A ordem de colocação dos
termos na frase; Pontuação; Relações de sentido na construção do período; Concordância (nominal
e verbal); Regência (nominal e verbal); Colocação pronominal; As relações de sentido na construção
do texto: denotação, conotação; ambiguidade e polissemia.
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO - Leitura e análise de textos; Os propósitos do autor e suas
implicações na organização do texto; informações implícitas e explícitas; Tipologia textual e gêneros
discursivos; Os fatores determinantes da textualidade: coesão, coerência, intencionalidade;
aceitabilidade; situacionalidade; informatividade e intertextualidade; Variação linguística: as várias
normas e a variedade padrão; Processos argumentativos.
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO - II – FORMAÇÃO MILITAR-NAVAL
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
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Forças Armadas (FFAA) – Missão Constitucional; Hierarquia e disciplina; e Comandante Supremo


das Forças Armadas; e
ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA – Estratégia Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de
Desenvolvimento; Natureza e Âmbito da Estratégia Nacional de Defesa; Diretrizes da Estratégia
Nacional de Defesa; Marinha do Brasil: a hierarquia dos objetivos estratégicos e táticos.
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Estatuto dos Militares – Hierarquia Militar e disciplina; Cargos e Funções militares; Valor e ética

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militar; Compromisso, comando e subordinação; Violação das obrigações e deveres militares;
Crimes militares; Contravenções ou transgressões disciplinares.
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
Doutrina de Liderança da Marinha – Chefia e Liderança; Aspectos Fundamentais da Liderança;
Estilos de Liderança; Seleção de Estilos de Liderança; Fatores da Liderança; Atributos de um Líder;
Níveis de Liderança.
HISTÓRIA NAVAL
A História da Navegação: Os navios de madeira: construindo embarcações e navios; O desenvolvimento dos
navios portugueses; O desenvolvimento da navegação oceânica: os instrumentos e as cartas de marear; A vida a bordo
dos navios veleiros.
A Expansão Marítima Européia e o Descobrimento do Brasil: Fundamentos da organização do
Estado português e a expansão ultramarina:
Lusitânia; Ordens militares e religiosas; O papel da nobreza; A importância do mar na formação de Portugal;
Desenvolvimento econômico e social; A descoberta do Brasil;

O reconhecimento da costa brasileira:


A expedição de 1501/1502; A expedição de 1502/1503; A expedição de 1503/1504 ; As expedições guarda-costas; A
expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa .
Invasões Estrangeiras ao Brasil:
Invasões francesas no Rio de Janeiro e no Maranhão: Rio de Janeiro; Maranhão; Invasores na foz do
Amazonas: Invasões holandesas na Bahia e em Pernambuco: Holandeses na Bahia; A ocupação do Nordeste brasileiro;
A insurreição em Pernambuco; A derrota dos holandeses em Recife; Corsários franceses no Rio de Janeiro no século
XVIII ; Guerras, tratados e limites no Sul do Brasil.
Formação da Marinha Imperial Brasileira:
A vinda da Família Real; Política externa de D. João e a atuação da Marinha: a conquista de Caiena e a
ocupação da Banda Oriental: A Banda Oriental; A Revolta Nativista de 1817 e a atuação da Marinha; Guerra de
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independência; Elevação do Brasil a Reino Unido; O retorno de D. João VI para Portugal; A Independência; A
Formação de uma Esquadra Brasileira; Operações Navais; Confederação do Equador.
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A Atuação da Marinha nos Conflitos da Regência e do Início do Segundo Reinado:


Conflitos internos; Cabanagem; Guerra dos Farrapos; Sabinada; Balaiada; Revolta Praieira; Conflitos externos;

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Guerra Cisplatina; Guerra contra Oribe e Rosas.
A Atuação da Marinha na Guerra da Tríplice Aliança contra o Governo do Paraguai:
O bloqueio do Rio Paraná e a Batalha Naval do Riachuelo; Navios encouraçados e a invasão do Paraguai;
Curuzu e Curupaiti; Caxias e Inhaúma; Passagem de Curupaiti; Passagem de Humaitá; O recuo das forças paraguaias;
O avanço aliado e a Dezembrada; A ocupação de Assunção e a fase final da guerra.
A Marinha na República: Primeira Guerra Mundial:
Antecedentes; O preparo do Brasil; A Divisão Naval em Operações de Guerra; O Período entre Guerras; A
situação em 1940; Segunda Guerra mundial: Antecedentes; Início das hostilidades e ataques aos nossos navios
mercantes; A Lei de Empréstimo e Arrendamento e modernizações de nossos meios e defesa ativa da costa brasileira;
Defesas Locais; Defesa Ativa; A Força Naval do Nordeste; E o que ficou?
O Emprego Permanente do Poder Naval:
O Poder Naval na guerra e na paz: Classificação; A percepção do Poder Naval; O emprego permanente do Poder
Naval.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
LÍNGUA PORTUGUESA:
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AZEREDO, José Carlos de. Escrevendo pela nova ortografia: como usar as regras do novo acordo ortográfico da língua portuguesa –
2.ed. – São Paulo: Publifolha, 2008.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para Entender o Texto: Leitura e Redação – 17.ed. – São Paulo: Ática, 2007.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2009.
KOCH, Ingedore Villaça; Elias, Vanda Maria. Ler e Compreender: os Sentidos do Texto. São Paulo: Contexto, 2010.
______. Ler e Escrever: Estratégias de Produção Textual. São Paulo: Contexto, 2011.

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LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência nominal – 5.ed. – São Paulo: Ática, 2010.
______. Dicionário prático de regência verbal – 9.ed. – São Paulo: Ática, 2010.
FORMAÇÃO MILITAR-NAVAL
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA:
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Título V. Promulgada em 5 de outubro
de 1988.
_____. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Estratégia Nacional de Defesa. Capítulo 1 (Formulação Sistemática). Diário
Oficial da União.
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL:
BRASIL. Lei nº 6.880, de 9 dezembro de 1980. Estatuto dos Militares. Títulos I e II. Vade Mécum Naval. Diretoria do Patrimônio
Histórico e Documentação da Marinha. ed. rev. Rio de Janeiro, 2009.
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA:
BRASIL. Marinha do Brasil. Estado-Maior da Armada. EMA-137 – Doutrina de Liderança da Marinha. Capítulo 1, rev. 1. Brasília,
DF, 2013. Disponível para Download em: <www.ema.mb/docs/publicacoes/public.html> .
HISTÓRIA NAVAL:
BITTENCOURT, A. de S.; LOUREIRO, M.J.G.; RESTIER JÚNIOR, R.J.P. Jerônimo de Albu-querque e o Comando da Força Naval
contra os Franceses no Maranhão. In. Revista Navigator. V. 7/N.13. Rio de Janeiro, jun/2011. pp. 76-82. Disponível em:
<(http://www.revistanavigator.com.br/navig13/art/N13_art2.pdf)>.
BITTENCOURT, A. de S. Introdução à História Marítima Brasileira. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 2006.
Disponível em: <biblioteca.dphdm.mar.mil.br/downloads_internet.htm>.
VIDIGAL, A.A.F. A Evolução tecnológica no setor naval na segunda metade do século XIX e as consequências para a Marinha do
Brasil. In. Revista Marítima Brasileira. V. 120/N.10-12. Rio de Janeiro, out/dez 2000. pp. 131-197.
OBSERVAÇÃO:
A bibliografia sugerida não limita nem esgota o programa. Serve apenas como orientação para as
bancas elaboradoras de provas e para os voluntários.
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APOSTILA - I
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 Organização Básica da Marinha - Forças Armadas;


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Estratégia Nacional de Defesa;
 Legislação Militar Naval - Estatuto dos Militares
 Relações Humanas e Liderança - Doutrina de Liderança da Marinha

ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA


Forças Armadas (FFAA) – Missão Constitucional; Hierarquia e disciplina; e Comandante
Supremo das Forças Armadas; e
Lei Complementar número 97/99
Art. 1o As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são
instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina,
sob a autoridade suprema do Presidente da República e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia
dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
Parágrafo único. Sem comprometimento de sua destinação constitucional, cabe também às
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Forças Armadas o cumprimento das atribuições subsidiárias explicitadas nesta Lei Complementar.

ART. 17. CABE À MARINHA, COMO ATRIBUIÇÕES SUBSIDIÁRIAS PARTICULARES:


I - orientar e controlar a Marinha Mercante e suas atividades correlatas, no que
interessa à defesa nacional;
II - prover a segurança da navegação aquaviária;

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III - contribuir para a formulação e condução de políticas nacionais que digam
respeito ao mar;
IV - implementar e fiscalizar o cumprimento de leis e regulamentos, no mar e nas
águas interiores, em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, federal ou
estadual, quando se fizer necessária, em razão de competências específicas.
V – cooperar com os órgãos federais, quando se fizer necessário, na repressão
aos delitos de repercussão nacional ou internacional, quanto ao uso do mar, águas
interiores e de áreas portuárias, na forma de apoio logístico, de inteligência, de
comunicações e de instrução.
Parágrafo único. Pela especificidade dessas atribuições, é da competência do
Comandante da Marinha o trato dos assuntos dispostos neste artigo, ficando
designado como "Autoridade Marítima", para esse fim.
Seção II
Do Assessoramento ao Comandante Supremo
Art. 2o O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, NA CONDIÇÃO DE COMANDANTE
SUPREMO das Forças Armadas, é assessorado:
I - no que concerne ao emprego de meios militares, pelo Conselho Militar de
Defesa; e
II - no que concerne aos demais assuntos pertinentes à área militar, pelo Ministro
de Estado da Defesa.
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§ 1o O Conselho Militar de Defesa é composto pelos Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica e pelo Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças
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Armadas.

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§ 2o Na situação prevista no inciso I deste artigo, o Ministro de Estado da Defesa integrará
o Conselho Militar de Defesa na condição de seu Presidente.
As Forças Armadas são subordinadas ao Ministro de Estado da Defesa, dispondo
de estruturas próprias.
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Da Direção Superior das Forças Armadas
Art. 3o-A.
O Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, órgão de assessoramento
permanente do Ministro de Estado da Defesa, tem como chefe um oficial-general do último
posto, da ativa ou da reserva, indicado pelo MD e nomeado pelo PresRep, e disporá de um
comitê, integrado pelos Chefes de Estados-Maiores (CEM) das 3 (três) Forças, sob a coordenação
do Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (CEMCFA).

 Coordenador: CEM Conjunto das Forças


Comite no Estado Maior Armadas. (Reserva)
Conjunto das Forças
 Membro: CEM-MB (Ativa)
Armadas
 Membro: CEM-EB (Ativa)
 Membro: CEM-Ae (Ativa)
§ 1o Se o oficial-general indicado para o cargo de CEMCFA, COMANDANTE DA
MARINHA, EXÉRCITO OU AERONAÚTICA estiver na ativa, será transferido para a
reserva remunerada quando empossado no cargo.
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§ 2o É assegurado ao CEMCFA o mesmo grau de precedência hierárquica dos
Comandantes e precedência hierárquica sobre os demais oficiais-generais das 3 (três) Forças
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Armadas.

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§ 3o É assegurado ao CEMCFA, COMANDANTE DA MARINHA, EXÉRCITO OU
AERONAÚTICA todas as prerrogativas, direitos e deveres do Serviço Ativo, inclusive com a
contagem de tempo de serviço, enquanto estiver em exercício.
Art. 4o A Marinha, o Exército e a Aeronáutica dispõem, singularmente, de 1 (um) Comandante,
indicado pelo MD e nomeado pelo PresRep, o qual, no âmbito de suas atribuições, exercerá a
direção e a gestão da respectiva Força.
Art. 5o Os cargos de CEMCFA, COMANDANTE DA MARINHA, EXÉRCITO OU
AERONAÚTICA são privativos de oficiais-generais do último posto da respectiva Força.
§ 1o É assegurada aos CEMCFA, COMANDANTE DA MARINHA, EXÉRCITO OU
AERONAÚTICA precedência hierárquica sobre os demais oficiais-generais das três Forças
Armadas.
§ 2o Se o oficial-general indicado para o cargo de Comandante da sua respectiva Força
estiver na ativa, será transferido para a reserva remunerada, quando empossado no cargo.
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§ 3o São asseguradas aos CEMCFA, COMANDANTE DA MARINHA, EXÉRCITO OU


AERONAÚTICA todas as prerrogativas, direitos e deveres do Serviço Ativo, inclusive com a
contagem de tempo de serviço, enquanto estiverem em exercício.
Art. 6o O Poder Executivo definirá a competência dos CM, do CE e da CA para a
criação, a denominação, a localização e a definição das atribuições das organizações integrantes das
estruturas das Forças Armadas.

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Art. 7o Compete aos Comandantes das Forças apresentar ao MD a Lista de Escolha,
elaborada na forma da lei, para a promoção aos postos de oficiais-generais e propor-lhe os
oficiais-generais para a nomeação aos cargos que lhes são privativos.
Parágrafo único. O MD, acompanhado do Comandante de cada Força, apresentará os
nomes ao Presidente da República, a quem compete promover os oficiais-generais e nomeá-los
para os cargos que lhes são privativos.
Art. 8o A Marinha, o Exército e a Aeronáutica dispõem de efetivos de pessoal militar e
civil, fixados em lei, e dos meios orgânicos necessários ao cumprimento de sua destinação
constitucional e atribuições subsidiárias.
Parágrafo único. Constituem reserva das Forças Armadas o pessoal sujeito a
incorporação, mediante mobilização ou convocação, pelo MD, por intermédio da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica, bem como as organizações assim definidas em lei.

Art. 9o O MINISTRO DE ESTADO DA DEFESA EXERCE A DIREÇÃO SUPERIOR DAS


FORÇAS ARMADAS, assessorado pelo Conselho Militar de Defesa, órgão permanente de
assessoramento, pelo Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e pelos demais órgãos, conforme
definido em lei.

MISSÃO DA MARINHA
A missão constitucional da MB contempla, essencialmente, o conceito de emprego do Poder
Naval, sendo enunciada da seguinte forma:
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“Preparar e aplicar o Poder Naval, a fim de contribuir para a Defesa da Pátria”.


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8.3 - ORGANIZAÇÃO DO COMANDO DA MARINHA
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Comando da Marinha
(CM)

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Estado Maior da Armada
ALMIRANTADO
(EMA)

COM DGMM
Comando de Operações Diretor Geral de Material da
Navais Marinha

CGCFN DGPM
Comando Geral do CFN Diretor Geral de Pessoal da
Marinha

SGM DGN
Secretaria Geral de Marinha Diretor Geral de Navegação
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Constituição Federal de 1988. Título V.


Da Defesa do Estado e Das Instituições Democráticas
CAPÍTULO I - DO ESTADO DE DEFESA E DO ESTADO DE SÍTIO
Seção I - DO ESTADO DE DEFESA
Subseção I - Do Conselho da República

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Art. 89 - O Conselho da República Art. 91. O Conselho de Defesa Nacional
é órgão SUPERIOR DE CONSULTA do é órgão DE CONSULTA do Presidente da
Presidente da República República nos assuntos relacionados com
a soberania nacional e a defesa do Estado
democrático
I - o Vice-Presidente da República; I - o Vice-Presidente da República;
II - o Presidente da Câmara dos II - o Presidente da Câmara dos
Deputados; Deputados;
III - o Presidente do Senado Federal; III - o Presidente do Senado Federal;
IV - o Ministro da Justiça; IV - o Ministro da Justiça;
V - os líderes da maioria e da minoria na V - o Ministro de Estado da Defesa;
Câmara dos Deputados; VI - o Ministro das Relações Exteriores;
VI - os líderes da maioria e da minoria no VII - o Ministro do Planejamento.
Senado Federal; VIII - os Comandantes da Marinha, do
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com Exército e da Aeronáutica.
mais de trinta e cinco anos de idade,
sendo dois nomeados pelo Presidente
da República, dois eleitos pelo Senado
Federal e dois eleitos pela Câmara dos
Deputados, todos com mandato de
três anos, vedada a recondução.
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Art. 90. Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre:


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I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio;

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II - as questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas.
§ 1º - O Presidente da República poderá convocar Ministro de Estado para participar da
reunião do Conselho, quando constar da pauta questão relacionada com o respectivo
Ministério.
§ 2º - A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho da República.
§ 1º - Compete ao Conselho de Defesa Nacional:
I - opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz, nos termos
desta Constituição;
II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da
intervenção federal;
III - propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do
território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas
relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo;
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IV - estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas necessárias a garantir a


independência nacional e a defesa do Estado democrático.
§ 2º - A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho de Defesa Nacional.

Seção I - DO ESTADO DE DEFESA


(PRESREP DECRETA) PRESERVAR A PAZ

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Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho
de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente
restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social
ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por
calamidades de grandes proporções na natureza.
§ 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua
duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e
limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de:
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
b) sigilo de correspondência;
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de
calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.
§ 2º - O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias,
podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que
justificaram a sua decretação.
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§ 3º - Na vigência do estado de defesa:


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I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por

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este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal,
facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial;
II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico
e mental do detido no momento de sua autuação;
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias,
salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário;
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
§ 4º - Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República,
dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao
Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta.
§ 5º - Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado,
extraordinariamente, no prazo de cinco dias.
§ 6º - O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu
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recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa.


§ 7º - Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa.
Seção II - DO ESTADO DE SÍTIO
(PresRep. SOLICITA AUTORIZAÇÃO AO CN PARA DECRETAR)
(COMOÇÃO NÃO SOLUCIONADA PELO ESTADO DE DEFESA OU DECRETAÇÃO DE
GUERRA)

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Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o
Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para
decretar o estado de sítio nos casos de:
I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a
ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa; (ATÉ 30 DIAS PRORROGÁVEIS
POR IGUAL PERIODO)
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.
(PELO TEMPO QUE DURAR A AGRESSÃO)
Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o
estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes do
pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta.
Art. 138. O decreto do estado de sítio indicará sua duração, as normas necessárias a sua
execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o
Presidente da República designará o executor das medidas específicas e as áreas abrangidas.
§ 1º - O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser decretado por mais de trinta
dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá ser
decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.
§ 2º - Solicitada autorização para decretar o estado de sítio durante o recesso
parlamentar, o Presidente do Senado Federal, de imediato, convocará
extraordinariamente o Congresso Nacional para se reunir dentro de cinco dias, a fim de
apreciar o ato.
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§ 3º - O Congresso Nacional permanecerá em funcionamento até o término das medidas
coercitivas.
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Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só

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poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas: (comoção grave de
repercussão nacional)
I - obrigação de permanência em localidade determinada;
II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à
prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da
lei;
IV - suspensão da liberdade de reunião;
V - busca e apreensão em domicílio;
VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;
VII - requisição de bens.
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de pronunciamentos de
parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa.
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Seção III - DISPOSIÇÕES GERAIS


Art. 140. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes partidários, designará
Comissão composta de cinco de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução
das medidas referentes ao estado de defesa e ao estado de sítio.
Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio, cessarão também seus
efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos ilícitos cometidos por seus

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executores ou agentes.
Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o estado de sítio, as medidas
aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da República, em mensagem ao
Congresso Nacional, com especificação e justificação das providências adotadas, com relação
nominal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas.
CAPÍTULO II - DAS FORÇAS ARMADAS
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente
da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
§ 1º - Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na organização, no
preparo e no emprego das Forças Armadas.
§ 2º - Não caberá "habeas-corpus" em relação a punições disciplinares militares.
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além
das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, são
conferidas pelo Presidente da República e asseguradas em plenitude aos oficiais
da ativa, da reserva ou reformados, sendo-lhes privativos os títulos e postos
militares e, juntamente com os demais membros, o uso dos uniformes das Forças
Armadas;
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II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil
permanente será transferido para a reserva, nos termos da lei;
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III - O militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego

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ou função pública civil temporária, não eletiva, ainda que da administração
indireta, ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto
permanecer nessa situação, ser promovido por antigüidade, contando-se-lhe
o tempo de serviço apenas para aquela promoção e transferência para a
reserva, sendo depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não,
transferido para a reserva, nos termos da lei;
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos
políticos;
VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato
ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter
permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra;
VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de
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liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em julgado, será


submetido ao julgamento previsto no inciso anterior;
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a
estabilidade e outras condições de transferência do militar para a
inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras
situações especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de suas atividades,

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inclusive aquelas cumpridas por força de compromissos internacionais e de guerra.

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.


§ 1º - às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos
que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal
o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de
atividades de caráter essencialmente militar.
§ 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em
tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.

CAPÍTULO III
DA SEGURANÇA PÚBLICA
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
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§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
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I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,

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serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de
competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias
federais.
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União
e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias
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federais.
§ 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações
penais, exceto as militares.
§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem
pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe

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a execução de atividades de defesa civil.
§ 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e
reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 7º - A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela
segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
§ 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus
bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será
fixada na forma do § 4º do art. 39.
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Estratégia Nacional de Defesa – Estratégia Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de
Desenvolvimento; Natureza e Âmbito da Estratégia Nacional de Defesa; Diretrizes da Estratégia
Nacional de Defesa; Marinha do Brasil: a hierarquia dos objetivos estratégicos e táticos.

Introdução

O Brasil é pacífico por tradição e por convicção. Vive em paz com seus vizinhos. Rege suas
relações internacionais, dentre outros, pelos princípios constitucionais da não-intervenção, defesa
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da paz e solução pacífica dos conflitos. Esse traço de pacifismo é parte da identidade nacional e um
valor a ser conservado pelo povo brasileiro.

País em desenvolvimento, o Brasil ascenderá ao primeiro plano no mundo sem exercer


hegemonia ou dominação. O povo brasileiro não deseja exercer mando sobre outros povos. Quer
que o Brasil se engrandeça sem imperar.

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Talvez por isso nunca tenha sido realizado no Brasil, em toda a sua história, amplo debate
sobre os assuntos de defesa. Periodicamente, os governos autorizavam a compra ou a produção de
novos materiais de defesa e introduziam reformas pontuais nas Forças Armadas. No entanto, nunca
propuseram uma estratégia nacional de defesa para orientar de forma sistemática a reorganização e
reorientação das Forças Armadas; a organização da indústria de material de defesa, com a
finalidade de assegurar a autonomia operacional para as três Forças: a Marinha, o Exército e a
Aeronáutica; e a política de composição dos seus efetivos, sobretudo a reconsideração do Serviço
Militar Obrigatório.

Porém, se o Brasil quiser ocupar o lugar que lhe cabe no mundo, precisará estar preparado
para defender-se não somente das agressões, mas também das ameaças. Vive-se em um mundo em
que a intimidação tripudia sobre a boa fé. Nada substitui o envolvimento do povo brasileiro no
debate e na construção da sua própria defesa.

Estratégia Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Desenvolvimento

1.Estratégia nacional de defesa é inseparável de estratégia nacional de desenvolvimento. Esta


motiva aquela. Aquela fornece escudo para esta. Cada uma reforça as razões da outra. Em ambas,
se desperta para a nacionalidade e constrói-se a Nação. Defendido, o Brasil terá como dizer não,
quando tiver que dizer não. Terá capacidade para construir seu próprio modelo de
desenvolvimento.
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2.Difícil – e necessário – é para um País que pouco trato teve com guerras convencer-se da
necessidade de defender-se para poder construir-se. Não bastam, ainda que sejam proveitosos e até
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mesmo indispensáveis, os argumentos que invocam as utilidades das tecnologias e dos

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conhecimentos da defesa para o desenvolvimento do País. Os recursos demandados pela defesa
exigem uma transformação de consciências para que se constitua uma estratégia de defesa para o
Brasil.

3.Difícil – e necessário – é para as Forças Armadas de um País tão pacífico como o Brasil
manterem, em meio à paz, o impulso de se prepararem para o combate e de cultivarem, em prol
desse preparo, o hábito da transformação.

Disposição para mudar é o que a Nação está a exigir agora de seus marinheiros, soldados e
aviadores. Não se trata apenas de financiar e de equipar as Forças Armadas. Trata-se de
transformá-las, para melhor defenderem o Brasil.

4.Projeto forte de defesa favorece projeto forte de desenvolvimento. Forte é o


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projeto de desenvolvimento que, sejam quais forem suas demais orientações, se guie
pelos seguintes princípios:

a) Independência nacional, efetivada pela mobilização de recursos físicos, econômicos e


humanos, para o investimento no potencial produtivo do País. Aproveitar a poupança estrangeira,
sem dela depender;

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b) Independência nacional, alcançada pela capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos
estratégicos setores espacial, cibernético e nuclear. Não é independente quem não tem o domínio
das tecnologias sensíveis, tanto para a defesa como para o desenvolvimento; e

c) Independência nacional, assegurada pela democratização de oportunidades educativas e


econômicas e pelas oportunidades para ampliar a participação popular nos processos decisórios da
vida política e econômica do País. O Brasil não será independente enquanto faltar para parcela do
seu povo condições para aprender, trabalhar e produzir.

Natureza e âmbito da Estratégia Nacional de Defesa

1.A Estratégia Nacional de Defesa é o vínculo entre o conceito e a política de independência


nacional, de um lado, e as Forças Armadas para resguardar essa independência, de outro. Trata de
questões políticas e institucionais decisivas para a defesa do País, como os objetivos da sua “grande
estratégia” e os meios para fazer com que a Nação participe da defesa. Aborda, também, problemas
propriamente militares, derivados da influência dessa “grande estratégia” na orientação e nas
práticas operacionais das três Forças.

A Estratégia Nacional de Defesa será complementada por planos para a paz e para a guerra,
concebidos para fazer frente a diferentes hipóteses de emprego.
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2.A Estratégia Nacional de Defesa organiza-se em torno de três eixos estruturantes.


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O primeiro eixo estruturante diz respeito a como as Forças Armadas devem-se organizar e
orientar para melhor desempenharem sua destinação constitucional e suas atribuições na paz e na
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guerra. Enumeram-se diretrizes estratégicas relativas a cada uma das Forças e especifica-se a

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relação que deve prevalecer entre elas. Descreve-se a maneira de transformar tais diretrizes em
práticas e capacitações operacionais e propõe-se a linha de evolução tecnológica necessária para
assegurar que se concretizem.

A análise das hipóteses de emprego das Forças Armadas - para resguardar o espaço aéreo, o
território e as águas jurisdicionais brasileiras - permite dar foco mais preciso às diretrizes
estratégicas. Nenhuma análise de hipóteses de emprego pode, porém, desconsiderar as ameaças do
futuro. Por isso mesmo, as diretrizes estratégicas e as capacitações operacionais precisam
transcender o horizonte imediato que a experiência e o entendimento de hoje permitem
descortinar.

Ao lado da destinação constitucional, das atribuições, da cultura, dos costumes e das


competências próprias de cada Força e da maneira de sistematizá-las em estratégia de defesa
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integrada, aborda-se o papel de três setores decisivos para a defesa nacional: o espacial, o
cibernético e o nuclear. Descreve-se como as três Forças devem operar em rede - entre si e em
ligação com o monitoramento do território, do espaço aéreo e das águas jurisdicionais brasileiras.

O segundo eixo estruturante refere-se à reorganização da indústria nacional de material de


defesa, para assegurar que o atendimento das necessidades de equipamento das Forças Armadas

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apóie-se em tecnologias sob domínio nacional.

O terceiro eixo estruturante versa sobre a composição dos efetivos das Forças Armadas e,
conseqüentemente, sobre o futuro do Serviço Militar Obrigatório. Seu propósito é zelar para que as
Forças Armadas reproduzam, em sua composição, a própria Nação - para que elas não sejam uma
parte da Nação, pagas para lutar por conta e em benefício das outras partes. O Serviço Militar
Obrigatório deve, pois, funcionar como espaço republicano, no qual possa a Nação encontrar-se
acima das classes sociais.

Diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa.

Pauta-se a Estratégia Nacional de Defesa pelas seguintes diretrizes.

1.Dissuadir a concentração de forças hostis nas fronteiras terrestres, nos limites das águas
jurisdicionais brasileiras, e impedir-lhes o uso do espaço aéreo nacional.

Para dissuadir, é preciso estar preparado para combater. A tecnologia, por mais avançada que
seja, jamais será alternativa ao combate. Será sempre instrumento do combate.

2.Organizar as Forças Armadas sob a égide do trinômio monitoramento/controle, mobilidade


e presença.
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Esse triplo imperativo vale, com as adaptações cabíveis, para cada Força. Do trinômio resulta
a definição das capacitações operacionais de cada uma das Forças.
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3.Desenvolver as capacidades de monitorar e controlar o espaço aéreo, o território e as águas
jurisdicionais brasileiras.

Tal desenvolvimento dar-se-á a partir da utilização de tecnologias de monitoramento


terrestre, marítimo, aéreo e espacial que estejam sob inteiro e incondicional domínio nacional.

4.Desenvolver, lastreado na capacidade de monitorar/controlar, a capacidade de responder


prontamente a qualquer ameaça ou agressão: a mobilidade estratégica.

A mobilidade estratégica - entendida como a aptidão para se chegar rapidamente ao teatro de


operações – reforçada pela mobilidade tática – entendida como a aptidão para se mover dentro
daquele teatro - é o complemento prioritário do monitoramento/controle e uma das bases do poder
de combate, exigindo das Forças Armadas ação que, mais do que conjunta, seja unificada.
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O imperativo de mobilidade ganha importância decisiva, dadas a vastidão do espaço a


defender e a escassez dos meios para defendê-lo. O esforço de presença, sobretudo ao longo das
fronteiras terrestres e nas partes mais estratégicas do litoral, tem limitações intrínsecas. É a
mobilidade que permitirá superar o efeito prejudicial de tais limitações.

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5.Aprofundar o vínculo entre os aspectos tecnológicos e os operacionais da mobilidade, sob a
disciplina de objetivos bem definidos.

Mobilidade depende de meios terrestres, marítimos e aéreos apropriados e da maneira de


combiná-los. Depende, também, de capacitações operacionais que permitam aproveitar ao máximo
o potencial das tecnologias do movimento.

O vínculo entre os aspectos tecnológicos e operacionais da mobilidade há de se realizar de


maneira a alcançar objetivos bem definidos. Entre esses objetivos, há um que guarda relação
especialmente próxima com a mobilidade: a capacidade de alternar a concentração e a
desconcentração de forças com o propósito de dissuadir e combater a ameaça.

6.Fortalecer três setores de importância estratégica: o espacial, o cibernético e o nuclear.

Esse fortalecimento assegurará o atendimento ao conceito de flexibilidade.

Como decorrência de sua própria natureza, esse setores transcendem a divisão entre
desenvolvimento e defesa, entre o civil e o militar.

Os setores espacial e cibernético permitirão, em conjunto, que a capacidade de visualizar o


próprio país não dependa de tecnologia estrangeira e que as três Forças, em conjunto, possam atuar
em rede, instruídas por monitoramento que se faça também a partir do espaço.
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O Brasil tem compromisso - decorrente da Constituição Federal e da adesão ao Tratado de

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Não Proliferação de Armas Nucleares - com o uso estritamente pacífico da energia nuclear.
Entretanto, afirma a necessidade estratégica de desenvolver e dominar a tecnologia nuclear. O
Brasil precisa garantir o equilíbrio e a versatilidade da sua matriz energética e avançar em áreas,
tais como as de agricultura e saúde, que podem se beneficiar da tecnologia de energia nuclear. E
levar a cabo, entre outras iniciativas que exigem independência tecnológica em matéria de energia
nuclear, o projeto do submarino de propulsão nuclear.

7.Unificar as operações das três Forças, muito além dos limites impostos pelos protocolos de
exercícios conjuntos.

Os instrumentos principais dessa unificação serão o Ministério da Defesa e o Estado-Maior de


Defesa, a ser reestruturado como Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Devem ganhar
dimensão maior e responsabilidades mais abrangentes.
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O Ministro da Defesa exercerá, na plenitude, todos os poderes de direção das Forças Armadas
que a Constituição e as leis não reservarem, expressamente, ao Presidente da República.

A subordinação das Forças Armadas ao poder político constitucional é pressuposto do regime


republicano e garantia da integridade da Nação.

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Os Secretários do Ministério da Defesa serão livremente escolhidos pelo Ministro da Defesa,
entre cidadãos brasileiros, militares das três Forças e civis, respeitadas as peculiaridades e as
funções de cada secretaria. As iniciativas destinadas a formar quadros de especialistas civis em
defesa permitirão, no futuro, aumentar a presença de civis em postos dirigentes no Ministério da
Defesa. As disposições legais em contrário serão revogadas.

O Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas será chefiado por um oficial-general de último
posto, e terá a participação dos Chefes dos Estados-Maiores das três Forças. Será subordinado
diretamente ao Ministro da Defesa. Construirá as iniciativas que dêem realidade prática à tese da
unificação doutrinária, estratégica e operacional e contará com estrutura permanente que lhe
permita cumprir sua tarefa.

A Marinha, o Exército e a Aeronáutica disporão, singularmente, de um Comandante,


nomeado pelo Presidente da República e indicado pelo Ministro da Defesa. O Comandante de
Força, no âmbito das suas atribuições, exercerá a direção e a gestão da sua Força, formulará a sua
política e doutrina e preparará seus órgãos operativos e de apoio para o cumprimento da destinação
constitucional.

Os Estados-Maiores das três Forças, subordinados a seus Comandantes, serão os agentes da


formulação estratégica em cada uma delas, sob a orientação do respectivo comandante.
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8.Reposicionar os efetivos das três Forças.
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As principais unidades do Exército estacionam no Sudeste e no Sul do Brasil. A esquadra da

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Marinha concentra-se na cidade do Rio de Janeiro. As instalações tecnológicas da Força Aérea
estão quase todas localizadas em São José dos Campos, em São Paulo. As preocupações mais
agudas de defesa estão, porém, no Norte, no Oeste e no Atlântico Sul.

Sem desconsiderar a necessidade de defender as maiores concentrações demográficas e os


maiores centros industriais do País, a Marinha deverá estar mais presente na região da foz do
Amazonas e nas grandes bacias fluviais do Amazonas e do Paraguai-Paraná. O Exército deverá
posicionar suas reservas estratégicas no centro do País, de onde poderão se deslocar em qualquer
direção. Deverá também o Exército agrupar suas reservas regionais nas respectivas áreas, para
possibilitar a resposta imediata na crise ou no conflito armado.

Pelas mesmas razões que exigem a formação do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas,
os Distritos Navais ou Comandos de Área das três Forças terão suas áreas de jurisdição
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coincidentes, ressalvados impedimentos decorrentes de circunstâncias locais ou específicas. Os


oficiais-generais que comandarem, por conta de suas respectivas Forças, um Distrito Naval ou
Comando de Área, reunir-se-ão regularmente, acompanhados de seus principais assessores, para
assegurar a unidade operacional das três Forças naquela área. Em cada área deverá ser estruturado
um Estado-Maior Conjunto, que será ativado para realizar e atualizar, desde o tempo de paz, os
planejamentos operacionais da área.

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9.Adensar a presença de unidades do Exército, da Marinha e da Força Aérea nas fronteiras.

Deve-se ter claro que, dadas as dimensões continentais do território nacional, presença não
pode significar onipresença. A presença ganha efetividade graças à sua relação com
monitoramento/controle e com mobilidade.

Nas fronteiras terrestres e nas águas jurisdicionais brasileiras, as unidades do Exército, da


Marinha e da Força Aérea têm, sobretudo, tarefas de vigilância. No cumprimento dessas tarefas, as
unidades ganham seu pleno significado apenas quando compõem sistema integrado de
monitoramento/controle, feito, inclusive, a partir do espaço. Ao mesmo tempo, tais unidades
potencializam-se como instrumentos de defesa, por meio de seus vínculos com as reservas táticas e
estratégicas. Os vigias alertam. As reservas respondem e operam. E a eficácia do emprego das
reservas táticas regionais e estratégicas é proporcional à capacidade de elas atenderem à exigência
da mobilidade.

10.Priorizar a região amazônica.

A Amazônia representa um dos focos de maior interesse para a defesa. A defesa da Amazônia
exige avanço de projeto de desenvolvimento sustentável e passa pelo trinômio
monitoramento/controle, mobilidade e presença.
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O Brasil será vigilante na reafirmação incondicional de sua soberania sobre a Amazônia
brasileira. Repudiará, pela prática de atos de desenvolvimento e de defesa, qualquer tentativa de
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tutela sobre as suas decisões a respeito de preservação, de desenvolvimento e de defesa da

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Amazônia. Não permitirá que organizações ou indivíduos sirvam de instrumentos para interesses
estrangeiros - políticos ou econômicos - que queiram enfraquecer a soberania brasileira. Quem
cuida da Amazônia brasileira, a serviço da humanidade e de si mesmo, é o Brasil.

11.Desenvolver, para fortalecer a mobilidade, a capacidade logística, sobretudo na região


amazônica.

Daí a importância de se possuir estruturas de transporte e de comando e controle que possam


operar em grande variedade de circunstâncias, inclusive sob as condições extraordinárias impostas
por um conflito armado.

12.Desenvolver, para atender aos requisitos de monitoramento/controle, mobilidade e


presença, o conceito de flexibilidade no combate.
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Isso exigirá, sobretudo na Força Terrestre, que as forças convencionais cultivem alguns
predicados atribuídos a forças não-convencionais.

Somente Forças Armadas com tais predicados estarão aptas para operar no amplíssimo
espectro de circunstâncias que o futuro poderá trazer.

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A conveniência de assegurar que as forças convencionais adquiram predicados comumente
associados a forças não-convencionais pode parecer mais evidente no ambiente da selva
amazônica. Aplicam-se eles, porém, com igual pertinência, a outras áreas do País. Não é uma
adaptação a especificidades geográficas localizadas. É resposta a uma vocação estratégica geral.

13.Desenvolver, para atender aos requisitos de monitoramento/controle, mobilidade e


presença, o repertório de práticas e de capacitações operacionais dos combatentes.

Cada homem e mulher a serviço das Forças Armadas há de dispor de três ordens de meios e
de habilitações.

Em primeiro lugar, cada combatente deve contar com meios e habilitações para atuar em
rede, não só com outros combatentes e contingentes de sua própria Força, mas também com
combatentes e contingentes das outras Forças. As tecnologias de comunicações, inclusive com os
veículos que monitorem a superfície da terra e do mar a partir do espaço, devem ser encaradas
como instrumentos potencializadores de iniciativas de defesa e de combate. Esse é o sentido do
requisito de monitoramento e controle e de sua relação com as exigências de mobilidade e de
presença.

Em segundo lugar, cada combatente deve dispor de tecnologias e de conhecimentos que


permitam radicalizar, em qualquer teatro de operações, terrestre ou marítimo, o imperativo de
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mobilidade. É a esse imperativo, combinado com a capacidade de combate, que devem servir as
plataformas e os sistemas de armas à disposição do combatente.
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Em terceiro lugar, cada combatente deve ser treinado para abordar o combate de modo a
atenuar as formas rígidas e tradicionais de comando e controle, em prol da flexibilidade, da
adaptabilidade, da audácia e da surpresa no campo de batalha. Esse combatente será, ao mesmo
tempo, um comandado que sabe obedecer, exercer a iniciativa na ausência de ordens específicas e
orientar-se em meio às incertezas e aos sobressaltos do combate - e uma fonte de iniciativas - capaz
de adaptar suas ordens à realidade da situação mutável em que se encontra.

Ganha ascendência no mundo um estilo de produção industrial marcado pela atenuação de


contrastes entre atividades de planejamento e de execução e pela relativização de especializações
rígidas nas atividades de execução. Esse estilo encontra contrapartida na maneira de fazer a guerra,
cada vez mais caracterizada por extrema flexibilidade. O desdobramento final dessa trajetória é
esmaecer o contraste entre forças convencionais e não-convencionais, não em relação aos
armamentos com que cada uma delas possa contar, senão no radicalismo com que ambas praticam
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o conceito de flexibilidade.

14.Promover a reunião, nos militares brasileiros, dos atributos e predicados exigidos pelo
conceito de flexibilidade.

O militar brasileiro precisa reunir qualificação e rusticidade. Necessita dominar as tecnologias

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e as práticas operacionais exigidas pelo conceito de flexibilidade. Deve identificar-se com as
peculiaridades e características geográficas exigentes ou extremas que existem no País. Só assim
realizar-se-á, na prática, o conceito de flexibilidade, dentro das características do território nacional
e da situação geográfica e geopolítica do Brasil.

15.Rever, a partir de uma política de otimização do emprego de recursos humanos, a


composição dos efetivos das três Forças, de modo a dimensioná-las para atender adequadamente
ao disposto na Estratégia Nacional de Defesa.

16. Estruturar o potencial estratégico em torno de capacidades.

Convém organizar as Forças Armadas em torno de capacidades, não em torno de inimigos


específicos. O Brasil não tem inimigos no presente. Para não tê-los no futuro, é preciso preservar a
paz e preparar-se para a guerra.

17.Preparar efetivos para o cumprimento de missões de garantia da lei e da ordem, nos termos
da Constituição Federal.

O País cuida para evitar que as Forças Armadas desempenhem papel de polícia. Efetuar
operações internas em garantia da lei e da ordem, quando os poderes constituídos não conseguem
garantir a paz pública e um dos Chefes dos três Poderes o requer, faz parte das responsabilidades
constitucionais das Forças Armadas. A legitimação de tais responsabilidades pressupõe, entretanto,
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legislação que ordene e respalde as condições específicas e os procedimentos federativos que dêem
ensejo a tais operações, com resguardo de seus integrantes.
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18.Estimular a integração da América do Sul.

Essa integração não somente contribuirá para a defesa do Brasil, como possibilitará fomentar
a cooperação militar regional e a integração das bases industriais de defesa. Afastará a sombra de
conflitos dentro da região. Com todos os países avança-se rumo à construção da unidade sul-
americana. O Conselho de Defesa Sul-Americano, em debate na região, criará mecanismo
consultivo que permitirá prevenir conflitose fomentar a cooperação militar regional e a integração
das bases industriais de defesa, sem que dele participe país alheio à região.

19.Preparar as Forças Armadas para desempenharem responsabilidades crescentes em


operações de manutenção da paz.

Em tais operações, as Forças agirão sob a orientação das Nações Unidas ou em apoio a
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iniciativas de órgãos multilaterais da região, pois o fortalecimento do sistema de segurança coletiva


é benéfico à paz mundial e à defesa nacional.

20.Ampliar a capacidade de atender aos compromissos internacionais de busca e salvamento.

É tarefa prioritária para o País o aprimoramento dos meios existentes e da capacitação do

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pessoal envolvido com as atividades de busca e salvamento no território nacional, nas águas
jurisdicionais brasileiras e nas áreas pelas quais o Brasil é responsável, em decorrência de
compromissos internacionais.

21.Desenvolver o potencial de mobilização militar e nacional para assegurar a capacidade


dissuasória e operacional das Forças Armadas.

Diante de eventual degeneração do quadro internacional, o Brasil e suas Forças Armadas


deverão estar prontos para tomar medidas de resguardo do território, das linhas de comércio
marítimo e plataformas de petróleo e do espaço aéreo nacionais. As Forças Armadas deverão,
também, estar habilitadas a aumentar rapidamente os meios humanos e materiais disponíveis para
a defesa. Exprime-se o imperativo de elasticidade em capacidade de mobilização nacional e militar.

Ao decretar a mobilização nacional, o Poder Executivo delimitará a área em que será realizada
e especificará as medidas necessárias à sua execução, tais como poderes para assumir o controle de
recursos materiais, inclusive meios de transporte, necessários à defesa, de acordo com a Lei de
Mobilização Nacional. A mobilização militar demanda a organização de uma força de reserva,
mobilizável em tais circunstâncias. Reporta-se, portanto, à questão do futuro do Serviço Militar
Obrigatório.

Sem que se assegure a elasticidade para as Forças Armadas, seu poder dissuasório e defensivo
ficará comprometido.
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22.Capacitar a indústria nacional de material de defesa para que conquiste autonomia em
tecnologias indispensáveis à defesa.
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Regime jurídico, regulatório e tributário especiais protegerá as empresas privadas nacionais
de material de defesa contra os riscos do imediatismo mercantil e assegurará continuidade nas
compras públicas. A contrapartida a tal regime especial será, porém, o poder estratégico que o
Estado exercerá sobre tais empresas, a ser assegurado por um conjunto de instrumentos de direito
privado ou de direito público.

Já o setor estatal de material de defesa terá por missão operar no teto tecnológico,
desenvolvendo as tecnologias que as empresas privadas não possam alcançar ou obter, a curto ou
médio prazo, de maneira rentável.

A formulação e a execução da política de compras de produtos de defesa serão


centralizadas no Ministério da Defesa, sob a responsabilidade de uma secretaria de produtos de
defesa. , admitida delegação na sua execução.
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A indústria nacional de material de defesa será incentivada a competir em mercados externos


para aumentar a sua escala de produção. A consolidação da União de Nações Sul-Americanas
poderá atenuar a tensão entre o requisito da independência em produção de defesa e a necessidade
de compensar custo com escala, possibilitando o desenvolvimento da produção de defesa em
conjunto com outros países da região.

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Serão buscadas parcerias com outros países, com o propósito de desenvolver a capacitação
tecnológica e a fabricação de produtos de defesa nacionais, de modo a eliminar, progressivamente,
a compra de serviços e produtos importados.

Sempre que possível, as parcerias serão construídas como expressões de associação


estratégica mais abrangente entre o Brasil e o país parceiro. A associação será manifestada em
colaborações de defesa e de desenvolvimento e será pautada por duas ordens de motivações
básicas: a internacional e a nacional.

A motivação de ordem internacional será trabalhar com o país parceiro em prol de um maior
pluralismo de poder e de visão no mundo. Esse trabalho conjunto passa por duas etapas. Na
primeira etapa, o objetivo é a melhor representação de países emergentes, inclusive o Brasil, nas
organizações internacionais – políticas e econômicas – estabelecidas. Na segunda, o alvo é a
reestruturação das organizações internacionais, inclusive a do regime internacional de comércio,
para que se tornem mais abertas às divergências, às inovações e aos experimentos do que são as
instituições nascidas ao término da Segunda Guerra Mundial.

A motivação de ordem nacional será contribuir para a ampliação das instituições que
democratizem a economia de mercado e aprofundem a democracia, organizando o crescimento
econômico socialmente includente. O método preferido desse trabalho é o dos experimentos
binacionais: as iniciativas desenvolvidas em conjunto com os países parceiros.
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23.Manter o Serviço Militar Obrigatório.
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O Serviço Militar Obrigatório é condição para que se possa mobilizar o povo brasileiro em

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defesa da soberania nacional. É, também, instrumento para afirmar a unidade da Nação acima das
divisões das classes sociais.

O objetivo, a ser perseguido gradativamente, é tornar o Serviço Militar realmente obrigatório.


Como o número dos alistados anualmente é muito maior do que o número de recrutas de que
precisam as Forças Armadas, deverão elas selecioná-los segundo o vigor físico, a aptidão e a
capacidade intelectual, em vez de permitir que eles se auto-selecionem, cuidando para que todas as
classes sociais sejam representadas.

No futuro, convirá que os que forem desobrigados da prestação do serviço militar obrigatório
sejam incentivados a prestar um serviço civil, de preferência em região do País diferente da região
das quais se originam. Prestariam o serviço de acordo com a natureza de sua instrução
preexistente, além de receber instrução nova. O serviço seria, portanto, ao mesmo tempo
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oportunidade de aprendizagem, expressão de solidariedade e instrumento de unidade nacional. Os


que o prestassem receberiam treinamento militar básico que embasasse eventual mobilização
futura. E passariam a compor força de reserva mobilizável.

Devem as escolas de formação de oficiais das três Forças continuarem a atrair candidatos de
todas as classes sociais. É ótimo que número cada vez maior deles provenha da classe trabalhadora.

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É necessário, porém, que os efetivos das Forças Armadas sejam formados por cidadãos oriundos de
todas as classes sociais. Essa é uma das razões pelas quais a valorização da carreira, inclusive em
termos remuneratórios, representa exigência de segurança nacional.

A Marinha do Brasil: a hierarquia dos objetivos estratégicos e táticos.

1.Na maneira de conceber a relação entre as tarefas estratégicas de negação do uso do mar, de
controle de áreas marítimas e de projeção de poder, a Marinha do Brasil se pautará por um
desenvolvimento desigual e conjunto. Se aceitasse dar peso igual a todos os três objetivos, seria
grande o risco de ser medíocre em todos eles. Embora todos mereçam ser cultivados, o serão em
determinadas ordem e seqüência.

A prioridade é assegurar os meios para negar o uso do mar a qualquer concentração de forças
inimigas que se aproxime do Brasil por via marítima. A negação do uso do mar ao inimigo é a que
organiza, antes de atendidos quaisquer outros objetivos estratégicos, a estratégia de defesa
marítima do Brasil. Essa prioridade tem implicações para a reconfiguração das forças navais.

Ao garantir seu poder para negar o uso do mar ao inimigo, precisa o Brasil manter a
capacidade focada de projeção de poder e criar condições para controlar, no grau necessário à
defesa e dentro dos limites do direito internacional, as áreas marítimas e águas interiores de
importância político-estratégica, econômica e militar, e também as suas linhas de comunicação
marítimas. A despeito desta consideração, a projeção de poder se subordina, hierarquicamente, à
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negação do uso do mar.


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A negação do uso do mar, o controle de áreas marítimas e a projeção de poder
devem ter por foco, sem hierarquização de objetivos e de acordo com as
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circunstâncias:

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(a) defesa pró-ativa das plataformas petrolíferas;

(b) defesa pró-ativa das instalações navais e portuárias, dos arquipélagos e das ilhas oceânicas
nas águas jurisdicionais brasileiras;

(c) prontidão para responder a qualquer ameaça, por Estado ou por forças não-convencionais
ou criminosas, às vias marítimas de comércio;

(d) capacidade de participar de operações internacionais de paz, fora do território e das águas
jurisdicionais brasileiras, sob a égide das Nações Unidas ou de organismos multilaterais da região;

A construção de meios para exercer o controle de áreas marítimas terá como focos as áreas
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estratégicas de acesso marítimo ao Brasil. Duas áreas do litoral continuarão a merecer atenção
especial, do ponto de vista da necessidade de controlar o acesso marítimo ao Brasil: a faixa que vai
de Santos a Vitória e a área em torno da foz do rio Amazonas.

2.A doutrina do desenvolvimento desigual e conjunto tem implicações para a reconfiguração


das forças navais. A implicação mais importante é que a Marinha se reconstruirá, por etapas, como

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uma arma balanceada entre o componente submarino, o componente de superfície e o componente
aeroespacial.

3.Para assegurar o objetivo de negação do uso do mar, o Brasil contará com força naval
submarina de envergadura, composta de submarinos convencionais e de submarinos de propulsão
nuclear. O Brasil manterá e desenvolverá sua capacidade de projetar e de fabricar tanto submarinos
de propulsão convencional como de propulsão nuclear. Acelerará os investimentos e as parcerias
necessários para executar o projeto do submarino de propulsão nuclear. Armará os submarinos,
convencionais e nucleares, com mísseis e desenvolverá capacitações para projetá-los e fabricá-los.
Cuidará de ganhar autonomia nas tecnologias cibernéticas que guiem os submarinos e seus
sistemas de armas e que lhes possibilitem atuar em rede com as outras forças navais, terrestres e
aéreas.

4.Para assegurar sua capacidade de projeção de poder, a Marinha possuirá, ainda, meios de
Fuzileiros Navais, em permanente condição de pronto emprego. A existência de tais meios é
também essencial para a defesa das instalações navais e portuárias, dos arquipélagos e ilhas
oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras, para atuar em operações internacionais de paz, em
operações humanitárias, em qualquer lugar do mundo. Nas vias fluviais, serão fundamentais para
assegurar o controle das margens durante as operações ribeirinhas. O Corpo de Fuzileiros Navais
consolidar-se-á como a força de caráter expedicionário por excelência.
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5.A força naval de superfície contará tanto com navios de grande porte, capazes de operar e de
permanecer por longo tempo em alto mar, como de navios de porte menor, dedicados a patrulhar o
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litoral e os principais rios navegáveis brasileiros. Requisito para a manutenção de tal esquadra será

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a capacidade da Força Aérea de trabalhar em conjunto com a Aviação Naval para garantir
superioridade aérea local em caso de conflito armado.

Entre os navios de alto mar, a Marinha dedicará especial atenção ao projeto e à fabricação de
navios de propósitos múltiplos que possam, também, servir como navios-aeródromos. Serão
preferidos aos navios-aeródromos convencionais e de dedicação exclusiva.

A Marinha contará, também, com embarcações de combate, de transporte e de patrulha,


oceânicas, litorâneas e fluviais. Serão concebidas e fabricadas de acordo com a mesma preocupação
de versatilidade funcional que orientará a construção das belonaves de alto mar. A Marinha
adensará sua presença nas vias navegáveis das duas grandes bacias fluviais, a do Amazonas e a do
Paraguai-Paraná, empregando tanto navios-patrulha como navios-transporte, ambos guarnecidos
por helicópteros, adaptados ao regime das águas.
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A presença da Marinha nas bacias fluviais será facilitada pela dedicação do País à inauguração
de um paradigma multimodal de transporte. Esse paradigma contemplará a construção das
hidrovias do Paraná-Tietê, do Madeira, do Tocantins-Araguaia e do Tapajós-Teles Pires. As
barragens serão, quando possível, providas de eclusas, de modo a assegurar franca navegabilidade
às hidrovias.

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6.O monitoramento da superfície do mar a partir do espaço deverá integrar o repertório de
práticas e capacitações operacionais da Marinha.

A partir dele as forças navais, submarinas e de superfície terão fortalecidas suas capacidades
de atuar em rede com as forças terrestre e aérea.

7.A constituição de uma força e de uma estratégia navais que integrem os componentes
submarino, de superfície e aéreo, permitirá realçar a flexibilidade com que se resguarda o objetivo
prioritário da estratégia de segurança marítima: a dissuasão com a negação do uso do mar ao
inimigo que se aproxime, por meio do mar, do Brasil. Em amplo espectro de circunstâncias de
combate, sobretudo quando a força inimiga for muito mais poderosa, a força de superfície será
concebida e operada como reserva tática ou estratégica. Preferencialmente e sempre que a situação
tática permitir, a força de superfície será engajada no conflito depois do emprego inicial da força
submarina, que atuará de maneira coordenada com os veículos espaciais (para efeito de
monitoramento) e com meios aéreos (para efeito de fogo focado).

Esse desdobramento do combate em etapas sucessivas, sob a responsabilidade de


contingentes distintos, permitirá, na guerra naval, a agilização da alternância entre a concentração
e a desconcentração de forças e o aprofundamento da flexibilidade a serviço da surpresa.
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8.Um dos elos entre a etapa preliminar do embate, sob a responsabilidade da força submarina
e de suas contrapartes espacial e aérea, e a etapa subseqüente, conduzida com o pleno engajamento
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da força naval de superfície, será a Aviação Naval, embarcada em navios. A Marinha trabalhará com

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a indústria nacional de material de defesa para desenvolver um avião versátil, de defesa e ataque,
que maximize o potencial aéreo defensivo e ofensivo da Força Naval.

9.A Marinha iniciará os estudos e preparativos para estabelecer, em lugar próprio, o mais
próximo possível da foz do rio Amazonas, uma base naval de uso múltiplo, comparável, na
abrangência e na densidade de seus meios, à Base Naval do Rio de Janeiro.

10.A Marinha acelerará o trabalho de instalação de suas bases de submarinos, convencionais e


de propulsão nuclear.

O serviço militar obrigatório: nivelamento republicano e mobilização nacional

1.A base da defesa nacional é a identificação da Nação com as Forças Armadas e das Forças
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Armadas com a Nação. Tal identificação exige que a Nação compreenda serem inseparáveis as
causas do desenvolvimento e da defesa.

O Serviço Militar Obrigatório será, por isso, mantido e reforçado. É a mais importante
garantia da defesa nacional. Pode ser também o mais eficaz nivelador republicano, permitindo que
a Nação se encontre acima de suas classes sociais.

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2.As Forças Armadas limitarão e reverterão a tendência de diminuir a proporção de recrutas e
de aumentar a proporção de soldados profissionais. No Exército, respeitada a necessidade de
especialistas, a maioria do efetivo de soldados deverá sempre continuar a ser de recrutas do Serviço
Militar Obrigatório. Na Marinha e na Força Aérea, a necessidade de contar com especialistas,
formados ao longo de vários anos, deverá ter como contrapeso a importância estratégica de manter
abertos os canais do recrutamento.

O conflito entre as vantagens do profissionalismo e os valores do recrutamento há de ser


atenuado por meio da educação - técnica e geral, porém de orientação analítica e capacitadora - que
será ministrada aos recrutas ao longo do período de serviço.

3.As Forças Armadas se colocarão no rumo de tornar o Serviço Militar realmente obrigatório.
Não se contentarão em deixar que a desproporção entre o número muito maior de obrigados ao
serviço e o número muito menor de vagas e de necessidades das Forças seja resolvido pelo critério
da auto-seleção de recrutas desejosos de servir. O uso preponderante de tal critério, ainda que sob o
efeito de melhores atrativos financeiros, limita o potencial do serviço militar, em prejuízo de seus
objetivos de defesa nacional e de nivelamento republicano.

Os recrutas serão selecionados por dois critérios principais. O primeiro será a combinação do
vigor físico com a capacidade analítica, medida de maneira independente do nível de informação ou
de formação cultural de que goze o recruta. O segundo será o da representação de todas as classes
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sociais e regiões do país.


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4.Complementarmente ao Serviço Militar Obrigatório instituir-se-á Serviço Civil, de amplas
proporções. Nele poderão ser progressivamente aproveitados os jovens brasileiros que não forem
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incorporados no Serviço Militar. Nesse serviço civil - concebido como generalização das aspirações

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do Projeto Rondon - receberão os incorporados, de acordo com suas qualificações e preferências,
formação para poder participar de um trabalho social. Esse trabalho se destinará a atender às
carências do povo brasileiro e a reafirmar a unidade da Nação. Receberão, também, os
participantes do Serviço Civil, treinamento militar básico que lhes permita compor força de reserva,
mobilizável em circunstâncias de necessidade. Serão catalogados, de acordo com suas habilitações,
para eventual mobilização.

À medida que os recursos o permitirem, os jovens do Serviço Civil serão estimulados a servir
em região do País diferente daquelas de onde são originários.

Até que se criem as condições para instituir plenamente o Serviço Civil, as Forças Armadas
tratarão, por meio de trabalho conjunto com os prefeitos municipais, de restabelecer a tradição dos
Tiros de Guerra. Em princípio, todas as prefeituras do País deverão estar aptas para participar
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dessa renovação dos Tiros de Guerra, derrubadas as restrições legais que ainda restringem o rol dos
municípios qualificados.

5.Os Serviços Militar e Civil evoluirão em conjunto com as providências para assegurar a
mobilização nacional em caso de necessidade, de acordo com a Lei de Mobilização Nacional. O
Brasil entenderá, em todo o momento, que sua defesa depende do potencial de mobilizar recursos

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humanos e materiais em grande escala, muito além do efetivo das suas Forças Armadas em tempo
de paz. Jamais tratará a evolução tecnológica como alternativa à mobilização nacional; aquela será
entendida como instrumento desta. Ao assegurar a flexibilidade de suas Forças Armadas,
assegurará também a elasticidade delas.

6.É importante para a defesa nacional que o oficialato seja representativo de todos os setores
da sociedade brasileira. É bom que os filhos de trabalhadores ingressem nas academias militares.
Entretanto, a ampla representação de todas as classes sociais nas academias militares é imperativo
de segurança nacional. Duas condições são indispensáveis para que se alcance esse objetivo. A
primeira é que a carreira militar seja remunerada com vencimentos competitivos com outras
valorizadas carreiras do Estado. A segunda condição é que a Nação abrace a causa da defesa e nela
identifique requisito para o engrandecimento do povo brasileiro.

7.Um interesse estratégico do Estado é a formação de especialistas civis em assuntos de


defesa. No intuito de formá-los, o Governo Federal deve apoiar, nas universidades, um amplo
espectro de programas e de cursos que versem sobre a defesa.

A Escola Superior de Guerra deve servir como um dos principais instrumentos de tal
formação. Deve, também, organizar o debate permanente, entre as lideranças civis e militares, a
respeito dos problemas da defesa. Para melhor cumprir essas funções, deverá a Escola ser
transferida para Brasília, sem prejuízo de sua presença no Rio de Janeiro, e passar a contar com o
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engajamento direto do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e dos Estados-Maiores das três
Forças.
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Conclusão

A Estratégia Nacional de Defesa inspira-se em duas realidades que lhe garantem a viabilidade
e lhe indicam o rumo.

A primeira realidade é a capacidade de improvisação e adaptação, o pendor para criar


soluções quando faltam instrumentos, a disposição de enfrentar as agruras da natureza e da
sociedade, enfim, a capacidade quase irrestrita de adaptação que permeia a cultura brasileira. É
esse o fato que permite efetivar o conceito de flexibilidade.

A segunda realidade é o sentido do compromisso nacional no Brasil. A Nação brasileira foi e é


um projeto do povo brasileiro; foi ele que sempre abraçou a idéia de nacionalidade e lutou para
converter a essa idéia os quadros dirigentes e letrados. Este fato é a garantia profunda da
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identificação da Nação com as Forças Armadas e destas com a Nação.

Do encontro dessas duas realidades, resultaram as diretrizes da Estratégia Nacional de


Defesa.

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LEI 6.880, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1980


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Dispõe sobre o Estatuto dos Militares.

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O Presidente da República
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
ESTATUTO DOS MILITARES
TÍTULO I
Generalidades
CAPÍTULO I
Disposições Preliminares
Art. 1o – O presente Estatuto regula a situação, obrigações, deveres, direitos e prerrogativas dos
membros das Forças Armadas.
Art. 2o – As Forças Armadas, essenciais à execução da política de segurança nacional, são
constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, e destinam-se a defender a Pátria
e garantir os poderes constituídos, a lei e a ordem. São Instituições nacionais, permanentes e
regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
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Presidente da República e dentro dos limites da lei.


Art. 3o – Os membros das Forças Armadas, em razão de sua destinação constitucional, formam
uma categoria especial de servidores da Pátria e são denominados militares.

§ 1o – Os militares encontram-se em uma das seguintes situações:


a) na ativa:

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I – os de carreira;
II – os incorporados às Forças Armadas para prestação de serviço militar inicial, durante os
prazos previstos na legislação que trata do serviço militar, ou durante as prorrogações
daqueles prazos;
III – os componentes da reserva das Forças Armadas quando convocados, reincluídos,
designados ou mobilizados;
IV – os alunos de órgão de formação de militares da ativa e da reserva; e
V – em tempo de guerra, todo cidadão brasileiro mobilizado para o serviço ativo nas Forças
Armadas;
b) na inatividade:
I – os da reserva remunerada, quando pertençam à reserva das Forças Armadas e percebam
remuneração da União, porém sujeitos, ainda, à prestação de serviço na ativa, mediante
convocação ou mobilização;
II – os reformados, quando, tendo passado por uma das situações anteriores estão
dispensados, definitivamente, da prestação de serviço na ativa, mas continuam a perceber
remuneração da União; e
III – os da reserva remunerada e, excepcionalmente, os reformados, executando tarefa por
tempo certo, segundo regulamentação para cada Força Armada.
§ 2o – Os militares de carreira são os da ativa que, no desempenho voluntário e permanente do
serviço militar, tenham vitaliciedade assegurada ou presumida.
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Art. 4o – São considerados reserva das Forças Armadas:
I – individualmente:
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a) os militares da reserva remunerada; e

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b) os demais cidadãos em condições de convocação ou de mobilização para a ativa;
II – no seu conjunto:
a) as polícias militares; e
b) os corpos de bombeiros militares.
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§ 1o – A Marinha Mercante, a Aviação Civil e as empresas declaradas diretamente
relacionadas com a segurança nacional são, também, consideradas, para efeitos de mobilização
e de emprego, reserva das Forças Armadas.
§ 2o – O pessoal componente da Marinha Mercante, da Aviação Civil e das empresas declaradas
diretamente relacionadas com a segurança nacional, bem como os demais cidadãos em
condições de convocação ou mobilização para a ativa, só serão considerados militares quando
convocados ou mobilizados para o serviço das Forças Armadas.
Art. 5o – A carreira militar é caracterizada por atividade continuada e inteiramente devotada
às finalidades precípuas das Forças Armadas, denominada atividade militar.
§ 1o – A carreira militar é privativa do pessoal da ativa, inicia-se com o ingresso nas Forças
Armadas e obedece às diversas seqüências de graus hierárquicos.
§ 2o – São privativas de brasileiro nato as carreiras de oficial da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica.
Art. 6o – São equivalentes as expressões “na ativa”, “da ativa”, “em serviço ativo”, “em
serviço na ativa”, “em serviço”, “em atividade” ou “em atividade militar”, conferidas aos
militares no desempenho de cargo, comissão, encargo, incumbência ou missão, serviço ou
atividade militar ou considerada de natureza militar, nas organizações militares das Forças
Armadas, bem como na Presidência da República, na Vice-Presidência da República, no
Ministério da Defesa e nos demais órgãos quando previsto em lei, ou quando incorporados às
Forças Armadas.
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Art. 7o – A condição jurídica dos militares é definida pelos dispositivos da Constituição que
lhes forem aplicáveis, por este Estatuto e pela Legislação, que lhes outorgam direitos e
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prerrogativas e lhes impõem deveres e obrigações.

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Art. 8o – O disposto neste Estatuto aplica-se, no que couber:
I – aos militares da reserva remunerada e reformados;
II – aos alunos de órgão de formação da reserva;
III – aos membros do Magistério Militar;
IV – aos Capelães Militares.
Art. 9o – Os oficiais-generais nomeados Ministros do Superior Tribunal Militar, os membros do
Magistério Militar e os Capelães Militares são regidos por legislação específica.

CAPÍTULO II
Do Ingresso nas Forças Armadas
Art. 10 – O ingresso nas Forças Armadas é facultado, mediante incorporação, matrícula ou
nomeação, a todos os brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei e nos
regulamentos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.
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§ 1o – Quando houver conveniência para o serviço de qualquer das Forças Armadas, o brasileiro
possuidor de reconhecida competência técnico-profissional ou de notória cultura científica
poderá, mediante sua aquiescência e proposta do Ministro da Força interessada, ser incluído
nos Quadros ou Corpos da Reserva e convocado para o serviço na ativa em caráter transitório.

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§ 2o – A inclusão nos termos do parágrafo anterior será feita em grau hierárquico compatível com
sua idade, atividades civis e responsabilidades que lhe serão atribuídas, nas condições
reguladas pelo Poder Executivo.

Art. 11 – Para matrícula nos estabelecimentos de ensino militar destinados à formação de oficiais,
da ativa e da reserva, e de graduados, além das condições relativas à nacionalidade, idade,
aptidão intelectual, capacidade física e idoneidade moral, é necessário que o candidato não
exerça ou não tenha exercido atividades prejudiciais ou perigosas à segurança nacional.

Parágrafo único – O disposto neste artigo e no anterior aplica-se, também, aos candidatos ao
ingresso nos Corpos ou Quadros de Oficiais em que é exigido o diploma de estabelecimento de
ensino superior reconhecido pelo Governo Federal.

Art. 12 – A convocação em tempo de paz é regulada pela legislação que trata do serviço militar.
§ 1o – Em tempo de paz e independentemente de convocação, os integrantes da reserva poderão ser
designados para o serviço ativo, em caráter transitório e mediante aceitação voluntária.
§ 2o – O disposto no parágrafo anterior será regulamentado pelo Poder Executivo.

Art. 13 – A mobilização é regulada em legislação específica.


Parágrafo único – A incorporação às Forças Armadas de deputados federais e senadores,
embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de licença da Câmara respectiva.
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CAPÍTULO III
Da Hierarquia Militar e da Disciplina
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Art. 14 – A hierarquia e a disciplina são a base institucional das Forças Armadas. A

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autoridade e a responsabilidade crescem com o grau hierárquico.
§ 1o – A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura
das Forças Armadas. A ordenação se faz por postos ou graduações: dentro de um mesmo posto
ou graduação se faz pela antiguidade no posto ou na graduação. O respeito à hierarquia é
consubstanciado no espírito de acatamento à seqüência de autoridade.
§ 2o – Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e
disposições que fundamentam o organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e
harmônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um
dos componentes desse organismo.
§ 3o – A disciplina e o respeito à hierarquia devem ser mantidos em todas as circunstâncias da vida
entre militares da ativa, da reserva remunerada e reformados.

Art. 15 – Círculos hierárquicos são âmbitos de convivência entre os militares da mesma categoria e
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têm a finalidade de desenvolver o espírito de camaradagem, em ambiente de estima e


confiança, sem prejuízo do respeito mútuo.

Art. 16 – Os círculos hierárquicos e a escala hierárquica nas Forças Armadas, bem como a
correspondência entre os postos e graduações da Marinha, Exército e da Aeronáutica, são
fixados nos parágrafos seguintes e no quadro em anexo.

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§ 1o – Posto é o grau hierárquico do oficial, conferido por ato do Presidente da República ou do
Ministro de Força Singular e confirmado em Carta Patente.
§ 2o – Os postos de Almirante, Marechal e Marechal-do-Ar somente serão providos em tempo de
guerra.
§ 3o – Graduação é o grau hierárquico da praça, conferido pela autoridade militar competente.
§ 4o – Os Guardas-Marinha, os Aspirantes-a-Oficial e os alunos de órgãos específicos de formação
de militares são denominados praças especiais.
§ 5o – Os graus hierárquicos inicial e final dos diversos Corpos, Quadros, Armas, Serviços,
Especialidades ou Subespecialidades são fixados, separadamente, para cada caso, na Marinha,
no Exército e na Aeronáutica.
§ 6o – Os militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, cujos graus hierárquicos tenham
denominação comum, acrescentarão aos mesmos, quando julgado necessário, a indicação do
respectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço e, se ainda necessário, a Força Armada a que
pertencerem, conforme os regulamentos ou normas em vigor.
§ 7o – Sempre que o militar da reserva remunerada ou reformado fizer uso do posto ou graduação,
deverá fazê-lo com abreviaturas respectivas de sua situação.

Art. 17 – A precedência entre militares da ativa do mesmo grau hierárquico, ou correspondente, é


assegurada pela antiguidade no posto ou graduação, salvo nos casos de precedência funcional
estabelecida em lei.
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§ 1o – A antiguidade em cada posto ou graduação é contada a partir da data da assinatura do ato da
respectiva promoção, nomeação, declaração ou incorporação, salvo quando estiver
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taxativamente fixada outra data.

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§ 2o – No caso do parágrafo anterior, havendo empate, a antigüidade será
estabelecida:
a) entre militares do mesmo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, pela posição nas respectivas
escalas numéricas ou registros em cada força;
b) nos demais casos, pela antiguidade no posto ou graduação anterior; se, ainda assim,
subsistir a igualdade, recorrer-se-á, sucessivamente, aos graus hierárquicos anteriores, à data de
praça e à data de nascimento para definir a precedência, e, neste último caso, o de mais idade será
considerado o mais antigo;
c) na existência de mais de uma data de praça, inclusive de outra Força Singular, prevalece a
antiguidade do militar que tiver maior tempo de efetivo serviço na praça anterior ou nas praças
anteriores; e
d) entre alunos de um mesmo órgão de formação de militares, de acordo com o regulamento
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do respectivo órgão, se não estiverem especificamente enquadrados nas letras a, b e c.


§ 3o – Em igualdade de posto ou de graduação, os Militares da ativa têm precedência sobre os da
inatividade.
§ 4o – Em igualdade de posto ou de graduação, a precedência entre os militares de carreira na ativa
e os da reserva remunerada ou não, que estejam convocados, é definida pelo tempo de efetivo
serviço no posto ou graduação.

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Art. 18 – Em legislação especial, regular-se-á:
I – a precedência entre militares e civis, em missões diplomáticas, ou em comissão no País
ou no estrangeiro; e
II – a precedência nas solenidades oficiais.

Art. 19 – A precedência entre as praças especiais e as demais praças é assim regulada:


I – os Guardas-Marinha e os Aspirantes-a-Oficial são hierarquicamente superiores às
demais praças;
II – os Aspirantes, alunos da Escola Naval,e os alunos da Academia Militar das Agulhas
Negras e da Academia da Força Aérea, bem como os alunos da Escola de Oficiais Especialistas da
Aeronáutica, são hierarquicamente superiores aos suboficiais e aos subtenentes;
III – os alunos de Escola Preparatória da Cadetes e do Colégio Naval têm precedência sobre
os Terceiros-Sargentos, aos quais são equiparados;
IV – os alunos dos órgãos de formação de oficiais da reserva, quando fardados, têm
precedência sobre os Terceiros-Sargentos, aos quais são equiparados; e
V – os Cabos têm precedência sobre os alunos das escolas ou dos centros de formação de
sargentos, que a eles são equiparados, respeitada, no caso de militares, a antiguidade relativa.
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CAPÍTULO IV
Do Cargo e da Função Militares
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Art. 20 – Cargo militar é um conjunto de atribuições, deveres e responsabilidades

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cometidos a um militar em serviço ativo.
§ 1o – O cargo militar, a que se refere este artigo, é o que se encontra especificado nos Quadros de
Efetivo ou Tabelas de Lotação das Forças Armadas ou previsto, caracterizado ou definido como tal
em outras disposições legais.
§ 2o – As obrigações inerentes ao cargo militar devem ser compatíveis com o correspondente grau
hierárquico e definidas em legislação ou regulamentação específica.

Art. 21 – Os cargos militares são providos com pessoal que satisfaça os requisitos de grau
hierárquico e de qualificação exigidos para o seu desempenho.
Parágrafo único – O provimento de cargo militar far-se-á por ato de nomeação expressa da
autoridade competente.

Art. 22 – O cargo militar é considerado vago a partir de sua criação e até que um militar nele tome
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posse, ou desde o momento em que o militar exonerado, ou que tenha recebido determinação
expressa da autoridade competente, o deixe e até que outro militar nele tome posse de acordo com
as normas de provimento previstas no parágrafo único do artigo anterior.
Parágrafo único – Consideram-se também vagos os cargos militares cujos ocupantes
tenham:
a) falecido;

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b) sido considerados extraviados;
c) sido feitos prisioneiros; e
d) sido considerados desertores.
Art. 23 – Função militar é o exercício das obrigações inerentes ao cargo militar.

Art. 24 – Dentro de uma mesma organização militar, a seqüência de substituições para assumir
cargo ou responder por funções, bem como as normas, atribuições e responsabilidades relativas,
são as estabelecidas na legislação ou regulamentação específica respeitadas a precedência e a
qualificação exigidas para o cargo ou o exercício da função.

Art. 25 – O militar ocupante de cargo provido em caráter efetivo ou interino, de acordo com o
parágrafo único do art. 21, faz jus aos direitos correspondentes ao cargo, conforme previsto em
dispositivo legal.

Art. 26 – As obrigações que, pela generalidade, peculiaridade, duração, vulto ou natureza, não são
catalogadas como posições tituladas em "Quadro de Efetivo", "Quadro de Organização", "Tabela de
Lotação" ou dispositivo legal, são cumpridas como encargo, incumbência, comissão, serviço ou
atividade, militar ou de natureza militar.

Parágrafo único – Aplica-se, no que couber, a encargo, incumbência, comissão, serviço ou


atividade, militar ou de natureza militar, o disposto neste Capítulo para cargo militar.
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TÍTULO II
Das Obrigações e dos Deveres Militares
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CAPÍTULO I

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Das Obrigações Militares
SEÇÃO I
Do Valor Militar
Art. 27 – São manifestações essenciais do valor militar:
I – o patriotismo, traduzido pela vontade inabalável de cumprir o dever militar e pelo
solene juramento de fidelidade à Pátria até com o sacrifício da própria vida;
II – o civismo e o culto das tradições históricas;
III – a fé na missão elevada das Forças Armadas;
IV – o espírito de corpo, orgulho do militar pela organização onde serve;
V – o amor à profissão das armas e o entusiasmo com que é exercida; e
VI – o aprimoramento técnico-profissional.
SEÇÃO II
Da Ética Militar
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Art. 28 – O sentimento do dever, o pundonor militar e o decoro da classe impõem, a


cada um dos integrantes das Forças Armadas, conduta moral e profissional
irrepreensíveis, com a observância dos seguintes preceitos da ética militar:
I – amar a verdade e a responsabilidade como fundamento de dignidade pessoal;
II – exercer, com autoridade, eficiência e probidade, as funções que lhe couberem em decorrência
do cargo;

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III – respeitar a dignidade da pessoa humana;
IV – cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as instruções e as ordens das autoridades
competentes;
V – ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação do mérito dos subordinados;
VI – zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual e físico e, também, pelo dos subordinados,
tendo em vista o cumprimento da missão comum;
VII – empregar todas as suas energias em benefício do serviço;
VIII – praticar a camaradagem e desenvolver, permanentemente, o espírito de cooperação;
IX – ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua linguagem escrita e falada;
X – abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria sigilosa de qualquer natureza;
XI – acatar as autoridades civis;
XII – cumprir seus deveres de cidadão;
XIII – proceder de maneira ilibada na vida pública e na particular;
XIV – observar as normas da boa educação;
XV – garantir assistência moral e material ao seu lar e conduzir-se como chefe de família
modelar;
XVI – conduzir-se, mesmo fora do serviço ou quando já na inatividade, de modo que não sejam
prejudicados os princípios da disciplina, do respeito e do decoro militar;
XVII – abster-se de fazer uso do posto ou da graduação para obter facilidades pessoais de
qualquer natureza ou para encaminhar negócios particulares ou de terceiros;
XVIII – abster-se, na inatividade, do uso das designações hierárquicas;
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a) em atividades político-partidárias;
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b) em atividades comerciais;
c) em atividades industriais;
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d) para discutir ou provocar discussões pela imprensa a respeito de assuntos políticos ou

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militares, excetuando-se os de natureza exclusivamente técnica, se devidamente autorizado; e
e) no exercício de cargo ou função de natureza civil, mesmo que seja na administração
pública; e
XIX – zelar pelo bom nome das Forças Armadas e de cada um de seus integrantes; obedecendo e
fazendo obedecer os preceitos da ética militar.

Art. 29 – Ao militar da ativa é vedado comerciar ou tomar parte na administração ou


gerência de sociedade ou dela ser sócio ou participar, exceto como acionista ou
quotista, em sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada.
§ 1o – Os integrantes da reserva, quando convocados, ficam proibidos de tratar, nas organizações
militares e nas repartições públicas civis, de interesse de organizações ou empresas privadas de
qualquer natureza.
§ 2o – Os militares da ativa podem exercer, diretamente, a gestão de seus bens, desde que não
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infrinjam o disposto no presente artigo.


§ 3o – No intuito de desenvolver a prática profissional, é permitido aos oficiais titulados dos
Quadros ou Serviços de Saúde e de Veterinária o exercício de Atividade técnico-profissional no
meio civil, desde que tal prática não prejudique o serviço e não infrinja o disposto neste artigo.
Art. 30 – Os Ministros das Forças Singulares poderão determinar aos militares da ativa da
respectiva Força que, no interesse da salvaguarda da dignidade dos mesmos, informem sobre a

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origem e natureza dos seus bens, sempre que houver razões que recomendem tal medida.
Capítulo II
Dos deveres militares
SEÇÃO I
Conceituação
Art. 31 – Os deveres militares emanam de um conjunto de vínculos racionais e morais
que ligam o militar à Pátria e ao seu serviço, e compreendem, essencialmente:
I – a dedicação e a fidelidade à Pátria, cuja honra, integridade e instituições devem ser defendidas
mesmo com o sacrifício da própria vida;
II – o culto aos Símbolos Nacionais;
III – a probidade e a lealdade em todas as circunstâncias;
IV – a disciplina e o respeito à hierarquia;
V – o rigoroso cumprimento das obrigações e das ordens; e
VI – a obrigação de tratar o subordinado dignamente e com urbanidade.
SEÇÃO II
Do Compromisso Militar
Art. 32 – Todo cidadão, após ingressar em uma das Forças Armadas mediante
incorporação, matrícula ou nomeação, prestará compromisso de honra, no qual
afirmará a sua aceitação consciente das obrigações e dos deveres militares e
manifestará a sua firme disposição de bem cumpri-los.
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Art. 33 – O compromisso do incorporado, do matriculado e do nomeado, a que se refere o
artigo anterior, terá caráter solene e será sempre prestado sob a forma de juramento à Bandeira na
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presença de tropa ou guarnição formada, conforme os dizeres estabelecidos nos regulamentos

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específicos das Forças Armadas, e tão logo o militar tenha adquirido um grau de instrução
compatível com o perfeito entendimento de seus deveres como integrante das Forças Armadas.
§ 1o – O compromisso de Guarda-Marinha ou Aspirante-a-Oficial é prestado nos estabelecimentos
de formação, obedecendo o cerimonial ao fixado nos respectivos regulamentos.
§ 2o – O compromisso como oficial, quando houver, será regulado em cada Força Armada.

SEÇÃO III
Do Comando e da Subordinação
Art. 34 – Comando é a soma de autoridade, deveres e responsabilidades de que o
militar é investido legalmente quando conduz homens ou dirige uma organização
militar. O comando é vinculado ao grau hierárquico e constitui uma prerrogativa
impessoal, em cujo exercício o militar se define e se caracteriza como chefe.
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Parágrafo único – Aplica-se à direção e à chefia de organização militar, no que couber, o


estabelecido para comando.

Art. 35 – A subordinação não afeta, de modo algum, a dignidade pessoal do militar e decorre,
exclusivamente, da estrutura hierarquizada das Forças Armadas.

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Art. 36 – O oficial é preparado, ao longo da carreira, para o exercício de funções de
comando, de chefia e de direção.

Art. 37 – Os graduados auxiliam e complementam as atividades dos oficiais, quer no adestramento


e no emprego de meios, quer na instrução e na administração.
Parágrafo único – No exercício das atividades mencionadas neste artigo e no comando de
elementos subordinados, os suboficiais, os subtenentes e os sargentos deverão impor-se pela
lealdade, pelo exemplo e pela capacidade profissional e técnica, incumbindo-lhes assegurar a
observância minuciosa e ininterrupta das ordens, das regras do serviço e das normas operativas
pelas praças que lhes estiverem diretamente subordinadas e a manutenção da coesão e do moral
das mesmas praças em todas as circunstâncias.

Art. 38 – Os Cabos, Taifeiros-Mores, Soldados-de-Primeira-Classe, Taifeiros-de-Primeira-Classe,


Marinheiros, Soldados, Soldados-de-Segunda-Classe e Taifeiros-de-Segunda-Classe são,
essencialmente, elementos de execução.

Art. 39 – Os Marinheiros-Recrutas, Recrutas, Soldados-Recrutas e Soldados-de-Segunda-Classe


constituem os elementos incorporados às Forças Armadas para a prestação do serviço militar
inicial.
Art. 40 – Às praças especiais cabe a rigorosa observância das prescrições dos regulamentos que
lhes são pertinentes, exigindo-se-lhes inteira dedicação ao estudo e ao aprendizado técnico-
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profissional.
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Parágrafo único – Às praças especiais também se assegura a prestação do serviço militar inicial.
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Art. 41 – Cabe ao militar a responsabilidade integral pelas decisões que tomar, pelas ordens que

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emitir e pelos atos que praticar.
CAPÍTULO III
Da Violação das Obrigações e dos Deveres Militares
SEÇÃO I
Da Conceituação
Art. 42 – A violação das obrigações ou dos deveres militares constituirá crime,
contravenção ou transgressão disciplinar, conforme dispuser a legislação ou regulamentação
específica.
§ 1o – A violação dos preceitos da ética militar será tão mais grave quanto mais elevado for o grau
hierárquico de quem a cometer.
§ 2o – No concurso de crime militar e de contravenção ou transgressão disciplinar, quando forem
da mesma natureza, será aplicada somente a pena relativa ao crime.
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Art. 43 – A inobservância dos deveres especificados nas leis e regulamentos, ou a falta de exação no
cumprimento dos mesmos, acarreta para o militar responsabilidade funcional, pecuniária,
disciplinar ou penal, consoante a legislação específica.
Parágrafo único – A apuração da responsabilidade funcional, pecuniária, disciplinar ou penal
poderá concluir pela incompatibilidade do militar com o cargo, ou demonstrar incapacidade no
exercício das funções militares a ele inerentes.

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Art. 44 – O militar que, por sua atuação, se tornar incompatível com o cargo, ou demonstrar
incapacidade no exercício das funções militares a ele inerentes, será afastado do cargo.

§ 1o – São competentes para determinar o imediato afastamento do cargo ou o


impedimento do exercício da função:
a) o Presidente da República;
b) os titulares das respectivas pastas militares e o Chefe do Estado-Maior das forças
Armadas; e
c) os comandantes, os chefes e os diretores, na conformidade da legislação ou
regulamentação específica de cada Força Armada.
§ 2o – O militar afastado do cargo, nas condições mencionadas neste artigo, ficará privado do
exercício de qualquer função militar até a solução do processo ou das providências legais cabíveis.
Art. 45 – São proibidas quaisquer manifestações coletivas, tanto sobre atos de
superiores quanto de caráter reivindicatório ou político.

SEÇÃO II
Dos Crimes Militares
Art. 46 – O Código Penal Militar relaciona e classifica os crimes militares, em tempo de paz e em
tempo de guerra, e dispõe sobre a aplicação aos militares das penas correspondentes aos crimes por
eles cometidos.
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SEÇÃO III
Das Contravenções ou Transgressões Disciplinares
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Art. 47 – Os regulamentos disciplinares das Forças Armadas especificarão e

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classificarão as contravenções ou transgressões disciplinares e estabelecerão as
normas relativas à amplitude e aplicação das penas disciplinares, à classificação do
comportamento militar e à interposição de recursos contra as penas disciplinares.
§ 1o – As penas disciplinares de impedimento, detenção ou prisão não podem ultrapassar 30
(trinta) dias.
§ 2o – À praça especial aplicam-se, também, as disposições disciplinares previstas no regulamento
do estabelecimento de ensino onde estiver matriculada.
SEÇÃO IV
Dos Conselhos de Justificação e de Disciplina
Art. 48 – O oficial presumivelmente incapaz de permanecer como militar da ativa
será, na forma da legislação específica, submetido a Conselho de Justificação.
§ 1o – O oficial, ao ser submetido a Conselho de Justificação, poderá ser afastado do exercício de
suas funções, a critério do respectivo Ministro, conforme estabelecido em legislação específica.
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§ 2o – Compete ao Superior Tribunal Militar, em tempo de paz, ou a Tribunal Especial, em tempo


de guerra, julgar, em instância única, os processos oriundos dos Conselhos de Justificação, nos
casos previstos em lei específica.
§ 3o – A Conselho de Justificação poderá, também, ser submetido o oficial da reserva remunerada
ou reformado presumivelmente incapaz de permanecer na situação de inatividade em que se
encontra.

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Art. 49 – O Guarda-Marinha, o Aspirante-a-Oficial e as praças com estabilidade assegurada,
presumivelmente incapazes de permanecerem como militares da ativa, serão submetidos a
Conselho de Disciplina e afastados das atividades que estiverem exercendo, na forma de
regulamentação específica.
§ 1o – O Conselho de Disciplina obedecerá a normas comuns às três Forças Armadas.
§ 2o – Compete aos Ministros das Forças Singulares julgar, em última instancia, os processos
oriundos dos Conselhos de Disciplina convocados no âmbito das respectivas Forças Armadas.
§ 3o – A Conselho de Disciplina poderá, também, ser submetida a praça na reserva remunerada ou
reformada, presumivelmente incapaz de permanecer na situação de inatividade em que se
encontra.
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EMA – 137
DOUTRINA DE LIDERANÇA DA MARINHA – Rev. 1 - 2013
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( capítulos 1).

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a) Elementos conceituais de Liderança;
b) O exercício da liderança pelo pessoal da MB;
c) Principais atributos de um líder; e
d) Orientação sobre expedição de ordens.

CAPÍTULO 1
ELEMENTOS CONCEITUAIS DE LIDERANÇA
1.1 - PROPÓSITO
Este capítulo aborda conceitos, aspectos fundamentais, estilos, fatores, atributos e
níveis de liderança, para prover conhecimentos básicos que definam a natureza das relações
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desejáveis entre líderes e liderados.


1.2 - CHEFIA E LIDERANÇA
O exercício da chefia, comando ou direção, é entendido pelo conjunto de ações e
decisões tomadas pelo mais antigo, com autoridade para tal, na sua esfera de competência, a
fim de conduzir de forma integrada o setor que lhe é confiado.

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No desempenho de suas funções, os mais antigos, normalmente, desempenham dois
papéis funcionais, a saber: o de “chefe” e o de “condutor de homens”. Em relação ao
primeiro papel, prevalece a autoridade advinda da responsabilidade atribuída à função,
associada com aquela decorrente de seu posto ou graduação, à qual passaremos a definir,
genericamente, como chefia. Com respeito ao segundo papel, identifica-se um estreito
relacionamento com o atributo de líder. Neste contexto, fica ressaltada a importância da
capacidade individual dos mais antigos em influenciarem e inspirarem os seus
subordinados.
Caracterizados esses dois atributos do comandante, o de chefe e o de líder, pode-se
afirmar que comandar é exercer a chefia e a liderança, a fim de conduzir eficazmente a
organização no cumprimento da missão. Sendo o exercício do comando um processo
abrangente, a divisão ora apresentada será utilizada para efeito de uma melhor compreensão
do tema em lide, pois chefia e liderança não são processos alternativos e sim, simultâneos
e complementares.
Os melhores resultados no tocante à liderança ocorrem quando ela é desenvolvida,
não sendo impositiva. Neste contexto, a liderança deve ser entendida como um processo
dinâmico e progressivo de aprendizado, o qual, desenvolvido nos cursos de carreira e no dia
a dia das OM, trará não só evidentes benefícios às organizações, como também contribuirá
para o sucesso profissional individual de cada militar. Desta forma, o contínuo
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desenvolvimento das qualidades dos militares da MB como líderes deverá ser objeto de atenta
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e permanente atenção, a ser trabalhada, conjuntamente, pela instituição e, prioritariamente,


por cada militar.

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RESUMO
CHEFIA E LIDERANÇA
 LÍDER – Condutor de Pessoas com capacidade de influenciar e inspirar.
 CHEFE – Pessoa investida em um cargo. Atribuída ao Posto/Graduação.
 COMANDAR – Exercer chefia e liderança em prol da instituição.
 CHEFIA E LIDERANÇA – Não são alternativos. São simultâneos e
complementares.
 EXERCÍCIO DE CHEFIA, CMDO e DIREÇÃO – Papel de Chefe e Líder.
 LIDERANÇA - “o processo que consiste em influenciar pessoas no sentido de
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que ajam, voluntariamente, em prol dos objetivos da Instituição”.


 LIDERANÇA – Processo dinâmico e progressivo de aprendizado.
 AGENTES DA LIDERANÇA – Líder, Liderados e Relações.

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1.3 - ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA LIDERANÇA
Neste tópico serão abordados aspectos relacionados aos tipos de liderança.
Existem diversas conceituações para liderança na literatura especializada. A Marinha do
Brasil define liderança como: “o processo que consiste em influenciar pessoas no sentido de
que ajam, voluntariamente, em prol do cumprimento da missão”. Fica evidenciado, pela
definição, que a liderança inclui não só a capacidade de fazer um grupo realizar uma tarefa
específica mas, sobretudo, executá-la de forma voluntária, atendendo ao desejo do líder como
se fosse o seu próprio.
Nessa definição de liderança, estão implícitos os seus agentes, ou seja, o líder e os
liderados, as relações entre eles e os princípios filosóficos, psicológicos e sociológicos que
regem o comportamento humano.
1.3.1 - Aspectos Filosóficos
A Filosofia tem como característica desenvolver o senso crítico, que fornece ao
indivíduo bases metodológicas para efetuar, permanentemente, o exame corrente da situação,
favorecendo o processo de tomada de decisões. Tal prática é fundamental ao exercício da
liderança, podendo-se verificar que o requisito pensamento crítico está direta ou
indiretamente associado a diversos atributos de liderança prescritos nesta Doutrina.
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A Axiologia, também conhecida como a teoria dos valores, é considerada a parte mais
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nobre da Filosofia. O processo de influenciação de um grupo, que é a essência da liderança,


está profundamente ligado aos valores éticos e morais que devem ser transmitidos e

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praticados pelo líder.
A prática dos fundamentos filosóficos da educação, seja ela formal ou informal,
desenvolvida por grupos sociais, independente de suas crenças e culturas, constitui-se no
elemento catalisador dos valores universais.
O ser humano precisa receber uma educação adequada para ser capaz de valorizar um
objeto (a vida humana, a Pátria, a família). Sem essa educação, perde-se a capacidade de
perceber esses valores, especialmente quando se trata daqueles universais, tais como: honra,
dignidade e honestidade.
A característica fundamental da Axiologia consiste na hierarquização desses valores,
que são transmitidos pela educação familiar, pela sociedade e pelo grupo. Essa hierarquização
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de valores varia de um país para o outro, de uma sociedade organizada para outra, de um
grupo social para outro. Por exemplo, os fundamentalistas islâmicos, que se sacrificam em
atentados, contrariando o instinto de preservação, valor primordial do ser humano.
Valores como a honra, a dignidade, a honestidade, a lealdade e o amor à pátria,
assim como todos os outros considerados vitais pela Marinha, devem ser praticados e

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transmitidos, permanentemente, pelo líder aos seus liderados. A tarefa de doutrinamento visa
a transmitir a sua correta hierarquização, priorizando-os em relação aos valores materiais,
como o dinheiro, o poder e a satisfação pessoal.
Este é o maior desafio a ser enfrentado por aquele que pretende exercer a liderança de
um grupo.
1.3.2 - Aspectos Psicológicos
“Em essência, a liderança envolve a realização de objetivos com e através de pessoas.
Consequentemente, um líder precisa preocupar-se com tarefas e relações humanas.”
(HERSEY; BLANCHARD, 1982, p. 105).
O líder influencia outros indivíduos, provocando, basicamente, mudanças psicológicas
e “[...] num nível de generalidade que inclui mudanças em comportamentos, opiniões,
atitudes, objetivos, necessidades, valores e todos os outros aspectos do campo psicológico do
indivíduo.” (FRENCH; RAVEN, 1969, apud NOBRE, 1998, p. 43)
Os processos grupais e a liderança são os principais objetos de estudo da Psicologia
Social e a subjetividade humana, a personalidade e as mudanças psicológicas oriundas de
processos de influenciação e de aprendizagem são focos de estudo e de análise da Psicologia.
O caminho para a liderança passa pelo conhecimento profissional, mas também pelo
autoconhecimento e por conhecer bem seus subordinados. Para os dois últimos requisitos, a
Psicologia pode oferecer ferramentas úteis para o líder. Pesquisas mostram que o quociente
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emocional (QE) ou inteligência emocional está, cada vez mais, destacando-se como o
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principal diferencial de competência no trabalho. Esta conclusão é especialmente pertinente,


em se tratando do desempenho em funções de liderança. A Psicologia é, portanto, uma

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ciência que fornece firme embasamento teórico e prático para que o líder possa influenciar
pessoas.
1.3.3 - Aspectos Sociológicos
Os textos deste subitem foram retirados, com adaptações, do Manual de Liderança,
editado em 1996 (130- Bases Sociológicas).
Sociólogos concordam que a perspectiva sociológica envolve um processo que vai
permitir examinar as coletividades além das fachadas das estruturas sociais, com o propósito
de refletir, com profundidade, sobre a dinâmica de forças atuantes em dada coletividade.
A liderança envolve líder, liderados, e contexto (ou situação), constituindo,
fundamentalmente, uma relação. Para muitos teóricos, a liderança, dadas as características
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singulares que envolve, constitui-se em um processo ímpar de interação social. Partindo desta
visão da liderança, é evidente o quanto a Sociologia tem para contribuir em termos de
embasamento teórico no estudo e na construção do processo da liderança.
Os militares, em geral, em função da peculiaridade de suas atividades profissionais,
constituem uma subcultura dentro da sociedade brasileira. Focalizando mais de perto ainda,

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pode-se afirmar que a Marinha, dentro das Forças Armadas, face a suas atribuições muito
próprias, constitui-se, igualmente, em uma subcultura. A liderança, por definição, pressupõe a
atuação do líder sobre grupos humanos; os membros destes grupos são, em geral, oriundos de
diferentes subculturas. Estes indivíduos, ao ingressarem na Marinha, passarão a integrar-se a
esta nova subcultura, após um período de adaptação. No âmbito da Marinha, pode-se
distinguir subculturas correspondentes aos diferentes Corpos e Quadros, em função da missão
atribuída a cada um deles. Cultura e subcultura são, portanto, temas de estudo da Sociologia
de interesse para a liderança.
Outro tópico de Sociologia avaliado como relevante é o dos processos sociais, estes
definidos como a interação repetitiva de padrões de comportamento comumente encontrados
na vida social. Os processos sociais de maior incidência nas sociedades e grupos humanos
são: cooperação, competição e conflito. O líder, cuja matéria-prima é o grupo liderado,
necessita identificar a existência de tais processos, estimulando-os ou não, em função das
especificidades da situação corrente e da natureza da missão a ser levada a termo.
Cooperação, etimologicamente, significa trabalhar em conjunto. Implica uma opção
pelo coletivo em detrimento do individual, mas nada impede o desenvolvimento e o estímulo
das habilidades de cada membro, em prol de um objetivo comum. Sob muitos aspectos, e de
um ponto de vista humanista, é a forma ideal de atuação de grupos. Ocorre que nem sempre é
possível, dentro de um grupo, manter, exclusivamente, o processo cooperativo. Em função do
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contexto, das circunstâncias da própria tarefa a realizar, da natureza do grupo, ou das
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características do líder, outros processos se desenvolvem.


Competição é definida como a luta pela posse de recompensas cuja oferta é

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limitada.
Tais recompensas incluem dinheiro, poder, status, amor e muitos outros. Outra forma
de descrever o processo competitivo o mostra como a tentativa de obter uma recompensa
superando todos os rivais.
A competição pode ser pessoal – entre um número limitado de concorrentes que se
conhecem entre si – ou impessoal – quando o número de rivais é tal, que se torna impossível
o conhecimento entre eles, como ocorre, por exemplo, nos exames vestibulares ou em
concursos públicos.
Atualmente, os especialistas concordam que ambos os processos – cooperação e
competição – coexistem e, até mesmo, sobrepõem-se na maioria das sociedades. O que varia,
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em função de diferenças culturais, é a intensidade com que cada um é experimentado.


Sob o ponto de vista psicológico, é relevante considerar que, se a competição tem o
mérito inicial de estimular a atividade dos indivíduos e dos grupos, aumentando-lhes a
produtividade, tem o grave inconveniente de desencorajar os esforços daqueles que se
habituaram a fracassar. Vencedor há um só; todos os demais são perdedores. Outro

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inconveniente sério, decorrente do estímulo à competição, consiste na forte possibilidade de
desenvolvimento de hostilidades e desavenças no interior do grupo, contribuindo para sua
desagregação. A instabilidade inerente ao processo competitivo faz com que este, com
bastante frequência, se transforme em conflito. Na liderança, a competição tem sempre que
ser saudável e estimulante.
Conflito é a exacerbação da competição. Uma definição mais específica afirma que
tal processo consiste em obter recompensas pela eliminação ou enfraquecimento dos
competidores. Ou seja, o conflito é uma forma de competição que pode caminhar para a
instalação de violência e, que se vai intensificando, à medida que aumenta a duração do
processo, já que este tem caráter cumulativo – a cada ato hostil surge uma represália cada vez
mais agressiva.
O processo social de conflito inclui aspectos positivos e negativos. Por um lado, o
conflito tende a destruir a unidade social e, da mesma forma, desagregar grupos menores,
pelo aumento de ressentimento, pelo desvio dos objetivos mais elevados do grupo, pela
destruição dos canais normais de cooperação, pela intensificação de tensões internas,
podendo chegar à violência. Por outro lado, doses regulares de conflito de posições, podem
ter efeito integrador dentro do grupo, na medida em que obrigam os grupos a se
autocriticarem, a reverem posições, a forçarem a formulação de novas políticas e práticas, e,
em consequência, a uma revitalização dos valores autênticos próprios daquele grupo.
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Uma vez instalado e manifesto o conflito no seio de um grupo, seu respectivo líder terá
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de buscar soluções e alternativas para manter o controle da situação. Não é fácil ou agradável
para os líderes atuar em situações de conflito, o que não justifica sua pura e simples negação.

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É indispensável que o líder seja capaz de diagnosticar as situações de conflito,
mesmo quando ainda latentes, de modo a buscar estratégias adequadas para gerenciá-las
construtivamente.
1.4 - ESTILOS DE LIDERANÇA
Nos primórdios do século XX, prevaleceram as pesquisas sobre liderança, entendida
como qualidade inerente a certas pessoas ou traço pessoal inato. A partir dos anos 30,
evoluiuse para uma concepção de liderança como conjunto de comportamentos e de
habilidades que podem ser ensinadas às pessoas que, desta forma, teriam a possibilidade de se
tornarem líderes eficazes.
Progressivamente, os pesquisadores abandonaram a busca de uma essência da
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liderança, percebendo toda a complexidade envolvida e evoluindo para análises bem mais
sofisticadas, que incluíam diversas variáveis situacionais. Nesse contexto, observa-se a
proliferação de publicações sobre liderança, incluindo trabalhos científicos e literatura
sensacionalista e de autoajuda. Diferentes autores propõem uma infinidade de estilos de
liderança que se sobrepõem. Alguns fundamentam-se em estudos e pesquisas e outros são

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meramente empíricos e intuitivos. Há também muitos modismos, alguns consistindo, apenas,
ematribuição de novos nomes e roupagens a antigos conceitos, sendo reapresentados como se
fossem avanços na área de liderança.
Para simplificar a apresentação e o emprego de uma gama de estilos de liderança
consagrados e relevantes para o contexto militar-naval, foram considerados alguns
estilos selecionados em três grandes eixos:
 grau de centralização de poder;
 tipo de incentivo; e
 foco do líder.
Pode-se afirmar, genericamente, que os diferentes estilos de liderança, propostos à luz
das diversas teorias, se enquadram em três principais critérios de classificação,
apresentados como eixos lógicos em que se agrupam apenas sete estilos principais:
A) QUANTO AO GRAU DE CENTRALIZAÇÃO DE PODER: Liderança Autocrática,
Liderança Participativa e Liderança Delegativa;
B) QUANTO AO TIPO DE INCENTIVO: Liderança Transformacional e Liderança
Transacional; e
C) QUANTO AO FOCO DO LÍDER: Liderança Orientada para Tarefa e Liderança
Orientada para Relacionamento.
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ESTILOS DE LIDERANÇA
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Os subitens a seguir descrevem os sete principais estilos de liderança propostos pelas


diversas teorias.

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1. Liderança Autocrática
2. Liderança Participativa ou Democrática
3. Liderança Delegativa
4. Liderança Transformacional
5. Liderança Transacional
6. Liderança Orientada para Tarefa
7. Liderança Orientada para Relacionamento
1.4.1 - Liderança Autocrática
A liderança autocrática é baseada na autoridade formal, aceita como correta e legítima
pela estrutura do grupo.
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O líder autocrático baseia a sua atuação numa disciplina rígida, impondo obediência e
mantendo-se afastado de relacionamentos menos formais com os seus subordinados, controla
o grupo por meio de inspeções de verificação do cumprimento de normas e padrões de
eficiência, exercendo pressão contínua. Esse tipo de liderança pode ser útil e, até mesmo,
recomendável, em situações especiais como em combate, quando o líder tem que tomar

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decisões rápidas e não é possível ouvir seus liderados, sendo a forma de liderança mais
conhecida e de mais fácil adoção.
A principal restrição a esse tipo de liderança é o desinteresse pelos problemas e ideias,
tolhendo a iniciativa e, por conseguinte, a participação e a criatividade dos subordinados. O
uso desse estilo de liderança pode gerar resistência passiva dentro da equipe e inibir a
iniciativa do subordinado, além de não considerar os aspectos humanos, dentre eles, o
relacionamento líder-liderados.
1.4.2 - Liderança Participativa ou Democrática
Nesse estilo de liderança, abre-se mão de parte da autoridade formal em prol de uma
esperada participação dos subordinados e aproveitamento de suas ideias. Os componentes do
grupo são incentivados a opinarem sobre as formas como uma tarefa poderá ser realizada,
cabendo a decisão final ao líder (exemplo típico é o Estado-Maior). O êxito desse estilo é
condicionado pelas características pessoais, pelo conhecimento técnico-profissional e pelo
engajamento e motivação dos componentes do grupo como um todo. Em se obtendo
sucesso, a satisfação pessoal e o sentimento de contribuição por parte dos subordinados são
fatores que permitem uma realimentação positiva do processo. Na ausência do líder, uma boa
equipe terá condições de continuar agindo de acordo com o planejamento previamente
estabelecido para cumprir a missão.
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O líder deve estabelecer um ambiente de respeito, confiança e entendimento recíprocos,
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devendo possuir, para tanto, ascendência técnico-profissional sobre seus subordinados e


conduta ética e moral compatíveis com o cargo que exerce. Um líder que adota o estilo

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democrático encoraja a participação e delega com sabedoria, mas nunca perde de vista sua
autoridade e responsabilidade.
Um chefe inseguro dificilmente conseguirá exercer uma liderança democrática, mas
tenderá a submeter ao grupo todas as decisões. Isso poderá fazer com que o chefe acabe
sendo conduzido pelo próprio grupo.
1.4.3 - Liderança Delegativa
Esse estilo é indicado para assuntos de natureza técnica, onde o líder atribui a assessores
a tomada de decisões especializadas, deixando-os agir por si só. Desse modo, ele tem mais
tempo para dar atenção a todos os problemas sem se deter especificamente a uma
determinada área. É eficaz quando exercido sobre pessoas altamente qualificadas e
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motivadas.
O ponto crucial do sucesso deste tipo de liderança é saber delegar atribuições sem perder
o controle da situação e, por essa razão, o líder, também, deverá ser altamente qualificado e
motivado. O controle das atividades dos elementos subordinados é pequeno, competindo ao
chefe as tarefas de orientar e motivar o grupo para atingir as metas estabelecidas.

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1.4.4 - Liderança Transformacional
Esse estilo de liderança é especialmente indicado para situações de pressão, crise e
mudança, que requerem elevados níveis de envolvimento e comprometimento dos
subordinados, sendo que “uma ou mais pessoas engajam-se com outras de tal forma que
líderes e seguidores elevam um ao outro a níveis mais altos de motivação e moral” (BURNS,
1978, apud SMITH; PETERSON, 1994, p. 129)
Quatro aspectos caracterizam a liderança transformacional: 1º) “[...] carisma (influência
idealizada) associado com um grau elevado de poder de referência por parte do líder [...]”
(NOBRE, 1998, p. 54), que é capaz de despertar respeito, confiança e admiração; 2º)
inspiração motivadora, que consiste na capacidade de apresentar uma visão, dando sentido à
missão a ser realizada, de instilar orgulho. Inclui também a capacidade de simplificar o
entendimento sobre a importância dos objetivos a serem atingidos e, a “[...] possibilidade de
criar símbolos, “slogans” ou imagens que sintetizam e comunicam metas e ideais,
concentrando assim os esforços [...]” (NOBRE, 1998, p. 54); 3º) estimulação intelectual,
consiste “[...] em encorajar os subordinados a questionarem sua forma usual de fazer as
coisas, [...] além de incentivar a criatividade, o auto-desenvolvimento e a autonomia de
pensamento” (NOBRE, 1998, p. 54-55), propiciando a formulação de críticas construtivas,
em busca da melhoria contínua; 4º) “consideração individualizada, implica em considerar as
necessidades diferenciadas dos subordinados, dedicando atenção pessoal, orientando
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tecnicamente e aconselhando individualmente” (CAVALCANTI et al., 2005) e “[...]
oferecendo também meios efetivos de desenvolvimento e auto-superação.” (NOBRE, 1998,
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p. 55). Segundo o enfoque da liderança transformacional, ao encontrarem significado e

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perspectivas de realização pessoal no trabalho, os subordinados alcançam os mais elevados
níveis de produtividade e criatividade, fazendo desaparecer a dicotomia trabalho e prazer.
(BARRETT, 2000, apud CAVALCANTI et al., 2005).

1.4.5 - Liderança Transacional


Nesse estilo de liderança, o líder trabalha com interesses e necessidades primárias dos
seguidores, oferecendo recompensas de natureza econômica ou psicológica, em troca de
esforço para alcançar os resultados organizacionais desejados (CAVALCANTI et al., 2005).
A liderança transacional envolve os seguintes fatores:
“A recompensa é contingente, buscando-se uma sintonia entre o atendimento das
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necessidades dos subordinados e o alcance dos objetivos organizacionais; Esse estilo de


liderança caracteriza-se também pela administração por exceção, que
implica num gerenciamento atuante somente no sentido de corrigir erros [...].”
(NOBRE, 1998, p. 55)
Neste estilo de liderança, o líder “[...] observa e procura desvios das regras e padrões,

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toma medidas corretivas.” (CAVALCANTI et al., 2005, p. 120).

1.4.6 - Liderança Orientada para Tarefa


A especialização em tarefas é uma das principais responsabilidades do líder, na medida
em que possui a necessária qualificação profissional para o exercício da função. Nesse estilo
de liderança, então, o líder focaliza o desempenho de tarefas e a realização de objetivos,
transmitindo orientações específicas, definindo maneiras de realizar o trabalho, o que espera
de cada um e quais são os padrões organizacionais.

1.4.7 - Liderança Orientada para Relacionamento


Nesse estilo de liderança, o foco do líder é a manutenção e fortalecimento das relações
pessoais e do próprio grupo. O líder demonstra sensibilidade às necessidades pessoais dos
liderados, concentra-se nas relações interpessoais, no clima e no moral do grupo. Esse estilo
de liderança, que está significativamente associado às medidas de satisfação dos liderados em
relação ao trabalho e ao chefe, pode ser útil em situações de tensão, frustração, insatisfação e
desmotivação do grupo.
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1.5 - SELEÇÃO DE ESTILOS DE LIDERANÇA


Ao proporem diferentes estilos de liderança, os autores condicionam a eficácia do

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seu emprego a algumas variáveis, tais como:
1. Relevância da qualidade da tarefa ou decisão;
2. Importância da aceitação da decisão pelos subordinados para obtenção de seu
envolvimento na implantação de determinada linha de ação;
3. Tempo disponível para realização da missão;
4. Riscos envolvidos;
5. Níveis de prioridade no que diz respeito à produtividade ou à satisfação do grupo; e
6. Nível de maturidade psicológica e profissional dos subordinados.

Destacando-se apenas esta última variável como exemplo, pode-se afirmar,


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genericamente, que a identificação de um baixo nível de maturidade (profissional e/ou


emocional) no grupo de subordinados induz à aplicação de estilos com maior centralização de
poder, mais foco na tarefa e que incentivos no nível transacional (licença, rancho, conforto
etc) tendem a ter mais valência para o grupo. Por outro lado, grupos mais maduros, em geral,
respondem melhor a estilos menos centralizadores de poder e a incentivos no nível da

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autorrealização, como ocorre no estilo transformacional. Naturalmente, não apenas uma, mas
todas as variáveis relevantes de cada situação devem ser consideradas pelo líder.
Portanto, diferentes estilos de liderança podem ser adotados, de acordo com as
circunstâncias. Pode-se considerar que:
“[...] quando se abandona a ideia de que deve existir uma melhor forma de liderar, todas
as teorias subsequentes de liderança devem ser contingenciais ou situacionais, isto é, devem
definir as circunstâncias que afetam o comportamento e
a eficácia dos líderes.” (SMITH; PETERSON, 1994, p. 173)

À luz da abordagem situacional, que prevalece na atualidade, na qual a liderança pode


assumir diversos estilos, os principais requisitos de liderança passam a ser a capacidade de
diagnosticar as variáveis situacionais, a flexibilidade e a adaptabilidade às mudanças. Os
melhores líderes utilizam estilos diferentes, em distintas situações. Assim, é necessário um
esforço pessoal do líder no sentido de se adaptar, continuamente, às mudanças de estilo
adequadas a cada contexto.
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1.6 - FATORES DA LIDERANÇA
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Os fatores da liderança, mencionados neste item, baseiam-se na publicação Liderança


Militar, Instruções Provisórias IP 20-10, de 1991, do Estado-Maior do Exército.

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1.6.1 - O Líder
O líder deve conhecer a si mesmo, para saber de suas capacidades, características e
limitações, evitando atribuir aos seus liderados falhas ou restrições.
“Os bons líderes eficientes são também bons seguidores [...]” (BRASIL, 1991, p. 3-3) e
cumpridores das orientações de seus superiores, passando esse exemplo a seus subordinados.
“O líder, independentemente de sua vontade, atua como elemento modificador do
comportamento de seus liderados subordinados. [...] A função militar está relacionada com a
segurança e a responsabilidade pela vida de seres humanos.”
(BRASIL, 1991, p. 3-3, 3-4)
Provavelmente, poucos profissionais são forçados a assumir tarefa tão grave ao liderar
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subordinados. (BRASIL, 1991).


1.6.2 - Os Liderados
“O conhecimento dos liderados é fator essencial para o exercício da liderança e depende
do entendimento claro da natureza humana, das suas necessidades, emoções e motivações.”
(BRASIL, 1991, p. 3-4)

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Isto é, ainda, crucial para o salutar exercício de Delegação de Autoridade.
1.6.3 - A Situação
“Não existem normas nem fórmulas que mostrem com exatidão o que deve ser feito. O
líder precisa compreender a dinâmica do processo de liderança, os fatores principais que a
compõem, as características de seus liderados e aplicar estes
conhecimentos como guia para cada situação em particular.” (BRASIL, 1991, p. 3-5)
Fica, assim, bem clara a necessidade exaustiva da prática da liderança, para o sucesso do
líder, levando sempre em conta a cultura e/ou a subcultura organizacional da instituição.
1.6.4 - A Comunicação
“A comunicação é um processo essencial à liderança, que consiste na troca de ordens,
informações e ideias, só ocorrendo quando a mensagem é recebida e compreendida. [...] É
através desse processo que o líder coordena, supervisiona, avalia, ensina, treina e aconselha
seus subordinados.[...] O que é comunicado e a forma como isto é feito aumentam ou
diminuem o vínculo das relações pessoais, criam o respeito, a confiança mútua e a
compreensão. Os laços que se formam, com o passar do tempo, entre o líder e seus liderados,
são a base da disciplina e da coesão em uma organização. O líder deve ser claro e “escolher”
cuidadosamente as palavras, de tal forma que signifiquem a mesma coisa para ele e para seus
subordinados.” (BRASIL, 1991, p. 3-4).
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1.7 - ATRIBUTOS DE UM LÍDER
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A natureza e as especificidades da profissão militar, a destinação constitucional das


Forças Armadas e a cultura organizacional da Forças Armadas como um todo e, da Marinha,

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mais especificamente, fazem com que certos traços de personalidade tornem-se desejáveis e
tendam a encontrar-se especialmente acentuados nos líderes militares. Embora não existam
fórmulas de liderança, a História, a experiência e também a pesquisa psicossocial têm
demonstrado que é importante que os chefes procurem desenvolver esses traços em si e nos
seus subordinados, porque em momentos críticos ou nas situações difíceis eles podem
contribuir para um exercício mais eficaz da liderança no contexto militar.
Os atributos de um líder têm como componente comum a capacidade de influenciar. Um
bom líder deve perseguir, manter, desenvolver e cultivar essa capacidade e, sobretudo,
transmiti-la aos seus subordinados, formando assim, novos líderes que, por sua vez, devem
agir da mesma forma, na tentativa de alcançar um círculo virtuoso.
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O Anexo A define os principais atributos de um líder, que devem estar em consonância


com os preceitos da Ética Militar, segundo os fundamentos estabelecidos no Estatuto dos
Militares. Nunca é demais ressaltar que a Ética é parâmetro fundamental para o exercício da
liderança, notadamente no âmbito militar.

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1.8 - NÍVEIS DE LIDERANÇA
Com a evolução das técnicas de gestão empresarial, o foco do estudo sobre o
comportamento dos dirigentes passou a ser voltado para as diferenças entre o líder de base e o
de cúpula. Foi então idealizado um padrão de organização baseado em três níveis funcionais:
operacional, tático e estratégico, discriminando as características desejáveis para um líder nos
três níveis, de acordo com suas habilidades.
Em consonância com esses novos conceitos, foram estabelecidos três níveis de liderança:
direta, organizacional e estratégica. Estes três níveis definem com precisão toda a
abrangência da liderança e será adotado ao longo desta Doutrina.
NÍVEIS DE LIDERANÇA
1. A liderança direta
2. A liderança organizacional
3. A liderança estratégica
A liderança direta é obtida por meio do relacionamento face a face entre o líder e seus
liderados e é mais presente nos escalões inferiores, quando o contato pessoal é constante. A
liderança direta, conquanto seja mais intensa no comando de pequenas frações ou unidades,
tendo em vista que a estrutura organizacional da Força exige o trato com assessores e
subordinados diretos.
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A liderança organizacional desenvolve-se em organizações de maior envergadura,
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normalmente estruturadas como Estado-Maior, sendo composta por liderança direta,


conduzida em menor escala e voltada para os subordinados imediatos, e por delegação de

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tarefas.
A liderança estratégica militar é aquela exercida nos níveis que definem a política e a
estratégia da Força. É um processo empregado para conduzir a realização de uma visão de
futuro desejável e bem delineada.
1.8.1 - Liderança Direta
Essa é a primeira linha de liderança e ocorre em organizações onde os subordinados
estão acostumados a ver seus chefes frequentemente: seções, divisões, departamentos, navios,
batalhões, companhias, pelotões e esquadras de tiro. Para serem eficazes, os líderes diretos
devem possuir muitas habilidades interpessoais, conceituais, técnicas e táticas.
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Os líderes diretos aplicam os atributos conceituais de pensamento crítico-lógico e
pensamento criativo para determinar a melhor maneira de cumprir a missão. Como todo líder,
usam a Ética para pautar suas condutas e adquirir certeza de que suas escolhas são as
melhores e contribuem para o aperfeiçoamento da performance do grupo, dos subordinados e
deles próprios. Eles empregam os atributos interpessoais de comunicação e supervisão para
realizar o seu trabalho. Desenvolvem seus liderados por instruções e aconselhamento e os
moldam em equipes coesas, treinando-os até a obtenção de um padrão.
São especialistas técnicos e os melhores mentores. Tanto seus chefes quanto seus
subordinados esperam que eles conheçam bem sua equipe, os equipamentos e que sejam
“expert” na área em que atuam.
Usam a competência para incrementar a disciplina entre os seus comandados. Usam o
conhecimento dos equipamentos e da doutrina para treinar homens e levá-los a alcançar
padrões elevados, bem como criam e sustentam equipes com habilidade, certeza e confiança
no sucesso na paz e na guerra.
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Exercem influência continuamente, buscando cumprir a missão, tendo por base os
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propósitos e orientações emanadas das decisões e do conceito da operação do chefe,


adquirindo e aferindo resultados e motivando seus subordinados, principalmente pelo

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exemplo pessoal. Devido a sua liderança ser face a face, veem os resultados de suas ações
quase imediatamente.
Trabalham focando as atividades de seus subordinados em direção aos objetivos da
organização, bem como planejam, preparam, executam e controlam os resultados.
Se aperfeiçoam ao assumirem os valores da instituição e ao estabelecerem um modelo
de conduta para seus subordinados, colocando os interesses da instituição e do Grupo que
lideram acima dos próprios. Com isto, eles desenvolvem equipes fortes e coesas em um
ambiente de aprendizagem saudável e efetiva.
Os líderes diretos devem, ainda, estimular ao máximo o desenvolvimento de líderes
subordinados, de forma a potencializar a sua influência até os níveis organizacionais mais
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baixos e obter melhores resultados.


1.8.2 - Liderança Organizacional
Ao contrário do que acontece no nível de liderança direta, onde os líderes planejam,
preparam, executam e controlam diretamente os resultados dos seus trabalhos, a influência
dos líderes organizacionais é basicamente indireta: eles expedem suas políticas e diretivas e

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incentivam seus liderados por meio de seu staff e comandantes subordinados.

Devido ao fato de não haver proximidade, os resultados de suas ações são


frequentemente menos visíveis e mais demorados. No entanto, a presença desses líderes em
momentos e lugares críticos aumenta a confiança e a performance dos seus liderados.
Independente do tipo de organização que eles chefiem, líderes organizacionais conduzem
operações pela força do exemplo, estimulando os subordinados e supervisionando-os
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apropriadamente. Sempre que possível, o líder organizacional deve mostrar sua presença
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física junto aos escalões subordinados, seja por intermédio de visitas e mostras, seja por meio
de reuniões funcionais com os comandantes subordinados.

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1.8.3 - Liderança Estratégica
Líderes estratégicos exercem sua liderança no âmbito dos níveis mais elevados da
instituição. Sua influência é ainda mais indireta e distante do que a dos líderes
organizacionais. Desse modo, eles devem desenvolver atributos adicionais de forma a
eliminar ou reduzir esses inconvenientes.
Os líderes estratégicos trabalham para deixar, hoje, a instituição pronta para o amanhã, ou
seja, para enfrentar os desafios do futuro, oscilando entre a consciência das necessidades
nacionais correntes e na missão e objetivos de longo prazo.
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Desde que a incerteza quanto às possíveis ameaças não permita uma visualização clara
do futuro, a visão dos líderes estratégicos é especialmente crucial na identificação do que é
importante com relação ao pessoal, material, logística e tecnologia, a fim de subsidiar
decisões críticas que irão determinar a estrutura e a capacidade futura da organização.
Dentro da instituição, os líderes estratégicos constroem o suporte para facilitar a busca
dos objetivos finais de sua visão. Isto significa montar um staff que possa assessorá-los
convenientemente a conduzir seus subordinados de maneira segura e flexível. Para obter o
suporte necessário, os líderes estratégicos procuram obter o consenso não só no âmbito
interno da organização, como também trabalhando junto a outros órgãos e instituições a que
tenham acesso, em questões como orçamento, estrutura da Força e outras de interesse, bem
como estabelecendo contatos com representações de outros países e Forças em assuntos de
interesse mútuo.
A maneira como eles comunicam as suas políticas e diretivas aos militares e civis
subordinados e apresentam aquelas de interesse aos demais cidadãos vai determinar o nível
de compreensão alcançado e o possível apoio para as novas ideias. Para se fazer entender por
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essas diversas audiências, os líderes estratégicos empregam múltiplas mídias, ajustando a
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mensagem ao público alvo, sempre reforçando os temas de real interesse da instituição.


Os líderes estratégicos estão decidindo hoje como transformar a Força para o

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futuro.
Eles devem trabalhar para criar e desenvolver a próxima geração de líderes
estratégicos, montar a estrutura para o futuro e pesquisar os novos sistemas que contribuirão
na obtenção do sucesso.
Para capitanear as mudanças pessoalmente e levar a instituição em direção à realização
do seu projeto de futuro, esses líderes transformam programas conceituais e políticos em
iniciativas práticas e concretas. Este processo envolve uma progressiva alavancagem
tecnológica e uma modelagem cultural. Conhecendo a si mesmos e aos demais “atores”
estratégicos, tendo um nítido domínio dos requisitos operacionais, da situação geopolítica e
da sociedade, os líderes estratégicos conduzem adequadamente a Força e contribuem para o
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desenvolvimento e a segurança da Nação. Tendo em vista que os conflitos nos dias de hoje
podem ser desencadeados muito rapidamente, não permitindo um longo período de
mobilização para a guerra – como se fazia no passado –, o sucesso de um líder estratégico
significa deixar a Força pronta para vencer uma variedade de conflitos no presente e
permanecer pronta para enfrentar as incertezas do futuro.

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Em resumo, esses líderes preparam a instituição para o futuro por meio de sua liderança.
Isto significa influenciar pessoas – integrantes da própria organização, membros de outros
setores do governo, elites políticas – por meio de propósitos significativos, direções claras e
motivação consistente. Significa, também, acompanhar o desenrolar das missões atuais,
sejam quais forem, e buscar aperfeiçoar a instituição – tendo a certeza que o pessoal está
adestrado e de que seus equipamentos e estrutura estão prontos para os futuros desafios.

Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes; porque o Senhor,
teu Deus, é contigo, por
onde quer que
andares.
(Josué 1:9)”
Sustenta o fogo que a vitória é nossa!
Estamos juntos!
ADSUMUS
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HISTÓRIA NAVAL
Capítulo I - A História da Navegação:
1) Os navios de madeira: construindo embarcações e navios 01
2) O desenvolvimento dos navios portugueses 02
3) O desenvolvimento da navegação oceânica: os instrumentos e as
cartas de marear 02
4) A vida a bordo dos navios veleiros 03
Capítulo II - A Expansão Marítima Europeia e o Descobrimento
do Brasil:
1) Fundamentos da organização do Estado português e a expansão
ultramarina 04
2) Lusitânia 05
3) Ordens militares e religiosas 05
4) O papel da nobreza 06
5) A importância do mar na formação de Portugal 06
6) Desenvolvimento econômico e social 06
Capítulo III - A descoberta do Brasil
1) A descoberta do Brasil 11
2) O reconhecimento da costa brasileira: 12
2.1) A expedição de 1501/1502 12
2.2) A expedição de 1502/1503 12
2.3) A expedição de 1503/1504 12
2.4) As expedições guarda-costas 12
2.5) A expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa 13
Capítulo IV - Invasões Estrangeiras ao Brasil
1) Invasões Estrangeiras ao Brasil 14
2) Invasões francesas no Rio de Janeiro e no Maranhão 15
2.1) Rio de Janeiro 15
2.3) Maranhão 16
3) Invasores na foz do Amazonas 17
4) Invasões holandesas na Bahia e em Pernambuco 17
4.1) Holandeses na Bahia 17
5) A ocupação do Nordeste brasileiro 18
6) A insurreição em Pernambuco 19
7) A derrota dos holandeses em Recife 21
8) Corsários franceses no Rio de Janeiro no século XVIII 22
9) Guerras, tratados e limites no Sul do Brasil 22
Capítulo V - Formação da Marinha Imperial Brasileira
1) Formação da Marinha Imperial Brasileira 26
2) A vinda da Família Real 26
2.1) A Corte no Rio de Janeiro 26
3) A Política Externa de D. João e a atuação da Marinha 27
3.1) A conquista de Caiena e a ocupação da Banda Oriental 27
4) A Banda Oriental 27
5) A Revolta Nativista de 1817 e a atuação da Marinha 28
6) Guerra de independência 29
6.1) Elevação do Brasil a Reino Unido 29
6.2) O retorno de D. João VI para Portugal 29
6.3) A Independência 29
7) A Formação de uma Esquadra Brasileira 30
8) Operações Navais 30
9) Confederação do Equador 31
Capítulo VI - A Atuação da Marinha nos Conflitos da Regência e
do Início do Segundo Reinado
1) A Atuação da Marinha nos Conflitos da Regência e do Início do
Segundo Reinado 33
2) Conflitos internos 34
2.1) Cabanagem 34
2.2) Guerra dos Farrapos 35
2.3) Sabinada 35
2.4) Balaiada 35
2.5) Revolta Praieira 36
3) Conflitos externos 36
3.1) Guerra Cisplatina 36
3.2) Guerra contra Oribe e Rosas 41
4) A Guerra da Criméia e suas lições 42
5) A Guerra de Secessão ou Guerra Civil Americana 44
5.1) A Batalha de Hampton Roads 44
6) A Guerra Austro-Prussiana 47
6.1) A Batalha de Lissa 47
Capítulo VII - A Atuação da Marinha na Guerra da Tríplice
Aliança contra o Governo do Paraguai
1) A Atuação da Marinha na Guerra da Tríplice Aliança contra o
Governo do Paraguai 49
2) Paraguai – da independência à Guerra da Tríplice Aliança 49
3) O bloqueio do Rio Paraná e a Batalha Naval do Riachuelo 50
4) Navios encouraçados e a invasão do Paraguai 53
5) Curuzu e Curupaiti 54
6) Caxias e Inhaúma 54
7) Passagem de Curupaiti 54
8) Passagem de Humaitá 55
9) O recuo das forças paraguaias 55
10) O avanço aliado e a Dezembrada 55
11) A ocupação de Assunção e a fase final da guerra 56
12) A Guerra Franco-Prussiana 56
Capítulo VIII - A Marinha do Brasil na República
1) A Marinha do Brasil na República 57
2) As duas grandes guerras 58
3) Primeira Guerra Mundial 59
3.1) Antecedentes 59
3.2) O preparo do Brasil 60
3.3) A Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG) 62
4) O Período entre Guerras 64
4.1) A situação em 1940 65
5) Segunda Guerra mundial 65
5.1) Antecedentes 65
5.2) Início das hostilidades e ataques aos nossos navios mercantes 65
6) A Lei de Empréstimo e Arrendamento e modernizações de nossos
meios e defesa ativa da costa brasileira 67
7) Defesas Locais 69
8) Defesa Ativa 69
9) A Força Naval do Nordeste 70
10) E o que ficou? 72
Capítulo IX - O Emprego Permanente do Poder Naval
1) O Emprego Permanente do Poder Naval 74
1.1) O Poder Naval na guerra e na paz 74
1.2) Classificação 75
2) A percepção do Poder Naval 76
3) O emprego permanente do Poder Naval 77
Artigos:
Jerônimo de Albuquerque e o Comando da Força Naval contra os
Franceses no Maranhão
A Evolução tecnológica no setor naval na segunda metade do século
XIX e as consequências para a Marinha do Brasil.
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza
Capítulo I
A História da Navegação:
1) Os Navios de Madeira: Construindo embarcações e navios:
O primeiro método de construção de
embarcações, utilizado desde a canoa de tábuas, é
chamado de “costado rígido”. Construía-se primeiro o
costado da embarcação, juntando as tábuas pelas bordas
e, depois, acrescentavam-se, os reforços estruturais
internos e externos. O costado podia ser liso ou trincado,
conforme se juntavam as tábuas, topo a topo ou
sobrepondo suas bordas. O resultado deste método é um
casco resistente, com ênfase estrutural no costado, bom
para resistir a colisões e para encalhar, se necessário, nas
praias. Ainda hoje se constroem pequenas embarcações
assim e, na Antiguidade, era como se construíam as Modelo de Galé Trirreme Grega de 480aC
galés.
As galés eram embarcações movidas principalmente por remos, algumas com muitos remadores,
embora pudessem também ter velas. Foram muito utilizadas por povos navegadores do passado, como os
cretenses, os gregos, os romanos, os bizantinos e os nórdicos.
Chama-se de navio uma embarcação grande. Há mais de dois mil anos já se construíam navios.
Empregava-se a madeira, pois ela foi o primeiro material que se mostrou mais adequado para a construção
naval.1 Somente após o desenvolvimento industrial alcançado no século XIX, há cerca de 150 anos, é que o
ferro e, depois, o aço, passaram a serem matérias-primas importantes para a construção naval.
Chegou-se ao método de “esqueleto rígido” 2 após uma longa evolução que durou mais de mil anos,
passando por métodos chamados de híbridos, em que algumas cavernas eram montadas antes do costado,
para possibilitar algum controle da forma final do casco.
Embora o método de esqueleto rígido
tivesse se desenvolvido no litoral do Mar
Mediterrâneo (fora de Portugal), ele foi
empregado pelos portugueses para
construir os navios que iniciaram, no
século XV, a aventura das Grandes
Navegações, que não somente levou ao
Descobrimento do Brasil, mas também
transformou o mundo. Os oceanos, que
antes eram obstáculos entre os povos da
Terra, tornaram-se vias de comunicação
entre eles.
Nau São Sebastião em construção no Arsenal de Marinha da Corte
em 1764. Desenho de Armando Pacheco
Fonte: O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro na História (1783-
1822) de Juvenal Greenhalg

1
A tecnologia da utilização da madeira é complicada. É preciso conhecer que qualidade de madeira usar, obedecer à época e à
hora certa para cortar as árvores; armazenar as toras corretamente, secas ou submersas, e trabalhá-las conforme suas
características físicas. O construtor naval passeava pelas florestas escolhendo as árvores que tinham as curvas adequadas para
fazer os elementos estruturais e eram necessárias centenas delas para construir um navio. Além disto, cada parte da embarcação
precisava de uma espécie vegetal diferente e estas espécies não eram as mesmas em cada região. A que servia para mastros não
podia ser utilizada em costado, a que era boa para a parte submersa do casco nem sempre servia para conveses, por exemplo. As
galés, que eram construídas pelo método de “costado rígido”, tinham as formas do casco muito semelhantes. Isto resultava do
método empregado, de construir o costado primeiro, que até nem precisava de um projeto. O problema do método de “costado
rígido” é que ele não permite construir um navio exatamente com a forma do casco desejada por um projetista, para que ele possa
ter maior capacidade de carga e suportar melhor a navegação no oceano.
2
Foi preciso desenvolver um método que permitisse controlar a forma do casco durante a construção, para que ele pudesse
enfrentar melhor as grandes ondas do oceano. Isso se resolveu construindo primeiro a estrutura. A quilha e as cavernas do navio
são montadas em primeiro lugar, formando o que parece ser o “esqueleto” do navio. Depois é que se montam as tábuas do
costado, fixando-as aos elementos estruturais. Este método é chamado de “esqueleto rígido”.
1
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza
2) O Desenvolvimento dos Navios Portugueses:
As caravelas provavelmente tiveram sua origem em embarcações de pesca, que já existiam na
Península Ibérica desde o século XIII. Tinham, em geral, velas latinas3. As velas latinas são próprias para
navegar com qualquer vento e, por isso, adequadas às explorações da costa da África. Principalmente foi
com as caravelas que os portugueses exploraram o litoral africano durante o século XV. Devido ao
desenvolvimento dos navios e de técnicas e instrumentos náuticos foi possível chegar ao extremo sul do
continente africano, ao Cabo da Boa Esperança, permitindo contornar a África, passando do Oceano
Atlântico para o Oceano Índico, e chegar ao Oriente.
A partir de então apareceu a nau, navio maior destinado à navegação e ao transporte de mercadorias.
Tem-se notícias que naus de três mastros, com o velame completamente desenvolvido, eram utilizadas pelos
portugueses desde o século XV. Por se enfatizar a prática mercantil, as naus eram mal armadas militarmente,
levando poucos canhões para sua defesa e das rotas marítimas que comandavam, abrindo espaço para a
concorrência estrangeira. Até então Portugal vinha utilizando caravelas bem armadas como navio de guerra,
mas, desde o início do século XVI, sentira a necessidade de desenvolver o galeão, navio de guerra maior e
com mais canhões, para combater os turcos no Oriente e os corsários e piratas europeus ou muçulmanos no
Atlântico.
O galeão foi a verdadeira origem do navio de guerra para emprego no oceano. Foi construído para
fazer longas viagens e combater longe da Europa.

3) O Desenvolvimento da Navegação Oceânica: os Instrumentos e as Cartas de Marear:


Para que Portugal pudesse realizar a expansão marítima efetiva nos séculos XV e XVI foi preciso
que se aperfeiçoasse a navegação, de modo a que se tornasse transoceânica e não apenas costeira, como se
praticava.
Quando começaram as Grandes Navegações,
já era conhecida a bússola, inventada pelos chineses,
também chamada de agulha de marear ou agulha
magnética, e, dentre os instrumentos de observação, o
astrolábio. A bússola é composta por uma agulha
imantada que se alinha em função do campo
magnético natural da terra, podendo-se saber a direção
em que está o polo norte magnético, propiciando ao
navio traçar seu rumo, sua direção.
Para saber exatamente a posição em que se está em relação ao globo terrestre, é necessário calcular a
latitude e a longitude do local. O cálculo prático da longitude, a bordo de navios, depende de se conhecer,
com precisão, a hora. Porém, a inexistência de relógios (cronômetros) que não fossem afetados pelos
movimentos do navio causados pelas ondas fez com que a hora não pudesse ser calculada no mar até o
século XVIII, quando foram desenvolvidos cronômetros adequados para serem utilizados a bordo dos
navios. A latitude não era difícil de se calcular e era através dela e da estimativa de quanto o navio havia se
deslocado, que os navegadores da época das Grandes Navegações sabiam aproximadamente onde estavam.
Evidentemente, erros de navegação ocorreram com consequências desastrosas.
No Hemisfério Norte, a estrela Polar, que ocupa uma posição muito próxima do polo norte celeste,
permite nos crepúsculos – ao nascente e ao poente, quando se avista ao mesmo tempo o horizonte e as
estrelas de maior brilho no céu – um cálculo mais seguro da latitude. Basta medir sua altura em relação ao
horizonte. Navegar mantendo a mesma altura significa manter a mesma latitude.
Deslocando-se para o Sul ou para o Norte, essa altura varia. Era assim, e
com a ajuda de umas pedras translúcidas que polarizavam a luz nos dias nublados,
que os nórdicos navegavam sem agulha de marear. Viajando para o Oeste,
alcançaram a Islândia e a América do Norte (muitos séculos antes de Cristóvão
Colombo chegar à América em 1492).
No Hemisfério Sul, a estrela Polar, que marca o polo norte celeste, não é
visível, e a estrela Alfa do Cruzeiro do Sul (a mais brilhante desta constelação), que

3
A vela latina é a que tem a verga longitudinal à linha de centro do navio, como as dos pequenos barcos a vela que atualmente
competem nas regatas.
2
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza
ocupa a posição no céu mais próxima do polo sul celeste, não está suficientemente
próxima para ser uma referência para a navegação.
A melhor forma de calcular a latitude nesse hemisfério era observando o Sol em sua passagem
meridiana, ou seja, medindo em graus sua altura, quando ele passa pelo ponto mais alto do céu, no local
onde se está. Os navegadores da época das Grandes Navegações faziam isto muito bem, utilizando
instrumentos náuticos. O astrolábio era o mais importante deles e servia, neste caso, para medir o ângulo
entre o Sol em sua passagem meridiana e a vertical. Outros instrumentos utilizados mais tarde, como o
quadrante e o sextante, mediam a altura do Sol através do ângulo em relação ao horizonte.
As cartas náuticas eram muito imprecisas e passaram por um difícil processo de desenvolvimento. As
que foram inicialmente elaboradas pelos portugueses eram conhecidas como portulanos. A partir do final do
século XVI, passou-se a utilizar a Projeção de Mercator.
Esta projeção é utilizada até os dias de hoje nas cartas náuticas. Nela os meridianos e paralelos são
representados por linhas retas, que se interceptam formando ângulos de 90 graus. Isto causa consideráveis
distorções nas latitudes mais elevadas, porém tem a vantagem de os rumos e as marcações de pontos de terra
serem linhas retas, facilitando a plotagem nas cartas. Como a Terra é aproximadamente esférica (na verdade
um geóide), a distância mais curta entre dois pontos não é uma linha reta na Projeção de Mercator, mas isto
é somente um pequeno inconveniente e a curva que representa a menor distância pode ser calculada pelo
navegador.

4) A Vida a Bordo dos Navios Veleiros:


A vida a bordo dos navios veleiros era muito difícil. O trabalho a bordo, com as manobras de pano,
muitas vezes durante tempestades, exigia bastante esforço físico e era arriscado. A comida, sem
possibilidade de se ter uma frigorífica, era deficiente, principalmente em vitaminas, o que causava doenças
como o beribéri (pela carência de vitamina B) e o escorbuto (carência de vitamina C). Durante os longos
períodos de mau tempo, não havia como secar as roupas. A higiene a bordo também deixava muito a
desejar. Muitos morreram nas longas viagens oceânicas.
Cabe observar que a vida em terra também não era fácil. O trabalho podia ser fatigante e o ambiente
insalubre. Desconhecia-se a causa de muitas doenças. Havia pouco conhecimento sobre uma dieta alimentar
adequada, a medicina da época era muito deficiente e os antibióticos ainda não existiam. Morria-se por
infecções causadas por bactérias, que seriam curadas sem grandes dificuldades nos dias de hoje.
O escorbuto merece destaque, pois foi uma doença que causou a morte de muitos marinheiros nas
longas estadias no mar, quando a dieta dependia apenas de peixe, carne salgada e biscoito (feito de farinha
de trigo, o último alimento que se deteriorava a bordo dos veleiros). O escorbuto é causado pela falta de
vitamina C na dieta. As gengivas incham e sangram, os dentes perdem sua fixação, aparecem manchas na
pele, sente-se muito cansaço. Com o tempo, vem a morte. Em uma viagem da Marinha inglesa (força naval
comandada pelo Comodoro George Anson), em 1741, dos dois mil homens que partiram da Inglaterra,
somente 200 regressaram. A maioria morreu por causa do escorbuto. Por volta de 1800, descobriu-se que
esse mal poderia ser evitado acrescentando à dieta suco de limão, rico em vitamina C, pois sua ingestão
diária, em pequenas doses, evita o escorbuto, tornando mais saudável a vida a bordo dos navios.

3
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza
Capítulo II
A Expansão Marítima Europeia e o Descobrimento do Brasil:
1) Fundamentos da organização do Estado português e a expansão ultramarina:
Este capítulo aborda as condicionantes físicas e políticas que levaram os portugueses a se
aventurarem pelo “mar tenebroso” – como antigamente era chamado o Oceano Atlântico - em busca de
caminhos alternativos para o comércio com o Oriente. Examinamos no capítulo anterior o desenvolvimento
da construção naval e dos instrumentos náuticos que permitiram tal feito e agora vamos conhecer um pouco
da história de Portugal e de seus navegadores.
O pioneirismo português, ao assumir a liderança do processo de expansão marítima europeia no final
do século XIV, encontra explicação em dois acontecimentos decisivos: o país estava com suas fronteiras
estabelecidas, após as guerras da Reconquista (que resultou na expulsão dos muçulmanos da Península
Ibérica) e firmava-se, então, como o primeiro Estado europeu moderno, politicamente centralizado, após a
vitória militar contra os reinos vizinhos de Leão e Castela. Tal processo de centralização do poder foi fator
muito importante para que o reino português pudesse lançar-se a aventura ultramarina, e quebrar o
monopólio exercido pelas cidades de Gênova e Veneza sobre as rotas de comércio com a Ásia e estabelecer
contato direto com as fontes produtoras. Para isso, em muito contribuiu a estrutura naval já existente, cujo
desenvolvimento foi estimulado pela coroa portuguesa. Na verdade, a expansão ultramarina ensejou uma
aliança entre setores mercantis e a nobreza, tendo o Estado o controle e direção de tal empreendimento.
A primeira conquista portuguesa no ultramar foi a cidade de Ceuta, ao norte da África onde hoje fica
situado o Marrocos. Na sequencia, Diogo Cão explorou a costa africana entre os anos de 1482 e 1485.
Bartolomeu Dias atingiu o sul do continente africano e ultrapassou o Cabo das Tormentas em 1487 (onde
hoje fica a África do Sul) que, após este acontecimento, passou a chamar-se Cabo da Boa Esperança. Vasco
da Gama, em 1498, chegou a Calicute, Sudoeste da Índia, estabelecendo a rota entre Portugal e o Oriente.
Em 1500, a frota de Pedro Álvares Cabral chegou às terras do Brasil, consolidando o império ultramarino
português.
Descoberta as terras que Portugal denominou Brasil, tornou-se
imperioso seu reconhecimento e povoamento. Veremos, a partir daqui,
quais as expedições que partiram para o reconhecimento do litoral das
novas terras e as providências para povoá-la e defendê-la.
Como “Navegar é preciso”, vamos partir para o reconhecimento de
novas terras...
A condição fundamental para o processo de formação das nações
europeias foi a crise do feudalismo, que teve início em meados do século
XIII. Esta crise foi resultante da relativa paz que vivia o continente
europeu, que permitiu a criação dos burgos (fora dos limites do senhor
feudal, que lhes dava proteção em troca da vassalagem), que viriam a se
transformar em vilas ou cidades com relativa autonomia. Isto provocou o
enfraquecimento dos senhores feudais, reduzindo o poder da nobreza e,
consequentemente, abrindo espaço para a retomada do poder político pelos
reis.
Os soberanos, à medida que obtinham recursos financeiros, em
troca de privilégios, fortaleciam seus exércitos e submetiam os antigos
feudos e as novas vilas e cidades à sua autoridade, incorporando esses
territórios ao que viria ser seus reinos. Era o embrião do futuro Estado
Nacional.
Intensas lutas precederam e consolidaram o Estado português. Iniciou com a expulsão dos mouros da
Península Ibérica em 1249 (os mouros invadiram a Península Ibérica no ano de 711), no movimento
denominado Reconquista, quando Portugal consolidou seu território e firmou-se como “o primeiro Estado
europeu moderno”, segundo o historiador Charles Boxer. Mas somente após a vitória sobre os Reinos de
Leão e Castela, em 1385, na Batalha de Aljubarrota, e a assinatura do tratado de paz e aliança perpétua com
o Reino de Castela, em 1411, a paz foi selada.
Portugal iniciou seu processo de expansão ultramarina conquistando aos mouros a cidade de Ceuta,
no norte da África, em 1415. A partir daí, virou-se para o mar, onde se tornou dominante. Como não poderia

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deixar de ser, esta empreitada envolveu somas altíssimas e, para financiá-la, a coroa portuguesa se valeu do
aumento de impostos e recorreu a empréstimos de grandes comerciantes e banqueiros (inclusive italianos).

2) Lusitânia:
A região que hoje é conhecida como Portugal foi originalmente habitada por populações iberas de
origem indo-europeia. Mais tarde, foi ocupada, sucessivamente, por fenícios (século XII a.C.), gregos
(século VII a.C.), cartagineses (século IIIa.C.), romanos (século II a.C.) e, posteriormente, pelos visigodos
(povo germânico, convertido ao cristianismo no século VI),desde 624.
Em 711, a região foi conquistada pelos muçulmanos, impulsionados por sua política de
expansionismo, tendo como base uma coligação formada por árabes, sírios, persas, egípcios e berberes, estes
em maioria, todos unidos pela fé islâmica e denominados mouros. Quase a totalidade da península caiu em
mãos dos mouros que, em seu avanço, só foram bloqueados quando tentaram invadir a França.
A resistência aos invasores só ganhou força a partir do século XI,após a formação dos reinos cristãos
ao norte, como Leão, Castela, Navarra e Aragão. A guerra deflagrada contra os mouros contou com o apoio
de grande parte da aristocracia europeia, atraída pelas terras que a conquista lhes proporcionaria.
Durante o reinado de Afonso VI (1069-1109), de Leão e Castela, a partir de 1072, dois nobres
franceses – Raimundo e Henrique de Borgonha – receberam como recompensa pelos serviços prestados na
campanha a mão das filhas do rei, além de terras como dote. D. Raimundo recebeu as terras a norte do Rio
Minho, o Condado de Galiza, e D. Henrique o Condado Portucalense. Estas terras não se constituíam em
reinos independentes e seus proprietários deviam prestar vassalagem ao rei de Leão.
A origem do próprio Estado português se deu com a formação do Condado Portucalense, sob o
domínio de D. Henrique de Borgonha. Este nobre, tendo o senhorio de ampla região entre os Rios Minho e
Mondego, procurou reforçar, através da luta contra os mouros, seu poderio sobre os demais senhores de
terras daquela área, bem como conseguir autonomia frente aos interesses do vizinho Reino de Leão, a cujo
soberano, como já foi dito, devia vassalagem.
O caráter inicial da formação dos reinos ibéricos, definido pelos aspectos militar e religioso
desenvolvidos nas lutas contra os mouros, marcou as tendências principais da constituição desses Estados.
De um lado, o processo de expulsão do inimigo muçulmano deu prioridade ao aspecto militar, o que
criou a necessidade de unificação do comando das forças cristãs, papel exercido pelos senhores de terras
mais poderosos das diversas regiões da península. Por outro lado, o profundo caráter religioso tomado pela
Reconquista, identificada com as cruzadas contra os infiéis muçulmanos, fez com que a Igreja de Roma
tivesse grande interesse no sucesso das forças cristãs.
As vitórias alcançadas pelos exércitos de D. Henrique mostraram à Santa Sé a importância que estes
vinham adquirindo no sucesso das lutas militares. Assim, os interesses do senhorio do condado e os do
papado iam aos poucos convergindo para o reconhecimento da autonomia portucalense ante o Reino de
Leão.
O Tratado de Zamora, firmado em 1143 entre o Duque portucalense D. Afonso Henriques (1128-
1185), filho de Henrique de Borgonha, e D. Afonso VII, imperador de Leão, determinou o reconhecimento
por parte deste último da independência do antigo condado, agora Reino de Portugal.

3) Ordens militares e religiosas:


Outro fator a ser ressaltado diz respeito às ordens
militares (ordens de cavalaria sujeitas a um estatuto religioso e
que se propunham a lutar contra os mulçumanos) no processo da
Reconquista. Tais ordens, fundadas com o intuito de auxiliar os
doentes e peregrinos que iam à Terra Santa e, sobretudo, para
combater militarmente os adeptos da fé mulçumana,
participaram das batalhas contra os mouros na Península Ibérica.
Seus contingentes, em muitos casos, formaram a base
dos exércitos cristãos. Em consequência dessa atuação, várias
ordens receberam doações de terras nos reinos ibéricos. Em
Portugal, as ordens dos Templários, de Avis e de Santiago foram
as mais beneficiadas por tais privilégios.

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As ordens, no entanto, não se destacaram apenas pelo seu aspecto militar. Contribuíram
significativamente para o povoamento do território português, a partir das regiões que lhes foram
distribuídas. Em torno de castelos e fortalezas, com efeito, desenvolveram atividades agrícolas que levaram
à fixação da população.
Além disso, foi igualmente importante nesse processo de ocupação territorial a participação das
ordens religiosas cujos membros não atuavam das lutas militares. Os mosteiros e capelas destas ordens,
dentre as quais se destacou a dos beneditinos, tornaram-se polos de atração pela segurança que ofereciam a
inúmeras famílias. Da mesma forma, desde a Reconquista, as ordens tomaram a peito a colonização de
zonas desertas ou dizimadas pela guerra, criando novos focos de povoamento e estimulando a exploração da
terra.

4) O papel da nobreza:
Além de setores diretamente ligados à Igreja, assinala-se também intensa vinculação da nobreza
portucalense na formação do Estado Nacional lusitano. Este setor social, cujo poder se originava na
propriedade da terra, também participou de forma decisiva nas guerras da Reconquista, apoiando o esforço
militar da realeza. Esta, num primeiro momento, concedeu privilégios bastante amplos à nobreza. Mais
tarde, contudo, pretendeu limitar tais privilégios, impondo medidas que beneficiavam a centralização do
poder.
Uma das providências tomadas nesse sentido foi a autonomia concedida pelo poder central aos
concelhos (que correspondem aos municípios nos dias de hoje), onde começavam a ter influência as
aspirações de comerciantes e mestres de ofício. O apoio do rei aos concelhos visava a enfraquecer o poder
da nobreza fundiária em sua própria base territorial, impedindo assim que os senhores de terras fizessem
prevalecer livremente seus interesses nas áreas que comandavam, sem levar em conta as determinações
régias.
Outro mecanismo de limitação do poder da nobreza foi o estabelecimento das inquirições. A partir de
uma interrupção nas lutas militares contra os mouros, entre os séculos XII e XIII, a coroa portuguesa buscou
avaliar a situação da propriedade de terras no reino.
Durante a Reconquista, a nobreza laica e eclesiástica aproveitou-se da falta de controle régio para
alargar seus domínios territoriais e privilégios, prejudicando em alguns casos os direitos e rendimentos da
coroa. Para coibir tal situação, o poder real utilizou-se das inquirições, pelas quais se formavam comissões
de inquérito (alçadas) a fim de investigar se os direitos reais devidos estariam sendo cumpridos e até mesmo
verificar o direito legal às propriedades.
Tal mecanismo se completava com as confirmações, processo pelo qual o rei sancionava não só a
propriedade da terra como o próprio título nobiliárquico do senhor em questão. Esses poderes submetiam, de
certa maneira, a nobreza eclesiástica e civil à coroa, já que passavam a depender desta para a preservação
tanto do título quanto da propriedade.

5) A importância do mar na formação de Portugal:


Paralelamente aos problemas políticos-territoriais apontados, é digno de destaque que, além da
agricultura, o comércio marítimo e a pesca eram as mais importantes atividades praticadas em Portugal, país
de solo nem sempre fértil e produtivo. A atividade pesqueira destacou-se como fundamental para
complemento da alimentação de sua população.
Situado em posição geográfica estratégica, à beira do Oceano Atlântico e próximo ao Mediterrâneo,
era de se esperar que desenvolvesse grande devotamento à navegação e, consequentemente, à construção
naval. Natural, também, que a Marinha portuguesa fosse utilizada em caráter militar, o que ocorreu a partir
do século XII.
No reinado de D. Sancho II (1223-1245) podem ser assinaladas as primeiras tentativas de
implantação de uma frota naval pertencente ao Estado, ordenando, inclusive, a construção de locais
específicos nas praias para reparo de embarcações.

6) Desenvolvimento econômico e social:


Durante o reinado de D. Dinis (1279-1325), sexto rei de Portugal (primeiro a assinar documentos
com nome completo e, presumidamente, primeiro rei não analfabeto daquele país), iniciativas bastante
relevantes foram adotadas para o fomento da cultura, da agricultura, do comércio e da navegação.

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Denominado O Lavrador ou Rei Agricultor e ainda Rei Poeta ou Rei Trovador, D. Dinis foi um monarca
essencialmente administrador e não guerreiro. Envolvendo-se em guerra contra Castela, em 1295, desistiu
dela em troca das Vilas de Serpa e Moura. Pelo Tratado de Alcanizes (1297) formou a paz com Castela,
ocasião em que foram definidas as fronteiras atuais entre os países ibéricos.
Preocupado com a infraestrutura do país, ordenou a exploração de minas de cobre, estanho e ferro,
fomentou as trocas comerciais com outros países, assinou o primeiro tratado comercial com a Inglaterra, em
1308, e instituiu a Marinha Real. Nomeou então o primeiro almirante (que se tem conhecimento) da Marinha
portuguesa, Nuno Fernandes Cogominho, para cuja vaga foi contratado, em 1317, o genovês Pezagno (ou
Manuel Pessanha). Data dessa época a chegada dos portugueses às Ilhas Canárias.
Deve-se também à sua iniciativa a intensificação da monocultura do pinheiro bravo (Pinhal de
Leiria), em princípio,com a finalidade de criar uma barreira vegetal que protegesse as terras agrícolas do
avanço das areias costeiras e, também, como reserva florestal para o fornecimento de madeira destinada à
construção naval e à exportação.
O cultivo era extremamente racional: sempre que havia corte de árvores, novas mudas eram
plantadas de imediato, recorrendo-se a enormes sementeiras. Esta ação manteve o pinhal praticamente
intacto e foi bastante utilizado durante os séculos XV e XVI, no período dos descobrimentos marítimos.
Além de fornecer madeira para a construção naval, o pinho fornecia um subproduto importantíssimo para
conservação e calafeto dos cascos das embarcações: o chamado pez, alcatrão vegetal de grande poder de
vedação. É notável que o Pinhal de Leiria exista até os dias de hoje, constituindo uma das maiores manchas
naturais da região do norte do distrito de Leiria.
No reinado de D. Fernando I (1367-1383), último soberano da dinastia de Borgonha, foi baixada a
Lei de Sesmarias, de 28 de maio de 1375. Tendo como medida coercitiva mais rígida a expropriação das
terras não produtivas, essa lei foi mais uma tentativa de solucionar a carência de mão de obra no campo,
causada pela fuga das populações para os centros urbanos, devido à peste negra4. O resultado foi uma séria
crise de abastecimento de gêneros alimentícios no reino.
A Lei de Sesmarias, que mais tarde seria aplicada no Brasil, teve pouco efeito prático. Seus artigos,
apesar de conterem ameaças aos proprietários de terras, atuaram no sentido de fortalecê-los, pois obrigavam
os trabalhadores a permanecerem nos campos, mesmo em troca de baixa remuneração.
Ainda durante o reinado de D. Fernando I, a construção naval recebeu grande incentivo, mediante a
isenção de impostos e a concessão de vantagens e garantias aos construtores navais, tais como a autorização
aos construtores de embarcações com mais de cem tonéis que cortassem a madeira necessária nas matas
reais com isenção de impostos. Também ficou isenta de impostos, a matéria-prima importada destinada à
construção naval. Em 1380, o monarca criou a Companhia das Naus, que funcionava como uma empresa de
seguros destinada a evitar a ruína financeira dos homens do mar. Como resultado, incrementaram-se o
comércio marítimo, a exportação de produtos da agricultura e a importação de tecidos e manufaturas. As

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Durante o reinado de Dom Afonso IV (1325-1357), Portugal foi atingido pela peste negra (peste bubônica, transmitida pelas
pulgas que infestam ratos). Esta foi a maior, a mais trágica epidemia que a História registra, tendo produzido um morticínio sem
paralelo. Foi chamada peste negra pelas manchas escuras que apareciam na pele dos enfermos. Como outras epidemias, teve início
na Ásia Central, espalhando-se por via terrestre e marítima em todas as direções. Em 1334 causou 5 mil mortes na Mongólia e no
norte da China. Houve grande mortandade na Mesopotâmia e na Síria, cujas estradas ficaram juncadas de cadáveres dos que
fugiam das cidades. No Cairo os mortos eram atirados em valas comuns e em Alexandria os cadáveres ficaram insepultos.
Calcula-se em 24 milhões o número de mortos nos países do Oriente.
Em 1347 a epidemia alcançou a Criméia, o arquipélago grego e a Sicília. Em 1348 embarcações genovesas procedentes
da Criméia aportaram em Marselha, no sul da França, ali disseminando a doença. Em um ano, a maior parte da população de
Marselha foi dizimada pela peste. Em1349 a peste chegou ao centro e ao norte da Itália e dali se estendeu a toda a Europa.
Em sua caminhada devastadora semeou a desolação e a morte nos campos e nas cidades. Povoados inteiros se
transformaram em cemitérios. Calcula-se que a Europa tenha perdido a metade de sua população. Em Portugal, o impacto da
epidemia também foi muito grande, tendo como consequência natural a drástica redução da mão de obra em todos os níveis. Os
trabalhadores que sobreviveram exigiram salários superiores aos que vigoravam antes da peste, gerando forte reação dos
proprietários de terras, que apelaram para o rei. Como resultado, o Rei Afonso IV (1325-1357), em 1349, ordenou que os
proprietários e autoridades competentes determinassem as medidas necessárias: foram fixados salários abaixo do que os
trabalhadores esperavam; tornaram obrigatória a aceitação da proposta por todos os trabalhadores e também obtiveram o direito de
recrutar a mão de obra à força.
Apesar deste elenco de medidas, passados três anos, os proprietários de terras permaneciam insatisfeitos comas
dificuldades de recrutar trabalhadores pelo salário fixado. Em face do insucesso das medidas coercitivas, agravou-se a crise de
abastecimento no país.
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rendas da Alfândega de Lisboa, considerado porto franco, aumentaram significativamente e era
intensamente frequentado por estrangeiros.
Outra importante iniciativa de D. Fernando foi a instalação da Torre do Tombo, o Arquivo Nacional
Português, onde se guardavam documentos importantes que preservavam a memória e a história de Portugal.
Foi-lhe dado este nome porque ficava sediado numa torre do Castelo de São Jorge, e tombo, porque
significava lançar em livro, inventariar, registrar.
D. Fernando I envolveu-se em três guerras contra Castela e passou a ser malvisto pela opinião
pública por seu casamento com Dona Leonor Teles (cujo casamento anterior fora anulado). Após a morte de
D. Fernando, os portugueses não aceitaram a regência da rainha viúva em nome da filha, a Infanta Dona
Beatriz, casada com um potencial inimigo, o rei de Castela. Este fator, somado à continuidade da crise de
abastecimento, deflagrou a Revolução de Avis.
Após deliberação das Cortes, foi aclamado rei o Mestre da Ordem de Avis, D. João I (1385-1433),
filho bastardo do oitavo rei de Portugal D. Pedro I (1357-1367), a quem caberia inaugurar uma nova
dinastia.
Vitoriosa em Lisboa, a revolta transformou-se em movimento de fidalgos e plebeus em guerra contra
Castela, cujo rei declarou pretensão à coroa portuguesa. Os castelhanos foram vencidos em várias batalhas e,
embora tenham bloqueado Lisboa, foram, afinal, fragorosamente derrotados na Batalha de Aljubarrota
(1385). A paz só foi selada em 1411.
Outra consequência importante dos fatos apontados foi a renovação da aristocracia portuguesa. Os
setores que haviam apoiado Castela tiveram seus bens confiscados pela coroa, a qual os doou em parte aos
seus aliados. Com tal divisão na nobreza, houve até mesmo casos em que pais perderam os bens para seus
próprios filhos.
Além disso, o apoio dos grupos mercantis a D. João I fez com que as aspirações de tais grupos
passassem a ser valorizadas pelo poder régio. A situação econômica do reino, ao sair vitoriosa da revolução,
era uma das mais graves. A alta do custo de vida e a queda do valor da moeda colocaram o tesouro
português em situação bastante difícil.
A nobreza também teve suas bases de poder atingidas pelo movimento de centralização régia, com a
colocação em prática da Lei Mental. Por meio dessa lei, baixada por D. Duarte (1433-1438) em 8 de abril de
1434, os bens doados pela coroa à nobreza só poderiam ser herdados pelo filho varão legítimo mais velho.
Isso permitiu à coroa retomar uma série de propriedades antes doadas às famílias nobres, reforçando seu
poder e, de alguma maneira, minando as bases do poderio senhorial.
Tal processo de centralização do poder foi o elemento essencial que permitiu ao reino português
lançar-se na expansão ultramarina. Deve-se destacar ainda que os limites da extração das rendas obtidas com
a agricultura fizeram a coroa voltar seus olhos às atividades comerciais e marítimas.
O monopólio exercido pelas cidades italianas de Gênova e Veneza sobre as rotas de comércio com a
Ásia levou os grupos mercantis portugueses a procurar outra alternativa para a realização de seus negócios e,
consequentemente, para obtenção de lucros. A saída seria a tentativa de contato direto com os comerciantes
árabes, evitando o intermediário genovês ou veneziano. Para isso muito contribuiu a estrutura naval já
existente no reino, cujo desenvolvimento foi estimulado pela coroa.
A expansão marítima portuguesa caracterizou-se por duas vertentes. A primeira, de aspecto
imediatista, realizada ao norte do continente africano, visava à obtenção de riquezas acumuladas naquelas
regiões através de prática de pilhagens. A tomada de Ceuta, no norte da África (Marrocos), em 1415, seria
um dos exemplos mais representativos deste tipo de empreendimento e marca o início da expansão
portuguesa rumo à África e à Ásia5.

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A mentalidade vigente na Europa no século XV se caracterizava por uma visão do mundo desconhecido como alguma coisa
muito perigosa. Acreditava-se que nos oceanos viviam monstros terríveis, correntes traiçoeiras e intransponíveis à espera dos
marinheiros. Uma mistura de conhecimentos geográficos com crendices e lendas que atormentava os homens do mar. Quando os
navegadores dobaram o Cabo Bojador no reconhecimento da costa africana, isto foi considerado um grande feito, tendo em vista a
visão existente do que existiria além daquele mar desconhecido. Doze anos levaram os portugueses na tentativa de ultrapassá-lo.
Os cronistas da época assim se referiam: “Depois deste cabo não há gente ou povoação alguma; a terra nãoé menos arenosa que os
desertos da Líbia, onde não há água, nem árvore, nem erva verde; e o mar é tão baixo, que a uma légua de terra não há fundo mais
que uma braça. As correntes são tamanhas que o navio que lá passe jamais nunca poderá tornar...Ora qual pensais que havia de ser
o capitão de navio a que pusessem semelhantes dúvidas diante, e mais por homens a que a razão de dar fé e autoridade em tais
lugares, que ousasse de tomar tal atrevimento, sob tão certa esperança de morte como lhe ante os olhos se apresentaram? ”Nessa
época vivia-se muito pouco se compararmos com os dias de hoje. A média de vida era de 30 anos, e um homem saudável de 60,
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Em menos de um século, Portugal dominou as rotas comerciais do Atlântico Sul, da África e da Ásia,
cuja presença foi tão marcante nesses mercados que, nos séculos XVI e XVII, a língua portuguesa era usada
nos portos como língua franca – aquela que permite o entendimento entre marinheiros de diferentes
nacionalidades. Na segunda vertente, o objetivo colocava-se mais a longo prazo, já que se buscava
conquistar pontos estratégicos das rotas comerciais com o Oriente, criando ali entrepostos (feitorias)
controlados pelos comerciantes lusos. Foi o caso da tomada das cidades asiáticas. Tal modo de expansão
também ficou marcado pelo aspecto religioso (cruzadas), pois se mantinha a ideia de luta cristã contra os
muçulmanos.
A expansão ultramarina permitiu, assim, uma convergência de interesses entre os setores mercantis e
a nobreza, tendo o Estado o papel de controle e direção de tal empreendimento. O monopólio do comércio
dos produtos asiáticos e o tráfico de escravos africanos (mão de obra para as regiões produtoras de matérias-
primas) enriqueciam não só os grupos mercantis, como geravam vultosas receitas para o tesouro régio, as
quais a coroa, em certa medida, repassava à nobreza através da doação de mercês, bens móveis e de raiz,
bem como de privilégios.
Cronologicamente e resumidamente, assim se deu o referido processo expansionista:
· Entre 1421 e 1434, os lusitanos chegaram aos Arquipélagos da
Madeira e dos Açores e avançaram para além do Cabo Bojador.
Até esse ponto, a navegação era basicamente costeira.
· Em 1436 atingiram o Rio do Ouro e iniciaram a conquista da
Guiné. Ali se apropriaram da Mina, centro aurífero explorado
pelos reinos nativos em associação aos comerciantes mouros, a
maior fonte de ouro de toda a história de Portugal até aquela
data.
· Em 1441, chegaram ao Cabo Branco.
· Em 1444, atingiram a Ilha de Arguim, no Senegal, onde
instalaram a primeira feitoria em território africano e iniciaram a
comercialização de escravos, marfim e ouro. Vasco da Gama chega em Mombaça, no
· Entre 1445 e 1461, descobriram o Cabo Verde, navegaram Quênia, em 7/4/1498
pelos Rios Senegal e Gâmbia e avançaram até Serra Leoa.
· Entre 1470 e 1475, exploraram a costa da Serra Leoa até o Cabo de Santa Catarina.
· Em 1482, atingiram São Jorge da Mina e avançaram até o Rio Zaire, o trecho mais difícil da costa ocidental
africana. O navegador Diogo Cão explorou a costa da África Ocidental entre 1482 e 1485.
· No período 1487/1488, Bartolomeu Dias atingiu o Cabo das Tormentas, no extremo Sul do continente –
que passou a ser chamado de Cabo da Boa Esperança – e chegou ao Oceano Índico, conquistando o trecho
mais difícil do caminho das Índias.
· Em 1498, Vasco da Gama chegou a Calicute, na costa Sudoeste da Índia, estabelecendo a rota entre
Portugal e o Oriente.
Vasco da Gama entrega a carta de
D. Manuel I, rei de Portugal, ao
Samorim (governante) de Calecute
na Índia.

uma raridade. Daí talvez o fato de indivíduos assumirem a vida do mar motivados pelo espírito aventureiro e também conscientes
da grande incerteza de retorno.
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Durante o reinado de D. João II, iniciado em 1481, a expansão ultramarina atingiu o auge com os
feitos dos navegadores Diogo Cão e Bartolomeu Dias. Abriram-se, desse modo, novas e extraordinárias
perspectivas para a nação portuguesa. O negócio das especiarias do Oriente, levadas para a Arábia e para o
Egito pelos árabes e dali transportadas aos países europeus, por intermédio de Veneza – que enriquecera
com o tráfico –, vai se concentrar em novas rotas, deslocando o foco do comércio mundial do Mediterrâneo
para o Oceano Atlântico.
Foi justamente um genovês, Cristóvão Colombo, quem abalou as pretensões de D. João II na sua
política expansionista ao descobrir a América em 1492. No retorno de sua famosa viagem, Colombo
avistou-se com o rei de Portugal comunicando-lhe a descoberta. Anteriormente, o mesmo Colombo já havia
oferecido seus serviços ao soberano português, que recusou a oferta baseado em informações dadas pelos
cosmógrafos do reino, levando o genovês a dirigir-se a Castela, onde obteve apoio financeiro para sua
famosa viagem.
Abalado com as notícias trazidas por Colombo, D. João II cogitou em mandar uma expedição em
direção às terras recém-descobertas, convencido de que lhe pertenciam por direito. Pouco depois, a questão
foi arbitrada por três Bulas6 do Papa Alexandre VI, que concederam à Espanha os direitos sobre as terras
achadas por seus navegadores a ocidente do meridiano traçado a cem léguas a oeste das Ilhas dos Açores e
de Cabo Verde.
Os portugueses discordaram da proposta e novas negociações resultaram na assinatura do Tratado de
Tordesilhas (cidade espanhola) em 7 de junho de 1494, que garantiu à coroa portuguesa as terras que
viessem a ser descobertas até 370 léguas a oeste do Arquipélago de Cabo Verde. As terras situadas além
desse limite pertenceriam à Espanha.
D. João II morreu em 1495 e coube ao seu sucessor, D. Manuel I, dar continuidade ao projeto
expansionista. Durante sua gestão aconteceu a famosa viagem de Vasco da Gama, que partiu do Rio Tejo
em julho de 1497, dobrou o Cabo da Boa Esperança, transpôs o Rio Infante, ponto extremo da viagem de
Bartolomeu Dias, reconheceu Moçambique, Melinde, Mombaça e, em maio de 1498, após quase um ano de
viagem, chegou a Calicute, na Índia.
A façanha de Vasco da Gama colocou Portugal em contato direto com a região das especiarias, do
ouro e das pedras preciosas, e, como consequência, a conquista do quase total monopólio de tais produtos na
Europa, abalando seriamente o comércio das repúblicas italianas. A conquista da rota marítima para as
Índias assumiu, na época, importância revolucionária e suas consequências imediatas empalideceram até
mesmo o maior acontecimento da história moderna das navegações: o descobrimento da América por
Cristóvão Colombo.

As Caravelas Portuguesas, um dos marcos do avanço da engenharia náutica realizado pela Escola de Sagres, foram
responsáveis pelas grandes conquistas oceânicas portuguesas dos séculos XV e XVI, e pelo início da Revolução
Comercial-Marítima realizada pelas nações europeias.

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Documentos emitidos pelos papas de caráter internacional e oficial.
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Capítulo III
1) A descoberta do Brasil:
Vasco da Gama retornou a Portugal em julho de 1499 sob
clima de grande excitação motivado pela descoberta da nova rota para
a Índia. Pouco depois, a 9 de março de 1500, partiu em direção ao
oriente uma portentosa frota de 13 navios (dez provavelmente eram
naus e “três navios menores”, que seriam caravelas, incluída aí, uma
naveta de mantimentos).
De seu comandante, Pedro Álvares Cabral, sabe-se que nasceu
na Vila de Belmonte em 1467 ou 1468, segundo filho de Fernão
Cabral, senhor de Belmonte, e de Dona Isabel de Gouveia. Na
juventude teria prestado bons serviços à coroa nas guerras da África e
por isso recebia 13.000 réis anuais. De qualquer modo, sabe-se da
dúvida de D. Manuel na escolha do comandante da expedição, que no
primeiro momento recaiu sobre Vasco da Gama.
Cabral teria na época cerca de 30anos e levava consigo
marinheiros ilustres, como Bartolomeu Dias e Nicolau Coelho, além
de numerosa tripulação, perto de 1.500 homens, alguns degredados e
oito frades franciscanos, os primeiros religiosos mandados por
Portugal a tais lugares.
Uma das recomendações feitas a Cabral era que tivesse
particular cuidado com o sistema de ventos nas proximidades da costa
africana, fruto da experiência de Vasco da Gama. Na manhã do dia 14
de março, a frota atingiu as Ilhas Canárias, fazendo 5.8 nós de
velocidade média. No dia 22, avistou São Nicolau, uma das ilhas do
Arquipélago de Cabo Verde. Na manhã seguinte, desgarrou a nau
comandada por Vasco de Ataíde, que foi procurada exaustivamente e
dada como perdida.
Prosseguindo a navegação sempre em rumo sudoeste, foram avistadas ervas marinhas, indicando
terra próxima. No dia 22 de abril, foram avistadas as primeiras aves e ao entardecer avistaram terra. Ao
longe, um monte alto e redondo foi denominado Pascoal por ser semana da Páscoa. Na manhã seguinte,
avançaram as caravelas sondando o fundo e fundeando a milha e meia da praia próxima à foz de um rio mais
tarde denominado Rio do Frade. Após reunião com os comandantes, foi decidido enviar a terra um batel sob
o comando de Nicolau Coelho para fazer contato com os homens da terra, quando se deu o primeiro
encontro entre portugueses e indígenas.
Durante a noite soprou vento forte, seguido de chuvarada, colocando em risco as embarcações.
Consultados os pilotos, decidiu Cabral sair em busca de local mais abrigado, chegando a Porto Seguro, hoje
Baía Cabrália. Alguns tripulantes desceram aterra, não conseguindo se fazer entender nem ser entendidos
pelos habitantes que falavam uma língua desconhecida.
No domingo de Páscoa, rezou-se a missa e foi decidido mandar ao reino, pela naveta de
mantimentos, a notícia do acontecimento. Nos dias posteriores, os marinheiros ocuparam-se em cortar lenha,
lavar roupa e preparar aguada, além de trocar presentes com os habitantes do lugar. Em1º de maio, Pedro
Álvares Cabral assinalou o lugar onde foi erigida uma cruz, próximo ao que hoje conhecemos como Rio
Mutari. Assentadas as armas reais e erigido o cruzeiro em lugar visível, foi erguido um altar, onde Frei
Henrique de Coimbra celebrou a segunda missa.
No dia 2 de maio, a frota de 11 navios levantou âncoras rumo a Calicute, deixando na praia dois
degredados, além de outros tantos grumetes, se não mais, que desertaram de bordo. Antes de atingirem o
Cabo da Boa Esperança, quatro navios naufragaram e desgarrou-se a nau comandada por Diogo Dias, que
percorreu todo o litoral africano, reencontrando a frota na altura de Cabo Verde, quando esta retornava a
Portugal.
Com seis navios, Cabral alcançou à Índia, em setembro de1500. Em Calicute, as negociações foram
difíceis, surgindo desentendimentos com os indianos, quando portugueses foram mortos em terra (inclusive
o escrivão da Armada, Pero Vaz de Caminha) e o porto bombardeado. Em seguida, a Armada ancorou em
Cochim e Cananor, onde foi bem recebida, abastecendo-se de especiarias antes da viagem de retorno,
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iniciada no dia 16 de janeiro de 1501. No trajeto de volta, um navio perdeu-se no regresso e, dos que
sobraram da esquadra, cinco retornaram ao reino. Em 23 de junho, a Armada adentrou o Rio Tejo
concluindo sua jornada.

2) O reconhecimento da costa brasileira:


2.1) A expedição de 1501/1502:
Preocupado em realizar o reconhecimento da nova
terra, D. Manuel enviou, antes mesmo do retorno de
Cabral, uma expedição composta por três caravelas
comandadas por Gonçalo Coelho, tendo a companhia do
florentino Américo Vespúcio. A expedição partiu de
Lisboa em 13 de maio de 1501 em direção às Canárias, de
onde rumou para Cabo Verde. Nessa ilha se encontrou
com navios da Esquadra de Cabral que regressavam da
Índia. Em meados do mês de junho, partiu para sua
travessia oceânica, chegando à costa brasileira na altura do
Rio Grande do Norte.
Na Praia dos Marcos (RN), deu-se o primeiro
desembarque, tendo sido fincado um marco de pedra, sinal
da posse da terra. A partir de então, Gonçalo Coelho deu
partida a sua missão exploradora navegando pela costa,
em direção ao sul, onde avistou e denominou pontos
litorâneos, conforme calendário religioso da época. O
périplo costeiro da expedição teve como limite sul a região
de Cananéia, localizada no atual litoral Sul do Estado de
São Paulo.

2.2) A expedição de 1502/1503:


Essa segunda expedição foi resultado do arrendamento da Terra de Santa Cruz (nome inicial das
nossas terras) a um consórcio formado por cristãos-novos, encabeçado por Fernando de Noronha, e que tinha
a obrigação, conforme contrato, de mandar todos os anos seis navios às novas terras com a missão de
descobrir, a cada ano, 300 léguas a vante e construir uma fortaleza.
Segundo o Almirante Max Justo Guedes, essa viagem foi realizada entre o segundo semestre de 1502
e o primeiro semestre de 1503. A rota traçada pela expedição possivelmente seguiu o percurso normal até
Cabo Verde, cruzou o Atlântico, passando pelo Arquipélago de Fernando de Noronha, concluindo sua
navegação nas imediações de Porto Seguro.

2.3) A expedição de 1503/1504:


Segundo as informações do cronista Damião de Góis, essa expedição partiu de Portugal em10 de
junho de 1503, era composta por seis naus, e novamente foi comandada por Gonçalo Coelho. Ao chegarem
em Fernando de Noronha, naufragou a nau capitânia. Neste local deu-se a separação da frota. Após aguardar
por oito dias o aparecimento do restante da frota, dois navios (num dos quais se encontrava embarcado
Américo Vespúcio) rumaram para a Baía de Todos os Santos, pois assim determinava o regimento real para
qualquer navio que se perdesse da companhia do capitão-mor.
Havendo aguardado por dois meses e quatro dias alguma notícia de Gonçalo Coelho, decidiram
percorrer o litoral em direção ao sul, onde se detiveram durante cinco meses em um ponto cujas coordenadas
indicam ter sido no litoral do Rio de Janeiro, onde ergueram uma fortificação e deixaram 24 homens. Logo
depois retornaram a Portugal aportando em 18 de junho de 1504. Gonçalo Coelho com o restante da frota
regressou a Portugal, ainda em 1503.

2.4) As expedições guarda-costas:


A costa do pau-brasil prolongava-se desde o Rio de Janeiro até Pernambuco, onde foram sendo
estabelecidas feitorias, nas quais navios portugueses realizavam regularmente o carregamento desse tipo de

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madeira para o reino. Esse negócio rendoso começou a atrair a atenção de outros países europeus que nunca
aceitaram a partilha do mundo entre Portugal e Espanha, dentre eles a França.
Os franceses começaram a frequentar nosso litoral comercializando o pau-brasil clandestinamente
com os índios. Portugal procurou, a princípio, usar de mecanismos diplomáticos, encaminhando várias
reclamações ao governo francês na esperança de que o mesmo coibisse esse comércio clandestino.
Notando que ainda era grande a presença de contrabandistas franceses no Brasil, D. Manuel resolveu
enviar o fidalgo português Cristóvão Jaques, com a missão de realizar o patrulhamento da costa brasileira.
Cristóvão Jaques realizou viagens ao longo de nossa costa entre os períodos de 1516 a 1519, 1521 a
1522 e de 1527 a 1528, onde combatendo e reprimindo as atividades do comércio clandestino.
Em 1528, foi dispensado do cargo de capitão-mor da Armada Guarda-costas, regressando para
Portugal.

2.5) A expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa:


Em 1530, Portugal resolveu enviar ao Brasil uma expedição comandada por Martim Afonso de
Sousa visando à ocupação da nova terra. A Armada partiu de Lisboa a 3 de dezembro e era composta por
duas naus, um galeão e duas caravelas que, juntas, conduziam 400 pessoas. Tinha a missão de combater os
franceses, que continuavam a frequentar o litoral e contrabandear o pau-brasil; descobrir terras e explorar
rios; e estabelecer núcleos de povoação.
Em 1532, fundou no atual litoral de São Paulo a Vila de São Vicente e logo a seguir – no limite do
planalto que os índios chamavam de Piratininga – a Vila de Santo André da Borba do Campo. Da Ilha da
Madeira, Martim Afonso trouxe as primeiras mudas de cana que plantou no Brasil, construindo na Vila de
São Vicente o primeiro engenho de cana-de-açúcar.
Ainda se encontrava no Brasil quando, em 1532, Dom João III decidiu impulsionar a colonização,
utilizando a tradicional distribuição de terras. O regime de capitanias hereditárias consistiu em dividir o
Brasil em imensos tratos de terra que foram distribuídos a fidalgos da pequena nobreza, abrindo à iniciativa
privada a colonização. Martim Afonso de Sousa retornou a Portugal em 13 de março de 1533, após ter
cumprido de maneira satisfatória sua missão de fincar as bases do processo de ocupação das terras
brasileiras.

CRONOLOGIA
DATA EVENTO
1415 Conquista da cidade de Ceuta pelos portugueses.
1421 e 1434 Os lusitanos chegam aos Arquipélagos da Madeira e dos Açores e avançam para além do Cabo
Bojador. Até esse ponto, a navegação era basicamente costeira.
1436 Os lusitanos atingem o Rio do Ouro e iniciam a conquista da Guiné. Ali se apropriam da Mina,
centro aurífero explorado pelos reinos nativos em associação aos comerciantes mouros, a maior
fonte de ouro de toda a história de Portugal.
1441 Chegam ao Cabo Branco.
1444 Atingem a Ilha de Arguim, onde instalam a primeira feitoria em território africano, e iniciam a
comercialização de escravos, marfim e ouro.
1445 e 1461 Descobrem o Cabo Verde, navegam pelos Rios Senegal e Gâmbia e avançam até Serra Leoa.
1470 a 1475 Exploração da costa da Serra Leoa até o Cabo de Santa Catarina.
1482 e 1485 O navegador Diogo Cão explorou a costa da África.
1487 Bartolomeu Dias atingiu o Cabo das Tormentas, no extremo sul do continente – que passou a ser
chamado de Cabo da Boa Esperança – e chegou ao Oceano Índico, conquistando o trecho mais
difícil do caminho da Índia.
1492 Cristóvão Colombo chegou à América.
1494 Assinatura do Tratado de Tordesilhas.
1498 Vasco da Gama chegou a Calicute, na costa sudoeste da Índia.
1500 Descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral.
1519 Fernão de Magalhães chegou às Filipinas passando pelo extremo sul do continente americano.

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Capítulo IV
1) Invasões Estrangeiras ao Brasil:
Diversos intrusos desafiaram os interesses ultramarinos de Portugal durante os séculos XVI e XVII.
Os franceses foram os primeiros e, desde o início do século XVI, navios de armadores franceses
frequentavam a costa brasileira, comerciando com os nativos os produtos da terra: pau-brasil; pele de
animais selvagens; papagaios e macacos; resinas vegetais e outros. Portugal reagiu, como vimos no capítulo
anterior, enviando expedições guarda-costas e iniciando a colonização do Brasil.
No início da colonização portuguesa no Brasil, os franceses estabeleceram duas colônias: em 1555,
no Rio de Janeiro, e em1612, no Maranhão. Portugal reagiu às duas invasões, projetando seu Poder Naval,
com bom êxito, para expulsar os invasores.
Na foz do Amazonas, ingleses, holandeses e irlandeses estabeleceram feitorias privadas; sendo
preciso o emprego da força para expulsá-los.
O comércio holandês com o Brasil data da primeira metade do século XVI. Em 1580, ocorreu a
união das coroas de Portugal e Espanha e o rei da Espanha, Felipe II, passou a ser, também, o rei de
Portugal. Os holandeses iniciaram sua guerra de independência contra a Espanha no final do século XVI,
mesmo assim continuaram a comercializar, com o auxílio de mercadores portugueses, produtos brasileiros,
como o açúcar, algodão e pau-brasil.
A Holanda era um país de bons comerciantes e hábeis marinheiros. Os holandeses possuíam uma
fortíssima consciência marítima e utilizavam seu Poder Marítimo com muita habilidade. Eles não
pretendiam ficar sem o rico mercado do açúcar brasileiro, devido ao conflito com a Espanha e
consequentemente Portugal. Em 1621, eles criaram a West-Indische Compagnie, a Companhia das Índias
Ocidentais. Logo, Salvador, capital da colônia do Brasil, seria alvo de uma invasão desta companhia.
O objetivo maior da Companhia das Índias Ocidentais era manter o relacionamento comercial com o
Brasil e, se possível, a conquista do Nordeste. A tentativa não tarda, e, em 1624, é feito o ataque a Salvador
(BA), ocupada por breve período, pois o invasor é logo expulso por uma Esquadra luso-espanhola.
Os holandeses, em seguida, ocuparam Pernambuco, realizando conquistas ao sul, em Alagoas e
Sergipe, bem como ao norte, na Paraíba, Rio Grande do Norte e mais áreas, permanecendo no Nordeste por
24 anos.
Ocorreram, nesse período, muitos combates no mar, como a “Batalha Naval de 1640”, que envolveu
cerca de cem navios, entre holandeses e luso-espanhóis, em embates que duraram cinco dias na costa do
Nordeste.
Nessa luta para expulsar os holandeses, o esforço em terra foi fundamental. O Poder Naval português
foi capaz de manter Salvador como base de operações e somente com a presença de uma força naval em
Pernambuco é que foi possível obter a rendição definitiva dos invasores.
No século XVIII, com o envolvimento de Portugal na Guerra de Sucessão de Espanha, na Europa, o
Rio de Janeiro foi atacado por dois corsários franceses. Com a descoberta do ouro das Minas Gerais, no final
do século XVII, o Rio de Janeiro vinha se tornando uma cidade próspera durante o início do século XVIII.
Mais tarde, devido às riquezas das minas, tornou-se a capital da colônia.
Pretensões expansionistas também podem ser visualizadas no interesse que Portugal tinha nas
riquezas espanholas do oeste sul-americano na região do Rio da Prata – acesso às minas de prata de Potosi,
na Bolívia. A ocupação espanhola na região foi, portanto, fundamental para deter os interesses portugueses.
Mesmo assim, era por ela que a prata boliviana era contrabandeada para o Brasil.
Buscando expandir seus domínios em direção ao Sul do continente, Portugal rompeu o Tratado de
Tordesilhas, assinado com os espanhóis em 1494, quando, em janeiro de 1680, o governador do Rio de
Janeiro, D. Manuel Lobo, fundou, na margem esquerda do Rio da Prata, a Colônia do Santíssimo
Sacramento. Este fato desencadeou uma série de desentendimentos, lutas e tratados de limites, em que o
emprego do Poder Naval português foi muito importante, como veremos neste capítulo.
O interesse no estudo desse período é mostrar que foi nele que definiram as fronteiras Sul do
território brasileiro, que mudavam conforme o poderio militar e os tratados firmados entre portugueses e
espanhóis.
Por tudo isso, estudemos as lutas que permitiram ao nosso País manter-se íntegro territorialmente.

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2) Invasões francesas no Rio de Janeiro e no Maranhão:
Essas duas invasões não foram iniciativas do governo da França, cuja estratégia estava voltada para
seus interesses na própria Europa, mas sim iniciativas privadas. Em ambas, faltou o apoio do Estado francês,
no momento em que, atacadas pelos portugueses, necessitaram de socorro. Por outro lado, a colonização do
Brasil foi interesse de Portugal, que pretendia proteger a rota de seu comércio com a Índia. Todos os
recursos do Estado português estavam disponíveis para expulsar os invasores e proteger os núcleos de
colonização portuguesa.

2.1) Rio de Janeiro:


Em 1553, Nicolau Durand de Villegagnon foi nomeado vice-almirante da Bretanha, na França, e
desenvolveu um plano para fundar uma colônia na Baía de Guanabara (RJ), onde habitavam nativos da tribo
Tupinambá, aliados dos franceses. O Rei da França, Henrique II, aprovou esse plano de iniciativa privada,
prometeu apoio e forneceu financiamento e dois navios para a viagem.
Villegagnon chegou à Baía de Guanabara em 1555, instalou o núcleo da colônia – que chamou de
França Antártica – na ilha que atualmente tem seu nome e construiu uma fortificação, dando-lhe o nome de
Forte de Coligny, em homenagem ao almirante francês que lhe apoiara. A ilha era pequena e não tinha água,
mas era uma excelente posição de defesa. Em terra firme, perto do atual Morro da Glória, instalou uma
olaria para fabricar tijolos e telhas, fez plantações e deu início a uma povoação, que chamou de Henryville,
homenageando o Rei da França Henrique II. A povoação em terra firme, não teve bom êxito e o progresso
da colônia, como um todo, deixou a desejar.
Villegagnon, que anteriormente já mostrara sua bravura e competência como militar em diversas
ocasiões, encontrou muitas dificuldades para recrutar pessoas para a colônia. Um núcleo de colonização
precisaria de profissionais (exemplo: sapateiros,alfaiates, barbeiros, carpinteiros, oleiros, pedreiros,
médicos,soldados entre outros) necessários à sobrevivência na colônia.
As pessoas que vieram com Villegagnon formavam um grupo heterogêneo: católicos e protestantes
(em uma época de sérios conflitos religiosos), soldados escoceses e ex-presidiários (caracterizando extremos
de aceitação de disciplina). A pior falha, no entanto, foi a presença de poucas mulheres europeias no grupo,
o que fez com que muitos colonos procurassem as índias para se relacionarem. Esta atitude era difícil para
Villegagnon entender, por sua formação religiosa de Cavaleiro de Malta, com voto de castidade, não
admitindo sexo fora do casamento.
Houve um excesso de conflitos, principalmente após achegada de um grupo de protestantes
calvinistas, com o propósito de estudar a possibilidade de fazer da França Antártica uma colônia protestante.
Os franceses contavam com a amizade dos tupinambás. Eles comerciavam com os franceses por
meio de trocas (escambo) – recebiam machados, facas, tesouras, espelhos, tecidos coloridos, anzóis e outros
objetos. Em troca, forneciam o pau-brasil, que cortavam na floresta e traziam para a colônia, além de outros
produtos da terra e alimentos. Os tupinambás construíram grandes canoas de um só tronco (igara) ou da
casca de uma árvore (ubá). Eles lutaram bravamente ao lado dos franceses, pois detestavam os portugueses
que eram amigos de seus inimigos.
A reação portuguesa ocorreu quando o Governador Mem de Sá, em 1560, atacou o Forte Coligny
com uma força naval (soldados e índios) que trouxera da Bahia, arrasando-o. Depois partiu para São Vicente
sem deixar uma guarnição na Guanabara. Os franceses fugiram para o continente, abrigando-se junto a seus
aliados tupinambás e, logo depois que os portugueses se foram, restabeleceram suas fortificações.
Mem de Sá concluiu que era necessário ocupar definitivamente o Rio de Janeiro para garantir a
expulsão dos invasores. Dessa vez enviou, em 1563, seu sobrinho Estácio de Sá à testa da nova força naval,
com ordens para fundar uma povoação na Baía de Guanabara e derrotar definitivamente os franceses.
Estácio de Sá obteve a ajuda de uma tribo tupi inimiga dos tupinambás, os maracajás ou temiminós,
liderados por Araribóia. Participaram, também, como aliados dos portugueses, índios da tribo tupiniquim de
Piratininga, trazidos de São Vicente (SP).
Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1565, entre o Morro Cara de
Cão e o Pão de Açúcar. Era um local apertado, protegido pelos morros e de fácil defesa, de onde se
controlava a entrada da barra da Baía de Guanabara. Logo, começaram a combater os franceses e os
tupinambás. Houve grandes combates, inclusive um de canoas nas águas da baía e um ataque ao atual Morro
da Glória, onde Estácio de Sá foi ferido por uma flecha, no rosto, vindo a falecer em consequência deste
ferimento.

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Derrotados na Guanabara, os franceses e seus aliados tentaram, ainda, estabelecer uma resistência em
Cabo Frio, mas acabaram vencidos. Os franceses que se renderam foram enviados de navio para a França.

2.2) Maranhão:
Os franceses continuaram com o tráfico marítimo na costa brasileira. Seu eixo de atuação, porém,
deslocou-se para o norte, ainda sem povoações portuguesas. Após diversas ações, estabeleceram-se, em
pequeno número, em diversos pontos do litoral. Desde o final do século XVI, o Maranhão passou a ser um
local regularmente frequentado por navios franceses. Na atual Ilha de São Luís havia uma pequena povoação
de franceses, em boa convivência com os índios, também tupinambás, que habitavam o local.
Os empreendimentos franceses eram de “natureza privada”, algumas vezes por particulares que
tinham cartas de corso autorizadas pelo rei da França, mas que contavam com pouco ou nenhum auxilio do
Governo francês.
Encontraram sempre a reação do Governo de Portugal e de forças organizadas espontaneamente por
portugueses que habitavam o Brasil, inclusive com o apoio de forças navais e tropas espanholas, no período
da União Ibérica (1580-1640).
O estabelecimento francês na Paraíba acabou redundando em fracasso, quando sofreu o ataque de
portugueses, apoiados, no final, por uma força naval comandada por um almirante espanhol, Diogo Flores
Valdez. Os invasores se retiraram para o Rio Grande do Norte.
Para desalojá-los, o capitão-mor de Pernambuco, Manuel Mascarenhas Homem, organizou uma
expedição, em 1597, e escolheu Jerônimo de Albuquerque, o mameluco, para comandar uma das
companhias de infantaria, por suas boas qualidades de líder guerreiro. Jerônimo era capaz de articular
interesses portugueses com a cultura dos índios.
Expulsos os franceses e seus aliados indígenas, o Forte dos Reis Magos, que os portugueses
ergueram na entrada da foz do Rio Grande, foi entregue a Jerônimo de Albuquerque. Após pacificar os
índios locais, Jerônimo fundou, em 1599, na margem direita do rio, um povoado que foi a origem da cidade
de Natal. Em 1603, ele foi nomeado capitão-mor do Rio Grande, por seis anos. Ele, de fato, gozava de
prestígio na América, não apenas por seus feitos, mas também por ser filho de um conquistador (Jerônimo
pai), que ganhou fama em Portugal, onde foi até citado em versos por poeta de sua época.
No ano de 1594, Jacques Riffault comandou uma expedição que rumou para o Maranhão. Já
ambientado com a navegação no Norte do Brasil, por ter participado da tentativa francesa de ocupação do
Rio Grande do Norte, além de ter traficado a leste do Rio Amazonas, estabelecendo, inclusive, boas relações
com as lideranças indígenas, “orientou seus compatriotas para a criação de um estabelecimento duradouro
no Maranhão”. Riffault associou-se a um gentil-homem de Saint-Maure de Touraine, Charles des Vaux, que
explorou a ilha ainda em 1594, retornando anos depois para a França onde divulgou as possibilidades de
instalação de uma colônia no Maranhão e destacou as relações pacíficas com os índios, receptivos à
evangelização.
Os relatos de Charles des Vaux entusiasmaram o monarca francês Henrique IV, que ordenou a
Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière, que acompanhasse uma expedição de reconhecimento do
Maranhão. Ao retornar, La Ravardière encontrou a França nas mãos da Regente Maria de Médice, pois o rei
fora assassinado em 14 de maio de 1610. Procurou, então, persuadir a não entusiasmada regente, pelo
empreendimento colonial. Argumentou que os franceses mantinham há muitos anos relações amistosas com
os tupinambás e que a região constituía “[...] um ponto estratégico à abertura para o mar das Antilhas,
permitindo interceptar os navios carregados de metais preciosos em regresso à Espanha”.
Para completar os recursos financeiros necessários à nova expedição para o Brasil, La Ravardière
buscou auxílio em outras fontes, visto que a regente não se mostrou muito disposta para “[...] empenhar-se
tão a fundo quanto seu esposo admitira fazê-lo subvencionando a expedição”. La Ravardière conseguiu a
adesão de François de Razilly, gentil-homem da Câmara do Rei, cuja família mantinha alianças com a
família do futuro Cardeal Richelieu. O projeto ganhou a confiança de uma sociedade de ricos armadores de
navios, normandos liderados por Nicolas de Harlay, Senhor de Sancy, Barão de Molle e de Gros-bois.
Partiram então, com poderes de tenentes-generais do rei da França, com três navios de Cancale, na Bretanha,
em 19 de março de 1612, chegando ao Brasil em 18 de julho do mesmo ano. Quando chegaram ao
Maranhão, lá já se encontravam cerca de 400 franceses, bem como embarcações oriundas do Hâvre e de
Dieppe. A primeira iniciativa foi a construção do Forte de São Luís.

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Na França, o bom relacionamento do momento com a Espanha fez com que o governo não
colaborasse significativamente com recursos para o reforço da colônia.
Em 1613, Felipe III7 enviou para o Brasil um novo governador, Gaspar de Souza, com ordens para
tomar providências contra os franceses do Maranhão. Gaspar de Souza se transferiu para Olinda, onde
estaria mais próximo do que se denomina atualmente de “Teatro de Operações”.
Gaspar de Souza iniciou as ações para combater os franceses no Norte do Brasil, enviando uma força
naval comandada por Jerônimo de Albuquerque (1548-1618)8, nascido no Brasil, chegou ao Maranhão para
combater os franceses. Este grupamento pode ser considerado a primeira força naval comandada por um
brasileiro.
Tal expedição foi formada por aproximadamente cem homens e uma flotilha composta de três ou
quatro navios. Esses navios eram denominados “caravelões”, designação genérica de um tipo de navio que
era construído na costa do Brasil de então. É possível que fossem semelhantes a grandes saveiros,
embarcações típicas existentes na Bahia, que ainda são construídos muito artesanalmente, sem desenhos,
obedecendo a métodos e unidades de medida, de certa forma semelhantes aos empregados pelos construtores
navais portugueses para caravelas, naus e galeões do século XVI e XVII.
Chegando ao Maranhão, os portugueses iniciaram a construção de um forte, que chamaram Santa
Maria. Logo os franceses se apoderaram de três dos navios que estavam fundeados. Animados com o bom
êxito alcançado, resolveram, uma semana depois, atacar o forte português. Planejaram um ataque simultâneo
de tropas que desembarcariam e de tropas que atacariam o forte pela retaguarda, vindas de terra. Os
portugueses,no entanto, foram mais ágeis e contra-atacaram separadamente, com vigor, as duas forças
francesas, vencendo-as.
Os franceses resolveram propor um armistício, para conseguir reforços na França ou obter uma
solução diplomática. Os portugueses aceitaram.
A trégua foi favorável aos portugueses, que obtiveram reforços no Brasil. La Ravardière não
conseguiu novamente o apoio de seu governo e o tratado de paz em vigor, naquele momento, previa que em
casos como esse os riscos e perigos cabiam aos particulares, sem que a paz entre os Estados fosse
perturbada. Além do mais, o rei de Portugal não ratificou a trégua e ordenou que se expulsassem os
franceses do Maranhão. Providenciou reforços e mandou o governador de Pernambuco organizar uma nova
expedição. O comando coube a Alexandre de Moura, que partiu em uma força naval. Os franceses foram
cercados no Maranhão, por mar e por terra, e, sem esperança de reforços, para evitar que os portugueses os
tratassem como piratas, renderam-se em novembro de 1615.
As vitórias sobre os franceses no Maranhão fizeram com que Jerônimo de Albuquerque fosse
reconhecido pelo reino como capitão-mor da conquista daquela capitania. O “brasileiro”, em uma ação
pioneira, comandou uma força naval e teve participação relevante na expulsão de invasores franceses.

3) Invasores na foz do Amazonas:


Após a ocupação do Maranhão, os portugueses resolveram dirigir sua atenção para os invasores da
foz do Amazonas, enviando uma expedição que fundou o Forte do Presépio, origem da cidade de Belém,
para servir de base para suas ações militares. De lá, eles passaram a atacar os estabelecimentos dos ingleses,
holandeses e irlandeses, enforcando os que resistiam e escravizando as tribos de índios que os apoiavam.
Esta violência e a criação de uma flotilha de embarcações (que agia permanentemente na região
apoiando as ações militares e patrulhando os rios) garantiram o bom êxito e asseguraram a posse da
Amazônia Oriental para Portugal.

4) Invasões holandesas na Bahia e em Pernambuco:


4.1) Holandeses na Bahia:
A invasão holandesa de Salvador (BA) foi planejada pela Companhia das Índias Ocidentais com o
propósito de lucro, a ser obtido com a exploração da cultura do açúcar. Levantado o capital para o

7
Felipe III da Espanha era ao mesmo tempo Felipe II de Portugal, tendo em vista a união Ibérica (1580-1640).
8
Jerônimo de Albuquerque era filho de do português de mesmo nome e da índia tupi batizada como Maria do Espírito Santo
Arcoverde. Seu pai era cunhado do Capitão-Mor da capitania de Pernambuco e sua mãe filha do morubixaba (cacique) Arcoverde,
sendo, portanto, uma pessoa de muito prestígio. Jerônimo acrescentou o sobrenome Maranhão ao seu nome após a vitória em S.
Luís contra os franceses da França Equinocial.
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empreendimento, os holandeses reuniram uma força naval de 26 navios, com 509 canhões e tripulados por
1.600 marinheiros e 1.700soldados. O comando coube ao Almirante Jacob Willekens.
Os navios partiram de diversos portos da Holanda e reuniram-se em uma das ilhas do Arquipélago de
Cabo Verde. Em 8 de maio de 1624, chegaram à Baía de Todos os Santos; no dia seguinte, iniciaram o
ataque a Salvador.
Os holandeses atacaram os fortes que defendiam acidade. Os navios que transportavam tropas se
dirigiram para o Porto da Barra, onde desembarcaram. A cidade foi saqueada. Somente alguns dias depois
organizou-se reação contra os invasores.
Estabelecidos em Salvador, os holandeses foram, aos poucos, diminuindo os efetivos de sua força
naval, com o retorno de diversos navios para a Holanda. Em Lisboa e Madri, a notícia sobre a tomada da
cidade de Salvador chegou cerca de dois meses e meio depois da invasão. De maneira imediata, o governo
luso-espanhol começou a preparar uma força naval capaz de recuperar a cidade antes que os holandeses se
consolidassem na região. Na Holanda, sabendo-se dos preparativos espanhóis, acelerou-se a prontificação
dos reforços que deveriam garantir a ocupação da Bahia.
A preparação de forças navais que projetassem poder militara tão longa distância exigia um enorme
esforço. Era necessário um planejamento cuidadoso dos recursos financeiros, materiais e humanos. A força
deveria ser composta por variados navios: os de guerra, como os galeões e as fragatas; as naus e as urcas,
que serviam tanto como embarcações mercantes quanto navios militares; e as caravelas, que serviam ao
transporte. Havia, também, diversos outros navios menores, como patachos, iates velozes e embarcações que
complementavam a capacidade das forças navais. Considerando as populações da época – Holanda teria
cerca de 1,5 milhão de habitantes e Portugal menos que isto – não era fácil conservar em segredo a
preparação de uma força naval. Espiões mantinham as cortes europeias informadas e seus informes eram
avaliados e utilizados para preparar contraofensivas. Ocorreram verdadeiras corridas de forças navais para
alcançar a costa brasileira. Chegar primeiro podia ser uma decisiva vantagem.
Os luso-espanhóis conseguiram ficar prontos antes dos holandeses e, em 22 de novembro, partia de
Lisboa uma armada composta por 25 galeões, dez naus, dez urcas, seis caravelas, dois patachos e quatro
navios menores, tendo a bordo 12.500marinheiros e soldados. Como comandante-geral, vinha D. Fadrique
de Toledo Osório, Marquês de Villanueva de Valdueza9.
A armada luso-espanhola chegou a Salvador em 29 de março de 1625. Era a maior força naval que
até aquela data atravessara o Atlântico. Cerca de 20 navios holandeses se abrigavam sob a proteção dos
fortes e a cidade de Salvador era defendida por tropas holandesas. Iniciou-se o ataque luso-espanhol e, a 1º
de maio, os holandeses renderam-se. Dias depois de se entregarem, apareceu na barra o socorro holandês, de
34 naus. Percebendo a retomada da cidade, não se animaram a tentar a luta.

5) A ocupação do Nordeste brasileiro:


Em 1629, a Companhia das Índias Ocidentais resolveu dirigir seus esforços para Pernambuco em vez
de tentar reconquistar a Bahia.
Conduzia a nova expedição uma armada de 56 navios, fortemente artilhados, trazendo 3500
tripulantes e 3000 soldados. Comandava a força naval holandesa o General-do-Mar Wendrich Corneliszoon
Lonck. Olinda e Recife (PE) foram conquistadas em 1630.
Soube-se dos preparativos com antecedência em Madri e Lisboa. O General Matias de Albuquerque,
que então estava na Europa, regressou ao Brasil para organizar a reação, mas pouco pôde ser feito de
efetivo, restando, para os defensores, iniciar a defesa em terra depois da ocupação.
As providências luso-espanholas para recuperar Pernambuco, durante o período de união das duas
coroas, encontraram dificuldades crescentes de recursos e não lograram a mobilização das forças
necessárias. O tesouro espanhol, cada vez mais debilitado, não foi capaz de arcar com um empreendimento
semelhante ao da armada que libertara a Bahia em 1625. Cabe observar que era necessário proteger com
escoltas as frotas que levavam a produção de açúcar para Portugal e as que levavam a produção mineral das

9
Esta expedição foi denominada a Jornada dos Vassalos por ser composta de vários fidalgos, tanto portugueses quanto espanhóis,
voluntários para defender a causa da coroa ibérica.
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colônias espanholas para a Espanha. Entre 1631 e 1640, dentro do período da união com a Espanha, foram
enviadas três esquadras luso-espanholas ao Brasil10.
Os holandeses também enviaram forças navais, com reforços de tropas, para proteger suas conquistas
no Brasil. Ocorreram, consequentemente, encontros que resultaram em diversos combates navais. Destacam-
se, entre eles, o Combate Naval dos Abrolhos, em 3 de setembro de 1631, e os ocorridos intermitentemente
durante cinco dias, de 12 a 16 de janeiro, na Batalha Naval de 1640.
No Combate Naval dos Abrolhos, os luso-espanhóis, comandados por D. Antônio de Oquendo de
Zandátegui, tinham17 galeões, 23 navios mercantes carregados com açúcar, 12caravelas com tropas e três
patachos. Os holandeses, comandados por Adriaen Janszoon Pater, lutaram com 18 navios.
A missão de Oquendo era desembarcar as tropas que trazia de Pernambuco e da Paraíba; comboiar os
navios mercantes que levariam ao reino a produção de açúcar e outros produtos do Brasil,até que estivessem
livres de ataques das forças holandesas; e alcançar o Caribe para comboiar a Frota da Prata para a Espanha.
Depois de escalar em Salvador, a força naval luso-espanhola partiu para cumprir sua missão. Devido
ao vento contrário, navegou para sueste para depois rumar para Pernambuco. Foram interceptados pela força
naval holandesa na altura do Arquipélago dos Abrolhos.
Oquendo formou seus galeões em coluna e deu ordem aos navios do comboio para se posicionarem
fora do combate. Os holandeses tinham planejado abordar cada um dos maiores galeões luso-espanhóis com
dois navios. Seguiu-se um terrível combate, com tentativas e sucessos de abordagens e bordadas bem
próximas de artilharia. Como resultado, os holandeses perderam dois navios, inclusive o capitânia, que
incendiou e explodiu, e um outro ficou seriamente avariado. Os luso-espanhóis tiveram dois navios
afundados, um navio foi apresado pelos holandeses e outro regressou a Salvador devido às grandes avarias
sofridas. Nesse combate, morreram ou desapareceram cerca de 700 homens, aproximadamente 280 ficaram
feridos e 240 foram aprisionados.
Na Batalha Naval de 1640, 66 navios e embarcações luso-espanhóis, transportando tropas da força
naval comandada pelo Conde da Torre, combateram navios holandeses (inicialmente 30, depois 35)
comandados por Willem Loos.
O Conde da Torre saiu de Salvador com o propósito de desembarcar tropas em Pernambuco. Os
holandeses pretendiam evitar que ocorresse esse desembarque. As forças navais se encontraram no dia 12 de
janeiro e travaram combates durante cinco dias, tendo se combatido, de fato, em quatro deles. A iniciativa
coube aos holandeses que visavam a atingir, com seus tiros, os cascos dos galeões luso-espanhóis, que se
defendiam atirando nos mastros e velas, procurando imobilizar os inimigos. Os holandeses evitaram as
abordagens.
Durante o combate, o Almirante Willem Loos, comandante holandês, teve a cabeça mutilada por um
tiro de canhão, logo após o início da batalha. Coube ao seu imediato assumir a frente na liderança da frota.
No intervalo dos combates, os holandeses foram abastecidos com pólvora e munições por embarcações
vindas de terra. Também receberam reforços de mais cinco navios.
Para os luso-espanhóis, a Batalha de 1640 foi uma derrota estratégica. Após cinco dias, as tropas não
haviam desembarcado em Pernambuco. Os combates levaram a força naval do Conde da Torre para o norte,
ao longo do litoral do Nordeste. Com resultado insatisfatório, já que a força holandesa muito pouco fora
desfalcada,o Conde da Torre decidiu pelo desembarque das tropas no atual Estado do Rio Grande do Norte e
regressar a Salvador com sua força naval.
Os holandeses, por sua vez, conseguiram manter o domínio do mar e se aproveitaram dele para
bloquear os portos principais e atacar o litoral do Nordeste do Brasil, expandindo sua conquista.

6) A insurreição em Pernambuco:
o
Em 1 de dezembro de 1640, ocorreu a Restauração de Portugal, ou seja, a separação de Portugal da
Espanha, com o fim da união das coroas ibéricas, e a aclamação do Duque de Bragança como rei, com o
nome de D. João IV.
Em junho de 1641, assinou-se uma trégua de dez anos com os holandeses em Haia. Essa trégua
interessava à Companhia das Índias Ocidentais, que via seus lucros consumidos pelas ações militares, e aos
portugueses, que estavam em guerra com a Espanha e precisavam reduzir as frentes de combate.
10
A primeira, comandada por Don Antônio de Oquendo, que chegou em 1631; a segunda, comandada por Don Lope de Hoce,
tendo como comandante da Armada de Portugal Don Rodrigo Lobo,que chegou em 1635; e a terceira, comandada pelo Conde da
Torre, Don Fernando de Mascarenhas,que chegou em 1639.
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Às vésperas do armistício, os holandeses trataram de alargar suas conquistas, ocupando o Sergipe e o
Maranhão, no Brasil, e Angola e São Tomé, na África.
Após a Restauração de Portugal, foi enviado um novo governador-geral para o Brasil, Antônio Teles
da Silva. Embora oficialmente o governo português respeitasse a trégua, para evitar uma guerra declarada
contra a Holanda, sigilosamente aprovava a insurreição no Brasil, e o novo governador desempenhou papel
de destaque no apoio a essa causa, podendo-se identificá-lo como seu organizador-chefe. Iniciou-se, assim,
em Pernambuco, a campanha da insurreição contra os holandeses.
Em 1644, Teles da Silva resolveu reunir uma força naval para auxiliar os revoltosos, com base no
que havia disponível. Os três navios mais fortes eram naus, armadas com 16 canhões cada. Tripulações
despreparadas faziam com que essa força improvisada não fizesse frente aos profissionais holandeses e
mercenários. O comando foi dado ao Coronel Jerônimo Serrão de Paiva.
Haviam chegado ao Brasil, em fevereiro de 1645, dois galeões portugueses, o São Pantaleão, de 36
canhões, e o São Pedro de Hamburgo, de 26 ou 30 canhões. Eram parte da escolta da primeira frota
comboiada que, após carregar no Rio de Janeiro, regressou a Salvador, com o propósito de, em seguida,
partir para Portugal. O almirante dessa frota era Salvador Correia de Sá e Benevides, filho de um fluminense
e uma espanhola, que tinha propriedades no Rio de Janeiro.
Decidiu o Governador Teles da Silva executar, com auxílio de Salvador de Sá, um plano para ocupar
Recife. Deveriam os galeões se juntar aos navios de Serrão de Paiva e, caso os holandeses permitissem ou se
a população se revoltasse, tentar desembarcar na cidade.
Na noite de 11 de agosto, 37 navios portugueses, incluindo os dois galeões, fundearam em frente a
Recife. Vigorava a trégua e, portanto, oficialmente, as hostilidades não estavam autorizadas. Os navios
holandeses permaneceram no porto, aguardando o desenrolar dos acontecimentos e, em terra, estavam
dispostos a resistir a qualquer tentativa de desembarque.
Salvador de Sá, que estava com a mulher e os filhos a bordo do São Pantaleão, mandou entregar uma
carta sua, juntamente com outra de Serrão de Paiva, declarando que estavam ali para ajudar os holandeses no
restabelecimento da paz em Pernambuco. Nãohouve resposta imediata. Convocado um conselho a bordo do
São Pantaleão, concordaram os comandantes dos navios portugueses que não havia condições favoráveis
para atacar ou manter um bloqueio de Recife.
No dia 13, o mau tempo obrigou os navios a buscarem o alto-mar. Durante todo o dia 12, no entanto,
tinham sido admirados pelo povo pernambucano e o que, depois, ficou conhecido comoa Jornada do Galeão,
acabou sendo, somente, um ato de emprego político do Poder Naval pelos portugueses, influenciando as
mentes e as atitudes, sem uso de força.
No dia seguinte chegou a carta-resposta holandesa. Estranhava o auxílio oferecido e pedia que se
retirassem de Recife.
Durante o mau tempo, Serrão de Paiva separou-se de Salvador de Sá e, depois de alguma insistência
em permanecer em alto-mar no litoral de Pernambuco, resolveu se abrigar na Baía de Tamandaré11. Salvador
de Sá seguiu para Lisboa com o comboio.
Em 9 de setembro de 1645, o Almirante holandês Lichthardt resolveu atacar Serrão de Paiva. Os
portugueses contavam com sete naus, três caravelas e quatro embarcações, com uma tripulação de mil
homens aproximadamente, e estavam fundeados. Lichthardt investiu a barra com oito navios holandeses e
foi abordar os navios portugueses dentro da baía.
A resistência se limitou ao bravo Serrão de Paiva e a poucos homens de seu navio. A maioria dos
marinheiros e soldados se lançou ao mar, nadando para a praia. Seguiu-se uma verdadeira carnificina de
fugitivos e uma derrota fragorosa, com muitos mortos, prisioneiros, inclusive Serrão de Paiva ferido, e
navios queimados ou apresados e levados para Recife. Os documentos e a correspondência sigilosa,
comprometedores quanto ao envolvimento das autoridades portuguesas na revolta, caíram nas mãos dos
holandeses.
Com o domínio do mar novamente assegurado, os holandeses puderam movimentar suas tropas de
reforço, sem risco de oposição no mar. Assim, puderam organizar ataques para diminuir a pressão que os
insurretos já exerciam sobre seus principais pontos estratégicos.
Em fevereiro de 1647, os holandeses atacaram e ocuparam a Ilha de Itaparica, com uma força naval
comandada pelo Almirante Banckert. O propósito era ameaçar Salvador.

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Origem do nome do título do Patrono da Marinha, Joaquim Marques Lisboa. Naquele local seu irmão mais velho fora enterrado
por ocasião da Confederação do Equador em 1824.
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O ataque a Itaparica incentivou D. João IV a iniciar a preparação de uma força naval para enviar ao
Brasil. As dificuldades financeiras e materiais eram muito grandes para o empobrecido Portugal. Foi
necessário conseguir empréstimos de particulares, a serem amortizados com o imposto sobre o açúcar do
Brasil.
D. João IV designou Antônio Teles de Menezes comandante da “Armada de Socorro do Brasil”,
fazendo-o Conde de Vila Pouca de Aguiar e nomeando-o governador e capitão-general do Estado do Brasil,
em substituição a Teles da Silva. Compunha-se essa esquadra de 20 navios: 11 galeões, uma urca, duas naus,
duas fragatas e quatro navios menores. Partiu de Lisboa em 18 de outubro de 1647, chegando a Salvador em
24 de dezembro. Enquanto isso, em 7 de novembro, saiu de Lisboa, com destino ao Rio de Janeiro, uma
força naval comandada por Salvador de Sá, com o propósito de libertar Angola, na África.
A missão da esquadra do Conde de Vila Pouca de Aguiar nãoera expulsar os holandeses de
Pernambuco ou atacar Recife, mas proteger Salvador e expulsar os invasores da Ilha de Itaparica. A perda de
Salvador seria, sem dúvida, desastrosa para Portugal e para a causa dos revoltosos.
Na Holanda, sabendo-se da Armada portuguesa de socorro ao Brasil, organizou-se uma força naval
sob o comando do Vice-Almirante Witte Corneliszoon de With. Os navios saíram aos poucos dos portos e
somente em março de 1648 alcançaram Recife. Encontraram uma situação desfavorável: as forças
holandesas tinham se retirado de Itaparica e restava em poder da Companhia, além de Recife, a Ilha de
Itamaracá e os Fortes do Rio Grande do Norte e da Paraíba.
Ao chegar a Recife, o Almirante Witte de With encontrou indefinições sobre que ação tomar no mar.
A decisão da Companhia era lançar suas forças de terra, reforçadas pelas tropas trazidas por De With, para
vencer os rebeldes luso-brasileiros, aliviando a pressão que já exerciam sobre Recife.
Em 19 de abril de 1648, travou-se a Primeira Batalha dos Guararapes e os holandeses, mais
numerosos e com fama de estarem entre os melhores soldados da Europa de então, foram derrotados no
campo de batalha.
Restava para a Companhia agir no mar, bloqueando os portos brasileiros, tentando capturar a Frota
do Açúcar e atacando pontos do litoral. O bloqueio, apesar de exigir dos marinheiros longas estadias no mar,
com consequentes problemas sanitários e alimentares, tinha como incentivo a possibilidade de fazer
presas,havendo participação da tripulação no resultado financeiro da vendados navios e das cargas
apresadas.
Fez-se ao mar De With, tendo atenção ao bloqueio de Salvador, onde a poderosa força naval do
Conde de Vila Pouca de Aguiar se mantinha inativa. Em dezembro, aproveitou para atacar os engenhos de
açúcar situados nas margens da Baía de Todos os Santos, sem ser molestado pela força naval portuguesa,
que mantinha seus navios protegidos pela artilharia das fortificações de terra de Salvador.
Em novembro de 1648, chegou a notícia da vitória de Salvador de Sá, com a rendição dos holandeses
em Angola, no que poderia se chamar de primeira projeção brasileira de poder para o exterior, pois o Rio de
Janeiro foi a base para a libertação de Angola e muitos brasileiros participaram da luta, inclusive índios. Isso
levantou o ânimo dos portugueses para continuar a luta no Brasil.Ficou evidente que somente com a
organização de comboios,fortemente escoltados, seria possível manter as rotas de navegação entre Portugal
e Brasil. Criou-se, então, a Companhia Geral do Comércio do Brasil.
Em fevereiro de 1649, a Companhia das Índias Ocidentais resolveu repetir, em terra, o ataque às
forças rebeldes, em Guararapes. Novamente os holandeses foram derrotados, ficando óbvio para eles que
sem um novo socorro da Europa nada mais poderia ser feito em terra.

7) A derrota dos holandeses em Recife:


Apesar de ainda manterem o domínio do mar, o ânimo dos tripulantes estava diminuindo,
ocasionando motins, destituição de comandantes e o regresso de navios amotinados para a Holanda.
Queixava-se De With, em cartas ao governo holandês, da dificuldade de se realizar as manutenções
necessárias em seus navios, das condições precárias de vida de seus marinheiros e da necessidade de
reforços, para que não se perdesse o Brasil. No final de 1649, o próprio De With passou a solicitar seu
regresso para a Holanda e, logo depois partiu, à revelia da Companhia das Índias. Em dezembro, os outros
navios dos Estados Gerais Holandeses se amotinaram e iniciaram seu regresso para a Europa,sem
autorização.
Em fevereiro de 1650, a primeira frota portuguesa da Companhia Geraldo Comércio do Brasil, com
18 navios de guerra, chegou ao Brasil. Não tinha ordens para atacar Recife. D. João IV ainda temia uma

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guerra com a Holanda na Europa e preferia manter a situação informal no Brasil, procurando obter
resultados através de negociações diplomáticas e da guerra de insurreição. Perdia-se, novamente, uma
oportunidade, pois os holandeses, já sitiados em terra, não mais contavam com a força naval de De With.
Em abril de 1650, os holandeses no Recife receberam o reforço de 12 navios, o que permitiu
recuperar o domínio do mar e bloquear o Cabo de Santo Agostinho, local por onde as forças de terra luso-
brasileiras recebiam suas provisões. A força do Conde de Vila Pouca de Aguiar ainda estava em Salvador,
porém comordem de somente entrar em combate se atacada. No final daquele ano, partiu para Portugal,
escoltando a frota da Companhia do Brasil.
Vieram ao Brasil outras frotas da Companhia portuguesa e os holandeses conseguiram enviar outras
forças navais, mas os dias do domínio holandês estavam contados. A Companhia das Índias Ocidentais não
lograra alcançar um bom êxito econômico e financeiramente estava muito mal. Recife continuava
estrangulado pelos insurretos luso-brasileiros.
Por décadas, o Poder Marítimo holandês havia preponderado nos oceanos, mas, em meados do
século XVII, reapareceu a concorrência séria da Grã-Bretanha, que teve como consequência a Guerra
Anglo-Holandesa de 1652-54. Tornou-se, portanto, inviável para os holandeses manter o domínio
permanente do mar na costa do Brasil.
Em dezembro de 1653, a quarta frota portuguesa da Companhia do Brasil chegou ao Brasil. O
comandante da frota, Pedro Jaques de Magalhães, decidiu bloquear Recife e apoiar os revoltosos luso-
brasileiros. As posições holandesas foram, sucessivamente, sendo conquistadas e a rendição de Recife
finalmente ocorreu no final de janeiro de 1654.
O longo êxito dos holandeses no Brasil foi resultante do esmagador domínio do mar que
conseguiram manter durante quase todo o período da ocupação. Mesmo quando Recife já estava cercado e
era inviável vencer em terra, ainda conseguiram, por longos anos, suprir a cidade por mar.
Podemos afirmar que, na longa guerra travada entre holandeses e portugueses, os holandeses foram
derrotados no Brasil, venceram na Ásia e houve empate na África e na Europa.

8) Corsários franceses no Rio de Janeiro no século XVIII:


A França utilizou a estratégia de empregar corsários para,através de ações que visavam ao lucro,
causar danos nos mares a seus inimigos. Eles não eram piratas, pois tinham uma patente de corso, que lhes
dava autorização real para agir. Tinham, portanto, o direito de ser tratados como prisioneiros de guerra,
enquanto os piratas podiam ser enforcados se apanhados.
As riquezas do Rio de Janeiro atraíram a cobiça de dois franceses. O primeiro foi Duclerc, que
acabou derrotado depois de invadir a cidade. Preso, acabou assassinado, por razão pouco esclarecida, mas
não relacionada com seu ataque. O segundo foi Duguay-Trouin, que veio com uma considerável força naval,
conquistou a Ilha das Cobras, depois o Morro da Conceição e, de lá, logrou ocupar a cidade que, ameaçada
de ser incendiada, rendeu-se. Saqueou o Rio de Janeiro e somente o deixou após receber um resgate.

9) Guerras, tratados e limites no Sul do Brasil:


A fronteira do Sul do Brasil demorou a ser definida devido à ferrenha disputa travada entre Portugal
e Espanha que tinham interesse em dominar a estratégica região platina. Para consolidar o domínio da
região, os dois reinos travavam diversas batalhas – nas quais o poder naval de ambos os lados foi muito
empregado – e vários acordos foram firmados:

Tratado de Lisboa (1681) – Já no primeiro ano de sua fundação, em 1680, a Colônia de Sacramento foi
atacada e reconquistada aos espanhóis pelo governador de Buenos Aires,sendo devolvida aos portugueses
em 1683, após a assinatura do Tratado de Lisboa, em 1681.

Tratado de Utrecht (1715) – A morte do Rei da Espanha Carlos II, em novembro de 1700, levou as
maiores potências europeias a engajarem-se no conflito que ficou conhecido como Guerra de Sucessão de
Espanha, que durou quase 15 anos e teve seus reflexos estendidos para o continente americano. Nesse
conflito, Portugal e Espanha ficaram em lados opostos e, como consequência, a Colônia de Sacramento foi
novamente ocupada pelos espanhóis em 1705.
O Tratado de Utrecht – celebrado em 1715 entre as duas nações – legitimou a presença portuguesa na
região do Prata coma restituição aos lusos da Colônia de Sacramento.

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Tratado de Madri (1750) – O conflito ocorrido entre as cortes portuguesa e espanhola entre 1735 e 1737
motivou a terceira investida hispânica sobre a Colônia de Sacramento. Cumprindo ordem do governador de
Buenos Aires, em junho de1735, navios espanhóis já empreendiam um bloqueio naval à colônia lusa
enquanto quatro mil soldados realizavam um sítio por terra.
No Rio de Janeiro, o governador interino, Brigadeiro José Silva Paes, preparou e enviou, às pressas,
uma força naval para socorrer a colônia. Assim que chegou à região do Prata, essa força naval dissipou o
bloqueio que os navios espanhóis vinham impondo à Colônia de Sacramento.
Em Portugal, o recebimento da notícia do assédio espanhol à colônia lusa levou o rei a ordenar o
preparo de uma força naval que foi constituída por duas naus e uma fragata. Essa força suspendeu de Lisboa
em março de 1736 e, ao chegar ao Rio de Janeiro, recebeu reforços. Juntou-se a ela o Brigadeiro Silva Paes,
contendo ordens de socorrer a Colônia de Sacramento e, se possível, reconquistar Montevidéu (fundada e
abandonada pelos luso-brasileiros e novamente fundada pelos espanhóis) e fortificar o Rio Grande de São
Pedro.
A força naval portuguesa no Prata combateu os espanhóis, apoiou a Colônia de Sacramento e
estabeleceu o domínio do mar na região. Após alcançar seus objetivos, parte dessa força regressou ao Rio de
Janeiro.
O Brigadeiro Silva Paes permaneceu no Sul e, após ameaçar um ataque a Montevidéu – que não
ocorreu devido ao grande risco dos navios ficarem encalhados –, decidiu partir para o Rio Grande de São
Pedro e cumprir a missão de fortificá-lo. Ao chegar, tratou o Brigadeiro de organizar suas defesas e mandou
construir o forte que denominou Jesus, Maria e José. Estavam assim criadas as condições para o início da
povoação da região, que recebeu, mais tarde, casais açorianos para ocupar a terra.
Mesmo após a assinatura por portugueses e espanhóis do armistício de 1737, o cerco terrestre à
Colônia de Sacramento continuou, demonstrando a grande instabilidade que existia nas relações entre as
duas colônias.
Procurando solucionar suas questões de limites, Portugal e Espanha resolveram assinar, em 1750, o
Tratado de Madri, que, dentre outras medidas, estabeleceu a posse da Colônia de Sacramento para a Espanha
e a de Sete Povos das Missões para Portugal. Esse tratado foi fruto do trabalho de Alexandre de Gusmão,
secretário de D. João V, junto ao qual teve grande influência. Foram nomeadas duas comissões para
demarcarem a fronteira, uma para o norte – onde Portugal teve como representante Francisco Xavier de
Mendonça Furtado (irmão do Marquês de Pombal) – e outra para o sul, sendo o representante português
Gomes Freire de Andrade. A troca estabelecida pelo Tratado não foi efetuada, pois os índios que viviam nas
Missões se recusaram a deixar o local, empreendendo uma resistência armada, levando os luso-espanhóis a
responderem com ação militar conjunta que, em 1756, por meio da força, ocuparam a região.

Tratado do Pardo (1761) – Celebrado entre portugueses e espanhóis, anulou os efeitos do Tratado de
Madri e estabeleceu que a Colônia de Sacramento voltasse a ser de Portugal. Durante a Guerra dos Sete
Anos (1756-1763), Portugal e Espanha voltaram a ficar em lados opostos quando, em 1761, a Espanha
assinou um tratado de aliança com a França, o que levou a Grã-Bretanha a declarar guerra aos espanhóis.
Como consequência, Portugal, que apoiava os britânicos, foi invadido em 1762 por forças hispânicas e
consequentemente a guerra se propagou para o Sul do Brasil.
Na região do Prata, o governador de Buenos Aires ordenou ao comandante do cerco, que estava
sendo feito à Colônia de Sacramento, que fosse restabelecido o tiro de canhão como limite reconhecido para
a praça e “convidasse” o governador da Colônia de Sacramento a desocupar imediatamente as Ilhas de
Martin Garcia e dos Hermanos. Ainda delegou ao Capitão Francisco Gorriti a incumbência de viajar até a
Vila de Rio Grande para entregar, ao comandante da mesma, um ofício, em que exigia a desocupação
daquelas terras, já que, com a nulidade do Tratado de Madri, as terras voltavam a pertencer à Espanha. O
Governador de Buenos Aires, D. Pedro Antônio Cevallos, tinha ambicioso projeto de dominação do Sul do
Brasil, e preparou-se militarmente para atacara Colônia de Sacramento, recebendo reforços da Espanha em
navios, material de artilharia e munição.
A Colônia de Sacramento dispunha para sua defesa de uma pequena tropa, que não excedia 500
homens, e o Governador Vicente da Silva Fonseca respondia às intimações de Cevallos procurando ganhar
tempo, enquanto aguardava reforços. Em outubro de 1762, a Colônia de Sacramento foi atacada pela quarta
vez e, não obstante a resistência oferecida pelos portugueses, capitulou.

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Os espanhóis continuaram avançando sobre terras ocupadas pelos luso-brasileiros e com
superioridade de forças tomaram o Rio Grande de São Pedro em 1763. Apesar de ter sido restabelecida a paz
entre as duas nações após a assinatura do Tratado de Paris, e o governador de Buenos Aires restituir a
Colônia de Sacramento, este continuou com a ocupação do Rio Grande de São Pedro, que pretendia tornar
definitiva tendo como base o Tratado de Tordesilhas. Não obstante a reclamação dos portugueses por via
diplomática, foi necessário empreender uma ação militar, na qual tropas luso-brasileiras, comandadas pelo
Tenente-General João Henrique Boehm (alemão a serviço de Portugal), juntamente como emprego da
Esquadra portuguesa, reconquistaram o Rio Grande de São Pedro em abril 1776.
Em 1777, os espanhóis protestaram contra a tomada do Rio Grande pelos portugueses e, após
insucessos diplomáticos, decidiram enviar uma poderosa expedição sob o comando de D. Pedro de Cevallos,
nomeado primeiro vice-rei do Rio da Prata.Coube ao Marquês da Casa de Tilly o comando da força naval
espanhola, que era composta de 19 navios de guerra e 26 de transporte. Embora providências tenham sido
tomadas, no sentido de combater tal ameaça pelo Marquês de Pombal, os espanhóis ocuparam a Ilha de
Santa Catarina e pela quinta vez atacaram a Colônia de Sacramento.

Tratado de Santo Ildefonso (1777) – Com a morte de D. José I, em fevereiro de1777, assumiu o trono de
Portugal D. Maria I. Na tentativa de resolver as questões delimites entre Portugal e Espanha, foi assinado em
1º de outubro de 1777 o Tratado de Santo Ildefonso. Por este tratado, ficou estabelecido a restituição a
Portugal da Ilha de Santa Catarina, porém os lusos perderam a Colônia do Santíssimo Sacramento e a região
dos Sete Povos das Missões. Este tratado deixou os espanhóis com o domínio exclusivo do Rio da Prata,
sendo deveras desvantajoso para Portugal.

Tratado de Badajós (1801) – A estabilidade entre as relações luso-espanholas foi afetada quando Napoleão
Bonaparte, desejoso de castigar Portugal por participar, com seus navios, de cruzeiros ingleses no
Mediterrâneo e visando a trazer os portugueses para zona de influência francesa, forçou a Espanha a declarar
guerra a Portugal em 1801. O rompimento das relações entre os dois países na Europa durou poucas
semanas, sem ações militares dignas de registro, ficando o episódio conhecido como a Guerra das Laranjas.
Na América, porém, a chegada da notícia sobre o conflito entre as duas coroas desencadeou o rompimento
de hostilidades entre as populações da fronteira. No Rio Grande de São Pedro, tropas foram aprestadas para
defenderem as fronteiras, ainda em processo demarcatório, e os luso-brasileiros invadiram e conquistaram os
Sete Povos das Missões, do lado espanhol, enquanto os hispano-americanos invadiram o Sul de Mato
Grosso.
O Tratado de Badajós pôs fim à guerra de França e Espanha contra Portugal, tendo a Espanha por
direito de guerra, conservado a praça de Olivença, na Europa, e a Colônia de Sacramento. Portugal
recuperou no sul da América o território dos Sete Povos das Missões.

CRONOLOGIA
DATA EVENTO
1555 Chegada de Nicolau Durand de Villegagnon ao Rio de Janeiro, instalação da França
Antártica.
1560 Ataque da força naval portuguesa ao Forte Coligny.
1565 Fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro por Estácio de Sá.Expulsão dos
franceses do Rio de Janeiro.
1580-1640 União Ibérica.
1612 Parte da França uma expedição com o intento de fundar outra colônia no Brasil, desta vez no
Maranhão.
1614 Formada a primeira força naval comandada por brasileiro nato (Jerônimo de Albuquerque),
para combater os franceses no Maranhão.
1615 Rendição e expulsão dos franceses do Maranhão pelas forças lusas.
1621 Criação da Companhia das Índias Ocidentais pelos holandeses.
1624 Chegada da força naval holandesa a Salvador e início do ataque.
1625 Chegada da armada luso-espanhola (denominada Jornada dos Vassalos) a Salvador e
expulsão dos holandeses.
1630 Invasão holandesa em Pernambuco.

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1631 Combate Naval de Abrolhos.
1640 Restauração Portuguesa. Batalha Naval de 1640.
1641 Assinatura de Tratado de Trégua entre Portugal e Holanda. Invasão holandesa em Sergipe,
Maranhão, Angola e São Tomé.
1648 Rendição dos holandeses em Angola.
1649 Holandeses são derrotados em Guararapes.
1654 Rendição dos holandeses em Recife, término da ocupação holandesa.
1681 Tratado de Lisboa.
1715 Tratado de Utrecht.
1750 Tratado de Madri.
1761 Tratado do Pardo.
1777 Tratado de Santo Ildefonso.
1801 Tratado de Badajós.

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Capítulo V
1) Formação da Marinha Imperial Brasileira:
Emergindo das dificuldades do período revolucionário (1789-1799), a França erguia-se perante a
Europa aristocrática com o “Grande Exército” chefiado por Napoleão Bonaparte. As notáveis vitórias
militares francesas subjugaram a maior parte do Velho Mundo e esse expansionismo teve repercussões
intensas na própria América, abrindo caminho para a emancipação política das colônias ibéricas.
As guerras napoleônicas (1804-1815) foram caracterizadas por dois aspectos: o primeiro na luta de
uma nação burguesa contra uma Europa aristocrática; e o segundo na luta entre França e Inglaterra. Com a
derrota da Marinha francesa na Batalha de Trafalgar (1805) para a Marinha inglesa, muito superior, decide
Napoleão investir contra seus inimigos continentais (Áustria e Prússia) e, ao tomar Berlim, iniciou guerra
econômica à Inglaterra, estabelecendo em 1806 um “bloqueio continental”12. Os demais Estados europeus
foram concitados a aderir ao bloqueio, dentre eles Portugal.
Portugal sempre manteve laços comerciais com a Inglaterra e a sua não-adesão ao bloqueio13 foi
determinante para a decisão de sua invasão por Exército francês sob o comando do General Junot. Ao saber
da chegada do Exército invasor de Napoleão, o Conselho de Estado com o Príncipe Regente D. João
acordaram na retirada para o Brasil de toda a Família Real.
A 29 de novembro de 1807, a Família Real embarca rumo ao Brasil. O comboio de transportes que
conduziu todo o aparato (15.000 pessoas dentre militares e civis) era de 30 navios, e várias embarcações14.
Foi protegido por uma escolta inglesa composta por 16 naus.
A 22 de janeiro de 1808, a Nau Príncipe Real, onde o Príncipe Regente D. João encontrava-se
embarcado, chegou à Bahia. A 28, D. João proclamava a independência econômica do Brasil com a
publicação da famosa carta régia que abriu ao comércio estrangeiro os portos do país; e a 7 de março de
1808 D. João, à testa de uma força naval composta por três naus, um bergantim e um transporte15, entrou na
Baía de Guanabara. A bordo também vinham os integrantes da Brigada Real da Marinha16 encarregados da
artilharia e da defesa dos navios.
Vamos ver neste capítulo o que ocorreu quanto ao estabelecimento da Marinha na Corte e a política
externa de D. João, caracterizada pela invasão da capital da Guiana Francesa, Caiena, e a ocupação da
Banda Oriental, atual Uruguai.
No campo interno veremos a Revolta Nativista de 1817, movimento separatista ocorrido em
Pernambuco, onde a Marinha atuou na sua repressão, bloqueando o porto de Recife.
Com o retorno de D. João VI para Portugal, permaneceu no Brasil seu filho D. Pedro, que passou a
sofrer pressão vinda da Corte de Portugal para que regressasse a Lisboa. Como consequência, temos o Dia
do Fico (09/01/1822) e, posteriormente, após novas pressões, D. Pedro proclama a nossa Independência.
Para concretizar a nossa Independência e levar a todos os recantos do litoral brasileiro a notícia do dia 7 de
setembro, foi necessário organizar uma força naval capaz de atingir todas as províncias, e fazer frente aos
focos de resistência à nova ordem.

2) A vinda da Família Real:


2.1) A Corte no Rio de Janeiro:
Junto com a Família Real todo o aparato burocrático e administrativo foi transferido para o Rio de
Janeiro. Dentre as primeiras decisões de D. João, já no dia 11 de março de1808, está a instalação do
Ministério dos Negócios da Marinha e Ultramar, que continuou a ter o mesmo regulamento instituído pelo
Alvará de 1736.

12
O Decreto de Berlim, assinado em 1806, estabelecia o bloqueio continental. Tratava-se de medidas protecionistas, pelas quais
países europeus associados e aliados à França deviam abster-se de importar mercadorias inglesas.
13
Pela Convenção Secreta de Londres, de 1807, entre Inglaterra e Portugal, decidiu-se, dentre outras providências, a mudança da
sede da monarquia portuguesa para o Brasil e a assinatura de novo tratado de comércio quando da sua chegada.
14
Charruas e algumas fustalhas (embarcação comprida e estreita, de pequeno calado, proa lançada e armada de esporão, dotada de
10 a 26 bancos de remadores, mastro envergando vela bastarda, e tendal à popa).
15
A Força Naval era composta das Naus Príncipe Real, Afonso de Albuquerque e Medusa, da Nau inglesa Bedford, da Fragata
Urânia, do Bergantim Três Corações e Transporte Imperador Alexandre.
16
O desembarque no Rio de Janeiro da Brigada Real da Marinha, em 7 de março de 1808, é considerado o marco zero da história
dos Fuzileiros Navais.
26
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A seguir, foram sucessivamente criadas ou estabelecidas várias repartições necessárias ao
funcionamento do Ministério da Marinha, tais como: Quartel-General da Armada, Intendência e Contadoria,
Arquivo Militar, Hospital de Marinha, Fábrica de Pólvora e Conselho Supremo Militar.
A Academia Real de Guardas-Marinha, que também acompanhou a Família Real, teve sua instalação
nas dependências do Mosteiro de São Bento, se tornando desta feita o primeiro estabelecimento de ensino
superior no Brasil.
No tocante à infraestrutura já existente no Rio de Janeiro, observamos que o Arsenal Real da
Marinha, localizado então ao pé do morro do Mosteiro de São Bento, cuja criação data de 29 de dezembro
de 1763, teve sua capacidade ampliada para poder apoiar a recém-chegada Esquadra.

3) Política Externa de D. João e a atuação da Marinha:


3.1) A conquista de Caiena e a ocupação da Banda Oriental:
Diante da invasão do território continental português pelas tropas do General Junot, D. João assinou, a 1º
de maio de 1808, manifesto declarando guerra à França, considerando nulos todos os tratados que o imperador
dos franceses o obrigara a assinar, principalmente o de Badajós e de Madri, ambos de 1801, e o de neutralidade,
de 1804. Os limites entre o Brasil e a Guiana Francesa voltaram a ser questionados.
Como a guerra não poderia ser levada a cabo no território europeu, e sendo importante a ocupação de
território inimigo em qualquer guerra, o objetivo ideal se tornou a colônia francesa.
Determinou então a Corte ao Capitão-General da Capitania do Grão-Pará, Tenente-Coronel José Narciso
Magalhães de Meneses, que ocupasse militarmente as margens do Rio Oiapoque. Ordem recebida, tratou de
arregimentar pessoal e material, se valendo inclusive (diante dos escassos recursos existentes nos cofres da
capitania) de subscrição popular.
Em outubro de 1808, a força estava pronta. Sob o comando do Tenente-Coronel Manuel Marques d’Elvas
Portugal, compunha-se de duas companhias de granadeiros, duas companhias de caçadores e uma bateria de
artilharia, totalizando 400 homens com armas. Para conduzir essa força ao lugar de destino, aprestou-se uma
esquadrilha composta por dez embarcações. A 3 de novembro, a esquadrilha foi acrescida de três navios vindos
da Corte: Corveta inglesa Confidence (comando do Capitão-de-Mar-e-Guerra James Lucas Yeo) e Brigue
Voador (comando do Capitão-Tenente José Antônio Salgado), Brigue Infante D. Pedro (comando do Capitão-
Tenente Luís da Cunha Moreira). Juntos traziam um reforço de 300 homens. Tinham ordens de ocupar o
território da Guiana Francesa e submeter Caiena.
A 1º de dezembro, desembarcaram as nossas tropas no território inimigo, ficando o comando da
expedição assim repartido: o Tenente-Coronel Manuel Marques dirigiria as forças terrestres; os navios ficariam
sob as ordens do Comandante Yeo. Este, com os navios menores (os demais foram bloquear Caiena por mar),
subiu o Oiapoque e foi dominando, sem maior resistência, os pontos fortificados que ia encontrando. Quatro
escunas francesas foram aprisionadas, incorporadas e rebatizadas de Lusitana, D. Carlos, Sydney Smith e
Invencível Meneses.
O governador de Caiena, Victor Hughes, tratou, em vão, de preparar a resistência, levantando baterias,
fortificando os melhores pontos estratégicos e guarnecendo os fortes. As forças de ataque foram ganhando
terreno, apertando cada vez mais o cerco à capital Caiena, até sua rendição final, a 12 de janeiro de 1809. A
importância dessa operação recai na condição de ter sido o primeiro ato consistente de política externa de D. João
realizada por meio militar, contando com forças navais e terrestres anglo-luso-brasileira.
A ocupação portuguesa da Guiana Francesa durou mais de oito anos. Embora temporária, foi de grande
valia para a fixação dos limites do País, porquanto, na ocasião de sua devolução, em1817, ficaram tacitamente
estabelecidos os limites do Oiapoque.

4) A Banda Oriental:
Outro movimento importante de D. João na política externa foi a ocupação da Banda Oriental. Na
operação, foi de grande importância o papel que desempenhou a Marinha, não só no transporte das tropas,
desde Portugal (já liberado do domínio francês), como também em todo o desenrolar da ocupação.
O movimento de independência da América espanhola provocou o aparecimento de novas nações
americanas, cada qual com lideranças individuais. Foi o caso do Uruguai, então chamado de Banda Oriental,
que se recusava a fazer parte das Províncias Unidas do Rio da Prata, encabeçada por Buenos Aires. Seu líder
José Gervásio Artigas arregimentou as camadas populares contra o domínio espanhol e para o ideal da
anexação promovido por Buenos Aires. Neste intento invadiu as fronteiras portenhas e brasileiras, o que
ocasionou o acordo entre as duas últimas para uma ação conjunta contra Artigas.

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A 12 de junho de 1816, partiu do Rio de Janeiro uma Divisão Naval, composta de uma fragata, uma
corveta, cinco naus (das quais uma era inglesa e outra francesa) e de seis brigues, capitaneada pela Nau
Vasco da Gama, onde achavam-se embarcados o Chefe de Divisão Rodrigo José Ferreira Lobo, responsável
pelas atividades navais da expedição, e o Tenente-Coronel Carlos Frederico Lecor, então nomeado
Governador e Capitão-General da Praça e Capitania de Montevidéu.A Divisão Naval foi se reunir com o 1º
Escalão, composto por seis navios, que já havia seguido para Santa Catarina em janeiro.
Aportando a Divisão na Ilha de Santa Catarina a26 de junho, decidiu Lecor seguir por terra com sua
tropa para o Rio Grande do Sul e, então, iniciar a invasão, visto que as condições climáticas só eram
favoráveis à navegação no Rio da Prata em outubro. Seguiu então à frente dos seus 6 mil comandados,
margeando o mar até as proximidades de Maldonado. A Esquadra, por sua vez, rumou em direção ao Rio da
Prata, devendo antes estacionar naquele porto.
13
Do Rio de Janeiro, a 4 de agosto, partiu nova flotilha, composta por quatro navios com a missão de
operar em combinação com a Divisão dos Voluntários Reais. A 22 de novembro de 1816, deu-se o
desembarque em Maldonado pelas forças navais de Rodrigo José Ferreira Lobo. Com a ocupação da cidade,
e a vitória pelas forças terrestres em Índia Morta, o caminho para Montevidéu ficou livre. Lecor encontrava-
se acampado no passo de São Miguel, quando recebeu uma deputação de Montevidéu que lhe apresentou as
chaves da cidade e seu submisso respeito e completa adesão ao governo de D. João VI.
Nessa época, o governo das Províncias do Rio da Prata nãomais apoiava a intervenção armada do
Brasil na Banda Oriental, deixando-nos em campo sozinhos.
Não foi imediata a completa submissão da Banda Oriental.Ainda por alguns anos, fez José Artigas
tenaz resistência à dominação portuguesa, até sua derrota final na Batalha de Taquarembó, a 22 de janeiro de
1820.
Durante esse período, os partidários de Artigas valiam-se de corsários que, com base na Colônia de
Sacramento, ocasionavam grandes prejuízos ao comércio de nossa Marinha Mercante. Com recursos navais
reduzidos para liquidar a nova ameaça, o comando português empregou tropas terrestres para tentar destruir
as bases inimigas. Assim, o Tenente-Coronel Manuel Jorge Rodrigues, auxiliado por forças navais, atacou e
conquistou Colônia, Paissandu e outros locais às margens do Uruguai, tendo em Sacramento conseguido
aprisionar vários corsários que aí se encontravam.
Para as operações realizadas no Rio Uruguai, foi constituída uma pequena flotilha, sob o comando do
Capitão-Tenente Jacinto Roque Sena Pereira, formada pela Escuna Oriental e Barcas Cossaca, Mameluca e
Infante D. Sebastião. Esta flotilha prestou auxílio inestimável às forças de terra, tanto na tomada de Arroio
de La China, quanto na tomada de Calera de Barquin, Perucho Verna e Hervidero. Em Perucho Verna, doze
embarcações inimigas, uma lancha artilhada e um escaler foram apresados.
No mar, o último episódio em que a força naval atuou, ocorrido em 15 de junho de 1820, foi o
aprisionamento do corsário General Rivera, com a recuperação dos mercantes Ulisses e Triunfantes, pela
Corveta Maria da Glória, comandada pelo Capitão-de-Fragata Diogo Jorge de Brito.
A 31 de julho de 1821, em assembleia formada por deputados representantes de todas as localidades
orientais, foi aprovada por unanimidade a incorporação da Banda Oriental à Coroa portuguesa, fazendo parte
do domínio do Brasil com o nome de Província Cisplatina.

5) A Revolta Nativista de 1817 e a atuação da Marinha:


Em paralelo ao que ocorria no Sul, teve a Corte que se mobilizar para fazer frente ao movimento
separatista que eclodiu em Pernambuco, em março de 1817.
As primeiras providências para o restabelecimento da ordem legal em Pernambuco foram tomadas
pelo Conde dos Arcos,Governador da Bahia, que fez armar em guerra alguns navios mercantes, e mandou
seguir para Pernambuco sob o comando do Capitão-Tenente Rufino Peres Batista. A esquadrilha era
composta por três navios, e tinha como missão o bloqueio do porto do Recife.
A 2 de abril partiu da Corte uma Divisão sob o comando do Chefe-de-Esquadra Rodrigo José
Ferreira Lobo, composta por três navios, enquanto que da Bahia seguiram por terra dois regimentos de
cavalaria e dois de infantaria. A 4 de maio outra Divisão Naval,sob o comando do Chefe-de-Divisão Brás
Caetano Barreto Cogomilho, partiu do Rio de Janeiro.
O cerco da cidade de Recife por terra e o bloqueio efetuado por mar fizeram com que os rebeldes
abandonassem a cidade a 20 de maio, dando fim ao movimento separatista.

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6) Guerra de independência:
6.1) Elevação do Brasil a Reino Unido:
Do mesmo modo que a transferência para o Brasil da sede do reino português foi motivada pela
ameaça representada pelo expansionismo francês na Europa, seria esperado o retorno do Rei D. João VI a
Lisboa e a restauração do pacto colonial17 após a paz europeia. Com a queda de Napoleão e o movimento de
restauração das monarquias absolutistas encabeçado pelo Congresso de Viena18, os portugueses esperavam
que seu rei retornasse para Portugal e trouxesse a Corte de volta para Lisboa. Entretanto, o monarca
permaneceu no Rio de Janeiro e, para viabilizar esta situação, elevou o Brasil a uma condição equivalente de
Portugal com a formação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Enquanto os comerciantes e fazendeiros brasileiros desfrutavam do afrouxamento dos laços
coloniais, a sociedade portuguesa via-se deixada em segundo plano, com o território luso sendo
administrado por uma junta sob controle de um militar britânico.

6.2) O retorno de D. João VI para Portugal:


Tal estado de “abrasileiramento” da monarquia portuguesa, somado ao clamor por uma flexibilização
do absolutismo vindo desetores da sociedade portuguesa, fez estourar na Cidade do Porto um movimento
revolucionário liberal. Logo a revolução se espalhou por todo o Portugal, fomentando a instalação de uma
Assembleia Nacional Constituinte denominada de “Cortes”, que visava a instaurar uma monarquia
Constitucional. O estado revolucionário da antiga metrópole provocou o retorno do Rei em 26 de abril
de1821, deixando seu filho D. Pedro como Príncipe Regente. Tentava, assim, a dinastia de Bragança manter
sob controle, e longe dos ventos liberais, as duas partes de seu reino.
Mesmo com o retorno do Rei, as Cortes reunidas em Lisboa mantiveram-se atuantes na imposição de
uma monarquia constitucional a D. João VI. Contudo, o posicionamento das Cortes em relação ao Brasil era
completamente contrário ao seu discurso liberal: vinha no sentido de reativar a subordinação política e
econômica posterior a 1808, reerguendo o pacto colonial. A oposição que as Cortes faziam à dinastia de
Bragança em Portugal e suas crescentes imposições ao Príncipe Regente provocaram reações de D. Pedro.
Em 9 de janeiro de 1822, no que ficou conhecido como Dia do Fico, D. Pedro declarou que permaneceria no
Brasil apesar da determinação das Cortes para que retornasse a Lisboa. Concomitantemente, o Príncipe
nomeou um novo Gabinete de Ministros, sob a liderança de José Bonifácio de Andrada e Silva, que defendia
a emancipação do Brasil sob uma monarquia constitucional encabeçada pelo Príncipe Regente.
A pressão das Cortes pela restauração do pacto colonial como consequente esvaziamento das suas
atribuições de regente levaram D. Pedro a defender a autonomia brasileira perante a restauração da condição
de colônia pretendida pelas Cortes.

6.3) A Independência:
Em 7 de setembro de 1822, o Príncipe D. Pedro declarava a Independência do Brasil. Porém, só as
províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais atenderam de imediato à conclamação emanada das
margens do Ipiranga.
Até pela proximidade geográfica, estas mantiveram-se fiéis às decisões emanadas do Paço mesmo
após a partida de D. João VI. As capitais das províncias ao Norte do País mantiveram sua ligação com a
metrópole, pois as peculiaridades da navegação a vela e a falta de estradas as punham mais próximas desta
do que do Rio de Janeiro. Mormente o expressivo número de patriotas no interior destas províncias,nas
capitais e nas poucas principais cidades, a elite de comerciantes era majoritariamente portuguesa e adepta da
restauração colonial realizada pelo movimento liberal português. Durante a “queda de braço” empreendida
entre as Cortes e D. Pedro, foram reforçadas as guarnições militares das províncias do Norte e Nordeste para
manter a vinculação com Lisboa.

17
Pacto Colonial foi o nome dado às relações entre a metrópole e a colônia, que implicavam sempre na subordinação da segunda
à primeira. O pacto colonial implicava que todo o comércio dos produtos produzidos na colônia só poderia ser feito com a
metrópole. De maneira inversa, todos os produtos que os colonos quisessem importar só poderiam ser vendidos pela metrópole,
isto se chama monopólio comercial ou exclusivismo mercantil.
18
O Congresso de Viena (1814-1815) foi a reunião dos representantes dos países que derrotaram a França de Napoleão para
restaurar a organização política dos países da Europa afetados pela Revolução Francesa e pela invasão das tropas de Napoleão.Os
principais objetivos dos representantes das grandes potências que derrotaram a França (Inglaterra,Prússia, Áustria e Rússia) era
refazer o mapa político europeu, promovendo a volta do Antigo Regime,e das monarquias absolutistas derrubadas por Napoleão.
29
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A resistência mais forte estava justamente em Salvador, Bahia, onde essa guarnição era mais
numerosa. No sul, a recém-incorporada Província Cisplatina viu as guarnições militares que lá ainda
estavam dividirem-se perante a causa da Independência, enquanto o comandante das tropas de ocupação,
General Carlos Frederico Lecor, colocou-se ao lado dos brasileiros, seu subcomandante, D. Álvaro da Costa
de Souza Macedo, e a maior parte das tropas defenderam o pacto com Lisboa.
A situação que se descortinava no Brasil parecia cada vez mais desfavorável ao processo de
Independência. Mesmo que as forças brasileiras, constituídas de militares e milícias patrióticas forçassem e
sitiassem as guarnições portuguesas, o mar era uma via aberta para o recebimento de reforços. Por esta via,
Portugal aumentou sua força com tropas, suprimentos e navios de guerra à guarnição de Salvador
comandada pelo Governador das Armas da Província Brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo.

7) A Formação de uma Esquadra Brasileira:


O governo brasileiro, por intermédio de seu Ministro do Interior e dos Negócios Estrangeiros José
Bonifácio de Andrada e Silva, percebeu que somente com o domínio do mar conseguiriam manter a unidade
territorial brasileira, pois eram por meio do mar que as províncias litorâneas, onde estava concentrada a
maior parte da população e da força produtiva brasileira, se interligavam e comercializavam seus produtos.
A rápida formação de uma Marinha de Guerra nacional constituía-se no melhor meio de transportar e
concentrar tropas leais e suprimentos para as áreas de embate com os portugueses.
Este conjunto de navios de guerra, a Esquadra, impediria que chegassem aos portos das cidades
brasileiras ocupadas pelos portugueses os reforços que Portugal enviasse, interceptando e combatendo os
navios que os trouxessem. Privando as guarnições portuguesas de mais soldados e armas vindos por mar, as
bombardeando com canhões embarcados e transportando soldados brasileiros para reforçar os patriotas que
lutavam contra os portugueses no interior, a Marinha Brasileira contribuiu para a Independência do Brasil,
permitindo que do território da colônia portuguesa na América emergisse um só país, com um grande
território.
O nascimento da Marinha Imperial, portanto, se deu nesse regime de urgência, aproveitando os
navios que tinham sido deixados no porto do Rio de Janeiro pelos portugueses, que estavam em mal estado
de conservação, e os oficiais e praças da Marinha portuguesa que aderiram à Independência. Os navios
foram reparados em um intenso trabalho do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro e foram adquiridos
outros, tanto pelo governo como por subscrição pública. E as lacunas encontradas nos corpos de oficiais e
praças foram completadas com a contratação de estrangeiros, sobretudo experientes remanescentes da
Marinha inglesa. A necessidade de se dispor da Força Naval como um eficiente elemento operativo e como
um fator de dissuasão para as pretensões de reconquista portuguesa fez com que o governo imperial
brasileiro contratasse Lorde Thomas Cochrane, um brilhante e experiente oficial de Marinha inglês, como
Comandante-em-Chefe da Esquadra.

8) Operações Navais:
A 1º de abril de 1823, a Esquadra brasileira comandada por Cochrane, deixava a Baía de Guanabara
com destino à Bahia, para bloquear Salvador e dar combate às forças navais portuguesas que lá se
concentravam sob o comando do Chefe-de-Divisão Félix dos Campos. A primeira tentativa de dar combate
aos navios portugueses foi desfavorável à Cochrane, tendo enfrentado, além do inimigo, a indisposição para
luta dos marinheiros portugueses nos navios da Esquadra, muitos dos quais guarneciam os canhões com uma
inabilidade próxima ao motim. Depois de reorganizar suas forças e expurgar os elementos desleais, e a
despeito das Forças Navais portuguesas, Cochrane colocou Salvador sob bloqueio naval, capturando os
navios que provinham o abastecimento da cidade, que já se encontrava sitiada por terra pelas forças
brasileiras.
Pressionados pelo desabastecimento, as tropas portuguesas abandonaram a cidade em 2 de julho, em
um comboio de mais de70 navios, escoltados por 17 navios de guerra. Este foi acompanhado e fustigado
pela Esquadra brasileira, destacando-se a atuação da Fragata Niterói, comandada pelo Capitão-de-Fragata
John Taylor, que, apresando vários navios, atacou o comboio português até a foz do Rio Tejo.
O próximo passo para expulsão dos portugueses do Norte-Nordeste brasileiro era o Maranhão, onde
Cochrane,utilizando-se de um hábil ardil, fez da Nau Pedro I, sua capitânia,a ponta de lança de uma grande
força naval que viria próxima,transportando um vultoso Exército nacional que tomaria São Luís. Porém,

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tudo não passava de um blefe para levar a deposição da Junta Governativa que se mantinha fiel à Lisboa, o
que aconteceu em 27 de julho de 1823.
Seguiu-se a utilização do mesmo ardil no Grão-Pará, conduzido pelo Capitão-Tenente John Pascoe
Grenfell, no comando do Brigue Maranhão. Tais estratagemas, que conduziram a aceitação da
Independência brasileira pelas elites formadas em sua maioria de portugueses em São Luís e em Belém, não
se deram tão facilmente como um vislumbre superficial do evento histórico permite concluir, a luta pelo
poder provincial entre brasileiros e portugueses recém-adeptos da Independência levou que o contingente da
Marinha naquelas cidades atuasse tanto num sentido apaziguador, mesmo diplomático, como trazendo a
ordem pela força das armas.
As operações navais na Cisplatina assemelharam-se às realizadas na Bahia, sendo empreendido um
bloqueio naval conjugado com um cerco por terra a Montevidéu, isolando as tropas portuguesas comandadas
por D. Álvaro Macedo. Em março de 1823, a Força Naval no Sul, comandada pelo Capitão-de-Mar-e-
Guerra Pedro Antônio Nunes, foi reforçada com a chegada de navios vindos do Norte-Nordeste do Império,
a tempo de se oporá tentativa portuguesa de romper o bloqueio em 21 de outubro. A batalha que se seguiu,
embora violenta, terminou sem a vitória de nenhum dos oponentes, mas configurou-se como uma vitória
estratégica das forças brasileiras com a manutenção do bloqueio.O desabastecimento provocado pelo
bloqueio e pelo cerco por terra, somado a desalentadora notícia que Montevidéu era a última resistência
portuguesa na ex-colônia, provocou a evacuação do contingente português da Cisplatina em novembro de
1823.

9) Confederação do Equador:
Ainda no reinado de D. Pedro I, uma revolta na Província de Pernambuco colocou em perigo a
integridade territorial do Império. A Marinha atuou contra a Confederação do Equador a partir de abril de
1824, que congregou, no seu ápice, também as províncias da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Porém,
o aumento do combate à revolta só se deu com o envio da Força Naval comandada por Cochrane, onde foi
embarcada a 3ª Brigada do Exército Imperial, com 1.200homens, comandada pelo Brigadeiro Francisco
Lima e Silva. As tropas foram desembarcadas em Alagoas e seguiriam por terra para a província rebelada;
enquanto a Força Naval alcançou Recife em 18 de agosto de 1824, instituindo severo bloqueio naval. Com a
Marinha e o Exército atuando conjuntamente, as forças rebeldes de Recife foram derrotadas em 18 de
setembro.

CRONOLOGIA
DATA EVENTO
29/11/1807 Saída de Lisboa da Família Real.
22/01/1808 Chegada da Família Real em Salvador.
29/01/1808 Abertura dos portos ao comércio estrangeiro.
07/03/1808 Chegada da Família Real ao Rio de Janeiro. Desembarque da Brigada Real de Marinha no
Rio de Janeiro, marco zero da história dos Fuzileiros Navais.
11/03/1808 Instalação do Ministério dos Negócios da Marinha e Ultramar no Rio de Janeiro.
01/05/1808 D. João assina manifesto declarando guerra à França.
01/12/1808 Desembarque das tropas luso-brasileiras em território da Guiana Francesa.
12/01/1809 Caiena, capital da Guiana Francesa se rende.
12/06/1816 Saída da Divisão Naval para a Banda Oriental.
22/11/1816 Desembarque em Maldonado.
02/04/1817 Parte da Corte a Divisão Naval com a missão de bloquear Recife, durante a Revolta Nativista
de 1817.
20/05/1817 Fim do movimento nativista de Pernambuco.
26/04/1821 Regresso de D. João VI para Portugal.
31/07/1821 Incorporação da Banda Oriental à Coroa de Portugal.
09/01/1822 Dia do Fico, o Príncipe Regente D. Pedro declara que não obedecerá às determinações das
Cortes portuguesas e que permanecerá no Brasil.
07/09/1822 Independência do Brasil.
10/11/1822 Primeira vez em que é içada a Bandeira Imperial em navio da nova Esquadra. Aniversário da
Esquadra.

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01/04/1823 A Esquadra brasileira, sob o comando do Primeiro-Almirante Cochrane, deixou o porto do
Rio de Janeiro rumo à Bahia.
02/07/1823 Larga do porto de Salvador comboio de navios levando as tropas portuguesas para Portugal.
27/07/1823 Adesão à causa da Independência pela Província do Maranhão.
15/08/1823 Adesão à causa da Independência pela Província do Grão-Pará.
21/10/1823 Tentativa de rompimento do bloqueio naval brasileiro pelos navios fiéis a Portugal
estacionados na Província Cisplatina. Vitória estratégica da Força Naval brasileira.
18/11/1823 Capitulação de Montevidéu e retirada das tropas portuguesas da Província Cisplatina.
18/09/1824 As forças rebeldes de Recife foram derrotadas.

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Capítulo VI
1) A Atuação da Marinha nos Conflitos da Regência e do Início do Segundo Reinado:
A peculiar Independência brasileira, que pôs à frente do processo de emancipação da ex-colônia o
herdeiro do trono real português, produziu uma divisão na política brasileira que marcaria o reinado de D.
Pedro I: a separação entre brasileiros, liberais, que defendiam a monarquia constitucional, e portugueses, que
propunham a concentração de poder nas mãos do Imperador.
O Imperador D. Pedro I tornava-se cada vez mais autoritário, buscando o apoio da facção dos
portugueses que defendiam maior poder ao monarca. Já a facção dos brasileiros queria que o poder do
Estado brasileiro fosse dividido entre o Imperador e a Assembleia Legislativa, constituída de representantes
eleitos da sociedade, que redigiria a Carta Constitucional e faria as leis. Ou seja, defendiam que a monarquia
de D. Pedro fosse uma monarquia constitucional.
A Assembleia Constituinte foi reunida em maio de 1823 para redigir a primeira Constituição
brasileira. A maioria dos deputados constituintes queria uma Constituição que limitasse os poderes do
Imperador. Tal fato desagradava D. Pedro e os homens que o apoiavam, já que o monarca queria no Brasil
uma monarquia absolutista.
O conflito entre D. Pedro e os deputados constituintes acabou quando o Imperador dissolveu a
Assembleia Constituinte em 1823. Em seguida, nomeou um Conselho de Estado composto por dez
membros, com a tarefa de redigir um projeto de Constituição. Resultando na imposição uma
Constituição,outorgada em 1824, que praticamente resgatava o regime absolutista. A atitude autoritária do
Imperador aumentou em muito a oposição liberal a ele, representada pelo Partido Brasileiro.
Foram vários anos de disputa política entre os Partidos Português e Brasileiro, e de críticas, cada vez
mais violentas, ao Imperador vindas dos políticos do Partido Brasileiro e de todos que defendiam que o
poder do Estado não ficasse concentrado nas mãos de D. Pedro. Também desagradava muito aos brasileiros
a influência que os portugueses residentes no país tinham junto ao Imperador, ampliando o poder dos
portugueses adesistas na sociedade brasileira, pois monopolizavam o comércio exterior nas capitais das
principais províncias, motivo de insatisfação do resto da população.
O embate entre portugueses e brasileiros na Assembleia Geral Legislativa transpareceu na imprensa,
que atacou o absolutismo do Imperador, e foi para as ruas, onde partidários do monarca entraram em choque
com defensores do Partido Brasileiro. Preocupava D. Pedro I não somente a oposição ao seu reinado, que
crescia entre os brasileiros, mas também a situação política em Portugal, onde tinha pretensão de ascender
ao trono.
Pressionado pela população, em 7 de abril de 1831, D. Pedro I abdicou do trono em favor de seu
filho, D. Pedro de Alcântara, que tinha apenas cinco anos de idade. Como o herdeiro não tinha idade para
assumir o trono, instalou-se no Brasil um governo regencial. O Poder Executivo seria composto por três
membros, uma regência trina, conforme determinava a Carta Constitucional. Posteriormente, a regência
seria constituída de uma só pessoa, a regência una.
No período regencial, o conturbado ambiente político da Corte se refletiu nas províncias do Império
em movimentos armados que explodiram por todos os principais centros regionais, desde 1831 até os anos
de consolidação do reinado de D. Pedro II. A Marinha da Independência e da Guerra Cisplatina, constituída
por elevado número de navios de grande porte, foi sendo transformada em uma Marinha de unidades
menores, próprias para enfrentar as conflagrações nas províncias e ajustadas às limitações orçamentárias.
Revoltas deflagradas em diversas províncias foram abafadas pelo governo regencial com a utilização
da Marinha e do Exército. A Marinha se fez mais presente nos combates no Pará (Cabanagem), no Rio
Grande do Sul (Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha), na Bahia (Sabinada), no Maranhão e Piauí
(Balaiada) e em Pernambuco (Revolta Praieira), esta já anos após a coroação de D. Pedro II.
Em todas estas revoltas, a Marinha não enfrentou nenhum grande inimigo no mar. Embora na Guerra
dos Farrapos os rebeldes tenham formado uma pequena flotilha de embarcações armadas, que foi
prontamente combatida e vencida, a Marinha se fez presente no rápido transporte de tropas do Exército
Imperial da Corte e de outras províncias até as áreas conflagradas. Também dependeu do transporte por mar,
em grande parte realizado pela Marinha, o abastecimento das tropas que lutavam nas províncias rebeladas,
pois não existiam estradas que ligassem a Corte às províncias do Norte e do Sul.
A Marinha também cumpriu ações de bloqueio nos portos ocupados pelos rebeldes, evitando que
recebessem qualquer abastecimento vindo do mar, como armas e munições desviadas de outras províncias
ou compradas no estrangeiro. Finalmente, militares da Marinha Imperial atuaram diversas vezes em

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desembarques, lutando com grupos rebelados lado a lado com tropas do Exército, da Guarda Nacional e
milicianos.
No contexto externo, os dois grandes conflitos que o Império brasileiro se envolveu, desde sua
Independência até o início das hostilidades que levariam à guerra contra o Paraguai, foram a Guerra
Cisplatina, entre 1825 e 1828, e a Guerra contra Manuel Oribe e Juan Manuel de Rosas, em 1850 e 1852. A
área marítimo-fluvial em que se desenrolaram a maioria das operações navais destes dois conflitos,
separados no tempo por quase um quarto de século, foi a mesma, o estuário do Rio da Prata, que separa o
Uruguai da Argentina.
Na Guerra Cisplatina, Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata, atual Argentina, lutaram pela
posse do território uruguaio, ainda não independente. Nesta guerra, que custou muito à economia de um país
recém-formado como o Brasil, a Marinha lutou longe de sua base principal, o Rio de Janeiro,contra a
Marinha argentina que, embora menor, atuava muito perto de sua principal base de apoio, Buenos Aires, e
conhecendo o teatro de operações repleto de obstáculos naturais à navegação, o Rio da Prata.
A Marinha Imperial brasileira, além das atividades de abastecimento das tropas em combate, operou
de modo ofensivo no Rio da Prata. A Força Naval brasileira efetuou um bloqueio naval sobre Buenos Aires
visando a isolar a capital adversária de abastecimento vindo do exterior e impedir que embarcações
argentinas transportassem tropas e armamento para reforçar argentinos e orientais que lutavam contra as
tropas brasileiras no território uruguaio.
Além do bloqueio, a Força Naval MARINHA IMPERIAL BRASILEIRA
brasileira combateu a Esquadra argentina até Conflitos Internos e Externos de 1831 a 1852
seu desmembramento, privando o adversário
do principal e primeiro braço do Poder Naval.
Os navios da Marinha que não foram
deslocados para aquela guerra nãodeixaram de
se envolver no conflito. A Marinha defendeu
as linhas de comunicação marítimas, dando
combate aos corsários armados pela Argentina
e pelos rebeldes uruguaios que atacaram a
navegação mercante brasileira ao longo de
toda a nossa costa.
A próxima guerra que o Brasil se
envolveria no Rio da Prata seria contra Juan
Manuel de Rosas, governador da Província de
Buenos Aires e Manuel Oribe, presidente da
República Oriental do Uruguai e líder do
Partido Blanco. Tendo como seus aliados os
governadores das províncias argentinas de
Entre Rios e Corrientes e o Partido Colorado
uruguaio, o Império brasileiro se interpôs a
uma tentativa de união de seus vizinhos do sul,
que enfraqueceria a posição brasileira no Rio
da Prata e se tornaria uma ameaça na fronteira do Rio Grande do Sul, há pouco pacificado e impedido de se
separar do Brasil na Guerra dos Farrapos.
Coube à Marinha um grande momento neste curto conflito: a Passagem de Tonelero. Pela primeira
vez se utilizando navios a vapor em um conflito externo, a Força Naval brasileira ultrapassou sob os disparos
dos canhões das tropas Juan Manuel de Rosas o ponto fortificado adversário no rio Paraná, o Passo de
Tonelero, e conduziu as tropas aliadas rio acima para uma posição de desembarque favorável, onde foi
possível o ataque e a posterior vitória sobre as tropas adversárias.

2) Conflitos internos:
2.1) Cabanagem:
A primeira sublevação ocorrida no período regencial foi a Cabanagem, no Grão-Pará, que se
generalizou em 1835 com a ocupação da capital da província, Belém. O governo central enviou uma força
interventora constituída de elementos da Marinha e do Exército Imperial que, após primeira tentativa

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frustrada de reconquistar a capital, desembarcou e a ocupou sem a resistência dos rebeldes. Contudo, os
cabanos retomaram o fôlego para a luta com o crescimento da revolta no interior e retomaram A Capital em
agosto de 1835.
Durante o conflito, as forças militares atuaram contra focos rebeldes espalhados por um território
inóspito e desconhecido, a floresta amazônica. A Marinha bloqueou o porto de Belém, dificultando o seu
abastecimento, bombardeou posições rebeldes, desembarcou tropas do Exército e embrenhou-se nos rios
amazônicos para dar combate aos mais isolados focos de revolta. O desgaste que as forças militares
impuseram aos cabanos levou-os ao abandono da capital em maio de 1836 continuando a resistir no interior.
A luta se estendeu até 1840, com a ação conjunta da Força Naval e das tropas do Exército debelando a
resistência dos cabanos por todo o Pará.
O Vice-Almirante Frederico Mariath, na época da Cabanagem era Capitão-de-Fragata, substituiu o
Chefe-de-Divisão John Taylor no comando da Força Naval que combateu a Cabanagem. Também atuou na
Guerra dos Farrapos, comandando a Força Naval do Império brasileiro no Rio Grande do Sul (1838-1839) e
na Província de Santa Catarina (1839).

2.2) Guerra dos Farrapos:


A Guerra dos Farrapos, rebelião no sul do Império que durou dez anos, de 1835 a 1845, atingiu uma
região de fronteira já conturbada por conflitos externos. A Marinha novamente atuaria em cooperação com o
Exército no transporte e abastecimento das tropas e apoiando ações em terra com o fogo dos canhões
embarcados.
Porém, na Guerra dos Farrapos os navios de guerra estiveram envolvidos em pequenos combates
navais com os farroupilhas. Os combates não ocorreram em mar aberto, mas em águas restritas, como as
Lagoas dos Patos e Mirim. O primeiro combate naval da Guerra dos Farrapos opôs o Iate Oceano, da
Marinha Imperial, e o Cúter Minuano, dos revoltosos, na Lagoa Mirim, quando o navio rebelde foi posto a
pique.
A pequena Força Naval que os farroupilhas mantinham na Lagoa dos Patos foi completamente
vencida em agosto de 1839, quando o Chefe-de-Divisão John Pascoe Grenfell, comandante das Forças
Navais no Rio Grande, apresou dois lanchões rebeldes em Camaquã. A rebelião rio-grandense estendeu-se
para Santa Catarina, onde os farroupilhas formaram uma pequena Força Naval com navios mercantes
apresados e lanchões remanescentes das operações na Lagoa dos Patos e Mirim, que foi vencida pela
Marinha em um combate no porto de Laguna. Foi neste conflito regional que pela primeira vez a Marinha
brasileira empregou um navio movido a vapor em operações de guerra.

2.3) Sabinada:
A Sabinada, revolta que eclodiu contra a autoridade da Regência na Bahia, em novembro de 1837,
foi combatida pela Marinha Imperial com um bloqueio da província e o combate a uma diminuta Força
Naval montada pelos rebeldes com navios apresados. A revolta foi finalmente sufocada em 1838.

2.4) Balaiada:
Balaiada, agitação que tomou conta das Províncias do Maranhão e do Piauí, entre 1838 e 1841,
reuniu a população pobre e os escravos contra as autoridades constituídas da própria província. Em agosto
de 1839, seguiu para o Maranhão o Capitão-Tenente Joaquim Marques Lisboa, futuro Marquês de
Tamandaré, nomeado comandante da Força Naval em operação contra os insurretos.
Após estudar a região, armou pequenas embarcações que,enviadas para diversos pontos dos
principais rios maranhenses, combateriam os rebeldes isoladamente ou apoiariam forças em terra. A partir
de 1840 e até o final da Balaiada, o Capitão-Tenente Joaquim Marques Lisboa atuaria em cooperação com o
então Coronel Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, que comandava a Divisão
Pacificadora do Norte, reunida para debelara revolta. A união dos futuros patronos das forças singulares de
mar e terra no combate à Balaiada simboliza uma situação recorrente em todos os conflitos internos durante
a Regência e o Segundo Império: a atuação conjunta da Marinha e do Exército na manutenção da ordem
constituída e da unidade do Império.

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2.5) Revolta Praieira:
A Revolta Praieira estourou em Pernambuco em novembro de 1848. Iniciada na capital, tomou corpo
nas vilas e engenhos da zona da mata e interior pernambucanos. Para combatê-la, tropas leais ao governo
provincial deixaram Recife, a capital da província, para engajar as forças praieiras que estariam no interior.
Ao ver a capital desguarnecida, forças praieiras atacaram-na, em 2 de fevereiro de 1849. O pequeno
contingente militar que guarnecia acidade foi imediatamente apoiado pela Força Naval fundeada no porto.
Contingentes de marinheiros e fuzileiros navais desembarcaram dos navios para reunir-se aos defensores da
capital na batalha, enquanto os canhões da Marinha fustigaram as investidas dos revoltosos. A atuação da
Marinha nesta revolta, embora breve, evitou que a capital provincial caísse nas mãos dos rebeldes.
O Vice-Almirante Joaquim José Ignácio, que recebeu o título de Visconde de Inhaúma durante a
Guerra da Tríplice Aliança ou Guerra do Paraguai (1864-70), como capitão-de-fragata durante a Revolta
Praieira, comandou a Força Naval do Império brasileiro que combateu os rebeldes praieiros em Recife - PE.
Tinha como navio capitânia a Fragata Constituição, porém sua Força Naval era composta de pequenos
navios, brigues-escunas, escunas e barcas a vapor.

3) Conflitos externos:
3.1) Guerra Cisplatina:
O Brasil recém-independente envolveu-se numa guerra comas Províncias Unidas do Rio da Prata,
atual Argentina, pela posse da então Província brasileira da Cisplatina, atual República Oriental do Uruguai,
anexada ainda por D. João VI, em 1821. Esta guerra pouco aparece nos livros de história e, mesmo tendo
durado quatro anos, entre 1825 e 1828, é desconhecida para a maioria dos brasileiros.
O interesse pelo domínio daquelas terras não era novo. O Império do Brasil e a Argentina herdaram
as aspirações e as disputas dos colonizadores portugueses e espanhóis pela margem esquerda do estuário do
Rio da Prata. Nos séculos XVII e XVIII, o centro da disputa era a Colônia de Sacramento, o enclave
português na região. No início do século XIX, com os movimentos de independência na América espanhola
e portuguesa, a conflagração atingiu o Brasil e a Argentina, no conflito conhecido como Guerra Cisplatina.
A guerra não envolvia só a disputa pela posse do território da Província Cisplatina que, além do gado criado
nos pampas e de dois portos comerciais importantes (Montevidéu e Maldonado), não continha recursos
naturais de monta, mas tinha como objetivo o controle do Rio da Prata, área geográfica de suma importância
estratégica desde o início da colonização europeia na América do Sul. No estuário do Rio da Prata
desembocavam dois grandes rios (Uruguai e Paraná), que constituíam o caminho natural para a penetração
no continente sul-americano, representando uma estrada fluvial para a colonização, o acesso aos recursos
naturais e a viabilização das trocas comerciais por todo o interior da América do Sul.
Apesar do controle português e, depois de 1822, brasileiro, a Cisplatina, ou Banda Oriental, mantinha
uma população de ascendência e hábitos hispânicos, culturalmente distantes dos brasileiros. Os cisplatinos,
liderados por Juan Antonio Lavalleja, iniciaram um levante buscando sua independência, procurando apoio
das Províncias Unidas do Rio da Prata, o único Estado Nacional à época constituído na Bacia do Rio da
Prata que poderia rivalizar com o Império brasileiro.
O Estado argentino, naquela época, era formado por várias províncias com alto grau de autonomia,
que reconheciam a liderança exercida pela Província de Buenos Aires. A confederação de províncias
argentinas tinha um interesse comum na sublevação dos cisplatinos contra o Império brasileiro: a
possibilidade de incorporação da Banda Oriental aos seus domínios. Por isso, deram apoio.
Para se opor à sublevação, nitidamente suportada pela Argentina, o Brasil desenvolveu uma
campanha militar na Banda Oriental entre os anos de 1825 e 1828. Além de tropas, deslocou vários meios
navais da Esquadra recém-formada na Guerra de Independência para o Estuário da Prata, comandadas pelo
Vice-Almirante Rodrigo Lobo. Com o fortalecimento das forças de Lavalleja na Banda Oriental, as
Províncias Unidas do Rio da Prata oficializaram seu apoio à revolta, declarando anexada a Banda Oriental
ao território argentino, o que significava uma declaração de guerra ao Governo Imperial brasileiro.
Destacaremos aqui a participação brasileira na guerra naval, que teve como seu principal palco o
Estuário do Rio da Prata. A ênfase no aspecto naval não indica que as operações de guerra conduzidas pelos
Exércitos em terra tenham sido menos importantes para a história da Guerra Cisplatina. O Exército
Brasileiro e as forças de Lavalleja, somadas ao Exército argentino, confrontaram-se em diversas batalhas,
mas até o final da guerra,em 1828, nenhum dos oponentes alcançou uma nítida vantagem na guerra terrestre.

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A batalha mais significativa da Guerra Cisplatina, a Batalha do Passo do Rosário, ou Ituzaingó, como
os argentinos e uruguaios a chamam, ocorrida em 20 de fevereiro de 1827, teve resultados tão indecisos
como toda a guerra terrestre que se travou na Província Cisplatina. Nenhum dos lados conseguiu impor-se
sobre o outro, não sendo possível apontar vitoriosos nem derrotados. Contudo, a função desta obra é
destacar a participação da Marinha brasileira na nossa história. Assim, descreveremos as operações navais
realizadas na Guerra Cisplatina.
A Marinha Imperial brasileira na Guerra Cisplatina lutou coma Força Naval argentina, mas também
atuou contra os corsários que, com Patentes de corso emitidas pelas Províncias Unidas do Rio da Prata e
pelo próprio Exército de Lavalleja, atacavam os navios mercantes brasileiros por toda a nossa costa.
O embate entre a Esquadra brasileira e a Esquadra argentina teve lugar no estuário do Rio da Prata e
nas suas proximidades –região com grande número de bancos de areia que dificultava a navegação. Isto
ajudou os argentinos a desenvolver uma variação naval da guerra de guerrilha. Os navios argentinos
atacavam e,quando repelidos, escapavam da perseguição dos navios brasileiros pelos estreitos canais que se
formavam entre os vários bancos de areia da região, em sua maioria desconhecidos dos marinheiros
brasileiros.
Como primeira ação de guerra, a Força Naval brasileira no Rio da Prata, comandada pelo Vice-
Almirante Rodrigo Lobo, estabeleceu um bloqueio naval no Rio da Prata, pretendendo impedir qualquer
ligação marítima entre as Províncias Unidas e os rebeldes de Lavalleja, e dos dois adversários com o
exterior. O inimigo a ser confrontado pela Força Naval brasileira era liderado pelo experiente irlandês
William George Brown, comandante da pequena Esquadra sediada em Buenos Aires, desde as lutas pela
independência daquele país. O adversário, apesar de contar com um menor número de navios de guerra,
tinha suas ações facilitadas não só pelo conhecimento da conformação hidrográfica do estuário do Rio da
Prata, como também por permanecer operando próximo ao seu porto base, o ancoradouro de Los Pozos, em
Buenos Aires, onde seus navios eram abastecidos e reparados.
Nos primeiros meses da guerra, o bloqueio naval imposto pela Esquadra brasileira provocou o
primeiro embate entre as forças navais. O Combate de Colares ocorreu em 9 de fevereiro de 1826, quando a
Esquadra argentina, composta de 14 navios, deixou seu ancoradouro para empreender uma ação de desgaste
à Força Naval brasileira em bloqueio, também composta de 14navios. As forças navais adversárias,
dispostas em colunas, trocaram tiros de canhão a grande distância uma da outra, causando perdas humanas e
avarias materiais reduzidas de parte a parte. A Esquadra argentinas e retirou para o refúgio de Los Pozos e a
Força Naval brasileira foi fundear entre os Bancos de Ortiz e Chico.
O passo posterior do comandante das forças argentinas teria consequências muito mais significativas
para os destinos da guerra no mar e em terra se bem-sucedido. Seu alvo era a Colônia de Sacramento, uma
praça fortificada situada na margem esquerda do Rio da Prata e guarnecida por 1.500homens chefiados pelo
Brigadeiro Manoel Jorge Rodrigues, complementados por uma pequena força de quatro navios, comandada
pelo Capitão-de-Fragata Frederico Mariath. Sete navios da Esquadra argentina, capitaneados pela Fragata 25
de Mayo, romperam o bloqueio brasileiro ao largo de Buenos Aires e fizeram vela para a Colônia de
Sacramento, simultaneamente aquela praça era cercada por tropas.
Devido ao maior poder de combate da Força Naval Argentina perante a flotilha brasileira que
defendia a Colônia, as tripulações e os canhões dos navios brasileiros foram desembarcados e incorporados
às defesas de terra. Em 26 de fevereiro de 1826, os navios argentinos e as tropas de cerco iniciaram o
bombardeio, respondido pelas fortificações da Colônia do Sacramento, que inutilizaram um dos navios
adversários. Repelido o primeiro ataque, os defensores da Colônia do Sacramento enviaram uma escuna para
pedir auxílio às forças navais brasileiras estacionadas em Montevidéu, esperando que o socorro chegasse o
mais rápido possível àquela praça sitiada.
O Vice-Almirante Rodrigo Lobo não acudiu de imediato a cidade acossada pelo inimigo. Na noite de
1º de março, a Força Naval argentina, reforçada por seis canhoneiras, tentou desembarcar 200 homens
naquela praça. Depois de severa luta, os atacantes argentinos foram repelidos, com a perda de duas
canhoneiras e muitos homens, não sem antes conseguirem incendiar um dos nossos navios. Os navios
argentinos só desistiram do cerco em 12 de março, escapando da Esquadra brasileira, que chegara com
atraso em defesa de Sacramento.
A Força Naval argentina empreendia ações mais ousadas contra a Esquadra brasileira. De uma troca
de tiros sem muitas consequências, em fevereiro, tentou a conquista de uma praça fortificada na margem

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esquerda do Rio da Prata que, se conquistada, transformar-se-ia em um importante ponto de abastecimento
das tropas uruguaias e argentinas.
Uma das missões da Esquadra argentina era justamente a manutenção do abastecimento dos exércitos
que lutavam na Província Cisplatina. Como obstáculo, antepunha-se a Esquadra brasileira comandada pelo
Almirante Rodrigo Lobo que, apesar da ineficiência desse início de bloqueio naval (pelos primeiros embates
navais da guerra, observa-se que a Esquadra argentina movimentava-se com relativa facilidade), mantinha-
se superior em número às forças navais comandadas por Brown.
O Comandante da Esquadra argentina William Brown reuniu sua capitânia, a Fragata 25 de Mayo, e
dois brigues em uma audaciosa ação para capturar navios que se dirigissem a Montevidéu, tentando
aumentar o tamanho de sua Esquadra e tomar alguma carga de valor em navios mercantes. Em 10 de abril de
1826, conseguiu capturar a pequena Escuna Isabel Maria. No dia seguinte, ao perseguir um navio mercante,
a Fragata 25 de Mayo aproximou-se muito do porto de Montevidéu, onde foi reconhecida pelos navios da
Esquadra brasileira, mesmo arvorando a bandeira francesa.
Saiu em sua perseguição a Fragata Niterói, comandada pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra James Norton,
ambos, navio e comandante, veteranos da Guerra de Independência e recém-chegados para reforçar a Força
Naval brasileira no Rio da Prata.Acompanharam o encalço à capitânia argentina quatro outros pequenos
navios, mas o combate se concentrou nos navios de maior porte, com a Fragata Niterói trocando disparos
com a Fragata25 de Mayo e com um dos brigues que a acompanhava. Com o cair da noite, os navios
argentinos, com graves avarias, retiraram-se para Buenos Aires, dando por encerrado o embate que ficou
conhecido como o Combate de Montevidéu.
Após o malogro da tentativa de capturar navios ao largo do porto de Montevidéu, William Brown
planejou outra ação para reforçar sua esquadra com navios brasileiros capturados.
Tencionava abordar e capturar a Fragata Niterói, o mesmo navio que frustrou sua incursão anterior.
Na noite de 27 de abril, sete navios argentinos rumaram para próximo de Montevidéu, onde os navios
brasileiros se reuniam, e tentaram identificar seu alvo. Enganados pela escuridão, investiram contra a
Fragata Imperatriz que, tendo percebido a aproximação do inimigo, se preparara para o combate. Os navios
argentinos 25 de Mayo e Independencia tentaram a abordagem, mas foram repelidos pela tripulação da
Imperatriz. O comandante do navio brasileiro, Capitão-de-Fragata Luís Barroso Pereira, liderou seus
homens na renhida luta até tombar morto no convés, atingido por disparos do inimigo. Foi uma das duas
vítimas fatais da Imperatriz no combate.
A 3 de maio de 1826, a Esquadra comandada por Brown foi avistada pelos navios brasileiros quando
tentava escapar do bloqueio naval ao seu porto. Os navios argentinos tentaram alcançar o Banco de Ortiz na
esperança de atrair os perseguidores, que, com navios de maior porte, encalhariam naquele banco de areia,
tornando-se alvos imóveis para seus canhões.
Contudo, no combate que ficou conhecido como o do Banco de Ortiz, foi justamente a Fragata
argentina 25 de Mayo a primeira a ficar encalhada, logo seguida pela nossa Fragata Niterói. Os dois navios
imobilizados empenharam-se em um duelo de artilharia. A Niterói conseguiu livrar-se do encalhe. A seguir, a 25 de
Mayo também escapou do Banco de Ortiz e se reuniu ao restante da Esquadra argentina. O Combate do Banco de
Ortiz acabou sem grandes perdas para ambos os adversários, mas mostrou o perigo que os bancos de areia do Estuário
do Rio da Prata representavam para as Esquadras em luta.
Em 13 de maio de 1826, o Almirante Rodrigo Pinto Guedes, o Barão do Rio da Prata, substituiu o
Almirante Rodrigo Lobo, que tinha se mostrado pouco capaz no comando da Força Naval do Império do
Brasil em operações de guerra no Rio da Prata. A primeira medida tomada pelo Almirante Pinto Guedes foi
estabelecer uma nova disposição das forças navais que reforçasse o bloqueio naval. Dividiu suas forças em
quatro divisões, sob o comando de oficiais capazes e experientes, devendo em todas as oportunidades
engajar o inimigo, obrigando-o a aceitar a luta. A 1ª Divisão, reunindo os maiores e mais poderosos navios
que estavam no Rio da Prata, formaria a linha exterior do bloqueio, impedindo que navios entrassem no Rio
da Prata para abastecer a Argentina e seu Exército lutando na Cisplatina e tentando capturar os corsários que
transitassem pela região. A 2ª Divisão, constituída de navios mais leves, manobreiros e numerosos, operaria
no interior do estuário, efetuando um rigoroso bloqueio naval entre a Colônia de Sacramento, Buenos Aires
e a Enseada de Barregã, isolando a Esquadra argentina no seu ancoradouro e tentando impedir o
abastecimento por mar da capital argentina. A 3ª Divisão, composta de pequenos navios adequados à
navegação fluvial, defenderia a Colônia do Sacramento e patrulharia os Rios Uruguai, Negro e Paraná, que
formavam a fronteira natural entre as Províncias Unidas do Rio da Prata e a Província Cisplatina, impedindo
que as forças de Lavalleja e o Exército argentino fossem supridos desde o território argentino. A 4ª Divisão
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era formada por navios em reparo, e foi mantida em Montevidéu, para atuar como uma força de reserva. A
reorganização das forças navais brasileiras mostrou sua eficiência na contenção dos movimentos da
Esquadra adversária.
Em 15 de maio de 1826, as três linhas de bloqueio determinadas pelo novo comandante da Força
Naval brasileira no Rio da Prata já se achavam em posição. Em 23 de maio, a Esquadra argentina decidiu
testar a resistência da Força Naval brasileira responsável pelo bloqueio de Buenos Aires, a 2ª Divisão da
Esquadra Imperial, chefiada pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra James Norton.Os navios brasileiros engajaram-
se no Combate das Balizas Exteriores, mesmo com o risco de encalharem nos bancos de areia em torno de
Buenos Aires. Os navios argentinos perceberam a resolução da força bloqueadora e voltaram ao seu
ancoradouro, em Los Pozos. Dois dias depois, o navio capitânia da 2ª Divisão, a Fragata Niterói, navegando
sozinha, atraiu a Esquadra argentina para o combate, mas, novamente, a troca de tiros não causou danos
significativos a nenhum dos lados.
Mesmo a nova estratégia de bloqueio, mais agressiva, não se mostrava eficiente na destruição dos
navios argentinos, que se mantinham protegidos no ancoradouro de Los Pozos.
No começo de junho de 1826, buscando um engajamento decisivo, o Almirante Rodrigo Pinto
a
Guedes planejou atacar a Esquadra inimiga dentro de Los Pozos. Para isso, a 2ª Divisão foi reunida à 3
Divisão da Esquadra Imperial, composta por navios menores que poderiam transpor os bancos de areia que
protegiam o ancoradouro de Buenos Aires.
Em 7 de junho, antes que as duas forças brasileiras se reunissem, cinco navios de transporte
argentinos, escoltados por navios de guerra, largaram de Buenos Aires com soldados e suprimentos para
apoiar as tropas argentinas que lutavam junto aos cisplatinos. Ao mesmo tempo, o resto da Esquadra
argentina, comandada por Brown, fez vela para atrair a atenção da força brasileira. Nem a 2ª Divisão, junto a
Buenos Aires, nem a 3ª, ainda em águas da Colônia de Sacramento, alcançaram os navios de transporte
argentinos.
Em 11 daquele mês, as 2ª e 3ª Divisões, comandadas por Norton, executaram o plano de ataque e
investiram contra a Esquadra argentina em Los Pozos. Novamente, os bancos de areia protegeram os navios
argentinos. O comandante da Força Naval brasileira, Norton, desistiu do ataque que seria infrutífero. Apesar
dos insucessos da ação planejada, a Escuna Isabel Maria, apresada pelos argentinos, foi recuperada.
Considerando o malogro do último ataque brasileiro à Esquadra argentina como sua vitória, Brown
preparou uma nova investida à 2ª Divisão, determinado a livrar Buenos Aires do bloqueio naval. Protegidos
pela noite, em 29 de julho de 1826, 17 navios da Esquadra argentina tentaram surpreender os navios sob o
comando do Capitão-de-Mar-e-Guerra James Norton. Porém, alertados por uma escuna que fazia a
vigilância, os brasileiros responderam ao ataque. O combate tornou-se confuso; a mesma noite que escondia
os atacantes, prejudicava a precisão dos disparos e a identificação do inimigo. A possibilidade de atingir
navios amigos determinou que ambos os lados suspendessem a luta.
Ao alvorecer, o combate recomeçou. O Comandante da Esquadra argentina Brown conduziu seu
navio capitânia, a Fragata25 de Mayo, na direção dos navios brasileiros, mas só foi acompanhado pela
Escuna Rio de La Plata. Os dois navios argentinos receberam todo o peso dos disparos dos canhões
brasileiros e ficaram completamente inutilizados. O chefe das forças argentinas foi obrigado a transferir-se
sob fogo para um navio argentino que ousou aproximar-se. O restante da Esquadra argentina retirou-separa a
segurança de seu ancoradouro. O Combate de Lara-Quilmes foi a última tentativa da Esquadra argentina de
destruir os navios da 2ª Divisão da Esquadra Imperial e desmantelar o bloqueio naval brasileiro em torno de
Buenos Aires.
Depois dessa expressiva vitória das forças navais brasileiras, no começo do ano de 1827, a 3ª
Divisão, composta pelos menores navios da Esquadra brasileira, comandada pelo Capitão-de-Fragata Jacinto
Roque Sena Pereira, foi derrotada no Combate de Juncal.
a
No final do ano anterior a 3 Divisão recebeu ordens de subir o Rio Uruguai para auxiliar as
operações do Exército Imperial Brasileiro na Cisplatina. Sabendo daquela movimentação, o comandante da
a
Esquadra argentina reuniu uma força composta de 16 navios adaptados à navegação fluvial para destruir a 3
Divisão brasileira e permitir o livre trânsito de reforços vindos das Províncias Unidas para os seus exércitos
na Cisplatina.
Em 29 de dezembro de 1826, a Força Naval argentina atacou a 3ª Divisão, fundeada na foz do Rio
Iaguari, mas foi repelida pelo intenso fogo da artilharia dos pequenos navios de Sena Pereira e recuou,

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descendo o Rio Uruguai. Embora tivesse repelido o ataque argentino, a 3ª Divisão brasileira se viu presa
dentro do Rio Uruguai, uma vez que os navios inimigos postaram-se na foz daquele rio.
Foi organizada uma Força Naval com unidades da 2ª Divisão para combater os argentinos que
bloqueavam a 3ª Divisão no interior do Rio Uruguai, chamada de Divisão Auxiliadora. Apesar da urgência
no socorro, a progressão desta Força Naval foi lenta e difícil, devido ao grande número de bancos de areia
que tornavam aquelas águas pouco profundas e inadequadas para navios de maior porte, como os que
compunham a 2ª Divisão brasileira.
A Corveta Maceió, a capitânia e o maior navio da divisão, ficou isolada dos outros navios brasileiros
perto de um banco de areia conhecido como Playa Honda. A Maceió era o alvo perfeito para as forças
argentinas, sempre em busca de navios para reforçar sua já diminuída Esquadra. Cinco navios inimigos
aproximaram-se da corveta, que estava acompanhada apenas da Escuna Dois de Dezembro, e tentaram a
abordagem. A tripulação da Maceió repeliu o inimigo com o fogo de seus 20 canhões. Por fim, os navios
argentinos recuaram, mas a missão da Divisão Auxiliadora ainda não terminara. Os navios brasileiros da 3ª
Divisão permaneciam presos no Rio Uruguai.
No início de fevereiro de 1827, a 3ª Divisão desceu o Rio Uruguai para combater a Força Naval
argentina que o bloqueava. Com ajuda da Divisão Auxiliadora, planejou-se colocar o inimigo entre os
canhões das duas divisões brasileiras.
Em 8 de fevereiro, começava o Combate de Juncal, nome tomado da Ilha fluvial de Juncal, segmento
do Rio Uruguai onde os navios da 3ª Divisão foram derrotados pela Força Naval argentina, pois não
receberam o esperado apoio da Divisão Auxiliadora, que permaneceu longe do local da batalha.
O bloqueio naval mais rigoroso realizado desde maio de1826 pela 2ª Divisão da Esquadra Imperial
mantinha a maior parte do tempo a Esquadra argentina confinada em seu ancoradouro. Porém, a Esquadra
brasileira não conseguia uma vitória definitiva frente ao inimigo, não evitando pequenas incursões que,
algumas vezes, mostravam-se desastrosas, comoo combate fluvial em Juncal.
Já nesse período da guerra no mar, o governo de Buenos Aires concentrava seu esforço na guerra de
corso, que afetava o comércio marítimo do Império brasileiro. Mesmo a Esquadra argentina, já muito
debilitada depois do Combate de Lara-Quilmes, cedia seus navios para campanhas de corso na costa
brasileira. E foi com esse propósito que os quatro principais navios argentinos tentaram romper o bloqueio
brasileiro na noite de 6 de abril de 1827.
A Força Naval argentina, composta pelos Brigues República, Congresso e Independência, e pela
Escuna Sarandi, comandada pelo próprio comandante da Esquadra argentina, William Brown, foi
interceptada pelos navios da 2ª Divisão quando tentava contornar o bloqueio naval brasileiro.
Neste último grande encontro entre as forças adversárias, conhecido como Combate de Monte
Santiago, a 2ª Divisão brasileira, reforçada pelos navios das outras duas divisões bloqueadoras, fustigou os
navios argentinos com os seus canhões, que, encurralados entre a força brasileira e os bancos de areia,foram
sendo destroçados. Os Brigues República e Independência foram abordados e capturados pelos brasileiros.
O Brigue Congresso e a Escuna Sarandi, navios menores e mais leves, conseguiram passar pelos bancos de
areia e refugiaram-se em Buenos Aires, ainda assim bastante atingidos pelos canhões brasileiros e com
muitos mortos e feridos a bordo.
Foi o golpe final contra a Esquadra argentina e a demonstração de que o bloqueio naval organizado
pelo Almirante Rodrigo Pinto Guedes foi efetivo no combate ao inimigo.
As grandes perdas argentinas no Combate de Monte Santiago, em abril de 1827, ratificaram a opção
pela guerra de corso. Durante todo o conflito, as Províncias Unidas armaram corsários. Alguns corsários
eram armados no porto de Buenos Aires e conseguiam romper o bloqueio naval brasileiro; outros vinham
das bases de corsários de Carmen de Patagones e San Blas,em território das Províncias Unidas do Rio da
Prata, e havia mesmo os que, recebendo as patentes de corso do governo de Buenos Aires em portos do
exterior,daí largavam para acossar os navios mercantes nas costas brasileiras.
A guerra de corso empreendida contra o nosso comércio marítimo (à época, como hoje, essencial
para a economia nacional) foi mais efetiva contra o esforço de guerra brasileiro do que a Esquadra argentina.
A operação ofensiva que a Marinha Imperial brasileira realizou como bloqueio naval no Prata coexistiu com
a ação defensiva na vigilância das extensas águas territoriais brasileiras, defendendo nosso comércio
marítimo dos corsários.
Exemplos da ação da Marinha Imperial no combate aos corsários foram as duas incursões da
Esquadra sediada no Rio da Prata às bases corsárias de Carmen de Patagones e San Blas, na região da

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Patagônia. Ambas ocorreram em 1827 e pretendiam destruir esses verdadeiros ninhos de corsários e
recapturar alguns dos navios mercantes que estes tinham tomado.
Contudo, as condições hidrográficas da costa argentina da Patagônia, completamente desconhecida
dos brasileiros, e, especialmente na incursão a Carmen de Patagones, a falta de informação sobre as defesas
a serem enfrentadas determinaram o fracasso das duas expedições.
Entretanto, o combate aos corsários foi mais efetivo no bloqueio naval empreendido a outra de suas “bases”,
a localizada no rio Salado. Outros corsários também foram batidos no mar pela Marinha Imperial, como o
Brigue Niger, capturado em março de 1828, e o Brigue General Brandsen, destruído por navios brasileiros
após longa campanha de corso.
A indefinição da campanha terrestre e o esgotamento econômico e militar de ambos os contendores
levaram o Brasil a aceitar a mediação da Grã-Bretanha para o fim da guerra. A Convenção Preliminar de Paz
foi assinada entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata em 27 de agosto de 1828. O
acordo estipulava que ambos os lados renunciariam a suas pretensões sobre a Banda Oriental, que se tornaria
um país independente: a República Oriental do Uruguai.
O término da Guerra Cisplatina não seria o fim dos conflitos na região. A Marinha Imperial brasileira
permaneceria guarnecendo a segurança do Império do Brasil no Rio da Prata.

3.2) Guerra contra Oribe e Rosas:


Terminada a revolta que sublevou as Províncias do Rio Grande e de Santa Catarina, o Império
brasileiro pôde retomara vigilância na fronteira sul e ater-se ao conflito que crescia na área do Rio da Prata.
Mesmo com o fim da Guerra Cisplatina e a independência da República Oriental do Uruguai, as lideranças
políticas argentinas continuavam com a pretensão de restituir o mando de Buenos Aires sobre o território do
Vice-Reinado do Prata.
O projeto de anexação do Uruguai ao território argentino encontrou em Juan Manuel de Rosas
liderança máxima da Confederação Argentina desde 1835 e em Manuel Oribe, líder do partido de oposição
ao governo uruguaio (o Partido Blanco), seus executores.
O Império brasileiro, que se opunha frontalmente à anexação, apoiava o governo constituído do
Uruguai, exercido pelo Partido Colorado. A situação política no Uruguai aproximava-se a de uma guerra
civil, com tropas partidárias de Oribe e apoiadas por Rosas cercando a capital, Montevidéu.
Em 1851, o Governo brasileiro procedeu a uma aliança como governo uruguaio e com um
oposicionista de Rosas, o governador da Província argentina de Entre Rios, Justo José de Urquiza, para
defender o Uruguai do ataque das forças de Rosas e Oribe.
A ação da Marinha novamente seria realizada em estreita colaboração com o Exército Imperial. O comando
da Força Naval foi entregue ao Chefe-de-Esquadra John Pascoe Grenfell, veterano das lutas na
Independência e na Cisplatina.
Somente com a intervenção da força terrestre, as tropas que cercavam Montevidéu capitularam e
Manuel Oribe foi derrotado. A Esquadra brasileira, disposta ao longo do Rio da Prata, impediu que as tropas
vencidas pudessem evacuar para a margem direita, o lado argentino.
Tendo pacificado o Uruguai, a força brasileira e seus aliados platinos voltaram-se contra Rosas, que
se mantinha como uma ameaça à estabilidade da região. Nessa nova ação militar coube à Marinha a tarefa
de transportar as tropas aliadas pelo Rio Paraná até a localidade de Diamante, para ali desembarcá-las.
A Força Naval brasileira, composta por quatro navios com propulsão a vapor e três navios a vela, tinha
como obstáculo o Passo de Tonelero, nas proximidades da Barranca de Acevedo, onde o inimigo instalara
uma fortificação guarnecida por 16 peças de artilharia e 2.800 homens. Devido a pouca largura do rio
naquele trecho, os navios brasileiros seriam obrigados a passar a menos de400 metros daquela fortificação,
recebendo o peso da artilharia inimiga. A solução encontrada pelo Chefe-de-Esquadra Grenfell foi o emprego
conjunto dos navios a vela e a vapor na operação de transposição daquele obstáculo.
Os navios a vela, mais artilhados (pois tinham artilharia postada por todo seu costado, substituída nos
navios a vapor pelas rodas laterais), foram rebocados pelos navios a vapor, mais rápidos e ágeis nas
manobras.
Tonelero foi vencida em 17 de dezembro de 1851, com as tropas desembarcando em Diamante com
sucesso.
Naquela localidade, os navios a vapor auxiliaram também na transposição do rio pelas tropas
oriundas das províncias argentinas aliadas que tinham marchado até aquela posição.

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O Exército de Buenos Aires foi derrotado pelas tropas brasileiras e de seus aliados platinos, em fevereiro de
1852. A Passagem de Tonelero representou a única operação ofensiva realizada pela Marinha Imperial
naquele conflito.
Contudo, o emprego da Força Naval no transporte de tropas para a área do conflito e, notadamente
depois de Tonelero, na transposição das tropas aliadas da margem uruguaia para território argentino, no Rio
da Prata e Rio Paraná, constituiu fator essencial para o sucesso das ações militares desenvolvidas pelos
aliados contra Rosas e Oribe.

4) A Guerra da Criméia e Suas Lições:


A Guerra da Criméia (l854-56) traria alguns importantes ensinamentos para a guerra no mar.
Ela representou excelente oportunidade para uma reavaliação dos confrontos, tão frequentes à época,
entre navios e fortalezas de terra; até então, esse confronto era francamente favorável às fortalezas, não só
devido à fragilidade de navios de madeira sem couraça mesmo em face dos projetis sólidos, mas, também, à
pouca eficácia dos canhões navais contra as poderosas defesas das fortalezas.
Os franceses foram os primeiros a reagir às lições de Sinope. Em 1855, desenvolveram um tipo
especial de embarcações para enfrentar os fortes de terra; conhecidas como "baterias flutuantes" eram
embarcações de fundo chato, para operar em águas rasas, próximas à terra, construídas de madeira, mas
protegidas com couraças de ferro forjado de 4,5 polegadas de espessura, montadas sobre piacas de madeira
(teca) de 18 polegadas de espessura19; esta couraça fora planejada para resistir aos canhões típicos da época,
os 68- pounder20 de alma lisa. Nesse mesmo ano, as três Baterias Flutuantes Dévastacion, Lave e Tonnante,
que dispunham de propulsão a vapor capaz de deslocá-las a uma velocidade de 2 a 3 nós, foram rebocadas
para o Mar Negro por fragatas de propulsão mista, a roda, e, compondo um esquadrão anglo-francês com
outros navios tradicionais, tiveram a missão de neutralizar o forte russo de Kinburn, na foz do Dnieper.
Enquanto os navios de madeira, sem proteção, davam apenas fogo de apoio e engajavam algumas baterias
periféricas do forte, os navios com couraça ficaram estacionados a algumas milhares de jardas do forte e
depois de 4 horas de bombardeio, o forte russo, que usara contra as baterias flutuantes tanto projetis sólidos
como granadas explosivas, foi forçado a se render (45 mortos e 130 feridos), enquanto as três embarcações
encouraçadas sofreram apenas avarias insignificantes: os tiros sólidos do forte ricocheteavam na couraça e
as granadas explosivas, explodindo contra a couraça, não produziam nenhum dano. A partir daí não mais se
podia duvidar da eficácia da couraça para os navios de guerra e ficava claro que a tecnologia se voltaria para
o melhoramento dos canhões e dos projetis usados. Ficou fácil perceber que a granada explosiva só seria
eficaz contra a couraça se pudesse perfurá-la e explodir na parte vulnerável dos navios; para isso, o projétil
deveria ser cilíndrico e ter ponta (ogiva); com os canhões de alma lisa, o projétil ao deixar o tubo alma do
canhão tinha uma trajetória muito instável (dando verdadeiras cambalhotas), não se podendo garantir que ele
acertaria aonde se queria e muito mesmo que ele bateria de ponta no alvo; a alma raiada, já testada e
aprovada desde 1846, conforme já vimos, seria a solução para este problema.
Ainda nesse mesmo ano, o bombardeio de Sebastopol por um esquadrão inglês, do qual fazia parte o
Agamêmnon e outro navio da mesma classe, mostrou o valor da propulsão a vapor, já que os dois navios de
propulsão mista, diferentemente dos navios a vela, podiam se posicionar convenientemente em relação aos
pontos a serem atacados, dando mais eficácia ao bombardeio, indiferentes à direção do vento.
No que se refere à guerra de minas, os russos usaram a minagem defensiva para a proteção de
Sebastopol, Sveaborg e Kronstadt, usando minas de contato, isto é, que explodiam quando atingidas pelo
casco de um navio. Os fusíveis dessas minas, provavelmente desenvolvidos por Alfred Nobel, consistiam
em tubos de vidro cheios de ácido sulfúrico; quando quebrados pelo casco de um navio, liberavam o ácido
que então se misturava com clorato de potássio e açúcar, gerando calor e chamas suficientes para provocar a
explosão da mina.

19
A ideia de empregar couraça nos navios é muito antiga. Já no século XVI, numa guerra entre a Coréia e o Japão, surgiu o
primeiro navio, ainda a remo, protegido com couraça; conhecido como "navio tartaruga", pelo seu aspecto exterior, dispunha de
um convés em forma de domo, feito de chapas de ferro, às quais foram soldados verdadeiros espigões de ferro; o navio era
praticamente invulnerável às armas da época e a sua abordagem pelo inimigo era quase impossível.
20
Antes de os canhões serem designados pelo calibre, o que só acorreria na segunda metade do século XIX, eles eram designados
pelo peso do projétil que usavam: um canhão inglês 68-pounder era um canhão que atirava um projétil pesando 68 libras inglesas.
Devido à diferença de padrão de pesos havia uma dificuldade de comparar canhões de procedências diferentes; por exemplo, um
36-pounder francês atirava projetis que pesavam, aproximadamente, 39 libras inglesas; um 4R-pounder sueco, projetis de 45 libras
inglesas; um 42 - pounder russo, projetis de cerca de 30 libras inglesas.
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Já apontamos durante a Guerra da Cisplatina os navios argentinos e brasileiros eram muito
semelhantes aos seus contemporâneos que lutaram em Navarino. Agora, pelo contrário, os navios de linha
da frota anglo-franco-turca na Criméia eram tecnologicamente muito superiores aos navios de Navarino,
embora muito pouco afastados no tempo.
O Brasil procurava compensar o seu atraso tecnológico tanto adquirindo navios no exterior - em
1852, chega ao Brasil a Fragata de propulsão mista, a roda, Amazonas; em 1854, recebe da Inglaterra os
primeiros navios a hélice (quatro canhoneiras); em 1856, mais três como construindo no Brasil - em 1854
inicia a construção da Canhoneira Ipiranga, que seria o primeiro navio a hélice construído no País (projeto
de Napoleão Level, executado no Arsenal da Corte; as máquinas e as caldeiras, sob a supervisão de Carlos
Braconnot, foram construídas também no Arsenal) A Ipiranga participaria da Batalha Naval do Riachuelo.
O agravamento das relações do Brasil com o Paraguai, consequência das divergências quanto a
questões de fronteiras e livre navegação nos rios da região (houve ruptura das relações diplomáticas entre os
dois países em 1853), estimulou maiores investimentos no Poder Naval brasileiro, principalmente em termos
de preparação de mão-de-obra qualificada.
Os ingleses não tardaram a copiar os navios encouraçados franceses que tão bom desempenho havia
tido contra os fortes de Kinburn, mas logo depois procuraram superá-los, lançando ao mar quatro navios
com couraça - o HMS Thunderbolt, o Terror, o Aetna e o Erebus - todos em 1856; embora não se possa
dizer que esses navios fossem de linha, eles foram os precursores dos modernos navios de guerra, sendo os
primeiros navios a combinar casco de ferro, couraça e propulsão a vapor.
Ainda cm 1856 os ingleses desenvolvem o canhão Armstrong, com carregamento pela culatra, alma
raiada, capaz de disparar projetis cilíndricos com ogiva, providos com cinta de chumbo para que pudessem
engrazar nas ranhuras do tubo alma. O canhão Armstrong, que só seria usado a bordo alguns anos mais tarde
(1860), consistia num tubo alma no qual um número de jaquetas era vestido a quente e, após o resfriamento,
elas encolhiam e formavam uma unidade sólida com o tubo alma. Desta forma, o canhão ia tendo sua
resistência aumentada, da boca para a culatra. O tubo alma era raiado internamente no sistema de múltiplas
ranhuras (grande número de ranhuras rasas). O bloco de culatra, uma peça sólida de ferro forjado, furada e
com ranhura, era encaixado a quente na parte oposta à boca; um rasgo aberto através dela e da jaqueta acima
permitia que uma cunha fosse inserida, fechando esta extremidade do tubo alma; a cunha era mantida no
lugar por um parafuso vazado que antes da colocação da cunha permitia o carregamento do canhão. Este
sistema mostrar-se-ia propenso a causar acidentes.
Dois anos mais tarde, a Marinha francesa adota o sistema de culatra com ranhura interrompida
(quatro seções separadas): a alavanca de operação primeiro levava o bloco para dentro da culatra e depois
girava-o 1/8 de volta, fazendo com que as ranhuras do bloco engrazassem com as da culatra, ficando o bloco
assim travado.
Também na Alemanha o carregamento pela culatra mereceu a atenção dos técnicos, começando o
desenvolvimento do sistema Krupp, usando, como o Armstrong, um sistema de cunha, mas sem os
inconvenientes do sistema inglês.
Com o fracasso da missão diplomática do Almirante Pedro Ferreira de Oliveira, enviado a Assunção
pelo governo brasileiro, logo após a interrupção das relações diplomáticas entre os dois países (1853), um
novo impulso para a renovação do Poder Naval brasileiro teve lugar. Em 1857, é iniciada no Arsenal da
Corte a construção da Corveta Niterói, até então o maior navio de propulsão a vapor construído no Brasil; o
navio seria dotado com canhões de alma raiada. Por dificuldades técnicas a construção arrastou-se até 1863.
A luz da experiência adquirida quando da fissão diplomática enviada à Assunção - com exceção de
um pequeno vapor em que viajou o chefe da missão, todos os navios da força naval brasileira não puderam
subir o Rio Paraguai porque calavam muito -Tamandaré recebeu o encargo de adquirir na Europa
canhoneiras que pudessem navegar no Prata e dispusessem de couraça em face da existência de muitos
fortes nas margens do Rio Paraguai; como resultado, são recebidas, no ano de 1858, duas canhoneiras
construídas na França e sete na Inglaterra, todas a vapor e a hélice, com pequeno calado para operarem nos
rios do Prata. Conforme aponta em seu relatório para o Ministro da Marinha, Tamandaré, no que diz respeito
à couraça, inspirou-se no bombardeio do Kinburn pelas baterias flutuantes francesas.
Os franceses, em 1859, lançam ao mar o Gloire, uma fragata de 5.600 toneladas, a primeira de uma
classe de três navios construídos de madeira, mas dotados de couraça, projetadas por Dupuy de Lôme. Eram
navios de propulsão mista a hélice (inicialmente o Gloire só dispunha de mastro de sinais, mas depois
recebeu toda a aparelhagem para vela), capaz de desenvolver, só com o vapor, 13,5 nós. A mais significativa

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mudança no Gloire estava na sua artilharia, toda ela concentrada numa única fileira de poderosos canhões
(pelo fato de todos os canhões estarem num único convés do navio, apesar de seu tamanho, foi classificado
como fragata). A economia de peso assim conseguida permitiu que o navio recebesse uma cinta couraçada
de 4,7 polegadas de espessura, fabricada por Creusot. O armamento do Gloire consistia em 36 canhões de
um novo modelo 66-pounder, carregamento pela culatra, alma raiada, atirando projetis explosivos, 34 deles
ao longo da borda do navio e dois montados em pivôs. Um dos três navios da mesma classe tinha casco de
ferro, o Couronne, lançado em 1860.
No ano de 1859 tem início a construção dos primeiros navios de linha dotados de aríete que, breve,
seria uma característica de todos os encouraçados da época; projetados por Dupuy de Lôme, são lançados
em 1861 o Magenta e o Soferino, bastante semelhantes ao Gloire. A ineficiência dos canhões da época
contra os navios encouraçados valorizou o aríete se supunha, atingir que, podia os navios inimigos abaixo da
linha d'água, na parte não protegida pela couraça. Voltaremos ao assunto mais adiante.
Os ingleses reagiram ao desafio francês do Gloire lançando ao mar, em 1860, o HMS Warrior, que é o
primeiro navio de linha com casco de ferro. Embora fosse lançado um antes do Couronne, este foi
incorporado primeiro. É um navio de propulsão ainda mista, mas a propulsão a vapor é agora a principal, e
não apenas um complemento à propulsão a vela. O Warrior deslocava 9.210 toneladas e dispunha de couraça
de 4,5 polegadas de espessura. Inicialmente, o navio era dotado com canhões de alma lisa, carregamento
pela boca, montados sobre carretas, mas eles foram sendo substituídos por canhões de alma raiada.
Neste ponto da evolução dos navios de guerra, duas considerações são importantes. Tanto o Gloire
como o Warrior eram ainda armados com canhões fixos, alinhados nos bordos dos navios, como os navios
mais antigos do período da vela. A época das barbetas e torres ainda não havia chegado, embora, já nessa
época o canhão Armstrong (1860) tivesse sido introduzido a bordo dos navios britânicos.
A insistência das Marinhas na propulsão mista, mantendo ainda nos navios toda a aparelhagem para a
propulsão a vela, como no Gloire e no Warrior, decorria de uma série de circunstâncias. Esses navios eram
destinados às viagens marítimas, com extensos cruzeiros, abrangendo áreas onde os pontos para
reabastecimento de carvão eram poucos, ficando muito afastados um dos outros, e, além disso, as máquinas
então disponíveis eram deficientes e quebravam frequentemente, daí o conservadorismo dos que não
queriam abrir mão da vela. A ordem "Chaminés para baixo; hélice para cima"("Down funnel; up screw"),
assinalava numa viagem a passagem da propulsão a vapor para a vela, tão frequente à época, refletia uma
situação bastante comum: os navios mistos eram essencialmente navios a vela e que ocasionalmente usavam
o vapor. No Brasil, por exemplo, que importava todo o carvão consumido pelos navios de Cardiff, na
Inglaterra, era o próprio Ministro da Marinha que autorizava os trechos da viagem em que a propulsão a
vapor podia ser usada.
À medida que as estações de reabasteci mento foram sendo instaladas por todo o mundo e as
máquinas a vapor ganhavam em desempenho e confiabilidade, a situação começou a mudar. Entretanto, foi
só quando o aumento do peso dos armamentos e das couraças comprometeu a estabilidade dos navios,
reduzindo a borda livre de tal modo que eles não mais podiam levar, sem risco, o peso alto representado
pelos mastros e seus aparelhos ou suportar o momento de adernamento provocado pela pressão do vento
sobreo velame do navio, que a vela foi finalmente abandonada. Um acidente trágico, do qual daremos
adiante, contribuiu para pôr um ponto final na propulsão a vela.

5) Guerra de Secessão ou Guerra Civil Americana:


5.1) A batalha de Hampton Roads:
Em 1861 , teve início a Guerra de Secessão nos Estados Unidos, que se prolongaria até 1865; esta
guerra foi rica de ensinamentos relativos à guerra no mar, em especial os decorrentes da Batalha de
Hampton Roads (1862), onde, pela primeira vez, dois navios encouraçados a vapor se defrontaram -
surpreendentemente para a época os dois navios eram exclusivamente acionados a vapor, muito avançados
quando comparados com os demais navios do período.
Recuperando uma fragata que havia sofrido um grave incêndio, os confederados transformaram-na
num navio encouraçado - o Virginia que, entretanto, passaria para a história com o seu antigo nome
Merrimack. O navio era dotado de uma casamata, construída com traves de carvalho revestidas com trilhos
de estrada de ferro e placas metálicas; seu armamento consistia em três canhões de 9 polegadas, de alma lisa,
e de um canhão de 6, de alma raiada, montado em pivô, todos os canhões passando através de aberturas

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existentes na casamata e atirando granadas explosivas; ainda na casamata, existiam dois canhões de 7
polegadas, um atirando para vante e outro para ré; o navio dispunha de aríete, de ferro, que se projetava 2
pés abaixo da linha d'água. A velocidade era muito baixa, de apenas 2 ou 3 nós.
Por sua vez, a União desenvolveu o Monitor, projeto de Ericsson, verdadeiramente revolucionário;
tinha casco de madeira revestido de couraça; a meia nau foi instalada uma torre rotativa, a primeira a ser
instalada num navio, com dois canhões de 11", à época o maior calibre embarcado; o seu convés, exceto
pela torre e por uma capuchana onde se abrigava a pessoa responsável pelo governo do navio, era totalmente
desimpedido; devido ao peso da torre o navio tinha pequena borda livre, não sendo, pois, projetado para
operar em alto-mar mas apenas em águas protegidas; sua velocidade era da ordem de 5 nós.
Inicialmente, o Merrimack atacou os navios da União que bloqueavam o Rio Chesapeake, afundando
a Fragata a vela Congress a tiros de artilharia e a Chalupa Cumberland com o seu aríete; os três navios
remanescentes fugiram, abrigando-se em águas rasas onde o Merrimack não podia ir. Na manhã seguinte,
com a chegada do Monitor ao local, iniciou-se um duelo de artilharia entre os dois encouraçados; após cerca
de 7 horas de combate, a situação permanecia indecisa, um navio não conseguindo perfurar a couraça do
outro. A retirada do Merrimack Para Norfolk pôs um ponto final à batalha. Duas tentativas posteriores foram
feitas pelo navio confederado para enfrentar o Monitor, mas este, obedecendo instruções do Congresso,
recusou sempre o combate: temia-se que uma avaria mais séria no Monitor deixasse o caminho livre para o
Merrimack subir o rio Potomac até Washington.
O combate demonstrou que as couraças usadas eram invulneráveis tanto aos projetis sólidos como às
granadas explosivas, quer disparados por canhões de alma lisa quer de alma raiada. Era claro que chegava ao
fim a construção de navios de madeira sem proteção de couraça e que seria necessário desenvolver sistemas
de armas mais eficazes. A ineficácia dos canhões empregados chamou a atenção para a importância do
aríete, que podia atingir os navios onde não chegava a couraça (o afundamento da Chalupa Cumberland pelo
aríete do Merrimack reforçava a ideia), mormente porque o advento do vapor facilitava muito as manobras
para o abalroamento.
Durante toda a Guerra de Secessão, ambos os partidos lançaram mão do aríete e, quando os navios
não dispunham deste recurso, do abalroamento. Houve algumas dezenas de encontros desse tipo, nem
sempre os maiores danos sendo do navio abalroado. Foram construídos navios encouraçados, com quase
nenhum armamento, para serem usados como verdadeiros aríetes contra os navios inimigos; os resultados
foram excelentes em termos de custo-benefício. É possível que Barroso, em Riachuelo, tenha levado em
conta as experiências bem-sucedidas no conflito norte-americano.
As lições de Hampton Roads repercutiram em todo o mundo, inclusive no Brasil: no relatório de
1862, o Ministro da Marinha, Almirante Joaquim Raimundo de Lamare faz uma análise sobre o futuro
desenvolvimento da força naval brasileira apoiado na evolução tecnológica em curso, baseando- se, em
especial, na experiência de Hampton Roads.
Na Guerra de Secessão os dois lados lançaram mão da guerra de minas. O incidente mais dramático
ocorreu quando do ataque de Farragut a Mobile, em 1862. O esquadrão de Farragut, com os navios em
coluna, forçava a entrada na Baía de Mobile sob o intenso fogo, tanto do Forte Morgan como dos navios
confederados no interior da baía, quando o Monitor Tecumseh ia à frente da coluna atingiu uma mina, que
explodiu, afundando imediatamente; os demais navios pararam e estabeleceu-se a desordem na coluna, com
os navios se embaralhando e um bloqueando a linha de tiro do outro. Ao grito dos vigias de "torpedos" (até,
aproximadamente, 1870, as minas eram chamadas de torpedos), Farragut salvou o dia, mandando que todos
os navios avançassem apesar das minas: "Danem-se os torpedos. Toda a velocidade adiante". Desta forma, e
graças ao deficiente sistema de disparo das minas usadas, ele pôde forçar a estratégica passagem, apesar da
oposição de uma força naval sob a proteção de fortaleza de terra, como já ocorrera na Guerra da Criméia, e,
ainda, existência de campo minado.21
Foi também na Guerra de Secessão que o primeiro navio de guerra de porte, o Encouraçado USS
Cairo, foi afundado em dezembro de 1862, por ação de mina.

21
No período que vai da Guerra de Secessão até a Primeira Guerra Mundial, o maior desenvolvimento das minas foi o de um
sistema independente de disparo, conhecido com o “Chifre de Herz". Consistia em frascos de vidro com solução ácida; o vidro se
quebrava pelo choque com o casco do navio alvo e a solução ácida liberada tornava-se o eletrólito de uma bateria primária que
formava assim uma corrente elétrica que acionava o detonador da mina. Este foi um passo extremamente importante pois, como a
mina continuava inerte até ser o vidro ser quebrado, a sua vida era ilimitada.

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Conforme apontamos, o canhão Armstrong tinha problemas que logo a prática mostraria: não existia
nada que evitasse que o canhão fosse disparado se a culatra não estivesse adequadamente fechada. Em 1862,
durante o bombardeio de Kagoshima, no Japão, por uma força naval inglesa, uma série de acidentes com o
canhão Armstrong a bordo do capitânia HMS Euryalus, determinou a retirada desses canhões de todos os
navios ingleses, que, então, retornaram aos canhões de carregamento pela boca, apesar de seus
inconvenientes. Este retrocesso tecnológico só foi possível porque a pólvora na época usada como
propelente era a pólvora negra que, sendo de queima rápida, permitia que tubos alma dos canhões fossem
curtos, tornando possível o carregamento pela boca, apesar das dificuldades para fazer o projétil engrazar
nas ranhuras do tubo alma. Somente muito mais tarde, como adiante veremos, a Marinha britânica,
resolvidas as dificuldades com a culatra, e havendo necessidade de aumentar a velocidade inicial dos projetis
dos canhões, retornaria ao canhão Armstrong.
A propulsão vapor também evoluía: é lançada ao mar, em1862, a Escuna francesa Actif, com
máquina a vapor com dupla expansão (cilindro de alta pressão e de baixa pressão); no ano seguinte, é
lançado o Navio-Transporte francês Loiret, com uma variante da máquina de dupla expansão: a sua máquina
dispunha de um cilindro de AP descarregando dois cilindros de BP, com reaquecimento entre o cilindro de
AP e os de BP (motor denominado de composto).
Em 1863, é construído na Inglaterra, para a Holanda, o Navio de Defesa Costeira Rolf Krake, armado
com duas torres com canhões de 8 polegadas, de acordo com o projeto do oficial da Marinha inglesa Cowper
Coles, que é o primeiro navio de guerra a usar torre construído para operar em mar aberto (o Monitor,
conforme já apontado, não tinha condições isso). É importante notar que à época o termo "torre" tinha um
significado diferente do atual: significava uma casamata, na qual se abrigava o canhão, era montado numa
placa rotativa no convés do navio (exatamente como no Monitor).
Tem início uma controvérsia, que se prolongaria até 1879, entre duas escolas: a dos que defendiam a torre
ou torreta, como a do Monitor, e a dos defendiam a barbeta, nome que se dava ao sistema em que os canhões
eram instalados em plataformas rotativas montadas no topo de uma torre encouraçada ou barbeta, aberta na
parte de cima (sistema preferido pelos franceses).
A vantagem da barbeta sobre a torreta era que o canhão, sendo montado mais alto, permitia à
guarnição ter uma melhor visada (o único dispositivo de direção de tiro disponível era apenas a luneta) e
impedia que o canhão fosse lavado pela água do mar (devido ao grande peso da torreta, a borda livre do
navio era muito pequena); não sendo totalmente fechada como a torre, a barbeta deixava a guarnição do
canhão livre do ambiente enfumaçado do interior da torre. Suas desvantagens eram a dificuldade de carregar
o canhão pela boca e a exposição da guarnição do canhão ao tiro inimigo, principalmente durante o
recarregamento. Ambas as dificuldades foram sanadas com a adoção dos sistemas hidráulicos, que
permitiam que o canhão fosse rebaixado para trás da proteção da couraça da barbeta quando recarregando.
A evolução levou à combinação dos dois tipos, fazendo-se a casamata montada sobre a barbeta,
dando origem ao que foi inicialmente chamado de "torre-barbeta", e, posteriormente, simplesmente torre ou
torreta.
Por outro lado, havia ainda os que acreditavam no princípio da bordada, com os canhões alinhados ao
longo dos bordos do navio (caso do Gloire e do Warrior). Na medida, porém, em que os canhões
aumentavam de tamanho, este sistema teve de ser modificado, transformando-se na "bateria central", com os
canhões situados dentro de uma cidadela encouraçada ou casamata, colocada a meio-navio. A bateria
central, com os canhões atirando principalmente pelos bordos do navio, foi muito popular com os navios de
propulsão mista, já que nesses navios a aparelhagem para a propulsão a vela impedia a operação da torre ou
da barbeta, limitando muito o arco de tiro dos seus canhões (apesar disso, só em 1865 seria lançado o
primeiro navio com bateria central).
Em 1863, os franceses lançam ao mar o Submarino Le Plongeur; ele usava ar comprimido tanto para
propulsão como para o sistema de mergulho. Tinha grande dificuldade em manter a profundidade (o maior
obstáculo inicial para o desenvolvimento do submarino) e não dispunha de qualquer sistema de armas. O
projeto foi logo abandonado.
Nos Estados Unidos, ainda na Guerra de Secessão, os confederados construíram em 1864, o
Submarino Hunley, que nada mais era do que uma caldeira cilíndrica de ferro, com tampas cônicas em
ambas as extremidades; tinha 40 pés de comprimento, sua propulsão era a mão (a velocidade podia chegar a
2,5 nós); sua guarnição era de oito homens; dispunha de tanques de lastro e sistema de respiro com dois
tubos; era armado com torpedo-lança (spar-torpedo), uma carga explosiva colocada na extremidade de uma

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lança (manobrava-se a embarcação de modo que a carga explosiva fosse de encontro ao casco do navio
inimigo, explodindo por impacto — algumas vezes por disparo elétrico). É o primeiro submarino a obter um
êxito militar, tendo afundado o navio de guerra federalista Housatonic, o submarino, porém, também
afundou, com toda a sua tripulação; ao se afastar do local, com as escotilhas abertas, o submarino embarcou
água e foi a pique (anteriormente julgava-se que ele tinha sido alcançado pela explosão); o ataque foi feito
com o submarino imerso.

6) A Guerra Austro-Prussiana:
6.1) A Batalha de Lissa:
A Guerra Austro-Prussiana (1866), embora decidida em terra, ensejou a Batalha Naval e Lissa,
objeto de inúmeras discussões.
A Esquadra italiana - a Itália era aliada da Prússia -, sob o comando do Almirante Conde Cario di
Persano, quando escoltava um comboio de tropas que atacariam a Ilha de Lissa, no Mar Adriático, avistou a
Esquadra austríaca, sob o comando do Almirante Von Tegetthoff, vindo para o ataque. Ambas as Esquadras
eram constituídas de navios com canhões na borda, que já se tornavam obsoletos, sendo a única exceção o
navio italiano Affondatore, que dispunha de torreta com dois canhões de alma raiada de 9,75" e, também, de
aríete - sem dúvida, o mais poderoso navio que participou da batalha (recém-saído do estaleiro construtor na
Inglaterra, o navio não tinha reais condições para o combate). A frota austríaca, numericamente superior,
tinha a maioria de seus navios com propulsão a hélice, mas sem couraça; seus navios encouraçados
Erzherzog Ferdinand Max e Habsburg ainda não tinham recebido os novos canhões Krupp, tendo como
armamento principal os velhos canhões na borda, 56-pounder, de alma lisa, praticamente inúteis contra as
couraças italianas; os outros cinco navios da frota só dispunham de canhões 64-pounder, de carregamento
pela culatra e raiados, e 56-pounder de alma lisa. A artilharia da frota italiana era muito superior à da
austríaca; embora seus canhões fossem também na borda, eram de alma raiada. Inferiorizados na artilharia,
os austríacos resolveram fazer uso da tática de aríete. O Encouraçado italiano Re d'Italia foi afundado dessa
maneira; o Palestro, atingido por uma granada na popa, explodiu.
No momento em que, incontestavelmente, a couraça mostrava-se decididamente superior ao canhão e
se atribuía ao aríete enorme valor, impunha-se que o maior número possível de canhões da bateria principal
pudesse atirar pela proa, já que que o navio tentava alcançar o outro com aríete tinha que avançar
de proa para o inimigo e era importante que o fizesse com os seus canhões atirando.
Com o lançamento ao mar em 1866 da Fragata HMS Pallas, a máquina a vapor de dupla expansão é
usada em navios de maior porte; anteriormente (1862) ela fora usada numa escuna.
No ano de 1867, o oficial de Marinha austríaco Johann Luppis e o inglês Robert Whitehead
desenvolvem o projeto do primeiro torpedo autopropulsado, arma que após uma série de aperfeiçoamentos,
iria revolucionar a guerra no mar, como adiante veremos. O primeiro torpedo tinha um motor de ar
comprimido que lhe imprimia uma velocidade de 6 nós, e dava-lhe um alcance de apenas 300 jardas;
transportava uma carga de dinamite de 18 libras no nariz.
A partir de 1867 o vapor passa a ser usado a bordo para acionamento de máquinas auxiliares, como,
por exemplo, a depara geração energia elétrica, movimentação de guindastes, paus de carga e cabrestantes,
tiragem forçada das caldeiras (o que permitia maiores razões de combustão) e para uma melhor ventilação
dos compartimentos habitáveis do navio. Uma verdadeira revolução, que quase não é percebida na
atualidade.

CRONOLOGIA
DATA EVENTO
1825 a 1828 Guerra Cisplatina.
1835 a 1838 Cabanagem (Província do Pará).
1835 a 1845 Guerra dos Farrapos (Província do Rio Grande do Sul).
1837 a 1838 Sabinada (Província da Bahia).
1838 a 1841 Balaiada (Províncias do Maranhão e Piauí).
1848 a 1849 Revolta Praieira (Província de Pernambuco).
1850 a 1852 Guerra contra Oribe e Rosas.
1853 a 1856 Guerra da Criméia.

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1861 a 1865 Guerra de Secessão ou Guerra Civil Americana
1866 Guerra Austro-Prussiana

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Capítulo VII
1) A Atuação da Marinha na Guerra da Tríplice Aliança contra o Governo do Paraguai:
A livre navegação nos rios e os limites entre o Brasil e o norte do Paraguai eram motivos de
discordância entre os dois países. Não se chegou a um acordo satisfatório até a conclusão da Guerra da
Tríplice Aliança. Para os brasileiros, era muito importante acessar, sem empecilhos, a Província de Mato
Grosso, navegando pelo Rio Paraguai. Sabendo disto, os paraguaios mantinham a questão dos limites, que
reivindicavam associada à da livre navegação. O litígio existia, principalmente em relação a um território
situado à margem esquerda do Rio Paraguai, entre os Rios Apa e Branco, ocupado por brasileiros.
Apesar dessas questões, o entendimento entre o Brasil e o Paraguai era cordial, excetuando-se
algumas crises que nãochegaram a ter maiores consequências. Interessava principalmente ao Império que o
Paraguai se mantivesse fora da Confederação Argentina, que muitas dificuldades lhe vinham causando, com
sua permanente instabilidade política.
Com a morte de Carlos López, ascendeu ao governo do Paraguai seu filho, Francisco Solano López,
que ampliou a política externa do País, inclusive estabelecendo laços de amizade com o General Justo José
de Urquiza, que liderava a Província argentina de Entre Rios, e com o Partido Blanco uruguaio. Essas
alianças, sem dúvida, favoreciam o acesso do Paraguai ao mar.
Com a invasão do Uruguai por tropas brasileiras, na intervenção realizada em 1864, contra o governo
do Presidente uruguaio Manuel Aguirre, do Partido Blanco, Solano López considerou que seu próprio país
fora agredido e declarou guerra ao Brasil. Aliás, ele havia enviado um ultimato ao Brasil, que fora ignorado.
Como foi negada pelos portenhos permissão para que seu exército atravessasse território argentino para
atacar o Rio Grande do Sul, invadiu a Província de Corrientes, envolvendo a Argentina no conflito.
O Paraguai estava se mobilizando para uma possível guerra desde o início de 1864. López se julgava
mais forte – o que provavelmente era verdadeiro, no final de 1864 e início de 1865 – e acreditava que teria o
apoio dos blancos uruguaios e do argentino Urquiza. Tal não ocorreu. Ele superestimou o poderio
econômico e militar do Paraguai e subestimou o potencial do Poder Militar brasileiro e a disposição para a
luta do Brasil.

2) Paraguai – da independência à Guerra da Tríplice Aliança:


Ex-colônia espanhola na América do Sul, o Paraguai foi diretamente beneficiado pela política
expansionista de Napoleão Bonaparte na Europa. A Espanha era aliada da França nas Guerras Napoleônicas,
inclusive permitindo que as tropas de Napoleão atravessassem seu território para invadir Portugal, em 30 de
novembro 1807, um dia após a Família Real e a Corte portuguesa terem rumado para o Brasil.
Enquanto a invasão de Portugal se sucedia, Napoleão forçou a abdicação do Rei Carlos IV de
Espanha e de seu herdeiro, D. Fernando, conduzindo ao trono espanhol o seu irmão José Bonaparte. Os
espanhóis revoltaram-se contra os usurpadores franceses, obtendo apoio das tropas inglesas estacionadas no
Norte de Portugal. As tropas anglo-portuguesas expulsariam os franceses em 1813 e Fernando VII
restauraria o trono em 1814, pelo Tratado de Valença.
Neste ínterim, com o trono espanhol ocupado por estrangeiros, o isolamento da metrópole favoreceu
aos patriotas hispano-americanos das colônias espanholas na América que desejavam a independência das
terras em que viviam. O Paraguai declara a sua independência, derrubando as autoridades espanholas locais
a 15 de maio de 1811 e derrotando, neste mesmo ano, tropas argentinas que queriam sua adesão às
Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina). Daí para frente, as relações com a Argentina seriam
complicadas.
Assumiu o governo do Paraguai uma junta composta por três membros. Em 1817, um dos membros
da junta, Dr. José Gaspar Rodriguez de Francia, por maioria no Congresso, passou a ser o Ditador Perpétuo
do Paraguai. O Dr. Francia adotou uma política de isolamento em relação ao resto do mundo. Consolidou a
independência do país e, enquanto governou, ela não foi contestada oficialmente. O Brasil foi o primeiro
país que a reconheceu.
Por seu turno, a Argentina não apenas não reconhecia a independência do Paraguai, como também
não autorizava quaisquer relações exteriores através de território argentino. Mesmo os estrangeiros em
missão oficial eram obrigados a chegar a Assunção sem transitar por território argentino. O acesso ao mar
também era fundamental para o Paraguai.
Em 1844, Carlos López foi aclamado Presidente da República do Paraguai por um período de dez
anos. Durante seu governo, incentivou a abertura ao comércio internacional e o país começou a participar

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dos acontecimentos políticos da região. Já no ano seguinte, firmou uma convenção de aliança ofensiva e
defensiva com a Província de Corrientes, declarou guerra a Rosas e enviou 4 mil homens, comandados por
um de seus filhos, o jovem Francisco Solano López, para Corrientes. Solano López viria a ser o ditador
paraguaio que provocou a Guerra da Tríplice Aliança.
Os seguintes atos de hostilidade do Paraguai levaram à assinatura do Tratado da Tríplice Aliança
contra o Governo do Paraguai, pelo Brasil, Argentina e Uruguai22, em 1º de maio de 1865:
· o apresamento do Vapor brasileiro Marquês de Olinda, que viajava para Mato Grosso transportando o
novo presidente dessa província, em 12 de novembro de 1864, em Assunção;
· a invasão do Sul de Mato Grosso por tropas paraguaias, em 28de dezembro de 1864; e
· a invasão de território da Argentina por tropas paraguaias, em13 de abril de 1865, ocupando a Cidade de
Corrientes e apresando os vapores argentinos Gualeguay e 25 de Mayo.
A aliança com os argentinos era, na opinião de um dos observadores estrangeiros, uma “aliança de
cão e gato”. Havia muitas desavenças recentes e ao Brasil não interessava subordinar sua Força Naval a um
comandante argentino. A Argentina possuía, durante essa guerra, apenas uma pequena Marinha e o esforço
naval foi quase totalmente da Marinha do Brasil. O Império não queria criar uma situação em que um
estrangeiro pudesse decidir o destino de seu Poder Naval. Poder que sempre desempenhara um papel
importante, de diferenciador nos conflitos da região do Rio da Prata.
Isto significava, também, que no início da guerra, as operações envolvendo forças navais e terrestres
seriam operações conjuntas, sem unidade de comando23.
No início da Guerra da Tríplice Aliança, a Marinha do Brasil dispunha de 45 navios armados. Destes,
33 eram navios de propulsão mista, a vela e a vapor, e 12 dependiam exclusivamente do vento. A propulsão
a vapor, no entanto, era essencial para operar nos rios. Todos tinham casco de madeira. Muitos deles já
estavam armados com canhões raiados de carregamento pela culatra24.
Os navios brasileiros, no entanto, mesmo os de propulsão mista, eram adequados para operar no mar
e não nas condições de águas restritas e pouco profundas que o teatro de operações nos Rios Paraná e
Paraguai exigia; a possibilidade de encalhar era um perigo sempre presente. Além disso, esses navios, com
casco de madeira, eram muito vulneráveis à artilharia de terra, posicionada nas margens.
Era uma época de frequentes inovações tecnológicas no hemisfério norte e a Guerra Civil Americana
trouxera muitas novidades para a guerra naval e, especificamente, para o combate nos rios. Sua influência,
logo depois dessa primeira fase de navios de madeira, na Guerra da Tríplice Aliança fez-se sentir,
principalmente, com o aparecimento dos navios protegidos por couraça de ferro, projetados para a guerra
fluvial, e a mina naval.
Todos os navios da Esquadra paraguaia, exceto um, eram navios de madeira, mistos, a vela e a vapor,
com propulsão por rodas de pás. Embora todos eles fossem adequados para navegar nos rios, somente o
Taquary era um verdadeiro navio de guerra; os outros, apesar de convertidos, não foram projetados para tal.
Os paraguaios desenvolveram a chata com canhão como arma de guerra. Era um barco de fundo
chato, sem propulsão,com canhão de seis polegadas de calibre, que era rebocado até o local de utilização,
onde ficava fundeado. Transportava apenas a guarnição do canhão e sua borda ficava próximo da
água,deixando à vista um reduzidíssimo alvo. Via-se somente a bocado canhão acima da superfície da água.
Discriminadas as forças, sigamos então no conflito. A seguir serão destacados os pontos de maior relevância
da nossa Força Naval...

3) O bloqueio do Rio Paraná e a Batalha Naval do Riachuelo:


O Paraguai enviou duas colunas de tropas invasoras, uma destinada ao Rio Grande do Sul e outra
para o sul, em território argentino, acompanhando o Rio Paraná.

22
Entre outros itens importantes, o Tratado da Tríplice Aliança estabelecia que o Comando da Força Naval do Brasil em
Operações contra o Governo do Paraguai não ficaria subordinado ao Comando Geral.
23
Como, aliás, ocorrera na Campanha do Mississipi, durante a Guerra Civil Americana. No vale do Rio Mississipi, onde os rios
eram as principais vias de comunicação, houve semelhanças com o conflito sul-americano.
24
O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (Arsenal de Marinha da Corte) passara por uma modernização em meados do século
XIX. Alguns de seus engenheiros, como Napoleão Level e Carlos Braconnot, haviam estagiado em estaleiros europeus e eram
capazes de projetar navios movidos por hélice e sistemas de propulsão a vapor. Diversos dos navios do início da guerra foram
projetados e construídos no País.
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Foi designado comandante das Forças Navais Brasileiras em Operação o Almirante Joaquim
Marques Lisboa,Visconde de Tamandaré. A estratégia naval adotada foi a de negar o acesso ao território
paraguaio através do bloqueio. Tamandaré, logo no início, tratou também de organizar a difícil logística que
o teatro de operações exigia. Os rios eram as principais vias de comunicação da região, e navios e
embarcações teriam que transportar os suprimentos para as tropas, o carvão para servir como combustível
dos próprios navios e, muitas vezes, soldados, cavalos e armamento.
Com o avanço das tropas paraguaias ao longo do Rio Paraná, ocupando a Província de Corrientes,
Tamandaré resolveu designa seu chefe de estado-maior, o Chefe-de-Divisão Francisco Manoel Barroso da
Silva,para assumir o comando da Força Naval brasileira, que subira o rio para efetivar o bloqueio do
Paraguai. Ele queria mais ação. Barroso partiu em 28 de abril de 1865, na Fragata Amazonas, e assumiu o
cargo em Bela Vista. Sua primeira missão foi um ataque à Cidade de Corrientes, então ocupada pelos
paraguaios. O desembarque das tropas aliadas em Corrientes ocorreu com bom êxito no dia 25 de maio.
Não era, sabidamente, possível manter a posse dessa cidade na retaguarda das tropas invasoras,
principalmente naquele momento da luta, em que os paraguaios mantinham uma ofensiva vitoriosa, e foi
preciso, logo depois, evacuá-la. Mas, o ataque deteve o avanço paraguaio para o Sul. Ficou evidente que a
presença da Força Naval brasileira deixava o flanco direito dos invasores, que se apoiava no Rio Paraná,
sempre muito vulnerável. Para os paraguaios, era necessário destruí-la e isto levou Solano López a planejar a
ação que levaria à Batalha Naval do Riachuelo.
Os preparativos para o ataque aos navios brasileiros foram realizados sob a orientação direta do
próprio López. O plano consistia em surpreender os navios brasileiros fundeados, abordá-los e, após a
vitória, rebocá-los para Humaitá. Por isso, os navios paraguaios estavam superlotados com tropas.
Tirando o máximo proveito do terreno ao longo do Rio Paraná, ele mandou, também, assentar canhões nas
barrancas da Ponta de Santa Catalina, que fica imediatamente antes da foz do Riachuelo, e reforçar com
tropas de infantaria o Rincão de Lagraña, que lhe fica rio abaixo.
Da extremidade Sul do Rincão de Lagraña, que tem uma barranca mais elevada, os paraguaios
podiam atirar, de cima, sobre os conveses dos navios brasileiros que escapassem, descendo o Paraná. O local
era perfeito para uma armadilha, pois o canal navegável era estreito e tortuoso, com risco de encalhe em
bancos submersos, o que forçava as embarcações a passarem próximo à margem esquerda.
Na noite de 10 para 11 de junho de 1865, a Força Naval brasileira comandada por Barroso,
constituída pela Fragata Amazonas e pelos Vapores Jequitinhonha, Belmonte, Beberibe, Parnaíba, Mearim,
Araguari, Iguatemi e Ipiranga, estava fundeada ao sul da Cidade de Corrientes, próximo à margem direita,
em um trecho largo do rio. De lá avistaram, pouco depois das oito horas da manhã, a força paraguaia
comandada pelo Capitão-de-Fragata Pedro Inácio Mezza, com os navios: Tacuary, Paraguary, Igurey,
Ipora, Jejuy, Salto Oriental, Marquês de Olinda e Pirabebe; rebocando seis chatas artilhadas.
Mezza se atrasara devido a problemas na propulsão de um de seus navios, o Ibera, que acabou sendo
deixado para trás. As chatas que rebocava tinham uma pequena borda-livre,fazendo água quando os navios
aumentavam a velocidade procurando recuperar o tempo perdido.
Ele decidiu não largar as chatas, pois sua presença na batalha era uma determinação de López, e,
chegando tarde, desistiu de iniciar o combate com a abordagem. Julgava que não havia surpreendido os
brasileiros e é acusado de ter, assim, perdido sua melhor chance de vitória. A surpresa, na realidade, foi
maior até do que se poderia supor. Era uma manhã de domingo, parte das guarnições estava em terra para
trazer lenha, com o propósito de poupar carvão. É sempre difícil manter um estado prolongado de alerta
quando as ameaças não se fazem frequentemente sensíveis.
Alertada, a Força Naval brasileira se preparou para o iminente combate, as tripulações assumindo
seus postos, despertando o fogo das fornalhas das caldeiras com carvão e largando as amarras. Às 9h25min,
dispararam-se os primeiros tiros de artilharia. Passou, logo em seguida, a força paraguaia, em coluna, pelo
través da brasileira, ainda imobilizada, indo, logo depois, rio abaixo, para as proximidades da margem
esquerda, logo após o local onde estavam as baterias de terra. Fechou-se, assim, a armadilha em uma
extensão de uns seis quilômetros, ao longo de um trecho do Paraná, junto à foz do Riachuelo.
Pouco tempo depois, a coluna brasileira, com o Belmonte à frente, seguido pelo Jequitinhonha e por
outros navios, avistou as barrancas de Santa Catalina. Somente mais adiante, já com as barrancas pelo
través, era possível ter a visão completa da curvado Rincão de Lagraña, rio abaixo da foz do Riachuelo,
onde estavam parados os navios e as chatas da força paraguaia. A vegetação impedia que se soubesse que as
barrancas de Santa Catalina estavam artilhadas.

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Barroso resolveu deter a Amazonas, reservando-a para interceptar uma possível fuga dos paraguaios
rio acima. Alguns navios brasileiros não entenderam a manobra e ficaram indecisos. Como consequência, o
Jequitinhonha encalhou num banco, sob as baterias de terra, e o Belmonte, à frente, prosseguiu
sozinho,recebendo o fogo concentrado da artilharia do inimigo e tendo que encalhar, propositadamente, após
completar a passagem para não afundar, devido às avarias sofridas em combate.
Para reorganizar sua força naval, Barroso avançou com a Amazonas, assumiu a liderança dos navios
que estavam a ré do Belmonte e, seguido por eles, completou a passagem sob o fogo dos canhões paraguaios
e da fuzilaria de terra. Afastou-se, depois, descendo o Rio Paraná com apenas seis dos seus nove navios,
porque o Parnaíba, com o leme avariado, também não conseguira passar. Completou-se assim, às
12h10min, a primeira fase da batalha.
Então, Barroso mostrou toda a sua coragem, decidindo regressar para o interior da armadilha de
Riachuelo. Foi necessário descer o rio até um lugar onde o canal permitia fazer a volta com os navios e,
cerca de uma hora depois, ele estava novamente em frente à ponta sul do Rincão de Lagraña.
Até aquele instante, o resultado era altamente insatisfatório para o Brasil. O Belmonte fora de ação, o
Jequitinhonha encalhado,para sempre, e o Parnaíba sendo abordado e dominado pelo inimigo, apesar de
resistência heroica de brasileiros, como o Guarda-Marinha Guilherme Greenhalgh e o Marinheiro Marcílio
Dias, que lutaram até a morte.
Tirando, porém, vantagem do porte da Amazonas e contando com a perícia do prático argentino que
tinha a bordo, Barroso usou seu navio para abalroar os paraguaios e vencer a batalha. Foi um improviso, seu
navio não tinha a proa propositadamente reforçada para ser empregada como aríete.
Repetindo aqui as próprias palavras do Chefe-de-Divisão Barroso, na parte que transmitiu ao
Visconde de Tamandaré, assim se deu a batalha (grafia de época):
– “....Subi, minha resolução foi de acabar de uma vez, com tôda a esquadra paraguaya, que eu teria
conseguido se os quatro vapôres que estavam mais acima não tivessem fugido. Pus a prôa sôbre o primeiro,
que o escangalhei, ficando inutilisado completamente, de agoa aberta, indo pouco depois ao fundo. Segui a
mesma manobra contra o segundo, que era o Marques de Olinda, que inutilisei, e depois o terceiro, que era
o Salto, que ficou pela mesma fórma. Os quatro restantes vendo a manobra que eu praticava e que eu
estava disposto a fazer-lhes o mesmo, trataram de fugir rio acima. Em seguimento ao terceiro vapor
destruído, aproei a uma chata que com o choque e um tiro foi a pique.
Exmº Sr. Almirante, todas estas manobras eram feitas pela Amazonas, debaixo do mais vivo fogo,
quer dos navios e chatas, como das baterias de terra e mosquetaria de mais de mil espingardas. A minha
tenção era destruir por esta forma toda a Esquadra Paraguaya, do que andar para baixo e para cima, que
necessariamente mais cedo ou mais tarde havíamos d encalhar, por ser naquella localidade o canal mui
estreito.
Concluída esta faina, seriam 4 horas da tarde, tratei de tomar as chatas, que ao approximar-me
d’ellas eram abandonadas, saltando todos ao rio, e nadando para terra, que estava a curta distância.
O quarto vapor paraguayo Paraguary, de que ainda não fallei, recebeutal rombo no costado e caldeiras,
quando desceram, que foi encalharem uma ilha em frente, e toda a gente saltou para ella, fugindo e
abandonando o navio”.
Quatro navios paraguaios conseguiram fugir e, com a aproximação da noite, os navios brasileiros que
os perseguiam regressaram, para evitar encalhes em território inimigo. Além disto, apesar de não
comentarem, na época, não seria sensato abordar um navio lotado com tropas.
Antes do pôr do sol de 11 de junho, a vitória era brasileira. Foi uma batalha naval, em alguns
aspectos, decisiva.
A Esquadra paraguaia foi praticamente aniquilada, e não teria mais participação relevante no
conflito. Estava garantido o bloqueio que impediria que o Paraguai recebesse armamentos e, até mesmo, os
navios encouraçados encomendados no exterior. Comprometeu, também, a situação das tropas invasoras e,
pouco tempo depois, a guerra passou para o território paraguaio.
Barroso, sem dúvida, foi o responsável pelo bom êxito de sua força naval em Riachuelo. O futuro
Barão de Teffé declarou que o vira, do Araguari, em plena batalha, destemido, expondo-se sobre a roda da
Amazonas, com a barba branca, que deixara crescer, ao vento e sentira por ele um grande respeito e
admiração.

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A cidade de Corrientes continuava ocupada pelo inimigo e a Força Naval brasileira, que mostrara sua
presença, fundeada próxima a ela, precisou iniciar alguns dias após o 11 de junho, a descida do rio que
estava baixando.
Os paraguaios haviam retirado suas baterias, que estavam na Ponta de Santa Catalina, e as instalaram
primeiro em Mercedes, depois em Cuevas, criando dificuldades para o abastecimento dos navios brasileiros,
que era realizado pelo rio. Sob todos esses aspectos, incluindo a diminuição do nível do Rio Paraná, que
aumentava o risco de encalhe, a posição da Força Naval, avançada em território ainda ocupado por tropas do
Paraguai, mostrava-se muito vulnerável.
Barroso passou com seus navios por Mercedes e Cuevas, enfrentando a artilharia paraguaia, e
somente regressou passados alguns meses, apoiando o avanço das tropas aliadas, que progrediam
aproveitando o recuo do inimigo.
Tudo levava à ilusão de que a Tríplice Aliança venceria a guerra em pouco tempo, mas tal não
ocorreu. O que parecia fácil estagnou. O Paraguai era um país mobilizado para a guerra que, aliás, foi ele
que iniciou, achando que tinha vantagens.
Humaitá ainda era uma fortaleza inexpugnável enquanto nãoestivessem disponíveis os novos meios
navais que estavam em obtenção pelo Brasil: os navios encouraçados.
Para avançar ao longo do Rio Paraguai, era necessário vencer diversas passagens fortificadas,
destacando-se, inicialmente, Curuzu, Curupaiti e Humaitá. Navios oceânicos de calado inapropriado para
navegar em rios, de casco de madeira, sem couraça, como os da Força Naval brasileira que combatera em
Riachuelo, não teriam bom êxito. Era evidente que o Brasil necessitava de navios encouraçados para o
prosseguimento das ações de guerra. Os obstáculos e fortificações de Humaitá eram uma séria ameaça,
mesmo para estes navios.

4) Navios encouraçados e a invasão do Paraguai:


Os navios encouraçados começaram a chegar à frente de combate em dezembro de 1865. O
Encouraçado Brasil, encomendado na França após o rompimento de relações do Brasil com a Inglaterra por
causa da Questão Christie, foi o primeiro navio encouraçado brasileiro e chegou a Corrientes em dezembro
de1865.
No Arsenal de Marinha da Corte, no Rio de Janeiro, iniciara-se a construção de outros navios
encouraçados, especificados para lutar naquele teatro de operações fluviais. O projeto e a construção
estavam a cargo de brasileiros, como os engenheiros Napoleão Level e Carlos Braconnot. Destacou-se,
também, o Capitão-de-Fragata Henrique Antônio Baptista, especialista em armamento, que também chefiara
o recebimento e trouxera o Encouraçado Brasil da França.
Durante a guerra, foram incorporados à Armada brasileira 17 navios encouraçados, incluindo alguns
classificados como monitores, que obedeciam a características de projeto inovadoras, desenvolvidas poucos
anos antes na Guerra Civil Americana.
Em 21 de fevereiro de 1866, Tamandaré chegou a Corrientes e assumiu o comando da Força Naval,
mantendo Barroso como seu chefe de estado-maior. Em 17 de março, os navios suspenderam para iniciar as
operações rio acima. Quatro dos encouraçados já estavam disponíveis nessa força. Um deles tinha o nome de
Barroso, e outro o de Tamandaré. Era uma grande homenagem, em vida, aos dois ilustres chefes.
A ofensiva aliada para a invasão do Paraguai necessitava de apoio naval. Passo da Pátria foi uma
operação conjunta de forças navais e terrestres. Coube, inicialmente, à Marinha fazer os levantamentos
hidrográficos, combater as chatas paraguaias e bombardear o Forte de Itapiru e o acampamento inimigo. Em
março de 1866, já estavam disponíveis nove navios encouraçados, inclusive três construídos no Brasil:
Tamandaré, Barroso e Rio de Janeiro. A reação da artilharia paraguaia ceifou vidas preciosas, como a do
Tenente Mariz e Barros,comandante do Tamandaré.
Houve, depois, perfeita cooperação entre as forças, na grande operação de desembarque que ocorreu
em 16 de abril de 1866.Enquanto parte da Força Naval bombardeava a margem direita do Rio Paraná, de
modo a atrair a atenção do inimigo, os transportes avançaram e entraram no Rio Paraguai.
Os navios transportaram inicialmente cerca de 45 mil homens, de um efetivo de 66 mil (38 mil
brasileiros, 25 mil argentinos e 3 mil uruguaios), artilharia, cavalos e material. O General Osório foi o
primeiro a desembarcar em território inimigo.

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Com a invasão, os paraguaios abandonaram Itapiru e Passo da Pátria e, após tentativas infrutíferas de
derrotar o invasor em Estero Bellaco e Tuiuti, concentraram suas defesas nas fortificações que barravam o
caminho: Curuzu, Curupaiti e Humaitá

5) Curuzu e Curupaiti:
Em 31 de agosto de 1866, as tropas comandadas pelo General Manoel Marques de Souza, o Barão de
Porto Alegre,desembarcaram na margem esquerda para atacar Curuzu e, no dia seguinte, os navios
começaram a bombardear a fortificação.
Em 2 de setembro, o navio encouraçado Rio de Janeiro foi atingido por duas minas flutuantes e
afundou com perda de vidas humanas.
Curuzu foi conquistada pelo Barão de Porto Alegre, apoiado pelo fogo naval, em 3 de setembro.
O próximo ataque foi a Curupaiti. O Presidente argentino,General Bartolomeu Mitre, comandante
das Forças da Tríplice Aliança, assumiu pessoalmente o comando da operação. Apesar do intenso
bombardeio naval, o ataque aliado, ocorrido em 22 de setembro, levou à maior derrota da Tríplice Aliança
nessa guerra.
Seguiram-se acusações e críticas, que causaram uma crise entre Mitre e Tamandaré. O preparo da
operação, sem dúvida,fora insuficiente e as dificuldades do ataque incorretamente avaliadas. Como Mitre
permaneceria exercendo o comando geral dos Exércitos Aliados, o governo brasileiro aceitou o pedido de
afastamento feito anteriormente por Tamandaré. Ele e Barroso foram substituídos, não mais participando das
operações dessa guerra.

6) Caxias e Inhaúma:
O Marquês de Caxias, General Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias e Patrono do
Exército Brasileiro, foi designado para o cargo de Comandante-em-Chefe das Forças Brasileiras em
Operações contra o Governo do Paraguai.
O comando da Força Naval coube ao Chefe-de-Esquadra Joaquim José Ignácio, futuro Visconde de
Inhaúma, que assumiu seu cargo, substituindo Tamandaré, em 22 de dezembro de 1866. Ele estava
subordinado a Caxias, mas não a Mitre.
Caxias empregou com maestria a Força Naval de Inhaúma, para apoiar sua ofensiva ao longo do Rio
Paraguai, até a ocupação da cidade de Assunção; bombardeando fortificações; fazendo reconhecimentos
pelo rio; transportando tropas de uma margem para a outra, para contornar o flanco inimigo; e fazendo o
apoio logístico necessário.

7) Passagem de Curupaiti:
Há meses que a Força Naval bombardeava diariamente Curupaiti, tentando diminuir seu poder de
fogo e abalar o moral dos defensores.
Em 15 de agosto de 1867, já promovido a Vice-Almirante, Joaquim Ignácio comandou a Passagem
de Curupaiti, enfrentando o fogo das baterias de terra e obstáculos no rio. Pelo feito, recebeu, logo depois, o
título de Barão de Inhaúma. Participaram da passagem dez navios encouraçados que, em seguida, fundearam
um pouco abaixo de Humaitá e começaram a bombardeá-la.
A posição desses navios,porém, expunha-os aos tiros das fortificações paraguaias e Inhaúma
considerava que ainda nãoera o momento de forçar Humaitá. Caxias apoiou esta decisão.
O apoio logístico a essa Força Naval operando entre Curupaiti e Humaitá era muito difícil e exigiu que os
brasileiros fizessem o caminho pela margem direita do Rio Paraguai, no Chaco. Logo depois se construiu
uma pequena ferrovia nesse caminho,para transportar as provisões necessárias.
Para apoiar o material das forças em combate, construíra-se um arsenal em Cerrito, próximo à
confluência dos Rios Paraguai e Paraná. Graças a ele, foi possível fazer essa estrada de ferro.
Ultrapassar Humaitá com uma força naval e mantê-la rio acima exigiria também uma base de
suprimentos rio acima. Caxias, após reorganizar as forças terrestres brasileiras, iniciou, em julho de 1867, a
marcha de flanco e ocupou Tayi, no Rio Paraguai, acima de Humaitá, que serviria depois para apoiar os
navios.
Em dezembro de 1867, os três primeiros monitores construídos no Arsenal de Marinha da Corte
chegaram à frente de combate. Esses monitores, por suas características, seriam importantes para o
prosseguimento das operações.

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Em 14 de janeiro de 1868, Mitre precisou reassumir a presidência da Argentina e passou
definitivamente o comando-em-chefe dos Exércitos da Tríplice Aliança para Caxias.

8) Passagem de Humaitá:
Na madrugada de 19 de fevereiro de 1868, iniciou-se a Passagem de Humaitá.
A Força Naval de Inhaúma intensificou o bombardeio e a Divisão Avançada, comandada pelo
Capitão-de-Mar-e-Guerra Delfim Carlos de Carvalho, depois Almirante e Barão da Passagem, avançou rio
acima. Essa divisão era formada por seis navios: os Encouraçados Barroso,Tamandaré e Bahia e os
Monitores Rio Grande, Pará e Alagoas.
Eles acometeram a passagem formando três pares compostos, cada um, por um encouraçado e um
monitor amarrado ao seu contrabordo.
Após a passagem, três dos seis navios tiveram que ser encalhados, para não afundarem devido às
avarias sofridas no percurso. O Alagoas foi atingido por mais de 160 projéteis.
Estava, no entanto, vencida Humaitá, que aos poucos seria desguarnecida pelos paraguaios. Solano
López decidiu que era necessário retirar-se com seu exército para uma nova posição defensiva, mais ao
norte.

9) O recuo das forças paraguaias:


Na madrugada de 3 de março de 1868, López se retirou de Humaitá com cerca de 12 mil homens. Os
aliados fecharam o cerco.
Em 25 de julho, os últimos defensores abandonaram Humaitá, que foi ocupada pelos aliados. Era
preciso reforçar o cerco para evitar que eles se juntassem ao grosso do Exército paraguaio. Para isso, os
aliados criaram uma flotilha de escaleres, lanchas e canoas para bloquear a passagem dos fugitivos pela
Lagoa Verá.
Os combates que ali ocorreram, corpo-a-corpo, entre as tripulações de embarcações, constituíram um
dos conjuntos de episódios mais dramáticos da guerra. Participaram deles, com grande bravura, jovens
oficiais brasileiros, como os Tenentes Saldanha da Gama e Júlio de Noronha, entre outros. Ao final,
renderam-se 1.300 paraguaios.

10) O avanço aliado e a Dezembrada:


Superado o obstáculo de Humaitá, Caxias pôde avançar para o norte. Era necessário que a Força
Naval acompanhasse o movimento das forças terrestres aliadas e, no dia 16 de agosto de1868, Inhaúma
começou a subir o Rio Paraguai. A partir de então,os navios participaram das operações prestando o apoio
determinado por Caxias.
Logo, Caxias alcançou Palmas e iniciou seus planos para atacara nova posição do inimigo, em
Piquissiri. Ele próprio efetuou vários reconhecimentos empregando os navios e decidiu por não realizar uma
ação frontal. Para atacar os paraguaios pela retaguarda, era preciso utilizar a margem direita, onde se situava
o Chaco, um alagadiço quase intransponível, exposto às inundações.
A genial manobra do Piquissiri, que contornou a posição do inimigo, foi uma operação em que a
Força Naval exerceu um papel relevante. Foi construída uma estrada pelos pântanos do Chaco,
ultrapassando diversos cursos d’água, para que as tropas, que cruzaram o rio nos navios, avançassem pela
margem direita até um ponto em que podiam embarcar novamente, para serem transportadas para a margem
esquerda, acima das posições inimigas. Em 4 de dezembro, a Força Naval apoiou o desembarque das tropas
em Santo Antônio, sobre a retaguarda paraguaia.
O ataque de Caxias para o Sul é conhecido como a Dezembrada. Ocorreu uma sucessão de combates
terrestres, dos quais se destacam Itororó, Avaí e Lomas Valentinas. Ao final, as forças paraguaias estavam
derrotadas e López fugiu.
Não se rendendo, apesar de seu exército estar praticamente aniquilado, ele conseguiu prolongar a
guerra por mais de um ano,na região montanhosa do Norte de seu país, na chamada Campanhada
Cordilheira, causando enormes sacrifícios a todos os envolvidos,principalmente ao povo paraguaio.

11) A ocupação de Assunção e a fase final da guerra:


Como não havia mais obstáculos até Assunção, ela foi ocupada pelos aliados e a Força Naval
fundeou em frente à cidade, em janeiro de 1869.

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Em fevereiro, o Chefe-de-Esquadra Elisário Antônio dos Santos assumiu o comando da Força Naval.
Ficaram no Paraguaios navios de menor calado, mais úteis para atuar nos afluentes.Uma Força Naval subiu
o Rio Paraguai até território brasileiro, em Mato Grosso. Houve um último combate no Rio Manduvirá.
Seguiu-se a Campanha da Cordilheira, em que a Marinha não mais confrontou o inimigo.
Em 1870, o Paraguai estava derrotado e seu povo dizimado.
A Guerra foi muito importante para a consolidação dos Estados Nacionais na região do Rio da Prata.
Foi durante o conflito que a unidade da Argentina se consolidou. Para o Brasil, foi um grande desafio que
mobilizou o País e uniu sua população. Foi lá que os brasileiros das diferentes regiões do País se
conheceram melhor, passando a se respeitar e a se entender.

12) A Guerra Franco-Prussiana:


No ano de 1870 tem lugar a Guerra Franco-Prussiana, última etapa do de unificação da Alemanha,
sob a liderança da Prússia de Bismarck. Foi um conflito exclusivamente terrestre, sendo decidido muito
rapidamente na batalha de Sedan: a incontrastável superioridade naval francesa – a França era o poder naval
hegemônico da Inglaterra – não teve nenhuma influência na guerra. Pode-se tirar disso uma importante
lição: para que o Poder Naval possa exercer todas as suas capacidades é indispensável que a guerra tenha
certa duração, conforme já ficará claro na guerra Austro-Prussiana, quando a derrota no mar dos italianos,
aliados da Prússia, não teve consequências significativas para o desfecho do conflito (a decisiva batalha de
Sadowa definiu a sorte na guerra).

CRONOLOGIA
DATA EVENTO
12/11/1864 O governo paraguaio apreende o Navio Mercante brasileiro Marquês de Olinda, quando este
navegava 30 milhas acima de Assunção, rumo ao Mato Grosso levando o novo presidente
dessa província.
28/12/1864 Forças paraguaias invadem a Província do Mato Grosso, atacando e ocupando o Forte
Coimbra.
27/01/1865 O Império do Brasil declara oficialmente que responderá às hostilidades do Paraguai.
05/04/1865 Parte de Buenos Aires uma Força Naval brasileira para bloquear o Rio Paraná.
13/04/1865 O Governo paraguaio declara guerra à Argentina e forças paraguaias atacam Corrientes.
01/05/1865 Assinado em Buenos Aires o Tratado da Tríplice Aliança, entre os governos do Brasil,
Argentina e Uruguai.
20/05/1865 O Chefe-de-Divisão Francisco Manoel Barroso da Silva assume o comando das duas divisões
navais brasileiras incumbidas do bloqueio.
10/06/1865 Forças paraguaias invadem a Província do Rio Grande do Sul.
11/06/1865 Batalha Naval do Riachuelo.
21/02/1866 O Vice-Almirante Tamandaré, Comandante-em-Chefe da Esquadra brasileira, chega à cidade
argentina de Corrientes.
16/04/1866 Inicia-se a travessia de Passo da Pátria.
27/07/1866 Início do reconhecimento, pelos navios da Esquadra, da área da Fortaleza de Curuzu.
31/08/1866 As tropas brasileiras, comandadas pelo Barão de Porto Alegre, desembarcam para a tomada
do Forte de Curuzu, apoiadas pelo fogo dos navios.
1870 A Guerra Franco-Prussiana.

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Capítulo VIII
1) A Marinha do Brasil na República:
Os primeiros anos da República foram marcados pela progressiva desmobilização da Esquadra
25
brasileira. As revoltas que assolaram a Nação e o desgaste econômico conhecido como Encilhamento
provocaram o gradativo desmantelamento das unidades da Força Naval. A situação interna do País se
refletia nos orçamentos insuficientes que negavam à Marinha os recursos necessários à modernização dos
meios flutuantes e à criação de uma infraestrutura de apoio.
Essa situação se manteve por toda a década final do século XIX. A sucessão de quatro ministros da
Marinha em apenas seis anos contribuiu negativamente para a elaboração de um programa naval condizente
com o litoral e os interesses a serem defendidos.
Em 15 de novembro de 1902, o Almirante Júlio de Noronha assumiu a pasta da Marinha,
encontrando uma Força Naval composta de navios reformados, sendo, na sua maioria, modelos obsoletos
frente às classes mais modernas que estavam em processo de construção pelas potências industriais da
época.
Em 1904, o Ministro das Relações Exteriores, Barão do Rio Branco, percebeu que a Marinha, apesar
de querer se equipar com os melhores meios, não alcançava um nível aceitável de Força Armada para o
porte do Brasil. Apresentou então ao Almirante Júlio de Noronha pessoas interessadas em oferecer navios ou
indicar estaleiros para a construção daqueles que fariam parte do Programa Naval que o almirante
imaginava.
Procurando satisfazer a justa aspiração brasileira em constituir uma Marinha bem aparelhada, o
Deputado Dr. Laurindo Pitta apresentou à Câmara, em julho de 1904, um projeto que continha o programa
naval do Almirante Júlio de Noronha, o qual poderia atender a tais expectativas. Em um discurso
entusiasmado, propôs a aprovação de orçamento que financiasse os navios requisitados. Pitta encabeçou
então uma grande luta nos bastidores da política nacional com a finalidade de obter a aprovação, no
Congresso Nacional, do projeto que reorganizaria toda a Esquadra brasileira. Sendo o projeto finalmente
aprovado, quase que por unanimidade, ele se transformou no Decreto nº 1.296, de 14 de novembro de 1904.
Segundo o próprio Laurindo Pitta, em seu discurso, por ocasião da apresentação do seu projeto de
reaparelhamento naval, encouraçados, cruzadores, torpedeiras não eram invenções modernas, eram
aperfeiçoamentos que a ciência e a indústria adaptavam aos navios. O encouraçado era o pesado e bem artilhado
navio de linha, o cruzador era a leve e ligeira fragata e o torpedeiro, o brulote, destinado a incendiar as antigas
naus.
O Programa de 1904, de autoria de Júlio de Noronha, apresentava a vantagem de ser um plano de
conjunto, ou seja, incluía a criação de um moderno arsenal e um porto militar, que juntamente com os navios
formaria um tripé de sustentação da Marinha brasileira. Foi o Almirante Júlio de Noronha quem fez nascer a
campanha de remodelação da Esquadra, que deveria impressionar principalmente a opinião pública e que gerou
os resultados necessários para a reforma da nossa Marinha.
O programa incluía os modelos de navios
que, no momento, equipavam as melhores Esquadras
do mundo, logo a seguir empregados nas Batalhas de
Port Arthur e Tsushima, travadas durante a Guerra
Russo-Japonesa. O estudo estratégico das
experiências proporcionadas por essas batalhas
(1905) e o lançamento do Encouraçado
Dreadnough26t, pela Marinha britânica (1906), que
aparecia como o navio mais poderoso do mundo,
inspiraram debates em torno do Programa de 1904.
O Deputado José Carlos de Carvalho e o Almirante
Alexandrino Faria de Alencar, então senador, foram Encouraçado Dreadnough

25
Encilhamento se refere ao processo especulativo que ocorreu na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Podem ser incluídos no
Encilhamento outros problemas econômicos que ocorreram no período, especialmente a brusca desvalorização cambial,
provocando grande número de falências e recessão econômica. Essa política foi idealizada por Rui Barbosa, Ministro da Fazenda
de então.
26
Encouraçado Dreadnought – Idealizado pelo Almirante Lorde Fisher, Primeiro Lorde do Mar da Marinha britânica. Tinha como
características forte armamento com canhões de até 12 polegadas, grande deslocamento, motores de propulsão mais eficientes e
poderosa blindagem.
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os grandes defensores da remodelação do Programa Júlio de Noronha.
Em 15 de novembro de 1906, assumiu a Presidência da República o Conselheiro Afonso Pena e, com
ele, o seu novo ministério, sendo a pasta da Marinha ocupada pelo Almirante Alexandrino Faria de Alencar.
Não demorou que este conseguisse do Congresso a reforma do Programa de 1904. A alteração mais
marcante trazida pelo novo programa do Almirante Alexandrino foi a adição de três novos encouraçados do
tipo dreadnought de 20 mil toneladas, cuja aprovação resultou no Decreto nº 1.567, de 24 de novembro de
1906.
Nesse programa, foi cancelado o projeto de um novo arsenal. Em seu lugar, optou-se por modernizar
as instalações da Ilha das Cobras, porém, admitia-se a construção de bases secundárias em Belém e em
Natal, e um porto militar de pequeno porte em Santa Catarina.
Como consequência direta do Programa Alexandrino, a Esquadra de 1910, assim chamada por haver
chegado ao Brasil nesse ano a maior parte de seus componentes, representou um verdadeiro revigoramento
militar e tecnológico da Marinha brasileira. Dessa forma, o Brasil passou a possuir uma frota de alto-mar
ofensiva, podendo levar a outros rincões o Pavilhão Nacional e, principalmente, apoiar a ação diplomática
do governo brasileiro em qualquer local que se fizesse necessário.
A incorporação de navios como os Encouraçados Minas Gerais e São Paulo, pertencentes à classe
dos dreadnoughts mais poderosos do mundo, encheu de orgulho e confiança os brasileiros. Além dessas
embarcações, também chegaram os Cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul e os Contratorpedeiros
Amazonas, Pará, Piauí, Rio Grande do Norte,Paraíba, Alagoas, Sergipe, Paraná, Santa Catarina e Mato
Grosso.
Posteriormente ao ano de 1910, o Contratorpedeiro Maranhão, os Submarinos F1, F3, F5 e Humaitá,
o Tender Ceará e outros navios auxiliares complementaram os efetivos navais da Marinha.
O terceiro encouraçado previsto pelo Programa Alexandrino era o Rio de Janeiro, lançado ao mar em
22 de janeiro de 1913. A demora em sua construção se deveu à necessidade de se introduzir novas
modificações que o tornassem ainda mais poderoso. Este navio não chegou a ser incorporado à Armada
brasileira. Foi adquirido pela Marinha turca e depois pela Marinha inglesa, tendo participado da Batalha da
Jutlândia.
A Esquadra brasileira passou a ser organizada, essencialmente, em divisões de encouraçados e
cruzadores, e flotilhas de contratorpedeiros e de submarinos. Porém, com o início da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918), o Ministro da Marinha Alexandrino de Alencar determinou que as principais unidades
operativas de superfície fossem reorganizadas em três divisões a fim de patrulhar as águas costeiras dentro
de cada área de responsabilidade, sendo criadas as Divisões Navais do Sul (São Francisco do Sul), Centro
(Rio de Janeiro) e Norte (Belém).
Dessa maneira, a Marinha iria enfrentar os seus dois principais desafios no Século XX. As duas
grandes guerras mundiais.

2) As duas grandes guerras


Eclodido o conflito na Europa em 1914, que veio a ser conhecido por Primeira Grande Guerra, o
Brasil permaneceu neutro nos primeiros três anos de guerra. O bloqueio submarino sem restrições aos países
Aliados, firmado pelo governo alemão em 31 de janeiro de 1917, trouxe não só mal-estar a todos os países
neutros, como também preocupação ao Governo brasileiro, que dependia fundamentalmente do mar para
escoar a sua produção e importar produtos que necessitava.
O Brasil apresentou inicialmente seu protesto formal à Alemanha, seguido do rompimento das
relações comerciais. Mantínhamos ainda nossa neutralidade, postura que veio a ser modificada em 11 de
abril de 1917,devido ao afundamento do Navio Mercante Paraná ao largo da costa francesa, quando o
governo brasileiro rompeu as relações diplomáticas com o governo alemão. Após o ataque a mais três dos
nossos mercantes, em 26de outubro de 1917 o Brasil reconheceu e proclamou o estado de guerra com o
Império alemão.
A participação da Marinha brasileira na Primeira Grande Guerra formalizou-se com o envio para o
teatro de operação da Divisão Naval em Operação de Guerra (DNOG), sob o comando do Almirante Pedro
Max Fernando de Frontin. Era composta pelos seguintes meios navais: Cruzadores Bahia e Rio Grande do
Sul;Contratorpedeiros Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina; Cruzador-Auxiliar Belmonte;
e Rebocador Laurindo Pitta, e tinha como missão o patrulhamento da área entre Dakar–São Vicente–

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Gibraltar na costa da África. A tripulação da DNOG foi gravemente atingida pela “gripe espanhola”, mas
mesmo com muitas baixas sofridas, cumpriu a missão a ela determinada.
Outra participação significativa da Marinha foi a designação de 12 oficiais aviadores para servirem
junto à Royal Air Force (RAF). Foram depois empregados no patrulhamento do Canal da Mancha.
Na Segunda Guerra Mundial, também mantivemo-nos neutros a princípio. Com a vinculação de
interesses comuns que tínhamos com os Estados Unidos, concretizada pelo Tratado do Rio de Janeiro, no
qual nos comprometíamos a formar ao lado de qualquer nação americana que fosse atacada, com eles nos
solidarizamos quando do ataque japonês a Pearl Harbour, em 7 de dezembro de 1941. Como represália,
nossa Marinha Mercante começou a ser agredida pelos submarinos alemães. A primeira perda foi o Navio
Mercante Cabedelo, em fevereiro de 1942. Seguiram-se outros afundamentos, terminando com o ataque
fulminante do U-507, que em cinco dias, levou a pique seis embarcações nacionais dedicadas à linha de
cabotagem nas costas de Sergipe, com 507 vítimas, inclusive soldados do Exército.
Este ato levou o Brasil a declarar guerra, a 31 de janeiro de 1942, às potências do Eixo – Alemanha,
Itália e Japão. Imediatamente a Marinha mobilizou-se, criando a Força Naval do Nordeste (com navios já em
operação e meios recebidos do Acordo Lend Lease com os Estados Unidos). Essa Força foi comandada pelo
Almirante Alfredo Soares Dutra, subordinada operativamente à Quarta Esquadra norte americana.
Era missão da Marinha, cumprida desde o primeiro dia de guerra até o armistício, a proteção de
comboios internacionais e nacionais, garantindo a segurança de mais de três mil navios, de muitas
nacionalidades, contra a ameaça submarina germânica. Cada passagem de um comboio ao seu destino era
considerado uma vitória Garantiu-se o suprimento, vital na época, de combustível, insumos e alimentos, sem
que o Brasil sofresse as agruras da guerra.

3) Primeira Guerra Mundial:


3.1) Antecedentes:
No ano de 1914, as relações entre as principais nações europeias estavam tensas. Nos últimos 60
anos havia ocorrido a Segunda Revolução Industrial e várias potências econômicas surgiram ameaçando a
supremacia da Grã-Bretanha, com destaque para os Estados Unidos, Itália, Rússia, Alemanha e Japão. Isto
significava que todos esses países tinham como produzir, mas precisavam de matérias-primas e de mercados
para vender a sua produção.
Se na primeira Revolução Industrial o grande fato impulsionador foi a invenção da máquina a vapor,
na segunda a eletricidade foi o mecanismo que revolucionou os meios de produção. Outro grande fator de
crescimento econômico foi o aumento da disponibilidade de ferro e aço. A mecanização da indústria se
elevou, proporcionando o consequente aumento do número de máquinas e motores menores, que viriam
dotar os bens de consumo duráveis, os maiores símbolos da sociedade moderna.
Naquele ano de 1914 vigorava a Paz Armada, uma situação em que todas as nações procuravam se
armar para inibir o adversário de atacá-las. Duas grandes alianças político-militares predominavam: a
Tríplice Aliança, formada pelo Império Austro-Húngaro, Itália e Alemanha, e a Tríplice Entente, formada
pela França, Inglaterra e Rússia. Pequenas frentes de luta surgiam nas áreas em disputa. Todos queriam se
apossar de territórios. Um terrorista sérvio conseguiu assassinar o Arquiduque Francisco Ferdinando,
herdeiro do trono austríaco, em um atentado em Sarajevo, na Bósnia. Esta morte imediatamente provocou a
guerra entre a Áustria e a Sérvia; a Rússia, fiadora da Sérvia, iniciou um confronto com a Áustria,
provocando a intervenção alemã e unindo a França e a Inglaterra. Aliados de um ou outro lado entraram na
Guerra.Iniciava-se a Primeira Guerra Mundial.
De 1914 até o seu final, a guerra assumiu seu lado mais cruel.Milhões de vidas foram ceifadas na
chamada guerra de trincheiras,quando as tropas limitavam-se a defender determinadas posições estratégicas.
Em 1917, os Estados Unidos da América (EUA) entraram no conflito. No mesmo ano, eclodiu a revolução
socialista na Rússia e seus dirigentes assinaram com a Alemanha o Tratado de Brest-Litovsky, se retirando
da guerra.
Em 1917, o Brasil entrou no conflito quando a campanha submarina alemã atingiu seus navios
mercantes, afundados em razão do bloqueio alemão a Grã-Bretanha.
O Brasil enviou então uma Divisão Naval para operar com a Marinha britânica entre Dakar e
Gibraltar em 1918.
A Alemanha, depois de uma fracassada ofensiva no teatro de operação ocidental, se viu exausta com
as perdas sofridas, vindo a assinar o Armistício com os aliados no mês de novembro de 1918.

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3.2) O preparo do Brasil:
A disposição do Brasil em manter-se neutro no conflito foi evidenciada desde o primeiro minuto de
combates na Europa em1914. Naqueles dias conturbados, prevalecia no País uma tendência natural de
simpatia a favor dos aliados, principalmente porque a elite nacional via na educação e na cultura francesas
seus principais paradigmas. A neutralidade foi a marca brasileira nos três primeiros anos de guerra, mesmo
quando Portugal foi a ela arrastada em março de 1916.
O bloqueio sem restrições firmado pelo governo alemão em 31 de janeiro de 1917 trouxe não só mal-
estar a todos os neutros, mas também preocupação ao governo brasileiro que dependia fundamentalmente do
mar para escoara produção de café para a Europa e os Estados Unidos, nossos principais
compradores.Ademais, importávamos muitos produtos da Inglaterra, que naquela altura lutava
desesperadamente nos campos franceses e enfrentava, com preocupação, os ataques dos submarinos alemães
a seu tráfego marítimo.
O Brasil apresentou, inicialmente, seu protesto formal à Alemanha, sendo logo depois obrigado a
romper relações comerciais comesse país, mantendo-se, contudo, ainda, na mais rigorosa neutralidade.
O que veio a modificar a atitude brasileira foi o afundamento do Navio Mercante Paraná ao largo de
Barfleur, na França, apesar de ostentar a palavra Brasil pintada no costado e a Bandeira Nacional içada no
mastro. Naquela oportunidade, a população na capital Rio de Janeiro atacou firmas comerciais
alemãs,criando grande desconforto para o governo de Wenceslau Braz. Seguiu-se então o rompimento das
relações diplomáticas com o governo alemão em 11 de abril de 1917. Um fato importante que influiu na
decisão de se romper relações como Império Alemão foi a atitude de protesto dos Estados Unidos com o
bloqueio irrestrito, tendo sofrido por isso o torpedeamento de dois de seus navios. Tais acontecimentos
motivaram a declaração de guerra norte-americana. Mantínhamos até esse ponto laços comerciais profundos
com esse país e claras simpatias com os aliados.
No mês de maio, o segundo navio brasileiro, o Tijuca, foi torpedeado nas proximidades de Brest na
costa francesa. Seis dias depois seguiu-se o Mercante Lapa. Antes ele fora abordado por um submarino
alemão, mandando que a tripulação deixasse o vapor para depois torpedeá-lo. Esses três ataques levaram o
Presidente Wenceslau Braz a decretar o arresto de 45 navios dos impérios centrais aportados no Brasil e a
revogação da neutralidade. Muitos deles encontravam-se danificados por sabotagem dos próprios
tripulantes. Isso não impediu que o Brasil utilizasse 15 deles e repassasse 30 por afretamento para a França.
Um fato curioso foi o arresto da Canhoneira alemã Eber, surta no porto de Salvador. Tratava-se de navio
militar e não de vapor mercante, como os 45navios arrestados. Antes de ser abordada por autoridades
brasileiras, e percebendo essa medida, os tripulantes queimaram esse vaso de guerra e conseguiram se
transferir para outro navio mercante que se evadiu dos portos nacionais com o armamento e os homens
especializados, que seriam ainda úteis à Marinha alemã no conflito.
Quatro meses se passaram até que um novo navio brasileiro fosse atacado e afundado, dessa feita foi
o Vapor Tupi nas mediações do Cabo Finisterra. O caso tornou-se grave na medida em que o comandante e
o despenseiro foram aprisionados por um submarino alemão e nunca mais se teve notícia de seus
destinos.Oito dias depois, 26 de outubro de 1917, o Brasil reconhecia e proclamava o estado de guerra com
o Império alemão.
Como estava o Brasil naquela oportunidade para enfrentar os germânicos?
O governo brasileiro tinha consciência de que a grande ameaça seria o submarino alemão, ávido por
atacar os nossos navios mercantes que mantinham o comércio com outros países em pleno desenvolvimento.
Além disso, naquela oportunidade, nãoexistiam estradas ligando o Sul e Sudeste com o Norte e
Nordeste.Todas as comunicações entre essas regiões eram feitas por mar,daí nossa grande vulnerabilidade
estratégica. Tanto a Marinha Mercante como a de Guerra seriam as grandes protagonistas brasileiras nesse
confronto.
A Marinha Mercante brasileira era modesta, no entanto, desde os primeiros anos do século, os
governos que se sucederam procuraram aparelhá-la, o que foi auspicioso, pois teríamos na guerra um teste
fundamental para a manutenção de nosso fluxo comercial. No início do conflito – quando o Brasil ainda
mantinha irrestrita neutralidade –, diversos países envolvidos na guerra, ávidos para cobrir as perdas
provocadas por afundamentos, ofereceram propostas de compras de muitos de nossos mercantes.
Propostas de compras do Lloyd Brasileiro, maior companhia de navegação do período, foram
comuns. Entretanto, o governo nacional, premido pela necessidade de manter o comércio com outros países

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e de escoar o nosso principal produto, o café, principalmente para os Estados Unidos, impediu todas essas
tentativas de arrendamento. Ao final essa ação veio a ser fundamental para o Brasil.
Nossa Marinha de Guerra era centrada na chamada Esquadra de 1910, com navios relativamente
novos construídos na Inglaterra sob o Plano de Construção Naval do Almirante Alexandrino Faria de
Alencar, Ministro da Marinha, como anteriormente mencionado. Eram ao todo dois encouraçados tipo
dreadnought, o Minas Gerais e o São Paulo, dois cruzadores tipo scouts, o Rio Grande do Sul e o Bahia,
que viria a ser perdido tragicamente na Segunda Guerra Mundial, e dez contratorpedeiros de pequenas
dimensões. Esses meios eram todos movidos a vapor, queimando carvão.
Desde o início da participação brasileira no conflito, o governo nacional decidiu-se pelo envio de
uma divisão naval para operar em águas europeias, o que representaria um grande esforço para a Marinha.
Uma outra contribuição significativa foi a designação de 13 oficiais aviadores, sendo 12 da Marinha
e um do Exército para se aperfeiçoarem como pilotos de caça da RAF no teatro europeu. Depois de árduo
adestramento em que dois pilotos se acidentaram, sendo um fatal, eles foram considerados qualificados para
operações de combate, tendo sido empregados no 16º Grupo da RAF, com sede em Plymouth, em missões
de patrulhamento no Canal da Mancha.
A propósito, a Escola de Aviação Naval Brasileira, localizada na Ilha das Enxadas, na Baía de
Guanabara, e a Flotilha de Aviões de Guerra haviam sido criadas no dia 23 de agosto de 1916, comportando
inicialmente apenas três aviões Curtiss que chegaram ao Brasil dois meses antes. A Aviação Militar, por
outro lado, operava no Campo dos Afonsos (RJ), onde funcionava a Escola de Aviação Militar.
Um fato inusitado e curioso que na época provocou grande sucesso promocional foi o primeiro voo
do Presidente da República Wenceslau Braz em hidroavião da Armada, em 2 de abril de 1917,um dia antes
do torpedeamento de primeiro navio brasileiro, o Paraná, nas costas francesas. O mais interessante foi que
Wenceslau havia comparecido à formatura dos novos pilotos na Ilha das Enxadas e não estava previsto o
voo realizado com o primeiro mandatário da República. Ao ser provocado pelo Ministro da Marinha,
Wenceslau Braz aceitou o convite para um voo sobre o Rio de Janeiro e Niterói. Imediatamente colocou o
capacete e a túnica a ele oferecida e se posicionou no avião para início da aventura. Por cerca de 30 minutos,
o Presidente se deliciou com aquele sobrevoo, para o espanto dos repórteres que esperavam o seu regresso.
No principal porto do país, o do Rio de Janeiro, centro econômico e político mais importante, instituiu-se
uma linha de minas submarinas cobrindo 600 metros entre as Fortalezas da Laje e Santa Cruz. Duas ilhas
oceânicas preocupavam as autoridades navais devido a possibilidade de serem utilizadas como pontos de
refúgio de navios inimigos. As de Trindade e Fernando de Noronha. A primeira foi ocupada militarmente
em maio de 1916 com um grupo de cerca de 50 militares. Uma estação radiotelegráfica mantinha as
comunicações com o continente e frequentemente a ilha da Trindade era visitada por navios de guerra para o
seu reabastecimento. Quanto a Fernando de Noronha, lá existia um presídio do Estado de Pernambuco. A
Marinha, então, passou a assumir a defesa dessa ilha, destacando um grupo de militares para guarnecê-la.
Não houve nenhuma tentativa de ocupação por parte dos alemães.
Com o estado de guerra declarado, os ataques aos mercantes brasileiros continuaram. Em 2 de
novembro, nas proximidades da Ilha de São Vicente, na costa africana, foram torpedeados mais dois navios,
o Guaíba e o Acari. Depois de atingidos, seus comandantes conseguiram os encalhar, salvando-se a carga,
nãoimpedindo, no entanto, que vidas brasileiras fossem perdidas.
Outro ataque, já no ano de 1918, aconteceu ao Mercante Taquari da Companhia de Comércio e
Navegação, na costa inglesa. Desta feita o navio foi atingido por tiros de canhão, tendo tempo de arriar as
baleeiras que, no entanto, foram metralhadas,provocando a morte de oito tripulantes.
Esses ataques insuflaram ainda mais a opinião pública brasileira que, influenciada por campanhas
jornalísticas e declarações de diversos homens públicos, exigiu um comprometimento maior com a causa
Aliada, com a participação efetiva no esforço bélico contra as Potências Centrais.
Desde o início do conflito, a participação da Marinha no confronto baseou-se no patrulhamento
marítimo do litoral brasileiro com três divisões navais, como já mencionado, distribuídas nos portos de
Belém, Rio de Janeiro e São Francisco do Sul. Esse serviço tinha por finalidade colocar a navegação
nacional, a aliada e a neutra ao abrigo de possíveis ataques de navios alemães de qualquer natureza nas
nossas águas.
A Divisão Naval do Norte era composta dos Encouraçados guarda-costas Deodoro e Floriano, dos
Cruzadores Tiradentes e República, de dois contratorpedeiros, três avisos e duas canhoneiras. Sua sede era
Belém.

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A Divisão Naval do Centro compunha-se dos Encouraçados Minas Gerais e São Paulo e de seis
contratorpedeiros, com sede no Rio de janeiro.
Por fim, a Divisão Naval do Sul era composta dos Cruzadores Barroso, Bahia e Rio Grande do Sul, de um
iate e dois contratorpedeiros, com sede em São Francisco do Sul.
A Marinha possuía também três navios mineiros; uma flotilha de submersíveis, com um tênder, três
pequenos submarinos construídos na Itália e uma torpedeira; as Flotilhas do Mato Grosso, Amazonas e de
aviões de guerra; e, por fim, navios soltos.

3.3) A Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG):


O governo de Wenceslau Braz decidiu enviar uma divisão naval para operar sob as ordens da
Marinha britânica, na ocasião a maior e mais poderosa do mundo. Logicamente, os navios escolhidos
deveriam ser da Esquadra adquirida oito anos antes na própria Inglaterra, pois eram os mais modernos que o
Brasil possuía. No entanto, devido aos avanços tecnológicos provocados pela própria guerra, esses navios se
tornaram obsoletos rapidamente. Em que pese tal fato, a escolha da alta administração naval recaiu nos dois
Cruzadores (Rio Grande do Sul e Bahia), em quatro Contratorpedeiros (Piauí, Rio Grande do Norte,
Paraíba e Santa Catarina), um Rebocador (Laurindo Pitta) e um Cruzador-Auxiliar (Belmonte), ao todo
oito navios.
Contra quem iríamos lutar? A Alemanha, apesar de possuir uma Esquadra menor que a Inglaterra,
possuía uma frota muito agressiva e motivada, que se batera com valentia até aquele momento.
No início da guerra os alemães se lançaram à guerra de corso utilizando navios de superfície, no
estilo de corsários independentes que atacavam os mercantes navegando solitários. Essa estratégia, com o
decorrer da guerra, foi abandonada. Preferiu-se a guerra submarina, que se mostrou muito mais eficiente.
Esses submarinos não chegaram a atuar nas nossas costas como aconteceu na Segunda Guerra Mundial, no
entanto atacaram nossos navios nas costas europeias e os afundaram sem trégua.
Há que se notar que a Marinha brasileira era dependente de suprimentos vindos do exterior.
Nãoexistiam estaleiros capacitados, nem fábricas de munição e estoques logísticos adequados. Dessa forma,
a preparação da Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG), como ficou conhecida essa pequena
força, foi muito dificultada por limitações que não eram apenas da Marinha, mas também do Brasil. Como
critério de escolha, abriu-se o voluntariado para os seus componentes e foi escolhido um contra-almirante
ainda muito jovem, com 51 anos de idade,habilidoso e com grande experiência marinheira, na ocasião
comandante da Divisão de Cruzadores com base no porto de Santos, o Almirante Pedro Max Fernando de
Frontin, irmão do engenheiro Paulo de Frontin.
A principal tarefa a ser cumprida por essa divisão seria patrulhar uma área marítima contra os
submarinos alemães, compreendida entre Dakar no Senegal e Gibraltar, na entrada do Mediterrâneo, com
subordinação ao Almirantado inglês.
A preparação dos navios ainda no Brasil requereu muitos recursos de toda a ordem. Entre os pontos a
serem corrigidos estava a deficiência de abastecimento, principalmente a escassez de combustível, o carvão.
Dava-se preferência a um tipo de carvão proveniente da Inglaterra, o tipo Cardiff ou dos Estados
Unidos da América. O carvão nacional, por possuir grande quantidade de enxofre, era contraindicado e esse
ponto nevrálgico preocupou os chefes navais durante toda a comissão da DNOG.
Depois de três meses de adestramento contínuo com as tripulações, os navios suspenderam do Rio de
Janeiro em grupos pequenos para se juntarem na Ilha de Fernando de Noronha. Inicialmente, os
contratorpedeiros deixaram a Guanabara no dia 7 de maio de 1918, seguidos no dia 11pelos dois cruzadores.
Em 6 de julho, suspendeu do Rio de Janeiro o Cruzador Auxiliar Belmonte e, dois dias depois, o Rebocador
Laurindo Pitta.Esses navios ficaram responsáveis de transportar o carvão necessário para a DNOG, daí sua
grande importância logística.
No dia 1º de agosto a Divisão unida suspendeu de Fernando de Noronha com destino a Dakar,
passando por Freetown.
O propósito dessa primeira derrota até Freetown era destruir os submarinos inimigos que se
encontravam na rota da DNOG. O armamento naquela ocasião para se neutralizar esses submarinos era
bastante primitivo, não se comparando com nada que se viu na Segunda Guerra Mundial. Existiam
hidrofones primitivos e bombas de profundidade de 40 libras, que eram lançadas pela borda no local
provável onde se encontrava o submarino. É interessante mencionar que o próprio submarino, naquela
oportunidade, não possuía capacidade de permanecer mergulhado durante longo período de tempo, o que era

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uma grande limitação. Normalmente, os ataques contramercantes eram realizados utilizando-se os canhões
localizados em seus conveses. A maior possibilidade de se destruir esses submarinos acontecia quando o
inimigo vinha à superfície para destruir o alvo ou por canhão ou mesmo com o uso de torpedos.Nessa
travessia inicial, alguns rebates de “prováveis submarinos” foram dados, porém não tiveram confirmação.
Outro ponto interessante na travessia Fernando de Noronha–Freetown era a faina de transferência de carvão
em alto-mar. Esses recebimentos aconteciam em quaisquer condições de tempo e de mar e obrigavam a
atracação dos navios ao Cruzador-Auxiliar Belmonte e a utilização do Rebocador Laurindo Pitta para
auxílio nas aproximações. Foram manobras perigosas que demandaram muita capacidade marinheira dos
tripulantes, além da natural vulnerabilidade durante os abastecimentos, quando os submarinos inimigos
poderiam aproveitar a baixa velocidade dos navios para o ataque torpédico. A tensão reinante durante esses
eventos era enorme, sem contar com as difíceis condições em que eram realizadas. Os navios ficavam
literalmente negros de carvão e todos trabalhavam do nascer do sol até o término do abastecimento.
Depois de oito dias de travessia, a DNOG chegou ao porto de Freetown, onde se agregou ao
Esquadrão britânico. Nessa cidade, os navios permaneceram por 14 dias, reabastecendo-se e sofrendo os
reparos necessários à continuação da missão.
Em 23 de agosto de 1918, a Divisão suspendeu em direção a Dakar, tendo essa derrota27 sido muito
desconfortável para as tripulações dos navios devido ao mau tempo reinante. Na véspera da chegada a esse
porto africano, no período noturno, foi avistado um submarino navegando na superfície. Imediatamente foi
atacado pela força brasileira, no entanto o submarino conseguiu lançar um contra-ataque contra o Cruzador-
Auxiliar Belmonte, quase atingindo seu intento, uma vez que a esteira fosforescente do torpedo foi
perfeitamente observada a 20 metros da popa do navio brasileiro. A 26 de agosto, os navios aportavam em
Dakar e aí começariam as grandes provações dos tripulantes nacionais.
Todo esse martírio teria início quando o navio inglês Mantua iniciou uma rotina observada por
nossos marinheiros que o viam suspender de quando em vez para o alto-mar regressando em seguida. Logo
após, soube-se que essas saídas eram para lançara o mar os corpos dos homens de sua tripulação que haviam
11
contraído a terrível “gripe espanhola” . Possivelmente o Mantua foi o responsável pela transmissão da
moléstia que vitimaria diversos tripulantes que nunca retornariam ao Brasil.
No início de setembro as primeiras vítimas brasileiras eram atingidas pela gripe mortal. Os sintomas
eram quase sempre os mesmos. Fraqueza generalizada, seguida de grande aumento de temperatura, com
transpiração excessiva. Depois de três ou quatro dias de grande mal-estar, seguia-se tosse com expectoração
sanguínea e congestão pulmonar. Alguns iniciavam as convulsões e os soluços, outros se debatiam em
agonia, todos ávidos por água para debelar a sede incontrolável. Dentro de pouco tempo a morte se abatia
derradeira e incontrolável.
A permanência em Dakar deveria ser curta. No entanto, devido a gravidade da situação sanitária com
a gripe, os navios lá permaneceram mais tempo. A tudo isso se somou o impaludismo e as febres biliares
africanas. Dos navios atingidos pelas doenças, o mais afetado foi o Cruzador auxiliar Belmonte que, entre
seus 364tripulantes, contaram-se 154 doentes. Substituições foram solicitadas ao Brasil, que vieram no
Paquete Ásia para completar os claros com as moléstias apontadas.
Foram vitimados 156 brasileiros da DNOG pela “gripe espanhola”.
Os navios britânicos e brasileiros em Freetown e Dakar ficaram inoperantes em face das condições
sanitárias reinantes, estando a defesa do estreito entre Dakar e Cabo Verde somente a cargo de dois
pequenos navios portugueses. Com grande esforço pessoal, a DNOG conseguiu logo depois designar o Piauí
e o Paraíba para auxiliarem os portugueses naquela área de operações.
Em 3 de novembro, a DNOG largou de Dakar em direção a Gibraltar, sem o Rio Grande do Sul, o
Rio Grande do Norte, o Belmonte e o Laurindo Pitta, os dois primeiros avariados e os dois seguintes
designados para outras missões. Sete dias depois os navios da Divisão faziam sua entrada em Gibraltar. No
dia seguinte, o Armistício foi assinado, dando a Grande Guerra como terminada. Nossa missão de guerra
findara, no entanto nossa Divisão prolongou sua permanência na Europa, já que foi convidada para
participar das festividades promovidas pelos vitoriosos. Por cerca de seis meses nossos navios
permaneceram em águas europeias participando das comemorações pela vitória, e visitando países que
tomaram parte naquele grande conflito.

27
Derrota: termo empregado para a navegação significando caminho percorrido ou a percorrer pela embarcação.
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A vitória dos aliados seria confirmada em Paris, em 28 de junho de 1919, quando se reuniram os
representantes de 32 países e assinaram o Tratado de Versalhes, que foi imposto à Alemanha derrotada.
Em 9 de junho de 1919, depois de parar Recife por breves dias, os navios da DNOG entravam na
Baía de Guanabara, porto-sede da Divisão Naval. Acabara assim, a participação da Marinha na Primeira
Guerra Mundial.

4) O Período entre Guerras:


O período entre guerras, que abarcou os anos de 1918 até1939, caracterizou-se pelo abandono a que
foi submetida não só a Marinha de Guerra como praticamente toda a atividade nacional relacionada com o
mar. A ausência de mentalidade marítima do povo brasileiro revelou-se em toda a sua intensidade.
No entanto, iniciativas modestas, ainda durante a Grande Guerra, como a criação da Escola Naval de
Guerra (depois Escola de Guerra Naval), da Flotilha dos Submarinos, com os três pequenos submarinos da
Classe F, e da Escola de Aviação Naval, indicaram a necessidade de se avançar na melhoria das condições
de prontidão da nossa Força Naval.
A Revolução de 1930 representou para a Marinha um divisor de águas entre duas épocas distintas.
Em relatório do Ministro da Marinha no ano de 1932, em que foi feita uma análise da situação da Marinha,
encontra-se registrada a seguinte declaração: “Estamos deixando morrer a nossa Marinha. A Esquadra
agoniza pela idade [a maior parte dos navios era da Esquadra de 1910], e, perdido com ela o hábito das
viagens, substituído pela vida parasitária e burocrática dos portos, morrem todas as tradições (...) Estamos
numa encruzilhada: ou fazemos renascer o Poder Naval sob bases permanentes e voluntariosas, ou nos
resignamos a ostentar a nossa fraqueza provocadora(...) estamos completamente desaparelhados....”.
O programa naval estabelecido em 1932, e ajustado em193628, elaborado sem obedecer nenhum
planejamento estratégico ou político, criou uma Força Naval modesta, um pouco melhor equilibrada, dentro
das possibilidades financeiras e técnicas do País, podendo ministrar adestramento satisfatório e de intervir
em operações limitadas, mais no campo interno que externo. Devemos reconhecer, no entanto, que tal
modesta iniciativa foi um marco de coragem, pois utilizou a incipiente indústria brasileira na tentativa de se
reconstituir em termos nacionais um Poder Naval com alguma credibilidade.
Em 1935, foi iniciada uma grande reforma no Encouraçado Minas Gerais, que constou da
substituição de suas caldeiras e do aumento do alcance de seus canhões de 305mm.
As atividades de minagem e varredura tinham sido mantidas em segundo plano desde o fim da
Grande Guerra, utilizando-se navios mineiros varredores improvisados. Em 1940, obedecendo ao novo
programa naval então aprovado, decidiu-se pela construção no Brasil de uma série de navios mineiros
varredores, todos pertencentes à classe Carioca.
Em 1940, a nossa Força de Alto-Mar era assim constituída:
Esquadra:
– Divisão de Encouraçados: Minas Gerais e São Paulo.
– Divisão de Cruzadores: Rio Grande do Sul e Bahia.
– Flotilha de Contratorpedeiros: Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe, Santa Catarina e Mato
Grosso.
– Flotilha de Submarinos: Humaitá, Tupi, Timbira e Tamoio.
– Trem: Tênderes Belmonte e Ceará; Navios-Tanques Novais de Abreu e Marajó; Rebocadores Aníbal de
Mendonça, Muniz Freire,Henrique Perdigão e DNOG.
Flotilha de Navios Mineiros Varredores:
– dez navios.
Flotilha da Diretoria de Hidrografia e Navegação:
– três navios hidrográficos e dois navios faroleiros.
Navio isolado:
– Navio-Escola Almirante Saldanha.
Flotilha Fluviais:
Dispondo o Brasil de imensas bacias potamográficas, as forças fluviais sempre representaram um
papel importante em nossa concepção estratégica. Em 1940, elas eram assim constituídas:

28
Incluíam-se nesse programa três submarinos adquiridos na Itália (Tupi, Timbira e Tamoio) dois navios hidrográficos (Jaceguai
e Rio Branco), um navio-escola (Almirante Saldanha), três contratorpedeiros (Marcílio Dias, Mariz e Barros e Greenhalgh), dois
monitores (Paraguassu e Parnaíba) e um navio-tanque fluvial (Potengi), entre outros.
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– Flotilha do Amazonas: Canhoneira Amapá e Rebocador Mário Alves.
– Flotilha de Mato Grosso: Monitores Parnaíba, Paraguaçu e Pernambuco; Avisos Oiapoque e
Voluntários; e Navio-Tanque Potengi.
Pode-se perceber, claramente, a vulnerabilidade de nosso Poder Naval para o enfrentamento da
guerra A/S (antissubmarino). Nãopossuíamos sensores adequados, nem adestramento para a luta contra os
submarinos. A doutrina A/S era baseada ainda nas lições apreendidas na Primeira Guerra Mundial, muito
diferente do que vinha ocorrendo nas águas do Atlântico Norte e Mediterrâneo desde 1939.

4.1) A situação em 1940:


Como vimos, no início da década de 1940 o nosso Poder Naval possuía limitações operacionais
importantes. No início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, na Europa, o Brasil contava com praticamente
os mesmos navios da Primeira Guerra Mundial.
A verdade é que não se equipam e treinam forças navais sem verbas condizentes, que eram
seguidamente preteridas pelo governo Getúlio Vargas.
As grandes preocupações do nosso Estado-Maior da Armada eram a defesa de nossa enorme e
desprotegida costa marítima e, fundamentalmente, a proteção das linhas de comunicação, vitais para a
conservação de nossas artérias comerciais com o exterior e para a manutenção das linhas de cabotagem.
Devemos observar que no ano de 1940 esse tipo de transporte era fundamental, pois não existia uma
única comunicação terrestre entre Belém e São Luís, entre Fortaleza e Natal e entre Salvador e Vitória.

5) Segunda Guerra mundial:


5.1) Antecedentes:
Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha foi obrigada a restituir a Alsácia e a Lorena à
França, ceder as minas de carvão, suas colônias, submarinos e navios mercantes. Além disso, deveria pagar
aos vencedores uma indenização em dinheiro, ficando proibida de possuir Força Aérea e de fabricar alguns
tipos de armas. Era proibido também possuir um Exército superior a100 mil homens.
Estas medidas do Tratado de Versalhes atingiram duramente a economia alemã, afligindo seu povo,
que passou a nutrir um sentimento de aversão às principais potências da época. Estavam constituídos os
elementos que os nazistas necessitavam para alcançar o poder. Muitas dessas restrições, sob o comando de
Hitler, começaram a ser ignoradas. A Alemanha crescia e, por isso, necessitava de mercado para os seus
produtos e de colônias onde pudesse adquirir matérias-primas.
Por outro lado, também dispostos a destruírem a ordem colonial vigente, Japão e Itália adotaram, na
década de 1930, uma política expansionista contra a qual a Liga das Nações mostrou-se impotente.
Cobiçando as matérias-primas e os vastos mercados da Ásia, o Japão reiniciou sua investida imperialista em
1931,conquistando a Manchúria, região rica em minérios que pertencia à China. Em outubro de 1935, a
Itália de Mussolini invadiu a Etiópia.Em 1936, a Alemanha nazista começou a mostrar suas intenções
ocupando a Renânia (região situada entre a França e a Alemanha), indo juntar-se à Itália fascista e intervir
na Guerra Civil Espanhola a favor do General Franco. Neste ano de 1936, Itália, Alemanha e Japão
assinaram um acordo para combater o comunismo internacional (Pacto Anti-Comintern), formalizando o
Eixo Roma-Berlim-Tóquio.
Em agosto de 1939, a Alemanha e a União Soviética firmaram entre si um Pacto de Não Agressão,
que estabelecia, secretamente, a partilha do território polonês entre as duas nações. Hitler se sentiu à vontade
para agir, invadindo a Polônia e dando início à Segunda Guerra Mundial, que se alastrou por toda a Europa.

5.2) Início das hostilidades e ataques aos nossos navios mercantes:


A Marinha Mercante brasileira somava 652.100 toneladas brutas de arqueação no início da guerra.
Mesmo pequena e composta de navios antiquados, se comparada com as grandes potências de então, ela
exercia papel fundamental na economia nacional, não só no transporte das exportações brasileiras, mas
também na navegação de cabotagem que mantinha o fluxo comercial entre as economias regionais, isoladas
pela deficiência das nossas redes rodoviárias e ferroviárias.
No decorrer da guerra, foram perdidos por ação dos submarinos alemães e italianos 33 navios
mercantes, que somaram cerca de 140 mil toneladas de arqueação (21% do total) e a morte de 480
tripulantes e 502 passageiros.

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Os primeiros ataques à nossa Marinha Mercante ocorreram quando o Brasil ainda se mantinha neutro
no conflito europeu. Em22 de março de 1941, no Mar Mediterrâneo, o Navio Mercante (NM) Taubaté foi
metralhado pela Força Aérea alemã, tendo sido avariado apesar da pintura em seu costado da Bandeira
Brasileira.Com a entrada dos Estados Unidos da América naquele conflito,os submarinos alemães passaram
a operar no Atlântico ocidental, ameaçando os navios de bandeiras neutras que tentassem adentrar portos
norte-americanos.
A primeira perda brasileira foi o NM Cabedelo, que deixou o porto de Filadélfia, nos Estados
Unidos, com carga de carvão, em14 de fevereiro de 1942. Naquele momento ainda não existia o sistema de
comboios nas Antilhas. O navio desapareceu rapidamente sem dar sinais, podendo ter sido torpedeado por
um submarino alemão ou italiano. Ele foi considerado perdido por ação do inimigo, uma vez que o tempo
reinante era bom e claro.
Seguiu-se o torpedeamento do NM Buarque, em 16 de fevereiro de 1942, pelo Submarino alemão U-
432, comandado pelo Capitão-Tenente Heins-Otto Schultze, a 60 milhas do Cabo Hatteras, quando levava
para os Estados Unidos 11 passageiros, café, algodão, cacau e peles. O navio, do tipo misto, era do Lloyd
Brasileiro, tendo se salvado toda a tripulação de 73 homens.
Em 18 de fevereiro de 1942 foi a vez do NM Olinda,torpedeado pelo mesmo U-432, ao largo da
Virgínia, Estados Unidos. O submarino veio à superfície, mandando o mercante parar, dando ordem de
abandonar o navio. Esperou que todos embarcassem nas baleeiras e, a tiros de canhão, pôs a pique o Olinda.
A tripulação, de 46 homens, foi salva pelo USS Dallas.
Seguiram-se, em 1942, os torpedeamentos dos mercantes Arabutã, em 7 de março; Cairu, em 8 de
o
março; Parnaíba, em 1º de maio; Gonçalves Dias, em 24 de maio; Alegrete, em 1 de junho;Pedrinhas e
Tamandaré, em 26 de junho, todos ocorridos ou na costa norte-americana ou no Mar das Antilhas, área que
os submarinos alemães atuaram no início do envolvimento dos Estados Unidos no conflito,quando ainda
eram precárias as patrulhas antissubmarinas norte-americanas.
A única exceção nesse período foi o NM Comandante Lira,torpedeado no litoral brasileiro, ao largo
do Ceará, pelo Submarino italiano Barbarigo. Foi o único navio a ser salvo, graças ao pronto auxílio dado
pelo Rebocador da Marinha brasileira Heitor Perdigão e por alguns navios norte-americanos.
O NM Barbacena e NM Piave, torpedeados pelo Submarino alemão U-155 ao largo da Ilha de
Trinidad, em 28 de julho de 1942, foram as últimas perdas ocorridas por ação do inimigo enquanto o Brasil
ainda se mantinha formalmente como país neutro.
Em 28 de janeiro de 1942, o Brasil rompeu relações diplomáticas com os países que compunham o
Eixo. A colaboração militar entre o Brasil e os Estados Unidos, que desde meados de1941 já era notória,
intensificou-se com a assinatura de um acordo político-militar em 23 de maio de 1942.
Neste período deslocava-se para o saliente nordestino brasileiro a Força-Tarefa 3 da Marinha norte-
americana, tendo o governo Vargas colocado os portos de Recife, Salvador e,posteriormente, Natal à
disposição das forças norte-americanas.
As atitudes cada vez mais claras de alinhamento do Brasil com os países aliados levaram o Alto
Comando alemão a planejar uma operação contra os principais portos brasileiros.Posteriormente, por ordem
de Hitler, esta ofensiva submarina foi reduzida em tamanho, mas não em intensidade, com o envio de um
submarino ao litoral com ordens para atacar nossa navegação de longo curso e de cabotagem.
No cair da tarde de 15 de agosto de 1942, o Submarino alemão U-507, comandando pelo Capitão-de-
Corveta Harro Schacht, torpedeou o Paquete Baependi, que navegava ao largo da costa de Alagoas com
destino ao Recife. O velho navio foi ao fundo levando 270 almas de um total de 306 tripulantes e
passageiros embarcados, inclusive parte da guarnição do 7º Grupo de Artilharia de Dorso do Exército
Brasileiro que iria reforçar as defesas do Nordeste.
Algumas horas depois, o U-507 encontrou o Paquete Araraquara navegando escoteiro e inteiramente
iluminado e o afundou com dois torpedos, vitimando 131 das 142 pessoas a bordo.
Na madrugada do dia 16, foi a vez do Paquete Aníbal Benévolo,também utilizado nas linhas de
cabotagem.
Em 17 de agosto, na altura do Farol do Morro de São Paulo,ao Sul de Salvador, o U-507 torpedeou o
Paquete Itagiba, que tinha,entre os seus 121 passageiros, o restante do 7º Grupo de Artilharia de Dorso.
Nesse mesmo dia, o NM Arará foi torpedeado quando recolhia náufragos dos primeiros alvos do submarino
germânico.

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A última vítima do Comandante Schacht foi a Barcaça Jacira, pequena embarcação que foi posta a
pique em 19 de agosto.
A ação de cinco dias do submarino alemão U-507 levou a pique seis embarcações dedicadas às linhas
de cabotagem,vitimando 607 pessoas, chocando a opinião pública brasileira elevando o governo a declarar o
estado de beligerância com a Alemanha em 22 daquele mês e, finalmente, o estado de guerra contra esse
país, a Itália e o Japão em 31 de agosto de 1942.
Com comboios organizados ainda de maneira incipiente,foram afundados os navios mercantes
Osório e Lages, em 27 de setembro de 1942, seguindo-se o afundamento do pequeno NM Antonico, que
navegava escoteiro ao largo da costa da Guiana Francesa. Este ataque alemão ficou tragicamente gravado na
mente dos protagonistas, pois o U-516 com sua artilharia metralhou os náufragos nas baleeiras, após o
pequeno navio ter sido posto a pique, matando e ferindo muitos deles. Ainda em 1942, foram perdidos os
NM Porto Alegre e Apalóide.
A organização dos comboios nos portos nacionais, que reuniam navios mercantes da navegação de
longo curso e de cabotagem, escoltados por navios de guerra brasileiros e norte-americanos e a intensa
patrulha antissubmarino empreendida pelas forças aeronavais aliadas levaram a uma drástica diminuição nas
perdas dos navios de Bandeira Brasileira, com oito torpedeamentos, comparados aos 24 ocorridos ao longo
do ano anterior.
Os números da Marinha Mercante brasileira na Segunda Guerra, entre 22/03/1941 a 23/10/1943
foram:
Navios Atacados Nº de Tripulantes Nº de Passageiros Mortos ou Desaparecidos
Total 33 1744 769 982

A maioria dos navios mercantes brasileiros vitimados por submarinos alemães em 1943 navegava
fora dos comboios. O NM Brasilóide navegava escoteiro quando foi torpedeado em 18 de fevereiro de 1943;
já o NM Afonso Pena, indevidamente, abandonou o comboio do qual fazia parte e foi afundado em 2 de
março; o NM Tutóia foi atingido em 20 de junho, também viajando isolado.O NM Pelotaslóide, fretado ao
governo norte-americano para transporte de material bélico, foi afundado na entrada do canal para o Porto
de Belém quando esperava o embarque do prático, estando escoltado por três caça-submarinos da Marinha
brasileira.
O NM Bagé compunha um comboio quando, na tarde de 31 de julho, foi obrigado a seguir viagem
isolado, pois suas máquinas produziam fumaça em demasia, fazendo com que o comboio pudesse ser
localizado por submarinos do Eixo a grandes distâncias, colocando em risco os outros navios comboiados.
Naquela mesma noite foi torpedeado. Os dois últimos torpedeamentos de navios mercantes brasileiros foram
o Itapagé, em 26 de setembro, e o Campos, em 21 de outubro de 1943, todos os dois navegando escoteiros.

6) A Lei de Empréstimo e Arrendamento e modernizações de nossos meios e defesa ativa da costa


brasileira:
Lei de Empréstimo e Arrendamento – Lend Lease – com os Estados Unidos permitia, sem operações
financeiras imediatas, o fornecimento dos materiais necessários ao esforço de guerra dos países aliados. Ela
foi assinada a 11demarço de 1941.
Em acordo firmado a 1º de outubro de 1941, o Brasil obteve, nos termos dessa lei, um crédito de 200
milhões de dólares, o qual, por ordem do presidente da República, coube ao Exército100 milhões e à
Marinha e à Força Aérea 50 milhões cada. Da cota destinada à Marinha, um total de 2 milhões de dólares foi
despendido com o armamento dos navios mercantes.
Ao rompermos relações diplomáticas como Eixo, a Marinha do Brasil desconhecia as novas táticas
antissubmarinas e estava, consequentemente, desprovida do material flutuante e dos equipamentos
necessários para executá-las, como bem mostramos anteriormente.
Os progressos verificados nos entendimentos entre o Brasil e os Estados Unidos, depois dos
torpedeamentos dos primeiros navios na costa leste norte-americana e nas Antilhas, permitiram incluir na
agenda de discussões o fornecimento ao Brasil de pequenas unidades de proteção ao tráfego e de ataque a
submarinos.
Os primeiros navios recebidos pelo Brasil, depois da declaração de guerra, foram os caça-submarinos
da classe G(Guaporé e Gurupi), entregues em Natal, a 24 de setembro de 1942.

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Em seguida, foram incorporados à Marinha do Brasil, em Miami, oito caça-submarinos da classe J
(Javari, Jutaí, Juruá, Juruema, Jaguarão, Jaguaribe, Jacuí e Jundiaí).
No ano de 1943, foram entregues mais seis unidades da classe G (Guaíba, Gurupá,Guajará, Goiana,
Grajaú e Graúna).
Nos anos de 1944 e 1945,mais oito unidades foram entregues, dessa vez os excelentes
contratorpedeiros-de-escolta que já operavam em nossas águas (Bertioga, Beberibe, Bracuí, Bauru,
Baependi,Benevente, Babitonga e Bocaina).
Após o término da guerra na Europa, a Marinha recebeu dos Estados Unidos, a 16 de julho de 1945,
em Tampa, na Flórida,o Navio-Transporte de Tropas Duque de Caxias.
Mais tarde, a cessão desses navios ao Brasil foi tornada permanente, com o compromisso de não os
entregarmos a outros países, sendo então fixado o seu aluguel em 5 milhões de dólares, descontando-se o
que nos era devido pelo arrendamento de navios brasileiros aos Estados Unidos, pela cessão do mercante
misto alemão Windhunk aos norte-americanos e pelos navios perdidos durante a guerra.
Nada se conhece sobre indenizações norte-americanas, em troca das facilidades concedidas à sua
Marinha em nossos portos, nem pelo uso do território nacional para instalação de suas bases aéreas e navais.
Simplesmente, ficamos de posse das benfeitorias realizadas e dos materiais existentes em seus
armazéns.
Quanto às construções navais aqui no Brasil, tivemos a incorporação de contratorpedeiros da classe
M (Mariz e Barros,Marcílio Dias e Greenhalgh) e das Corvetas Matias de Albuquerque,Felipe Camarão,
Henrique Dias, Fernandes Vieira, Vidal de Negreiros e Barreto de Menezes.
Declarada a guerra, foi desenvolvido um trabalho intenso para adaptar nossos antigos navios, dentro
de suas possibilidades, para a campanha antissubmarina. Os seguintes serviços foram executados:
– Cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul: instalados sonar e equipamento para ataques antissubmarino (duas
calhas para lançamento de bombas de profundidade de 300 libras);
– Navios mineiros varredores classe Carioca: reclassificados como corvetas. Retirados os trilhos para
lançamento de minas e instalados sonar e equipamentos para ataques antissubmarino (dois morteiros K e
duas calhas para lançamento de bombas de profundidade de 300 libras);
– Navios Hidrográficos Rio Branco e Jaceguai: mesmas instalações das Corvetas classe Carioca e mais
duas metralhadoras de 20mm Oerlikon;
– Navio-Tanque Marajó: instalado um canhão de120mm na popa e uma metralhadora de 20mmOerlikon;
– Tênder Belmonte: reinstalados dois canhões de120 mm;
– Contratorpedeiros classe Maranhão e restante de classe Pará: instaladas duas calhas para lançamento de
bombas de profundidade de 300 libras; e
– Rebocadores e demais navios-auxiliares, armados com uma ou duas metralhadoras de 20 mm Oerlikon.
Essas aquisições pelo Lend Lease e os aperfeiçoamentos impetrados em nossa Força Naval vieram
aumentar em muito nossa capacidade de reagir de forma adequada aos novos desafios que se afiguravam.
Seria injusto não mencionar que o auxílio norte-americano foi vital para que pudéssemos nos contrapor aos
submarinos alemães.
Além disso, algumas providências de caráter administrativo,de treinamento e modificações materiais
foram se tornando necessárias.
Como primeira medida de caráter orgânico, foram instalados os Comandos Navais, criados pelo
Decreto nº 10.359, de 31 de agosto de 1942, com o propósito de prover uma defesa mais eficaz da nossa
fronteira marítima, orientando e controlando as operações em águas a ela adjacentes, não só as relativas à
navegação comercial, como às de guerra propriamente ditas e de assuntos correlatos. A área de cada
Comando abrangia determinado setor de nossas costas marítimas e fluviais.
Foram instalados os seguintes comandos:
Comando Naval do Norte, com sede em Belém, abrangendo os Estados do Acre, Amazonas, Pará,
Maranhão e Piauí.
Comando Naval do Nordeste, com sede em Recife, abrangendo os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco e Alagoas.
Comando Naval do Leste, com sede em Salvador, abrangendo os Estados de Sergipe, Bahia e Espírito
Santo.
Comando Naval do Centro, com sede no Rio de Janeiro, abrangendo os Estados do Rio de Janeiro e São
Paulo.

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Comando Naval do Sul, com sede em Florianópolis, abrangendo os Estados do Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul.
Comando Naval do Mato Grosso, com sede em Ladário, abrangendo as bacias fluviais de Mato Grosso e
Alto Paraná.
Esses Comandos, ordenando suas atividades conforme a concepção estratégica da guerra no mar (da
preparação logística e do emprego das forças ou outros elementos de defesa nas zonas que lhes eram
atribuídas, e obedecendo às diretrizes gerais estabelecidas pelo Estado-Maior da Armada, a quem se
achavam subordinadas), constituíram uma organização da maior importância na conduta eficaz das
operações navais. Sua existência facilitou o desenvolvimento dos recursos disponíveis nas respectivas áreas
de influência, mobilizando elementos para o apoio logístico e para a defesa local.
O chefe do Estado-Maior da Armada entrou em entendimento com seus colegas do Exército e da
Aeronáutica para organizar um serviço conjunto de vigilância e defesa da costa, tendente a prevenir a
possibilidade de aproximação e desembarque inimigos.

7) Defesas Locais
Desde julho de 1942, por meio da Circular nº 40, do dia 14, em atendimento às Circulares Secretas nº
9 e 33, respectivamente de 22 de janeiro e 12 de junho de 1942, o Estado-Maior da Armada determinou que
se observassem as instruções que orientavam as atividades de cada capitania de porto ou delegacia, em
benefício da Segurança Nacional.
A ação do Estado-Maior da Armada estendeu-se ao serviço de carga e descarga dos navios mercantes
nos portos, tendo, para esse fim, coordenado sua ação com a do Ministério da Viação e Obras Públicas e
com a Comissão de Marinha Mercante. Preocupou-se, também, com as luzes das praias e edifícios próximos
aos portos, ou em regiões que pudessem silhuetar os navios no mar, alvos dos submarinos inimigos.
Imaginava-se que o Alto Comando alemão traçaria planos para realizar ataques maciços aos portos
brasileiros. Em agosto de1942, chegou a ser ventilada pelo Alto Comando Naval alemão a autorização para
investida em nossas águas de vários submarinos. No entanto, somente o U-507 foi designado para operar em
nossas águas. A 20 de agosto de 1943, pela Circular nº 5, o Comando da Força Naval do Nordeste alertou
para a possibilidade de desembarque de elementos isolados, tendo como objetivo realizar atos de sabotagem
contra portos, depósitos, comunicações e outros pontos vitais do território brasileiro.

8) Defesa Ativa:
Na História há numerosos exemplos de navios corsários que surgiram de surpresa diante de um porto
para danificarem suas instalações ou amedrontarem suas populações29. Do ponto de vista militar, os efeitos
dessas incursões são reduzidos, sendo a ação, na maioria das vezes, executada para desorganizar a vida da
localidade e obter efeitos morais.
Com o advento do submarino, o perigo tornou-se maior, com a possibilidade de torpedeamento de
navios surtos nos portos.
Por esses motivos, foi organizada a defesa ativa, atuando em pontos focais da costa, com a finalidade
de repelir qualquer ataque aéreo ou naval inimigo, por meio de ações coordenadas da Marinha de Guerra, do
Exército e da Aeronáutica. Adotaram-se seguintes medidas de defesa ativa adotadas:
Rio de Janeiro – Instalação de uma rede de aço protetora no alinhamento Boa Viagem –
Villegagnon e coordenação do serviço de defesa do porto com as fortalezas da barra. A rede era fiscalizada
por lanchas velozes, e a sua entrada aberta e fechada por rebocadores. O patrulhamento interno cabia aos
navios da chamada Flotilha “João das Bottas” (constituída de navios mineiros e de instrução), rememorando
a flotilha de pequenas embarcações comandada pelo Segundo-Tenente João Francisco de Oliveira Bottas,
que fustigou os portugueses encastelados em Salvador e na Baía de Todos os Santos na Guerra de
Independência.
Externamente, ou onde fosse necessário, atuavam os antigos contratorpedeiros classe Pará, oriundos
do programa de reaparelhamento naval de 1906, recebidos em 1910, com mais de30 anos de intensa
operação. A responsabilidade da defesa ficou afeta ao Comando da Defesa Flutuante, subordinado ao
Comando Naval do Centro.

29
Um desses exemplos foi Duguay-Trouin em 1711, na Baía de Guanabara.
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Em junho de 1944, afastado o perigo de um ataque de submarinos aos navios surtos no porto,
suspendeu-se a patrulha externa feita pelos veteranos contratorpedeiros, sendo mantida apenas a vigilância
interna, a cargo de um rebocador portuário.
Um especialista norte-americano, o Tenente Jacowski, estabeleceu planos para a utilização de boias
de escuta submarina,a serem adotadas de acordo com as necessidades. Em julho de1943, teve início o
serviço de varredura de minas do canal da barra,realizada pelo USS Flincker, substituído mais tarde pelo
USS Linnet. Observamos aí, mais uma vez, o auxílio direto norte-americano ao nosso plano de defesa local;

Recife – O Encouraçado São Paulo, amarrado no interior do arrecife, provia a defesa da artilharia e
supervisionava a rede antitorpédica. A varredura de minas era feita por navios mineiros varredores norte-
americanos. Estava estacionado no Recife um grupo de especialistas em desativação de minas, as quais, por
vezes, davam à costa, sendo estudadas cuidadosamente antes de serem destruídas.
As minas encontradas à deriva eram destruídas pelos navios de patrulha com tiros de canhão. O
Terceiro Grupamento Móvel de Artilharia de Costa e o Segundo Grupo do Terceiro Regimento de Artilharia
Antiaérea do Exército coordenavam-se com os elementos da Marinha, o que permitia uma cobertura
completa da costa;

Salvador – A defesa principal do porto cabia ao Encouraçado Minas Gerais, com sua artilharia
controlada em conjunto com as baterias do Exército, situadas na Ponta de Santo Antônio e na Ilha de
Itaparica. Em abril de 1943, os Monitores Parnaíba e Paraguaçu foram movimentados de Mato Grosso para
Salvador, por solicitação do Comandante Naval do Leste. Depois de sofrerem algumas modificações no Rio
de Janeiro (em especial no armamento), ficaram em condições de operar na Baía de Todos os Santos.
Aparelhos de radiogoniometria de alta frequência cruzavam as marcações com equipamentos
semelhantes no Recife, a fim de localizar submarinos;

Natal – Os serviços de proteção do porto estavam a cargo do Comando da Base Naval de Natal.
Também eram acionadas unidades do Exército (que mantinham baterias na barra) e da Força Aérea
Brasileira;

Vitória – A proteção do porto ficou entregue ao Exército, havendo a Marinha cedido alguns canhões
navais de 120mm para artilhar a barra;

Ilhas oceânicas – Na Ilha da Trindade foi estacionado um destacamento de fuzileiros navais, em 20


de março de 1942, levado pelo Navio-Transporte José Bonifácio.
A defesa do Arquipélago de Fernando de Noronha, situado em ponto focal no Atlântico, ficou
entregue ao Exército, que o artilhou fortemente, levando contingentes em comboios escoltados por navios da
Marinha. A ocupação se deu logo depois que o Brasil rompeu relações diplomáticas com o Eixo, sendo o
primeiro grupo de militares transportados, junto com material de guerra, em um comboio, em 15 de abril de
1942;

Santos – Os Rebocadores São Paulo (eram dois com o mesmo nome, sendo um chamado de iate)
foram artilhados; outras embarcações menores requisitadas faziam serviço de vigilância;

Rio Grande – Foi artilhado o Rebocador Antonio Azambuja. Como reforço às defesas locais, foram
criadas Companhias Regionais do Corpo de Fuzileiros Navais em Belém, Natal, Recife e Salvador.
Ao se lembrar da participação da Marinha na Segunda Guerra Mundial, a primeira imagem que surge
é a conhecida Força Naval do Nordeste. Como era afinal a sua composição e tarefas?

9) A Força Naval do Nordeste:


A missão da Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial foi patrulhar o Atlântico Sul e proteger
os comboios de navios mercantes que trafegavam entre o Mar do Caribe e o nosso litoral sul contra a ação
dos submarinos e navios corsários germânicos e italianos.
A capacidade de combate da Marinha do Brasil no alvorecer do conflito era modesta se comparada
com as grandes Esquadras em luta no Atlântico Norte e no Pacífico. O nosso pessoal e nossos meios não

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estavam preparados para se engajar com o inimigo oculto sob o mar, que assolava o transporte marítimo em
nosso litoral.
Ingressaríamos em uma guerra antissubmarina sem equipamentos para detecção e armamento
apropriados, porém este obstáculo não impediu que navios e tripulações estivessem patrulhando nossas
águas, mesmo antes do envolvimento oficial do governo brasileiro no conflito, apesar de todos os perigos.
A criação da Força Naval do Nordeste, pelo Aviso nº 1.661,de 5 de outubro de 1942, foi parte de um rápido
e intenso processo de reorganização das nossas forças navais para adequar-se à situação de conflito. Sob o
comando do Capitão-de-Mar-e-Guerra Alfredo Carlos Soares Dutra, a recém-criada força foi inicialmente
composta pelos seguintes navios: Cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul, Navios Mineiros Carioca,
Caravelas, Camaquã e Cabedelo (posteriormente reclassificados como corvetas) e os Caça-Submarinos
Guaporé e Gurupi.
Ela seria posteriormente acrescida do Tênder Belmonte, caça-submarinos, contratorpedeiros-de-
escolta, contratorpedeiros classe M,submarinos classe T, constituindo-se na Força-Tarefa 46 da Força do
Atlântico Sul,reunindo a nossa Marinha sob o comando operacional da 4ª Esquadra Americana.
A atuação conjunta com os norte-americanos trouxe novos meios navais e armamentos adequados à
guerra antissubmarina, bem como proporcionou treinamento para o nosso pessoal.
O combate, porém, nos custou muitas vidas. As perdas brasileiras na guerra marítima somaram 31
navios mercantes e três navios de guerra, tendo a Marinha do Brasil perdido 486homens. Nesse ponto seria
interessante descrever em maiores detalhes as perdas de nossas unidades de combate durante a Batalhado
Atlântico.
A primeira perda da Marinha de Guerra foi a do Navio-Auxiliar Vital de Oliveira, torpedeado por
submarino alemão pelo través do Farol de São Tomé, em 19 de julho de 1944. Às 23h55min,foi sentida forte
explosão na popa, abrindo grande rombo, por onde começou a entrar água em enormes proporções. Segundo
algumas testemunhas, o afundamento do navio deu-se em apenas três minutos. A maior parte dos
sobreviventes foi resgatada no dia seguinte por um barco pesqueiro e por outros dois navios da Marinha, o
Javari e o Mariz e Barros. Morreram nesse ataque 99 militares.
Quarenta e oito horas após o torpedeamento do Vital de Oliveira, a cerca de 12 milhas a nordeste da
barra de Recife,perdeu-se a Corveta Camaquã, afundada devido a violento mar.Discutem-se até hoje os
motivos que levaram esse navio a seu afundamento. O Comandante Antônio Bastos Bernardes,sobrevivente
do sinistro,afirmou alguns anos após esse acidente que o emborcamentos e deu por “fortuna do mar”.Seja
como for, pereceram nessa oportunidade 33 pessoas.
Por fim, o pior desastre enfrentado pela Marinha durante a Segunda Guerra Mundial foi a perda do
Cruzador Bahia, no dia 4de julho de 1945. Essa tragédia foi exacerbada pelo conhecimento dos terríveis
sofrimentos dos náufragos, abandonados no mar durante muitos dias, por incompreensível falha de
comunicações.
Três infortúnios e cerca de 486 mortos, incluindo os falecidos em outros navios e em navios
mercantes afundados, mais que os mortos brasileiros em combate na Força Expedicionária Brasileira que
lutou na Itália.
Pouco discutida é a atuação da Quarta Esquadra Norte-Americana, subordinada ao Vice-Almirante
Jonas Ingram. Figura notável que teve o mérito de congregar forças heterogêneas em um comando
unificado, eficiente e coeso, auxiliado pelos Almirantes Oliver Read e Soares Dutra, comandantes das
principais forças-tarefas.
Essa força norte-americana compreendeu, em seu maior efetivo, seis cruzadores, 33
contratorpedeiros, diversas esquadrilhas de patrulha, bombardeiros e dirigíveis, além de caça-
submarinos,patrulheiros, tênderes, varredores, auxiliares e rebocadores.
Um dos principais pontos desse relacionamento Brasil–Estados Unidos foi a integração operacional
entre as duas Marinhas. Foram aperfeiçoados procedimentos comuns e táticas eficazes na luta
antissubmarina.
Em 7 de novembro de 1945, concluída a sua missão, a Força Naval do Nordeste regressou ao Rio de
Janeiro em seu último cruzeiro, tendo contribuído para a livre circulação nas linhas de navegação do
Atlântico Sul.

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10) E o que ficou?:
Não se pode analisar a participação da Marinha de Guerra brasileira na Segunda Guerra Mundial sem
apontar alguns dados que delimitam todo o seu esforço para manter nossas linhas de comunicação abertas.
Foram comboiados cerca de 3.164 navios, sendo 1.577brasileiros e 1.041 norte-americanos, em 575
comboios.Considerando esse número de navios e as perdas em comboios,chegamos à conclusão de que
cerca de 99,01% dos navios protegidos atingiram os seus destinos.
Foram percorridos pelos navios de escoltas, sem contar os zigue-zagues realizados para dificultar a
detecção submarina e o tiro torpédico,um total de 600.000 milhas náuticas, ou seja, 28 voltas em redor da
Terra pelo Equador.
A Esquadra americana comboiou no Atlântico 16 mil navios, o que corresponde a 16 mercantes por
cada navio de guerra. A Marinha do Brasil comboiou mais de três mil navios, o que corresponde a 50
mercantes por cada navio de guerra brasileiro.
Foram atacados 33 navios mercantes brasileiros, com um total de 982 mortos ou desaparecidos na
Marinha Mercante. Em tonelagem bruta, foram perdidos 21,47% da frota nacional.
O navio de guerra que mais tempo passou no mar foi o Caça-Submarinos Guaporé, num total de 427
dias de mar, em pouco mais de três anos de operação, o que perfez uma média anual de 142 dias de mar.
O navio que participou no maior número de comboios foi a Corveta Caravelas, com 77 participações.
Com todos esses dados, o que efetivamente significou para a nossa Marinha de Guerra a sua participação no
conflito mundial?
A primeira conclusão a que se pode chegar é a que adquirimos maior capacidade para controlar áreas
marítimas e maior poder dissuasório. No entanto, deve ser admitido que tal situação foi fruto do auxílio
norte-americano. Se estivéssemos sozinhos nessa empreitada, poderíamos ficar em situação delicada,
principalmente na manutenção de nossas linhas de comércio marítimo.
A segunda conclusão aponta para uma mudança de mentalidade na Marinha, com a assimilação de novas
técnicas de combate e a incorporação de meios modernos para as forças navais. Essa mudança de
mentalidade fez a Marinha tornar-se bem mais profissional.
A terceira foi a oportunidade de a Marinha “sentir o odor do combate”, participar de ações de guerra
e adquirir experiências da refrega, das adversidades, do medo e da dor com a perda de navios e
companheiros. Essa experiência de combate foi fundamental para forjar os futuros almirantes, oficiais e
praças da Marinha, acostumados com a vida dura da guerra antissubmarina e da monotonia e do estresse dos
comboios.
A quarta conclusão é a percepção de que a logística ocupa lugar de importância na manutenção de
uma força combatente operando eficientemente. Esse tipo de percepção refletiu-se na construção da Base
Naval de Natal e outros pontos de apoio logístico do nosso litoral. Nisso os Estados Unidos foram os
grandes mestres.
A quinta foi a nossa aproximação com os norte-americanos. Essa associação nos alinhou diretamente
com suas doutrinas e com uma exacerbada ênfase na guerra antissubmarina. Essa percepção só foi mudada a
partir da denúncia, em 1977, do Acordo Militar assinado com esse país em 1952. Com esta denúncia,
optamos por uma tecnologia relativamente autóctone.
E, por fim, a guerra no mar mostrou-nos que, no caso do Brasil, em uma conflagração generalizada,
as nossas linhas de comunicação serão os alvos prioritários em nossa defesa, pois ainda somos dependentes
do comércio marítimo.

CRONOLOGIA
DATA EVENTO
Jul/1904 Apresentação na Câmara dos Deputados do programa de reaparelhamento naval do Almirante
Júlio de Noronha pelo Deputado Laurindo Pitta.
Nov/1906 Aprovação do programa de reaparelhamento naval do Almirante Júlio de Noronha
modificado pelo Almirante Alexandrino de Alencar.
Ago/1914 Começa a Primeira Guerra Mundial.
17/01/1917 A Alemanha estabelece bloqueio sem restrições ao comércio marítimo com os Aliados.
11/04/1917 Rompimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a Alemanha.
26/10/1917 Declaração de guerra entre o Brasil e a Alemanha.
01/08/1918 DNOG suspende de Fernando de Noronha com destino à África.

72
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza
09/11/1918 Termina a Primeira Guerra Mundial.
09/06/1919 DNOG regressa ao Rio de Janeiro.
01/09/1939 Começa a Segunda Guerra Mundial.
11/03/1941 Assinatura da Lei de Empréstimos e Arrendamentos – Lend Lease – com os Estados Unidos
da América.
28/01/1942 Brasil rompe relações diplomáticas com os países do Eixo.
31/08/1942 Declaração de guerra entre o Brasil e a Alemanha – Criação dos Comandos Navais na costa
brasileira e Mato Grosso.
05/10/1942 Criação da Força Naval do Nordeste.
19/07/1944 Torpedeamento do Navio-Auxiliar Vital de Oliveira no través do Farol de São Tomé.
21/07/1944 Afundamento da Corveta Camaquã próximo a Recife.
08/05/1945 Termina a Segunda Guerra Mundial.
04/07/1945 Afundamento do Cruzador Bahia entre o Nordeste e a África.
07/11/1945 A Força Naval do Nordeste regressa ao Rio de Janeiro.

73
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza
Capítulo IX
1) O Emprego Permanente do Poder Naval:
1.1) O Poder Naval na guerra e na paz:
Sem o Poder Naval não haveria este Brasil que herdamos de nossos antepassados. Conforme se
verifica neste livro, o Poder Naval português, por algum tempo o luso-espanhol, e, mais tarde,após a
Independência, o brasileiro, foram empregados com a violência necessária nos conflitos e nas guerras que
ocorreram no passado. Toda vez que alguém utilizou a força para impor seus próprios interesses encontrou a
oposição de um Poder Naval que defendeu com eficácia o território e os interesses que possibilitaram a
formação do Brasil.
Cabe observar que, em geral, o que qualquer nação mais deseja é a paz. Mesmo os países que
promoveram as guerras do passado queriam alcançar a paz. A paz, porém, da forma que desejavam,
impondo aos outros o que lhes convinha.
A Alemanha mandou seus submarinos afundarem os navios mercantes brasileiros porque não queria
que o Brasil, apesar de ser ainda neutro na Segunda Guerra Mundial, continuasse a fornecer matérias-primas
para seus inimigos. Algumas dessas matérias-primas eram muito importantes para o esforço de guerra deles.
O interesse do Brasil era continuar comerciando com quem desejasse e transportando as mercadorias
livremente em seus navios, mas isto não era bom para os alemães, que precisavam vencer a guerra para
alcançar a paz da forma que desejavam, o mais breve possível. Na paz que a Alemanha queria, suas
conquistas territoriais deveriam ser reconhecidas pelos outros países e sua expansão, julgada por ela
importante para o futuro dos alemães, imposta aos povos vencidos.
A guerra resulta de conflitos de interesses. Ela ocorre porque não há um árbitro supremo para
resolver completamente as questões entre os países. Existem organizações internacionais, como a
Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA), por exemplo, que
muito ajudam para evitar a violência e manter essas questões no campo da diplomacia. Verifica-se, no
entanto, que o poder delas é limitado, porque as nações são ciosas de sua soberania. Cada país precisa se
precaver, cuidando da defesa de seus interesses, para que os outros nunca pensem em empregar meios
violentos para resolver os conflitos.
Não seria lógico pensar que alguém possa empregar a
violência sem que imagine ter uma boa probabilidade de
êxito, sofrendo apenas perdas aceitáveis. Cabe ao Poder
Militar de um país – do qual o Poder Naval é também um dos
componentes – criar permanentemente uma situação em que
seja inaceitável, para os outros, respaldar seus interesses
conflitantes com o emprego de força. Isto é, o nosso Poder
Militar deve permanentemente dissuadir os outros países de
usar a violência e é, consequentemente, o guardião da paz –
daquela paz que nos interessa, evidentemente.
No caso do Brasil, por exemplo, na paz que
desejamos, a Amazônia é território nacional; o comércio
internacional deve ser livre, assim como o uso do transporte
marítimo nas rotas de nosso interesse; a maior parte do
petróleo continua sendo extraída do fundo do mar, sem
ingerências de outros países; a enorme área compreendida
pela Zona Econômica Exclusiva e pela Plataforma
Continental brasileira, chamada de Amazônia Azul30, é
controlada pelo País; não ocorrem exigências anormais no
pagamento de nossa dívida externa; entre outras coisas. A
dissuasão é, portanto, uma das principais formas de emprego

30
A Amazônia Azul é a área marítima costeira compreendida pela Zona Econômica Exclusiva (ZEE) – uma faixa de 200 milhas
de extensão, contadas a partir da linha de baixa-mar – e a Plataforma Continental (PC), onde existir – uma extensão do território
continental que se prolonga mar adentro. Essa PC, representada na figura azul mais escuro e após a ZEE (azul mais claro), foi
reivindicada junto à ONU e foi levantada em trabalho conjunto da Marinha, Petrobras e universidades lideradas pela MB.
Aceita integralmente a proposta brasileira, nossas águas costeiras abrangerão uma área um pouco inferior à Amazônia Legal, daí
ser chamada de Amazônia Azul.
74
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza
permanente do Poder Militar em tempo de paz, existindo outras, como veremos adiante.
Na paz, ou no que se denomina paz no mundo, o confronto entre os países, resultante de conflitos de
interesses, ocorre evitando, ao máximo, o uso da violência, porém, disputando politicamente,
economicamente e em todas as outras manifestações da potencialidade nacional. Nesse contexto, o potencial
ofensivo intrínseco dos instrumentos do Poder Militar faz com que seu emprego, mesmo indireto, possa
excitar reações em países observadores. Tais reações podem simplesmente resultar de excitação acidental ou
refletir resultados intencionalmente desejados por quem exerce esse emprego indireto do Poder Militar,
chamado de persuasão armada.
Como a paz é relativa, a persuasão armada não exclui nem o uso da força, de maneira limitada, desde
que entendido como simbólico pelo país agredido. As grandes potências internacionais, como os Estados
Unidos da América, a Rússia e outros utilizam permanentemente seus poderes militares.
Dos componentes do Poder Militar, o Poder Naval pode ser empregado para exercer persuasão
armada, em tempo de paz, no que se denominou, na década de 1970, de “emprego político do Poder Naval”.
Ele pode ser empregado em condições inigualáveis com outros poderes militares, graças a seus atributos de:
mobilidade, versatilidade de tarefas, flexibilidade tática, autonomia, capacidade de projeção de poder e
alcance geográfico– que já foram referidos no primeiro capítulo deste livro. Concorre para isso o conceito de
liberdade dos mares, que possibilita aos navios de guerra se deslocar livremente em águas internacionais,
atingindo locais distantes e lá permanecendo, sem maiores comprometimentos, em tempo de paz.
Antes da invasão do Afeganistão em outubro de 2001, por exemplo, os americanos deslocaram para
águas internacionais, próximas do local do conflito, uma poderosa força naval. Influíam assim nos países da
região, sinalizando apoio aos aliados, dissuadindo as ações dos que lhes eram hostis e favorecendo o apoio
dos indecisos, em suma, criando intencionalmente uma variedade de reações.
O sentido indireto da palavra persuasão é significativo, pois é através da reação dos outros que ela se
manifesta. Então, é essencial que eles percebam o emprego das forças navais, modificando seu ambiente
político e, consequentemente, afetando suas decisões, por se sentirem apoiados, dissuadidos ou mesmo
compelidos a uma reação específica. Exerce-se, portanto, a persuasão armada estimulando resultados que
dependem de reações alheias, políticas e/ou táticas, às vezes conflitantes e em princípio imprevisíveis.
Existe sempre a possibilidade de se configurarem situações inesperadas, até pelo resultado, nãointencional,
da excitação de terceiros. Daí a importância de uma permanente avaliação em qualquer ação de emprego
político do Poder Naval.

1.2) Classificação:
Os tipos de persuasão naval, específicos do emprego do Poder Naval em tempo de paz, classificados
quanto aos modos em que os efeitos políticos se manifestam são:
– sustentação;
– dissuasão31;
– coerção32.
Na sustentação e na dissuasão, a persuasão33 se manifesta comportamentalmente em termos de se
sentir apoiado ou contrariado em suas intenções, de acordo com o próprio significado dos termos
empregados. Os aliados se sentem apoiados e quem é hostil se sente inibido de agir, portanto, dissuadido.
A coerção, por sua vez, pode ser positiva ou compelente, quando a uma ação já iniciada é forçada uma
determinada linha de ação, modificando-a, ou negativa, também chamada de deterrente, quando inibe uma
determinada atitude, impedindo que seja tomada.
Na crise da década de 1960, chamada de Guerra da Lagosta, por exemplo, a França enviou navios de
guerra, em tempo de paz, para proteger seus barcos de pesca, que capturavam lagostas na plataforma
continental brasileira. O governo brasileiro determinou que diversos navios da Marinha do Brasil se
dirigissem para o local da crise, mostrando que o País estava disposto a defender seus direitos, se necessário
com o emprego da força. Logo os navios franceses retornaram e o conflito de interesses voltou para o campo
da diplomacia – de onde nunca deveria ter saído. A persuasão naval exercida pelo emprego do Poder Naval
brasileiro foi de coerção deterrente, porque inibiu o apoio que intencionalmente os franceses pretendiam dar
a seus barcos de pesca.

31
Dissuadir – desestimular a ação contrária aos interesses.
32
Coerção deterrente – a ação fez com que o oponente desistisse de sua atitude.
33
Persuadir – levar (alguém ou a si mesmo) a acreditar, a aceitar ou a decidir (sobre algo); convencer (-se).
75
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza
No passado, muitas vezes as nações detentoras de Poder Naval utilizaram seus navios de guerra e
forças navais com o propósito de sustentação ou de dissuasão. A simples existência de um Poder Naval
preparado para a guerra pode fazer com que aliados se sintam apoiados em suas decisões políticas nas
relações internacionais e inimigos sejam dissuadidos de suas intenções agressivas.
Evidentemente, os efeitos da persuasão armada podem se manifestar em diferentes níveis de
intensidade. A relação entre as forças empregadas para a persuasão naval e a intensidade dos efeitos que elas
estimulam não é nem direta nem proporcional. A resultante final da persuasão depende da integração das
inibições e incitações provocadas pela ameaça ou apoio, que são, por sua vez, função de decisões tomadas
sob pressões políticas, condicionadas por fatores psicossociais e culturais e pela interação entre os líderes e a
opinião pública. A percepção, portanto, além de relativa, é essencial à análise da persuasão.

2) A percepção do Poder Naval:


Como toda percepção, a do Poder Naval depende das capacidades que são visíveis ao observador.
Esse observador está embebido num contexto político, doméstico, regional e internacional, que não apenas
molda suas reações, como também influi na própria percepção.
Enquanto numa guerra preponderam as qualidades reais dos meios empregados, que decidem os
resultados das ações militares, em situação de paz ou conflitos de natureza limitada, as ameaças são medidas
em termos de previsões e comparações. Essas previsões se baseiam nos dados quantitativos e qualitativos ao
alcance do observador, de sua capacidade de perceber, portanto.
Os países desenvolvidos têm, em geral, maior capacidade para avaliar as verdadeiras ameaças
resultantes do Poder Militar, inclusive do Poder Naval, que é um de seus componentes. Sabem utilizar seus
meios de comunicação para divulgar notícias que valorizam a capacidade de seus armamentos. O mesmo
não ocorre com países em desenvolvimento, que podem até ter sua percepção bastante influenciada por essas
notícias, tendo em vista suas próprias limitações de análise. Consequentemente, as avaliações das forças
navais podem levar a conclusões bastante distorcidas em relação à capacidade real em combate, mas, em
tempo de paz, são estas avaliações subjetivas que importam e que produzem resultados.
São “invisíveis” aos leigos em guerra naval, por exemplo, a complexidade sistêmica dos navios
modernos, necessárias às respostas rápidas e eficazes, quando em combate. Por outro lado, são “visíveis” os
mísseis, os canhões e o próprio porte e aspecto externo do navio.Na realidade, é importante que o navio
tenha suficiente flexibilidade para possibilitar seu emprego político, mas a função política de tempo de paz
não deve levar à preparação de um Poder Naval apenas aparente.
O prestígio de uma Marinha sempre foi um dos atributos mais importantes para a percepção do Poder
Naval. O prestígio está principalmente baseado nas capacidades “visíveis” e pode levar a necessidade de
demonstrar permanente superioridade. A Marinha Real da Grã-Bretanha, por exemplo, durante a época em
que dominava os mares, fazia questão de manter o seu prestígio.O Cruzador russo Askold, por exemplo, era
o único navio de cinco chaminés do mundo e, em 1902, visitou o Golfo Pérsico.Sua visita causou profunda
impressão, devido à percepção de potência mecânica que o número de chaminés transmitia. Em resposta, os
britânicos desviaram o Cruzador HMS Amphritite para Mascate (capital de Omã). Para eles, a disputa de
prestígio com a Rússia no Oriente era importante. Seu comandante providenciou mais duas chaminés de
lona para seu navio, totalizando seis e restaurando o prestígio local da Marinha Real.
Possivelmente, a percepção mais importante do emprego político de uma força naval não está na
aparência da força em si, nem no prestígio da Marinha a que pertence, mas na percepção do quanto é
realmente importante o objetivo pretendido para quem aplica a persuasão armada. A disposição de usar a
força e de sofrer as perdas consequentes deste ato é essencial e deve ser claramente perceptível. A percepção
da capacidade de alcançar o objetivo pela força também é muito importante. Pode ocorrer que não exista
essa capacidade, ou que não se possa alcançar o objetivo sem um sacrifício superior ao seu valor, ou basta
que assim seja avaliado pelo país alvo, para que os resultados não sejam atingíveis através do emprego
político do Poder Naval.
É interessante observar que, atualmente, os mísseis ar-superfície e superfície-superfície colocaram
países relativamente fracos em condições de causar danos consideráveis a uma força naval próxima a suas
costas. Tal fato, porém, não impede que uma força naval possa exercer persuasão, porque não é sua
capacidade absoluta que importa, mas sim o que ela significa como representante do Poder Naval e da
vontade de seu país de alcançar o objetivo suportando as perdas prováveis, se tal for assim percebido.

76
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza
Na crise provocada pelos mísseis que a União Soviética pretendia instalar em Cuba, em 1962, a
Marinha dos Estados Unidos mostrou determinação suficiente para que os soviéticos decidissem que os
navios que transportavam os mísseis deveriam regressar.Foi portanto uma ação de coerção deterrente do
emprego político do Poder Naval americano, pois modificou uma ação que já estava em andamento, em face
de terem percebido que os americanos estavam dispostos a usar a força para não ter seu território ao alcance
dos mísseis de Cuba.
Considerando o conflito pela posse das Ilhas Falklands/Malvinas, em 1982, os argentinos deixaram
de ser dissuadidos pelo Poder Naval britânico e invadiram as ilhas, porque julgaram que o valor daquelas
ilhas não compensava o esforço de projetar o poder da Marinha da Grã-Bretanha àquela distância no
Atlântico Sul, em face das perdas humanas e materiais que provavelmente teria. Por seu turno, a ocupação
militar das ilhas falhou porque o governo britânico levou a questão ao ponto de defesa da honra do Reino
Unido.
O ambiente doméstico do país que é alvo da persuasão é básico no contexto político das decisões que
governam sua eficácia. É fundamental que os líderes desse país aceitem serem persuadido se até cooperem,
servindo de intermediários com a opinião pública, para que o objetivo da persuasão seja considerado uma
necessidade imposta e a atitude tomada como pragmática.

3) O emprego permanente do Poder Naval:


A teoria do emprego político do Poder Naval mostra a possibilidade do uso permanente das forças
navais em tempo de paz, em apoio aos interesses de uma nação. Isso é verdade tanto para os países
desenvolvidos quanto para os países em desenvolvimento e a intensidade e tipos de emprego são apenas
funções do ambiente regional onde se situam e das vulnerabilidades que possuem.
Para os países mais pobres, o armamento moderno possibilita condições excepcionais, em relação ao
passado. O conflito das Falklands/Malvinas, em 1982, apesar do desfecho desfavorável à Argentina, é um
exemplo que não pode deixar de ser citado, porque poderia, até, ter outro resultado, se houvesse submarinos
argentinos eficazes e suficientes.
Táticas podem ser descritas para a persuasão naval. Essas táticas são as diversas formas de emprego
das forças navais para alcançarem resultados políticos em tempo de paz. Elas são:
· demonstração permanente do Poder Naval;
· posicionamentos operativos específicos;
· auxílio naval;
· visitas operativas a portos; e
· visitas específicas de boa vontade.
A demonstração permanente do Poder Naval permite, através de ações como deslocamentos e
manobras com forças, inclusive estrangeiras, participação em missões de paz da Organização das Nações
Unidas; reforços e reduções de nível de forças; aumento ou redução da prontificação para combate; e obter
efeitos desejados como: aumentar a intensidade da persuasão;desencorajar; demonstrar preocupação em
crises entre terceiros;exercer coerção ou apoio de maneira limitada ou restrita, entre outros.
Os posicionamentos operativos específicos, situando navios, ou forças navais, próximo a um local de
crise constituem apenas um caso especial da demonstração permanente e as ações podem ser semelhantes.
O auxílio naval inclui a instalação de missões navais, o fornecimento de navios e o apoio de
manutenção.
As visitas a portos estrangeiros, para reabastecimento, descanso das tripulações, ou mesmo,
específicas de boa vontade,no que se denomina “mostrar a bandeira”, podem transmitir a imagem do
prestígio da Marinha, aumentando a influência e acumulando vantagens psicossociais sobre o país visitado.
O Poder Naval brasileiro é empregado em tempo de paz de diversas maneiras, podendo-se destacar:
– as operações com Marinhas aliadas, como a Operação Unitas, com a Marinha dos Estados Unidos
e de países sul-americanos; a Operação Fraterno, com a Armada da República Argentina; e muitas
outras;
– a participação em diversas missões de paz, transportando as tropas ou através de seus fuzileiros
navais, como em São Domingos, Angola, Moçambique, Nicarágua e Haiti;
– e as viagens de instrução do navio-escola e as visitas a portos estrangeiros, “mostrando a bandeira”.

77
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza
Cabe também ressaltar o apoio que a Marinha do Brasil presta a outras Marinhas aliadas, na América
do Sul e no continente africano.
A análise do passado demonstra a necessidade do emprego permanente do Poder Naval. Para o
Brasil, é importante manter um Poder Naval capaz de inibir interesses antagônicos e de conservar a paz
como desejada pelos brasileiros.

Bibliografia:
BITTENCOURT, A. de S.; LOUREIRO, M.J.G.; RESTIER JÚNIOR, R.J.P.. In. Revista Navigator. V.
7/N.13. Rio de Janeiro, jun/2011. pp. 76-82.
BITTENCOURT, A. de S. Introdução à História Marítima Brasileira. Rio de Janeiro: Serviço de
Documentação da Marinha, 2006.
VIDIGAL, A.A.F. A Evolução tecnológica no setor naval na segunda metade do século XIX e as
consequências para a Marinha do Brasil. In. Revista Marítima Brasileira. V. 120/N.10- 12. Rio
de Janeiro, out/dez 2000. pp. 131-197.

78
Armando de Senna Bittencourt, Marcello José Gomes Loureiro & Renato Jorge Paranhos Restier Junior

Jerônimo de Albuquerque e o
comando da força naval contra os
franceses no Maranhão
Armando de Senna Bittencourt
Vice-Almirante (EN-Refo), graduado em Ciências Navais pela Escola Naval, em Engenharia Naval pela Universi-
dade de São Paulo e mestre em Arquitetura Naval pela Universidade de Londres. É autor de diversos artigos pu-
blicados em livros sobre História. Atualmente é sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Instituto
de Geografia e História Militar do Brasil e sócio correspondente de institutos de História no exterior. É o Diretor
do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha e Vice-Presidente do Comitê Internacional dos Museus
e das Coleções de Armas e de História Militar (ICOMAM) e do Conselho Internacional de Museus (ICOM).
Marcello José Gomes Loureiro
Doutorando e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (PPGHIS-UFRJ). Concluiu os Cursos de Especialização em História Militar Brasileira (UNIRIO) e
em História do Brasil (UFF); é bacharel e licenciado em História (UERJ) e bacharel pela Escola Naval, com
habilitação em Administração.
Renato Jorge Paranhos Restier Junior
Historiador e mestre em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Primeiro-Tenente
do Quadro Técnico Temporário da Marinha, Encarregado da Divisão de Pesquisas Históricas da Diretoria do
Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha. Sócio Honorário do Instituto de Geografia e História Mili-
tar do Brasil – IGHMB – e pesquisador associado do Laboratório de Estudos das Diferenças e Desigualdades
Sociais – LEDDES/UERJ.

Resumo Abstract

Este artigo analisa a trajetória de Jerônimo de This paper analyzes the history of Jerônimo de
Albuquerque, que comandou uma força naval Albuquerque, who commanded a naval force
contra os franceses que se instalaram no Mara- against the French who occupied Maranhão
nhão em 1612, liderados por Daniel de La Touche, in 1612, led by Daniel de La Touche, Lord of La
Senhor de La Ravardière. Ravardière.

Palavras-Chave: Jerônimo de Albuquerque, Keywords: Jerônimo de Albuquerque,


conquista do norte, Antigo Regime conquest of the north, Ancién Regime

O braço invicto vejo com que amansa


A dura cerviz bárbara insolente,
Instruindo na Fé, dando esperança
Do bem que sempre dura e é presente;
Eu vejo c`o rigor da tesa lança
Acossar o Francês, impaciente
De lhe ver alcançar uma vitória
Tão capaz e tão digna de memória.1
1
Cf. TEIXEIRA, Bento. Prosopopeia, estrofe XXVIII, 1601. Bento Teixeira é considerado o primeiro escritor barroco da
língua portuguesa.

76
Navigator 13 Jerônimo de Albuquerque e o comando da força naval contra os franceses no Maranhão

Estes versos de Bento Teixeira, escritos esposa. Foi apelidado de “Adão Pernambuca-
em 1601, apresentam dois enormes desa- no”, por sua notável contribuição para a ele-
fios aos portugueses que iniciavam a ocu- vada frequência do sobrenome Albuquerque
pação e conquista do Norte do futuro Brasil no País.3 Ao que parece, contudo, Jerônimo
na virada do século XVI para o XVII. Primei- de Albuquerque não recebeu do rei as re-
ro, era preciso “amansar” a população indí- compensas pretendidas.4
gena, “bárbara e insolente”, a partir de sua Dos muitos filhos de Jerônimo de Albu-
cristianização. Em segundo lugar, fazia-se querque, o Jerônimo, filho da índia e neto do
necessário “acossar o francês”, “com o rigor morubixaba Arcoverde, foi o que mais se des-
da tesa lança”, expulsando-o da região. Para tacou. Nos dois primeiros séculos do Brasil
realização dessas duas tarefas, o envolvi- Colônia, ser criado por uma índia tupi podia
mento dos pioneiros da família Albuquerque ser muito vantajoso sob alguns aspectos.
foi fundamental. Seus hábitos de higiene eram mais adequa-
Um de seus membros mais notórios foi dos para o clima tropical; o idioma mais fala-
Jerônimo de Albuquerque (1548-1618), que do na terra era o tupi; e a alimentação indíge-
depois juntou Maranhão a seu sobrenome. na, em geral, mais sadia do que a portuguesa.
Nascido no Brasil, era filho do português de Ele combateu índios hostis e franceses
mesmo nome e da índia tupi batizada como invasores, liderando naturais da terra e
Maria do Espírito Santo Arcoverde. portugueses. Falava fluentemente o tupi,
Seu pai, também Jerônimo de Albuquer- sua língua de infância, e o português,5
que, chegou ao Brasil em 1535, com a irmã, compreendendo claramente as duas cul-
que era a esposa de Duarte Coelho, o dona- turas; era alguém, portanto, capaz de co-
tário da capitania de Pernambuco. Auxiliou nectar mundos distintos.6 “O mameluco
o cunhado, enquanto ele estabelecia as ba- Jerônimo de Albuquerque, devidamen-
ses de sua propriedade, fundando Igaraçu te perfilhado, filho da princesinha índia,
e Olinda. Substituiu-o depois de sua morte, como se dizia de Maria Arcoverde, foi
em 1554, como capitão-mor, até a chegada daqueles que se aportuguesaram com-
de seu sobrinho, o segundo donatário. Aju- pletamente, ao menos nos fatos públicos
dou, mais tarde, o terceiro donatário ainda da vida”.7 A experiência inicial, ele obteve
no período difícil do início da ocupação de acompanhando seu pai nos combates,
novas terras. Permaneceu o resto de sua principalmente contra índios inimigos.
vida no Brasil. Na prática, podia se autode- Por determinação paterna, casou-se com
nominar um dos conquistadores da terra, o Felipa de Melo.
que lhe trazia prestígio no Novo Mundo.2 Os tupis se organizavam em sociedades
Faleceu em 1593, deixando dezenas de guerreiras e havia frequente conflito entre as
filhos com índias e com a portuguesa com tribos, acumulando ofensas mútuas ao lon-
quem se casou 25 anos depois de chegar ao go do tempo, que exigiam vinganças. Muitas
Brasil, e que veio de Portugal para ser sua vezes, também, uma disputa interna fazia

2
FRAGOSO, João; ALMEIDA, Carla; SAMPAIO, Carlos. Conquistadores e negociantes. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2007.
3
Bento Teixeira, sobre este ponto, assim escreveu: “Deste, como de Tronco florescente,/ Nascerão muitos ramos,
que esperança/ Prometerão a todos geralmente/ De nos berços do Sol pregar a lança”. Cf. Prosopopeia, estrofe
XXXIV, 1601.
4
É o que se infere quando são observados estes versos de Teixeira: “Mas, quando virem que do Rei potente/
O pai por seus serviços não alcança/ O galardão devido e glória digna,/ Ficarão nos alpendres da Piscina”. Em
seguida, Bento Teixeira culpa a sorte por isso: “Ó sorte tão cruel, como mudável,/ Por que usurpas aos bons o seu
direito?/ Escolhes sempre o mais abominável,/ Reprovas e abominas o perfeito,/ O menos digno fazes agradável,/
O agradável mais, menos aceito./ Ó frágil, inconstante, quebradiça,/ Roubadora dos bens e da justiça!”. Cf. Proso-
popeia, estrofes XXXIV e XXXV, 1601.
5
Consta que havia pessoas nascidas no Brasil que não dominavam o idioma português, como no caso do bandei-
rante Domingos Jorge Velho, que destruiu o Quilombo dos Palmares.
6
Sobre os mediadores dessa época, consultar: GRENDI Edoardo. Polanyi. Dall’antropologia alla microanalisi storica.
Milão: Etas Libri, 1978, p. 127-165; LIMA, Henrique Espada. A micro-história italiana: escalas, indícios e singulari-
dades. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, p. 187-199, sobretudo p. 196.
7
Cf. VAINFAS, Ronaldo (Org.), Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808), Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 325

77
Armando de Senna Bittencourt, Marcello José Gomes Loureiro & Renato Jorge Paranhos Restier Junior

com que uma família se afastasse, às vezes co ou nenhum auxilio do Governo francês.
formando, mais tarde, uma nova tribo, quan- Encontraram sempre a reação do Governo
do sobrevivia aos ataques do grupo a que de Portugal e de forças organizadas esponta-
pertenciam originalmente. Os portugueses, neamente por portugueses que habitavam o
ao chegarem ao Brasil em pequenos gru- Brasil, inclusive com o apoio de forças navais
pos, precisavam se aliar a uma das tribos, e tropas espanholas, no período da União
ganhando, como consequência, muitos ini- Ibérica (1580-1640).
migos. Isso tornou muito difícil o início da co- O estabelecimento francês na Paraíba aca-
lonização, trazendo certo insucesso de quase bou redundando em fracasso, quando sofreu
todas as capitanias hereditárias. Pernambu- o ataque de portugueses, apoiados, no final,
co, no entanto, prosperou e o Jerônimo pai por uma força naval comandada por um almi-
exerceu um papel importante para esse su- rante espanhol, Diogo Flores Valdez. Os inva-
cesso. Jerônimo filho, o “brasileiro”, foi, mais sores se retiraram para o Rio Grande do Norte.
tarde, fundamental para a ocupação portu- Para desalojá-los, o capitão-mor de Per-
guesa do Nordeste brasileiro, contribuindo nambuco, Manuel Mascarenhas Homem, or-
para a unidade futura do Território Nacional. ganizou uma expedição, em 1597, e escolheu
Nessa época, porém, não existia a consci- Jerônimo de Albuquerque, o mameluco, para
ência de ser brasileiro. Não havia patriotismo, comandar uma das companhias de infanta-
eram vassalos do rei de Portugal. As pessoas ria, por suas boas qualidades de líder guerrei-
estavam defendendo seus interesses, sua ro. Jerônimo era capaz de articular interesses
cultura e religião e não tinham sentimentos portugueses com a cultura dos índios.
semelhantes aos atuais. Expulsos os franceses e seus aliados
Desde as primeiras décadas do sécu- indígenas, o Forte dos Reis Magos, que os
lo XVI, os franceses se interessaram pelo portugueses ergueram na entrada da foz do
Brasil, procurando negociar os produtos Rio Grande, foi entregue a Jerônimo de Al-
da terra com os índios do litoral, que eram buquerque. Após pacificar os índios locais,
principalmente tupis – que, durante sua Jerônimo fundou, em 1599, na margem di-
demorada expansão ao longo da costa, reita do rio, um povoado que foi a origem da
para o sul, haviam expulsado os habitan- cidade de Natal. Em 1603, ele foi nomeado
tes indígenas anteriores. O pau-brasil era o capitão-mor do Rio Grande, por seis anos.
produto mais interessante, pois tinha mui- Ele, de fato, gozava de prestígio na América,
ta demanda para a manufatura de tecidos não apenas por seus feitos, mas também por
francesa, por prover corantes em tons de ser filho de um conquistador (Jerônimo pai),
vermelho, muito apreciados na Europa. As que ganhou fama em Portugal, onde foi até
diversas expedições que empreenderam citado em versos por poeta de sua época.9
permitiram o acúmulo de conhecimentos Estabeleceu, então, uma política de valo-
a respeito do litoral brasileiro, inclusive da rização das terras para povoamento e, como
região entre o “Mearim e a foz do Amazo- dominava a cultura e a língua das tribos in-
nas”,8 que era praticamente desconhecida dígenas locais, amenizou os conflitos entre
pelos portugueses. potiguares e portugueses, o que possibilitou
Os franceses procuraram se estabelecer a ampliação da colonização naquela região.
no Brasil. Eram empreendimentos de “natu- Concedeu a seus filhos, Antônio e Matias de
reza privada”, algumas vezes por particulares Albuquerque, uma sesmaria onde fundaram
que tinham cartas de corso autorizadas pelo o Engenho de Cunhaú, o primeiro engenho
rei da França, mas que contavam com pou- do Rio Grande do Norte.10

8
Cf. CALMON, Pedro. História do Brasil. São Paulo: Ed. Nacional, 1939-1941. 2v.. p. 33.
9
Os versos, de autoria de Bento Teixeira, enalteciam os feitos de Jerônimo de Albuquerque (o pai) nos seguintes
termos: “Aquele branco Cisne venerando, / Que nova fama quer o Céu que merque,/ E me está com seus feitos provo-
cando,/ Que dele cante e sobre ele alterque; / Aquele que na Idea estou pintando,/ Hierônimo sublime d’Albuquerque/
Se diz, cuja invenção, cujo artifício/ Aos bárbaros dar total exício”. Cf. Prosopopeia, estrofe XXXIII, 1601.
10
COSTA, Gilmara Benevides. “Engenho Cunhaú: lugar de memória e transformação história”. In. Revista Vivência,
no 33. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2010, p. 160.
Ver também o capítulo trigésimo segundo da obra História do Brasil do Frei Vicente do Salvador.

78
Navigator 13 Jerônimo de Albuquerque e o comando da força naval contra os franceses no Maranhão

Enquanto isso, no ano de 1594, Jacques lo, subvencionando a expedição”.16 La Ra-


Riffault comandou uma expedição que ru- vardière conseguiu a adesão de François
mou para o Maranhão. Já ambientado com de Razilly, gentil-homem da Câmara do Rei,
a navegação no Norte do Brasil, por ter par- cuja família mantinha alianças com a famí-
ticipado da tentativa francesa de ocupação lia do futuro Cardeal Richelieu.17 O projeto
do Rio Grande do Norte, além de ter trafica- ganhou a confiança de uma sociedade de
do a leste do Rio Amazonas, estabelecendo, ricos armadores de navios, normandos li-
inclusive, boas relações com as lideranças derados por Nicolas de Harlay, Senhor de
indígenas, “orientou seus compatriotas para Sancy, Barão de Molle e de Gros-bois.18 Par-
a criação de um estabelecimento duradouro tiram, então, com três navios de Cancale,
no Maranhão”.11 Riffault associou-se a um na Bretanha, em 19 de março de 1612, che-
gentil-homem de Saint-Maure de Touraine, gando ao Brasil em 18 de julho do mesmo
Charles des Vaux, que explorou a ilha ain- ano. O Régent era comandado por François
da em 1594, retornando anos depois para a de Razilly, e nele se encontravam La Ravar-
França onde divulgou as possibilidades de dière e des Vaux, além do índio Yacopo, que
instalação de uma colônia no Maranhão e retornava ao Brasil após ter sido apresenta-
destacou as relações pacíficas com os ín- do à rainha; o La Charlotte era comandado
dios, receptivos à evangelização. por Harlay de Sancy; e, por último, o Saint-
Os relatos de Charles des Vaux entu- Anne, comandado por Isaac de Razylli, ir-
siasmaram o monarca francês Henrique mão de François de Razylli. A expedição foi
IV, que ordenou a Daniel de La Touche, Se- acompanhada por um grupo de missioná-
nhor de La Ravardière,12 que acompanhas- rios capuchinhos, entre eles os padres Ivo
se uma expedição de reconhecimento do d`Evreux e Claude D`Abbeville, que mais
Maranhão.13 Ao retornar, La Ravardière tarde escreveram sobre o Brasil. Quando
encontrou a França nas mãos da Regente chegaram ao Maranhão, lá já se encontra-
Maria de Médice, pois o rei fora assassi- vam cerca de 400 franceses, bem como em-
nado em 14 de maio de 1610.14 Procurou, barcações oriundas do Hâvre e de Dieppe.19
então, persuadir a não entusiasmada re- A primeira iniciativa foi a construção de um
gente, pelo empreendimento colonial. Ar- forte batizado de São Luís. Havia a intenção
gumentou que os franceses mantinham de se estabelecerem definitivamente e co-
há muitos anos relações amistosas com meçaram, em seguida, a construir casas,
os tupinambás e que a região constituía armazéns e a trabalhar a terra para as plan-
“[...] um ponto estratégico à abertura para tações. Essa colônia ficou conhecida como
o mar das Antilhas, permitindo interceptar a França Equinocial.
os navios carregados de metais preciosos Em dezembro de 1612, François de Razylli
em regresso à Espanha”.15 e o Padre Claude D’Abbeville suspenderam
Para completar os recursos financeiros do Maranhão para a França em busca de
necessários à nova expedição para o Bra- mais recursos para o processo de coloniza-
sil, La Ravardière buscou auxílio em outras ção. Entretanto, o entusiasmo demonstrado
fontes, visto que a regente não se mostrou pelos “cortesãos, comanditários e religiosos
muito disposta para “[...] empenhar-se tão não é inteiramente compartilhado pela Rai-
a fundo quanto seu esposo admitira fazê- nha Maria [...]”.20 Razylli tinha consciência

11
Cf. BONICHON, Philippe; e GUEDES, Max Justo. “A França Equinocial”. In. História Naval Brasileira, primeiro
volume, tomo I. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1975, p. 528.
12
La Ravardière era um experiente navegador que, inclusive, participou de explorações na costa da Guiana em 1604.
13
DAHER, Andréa. O Brasil francês: singularidades da França Equinocial, 1612-1615. Trad. Albert Stückenbruck. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 48.
14
Luís XIII não havia atingido a maioridade quando Henrique IV foi assassinado.
15
Cf. Ibidem, p. 50.
16
Cf. BONICHON & GUEDES, op. cit, p. 531.
17
Idem.
18
DAHER, op. cit., p. 52.
19
Ibidem, p. 56.
20
Cf. Ibidem, p. 60.

79
Armando de Senna Bittencourt, Marcello José Gomes Loureiro & Renato Jorge Paranhos Restier Junior

da pressão dos defensores de uma aliança melhantes a grandes saveiros, embarcações


da França com a Espanha e das negocia- típicas existentes na Bahia, que ainda são
ções em curso para o casamento de Luís XIII construídos muito artesanalmente, sem de-
com a infanta espanhola Ana D’Áustria, que senhos, obedecendo a métodos e unidades
poderiam gerar grandes dificuldades para a de medida, de certa forma semelhantes aos
manutenção da França Equinocial. De fato, empregados pelos construtores navais por-
os recursos adquiridos para a segunda expe- tugueses para caravelas, naus e galeões do
dição, que partiu na Páscoa de 1614, origina- século XVI e XVII.
ram-se principalmente da iniciativa privada e Jerônimo de Albuquerque partiu de Reci-
não do apoio prestado pela monarquia. fe em junho de 1613, junto com seu filho, An-
Desde o ano de 1608 havia por parte do tônio de Albuquerque,25 que comandava uma
Governador-Geral do Brasil Diogo de Mene- companhia de 50 homens. Ao passar pelo
zes grande preocupação com as atividades Ceará, tomou a seu serviço o Capitão Mar-
francesas no Maranhão. O Rei Felipe III (Feli- tins Soares Moreno. Fundearam no Rio Ca-
pe II, em Portugal) ordenou que Diogo de Me- mocin, escolhido como base das operações.
nezes enviasse informações sobre os acon- Albuquerque ordenou que Martim Soares,
tecimentos naquela região. Este despachou com 25 homens e sete indígenas, efetuasse
Martim Soares Moreno ao Ceará, que com- reconhecimento na região. Martim Soares
bateu um patacho francês que estava apor- efetuou o reconhecimento e destruiu alguns
tando em Mucuripe (atual porto do Ceará)21 redutos franceses, mas não pôde regressar
e, mais tarde, em seu retorno àquela região, ao Camocin para apresentar os resultados
fundou um presídio (forte) chamado Nossa a Jerônimo de Albuquerque em função das
Senhora do Amparo. Em 1613, Felipe III enviou condições adversas de navegação. Dirigiu-se
para o Brasil um novo governador, Gaspar de para as Antilhas e depois para a Espanha,
Souza, com ordens para tomar providências chegando a Sevilha em 24 de abril de 1614.
contra os franceses do Maranhão. Gaspar de Sem o regresso de Martim Soares Mo-
Souza se transferiu para Olinda, onde estaria reno, Albuquerque retirou-se de Camocin,
mais próximo do que se denomina atualmen- por considerar a aguada ruim e foi para o
te de “Teatro de Operações”. Buraco de Tartaruga, ou Jericoacoara, fun-
Rapidamente Gaspar de Souza iniciou as dando uma pequena fortificação, Nossa Se-
ações para combater os franceses no Norte nhora do Rosário. Em função da escassez de
do Brasil, enviando uma expedição para “[…] alimentos, retornou para Pernambuco por
o reconhecimento do Teatro de Operações e terra, ordenando que os navios também re-
o conhecimento do inimigo”.22 Para coman- gressassem para aquela capitania. Manteve
dar a expedição, foi designado Jerônimo de o forte guarnecido com 40 soldados coman-
Albuquerque, o “experimentado nas cousas dados por seu sobrinho, Gregório Cardoso
do sertão e dos Índios”, que se tornou o pri- de Albuquerque.
meiro nascido no Brasil a comandar uma Em 25 de maio, chegou a Recife, como
força naval, em missão tipicamente militar, seu adjunto, Diogo de Campos Moreno, tio
em 1613, na América portuguesa.23 Tal expe- de Martim Soares Moreno, com aproximada-
dição foi formada por aproximadamente cem mente cem homens, para se unir a Jerônimo
homens e uma flotilha composta de três ou de Albuquerque.
quatro navios.24 Esses navios eram denomi- Em Olinda, em 22 de junho, Gaspar de
nados “caravelões”, designação genérica de Souza entregou a Jerônimo de Albuquerque
um tipo de navio que era construído na costa um regimento26 nomeando-o para “Capitão
do Brasil de então. É possível que fossem se- da Conquista e Descobrimento das terras

21
CALMON, op. cit., p. 36.
22
Cf. BONICHON, & GUEDES, op. cit., p. 557.
23
Cf. “Jornada do Maranhão”. In. História Naval Brasileira, op. cit., p. 557.
24
BONICHON & GUEDES, op. cit, p. 557, falam de até três navios; contudo, segundo Pedro Calmon, Jerônimo de
Albuquerque teve a seu comando quatro navios. Ver CALMON, op. cit., p. 37.
25
SALVADOR, Frei Vicente do. História do Brasil: 1500-1627, op. cit., p. 338.
26
BONICHON & GUEDES, op. cit., p. 560.

80
Navigator 13 Jerônimo de Albuquerque e o comando da força naval contra os franceses no Maranhão

do Maranhão (provisão de 29/5/1613)”.27 No da região pelo Capitão Belchior Rangel, com


mesmo dia, Albuquerque partiu por terra até alguns homens e o piloto Sebastião Martins,
o Rio Grande do Norte para reunir índios fle- que acompanhou Martin Soares naquela
cheiros para “Jornada”. Dias depois, foram primeira expedição de reconhecimento em
enviados dois caravelões para aquela capita- 1613. A 26 de outubro de 1614, oito embar-
nia, com soldados e mantimentos.28 cações entraram na Baía de São José, funde-
Em 24 de julho de 1614, chegou ao porto ando em Guaxenduba, próximo à foz do Rio
de Recife um navio com uma carta de Martim Munim. Foi construído um forte denominado
Soares Moreno que continha informações re- Santa Maria de Guaxenduba.
ferentes ao efetivo, às fortificações e à força Em 19 de novembro, La Ravardière deci-
naval dos franceses. A partir desse momen- diu realizar um ataque ao Forte de Santa Ma-
to, os preparativos da “jornada” foram inicia- ria, com aproximadamente 200 franceses e
dos.29 Com as informações reunidas, Gas- 1.500 índios.34 Conforme Philippe Bonnichon:
par de Souza conversou com os principais
comandantes: Alexandre de Moura, então Du Prats e Pézieux, cada qual
Capitão-Mor de Pernambuco, Sargento-Mor com um contingente de sessenta
Campos Moreno e Vicente Campelo, Capitão homens, desembarcariam sob co-
do Forte de Laje do Recife.30 bertura de fogo da artilharia dos
navios, enquanto La Ravardière,
Ficou decidido que, em face da com duzentos homens e muitos
possível aliança com o principal indígenas capitaneados por des
Meratahopa da Ilha do Maranhão, Vaux, assaltariam os portugue-
a força luso-brasileira deveria se- ses pela retaguarda. Mas estes
guir até o Rio Maranhão e, nele foram mais rápidos, atacando de
entrando, desembarcar na terra surpresa para bater separada-
firme, fronteira à aldeia daquele mente as duas forças francesas.
cacique.31 A tentativa de desembarque foi
rechaçada, os franceses lança-
Em 21 de agosto, os navios estavam pron- dos à praia, suas embarcações
tos. Sob o comando de Diogo de Campos incendiadas, Pézieux ferido mor-
talmente, La Touche de Cavannes,
Moreno, se encontraram com Jerônimo de
irmão de La Ravardière, e outros
Albuquerque em 26 de agosto.32 A 5 de se- gentis-homens normandos, Saint-
tembro, fizeram-se por mar com as forças Gilles e d’Ambreville, tombaram
regulares e mais inúmeros guerreiros indí- com a maior parte dos soldados,
genas.33 Antes de chegar ao Ceará, Jerônimo marinheiros e colonos, entre eles
decidiu seguir por terra com os índios, desa- Bridon, natural de Dieppe, o mes-
costumados a viajar grandes distância pelo tre Vincent Guérard e o Ourives
mar, até o Forte de Nossa Senhora do Ampa- Bellanger, de Rouen.35
ro, onde novamente se reuniu com Diogo de
Campos Moreno, que havia chegado antes. La Ravardière, tendo em vista o grande
As duas colunas continuaram separadas até fracasso da iniciativa militar, ofereceu um
a foz do Pará-Mirim, seguindo juntas por mar armistício de um ano a Albuquerque, que
até o Forte Nossa Senhora do Rosário. foi assinado e remetido a ambas as coro-
Antes de se estabelecerem próximo aos as. Havia já uma grande indisposição da
franceses, foi efetuado novo reconhecimento monarquia francesa em relação à França

27
MEIRELES, Mário M. História do Maranhão. DASP: Serviço de Documentação, 1960, p. 44.
28
BONICHON & GUEDES, op. cit., p. 560.
29
VIANNA, Hélio. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1972, p. 137.
30
BONICHON, & GUEDES, op. cit, p. 561.
31
Cf. Idem.
32
Idem, p. 562.
33
MEIRELES, op. cit., p. 45.
34
DAHER, op. cit., p. 71.
35
Cf. BONNICHON & GUEDES, op. cit., p. 539.

81
Armando de Senna Bittencourt, Marcello José Gomes Loureiro & Renato Jorge Paranhos Restier Junior

Equinocial, logo os reforços para a empresa ultramarina.39 O rei se representava graças à


francesa no Brasil não foram enviados a La lealdade desses homens – por isso dependia
Ravardière. A trégua não foi aceita pelo Rei deles –, que transformavam política em ação
Felipe III, que ordenou nova campanha con- governativa. Frequentemente adaptavam as
tra os franceses, cujo comando passou para ordens régias às realidades locais, de acordo
o então Capitão-Mor de Pernambuco Alexan- com os seus interesses e os de suas redes.
dre de Moura. Durante o período de tréguas, Por isso, o renomado historiador inglês John
Jerônimo de Albuquerque passou para a Ilha Elliott afirmou que a autoridade real era “fil-
do Maranhão e fundou o Fortim de São José trada, mediada e dispersada”.40
de Itapari.36 Os franceses capitularam em no- Ocupado o Maranhão, Francisco Caldeira
vembro de 1615, conforme a descrição da Castelo Branco recebeu ordens para se es-
historiadora Andréa Daher: tabelecer na região da foz do Rio Amazonas,
fundando o Forte do Presépio, de onde se ori-
Em 1o de novembro, antes do ginou a cidade de Belém. Isso completou a
término da trégua de um ano, uma ocupação da costa Norte pelos portugueses,
armada de nove navios comanda- sempre projetando o Poder Militar por meio
dos pelo capitão português Ale- de forças navais.
xandre de Moura cerca os france-
Jerônimo de Albuquerque obteve o auxí-
ses na ‘grande ilha’, enquanto as
forças comandadas por Jerônimo
lio de índios, antes um obstáculo à presença
de Albuquerque se dirigem, no dia lusa na região Norte, em favor da coroa. O
seguinte, para o Forte de São Luís, “brasileiro”, em uma ação pioneira, coman-
onde La Ravardière acaba renden- dou uma força naval e teve participação rele-
do-se sem resistência.37 vante na expulsão de invasores franceses. A
partir da aplicação do Poder Naval, foi capaz
As vitórias sobre os franceses no Mara- de assegurar aos portugueses o domínio do
nhão fizeram com que Jerônimo de Albu- Norte do futuro Brasil, permitindo que essa
querque fosse reconhecido pelo reino como área fosse incorporada à atual configuração
capitão-mor da conquista daquela capitania.38 do Território Brasileiro. O mérito da conquis-
Graças às iniciativas de homens como ta e da vitória “tão digna de memória” sobre
Jerônimo de Albuquerque, a monarquia po- os invasores fez com que Jerônimo de Albu-
dia se viabilizar em suas conquistas. Afinal, querque acrescentasse em seu sobrenome
esses homens, dispersos em intrincadas “Maranhão”, vinculando sua própria identi-
redes imperiais, eram capazes de movimen- dade à terra que, “a custa do seu sangue e
tar redes que traziam substância à política fazendas”, defendeu.41

36
VIANNA, op. cit., p. 138.
37
Cf. DAHER, op. cit., p. 73.
38
FRAGOSO, João Luís & GOUVEIA, Maria de Fátima Silva. “Monarquia pluricontinental e repúblicas: algumas
reflexões sobre a América lusa nos séculos XVI-XVIII”. In. Revista Tempo, no 27, 2009, p. 62.
39
FRAGOSO, João; BICALHO, M. Fernanda Baptista & GOUVÊA, M. de Fátima. “Uma leitura do Brasil Colonial.
Bases da materialidade e da governabilidade no Império” in Penélope, no 23, 2000, p. 67-88, especialmente p. 81-83.
A noção de um Império em rede, acima exposta, obteve suas considerações mais paradigmáticas nos escritos de
Luís Filipe Thomaz acerca da estrutura política e administrativa do Estado da Índia, cf. THOMAZ, Luís F. De Ceuta a
Timor. Lisboa: Difel, 1994, p. 210; Cf. “Da Colônia ao Império: um percurso historiográfico”, in SOUZA, L. FURTADO,
Júnia & BICALHO, Maria Fernanda. O Governo dos Povos. São Paulo: Alameda, 2009, p. 96. A perspectiva recebeu
também interessantes considerações em CASALILLA, Bartolome Yun. “Entre el imperio colonial y la monarquía
compuesta. Élites y territorios en la Monarquía Hispánica (ss. XVI y XVII)”, in CASALILLA, Bartolome Yun (dir). Las
Redes del Imperio. Élites sociales en la articulación de la Monarquía Hispánica, 1492-1714. Madri: Universidad Pablo
de Olavide, 2009, p. 11-94.
40
Cf. ELLIOTT, J. H. “A Espanha e a América nos Séculos XVI e XVII” in BETHELL, Leslie (org.). História da América
Latina Colonial, Vol I. 2a Ed. 2a Reimpressão. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Brasília: Fundação
Alexandre de Gusmão, 2004, p. 283-337, citação na p. 299.
41
Faleceu aos 70 anos de idade, no ano de 1618, depois de ter ocupado cargos de prestígio na administração local,
conforme VAINFAS, op. cit., p. 325; e HELIDACY, Maria Muniz Corrêa. “Antigo regime, império português e govern-
ança no Maranhão e Grão-Pará”. Mneme: revista de humanidades. Caicó: Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, v. 9, no 24, set/out, 2008, p. 1-16.

82
A EVOLUÇÃO NAVAL
TECNOLÓGICA NO SETOR NA

SEGUNDA
METADE DO SÉCULO XIX

E AS CONSEQÜÊNCIAS PARA A

Marinha
do brasil*

ARMANDO AMORIM FERREIRA VIDIGAL

Vice-Almirante (ReP)

SUMÁRIO

Introdução
A propulsão mista: Da roda ao hélice
A Guerra da Crimcia e suas lições
A Guerra da Secessão Norte-Americana
A Guerra da Tríplice Aliança
A Guerra Austro-Prussiana - A Batalha de Lisa
A Guerra da Tríplice Aliança Continua
A Guerra Franco-Prussiana
Acirra-se o duelo couraça x canhão
As torpedeiras com tubos axiais
A Guerra Chile-Peru
Os Cruzadores
A evolução da pólvora
Ação francesa contra chineses
"Jeune
A École"
A Guerra Estados Unidos x Espanha
O Submarino de casco duplo
A Guerra Russo-Japonesa
A guerra de minas
A Batalha do Mar Amarelo
A Batalha de Tsushima
O Aparecimento do Dreadnought

N-R.:
O extenso uso do negrito foi dos diversos tópicos analisados, c que não mereciam
para chamar atenção
Um subtítulo.

KMB4ÜT72000 131
INTRODUÇÃO armada com a do Chile e a da República da

Argentina. Um confronto há pouco esboça-

fim da Guerra do Paraguai (1864-70), a do mais influente deste último


pelo jornal
Ao Marinha do Brasil era, sem nenhuma Prensa, de Buenos Aires, opõe a cada
país,/4
dúvida, significativa, só sendo superada, em um de nossos vasos de hoje válidos
guerra
número de bocas de fogo, pelas Marinhas da um competidor formidável, deixando, ainda,

Inglaterra, Rússia, Estado Unidos e Itália, nas sombras, com que compor mais de uma

nessa ordem. Poucos anos mais tarde, a Esquadra, capaz de medir-se com nossa.

Marinha nacional já não tinha ex- Deus nos dê por muitos anos as
qualquer paz com

pressão militar. nações que nos cercam. Mas, se ela se rom-

As razões para esta decadência são várias.


per, é no oceano que veremos jogar a sorte de
O enorme esforço financeiro do Império nossa honra. E essa
partida não será decidida
do Brasil durante os anos
pelo azar, mas pela pre-
em que se envolveu em vidência. A nulificação

guerras externas, muito de nossa Marinha é,

especialmente na Guerra "... um e


e no oceano veremos portanto, projeto
que
da Tríplice Aliança con- começo de suicídio.'"

jogar a sorte de nossa


tra Solano López, e du- A Proclamação da

rante os anos de turbu- honra" Barbosa) República tirou da Ma-


(Ruy
lência interna, após a In- l inha poder político, si-
E essa não será
partida
dependência, deixou ar- tuação se agravou
que
decidida azar, mas
ruinada a economia do pelo pela
ainda mais com a Revol-

País, não havendo recur- previdência. A nulificação ta da Armada de 1893, e,

sos para a manutenção sem a


de nossa Marinha é, poder político,
de uma Esquadra adequa- Marinha perdeu acesso
portanto, um e
da projeto
às necessidades de às verbas para a sua atu-

defesa ao longo do começo de suicídio


que, alização e renovação.

tempo, puderam ser Menos óbvio como

identificadas: nemaques- dessa


justificativa
tão das Missões com a nulificação do Poder

Argentina nem o aumento das tensões no Naval brasileiro, mas tão ou mais importante

subcontinente sul-americano, devido às dis- que as anteriores, foi o fato de o Brasil não ter
sensões entre a Argentina e o Chile sobre a acompanhar a verdadeira revolução
podido
Patagôniaeo Estreitode Magalhães, levaram tecnológica que ocorreu no setor marítimo, na

o Brasil a um programa de reaparelhamento segunda metade do século XIX. A Revolução

naval significativo. Em Cartas da Inglaterra, Industrial, que teve início na Inglaterra a


partir
Rui Barbosa, em 1896, retratou de forma dra- do final do século XVIII, só chegou aos

mática a situação de nossa Marinha, compa- navios de guerra na segunda metade do sécu-

rando-a, dentro da lógica da época, com as Io XIX, mas, então, as mudanças ocorreram

Marinhas dos demais


países do ABC (Argen- em profundidade e se processaram muito

tina-Brasil-Chile): rapidamente.
"Acabo
de ler com tristeza, em um opúscu- Não resta dúvida a rapidez das mu-
que
Io recente, o estudo comparativo de nossa danças se deveu, em
grande parte, ao desafio

1. BARBOSA, Ruy. Cartas da Inglaterra, p. 7-8.

132 RMB4"T/2000

I
d° Poder Naval francês ao Poder Naval de guerra - mas esse esforço não teve conti-
hegemônico
da Inglaterra. Esse desafio per- nuidade, em parte pelas dificuldades finan-
s,stiu,
embora de intensidade decrescente, ceiras do País, mas, também, porque faltavam
ate
que, em 1886, a posse na pasta da Marinha as outras condições necessárias para a manu-
da França
do Almirante Théophile Aube, o tenção de um desenvolvimento industrial
Cnador
da Jeune École, afastou definitiva- auto-sustentável, como falta de ca-
pessoal
mente
a França em número suficiente,
da disputa pela supremacia pacitado, para absor-
naval.
ver as novas tecnologias, e dos insumos

Apesar de seu indispensáveis para a industrialização do País


poder de fogo, a Esquadra
brasileira
de 1870 era tecnologicamente retar- (por exemplo, pelo fato de o Brasil não haver
datária:
a maioria dos navios, desenvolvidos descoberto carvão em todo o século XIX, que
Para o cenário Prata, veio substituir
típico do Rio da eram a lenha como principal com-
'"adequados
para operar no mar (pequena bustível e era um dos elementos essenciais
borda
livre); embora alguns dispusessem de para a fabricação do aço, ficou impossibilita-
Propulsão
a vapor, usavam ainda a roda em do de industrializar-se).2
'uBar
do hélice, com todas as desvantagens Chegava ao fim, definitivamente, a época
daí decorrentes;
a grande maioria era de ma- em que uns poucos operários, dispondo de
^e'ra,
apenas levavam couraça; boa uma tecnologia tradicional, de aprendizado
poucos
Parte da artilharia usada era de canhões de longo mas dependente apenas da prática, e de
erro
montados sobre carretas, atirando, atra- ferramentas simples, ao alcance de qualquer
ves
de aberturas feitas no casco, um, podiam construir os maiores e mais sofis-
projetis
s°'idos
não-explosivos. Com a evolução ticados navios de guerra existentes. A partir
tecnológica,
sua obsolescência foi, pois, muito da revolução tecnológica, o país que não se
rápida.
industrializasse não teria mais condições de
A indústria naval brasileira - importante construir e mesmo de apenas manter Esqua-
desde
o colonial, com a Ribeira das dra moderna e eficaz. A famosa Esquadra
período
aus, em
Salvador, e, já no período imperial, brasileira de 1910, conforme veremos, é um
eom
o Arsenal da Corte
(hoje Arsenal de exemplo claro de que, mesmo existindo recur-
arinha),
no Rio de Janeiro, ambos capaci- sos a aquisição de navios modernos e
para
'ados
para a construção até mesmo de naus, sofisticados, não havendo uma base indus-
°s niais
poderosos navios de guerra da época trial capaz de mantê-los nem competência
nao
pôde acompanhar as mudanças para operá-los devidamente, eles muito pou-
tecnológicas
que se sucederam, e entrou em co significarão em termos de verdadeiro Po-
Acelerada
decadência. É bem verdade que derNaval.
Urante
a Guerra do Paraguai foi feito um Alguns fatos ocorridos na primeira meta-
c°nsiderável
esforço para a aquisição de de do século XIX serão aqui citados porque
tecnologia
moderna - o sucesso mais expres- eles foram etapas iniciais de processos que
SIV°
foi a construção de dois navios - tiveram conseqüências no setor naval na
®ncouraçados
e três monitores encouraçados segunda metade desse século; a nossa rese-
0 total,
foram construídos seis) nha da Primeira
que torna- estender-se-á até o início

Possível a Passagem de Humaitá, o acon- Guerra Mundial - 18)


^a,T1
(1914 porque eventos
Clrnento
de maior significação estratégica importantes então decorridos provêm de des-

Os Estados Unidos, pelo contrário, descobriu importantes reservas de carvão quase à flor da terra, criando
condições
excepcionais para uma rápida industrialização.

HMB4UT/2««0
133
dobramentos tecnológicos verificados ante- imediata, só se tornaram de emprego comum
riormente, enquadrando-se, portanto, no es- após 1850. A grande maioria dos navios de
copo deste trabalho. guerra antes desta data era de construção
toda em madeira, com propulsão apenas a
A PROPULSÃO vela, armadacom canhões de ferro, montados
MISTA: DA RODA sobre carretas, dispôs-
AO HÉLICE = ~^~"^^^ tos ao longo dos bor-
dos do navio e atirando
As transformações No início do século XIX, não projetis sólidos, das
resultantes do desen- havia diferença sensível na variantes existentes.3
volvimento tecnológico Um bom exemplo de
no setor naval ocorre- qualidade dos navios das navio típico do final da
ram em todas as áreas: grandes potências e de países primeira metade do sé-
na construção naval, na recém egressos do jugo culo XIX é o HMS
propulsão dos navios, colonial Victoria, uma fragata
nos seus equipamentos three-decker, isto é,
e, finalmente, nos seus com três conveses,
sistemas de armas. lançadaaomarem 1859
Embora os principais - que até 1867 foi o
desenvolvimentos só viessem repercutir nos capitania da frota inglesa do Mediterrâneo;
navios de guerra e nas formas de seu emprego era um navio construído de madeira, propul-
na segunda metade do século XIX, eles tive- são exclusivamente a vela, armado com 121
ram origem nas cinco primeiras décadas do canhões distribuídos nos seus três conve-
século; outros, ainda que tendo aplicação ses; uma bordada desses canhões era capaz

3. Até meados do século XIX, os projetis pouco mudaram, havendo quatro tipos principais:
o tiro sólido, que consistia numa esfera de ferro fundido, do tamanho compatível com o calibre do canhão.
Um tiro desse tipo, no caso de canhões de maior calibre, tinha um alcance de cerca de 4(K) jardas - para calibres
menores o alcance era da ordem de 2(K) jardas - e podia atravessar, quando usado a queima-roupa, 4 a 5 pés
de madeira maciça. Este tipo de tiro apresentava duas variantes: o "tiro com corrcnle". em que duas esteias
sólidas eram ligadas por uma corrente, e o "tiro-harra", cm que duas semi-esferas sólidas eram unidas por uma
barra de ferro soldada nelas; essas duas variantes eram usadas para avariar os mastros dos navios inimigos
c o aparelho de velas.
o tiro de estilhaços, que podia ser de dois lipos diferentes - 0 grape-slun ou 0 liro de metralha,
que consistia
cm diversas camadas de pequenas esferas sólidas de ferro dentro de um saco de lona grossa, amarradas juntas
de modo a formar um cilindro de diâmclro compatível com o canhão; e o case-shot, em que a metralha era
conseguida colocando-se grande número de tiros de mosqucle dentro de uma caixa cilíndrica metálica, de
diâmetro adequado ao calibre do canhão (funcionava como o shrapnet).
o liro iiucmliúrio, também de dois tipos - o hol-shol ou "tiro qucnlc". em
que a esfera de ferro era aquecida
até o rubro anles de ser colocada no canhão (para evitai a detonação prematura da pólvora propelente, o
"carcaça" ou "esqueleto".
projétil era isolado da pólvora por uma camada de palha úmida nu de argila); c a
que consistia numa estrutura de ferro, assemelhada às costelas de um corpo humano, cheia de material
combustível, de forma e tamanho compatível com o morteiro ou canhão a ser usado
o liro explosivo ou granada explosiva que, a partir de IK.V), passou a ser de uso comum a bordo (pelo menos,
alguns canhões de bordo podiam atirar esse tipo de granada); I esfera de ferro fundido era oca, sendo o espaço
va/io cheio de pólvora; um pavio, uma vez aceso fazia a pólvora explodir. Inicialmente, 0 pavio era aceso
antes de se colocar a granada no canhão, o que, obviamente, era muilo perigoso, razão pela qual a prática
foi abandonada tão logo foi constatado que a detonação da pólvora propelente acendia automaticamente
o pavio; este lipo de tiro era em geral usado em morteiros. O projétil moderno é uma evolução dessa granada
explosiva.

1.14 RMH4"T/2l>00
^
y'

Combate do Banco Santiago, 7 e 8/4/1827: Início do incêndio do Independência (Arg.)


do Almirante Trajano Augusto de Carvalho - No.\sa Marinha - 37)
(Aquarela p.

liberar 3.016 libras inglesas de metal, en- Nesse confronto sul-americ mo, sendo o

Quanto o total dos tiros de todos os Poder Naval dominante, o Brasil estabeleceu
peso
canhões
chegava a 6.167 libras, ou seja, pou- o bloqueio do Prata, e a Argentina, de menor
Co
menos de 3 toneladas. Poder Naval, decretou a de corso*
guerra
A última contra o comércio marítimo brasileiro. O mais
grande batalha naval envolvendo
aPenas
navios a vela ocorreu em 1827, na Baía importante combate naval da guerra-a Bata-

Navarino, lha de Santiago - embora uma vitória tática


quando uma força naval combi-
nada
da Inglaterra, França e Rússia, destruiu argentina, cujas foram inferiores às
perdas
a Enquadra
turco-egípcia, assegurando a in- brasileiras, foi uma vitóriaestratégica do Bra-
^Pendência
da Grécia, liberada então do sil, que conseguiu manter o bloqueiodo Prata
^°Tiínio
turco (Guerra da Independência da (semelhantemente ao que ocorreria na Primei-
^écia:
1821-27). ra Guerra Mundial, na Batalha da Jutlândia,

Na mesma época, as Esquadras argentina uma vitória tática da Alemanha, mas estraté-
e brasileira
se defrontavam na Guerra gica da Inglaterra). Embora as perdas argen-
que
Cisplatina
(1825-28) muito pouco diferiam tinas tenham sido menores que as brasileiras,
ern
termos tecnológicos dos navios da Es- os argentinos tiveram o núcleo de sua força

Quadra anglo-franco-turca. revolução naval destruído, ficando ela, pois, a partir daí,
A
tecnológica
só teria lugar alguns anos mais com o seu valor militar muito reduzido. A
ta'de,
não havendo diferença sensível na independência da Cisplatina, com o nome de
Validade República Oriental do Uruguai, fim ao
dos navios das grandes potências pôs
c ^
países recém egressos do jugo colonial, conflito, com o novo país funcionando como
diferenças "algodão
eram mais quantitativas do que um tampão entre Argentinae Brasil,
Qualitativas. no dizer de Lorde
entre dois cristais",

N.R.: sobre "O


o assunto, ver corso nas costas do Brasil", RMB Ia trim./2000, p. 53-78.

KMB4uT/2ooo
135
Ponsomby, embaixador inglês e mediador do dos canhões inimigos, ainda estes fos-
que
acordo de paz.4 sem bastantes e tirava o espaço
primitivos,
As experiências para dotar os navios com destinado à artilharia, reduzindo o
própria
a propulsão a vapor vinham sendo feitas des-
poder de fogodo navio; umacerta hostilidade
de os últimos anos do século XVIII, mas as do pessoal do convés para com os maquinis-

primeiras embarcações práticas a usar o va- tas e foguistas, homens rudes, sempre às

por apareceram no início do século XIX: em voltas com óleos e graxas.

1801, o engenheiro escocês Willian Symington A oposição britânica ao vapor fundamen-

construiu um pequeno rebocador a roda; em tava-se ainda na consciência de que a adoção

1803, Robert Fulton fez um pequeno barco a generalizada desse tipo de espe-
propulsão,
vapor que navegou no Rio Sena, e, em 1807, cialmente os navios de linha,
para grandes

já de volta aos Estados Unidos, construiu tornaria obsoleta, de um só golpe, toda a sua

uma embarcação a vapor que fez a viagem de Esquadra, a mais poderosa do mundo, o trun-

Nova Iorque para Albany a uma velocidade fo lhe a condição de nação


que garantira
de 4 nós. Em 1812, Fulton começou o hegemônica. O Primeiro Lorde do Almiranta-
projeto
do primeiro navio de guerra a vapor, a Fragata do britânico, Lorde Merville, declarou em

USS Demologos, um catamarã com a roda 1828:


"Os
entre os seus dois cascos (a roda ficava mais lordes do Almirantado sentem é
que

protegida, mas o navio tinha pouca o seu dever maior desencorajar, até o limite de

manobrabilidade); ela tinha 156 pés de cum- sua capacidade, o emprego do navio a vapor,

primento e era armada com 24 canhões 32- porque consideram a introdução do va-
que

pounder, a fragata só foi completada em 1815, por foi planejada para dar um golpe fatal na

após o fim da Segunda Guerra de Indepen- supremacia naval do império." [trad.nossa]5

dência dos Estados Unidos e a morte de Entretanto, o desafio naval francês, enca-

Fulton; em 1829 foi destruída por uma expio- beçado pelo brilhante oficial de artilharia Henri

são no seu Paixhans - desde 1822, antecipava a


paiol. que,
As limitações do novo sistema de propul- revolução seria criada com a adoção do
que
são eram, porém, ainda muito grandes. As vapor e das granadas explosivas (desde 1830

Marinhas de todo o mundo, principalmente a os franceses, com o Aviso Spliinx, adotaram

da Inglaterra, opunham-se à construção de o vapor) - levaria o Almirantado a ir revendo

navios de guerra a vapor, só aceitando este as suas Assim é que em 1837 eles
posições.
tipo de propulsão para as pequenas embarca- lançam o seu navio de com
primeiro guerra
auxiliares,
ções como rebocadores, dragas, propulsão a vapor, a Chalupa HMS Gorgon,

etc. As razões para isso eram várias: a preca- com propulsão mista, a roda, armada com dois

riedadee pouca confiabilidade das máquinas canhões na linha longitudinal do navio, um

a vapor existentes; a dependência ao forneci- avante e outro a ré.

mento de carvão, nas viagens maiores, sendo Pouco tempo depois, cm 1839, aparece-

necessário instalar estações de reabasteci- ram as granadas explosivas, desenvolvidas

mento de carvão ao longo da rotas dos navi- por Paixhans; os navios passaram a dispor de
os; o uso da roda - o único recurso então canhões atiravam
que os projetis sólidos

existente para impulsionar o navio - tornava convencionais e de canhões as


que atiravam
os navios extremamente vulneráveis ao fogo granadas explosivas. Desde o final do século

4. CARDOSO, Efraim. El Império dei Brasil y El Rio de la Plata, pág. 19.


5. MCINTYRE, Donakl & liATHE, Basil W. Man of War-a Hislory of llie Combat Vessel, 75-76.
p.

136 RMB4T/2000
^ VIU
que a França e a Inglater-
ra faziam
experiências com esse
llP°
de
granadas mas, devido à
at'tude
do
pessoal de Marinha
c°ntra -
a explosiva
granada
clUe
consideravam tornaria a
"pouco
guerra cavalheiresca"
""
os desenvolvimentos
foram
'entos.
À medida
que os navios
foram
se tornando imunes à
artilharia
da época, esse pre- Aviso Corse, navio de a utilizar hélice em sua
primeiro guerra
onceito
foi desaparecendo. propulsão. Lançado em 1842 como navio de passageiros, em 1850 foi

Embora as incorporado à Marinha francesa, onde serviu por quase 50 anos.


^ primeiras experi-
er,eias Superou 12 nós e, aos 29 anos de serviço, navegou 11.000 milhas
com o hélice datassem
sem avaria. (Foto: Procecdings)
de 1825,
só em 1842osfrance-
ses 'ançaram
o primeiro navio com hélice, o O primeiro navio de guerra de certo porte
Aviso
Corse, com mista, al- a usar o hélice só surgiu em 1844: a Fragata
propulsão que
CanÇ°u
12,4 nós de velocidade. No ano se- USS Princeton, com hélice Ericsson.
êU|nte, os
ingleses lançaram a Escuna HMS Na Inglaterra ganha força a idéia de que o
Qttler,
de mista, a hélice, já com hélice não deveria ainda ser usado em navios
propulsão
°s
motores a vapor de dois de linha, acreditando-se
cilindros (até que a roda era mais
839 "dúvidas",
todos os motores eram de apenas um eficaz. Para dirimir as o Almiranta-
c'ündro).
do, em 1845, fez realizar uma série de
provas
No Brasil, o Arsenal da Corte construiu, entre a Escuna Rattler, a hélice, e a Escuna, de
eni 1843, a
primeira embarcação a vapor feita mesmo tamanho e potência, Alecto, a roda.
país, a
Barca Tetis, com deslocamento de As provas de velocidade, realizadas em di ver-
u toneladas.
. Os motores e caldeiras foram sas condições de tempo e de mar, foram todas
"Aportadas
da Inglaterra. vencidas pelo navio a hélice, assim como a
Em 1843 "um
, as mudanças tecnológicas che- prova final - cabo de guerra".
S^am também
às minas marítimas6. Samuel Enquanto os ingleses experimentavam, os
t desenvolveu "minas
um sistema de con- franceses inovaram: em 1845, colocavam em
tr°'adas",
em que as minas eram explodidas serviço a sua primeira fragata a hélice, a Pamo-
P°r ação
de um observador ne, três anos antes ingleses
que acionava um que os adotas-
sPositivo;
uma corrente elétrica circulava sem o hélice para suas fragatas. A Pamone

ao longo de cabos submarinos, fazen- dispunha de motor horizontal de 2 cilindros


a
mina explodir
quando o navio-al vo esta- de 22 HP, usava hélice Ericsson, e era capaz
Va
Próximo. Durante os testes, um navio a 5 de desenvolver 7 nós. Na época, as fragatas

de
distância do de observação desempenhavam o mesmo bem
posto papel que,
filhas
01 destruído
por uma dessas minas. mais tarde, os cruzadores desempenhariam.

As m'nas,
com o nome de torpedos, foram inicialmente desenvolvidas no século XVIII pelo norte-americano
av'dBushncll, com a sua mina flutuante
que explodia ao se chocar contra o navio-alvo. Esta mina é a
ancestral
das minas modernas, pois só explodia
quando em contato com o alvo. Em 1777, foi usada com
sucesso
pelos norte-americanos contra a frota britânica no Rio Connecticut; ela foi lançada contra a Fragata
Cerberus, não a acertando, mas atingindo e afundando uma escuna ancorada nas suas proximidades.
KMB4UT/200()
137
Em 1846 são construídos e testados os cidade, foi necessário colocar entre o motor e

dois primeiros canhões com alma raiada e o hélice desse navio uma engrenagem redu-

carregamento pela culatra (o engrazamento tora, do


para conciliar o melhor rendimento
do projétil cilíndrico nas ranhuras do tubo motor (alta velocidade) com o melhor rendi-

alma tornava complicado o carregamento mento do hélice (baixa velocidade); com isso
pela
boca, daí a necessidade do carregamento foi possível usar caldeiras com maior
pela pressão,
culatra, além, é claro, da maior rapidez de tiro dando mais eficiência ao sistema propulsor

propiciada pelo carregamento culatra. como um todo; em termos estruturais, o


pela
Voltaremos a falar sobre isso). Estes canhões, Agamemnon era um three-decker-navio de

-
produzidos pelo Major Cavalli, oficial da arti- três conveses armado com 91 canhões

lharia da Sardenha, e pelo Barão Wahrendorf, (contra 90 do Napoléon).

mestre ferreiro sueco, não foram adotados Na América do Sul, em meados do século

nenhuma Marinha de expressão, apesar XIX, as tentativas argentinas


por para fazerre viver
de terem alcançado excelentes resultados nos o Vice-Reinado do Prata- a Argentina consi-

testes. derava-se herdeira da Espanha - e a forte

Os franceses, mais uma vez, se adiantam oposição do Império do Brasil a essa preten-

aos ingleses, lançando ao mar, em 1848, o são, mantinham vivas as tensões no sul do

primeiro navio de linha a hélice, de propulsão continente. Em virtude disso, o Brasil


procu-
mista, o Napoléon, projeto do grande Dupuy rou fortalecer o seu Poder Naval, não só

de Lôme; usando apenas o vapor, o Napoléon construindo em estaleiros nacionais alguns

alcançou a velocidade de 14 nós. Só nesse navios com propulsão mista, a roda-em 1850

ano, três anos após os franceses, os ingleses e 1851 são construídos três vapores nos

lançaram suas primeiras fragatas a hélice. -


estaleiros da Ponta da Areia* e da Saúde7

Os alemães, em 1848, desenvolveram uma , mas, também colocando encomendas no

série de testes na universidade de Kiel visan- exterior - em 1848 é incorporado o


primeiro
do a melhorar as minas existentes. As minas navio de guerra a vapor, a Fragata DomAfon-

controladas, por eles aperfeiçoadas, foram so, a roda, construída na Inglaterra.

usadas na guerra de emancipação de O apoio ostensivo de Rosas, ditador ar-

Schleswig-Holstein com o
propósito de pro- gentino, a Oribe que, em oposição ao governo
teger o Porto de Kiel da frota holandesa; legal do Uruguai, assumir o poder
pela pretendia
"associação
primeira vez, portanto, é usado um campo de para unir-se à Argentina, numa

minas em caráter defensivo e não, como era de iguais" (sic), levou a Argentina e o Brasil

usual até então, em caráter ofensivo. à guerra -conhecida entre nós como a Guerra

Em 1850, com dois anos de atraso em Contra Oribe e Rosas (1851-52). Sob o
ponto
relação aos franceses, os ingleses lançam o de vista naval, o fato mais importante do

seu primeiro navio de linha a hélice, o HMS condito foi a Passagem de Tonelero pela
Agamemnon; usando motores de maior velo- Esquadra brasileira. A havia sido
passagem

* N.R.: Sobre os
estaleiros da Ponla da Areia, ver A fábrica da Ponta da Areia, RMH 2" trim./1997, p. 61 a 69.
7. Na Ponta da Areia, foram construídos os Vapores Recife (1849), Pedro II (1850) e Paraense (1851); na Saúde,
o Vapor Golfinho (1851). O desenvolvimento do estaleiro da Ponta da Areia teve início em 1846
quando
Irincu Evangelista de Souza (o futuro Visconde de Mauá) adquiriu o Estabelecimento de Fundição e Companhia
Estaleiros da Ponla da Areia. Em 1848, o estaleiro contava com cerca de 300 operários, incluindo engenheiros
e operários europeus, dando início à construção de grande números de navios (em 11 anos foram construídos
72 navios, inclusive os vapores mencionados).
"A
(N.R.: Ver também história da construção naval no Brasil" na RMH 2" trim/1998, 159 e 160.)
pág.

RMB4"T/2000
fortificada com 16
pe-
Çasdeartilhariae2mil
hoimens;
para que as
forÇas brasileiras,
L w%4£k- * ^ i, ¦>
m mgm
pro-
94
, y I^^l5m <*^F m^^*\W^*\\\\\A
^H
venientes da Colônia |L.,.
de Sacramento,
pudes-
sem chegar a Diaman-
te-no Rio Paraná, e daí
atacar as forças de Ro-
Sas, seria necessário
transportá-las além de
T°nelero. Os vapores
brasileiros Dom Afon-
•So- capitania
de Gren- NAPOLEÃO LEVEL - CARLOS BRACONNOT
fe,UmaisoPeí/ro//,o (Fotos SDM)
Rec'fe e o D. Pedro,
chocando duas corvetas e um brigue, estes Sinope, na guerra entre a Rússia e a Turquia,
res a vela, tiveram êxito nessa e as a frota russa -cujos navios, na maioria, eram
passagem
r°pas brasileiras atacar e derrotar, armados com canhões Paixhans, ainda de
puderam
etT> Monte Caseros, as tropas de Rosas, alma lisa, mas já fazendo uso das granadas
pon-
do fim ao conflito.
explosivas -, sob o comando do Almirante
Com isso, cessaram todas as restrições Nakhimov, atacou e destruiu um esquadrão
Mue se faziam no Brasi I ao emprego do vapor; naval turco, sob o comando do OsmanPasha,
111 eertas circunstâncias, ficara comprovado, cujos navios não dispunham de canhões
a '"dependência em relação ao vento capazes de atirar as granadas explosivas.
era
,undamental
para a Marinha de Guerra. O Apesar de esmagadora superioridade naval
Ministro da Marinha, Conselheiro Vieira Tos- russa - que alinhava seis navios de linha,
tia> em
seu relatório de 1852, insiste na neces- duas fragatas e três vapores - contra os
'dade do aumento de número de navios a turcos - que dispunham de sete fragatas, três
*Por para a Esquadra, apoiando a sua argu- corvetas e dois vapores - o rápido massacre
cntação na experiência de Tonelero. dos turcos foi atribuído pelos analistas ao
Em 1852, começam a chegar do exterior os terrível efeito das granadas explosivas sobre
asi'eiros enviados se os navios de madeira.
pelo governo para
sPecializarem em estaleiros europeus nas A Batalha da Baía de Sinope não só de-
0vas tecnologias ligadas à construção mili- monstrou a eficácia das granadas explosivas,
ar- Napoleão Levei e Carlos Braconnot eram mas deixou claro que, dali para frente, impu-
Clvis trabalhavam
que no Arsenal da Corte e nha-se proteger os navios usando couraças.
"Ue se especializaram,
respectivamente, em
Ofistrução naval e máquinas. Com eles che-
Wrarn ao Brasil técnicos estrangeiros A GUERRA DA CRIMEIA E SUAS
para
arjalhar nas oficinas do Arsenal. As conse- LIÇÕES
MUericias dessas medidas logo se fariam sen-
""' conforme veremos. AGuerra da Criméia(l 854-56) trariaalguns
Em 1853, há o primeiro teste real das importantes ensinamentos para a guerra no
danadas explosivas. Na Batalha Naval de mar.
*MB4Or/2000
139
Ela representou excelente oportunidade do forte e depois de 4 horas de bombardeio,

para uma reavaliação dos confrontos, tão o forte russo, usara contra as baterias
que
freqüentes à época, entre navios e fortalezas flutuantes tanto projetis sólidos como
grana-
de terra; até então, esse confronto era franca- das explosivas, foi forçado a se render (45
mente favorável às fortalezas, não só devido mortos e 130 feridos), enquanto as três embar-

à fragilidade de navios de madeira sem coura- cações encouraçadas sofreram apenas avari-

ça mesmo em face dos projetis sólidos, mas, as insignificantes: os tiros sólidos do forte

também, à pouca eficácia dos canhões navais ricocheteavam na couraça e as granadas ex-

contra as poderosas defesas das fortalezas. explodindo contra a couraça, não


plosivas,
Os franceses foram os primeiros a reagir às nenhum dano. A daí não
produziam partir
lições de Sinope. Em 1855, desenvolveram mais se podia duvidar da eficácia da couraça

um tipo especial de embarcações para enfren- a


para os navios de guerra e ficava claro que
"ba-
tar os fortesde terra; conhecidas como tecnologia se voltaria o melhoramento
para
terias flutuantes" eram embarcações de fun- dos canhões e dos usados. Ficou
projetis
do chato, para operar em águas rasas, fácil a explosiva só
próxi- perceber que granada
mas à terra, construídas de madeira mas seria eficaz contra a couraça se
pro- pudesse
tegidas com couraças de ferro forjado de 4,5
perfurá-la e explodir na parte vulnerável dos

polegadas de espessura, montadas sobre pia- navios; para isso, o


projétil deveria ser cilín-

cas de madeira (teca) de 18 de drico e ter ponta (ogiva); com os canhões de


polegadas
espessura8; esta couraça fora alma lisa, o projétil ao deixar o tubo alma do
planejada para
resistir aos canhões típicos da época, os 68- canhão tinha uma trajetória muito instável

pounder9 de alma lisa. Nesse mesmo ano, as (dando verdadeiras cambalhotas), não se

três Baterias Flutuantes Dévastacion, Lave e ele acertaria aonde se


podendo garantir que
Tonnante, dispunham de a
que propulsão queria e muito mesmo que ele bateria de ponta
vapor capaz de deslocá-las a uma velocidade no alvo; a alma raiada, já testada e aprovada

de 2 a 3 nós, foram rebocadas o Mar desde 1846, conforme já vimos, seria a solu-
para
Negro fragatas de mista, a
por propulsão ção para este problema.
roda, e, compondo um esquadrão anglo-fran- Ainda nesse mesmo ano, o bombardeio de

cês com outros navios tradicionais, ti veram a Sebastapol por um esquadrão inglês, do qual

missão de neutral izar o forte russo de Kinburn, fazia o Agamemnon e outro navio da
parte
na foz do Dnieper. Enquanto os navios de mesma classe, mostrou o valor da propulsão

madeira, sem proteção, davam apenas fogo a vapor, já os dois navios de


que propulsão
de apoio e engajavam algumas baterias peri- mista, diferentemente dos navios a vela, po-
féricas do forte, os navios com couraça fica- diam se posicionar convenientemente em re-

ram estacionados a algumas milhares dejardas lação aos a serem atacados, dando
pontos

8. A idéia de empregar couraça nos navios é muito antiga. Já no século XVI, numa
guerra entre a Coréia e o Japão,
"navio
surgiu o primeiro navio, ainda a remo, protegido eom couraça; conhecido como tartaruga", pelo seu
aspecto exterior, dispunha de um convés em forma de domo, feito de chapas de ferro, às
quais foram soldados
verdadeiros espigões de ferro; o navio era praticamente invulnerável às armas da época e a sua abordagem

pelo inimigo era quase impossível.


9. Antes de os canhões serem designados
pelo calibre, o que só acorreria na segunda metade do século XIX, eles
eram designados pelo peso do projétil
que usavam: um canhão inglês 68-pounder era um canhão que atirava
um projétil pesando 68 libras inglesas. Devido à diferença de
padrão de pesos havia uma dificuldade de comparar
canhões de procedências diferentes; por exemplo, um 36-pounder francês atirava
projetis que pesavam,
aproximadamente, 39 libras inglesas; um 4R-pounder sueco, projetis de 45 libras inglesas; um 42 -
pounder
russo, projetis de cerca de 30 libras inglesas.

140 RMB4uT/2000
il J
;

'

"
1
I"
/'

Fragata Amazonas. do Almirante Trajano Augusto Gonçalves - Nossa Marinha, 57)


(Aquarela p.

mais
eficácia ao bombardeio, indiferentes à consistiam em tubos de vidro cheios de ácido
^'reção
do vento. sulfúrico; quebrados pelo casco de
quando
No se refere de minas, os um navio, liberavam o ácido então se
que à guerra que
rUí>sos
usaram a minagem defensiva a misturava com clorato de potássio e açúcar,
para
Pr°teção
dos portos de Sebastopol, Sveaborg gerando calor e chamas suficientes para pro-
e Kronstadt,
usando minas de contato, isto é, vocar a explosão da mina.

^Ue explodiam casco Já apontamos durante a Guerra da


quando atingidas pelo que
um navio. Os fusíveis dessas minas, pro- Cisplatina os navios argentinos e brasileiros
Vavelmente
desenvolvidos por Alfred Nobel, eram muito semelhantes aos seus contempo-

Canhoneira no Brasil de Marinha da


Ipiranga. Primeiro navio de guerra a htílice construído (Arsenal
Corte). Projetado e construído por Napoleào Levei

do Almirante Trajano Augusto de Carvalho - Nossa Marinha. - 53)


(Aquarela p
râneos que lutaram em Navarino. Agora, pelo Ainda cm 1856 os ingleses desenvolvem
contrário, os navios de linha da frota anglo- o canhão A rmstrong, com carregamento pela
franco-turca na Criméia eram tecnologicamen- culatra, alma raiada, capaz dedispararprojetis
te muito superiores aos navios de Navarino, cilíndricos com ogiva, providos com cinta de
embora muito pouco afastados no tempo. chumbo para que pudessem engrazar nas
O Brasil procurava compensar o seu atra- ranhuras do tubo alma. O canhão Armstrong,
so tecnológico tanto adquirindo navios no que só seria usado a bordo alguns anos mais
exterior-em 1852, chega ao Brasil a Fragata tarde (1860), consistia num tubo alma no qual
de propulsão mista, a roda, Amazonas; em um número de jaquetas eram vestidas a quen-
1854, recebeda Inglaterra os primeiros navios tee, após o resfriamento, elas encolhiam e for-
a hélice (quatro canhoneiras); em 1856, mais mavam uma unidade sólida com o tubo alma.
três - como construindo no Brasil - em 1854 Desta forma, o canhão ia tendo sua resistên-
inicia a construção da Canhoneira Ipiranga, cia aumentada, da boca para a culatra. O tubo
que seria o primeiro navio a hélice construído alma era raiado internamente no sistema de
no País (projeto de Napoleão Levei, executa- múltiplas ranhuras (grande número de ranhu-
do no Arsenal da Corte; as máquinas e as ras rasas). O bloco de culatra, uma peça sólida
caldeiras, sob a supervisão de Carlos de ferro forjado, furada e com ranhura, era en-
Braconnot, foram construídas também no caixado a quente na parte oposta à boca; um
Arsenal) A Ipiranga participaria da Batalha rasgo aberto através dela e da jaqueta acima
Naval do Riachuelo. permitia que uma cunha fosse inserida, fe-
O agravamento das relações do Brasil chando esta extremidade do tubo alma; a eu-
com o Paraguai, conseqüência das di vergên- nha era mantida no lugar por um parafuso va-
cias quanto a questões de fronteiras e livre zado que antes da colocação da cunha permi-
navegação nos rios da região (houve ruptura tia o carregamento do canhão. Este sistema
das relações diplomáticas entre os dois pai- mostrar-se-ia propenso a causar acidentes.
sesem 1853),estimulou maiores invcstimcn- Dois anos mais tarde, a Marinha francesa
tos noPoderNaval brasileiro, principalmente adota o sistema de culatra com ranhura inter-
em termos de preparação de mão-de-obra rompida (quatro seções separadas): a alavan-
qualificada. ca de operação primeiro levava o bloco para
Os ingleses não tardaram a copiar os dentro da culatra e depois girava-o 1/8 de
navios encouraçados franceses que tão bom volta, fazendo com que as ranhuras do bloco
desempenho haviam tido contra os fortes de engrazassem com as da culatra, ficando 0
Kinburn, mas logodepois procuraram supera- bloco assim travado.
los, lançando ao mar quatro navios com cou- Também na Alemanha o carregamento
raça-o 1 IMS Thunderbolt, o Terror, o Aetna pela culatra mereceu a atenção dos técnicos,
e o Erebus — todos em 1856; embora não se começando o desenvolvimento do sistema
possa dizer que esses navios fossem de linha, Krupp, usando, como o Armstrong, um siste-
eles foram os precursores dos modernos na- ma de cunha, mas sem os inconvenientes do
vios de guerra, sendo os primeiros navios a sistema inglês.
combinar casco de ferro, couraça e propulsão Com o fracasso da missão diplomática do
a vapor.10 Almirante Pedro Ferreira de Oliveira, enviado

10. O tradicionalismo naval fez com que as Marinhas de (iuerra custassem a adotar o casco de ferro; desde 1832,
o engenheiro inglês Bruncl já lançara mão desle recurso na construção de um grande transatlântico: o Greal
Brilain.

142 RMB4°T/2000
a Assunção
pelo governo brasileiro, logo inspirou-se no bombardeio do Kinburn
pelas
aPós a
interrupção das relações diplomáticas baterias flutuantes francesas.
entre
os dois países (1853), um novo impulso Os franceses, em 1859, lançam ao mar o

Para a renovação do Poder Naval brasileiro Gloire, uma fragata de 5.600 toneladas, a
teve lugar.
Em 1857, é iniciada no Arsenal da primeira de uma classe de três navios
Corte
a construção da Corveta Niterói, até construídos de madeira mas dotados de cou-
então
vapor raça,
o maior navio de propulsão a projetadas por Dupuy de Lôme. Eram
construído
no Brasil; o navio seria dotado navios de mista a hélice (inicial-
propulsão
c°m canhões
de alma raiada. Por dificuldades mente o Gloire só dispunha de mastro de
tecnicas
a construção arrastou-se até 1863. sinais mas depois recebeu toda a aparelha-

A luz da experiência adquirida


quando da gem para vela), capaz de desenvolver, só com
fissão diplomática enviada à Assunção - o vapor, 13,5 nós. A mais significativa mudan-
c°m
exceção de um vapor em
pequeno que ça no Gloire estava na sua artilharia, toda ela
yiajou
o chefe da missão, todos os navios da concentrada numa única fileira de poderosos
força naval brasileira não
puderam subir o Rio canhões (pelo fato de todos os canhões es-
Paraguai
porque calavam muito-Tamandaré tarem num único convés do navio, apesar de
¦"ecebeu
o encargo de adquirir na Europa seu tamanho, foi classificado como fragata).
canhoneiras
que pudessem navegar no Prata A economia de peso assim conseguida permi-
e dispusessem
de couraça em face da existên- tiu que o navio recebesse uma cinta couraçada
C]a
de muitos fortes nas margens do Rio de 4,7 polegadas de espessura, fabricada por
Paraguai;
como resultado, são recebidas, no Creusot. O armamento do Gloire consistia em
alo de 1858, duas canhoneiras construídas 36 canhões de um novo modelo 66-pounder,
na França
e sete na Inglaterra, todas a vapor carregamento pela culatra, alma raiada, atiran-
e a hélice,
com pequeno calado para operarem do projetis explosivos, 34 deles ao longo da
nos rios
do Prata. Conforme aponta em seu borda do navio e dois montados em
pivôs. Um
relatório
para o Ministro da Marinha, dos três navios da mesma classe tinha casco
^amandaré,
no que diz respeito à couraça, de ferro, o Couronne, lançado em 1860.

Corveta
Niterói. (1862). Construído no AMRJ sob pia ;>s do Engenheiro Napoleão Levei; casco de madeira
e mista. (Aquarela do Almirante Trajam Augusto de Carvalho - Nussci Marinha - 88)
propulsão p.

I
I
if-
;• T—
-3
\

bordos dos navios, como os

navios mais antigos do perío-

do da vela. A época das bar-

betas e torres ainda não havia

chegado, embora, já nessa épo-

ca (1860) o canhão Armstrong

tivesse sido introduzido a bor-

do dos navios britânicos.

A insistência das Marinhas

na propulsão mista, mantendo

ainda nos navios toda a apare-


Gloire (1859). Primeira fragata encouraçada francesa
I hagem para a propulsão a vela,
Rivisla Maritlima - Itália)
(Foto:
como no Gloire e no Warrior,

decorria de uma série de cir-

No ano de 1859 tem início a construção cunstâncias. Esses navios eram destinados

dos primeiros navios de linha dotados de aríete às grandes viagens marítimas, com extensos

que, breve, seria uma característica de todos cruzeiros abrangendo áreas onde os pontos
os encouraçados da época; projetados por para reabastecimento de carvão eram pou-
Dupuy de Lôme, são lançados em 1861 o cos, ficando muito afastados um dos outros,

Magenta e o Soferino, bastante semelhantes e, além disso, as máquinas então disponíveis

ao Gloire. A ineficiência dos canhões da eram deficientesequebravam freqüentemente,

época contra os navios encouraçados valo- daí o conservadorismo dos que não queriam
"Chaminés
rizou o aríete que, se supunha, podia atingir abrir mão da vela. A ordem para
os navios inimigos abaixo da linha d'água, na baixo; hélice up
para cima" ("Downjunnel;

parte não protegida pela couraça. Voltaremos screw"), que assinalava numa viagem a pas-

ao assunto mais adiante. sagem da propulsão a vapor a vela, tão


para
Os ingleses reagiram ao desafio francês freqüente à época, refletia uma situação bas-

do Gloire lançando ao mar, em 1860, o HMS tante comum: os navios mistos eram essenci-

Warrior, que é o primeiro navio de linha com almente navios a vela que, ocasionalmente,

casco de ferro. Embora fosse lançado um usavam o vapor. No B rasi I, por exemplo, que

pouco antes do Couronne, este foi incorpo- importava todo o carvão consumido pelos
rado primeiro. E um navio de propulsão ainda navios de Cardiff, na Inglaterra, era o próprio

mista, mas a propulsão a vapor é agora a Ministro da Marinha autorizava os tre-


que

principal, e não apenas um complemento à chos da viagem em que a propulsão a vapor

propulsão a vela. O Warrior deslocava 9.210 podia ser usada.

toneladas e dispunha de couraça de 4,5 pole- A medida que as estações de reabasteci-

foram o
gadas de espessura. Inicialmente, o navio era mento sendo instaladas por todo

dotado com canhões de alma lisa, carrega- mundo e as máquinas a vapor ganhavam em

mento pela boca, montados sobre carretas, desempenho e confiabilidade, a situação co-

mas eles foram sendo substituídos por ca- meçou a mudar. Entretanto, foi só quando o

nhões de alma raiada. aumento do peso dos armamentos e das cou-

Neste ponto da evolução dos navios de raças comprometeu a estabilidade dos navi-

guerra, duas considerações são importantes. os, reduzindo a borda livre de tal modo que

Tanto o Gloire como o Warriorcram ainda eles não mais podiam levar, sem risco, o peso

armados com canhões fixos, alinhados nos alto representado mastros e seus apa-
pelos

144 RMB4T/2000
—m i "i|ii»
"i|ii» jiJ jWiWv ' K K J
i
'•3B . -j-
j j I"r L^ * . _ jJ .. »*

O inglês
ingles Warrior (1860).
(I860). Primeiro
Primciro navio de
do linha com casco de
dc ferro (Foio
(Folo (,'SNIP)
USNIP)

re'hos,
ou suportar o momento de aderna- armamento consistia em três canhões de 9
mento
do vento so-
provocado pela pressão polegadas, de alma lisa, e de um canhão de 6,
^reo
velame do navio,
que a vela foi finalmen- de alma raiada, montado em pivô, todos os
te abandonada.
Um acidente trágico, do canhões
qual passando através de aberturas exis-
daremos
adiante, contribuiu um tentes na casamata e atirando ex-
para por granadas
P°nto final na propulsão a vela. ainda na casamata, existiam dois
plosivas;

canhões de 7 polegadas, um atirando para


vante e outro ré; o navio dispunha de
para
batalhas de hampton aríete, de ferro, que se projetava 2
pés abaixo
roads
e lissa* da linha d'água. A velocidade era muito baixa,

de apenas 2 ou 3 nós.
Em 1861 teve início a Guerra de Secessão Por sua vez, a União desenvolveu o Moni-
,

Estados Unidos, se até tor, projeto de Ericsson, verdadeiramente re-


que prolongaria
1°s
esta
guerra foi rica de ensinamentos volucionário; tinha casco de madeira revesti-
relativos
à guerra no mar, em especial os do de couraça; a meia nau foi instalada uma
^correntes
da Batalha de Hampton Roads torre rotativa, a
primeira a ser instalada num
"62),
onde, pela
primeira vez, dois navios navio, com dois canhões de 11", à época o
Ct1couraçadosa
vapor sedefrontaram-sur- maior calibre embarcado; o seu convés, exceto
tendentemente
para a época os dois navios pela torre e por uma capuchana onde se abri-
eram
exclusivamente acionados a vapor, muito a pessoa responsável
gava pelo governo do
avunçados
quando comparados com os de- navio, era totalmente desimpedido; devido
mai«
navios do ao peso da torre o navio tinha
período. pequena borda
Recuperando uma fragata
que havia sofri- livre, não sendo, pois, projetado para operar
0 UtTi
grave i ncêndio, os confederados trans- em alto-mar mas apenas em águas
protegidas;
f
num navio encouraçado - o sua velocidade era da ordem de 5 nós.
^¦"Tiaram-na
'/gmia
que, entretanto, passaria para a his- Inicialmente, o Merrimack atacou os na-
r'a
com o seu antigo nome Merrimack. O vios da União bloqueavam
que o Rio
na vio
era dotado de uma casamata, construída Chesapeake, afundando a Fragata a vela
C(>tn
traves de carvalho revestidas com trilhos
Congress a tiros de artilharia e a Chalupa
Qa
estrada
de ferro e
placas metálicas; seu Cumberland com o seu aríete; os três navios

*
Kl
N-R-: "Os
Mais sobre essas batalhas, ver em encouraçados", RMB 1" ao 4" trim/1996.
,<VlB4u'l72000
145
A i

'

-- a
A GUERRA DA SECESSÃO

NORTE-AMERICANA

11 Fotos reproduzidas
I I mf [If de 1'roceedings
n

^ Virgínia (Merrimack)

t- Monitor - a guarnição cm período de descans"

4* Monitor

1
.

""^'

^
*>¦
remanescentes
fugiram, abrigando-se em quase nenhum armamento, para serem usa-
águas rasas ir. dos como verdadeiros aríetes contra os navi-
onde o Merrimack não podia
Na manhã os inimigos; os resultados
seguinte, com a chegada do Monitor foram excelentes
ao local, em termos de custo-benefício. É
iniciou-se um duelo de artilharia possível que
entre os dois Barroso, em Riachuelo, tenha levado em con-
encouraçados; após cerca de 7
horas de ta as experiências bem sucedidas no conflito
combate, a situação permanecia
mdecisa, um navio não norte-americano.
conseguindo perfurar
a couraça As lições de Hampton Roads repercutiram
do outro. A retirada do Merrimack

Para Norfolk um final à batalha. em todo o mundo, inclusive no Brasil: no


pôs ponto
Duas tentativas relatório de 1862,
posteriores foram feitas pelo o Ministro da Marinha,
navio confederado Almirante Joaquim Raimundo de Lamarefaz
para enfrentar o Monitor,
mas este, uma análise sobre o futuro desenvolvimento
obedecendo instruções do Con-

gresso, recusou sempre o combate: temia-se da força naval brasileira apoiado na evolução

9ue uma avaria mais séria no tecnológica em curso, ba-


Moniíor deixasse seando-se, em especial, na
o caminho
livre
para o Merrimack subir experiência de Hampton
0 Potomac
até Washington. Roads.
As couraças usadas
O combate demonstrou Na Guerra de Secessão

que as couraças usadas eram eram invulneráveis os dois lados lançaram mão
¦nvulneráveis
tanto aos da guerra de minas. O inci-
tanto aos
projetis
Projetis sólidos como às dente mais dramático ocor-
gra-
sólidos como às
nadas explosivas, reu
quer dis- quando do ataque de

Parados explosivas, Farragut a Mobile, em 1862.


por canhões de alma granadas
'isa
quer de alma raiada. Era disparados O esquadrão de Farragut,
quer por
claro com
que chegava ao fim a os navios em coluna,
canhões de alma lisa
construção forçava
de navios de ma- a entrada na Baía
deira sem de alma raiada
quer de Mobile
proteção de coura- sob o intenso

Ça e que seria necessário de- fogo, tanto do Forte


senvolversistemas
de armas Morgan como dos navios
mais eficazes. confederados no interior da
A ineficácia
dos canhões a atenção baía, o
empregados chamou quando Monitor Tecumseh ia a
que
Para a importância do aríete, atingir frente da coluna atingiu uma mina, explodiu,
que podia
os navios afundando imediatamente; os demais navios
abaixo da linha d'água, onde não
chegava e estabeleceu-se
a couraça (o afundamento da Chalupa pararam a desordem na co-
Cumberland refor- luna, com os
pelo aríete do Merrimack navios se embaralhando e um

Çava a idéia), mormente do bloqueando a linha de tiro do outro. Ao


porque o advento grito
vapor "torpedos"
facilitava muito as manobras para o dos vigias de
(até, aproximada-
abalroamento. mente, 1870, as minas eram chamadas de
Durante toda a Guerra de Secessão, am- torpedos), Farragut salvou o dia, mandando
bos os e, todos
partidos lançaram mão do aríete que os navios avançassem apesar das
"Danem-se
quando os navios não dispunham deste re- minas: os torpedos. Toda a velo-
curso, cidade
do abalroamento. Houve algumas de- adiante". Desta forma, e ao
graças
zenas de deficiente sistema de disparo das minas
encontros desse tipo, nem sempre usa-
°s maiores das, ele
danos sendo do navio abalroado. pôde forçar a estratégica passagem,
f'oram apesar da oposição de uma força
construídos navios encouraçados, com naval sob a

RMB4"T/2000
147
proteção de fortaleza de terra, como já ocor- dispunha de um cilindro de AP descarregan-

rera na Guerra da Cri méia, e, ainda, existência do dois cilindros de BP, com
para
de campo minado." reaquecimento entre o cilindro de AP e os de

Foi também na Guerra de Secessão que o BP (motor denominado de composto).

primeiro navio de guerra de porte, o Em 1863, é construído na Inglaterra,


para
Encouraçado USS Cairo, foi afundado, em a Holanda, o Navio de Defesa Costeira Rolf

dezembro de 1862, por ação de mina. Krake, armado com duas torres com canhões

Conforme apontamos, o canhão de 8 polegadas, de acordo com do


projeto
Armstrong tinha problemas que logo a prá- oficial da Marinha inglesa Cowper Coles,
que
tica mostraria: não existia nada que evitasse é o primeiro navio de a usar torre
guerra

que o canhão fosse disparado se a culatra não construído para operar em mar aberto (o
estivesse adequadamente fechada. Em 1862, Monitor, conforme apontado, não tinha

durante o bombardeio de Kagoshima, no Ja- condições para isso). É importante notar
que
"torre"
pão, por uma força naval inglesa, uma série de à época o termo tinha um significado

acidentes com o canhão Armstrong a bordo diferente do atual: significava uma casamata,

do capitânia HMS Euryalus, determinou a na qual se abrigava o canhão,


que era monta-
retirada desses canhões de todos os navios do numa rotativa no convés do navio
placa
ingleses, que, então, retornaram aos canhões (exatamente como no Monitor).

de carregamento boca, apesar de seus Tem início uma controvérsia,


pela que se pro-
inconvenientes. Este retrocesso tecnológico longaria até 1879, entre duas escolas: a dos

só foi a na
possível porque pólvora época que defendiam a torre ou torreta, como a do
usada como propelente era a pólvora negra Monitor, e a dos defendiam a barbeta,
que

que, sendo de queima rápida, permitia que os nome que se dava ao sistema em que os

tubos alma dos canhões fossem curtos, tor- canhões eram instalados em plataformas
nando possível o carregamento boca, rotativas montadas no topo de uma torre
pela
apesar das dificuldades para fazer o projétil encouraçada ou barbeta, aberta na de
parte
engrazar nas ranhuras do tubo alma. Somente cima (sistema preferido pelos franceses).

muito mais tarde, como adiante veremos, a A vantagem da barbeta sobre a torreta era

Marinha britânica, resolvidas as dificuldades o canhão, sendo montado mais alto,


que
com a culatra, e havendo necessidade de permitia à guarnição ter uma melhor visada (o
aumentar a velocidade inicial dos único dispositivo de direção de tiro disponí-
projetis dos
canhões, retornaria ao canhão Armstrong. vel era apenas a luneta) e impedia o
que
A propulsão a vapor também evoluía: é canhão fosse lavado pela água do mar (devi-

lançada ao mar, em 1862, a Escuna francesa do ao grande peso da torreta, a borda livre do

Actif,com máquina a vapor com dupla expan- navio era muito não sendo total-
pequena);
são (cilindro de alta pressão e de baixa mente fechada como a torre, a barbeta deixava
pres-
são); no ano seguinte, é lançado o Navio- a do canhão livre do ambiente
guarnição
Transporte francês Loiret, com uma variante enfumaçado do interior da torre. Suas des-

da máquina de dupla expansão: a sua máquina vantagens eram a dificuldade de carregar o

11. No período que vai da Guerra de Secessão até a Primeira Guerra Mundial, o maior desenvolvimento das minas
"chifre
foi o de um sistema independente de disparo, conhecido com o de Herz". Consistia em frascos de
vidro com solução ácida; quando o vidro se quebrava pela choque com o casco do navio alvo, a solução ácida
liberada tornava-se o eletrólito de uma bateria primária, produzindo assim uma corrente elétrica que acionava
o detonador da mina. Este foi um passo extremamente importante pois, como a mina continuava inerte até
ser quebrado o vidro, a sua vida era ilimitada.

14S RMB4T/2000
canhão
pela boca e a exposição da guarnição nós); sua guarnição era de oito homens;
do canhão ao tiro inimigo, principalmente dispunha de tanques de lastro e sistema de
durante o
recarregamento. Ambas as dificul- respiro com dois tubos; era armado com tor-
dades foram sanadas com a adoção dos sis- pedo-lança (spar-torpedo), uma carga expio-
temas hidráulicos, o ca- siva colocada
que permitiam que na extremidade de uma lança
nhão fosse
rebaixado da
para trás da proteção (manobrava-se a embarcação de modo que a
couraça
da barbeta quando recarregando. carga explosiva fosse de encontro ao casco
A evolução levou à combinação dos dois do navio inimigo, explodindo —
por impacto
llPos, fazerido-se
a casamata montada sobre algumas vezes
por disparo elétrico). É o pri-
a barbeta, meiro submarino a obter um êxito militar, ten-
dando origem ao que foi inicialmen-
te chamado "torre-barbeta",
de e, posterior- do afundado o navio de federalista
guerra
niente, simplesmente Housatonic,
torre ou torreta. o submarino, também
porém,
Por outro lado, havia ainda os afundou, com
que acredi- toda a sua tripulação; ao se
tavam afastar do local, com as escotilhas
no princípio da bordada, com os ca- abertas, o
nhões alinhados do submarino embarcou
ao longo dos bordos água e foi a
pique (an-
navio Na teriormente julgava-se
do Gloire e do Warrior).
(caso que ele tinha sido al-
fedida, cançado explosão);
porém, em que os canhões aumenta- pela o ataque foi feito
vam de com o submarino imerso.
tamanho, este sistema teve de ser
"bateria
modificado, transformando-se na
A GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA
central", de
com os canhões situados dentro
uma cidadela co- Na América do Sul, o
encouraçada ou casamata, ano de 1864 fica
locada a marcado
meio-na vio. A bateria central, com pelo começo da Guerra da Tríplice
°s canhões Al iança (1864-1870), envolvendo, de um lado,
atirando principalmente pelos
bordos do com os Argentina, Brasil e
navio, foi muito popular Uruguai, e do outro o
navios de mista, nesses Paraguai. Coube exclusivamente
propulsão já que quase que
navios a aparelhagem a vela ao Brasil a responsabilidade
para a propulsão pela condução
impedia das operações
a operação da torre ou da barbeta, navais.
limitando dos seus ca- Em 1865, é travada
muito o arco de tiro entre brasileiros e
nhões 1865 seria lançado a Batalha Naval
(apesar disso, só em paraguaios do Riachuelo,
o uma batalha fluvial de caráter decisivo
primeiro navio com bateria central).
já que
Em 1863, os franceses lançam ao mar o a Esquadra foi dizi-
paraguaia praticamente
Submarino Le Plongeur; ele usava arcompri- mada. Embora a Fragata Amazonas, capitânia

mido tanto a como o brasileira, de


para propulsão para propulsão mista a roda, não
sistema de mergulho. Tinha dispusesse de aríete,
grandedificulda- o almirante brasileiro
de em manter a obstá- adotou a tática
profundidade (o maior de abalroar os navios
culo inicial o desenvolvimento do sub- e decidiu
para paraguaios, a sorte da batalha, ao
marino) e não dispunha de sistema afundar dessa forma
qualquer três dos navios
de armas. O projeto foi logo abandonado. e uma
paraguaios das chatas.

Nos Estados Unidos, ainda na Guerra de A força brasileira era composta de nove
Secessão, os confederados construíram em navios de casco de madeira e
propulsão mis-
1864, o Submarino Hunley, nada mais ta, enquanto a força
que paraguaia compunha-se
era do uma caldeira cilíndrica de ferro, também de nove navios rebocando
que chatas
com tampas cônicas em ambas as extremida- artilhadas; na verdade, lado
do paraguaio
des; tinha 40 apenas o Taquari
pés de comprimento, sua propul- era um navio de guerra,
são era a mão sendo
(a velocidade podia chegar a 2,5 os demais navios adaptados.

RMB4T/2000
149
As canhoneiras construídas na França e guerra desestimulou os esforços que se fazi-
na Inglaterra, chegadas ao Brasil como vimos am; seria necessário uma nova crise
para que,
em 185 8, com propulsão mista a hélice, cons- embora precariamente, se retornasse a cons-

tituíam o núcleo da Esquadra brasileira, com trução na década de 1880).12

os navios de maior porte e calado e menor O investimento feito na de


preparação
capacidade de manobra reservados a no início da década de 50 dava assim
para pessoal

proteção do tráfego marítimo ao longo das os seus melhores frutos.

costas do Brasil, inadequados que eram O Arsenal de Mato Grosso, situado na


para
operações fluviais. área próxima ao conflito, também contribuiu

A Batalha Naval do Riachuelo, embora para o esforço de guerra: em 1863, construiu

eliminasse a ameaça representada Es- uma canhoneira a vapor, de rodas; em 1864,


pela

quadra paraguaia e assegurasse o bloqueio um vapor fluvial de rodas13. O estaleiro da

do Paraguai pela vitoriosa força naval brasi- Ponta da Areia, em 1865 construiu duas

leira, não teve as conseqüências estratégicas canhoneiras14.

que se poderia esperar de uma batalha deci- Na Europa, prosseguiu arevolução naval-

siva. Graças às fortalezas que os paraguaios militar, com o lançamento, em 1865, do HMS

fizeram construir nas margens do RioParaguai, Belleroplion, navio de linha com


primeiro
"inexpugnável"
em especial a Humaitá, a Es- bateria central; sua bateria compreendia dez

quadra brasileira teve o seu acesso barrado canhões de 9 além de dois ca-
polegadas,
rio acima, não podendo,
pois, dispor da mais nhões de 7", montados numa bateria na
popa,
importante via de acesso logístico, numa re- e três canhões de 7", sem proteção, dos
quais

gião alagada onde as comunicações terres- dois poderiam atirar pela proa; o navio dispu-

tres eram extremamente precárias. nha de aríete e sua couraça de ferro tinha 6

A partir de 1865, o desafio criado de espessura.


pela polegadas

guerra iria ser a causa de um novo surto de

desenvolvimento da construção naval no A GUERRA AUSTRO-PRUSSIANA -

País, especialmente no Arsenal da Corte: em A BATALHA DE USSA

1865, foram lançados ao mar uma canhoneira

a vapor e dois navios encouraçados; em 1866, A Guerra Austro-Prussiana (1866), embo-

um navio encouraçado e duas bombardeiras; ra decidida em terra, ensejou a Batalha Naval

em 1867, uma corveta e três monitores de Lissa, objeto de inúmeras discussões.

encouraçados; em 1868, três monitores A Esquadra italiana - a Itália era aliada da

encouraçados, além do início da construção Prússia -, sob o comando do Almirante Con-

da Corveta Encouraçada Sete de Setembro, de Cario di Persano, escoltava um


quando
com casco de madeira e couraça de 4 comboio de tropas atacariam a Ilha de
polega- que
das (só seria concluída em 1874: o fim da Lissa, no Mar Adriático, avistou a Esquadra

12. Os navios lançados ao mar no Arsenal da Corlc foram: em 1865, a Canhoneira Taquari e os Encouraçados
Tamandaré e Barroso-, em 66, o Encouraçado Riachuelo c as Bombardeiras Pedro AJbnso c Forte de Coimbra;
cm 67, a Corveta Vilal de Oliveira c os Monitores Encouraçados Pará, Rio Grande e Magoas-, cm 68, os
Monitores Encouraçados Piauí, Ceará e Santa. Catarina, além do Vapor Levei e do Rebocador
pequeno
La/nego. Alguns dos encouraçados c dos monitores encouraçados seriam usados cm Humaitá.
13. Os navios construídos no Arsenal de Mato Grosso foram: cm 1863, a Canhoneira Cuiabá-, em 64, o Vapor
Fluvial Paraná.
14. Os navios construídos no estaleiro da Ponta da Areia em 1865 foram as Canhoneiras Greenlialgli e Mart ílio
Dias.

ISO RMB4uT/2000
(

BRASILEIROS CONSTRUÍDOS NO BRASIL

\'iuil|^/r, Mveini''|K<>7•'

Alagoas (1867), 1 H -
r
moniior-cncourafado '
4
Sele de Setembro (1874). fragala brasileira (no texto ela c classificada como corveta) (Foto: SDM)

liellerophion (1865). inglês

(Foto: JFS-1898)

Affoiuliilore (1865), italiano (Foto: JFS-1898)

152 RMB4uT/2(>00
austríaca, Com o lançamento ao
sob o comando do Almirante Von mar em 1866 da
Tegetthoff, Ambas as Fragata HMS Pallas, a máquina a vapor de
vindo para o ataque.
Esquadras de navios com dupla expansão é usada em navios de maior
eram constituídas
canhões na obso- anteriormente
borda, que já se tornavam porte; (1862) ela fora usada
'etos, sendo italiano numa escuna.
a única exceção o navio

Affondatore, com No ano de 1867, o oficial Marinha


que dispunha de torreta de
dois canhões e, tam- austríaco Johann Luppis e inglês
de alma raiada de 9,75" o Robert
bém, de aríete - Whitehead desenvolvem o
sem dúvida, o mais poderoso projeto do primei-
navio ro torpedo autopropulsado, arma que, após
que participou da batalha (recém-saído
do estaleiro uma série de aperfeiçoamentos, iria revoluci-
construtor na Inglaterra, o navio
não tinha reais onar a guerra no mar, como adiante veremos.
condições para o combate). A
frota austríaca, O
numericamente superior, ti- primeiro torpedo tinha um motor de ar
nha a maioria de seus navios com propulsão comprimido que lhe imprimia uma velocidade

a hélice, mas sem couraça; seus navios de 6 nós, e dava-lhe um alcance de apenas 300

encouraçados Max e transportava uma carga


Erzherzog Ferd.ina.nd jardas; de dinamite

Hcibsburg ainda não tinham recebido os no- de 18 libras no nariz.

vos canhões Krupp, tendo A partir de 1867 o vapor

c°mo armamento e ser usado a bordo


principal os passa
velhos
canhões na borda, para ac ionamento de máqui-
56-pounder, de lisa, nas auxiliares, como,
alma por
Praticamente inúteis contra Navios de madeira da exemplo, para a geração de
as couraças italianas; os energia elétrica, movimen-
Esquadra brasileira, não
outros cinco navios da frota tação de guindastes, paus
enfrentar
só dispunham podiam de carga e cabrestantes, ti-
de canhões
64 -pounder, de carregamen- fortalezas equipadas com ragem forçada das caldeiras

topelaculatraeraiados,e56- (o que permitia maiores ra-


a artilharia da época

Pounder de alma lisa. A arti- zões de combustão) e para


'haria da frota italiana era uma melhor ventilação dos

muito superior à da austría- compartimentos habitáveis

ca; embora seus canhões do navio. Uma verdadeira

fossem também na borda, eram de alma raiada. revolução, não é na


que quase percebida
Inferiorizados na artilharia, os austríacos re- atualidade.

solveram fazer uso da tática de aríete. O

Encouraçado italiano Re d'Italia foi afunda- A GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA

do dessa maneira; o Palestro, atingido CONTINUA


por
uma na popa, explodiu.
granada
No momento em mente, Na América do Sul,
que, incontestável prosseguia a Guerra
a couraça mostrava-se decididamente supe- da Tríplice Aliança contra o Paraguai. Apesar

rior ao canhão e se atribuía ao aríete enorme daesmagadora vitória brasileira em Riachuelo,

valor, impunha-se a Esquadra não


que o maior número possí- pôde prosseguir rio acima

vel de canhões da bateria antes do conflito, os paraguaios ha-


principal pudesse porque,
atirar o navio tentava viam feito construir modernas fortalezas, en-
pela proa, já que que
alcançar o outro com aríete tinha tre as
que avançar quais Humaitá, nas margens do Rio

de Paraguai; numa região alagadiça como aque-


proa para o inimigo e era importante que o
fizesse la, o rio era a única via disponível
com os seus canhões atirando. para o apoio

RMB4°T/2000 153
logístico das forças em operação e o livre canhão era de 120 mm; nos outros, o canhão

acesso a ele era, pois, indispensável. Com os era de 70 mm.

navios que, em 1865, compunham aEsquadra O projeto desses monitores era totalmente

brasileira a neutralização das fortalezas era, baseado no projeto do seu ilustre antecessor

porém, impossível: navios de madeira, con- da Guerra de Secessão, o Monitor.

forme já foi aqui apontado, não en- Em fevereiro de 1868, a foi


podiam passagem
frentar fortalezas equipadas com a artilharia forçada navios encouraçados
pelos
da época. (ironclad) Barroso, Bahia e Tamandaré, cada
Foi assim necessário que o Arsenal da um levando a contrabordo, bombordo,
por
Corte desenvolvesse a tecnologia adequada um monitor couraçado, respectivamente, o

e construísse os navios com couraça Rio Grande, o Alagoas e o Para; as conseqü-


que

pudessem forçar a passagem da Esquadra ências da rendição da fortaleza de Humaitá

para além de Humaitá, conforme as lições da pouco depois, em julho, foram quase imedia-
Guerra da Criméia (o bombardeio do forte de tas: em de 1869 as tropas aliadas
janeiro
Kinburn e de Sebastopol já ocupam a capital inimiga;a

comentados) e, as mais re- ainda


guerra prosseguiu
centes, da Guerra de Seces- mais um tempo, até março
Os dos
são nos Estados Unidos projetos de 1870, mas já decidida,

(David Farragutt em Mobi- encouraçados e dos com as tropas da Tríplice

le). Já vimos que a


partir de monitores encouraçados
Aliança
perseguindo im-

1865 a Marinha construiu através do


placavelmente,
eram de Napoleão Levei, e
um número considerável de território paraguaio, as de-

navios. as máquinas instaladas sorganizadas mas aguerri-

Os projetos dos encou- foram de das tropas de Solano


projeto e
raçados e dos monitores López.
construção nacionais, a
encouraçados, conforme Durante o conflito da

apontado cargo de Carlos Braconnot


anteriormente, Tríplice Aliança, os

eram de Napoleão Levei, e lançaram mão


paraguaios
as máquinas instaladas fo- da de minas, sob
guerra
ram de projeto e construção nacionais, a inspiração da Guerra da Secessão. Para tanto,

cargo de Carlos Braconnot. (Ver fotos na contrataram um ex-oficial da Marinha dos

pág. 139) Estados Unidos, Thomas H. Bell,


que produ-
Os monitores encouraçados eram de ziu minas no Arsenal de Assunção. As minas

construção mista de madeira e ferro (os vaus ali desenvolvidas consistiam num recipiente

eram de ferro) e levaram couraça de ferro; vedado, cheio de a um


pólvora, preso
sua única propulsão era a vapor; dispunham flutuador, com um sistema mecânico de dis-

de um canhão montado em torre giratória, paro. As minas eram lançadas rio abaixo con-
na linha de centro do navio, na forma de tra os navios brasileiros.

um prisma retangular com duas faces Para se prevenir contra este tipo de
guerra,
circulares (menor peso); tinham o Brasil contratou por sua vez um engenheiro
pequeno
calado e ótima manobrabilidade aos norte-americano
graças que, durante a guerra civil,
dois eixos propulsores. Em três monitores servira à Marinha dos Estados Confedera-
- Ceará, Piauí e o Santa -
Catarina o dos: James Hamilton Tomb*. Para proteção

* "Diário
N.R.: Sobre esse engenheiro, ver do Captain Tomb", RM1I 1" trim./2000, 137-156.
p.

154 RMB4T/2000
'—¦ 4SL^mmmmmmmnrlt*itmm*ékm - -t*^*"< '" '* —^—^4ttaid^ "¦¦ '. I
.

/ííi/i/í/ e Tamandaré (IS6S1. Encouraçados brasileiros

*-^É-ati
-o^-l
ris

Pará (1868). Monitor encouraçado brasileiro

¦^^B^i^a_M^aa^aa^i^ki ^^^^^^^^^^^^

RM B4T/2OO0 155
dos navios contra as minas derivantes, ele na batalha de Sedan; a incontrastável supe-

rioridade naval francesa - a França era o


adotou redes de proteção, colocadas junto

aos navios fundeados, e estabeleceu um sis- Poder Naval de desafiava o Poder Naval

tema de escaleres tripulados a patrulha hegemônico da Inglaterra - não teve nenhu-


para

dos rios, com o de encontrar e ma influência na guerra. Pode-se tirar disso


propósito

desviar as minas lançadas. uma importante 1 ição: para que o Poder Naval

Apesar dessas medidas, durante o bom- exercer todas as suas capacidades é


possa

bardeio de Curuzu pelas forças navais brasi- indispensável que a guerra tenha certa dura-
na Guerra Austro-
leiras (1866), o Encouraçado brasileiro Rio de ção, conforme já ficara claro

Janeiro foi atingido por uma mina e afundou, Prussiana, quando a derrota no mar dos itali-

com boa parte de sua tripulação. anos, aliados da Prússia, não teve conseqü-

O reconhecimento do valor da couraça ências significativas para o desfecho do con-

aumentava em toda a parte; com a evolução flito (a decisiva Batalha de Sadowa definiu a

dos canhões e dos projetis impunha-se o uso sorte da guerra).

de couraças cada vez mais espessas: a partir Continuavam as experiências com o torpe-

de 1868 as couraças dos navios de linha do Whitehead. Após algumas experiências

realizadas pela Esquadra


passaram a ter até 9 pole-
ain- britânica do Mediterrâ-
gadas de espessura,

da de ferro. neo,em 1870, alnglater-

A com ra comprou o direito de


preocupação
Para o Poder Naval
o uso dc aríete levou, que fabricação desses torpe-

conforme já aqui assina- exercer todas as suas dos; posteriormente, ou-


possa
lado, a esforços para dar tros países, como aFran-
capacidades é
aos navios uma clara li- ça, a Alemanha, a Aus-
indispensável a
nha de tiro que guerra tria, a Itália, a Rússia e a
pela proa:

dentro desse espírito, é tenha certa duração Suécia fizeram o mesmo.

lançado ao mar, em 1868, Estava aberta a porta para

o HMS Hércules, arma- que essa arma tivesse

do com uma bateria cen- adoção geral embora ain-

trai de oito canhões de 10 polegadas, quatro da levasse algum tempo para que ela demons-

dos instalados sobre plataformas trasse toda sua eficácia e viesse revolucionar
quais

rotativas nos cantos da cidadela avante, per- a arte da guerra no mar.

mitindo que eles pudessem cobrir um arco de

tiro indo da proa até a alheta; o navio dispu- ACIRRA-SE O DUELO

nha ainda de dois canhões de 9" e quatro de COURAÇA x CANHÃO

7", metade deles atirando para vante, metade

Um importante acontecimento tem lugar


para ré.
em 1871. O HMS Captain, navio de

A GUERRA FRANCO-PRUSSIANA mista e armado com torreta,


propulsão

emborca e afunda. O navio era projeto do

No ano de 1870 tem lugar a Guerra Franco- oficial da Marinha britânica Cowper Coles.

Prussiana, última etapa do processo de unifi- Durante a construção do navio, Coles

caçãoda Alemanha, soba liderançada Prússia estava doente e, por isso, não a supervisio-

nou; os foram sendo colocados a


de Bismarck. Foi um conflito exclusivamente pesos que

terrestre, sendo decidido muito rapidamente bordo deixaram de ser controlados, de forma

156 RMB4T/2000
"*hrt _ I M-
*^_
!
f í—fc

i
I>*P^i-» _ r-lilnir. Dreadnoughl (1875). Encouraçado inglês (Ambas folos: CAB)

^—"~T^ ~^ "X

<* _Xri_r-Jl Jl_-- /1

K
que o deslocamento do navio, que fora pro- A resposta não se fez tardar: ainda em

jetado para 6.963 toneladas., alcançou 7.767, 1871 foi lançado ao màxoHMS Devastation,

e a borda livre de projeto, que era de 8 Vi pés, primeiro navio de linha com propulsão exclu-
lA
caiu para apenas 6 pés na ocasião da si vãmente a vapor, só dispondo de um peque-

entrega. no mastro para sinais. Era

Algumas importantes li- — dotado de torres a vante e

ções foram tiradas desta tra- A torreta, com seu enorme a ré da superestrutura, com

gédia: tornava-se evidente canhões de 12", com


mostrava-se
peso,
que a propulsão mista, im- conteira ainda manual; sua
totalmente incompatível
plicando no uso de mastros, couraça atingia 12" de es-

vergas e toda a aparelhagem com a a vela pessura, extraordinária


propulsão
necessária para a propulsão para a época. Essa combi-
a vela, era incompatível com nação de grande couraça e

o emprego das couraças, cada vez mais pesa- de torres com grandes canhões só foi possí-
das; a torreta, com seu enorme peso, mostra- vel porque o navio não dispunha de velas.

va-se totalmente incompatível com a propul- Em 1871, um importante acontecimento

são a vela. teve lugar no que concerne à propulsão


a

¦ Ambas fotos:
Iniinaerer
WMM
¦* CA"
(1872). _
Encoura^ado

' ''
'
vapor: dois canhões de 11" montados
o oficial da Marinha francesa F. du em barbeta.
Temple inventa de Em 1875, foi lançado o navio da mesma classe
a caldeira aquatubalar
tubos finos, Vice-Almirante Popov, só que
tornando obsoletas as antigas seus canhões
caldeiras eram de 12". Embora esses navios
flamatubulares. Posteriormente, os fossem,
mgleses Thornycroft e o francês como estáveis, mes-
e Yarrow projetado, plataformas
Normand desenvolvem mo em condições de mar em
outros modelos des- que outros navi-
te tipo de torna de os jogavam muito, o fundo chato em forma de
caldeiras, que, assim, se
uso "batessem"
universal. disco fazia com que muito com o

Em 1872, é lançado ao mar o HMS mar e que o seu convés estivesse quase
Thunderer,
da mesma classe que o permanentemente imerso quando em viagem.
Devastation, de vante O em virtude desse
mas com os canhões projeto, problema, foi
de 12,5" , operados c com definitivamente abandonado.
hidraulicamente
c°nteiraavapor. Em mais uma etapa do duelo entre a cou-

No Brasil, é lançada ao mar, no Arsenal da raça e o canhão, é lançado ao mar em 1875 o


Corte, em 1873, HMS Dreadnought - homônimo
a Corveta Trajano, que assi- do navio
nala o início se tornaria famoso três décadas
de um novo ciclo de construção que mais
naval no
País, embora a situação econômica tarde - o primeiro encouraçado a usar couraça

do País fizesse de muito de 14" de espessura. foto na pág. 157)


com que ele fosse (Ver
menor expressão sob A Guerra de Secessão mostrara
que a do ciclo anterior, que pe-
motivação da Guerra do Paraguai. Dois navi-
quenos navios, embora armados com os tipos
°s encouraçados, foram mais de torpedos - o torpedo-
de propulsão mista, primitivos
'ançados longo da lança ou o torpedo Harvey (uma carga expio-
no mesmo Arsenal ao
década de de casco de si va rebocada que era levada a explodir contra
70; eram cruzadores
madeira, de muito baixa velocidade e de pe- o costado do navio inimigo)15 - ter
podia

queno valor militar. sucesso contra um na vio maior e melhor arma-

Uma curiosa tentativa teve lugar na do: pequenas embarcações conhecidas como
"Davids"
Rússia, as
em 1873. Para dar aos navios (porque se opunham aos grandes
"Golias"
características da força federal) realizaram ataques
de uma boa plataforma de tiro,
e. ao mesmo com êxito - inclusive
tempo, conciliar um grande des- contra o navio USS
'ocamento Albermale, afundando-o — embora
com pequeno calado, nesse ano algumas
0s russos o Navio vezes sendo vítimas das
lançaram ao mar explosões que pro-
Encouraçado Novgorocl, vocaram. Em 1875, coube
para defesa costeira aos noruegueses
de casco circular, lançar ao mar a Torpedeira
com o formato semelhante Rap, para defesa
ao de uma frigideira. O navio dispunha de três costeira, uma pequena embarcação de 7 a 8
conjuntos seis toneladas, com 55
de máquinas acionando pro- pés de comprimento, capaz
Pulsores, lhe davam uma velocidade de desenvolver uma velocidade de 15 nós;
que
máximade8,5 nós; sua artilharia compreendia barcos semelhantes foram construídos
para a

'5. O torpedo Ilarvcy, uma invenção do oficial da Marinha inglesa Harvey, consistia basicamente numa carga
explosiva (à época, explodir debaixo d'água era chamado de torpedo),
qualquer dispositivo para que era lançada
pela popa da embarcação atacante presa por um fio; quando rebocada em alta velocidade tendia, a se afastar
da esteira da embarcação atacante formando com ela um ângulo de 45° (um dispositivo semelhante ao usado
na pesca ajudava essa tendência); a carga podia ser preparada para explodir
quando se chocasse contra o casco
do navio alvo ou acionando-se eletricamente um dispositivo
podia ser preparada para explodir quando a carga
estivesse em ao alvo. O torpedo-lança consistia numa carga explosiva
posição conveniente em relação
"lança"
colocada na extremidade de uma longa presa à proa da embarcação atacante.

KMB4"'1720<>0 159
Suécia, Dinamarca, Áustria e Argentina; em- reduzida a pedaços. Os italianos decidiram a

bora o torpedo auto-propulsado já tivesse favor do aço.

aprovado, como vimos, em testes realizados Os canhões de 17,7", porque na época não

em 1870, nenhum desses navios dispunha existia nenhum sistema de carregamento ca-

dessa arma; dispunham apenas dos primiti- paz de carregá-los e operá-los com eficiência,

vos torpedos. logo se mostraram inadequados, apresentan-

Em 1875, surge um novo tipo de navio, do uma cadência de tiro muito baixa; mostra-

com o lançamento ao mar do Cruzador ram-se menos eficazes que os canhões de 12"

Encouraçado ou Encouraçado de 2a classe que, por isso, tornaram-se o armamento pa-

HMS Shannon, que se pretendia pudesse drão nos encouraçados de todo o mundo.

realizar tanto as tarefas do encouraçado, for- Com o Duilio foi iniciada a prática da

mando na linha de batalha, como as de cruza- cidadela central e torretas nos cantos opos-

dor, na proteção ou ataque ao tráfego maríti- tos da cidadela.

mo; foi o primeiro navio a ter convés Como o aumento da espessura das coura-

encouraçado, além da cinta-couraça até a ças passou a comprometer a velocidade dos

linha d'água, esta introduzida para dar prote- navios (havia limites para a potência instala-

ção aos novos motores de propulsão verti- da), tornou-se importante desenvolver cou-

cais; deslocava 6.000 toneladas e atingia a raças de outros materiais que, por terem me-

velocidade de 14 nós; seu armamento era do lhor resistência, poderiam ter menor espessu-

tipo bateria central. ra e peso. Os esforços nesse sentido não

Com o crescente aumento da espessura tardaram. Tanto na França (Marselha) como

das couraças, canhões cada vez maiores fo- na Inglaterra (Sheffield) foi desenvolvida a

ram sendo usados a bordo. Em 1876 foi couraça composta: umaplacade açoera sol-

lançado ao mar o Encouraçado italiano Duilio, dada sobre uma de ferro. Os testes realizados

de 12.000 toneladas (outro, da mesma classe nos dois países com esta couraça foram um

seria lançado em 1878, o Dandolo), armado enorme sucesso, de modo que nos dez anos

com quatro canhões gigantescos de 17,7" que se seguiram elas foram de uso obrigató-

(cada canhão pesando 100 toneladas), de rio, em todas as Marinhas do mundo, para os

carregamento pela boca; o navio dispunha de grandes encouraçados.

uma couraça de aço de 22", e desenvolvia a Em 1876, foi lançado ao mar o HMS
"sanduíche",
velocidade máxima de 15 nós. Injlexible, ainda com couraça

Para a escolha da melhor couraça, os de ferro forjado, com 24" de espessura, o

italianos realizaram testes entre uma couraça limite a que se podia chegar com couraças de
"sanduíche"
de ferro forjado (como usual até então) de ferro; o tipo compreendia duas

22", fabricada em Sheffield e em Marselha, chapas de ferro de 12", com madeira entre

e uma couraça de aço desenvolvida por elas. Deslocando 11.000toneladas,eraomaior

Schneider, de igual espessura, ambas navio até então construído; dispunha de

montadas sobre placas de madeira (teca) de quatro canhões de 16" (peso unitário de 80

19"; sabia-se de antemão que o aço oferecia toneladas), carregamento pela boca; seu com-

maior resistência que o ferro mas, por outro primento era de 320 pés e a boca moldada de
lado, ele se mostrava mais quebradiço. 75 pés. Para determinar as melhores caracte-

Ambos os materiais não foram perfurados rísticas para os seus hélices, foram realizados,

pelos tiros dos canhões de 10"e 12"; quando por William Froude, testes hidrodinâmicos

foram testados com o canhão de 17,7", a em tanques de prova e, graças a isso, apesar

couraça de ferro foi perfurada e a de aço foi do seu enorme tamanho, o navio podia desen-

160 RMB4T/2000
volver 15 nós. Dispunha de tanques anti- na foz do Rio Danúbio, duas canhoneiras

rolamento - turcas ancoradas; as lanchas, arma-


e de luz elétrica. Levava a bordo quando
uma concepção arrojada! - dois torpedeiras das, só eram capazes de desenvolver 5 nós e,

de 60 como o torpedo tinha ser levado de


pés, com os primeiros tubos de torpedo que
submersos. complexidade, o encontro ao casco inimigo, elas ficaram muito
Devido à sua
navio só foi comissionado em 1881. tempo sob o fogo do inimigo, mas
pesado

Em 1876, foi lançado ao mar o HMS apesar disso, o ataque foi um sucesso: a

Lightning, uma torpedeira de 19 toneladas, Canhoneira turca Seife foi a pique sem que a

fabricado lancha que a atacou tivesse sofrido qualquer


pela Thornycroft, com velocidade
de 18 nós. A importância dessa embarcação baixa.

está no fato de modelo


dela ter servido para
um número embarcações seme- AS TORPEDEIRAS COM TUBOS
grande de
'hantes AXIAIS
construídas pela própria Thornycroft
e
pela Yarro w, em face do enorme sucesso do
Lightning, depois que ela recebeu, algum Nesse ano, é lançada a Torpedeira france-

tempo depois sa Embarcação Torpedeira Na 1 antes


do lançamento, um dispositivo que,
de lançamento do torpedo do Lightning, é a primeira embarcação
pela popa prepa-
autopropulsado logo veremos, não rada para lançar os torpedos Whitehead,
(como por
foi, 'água,
tubos axiais, situados abaixo da linha d
porém a primeira embarcação a dispor de
tubo um avante e outro a ré, entre os dois eixos. É
para lançar o torpedo Whitehead).
Novos melhoramentos foram introduzi- uma embarcação de 101 toneladas, acionada

dos na construção naval: em 1876, é lançado por duas máquinas alternativas de três cilin-

ao mar Rédoutable, dros, que lhe imprimiam uma velocidade de


o Encouraçado francês
navio com 14,25 nós. Embora não tenha sido um suces-
casco de aço e couraça de aço de
22 so, devido à sua baixa velocidade, seu
polegadas (como se vê, a couraça compos- projeto
ta custou serviu de base um novo tipo
a ser usada); primeiro navio a ter as para de navio

cavernas anos mais tarde, seria conhecido


de aço, conipartinientagem estan- que, como

flue com duplo fundo e anteparas estanques navio contra os torpedeiros ou


transversais contratorpedeiro.
e longitudinais.

Em 1877, numa das recorrentes guerras O emprego operacional do torpedo


entre russos autopropulsado deu um
e turcos, quatro lanchas russas, novo e extraordiná-

armadas rio impulso à tática


com torpedos-lança, atacam à noite, naval. Os dispositivos

Rédoutable (1876). Encouraçado francês (Foto: JFS 1898)


I/ncscar (1865).
Monitor chileno

— ¦-^ ^ v *• ' '' '' ' •"•"t • * r- —

Almirante Corhranc.
Cruzador chileno
— (Ambas fotos: JFS-1898)

para lançamento dos torpedos Whitehead, podia ser lançada uma torpedeira, alojada

quer os instalados no convés quer em tubos nesse compartimento; duas outras torpedeiras

axiais submersos, tornaram-se comuns em eram transportadas no convés superior. As

quase todos os navios de combate, mas, pequenas torpedeiras transportadas nos gran-
especialmente, valorizou as pequenas des encouraçados seriam, algum tempo de-

torpedeiras. pois, designadas torpedeiras de 2" classe,

O sucesso do Lightning, após as modifi- distingui-las das maiores, ditas de 1"


para
cações que o capacitaram a lançar os novos classe, que operavam independentemente.

torpedos, deu origem, confor-

mejá tivemos ocasião de sali- A GUERRA CIIILE PERU

entar, a uma série de torpedei-


O emprego operacional
ras, de construção inglesa, mas Um incidente no mar, ocor-
do torpedo
adquiridas pelas pequenas rido cm 1877, foi importante

Marinhas de todo o mundo. autopropulsado deu um em evidência as


porque pôs
As torpedeiras Thorny- limitações dos cruzadores da
novo e extraordinário
croft deslocavam 13 tonela- época. Tendo o Monitor pe-
impulso à tática naval
dasedesenvolviam 14 nós; as ruano Huescar se envolvido

Y arrow, 27 toneladas e 17 nós; — em atos de foi ele


pirataria,
ambos os tipos podiam lançar interceptado pelo Cruzador

dois torpedos Whitehead. Inicialmente, es- inglês HMS Shah\ apesar da enorme superi-

sas embarcações eram projetadas para serem oridade do cruzador sobre o monitor no que

levadas a bordo dos navios de linha, operan- diz respeito à artilharia-o cruzador dispunha

do a partir deles; o Dtiilio, conformejá foi dito, de 18 canhões, sendo dois de 10 polegadas e

transportava torpedeiras: ele dispunha de um 16 de 6 polegadas - o encontro não foi con-

grande compartimento a ré, na altura da linha clusivo; devido à baixa velocidade inicial dos

d'água, fechado na extremidade posterior por canhões do Shali, que usavam pólvora negra

pesadas portas estanques, através das quais como propelente, seus projetis não conse-

162 RMB4T/2000

.
guiram a couraça de 4Vi de ferro mais do que um canhão funcionando, estava
penetrar
forjado com tiros sem leme e estavam fora de combate cerca de
do navio peruano, mesmo
disparados três de sua tripulação. Depois de
à queima-roupa. Nesse duelo entre quartos
a couraça era extenso trabalho de reparas o Huescar, agora
e o canhão, a tendência para
canhões arvorando o pavilhão chileno, enfrentou em
cada vez maiores (veja-se o caso do
Duílio) vez mais resis- 1880 o Monitor peruano Manco Capac numa
e para couraças cada
tentes sem
e espessas (veja-se o caso do batalha qualquer resultado para um dos

Inflexible). lados.

O confronto entre o Huescar e o Sliali O primeiro êxito em combate de um torpe-

ficou também do autopropulsado não tardaria a chegar. Na


marcado porque foi a primeira
vez extremidade mais remota do Mar Negro, em
que um torpedo Whitehead foi lançado
ern combate; Batoum, enfrentavam-se russos e turcos;
o torpedo lançado pelo cruzador o
falhou, comandante russo, Almirante Makharof,
possivelmente porque o navio peru- vi-
ano nha tentando atacar os turcos usando
pôde se esquivar (mais provavelmente
devido torpedeiras armadas com o torpedo Harvey,
às deficiências ainda existentes no
torpedo). sem nenhum resultado. Somente com a che-

O Huescar, de volta mais tarde ao controle gada dos torpedos Whitehead, a situação iria
do mudar; os torpedos e seus dispositivos
governo do Peru, representou um papel de
relevante lançamento foram colocados em dois barcos
na Guerra do Chile contra o Peru e
aBolívia( especialmente preparados
1879-82), em que o Poder Naval foi para isso;em 1878,
usado Em 1879, o eles atacaram e afundaram um vapor turco de
de maneira intensa.
Huescar e o Encouraçado Independência, da 2.000 toneladas lançando os torpedos a uma
t' ota distância de apenas 80 jardas.
peruana, enfrentaram a Chalupa chilena
Esmeralda Os motores compostos
e a Chalupa Cavadonga; o Inde- que, como vimos,
Pendência foi levado a encalhar vinham sendo usados desde 1863, atingem o
pelo
Cavadonga até se transfor- seu máximo desenvolvimento em 1878, com
e bombardeado
^ar num casco soçobrado e o Huescar afun- o lançamento ao mar dos Navios de Despa-
dou o Esmeralda; com o resultado de ação, cho - correspondente aos avisos franceses -
foi suspenso da Marinha britânica, o íris e o Mercury,
temporariamente o bloqueio de
que
Iquique atingem a velocidade recorde
pelos chilenos. Em outubro do mes- de 18,5 nós.
¦no ano, dois Em 1879, mais um acidente
o Huescar foi atacado por grave na Ma-
navios chilenos, rinha britânica traz conseqüências importan-
o Blanco Escalada eoAImi-
''cinte tes: explode um dos canhões de
Cochrane e, depois de uma batalha 12", carrega-
heróica, não dispunha de mento pela boca, do HMS Thunderer. Depois
rendeu-se, quando

Iris c Mercury (1896). Navio de Despacho inglês (Foto: JFS-1898)


de uma nega de fogo, o canhão foi inadverti- das abaixo da linha d'água do navio -
praças
damente carregado com um segundo tiro (pro- de máquinas, de caldeiras e os paióis de

jetil e carga) e, quando feito o novo disparo, munição - eram


protegidas por um convés de
explodiu. A análise do acidente indicou
que aço, com espessuras que iam desde 3á" até 6".

esse tipo de acidente só


pôde ocorrer porque Eram dotados de compartimentagem estan-

o carregamento do canhão era pela boca. e, como adicional, suas


que proteção
Conforme veremos, o acidente do carvoeiras foram colocadas
junto ao costado
Thunderer contribuiu os ingleses do navio.
para que
voltassem a usar o carregamento
pela culatra. Os cruzadores encouraçados dispunham

A verdade, porém, é que mesmo nesses ca- de couraça lateral, o que lhes dava uma pro-

nhões, continuavam a ocorrer acidentes; isso teção superior a dos O primeiro


protegidos.
só acabaria quando, mais tarde, o tubo alma destes navios apareceu, conforme menciona-

dos canhões, que era de ferro forjado, fosse do anteriormente, em 1875, o Cruzador

feito de aço. Encouraçado HMS Shannon. Eram também

Em 1879, é lançado o submarino HMS chamados de encouraçados de 2a classe.

Resurgam, do da igreja A tendência para a adoção nos cruzadores


projeto padre
anglicana Garrett. O navio tinha propulsão a de couraça lateral foi muito
persistente apesar
vapor: na superfície, uma caldeira de alguns analistas navais
quando julgarem que, mais

produzia vapor que era descarregado num do couraças e ca-


que poderosas grandes
tanque de água quente; o calor latente assim nhões, a melhor característica dos cruzadores

armazenado era usado para a propulsão era a velocidade superior,


quan- própria dos cruza-
do o submarino estava imerso; por este pro- dores protegidos, e maior rapidez de tiro; o li-

cesso, o navio podia operar mergulhado mite da couraça seria aquele


por que não sacrifi-
ou 5 horas, com velocidade em torno de 3 casse a velocidade ou o raio de ação do navio.

nós. Usava tanques de lastro lhe davam No final da década surgiria uma novaconcep-
que
uma pequena reserva de flutuabilidade. Mer-
ção, sobre o qual falaremos mais adiante.

gulhava com auxílio de hidroplanos. Foi um No ano de 1880, é lançada a primeira


total fracasso, tendo afundado durante as torpedeira seria classificada como de 1"
que

provas de mar. classe, a Torpedeira russa Batoum. Era uma

A partir de 1880, começam asepopulari- embarcação de 40 toneladas, 100 pés de com-

zar os navios construídos com casco de aço -


pri mento, motor de 500 HP e velocidade de 22

já vimos que o primeiro navio com casco de nós. Foi construída na Inglaterra
pela Yarrow.
aço foi o Rédoutable, lançado ao mar em 1876 Em 1880, é lançado ao mar o Cruzador de
- o
que representava um grande avanço pois Batalha Itália, concepção de Benedetto Brin

o aço era mais leve, mais resistente e de menor o Duilio). Optando manutenção
(como pela

preço do que o ferro. dos grandes canhões de 17,7 polegadas


e

acreditando que a velocidade seria um fator

05 CRUZADORES fundamental para esse tipo de navio, o


proje-
tista optou por sacrificar completamente a

Na década de 80 também estavam em de- cinta-couraça; somente as bases das duas

senvolvimento duas concepções diferentes torretas, os elevadores de munição e a base

de cruzadores: os cruzadores protegidos e os das chaminés eram protegidas por couraças,


cruzadores encouraçados. constituindoacidadelacentral.Paracompen-

Os cruzadores protegidos não dispunham sar esta vulnerabilidade, em toda a extensão

de couraça lateral; suas vitais, situa- do navio foi usado um sistema celular de
partes

164 RMB4°T/2000
Proteção, que correspondia à divisão do cas- A bateria secundária, constituída por ca-
co em grande número de nhões de tiro rápido, é instalada, a partir de
pequenos compar-
«mentos estanques, cheios de carvão ou de 1882, a bordo dos encouraçados, de modo
cortiça; a economia de
peso resultante permi- que eles pudessem repelir o ataque das
tlu que atingisse a velocidade de 18 nós, torpedeiras. São canhões de 6 polegadas, ou
admirável na época menores, de carregamento pela culatra, gran-
para um navio desse
Porte. O Itália e o Lepanto, da mesma classe, de rapidez de tiro, instalados em grande nú-
lançado em 1883, são os mero ao longo dos bordos do navio.
precursores dos
cruzadores de batalha da era dos
dreadnoughts. Esta arrojada concepção - o A EVOLUÇÃO DA PÓLVORA
abandono da couraça e a adoção dos ca-
nhões gigantes - não iria O aparecimento desses canhões está as-
persistir, porém,
mesmo na Itália. A maior proteção dada por sociado à evolução da pólvora. A pólvora
couraças mais leves, mas mais resistentes e as inicialmente usada como propelente era a
dificuldades operacionais dos grandes ca- pólvora negra, constituída de grãos peque-
nhões iriam contribuir para isso; os canhões nos, e cuja principal característica é liberar
de 12 polegadas caminhavam para se tornar toda a energia imediatamente após a ignição.
"padrão".
Como a precisão, o poder de impacto e o
Em 1881, Schneider introduz o processo alcance do canhão dependem da velocidade
de tempera do aço mergulhando-o em óleo do projétil ao deixar a boca do canhão (velo-
após o forjamento. As couraças feitas com cidade inicial), foi desenvolvida uma pólvora,
este novo aço mostraram-se mais resistentes feita com grãos maiores (pelotas) e, mais
aos tiros dos canhões de 17,7 polegadas do tarde, em forma de prismas de seis lados, de
que as couraças compostas. Logo, a França modo a ela queimar mais lentamente, exercen-
e a Itália as adotariam do sua ação sobre o projétil por mais tempo,
para todos os navios.
Conforme havíamos antecipado, em 1881 e, portanto, imprimindo-lhe maior velocidade
a Inglaterra voltou a usar os canhões inicial. O tubo alma dos canhões teve que ser
Armstrong, de carregamento pela culatra. feito mais longo ou, do contrário, não haveria
Em 1881, é introduzido o projétil de aço tempo para que toda a pólvora queimasse
«indido. (uma certa quantidade dela em chamas sairia

Cruzadores de batalha italianos Lepanto (1882) e Itália (1880) (Foto: JFS-1898)


pela boca do canhão). Com isso, evidente- julgando o Almirantado que esse conceito só

mente ficava mais difícil o carregamento pela era válido para pequenas Marinhas. As

boca, o que tornava o carregamento pela cu- torpedeiras foram projetadas para combater

latra praticamente obrigatório. Acresce que navios bloqueando como, à época, o


portos;

a alma raiada ia se tornando mandatória, pois, bloqueio era muito usado, as torpedeiras as-

ela dava maior estabilidade ao projétil na tra- sumiram considerável importância.

jetória e, portanto, menos dispersão (mais Um conflito ocorrido nesse mesmo ano

acerto), e, com o advento da ogiva, era impres- contribuiu ainda mais para a valorização das

cindível que o projétil batesse de ponta, o torpedeiras. Para forçar os chineses a aceita-

que, sem al ma raiada, era i mpossível. O engra- rem as reivindicações da França na Indonésia,

zamento do projétil nas ranhuras do tubo alma uma força naval francesa, sob o comando do

era muito difícil com o carregamento pela boca Almirante André Coubert, foi enviada com a

e, assim, impunha-se a alma raiada. missão de atacar os chineses em Foochow,

A pólvora de queima mais lenta, resultante situada Rio Min acima; para alcançar seu

da redução da quantidade de enxofre e au- objetivo, os navios franceses teriam que for-

mento da de salitre e carvão, é a pólvora çar a passagem em partes estreitas do rio,

marrom (ou chocolate); com o seu uso a bastante fortificadas pelos chineses. Como

velocidade inicial do projétil passou de 1.600 os maiores cruzadores franceses não tinham

pés/segundo para mais de 2.000. calado adequado para subir o rio, Coubert

O próximo desenvolvimento levou à pól- passou o seu pavilhão para o pequeno Vapor

vora sem fumaça, uma mistura de nitroglice- Volta, de 1.200 toneladas, e, com cinco pe-
rina e algodão-pólvora, feita em longos cor- quenos cruzadores sem couraça, três

dões (cordite) que desenvolve muito mais canhoneiras e duas torpedeiras, rumou para

energia que as pólvoras comuns, permitindo Foochow, tendo que vencer não só as forti-

o uso de menores cargas para um dado alcan- ficações nas margens do rio mas ainda uma

ce (isso iria permitir, lá para o fim do século, força naval de 11 navios de guerra, dos quais

que os canhões de tiro rápido de 6 polegadas seis tinham mais de 1.000 toneladas -o maior

e maiores tivessem a carga propelente alojada tinha 1.600 - além de nove juncos armados

em estojos de latão; em caso de calibres com canhões de 47, alma lisa, antigos, e dois

menores, o estojo e o projétil foram ligados canhões de 10 polegadas.

numa única peça (munição engastada). O ataque foi tão exitoso quanto ousado.

Em 1884, teve lugar um importantedesen- Uma das torpedeiras francesas, de 32 tonela-

volvi mento na área da propulsão, que traria das, 92 pés, com a sua aproximação bem

com o tempo mudanças expressivas nesta coberta pelo fogo dos navios maiores, atacou

área: Charles Parsons patenteia a primeira com sucesso o Yanou, capitania chinês, dei-

turbina a vapor. xando-oem chamas e lançando a confusão na

frota chinesa; a outra torpedeira, idêntica à


AÇÃO FRANCESA CONTRA
primeira, destruiu a Canhoneira Foo Sing¦
CHINESES
Tendo reduzido a frota chinesa a destroços,

E a partir de 1884 que as torpedeiras de Coubert desceu o rio; no caminho aniquilan-

1" classe tornam-se importantes elementos do os fortes dos estreitos à hábil


graças
de algumas das principais Marinhas, como a manobra de seus navios.

da Rússia e da França. A Inglaterra, embora Em 1885, patenteado por Hadfield, surge

uma das maiores construtoras desse tipo de o projétil de aço fundido, com ponta endure-

embarcações, como vimos, é uma exceção, cida e corpo de material macio.

166 RMB4uT/2000
Em 1885, Nordenfeld, empregando o mes- encouraçados, afetando a sua estabilidade, o


princípio do Resurgam, constrói, na Sué- que seria fatal para eles, pois, no entender do
cia um submarino da école,
de 60 toneladas e 64 pés de pai jeune eram navios fáceis de
comprimento. emborcar (o acidente
A principal diferença entre eles com o HMS Capstain
era mantinha a certamente contribuiu
que o barco de Nordenfeld para o fortalecimento
Profundidade verti- desse conceito); os teorizadores
por meio de dois hélices para da es-
cais, acionados auxiliares a cola, a no mar seria
por máquinas guerra principalmente
Vapor, voltada contra o tráfego marítimo - a
de 6 HP, comandadas por uma válvula
guerra
hidrostática atuando
em função da profundi- de corso - para o que os cruzadores
(e, mais
dade. É o tarde, os submarinos e, bem mais tarde ainda,
primeiro submarino a levar o torpedo
Whitehead, num tubo no lado de fora do os aviões embarcados e os baseados em
casco na tinha terra) eram os meios mais
popa do submarino; o torpedo adequados; ao

Propulsão a vapor. enfatizar a defesa dos - afinal, à


portos época,

o bloqueio de portos era uma tática muito


A JEUNE ÉCOLE
freqüente -
a jeune école valorizava ainda
"poeira
A assunção do Almirante Téophile Aube mais a naval".

°a 1886, criou Coerente com suas idéias, Aube,


pasta da Marinha da França, em na sua
a oportunidade na na da Marinha,
para a aplicação prática gestão pasta parou com a
das teorias de école, por ele criada. As construção dos encouraçados, e mandou
jeune
dificuldades advindas da derrota da França construir 14 cruzadores e 34 torpedeiras. Para

Para a Prússia em 1870 e o desgaste provoca- alguns analistas, por essa razão, ao ter início

do esforço vinha sendo feito a Primeira Guerra Mundial, a Esquadra france-


pelo que para

Porem cheque a hegemonia naval da Inglater- sa era inferior às Esquadras tanto da Inglater-

ra sucesso), especial através da ra como da Alemanha,


(sem em países onde ainda
inovação tecnológica, levaram o Almirante predom i na va o conceito clássico de confron-
Aube a repensar a estratégia naval do seu to entre as linhas de batalha das Esquadras

País; para ele, os grandes encouraçados, cuja oponentes.

missão era compor a linha de batalha, estavam Como seria de esperar, na


gestão de Aube
condenados verdade, a França não foi criada na França uma escola de torpedos
(na já
tinha como construí-los c mantê-los), já que para preparar o pessoal para o emprego cor-
as torpedeiras, armadas com os novos torpe- reto das torpedeiras e de seus torpedos.
dos autopropulsados, representavam uma Conforme adiantamos, uma das mais

ameaça significativa a eles: tão espetaculares conseqüências do risco repre-
grandequeos
encouraçados a contar com uma sentado
passaram pela proliferação das torpedeiras foi
forte bateria secundária, com canhões de tiro o aparecimento, em 1886, de um navio espe-

rápido, com o i mpedir cialmente destinado a enfrentar essas


propósito específico de peque-
a aproximação das temíveis torpedeiras (mais nas embarcações seriam
(hoje os
tarde, como logo adiante veremos, surgiram contratorpedeiros): construído na Inglaterra

os contratorpedeiros, navios
projetados para para a Espanha, é lançado ao mar o Destructor,
enfrentar estapoussière navale); Aube, navio de 386 toneladas usando
para que, dois
era também rápidos, motores de tripla expansão,
possível que cruzadores pela primeira vez
armados com os novos canhões de tiro rápi- usados a bordo - em seqüência, cilindros de
do, empregando explosivas carre- alta, média e baixa -
granadas pressão podia desenvol-

gadas com alto explosivo, fossem capazes de ver 22,5 nós. Na apresentou muito
prática,
atingir as não dos defeitos, razão não teve sucesso.
partes protegidas pela qual

HMB4üT/20«0 167
Destructor

(1886),
contratorpedeiro
espanhol

(Folo: JFS 1898)

Em 1886, é lançado ao mar o navio de Preocupados com o aumento do


grande
defesa costeira dinamarquês Ivar Hvifeld, número de torpedeiras francesas, os ingleses

especialmente projetado para levar a bordo lançam ao mar, em 1887, o HMS Grasshopper,

duas torpedeiras. A idéia, porém, não vinga- chamado de torpedo boat ou torpedo
gun
ria, mas o registro é feito para mostrar o catcher, uma tentativa mais feliz que a ante-

enorme prestígio, na ocasião, dessas rior desenvolver um navio capaz de


para
"contrator-
torpedeiras. destruir as torpedeiras, um navio

As idéias da jeune école levaram os fran- pedeiro". Essa classe foi seguida pela classe

ceses, com o apoio de Aube, a desenvolver o Spcinker (1889) e Jason (1892), navios com

projeto de um pequeno submarino para ser velocidade abaixo de 20 nós, deslocando de

levado a bordo dos


grandes navios, como se 700 a 800 toneladas; sua baixa velocidade e

fosse uma torpedeira de 2a classe. Em 1886, pouca manobrabil idade fizeram com que eles
é lançado ao mar o Goubert, de apenas 16,5 não tivessem sucesso contra as torpedeiras,

pés de comprimento, deslocando 10 tonela- pri ncipalmente quando estas, como era praxe,
das, acionado por motor elétrico, com tripula- faziam ataques noturnos.

ção de dois homens. O controle da profundi- Uma série de melhoramentos nos projetis

dade a vante e a ré era garantido surgiu em 1887: aparece o projétil


por um pên- encapsu-

dulo: qualquer variação em uma delas deslo- lado (slieatliedprojectilé): o corpo do


projétil,
cava o pêndulo no sentido da ponta mais mer- feito de material macio, é envolvido
por uma

gulhada e esse movimento acionava uma pe- capa de material duro; aparecem os primeiros

bomba rotativa então, transferia fabricados de aço-cromo e


quena que, projetis (França)
lastro do tanque da ponta mais os perfurantes, em que o aço fundido é subs-
pesada para a
mais leve, até se igualarem as profundidades. tituído pelo aço forjado (Inglaterra).

Apesar de engenhoso, o sistema mostrou-se O material das couraças também evoluiu.

insatisfatório quando em funcionamento. Ainda em 1887, é aprovado nos Estados

Ivnr Hvifeld

(1886), navio

? dc defesa
costeira
dinamarquês

(Foto: JFS
1898)
¦¦•'¦"• - ' • I
.. , .
1' , * '** f*

Grasshoppert (1887), Spanker (1889) e Jastm (1892), os primeiros


"contratorpcdciros" JFS-1898)
ingleses (Fotos:

Unidos, após a couraça a mesma forma de charuto


uma série de testes, que o torpedo
fabricada de Whitehead. Sua velocidade
de aço niquelado (5%), na superfície era
Schneider; tanto à de 7 nós e submerso 5 nós. O
ela se mostra superior projeto, mais uma
couraça vez, era de Dupuy de Lôme, e foi executado
composta como à couraça Schneider
por
sem níquel. dispondo de Gustave Zédé. Realizou mais de 2.000 mergu-
A Inglaterra, não
tecnologia nique- lhos com pleno êxito. Era,
para fabricar chapas de aço porém, uma embar-
lado cação experimental, não
(5%) na espessura desejada, atrasa-se se destinando a ser
nesse setor; usado como embarcação de
só a partir de 1892 ela, vencida a guerra.
dificuldade, Ainda em 1888, é lançado ao mar na Ingla-
adota esta couraça.

O ano de 1888 vê o surgimento de dois terra o Cruzador Dogali, construído a


para
submarinos, represen- Itália. Dotado de convés encouraçado, deslo-
que sendo um deles
tou um cava 2.088 toneladas, sendo o
importante passo no desenvolvimen- primeiro navio
to dessa embarcação. a adotar os canhões de 6 de tiro
polegadas
Com Peral, é construído rápido (e outros de menor calibre). Dispunha
projeto de Isaac
na Espanha com de tubos de torpedo.
um submarino propulsão quatro
elétrica: de 30 HP Em 1888, é lançado ao mar o Cruzador
dois motores elétricos,
cada, são elétri- dinamarquês Valkyriam,
alimentados por 420 células que transportava a
cas. Motores bordo duas torpedeiras de 2" classe. São os
auxiliares movimentam as bom-
bas de lastro verticais, usados, dinamarqueses insistindo numa solução
e os hélices
que,
como no Submarino conforme já dissemos,
Nordenfeld, para contra- não aprovaria.
'e da de Embora de certa forma seja surpreenden-
profundidade. O submarino dispunha
uma torre ótica, central do te, até a época
projetada da parte que estamos tratando os cru-
casco cerca zadores todos eram de
de 6 pés, onde ficava o contra- propulsão mista. Como
•ador, apenas da torre eram navios destinados ao serviço de contra-
quando a parte superior
ficava le do
acima da superfície do mar; através de tráfego marítimo (policiamento) e às
vigias de vidro missões
existentes na torre era feito o de mostra da bandeira nas regiões
controle de mais remotas do mundo,
do navio (uma espécie periscó- serviços que impli-

P'o). Este submarino, como todos os seus cavam em longos cruzeiros e permanência
antecessores, em
tinha grande dificuldade prolongada em áreas afastadas, eles levaram
Manter a muito mais tempo os outros tipos de
profundidade. que
O o desenvolvimento navios a abandonar a vela. Somente em 1889,
grande passo para
do submarino foi foi lançado ao mar o HMS Blake o
dado pelos franceses, com o primeiro
lançamento cruzador sem mastros
ao mar do Gynmote, (ver foto na para velas.
Pág. 179) uma embarcação de 31 toneladas, Para o Brasil, adécada de 80 foi de tensão,

com devido às divergências


propulsão por motor elétrico alimentado com a Argentina so-

Por bateria. Com 60 tinha bre o Território


pés de comprimento, das Missões; conseqüente-

HMB4"T/20Ü0
169
Acima, Dogali (1888). cruzador italiano: logo abaixo. Valkxrien (1888). cruzador dinamarquês (Folos: JFS
IXW) c. abaixo, Hlciiliciin (IXX9). irmão do liltikc. eru/adores ingleses, os primeiros
sem mastros para velas. (Foto: CAI!)

17» RMB4T/2000
mente, apesar das limitações financeiras do batidas as quilhas de dois monitores, sendo
País, houve um certo estímulo que o Pernambuco só seria comissionado 20
para a constru-
Ção naval. No Arsenal da Corte, foram anos mais tarde e o Paraguassu, após 48
construídos dois cruzadores de propulsão anos! Terminava melancolicamente a luta para
mista, idênticos aos construídos na década implantar a construção naval no País; só na
de 70; uma canhoneira a vapor -a Iniciadora administraçãodo Almirante AristidesGuilhem
~" na pasta da Marinha, já na década de 1930,
que foi o primeiro navio construído no
Brasil com casco deferro; canhoneiras seria reiniciada a construção naval (o
quatro
a vapor com casco de aço.16 Paraguassu foi terminado justamente com o
Como todos os países de pequena Mari- propósito de preparar o pessoal do Arsenal
nha, o Brasil, nesta década, voltou-se para as para as novas construções).
torpedeiras e, a sua principal arma, o torpedo Em 1890, o engenheiro norte-americano
autopropulsado. Foram criadas oficinas de Harvey patenteou um novo método para o
torpedos, tanto no Arsenal da Corte como no endurecimento externo das chapas destina-
de Mato Grosso. As conse- das à fabricação de coura-
qüências dessa preocupa- ^~*^"^^ ^¦^¦^¦^¦^^ ças:istoeraconseguido pela
Ção puderam ser vistas apl icação de carbono, a tem-
quando da Revolta da Ar- Em 1887 é iniciada a peraturas muito elevadas,
mada (1893-5) contra construção do Cruzador por longo tempo, em chapas
Floriano Peixoto*. Em 1894, de aço níquel, seguindo-se
Tamandaré, de 4.537
a Torpedeira Gustavo a tempera por imersão em
Sampaio, das forças que toneladas, até hoje o água. Mais tarde este pro-
apoiavam Floriano, atacou maior navio de guerra cesso foi aperfeiçoado por
e afundou num ataque no- construído no Brasil Krupp. As couraças
turno o Encouraçado, das — fabricadas com estas cha-
^^^^^^^
forças rebeladas,/!quidabã, pas tinham tal resistência
Que estava fundeado; o navio foi posterior- que as couraças puderam ser feitas com muito
mente retlutuado, reparadoe modernizado.17 menor espessura, o que representava uma
Outras construções foram feitas no Arse- grande economia de peso, com todas as van-
naldaCortenofinaldadécadade80:eml887 tagens decorrentes. Navios de tonelagem
é iniciada a construção do Cruzador Taman- moderada puderam usar couraça sem sacrifí-
daré, de 4.537 toneladas, até hoje o maior cio de sua velocidade ou do seu raio de ação.
navio de guerra construído no Brasil; em O primeiro navio a usar esta couraça foi o
virlude de problemas financeiros e das difí- Cruzador francês Dupuyde Lôme, lançado ao
eu Idades decorrentes de um atraso tecno- mar em 1890. Ele dispunha de uma cinta
lógico que já se fazia sentir, o navio só foi encouraçada ao longo de todo o casco, de
'ançado ao mar em 90ecompletadoem93,seis apenas 4 polegadas de espessura, mas de
anos após o início da construção; em 90, são resistência superior à das couraças anterio-

•<>¦ Os cruzadores foram o Almirante Barroso e o Primeiro de Março; as canhoneiras, a Carioca, a Camocim.
a Cabedelo e a Cananéia. Foram feitas, também, aquisições no estrangeiro em 1883, o Couraçado Riachuelo;
em 84, cinco pequenas torpedeiras de porto; cm 85, o Encouraçado Aquidabã.
17. No livro de inúmeros autores, The Encyclopidia of Sea Warfare -from the first ironclads to the present
day, página 22, é dito erradamente que o Aquidabã afundou como resultado do ataque. Como o local era
raso, o navio apenas sentou no fundo.
* N.R.:
Ver "Os militares e a política durante a República", RMB todos os números de 1999 e 1" trim/2000.
RMll4"T/2000 171
'
L^.

Aqiiidalxl (1885), cncouraçado (Foto: SDM) e Primeiro de Março (1881), cruzador

Minas Gerais (1908), cncouraçado e Bahia (1908), cruzador, na DNOG

(Ambas, quadro a óleo de Balieslcr)

I\tr"

0
.

& v: . r> rv- .

"Quando
nan se podi* fazer
U# tudo o que so deve, devc-sc

fazer tudo o que so
pode"
iV /

" Iniciadora (1870),


canhoneira a vapor
I.'. I SDM)
(Foto:

Gustavo Sampaio
(1894), torpedeira

(Foto: SDM)

j,

"
¦ i T.

OS

BRASILEIROS

Taniandciré (1887), cruzador,


em seu projeto original.

(Foto: JFS 1898) Abaixo, o


mesmo navio após sua

transformação.

(Foto: SDM)

!
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Acima. Dupuy cie L/mie (1890), cruzador trances: (Foto: JFS 1898) Abaixo. Pernambuco e Paraguassu
(1X90). monitores brasileiros. O segundo leve sua construção concluída cm 1938 (!) (Folos: SDM)

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174 KMIUT/2
res, de
espessura muito maior; a borda inferior arrastando a mina até a toque o
que poita
da cinta iigava-se a um convés protetor fundo: a mina estará numa profundidade igual
abobadado,
de 1,5 de espessura; ao do comprimento da chumbada."
polegada
abaixo
deste convés, as No sistema hidrostático, a
protegendo praças poita e a mina
de máquinas,
vinha um outro convés à prova são lançadas juntas, indo ambas até o fundo
de estilhaços,
sendo o espaço entre os dois porque o tambor do cabo as une está
que
conveses
cheio de carvão, como uma travado por um pino solúvel ou
prote- por um retém
Ção adicional. O espaço da couraça será acionado um
por trás que por dispositivo de
era ocupado
uma estrutura estanque, de tempo (com isso dá-se um certo tempo
por para

pés de largura, dividida em que o navio mineiro se afastar em


pequenos possa
c°mpartimentos
cheios de celulose. Este sis- segurança da área); ao se dissolver o
pino (ou
tema, "defesa
conhecido como de em profun- atuar o dispositivo de tempo), a mina flutuan-
didade", te sobe à superfície
seria extensivamente usado, com presa ao cabo a liga
que
variantes, àpoita;elacarrega um dispositivo hidrostático
em navios com couraça.

Em 1890, as minas flutuantes são num cabo piloto ao cabo da na


preso poita;
Mantidas à fixa- a
profundidade desejada pela profundidade para qual o dispositivo

Ção do tamanho do cabo liga a poita à hidrostático foi regulado, ele atua, dando um
que
roina flutuante. se conhe- tranco no cabo liga a mina
Era essencial que que à poita, acio-
Cesse com do nando o freio do tambor desse cabo,
certa precisão a profundidade ficando
'°cal a mina na profundidade desejada,
onde a mina seria lançada: subtraindo- para a qual
Se dessa do se ajustou o dispositivo
o comprimento hidrostático.
profundidade
cabo a Em 1891, o Congresso
que ligava a poita à mina, tinha-se do Chile se volta

Profundidade em A partir contra o impopular e ditatorial Presidente


que ficaria a mina.
de 1890, dois no- Balmaceda, dando inícioa umaguerra civil em
porém, são desenvolvidos
v«s sistemas
para regulara profundidade
da que, mais uma vez, as torpedeiras mostram o
nina dispensam a necessidade de co- seu valor. Embora as forças navais
que do Cor-
nhecer local onde será sob o comando
a profundidade do gresso, de George Montt,
lançada de mantivessem sempre a iniciativa das ações no
a mina: o sistema de chumbada

Prumo e o sistema hidrostático. mar e, ao fim, lograssem a vitória, as forças

No sistema de chumbada, esta é liberada navais que permaneceram fiéis a Balmaceda


da realizaram,
poita imediatamente após o lançamento; o pelo menos, uma ação espetacu-
comprimento ser igual à lar: uma torpedeira, armada
da chumbada deve com o torpedo

Profundidade em ficar; lança- Whitehead de 14


que a mina deve polegadas, atacou e afun-
Se a mina dou o Encouraçado
e a poita juntas e à medida em que Blanco Encalada, de
e'as vão 3.500 toneladas;
mergulhando vai sendo pago o cabo é o primeiro sucesso do
"automóvel"
^e une a mina à poita, desenrolado de um torpedo contra um navio de
tambor
situado dentro da poita;
o tambor guerra bem armado.

P°de ser travado mola, que, Rudolt Diesel,


por um retém com em 1892, inventa o
entretanto, motor de
é mantido afastado da posição de combustão interna, ficaria
que
travamento "motor
conhecido com o
pelo peso da chumbada; quando diesel"; tanto para
esta atinge a propulsão como
o fundo, o seu peso deixa de atuar para os serviços auxiliares
eo retém fica de bordo, este
liberado, levando a mola a travar motor teria, no futuro, enorme
0 tambor;
a partir deste ponto, a poita afunda popularidade.

*
N.R.: Esse sistema era o usado nas minas brasileiras - MD - da década de 1930.

KMH4UT/2000
175
Em 1892, os franceses desenvolvem o A BATALHA DO RIO YALU
aço cromo-níquel que teria largo emprego
e se mostraria muito adequado para uso nas O ano de 1894 ficou marcado por um
couraças. combate naval - a Batalha do Rio Yalu - que
O primeiro navio realmente eficaz no daria margem para grandes discussões sobre
combate aos torpedeiros foi lançado ao mar o duelo perene entre a couraça e o canhão, a
em 1893, o HMS Havock; suplantando as defesa e o ataque. A batalha, envolvendo as
limitações dos seus antecessores - o Esquadras chinesa e japonesa, travou-se no
Destructor e o Grasshopper - foi verdadei- estuário do Rio Yalu; a Esquadra chinesa
ramente o primeiro contratorpedeiro. Pro- tinha como núcleo dois encouraçados de
duzido pela Yarrow era, realmente, uma fabricação alemã, lançados ao mar 12 anos
torpedeira de grande porte, deslocando 240 antes, e dispunha de alguns cruzadores; a
toneladas; com seus motores de tríplice Esquadra japonesa, em termos de compara-
expansão, desenvolvia 27 nós; seu arma- ção de poderes combatentes a mais fraca, era
mento compreendia uma bateria de tiro formada por um "esquadrão voador", de cru-
rápido - um canhão de 3 polegadas, um 12- zadores protegidos, relativamente novos e
pounder e três 6-pounder - e três tubos sobretudo rápidos (daí o seu nome), dispon-
de torpedo. do de um grande número de canhões de tiro
Em 1893, os franceses lançam ao mar rápido de 6 e de 4,7 polegadas. A Esquadra
o Submarino chinesa tentou
Gustave Zédé usar a mesma táti-
(ver foto pág. 179) causadaemLissa
que, com razão, por Tegetthoff,
assinala o nasci- itproandoàEsqua-
mento do subma- dia inimiga com a
rino moderno. intenção de
Deslocava 266 O inglês Havock (1893), primeiro contratorpedeiro eficaz abalroar os seus
toneladas Dispu- (Foto: JFS-1898) navios.
nha de propul- A vitória japo-
são elétrica alimentada por baterias, o que nesa deve ser atribuída principalmente à in-
lhe permitia desenvolver, quando mergulha- competência dos chineses e aos defeitos
do, a velocidade de 9,5 nós; na superfície, apresentados pela sua munição, que se con-
sua velocidade máxima era de 12 nós; seu trapunham ao alto estado de eficiência e dis-
raio de ação era de 75 milhas marítimas à ciplina dos japoneses; os navios japoneses
velocidade de 5 nós. Seu comprimento era usaram a sua superioridade para impedir que
de 148 pés. Levava a bordo três torpedos: os chineses pudessem usar os seus torpedos
um no tubo de popa e dois como com sucesso, e alcançaram a vitória; os chi-
sobrcssalentes. O Gustave Zédé foi o neses derrotados retiraram-se para a Baía de
responsável pelo primeiro lançamento de Wei-Hai-Wei.
torpedo feito de um submarino. Após uma Em torno desta batalha estabeleceu-se
série de modificações - aperfeiçoamento na uma grande polêmica envolvendo couraça,
bateria e adição de novos hidroplanos que velocidade dos navios, número e tamanho
melhoraram o controle de profundidade a dos canhões. Os defensores do conceito de
vante e a ré - tornou-se um sucesso, tendo que era me I hor uma força de navios de boa ve-
realizado mais de 2.500 mergulhos. locidade, fraca proteção e de muitoscanhões,
176 RMB4"T72000
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Majestic (1895). encouraçado inglês (Foto: CAB)

ainda Posteriormente, os atacaram


que de pequeno calibre, afirmavam que japoneses
a vitória razão, pois, ela duas vezes os navios chineses na Baía
japonesa dava-lhes por
tinha sido "esquadrão Wei-Hai-Wei afundando
obtida graças ao voa- cinco deles, repe-

d°r" tindo o sucesso de Coubert em Foochow.


(que tinha todas essas características).
Por outro couraça Em 1895, é 1 ançado ao mar o Encouraçado
lado, os defensores da
aPontavam HMS Majestic, o primeiro de uma classe que
o fato de que os inúmeros peque-
nos canhões causado se tornou pioneira no uso da torreta barbeta
não tinham
japoneses
qualquer avaria significativa nos dois velhos (como vimos, mais tarde o nome foi simplifi-
encouraçados, afundar cado para torreta). O navio dispunha de uma
só tendo conseguido
Urr> dos torreta com dois canhões de 12 a
dois cruzadores encouraçados chine- polegadas
Ses; capitania vante e outra igual a ré; o armamento secun-
argumentavam, ainda, que o

Japonês, sem couraça, ficou fora de combate dário todo em casamatas encouraçadas. Esta

aPesar impactos dos classe de navios representa o mais avançado


de só ter recebido três

grandes canhões chineses, sendo um estágio do desenvolvimento dos encoura-


que
^°s impactos sólido, antes do aparecimento do revolucio-
foi de um projétil que çados
atravessou sem causar nário Dreadnoughf, esses navios, bem como
o casco do navio

Maiores danos, outros semelhantes, por essa razão


e o outro, que não tinha carga passaram
explosiva, a ser conhecidos como encouraçados
desmanchou-se contra o navio, pré-
revelando dreadnought.
o seu lastro de cimento.

Como acontece com as polê- Os projetis têm, em 1895, desenvol vimen-


quase todas
micas, os tos importantes:
dois lados tinham suas razões, mas surge o projétil com uma

o capa de aço-cromo envolvendo um núcleo de


que parece verdadeiro, sem sombra de qual-

quer dúvida, é Rio Yal u é um material macio; é desenvolvido nos Estados


que a Batalha do
teste des- Unidos um
pouco significativo para a solução projétil semiperfurantecom carga
sas explosiva com capacidade de 5% (mais tarde
questões: a batalha foi decidida pelas
'áticas aumentada
equivocadas do almirante chinês e o para 6,5%), capaz de perfurar cou-
total despreparo de seus na- raças Harvey de espessura igual a 2/3 do
das guarnições
v'os, calibre do
aliados à qualidade duvidosa da muni- projétil.
Ção usada, ainda mais do lado japo- Quando duas linhas de batalha se enfren-
quando
°ês a foi tavam, a distância de combate era determina-
situação era oposta, conforme já
'ndicado. da não só pelo alcance dos canhões mas pela

RiMB4"T/2000 177
qualidade do sistema de direção de tiro dispo- dial, com novas responsabilidades, e, como

nível. Em 1896, na França, os exercícios de Mahan, iriam exigir a


preconizado por que
batalha passaram a ser feitos na distância de criação de um considerável Poder Marítimo,

5.500jardas, o que só se tornou possível pelo com uma componente naval forte o bastante

aumento do alcance dos canhões, evidente- para operar em dois oceanos.

mente, mas, principalmente, graças ao desen- No Pacífico, o Comodoro George Dewey

volvimento dos primeiros sistemas de dire- destruiu a frota espanhola fundeada em

ção de tiro, simples ainda mas mais avança- Manila, do que resultou a tomada das Filipi-

dos do que existia anteriormente: um arranjo nas pelos norte-americanos; no Atlântico, ao

envolvendo pequenos telêmetros e visores longo de Cuba, o Almirante Sampson des-

telescópicos. truiu totalmente a frota espanhola que tenta-

O primeiro navio a ter propulsão a turbina, va deixar Santiago, cuja era iminente
queda
o HMS Turbinia, é lançado ao mar em 1897. (como de fato ocorreu logo após o combate),
"independência"
E um pequeno navio deslocando 44 tonela- o que levou à de Cuba.

das, capaz de desenvolver com a sua turbina Com o desenvolvimento do telégrafo sem

Parsons composta (diversas rodas de diâme- fio, foi possível transmitir em 1899,
para um
tros crescentes) 34 nós de velocidade. Navi- navio à distância de 56 milhas, as notícias do

os de guerra teriam de esperar um pouco mais dia, permitindo que o navio editasse um pe-

por esse notável sistema. queno jornal.

A primeira transmissão com o telégrafo

sem fio foi feita em 1897 da estação Needles, O SUBMARINO DE CASCO DUPLO

montada por Marconi na Ilha de Wight (Ingla-

terra); foi feita a comunicação por este meio É lançado ao mar, no ano de 1899, o Sub-

com um rebocador situado a 18 milhas de marino francês Narval, uma embarcação de

distância. 200 toneladas projetada por Maxime Labeuf.

Em 1898, surge uma importante contribui- Os antecessores dele e do Gustave Zéclé

ção para o aperfeiçoamento dos torpedos: o podiam ser classificados como submersíveis,
austríaco Orby inventa um equipamento para isto é, embarcações que, eventualmente, po-
aumentar a precisão do torpedo, usando um diam mergulhar, enquanto que esses dois

giroseópio para o controle da sua direção. assinalam o aparecimento dos submarinos,

embarcações destinadas a navegar imersas.

A GUERRA O surgimento do submarino de propulsão


ESTADOS UNIDOS x ESPANHA nuclear, muitos anos mais tarde daria margem

a um raciocínio semelhante, designando-se

A Guerra dos Estados Unidos com a todos os seus predecessores como submer-

Espanha (1898) envolve dois oceanos e põe síveis.

em destaque o Poder Naval. Para Mahan, a A grande inovação trazida pelo Narval era

guerra representou uma excelente oportuni- o casco duplo: um casco interno, ou casco

dade para demonstrar a importância, para os resistente, em forma de charuto, que abrigava

Estados Unidos.de um Poder Naval bastante todos os equipamentos vitais; o casco exter-

expressivo de modo a se poder projetar nos no, de chapa mais fina, tinha o formato seme-

dois oceanos que o banham. Embora as bata- lhante ao de uma torpedeira. Os tanques de

lhas navais ocorridas não trouxessem novos lastro ficavam entre os dois cascos, dando ao

ensinamentos sobre táticas navais, a guerra submarino um coeficiente de flutuabilidade

mostrou que surgia uma nova potência mun- de 42% (os anteriores tinham um coeficiente

178 RMB4ÜT/2000
No alto. Gynmotc (1888). 30 toneladas;

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^J - _ «M ' **~^' ~**~

Acima, /.c Guslave Zede (1895) (ver pág. 176). 200 toneladas, o primeiro submarino a

alirar torpedos em alvo em movimento c;

Abaixo, Narrai velocidade de 12/8 nós. o primeiro a ficar submerso por 12 horas consecutivas
(1899),
(Folos Pmccedings)

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RMI14"T/2000
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llenri IV (1899), cncouraçado francês (Foto: JFS-1B98)

de apenas 2 ou 3%). Na superfície, suas tempo para isso era de cerca de 21 minutos;

características eram semelhantes às de uma mais tarde reduzido para 12 minutos.

torpedeira. O Narval dispunha de quatro Foi o primeiro submarino a ter vela (torreta)

tubos externos de torpedos. e um verdadeiro periscópio. Sua aparência era

Uma outra grande inovação do Narval era a de um submarino moderno, exceto pela
o sistema de propulsão: embora a propulsão chaminé por ante a ré da vela.

em imersão fosse feita com motores elétricos A partir do Narval, os submarinos de

alimentados por bateria, que lhe davam uma casco duplopassaram a ser considerados
"ofensivos"
velocidade máxima mergulhado de 6,5 nós, a como (ou de ataque, na nomen-

propulsão na superfície compreendia um clatura moderna), enquanto os de casco sin-

motor de tríplice expansão, de 250 HP, al i men- gelo, operar em águas


projetados para
"defensi-
tado por uma caldeira aquatubular a óleo (o abrigadas (defesa de portos), como

motor servia também para carregar as bate- vos", dentro do espírito da jeune école.

rias), o que lhe dava um raio de ação de 500 Dois anos após o lançamentodo Turbinia,

milhas marítimas a 6,5 nós e uma velocidade é lançado, em 1899, o navio de


primeiro
máxima de lOnós. guerra a usar turbinas para a propulsão, o
Agrandelimitaçãodo Narval era a neces- HMS Viper, um contratorpedeiro que atingiu

sidade de, antes de poder mergulhar, ter de a velocidade recorde de 36,6 nós. Para obter

esperar até que todo o vapor fosse expelido essa velocidade o navio foi construído com

da caldeira e que ela esfriasse; inicial mente, o uma estrutura muito leve, com a chapa lateral

Vittorio Emmaiutele (1904), irmão do Regina Eleita (1904), cncouraçados italianos (Folo: CAli)

4
do costado
com apenas 0,5 de es- conceito desenvolvido na França
polegada por Émile
Pessura; apesar de construído com aço de Bertin: o do Encouraçado-Cruzador
alta-tensão, "battleship-
seu casco era extremamente frá- ("cuirassé croiseur" ou

S'l para operações em alto-mar. O acidente cruiser"), nome usado em oposição ao do


com o
HMS Cobra, idêntico ao Viper exceto cruzador encouraçado do tratamos.
qual já
Pelo fato de desenvolver 1 nó a menos de Era uma tentativa de corrigir o defeito deste
Velocidade -
saía do estaleiro cons- último: mesmo os maiores não eram adequa-
quando
trutor
para receber o seu armamento, o navio dos para tomar o seu lugar na linha de batalha

Partiu-se e afundou - causou uma enorme nem, por serem muito lentos,
para desempe-
reação
na Inglaterra contra a turbina e as altas nhar as funções típicas dos cruzadores, de
velocidades
repercu- fazer escolta e
que ela proporcionava, proteger/atacar o tráfego ma-
hndo noutros o rítimo. Já o Almirante Fisher fizera
países e, assim, retardando pouco caso
Uso da dos cruzadores
turbina e o dos contratorpedeiros, até encouraçados, dizendo
que
cIUe o
lançamento do Dreadnouglit um eles eram inadequados tanto
pôs para lutar como
fim a mais esta manifestação de para fugir.
conservadorismo. Os couraçados-cruzadores eram navios
Em 1899, é lançado ao mar o sacrificando da proteção da cou-
pequeno que, partes
Encouraçado raça, podiam levar canhões de
francês Henri IV,ác9.000 tone-
grande calibre
'adas,
projetado por Émile Bertin, e que foi o (em geral, de 12 polegadas) econseguiam uma

Primeiro navio a usar uma "antepara elásti- velocidade cerca de 2 nós acima da dos
Ca", isto é, encouraçados
uma antepara longitudinal curva da sua época. Nenhuma outra

Para absorver o choque de explosões subma- Marinha, além da italianae da


japonesa, ado-
r,nas,
causadas, exemplo, choque tou esse conceito.
por pelo
c°m uma O Regina Elena deslocava
mina ou a explosão de um torpedo. 12.500 tonela-
Posteriormente, das e desenvolvia uma velocidade de 22 nós;
os alemães desenvolveram
este sistema o era armado com
de antitorpédico, dois canhões de 12 polega-
proteção
Rue deu aos seus navios de linha uma das e 12 canhões de 8. Somente os
japoneses
notável seguiram o exemplo italiano, lançando ao mar,
capacidade de resistir a explosões
submarinas, em 1904,
como a Primeira Guerra Mundial dois desses cruzadores, o lkoma e
""ia demonstrar. ingleses o Tsukuba,
Sendo os navios de 13.000 toneladas, velocidade
dotados - devido à de 21 nós, armados com
de menor boca limitada
quatro canhões de 12
'argura
dos diques secos existentes na Ingla- polegadas em torretas duplas, 12 de 6", 12 de
'erra!- não 4" e
em pro- 12 de 3"; sua cinta couraça
podiam adotar a defesa variava de 7
fundidade, a 4
ficando mais vulneráveis às ex- polegadas de espessura. Na verdade,
Plosões submarinas. esses navios, com toda a engenhosidade do
E a seu
partir da década dei 900 que as caldei- projeto, não
passavam de pequenos
ras
marítimas carvão come- encouraçados
que queimavam pvé-dreadnought.
Çam a ser substituídas a óleo. Os O telégrafo sem fio, em
por caldeiras 1901, passa a ter
contratorpedeiros lan-
ingleses classe River, um alcance de 200 milhas; o contínuo aumen-

Çadosaomarde 1903 a 1905, são os primeiros to desse alcance desde então tornou
possível
navios o uso comercial
a usar essas caldeiras, embora, pelas desse equipamento, tornan-
razões
já apontadas, voltassem a usar máqui- do rotineiras as comunicações entre navios e
nas alternativas entre
no lugar da turbina. esses e as estações de terra. Em 1914,

Com o lançamento em 1901 do Cruzador quando do inícioda Primeira Guerra Mundial,


'taliano
Regina Elena, é um o uso do telégrafo era
posto em prática generalizado (foi atra-

RMB4"T/2000
181
vés do telégrafo "a//
sem fio que os navios ale- to do big-gun ship", do navio só com

mães foram informados do início das hostili- canhões.


grandes
dades, imediatamente Para Fisher,
procurando portos porém, isso não era o bastan-
neutros escapar à destruição, sendo, te:
para para que o navio pudesse escolher a dis-

porém, internados; as forças navais britâni- tância ideal de combate ele deveria ter supe-

cas, espalhadas por todo mundo, foram infor- rioridade de velocidade sobre os seus opo-

madas da existência do estado de


guerra com nentes e a capacidade de manter esta veloci-

a Alemanha através do telégrafo). dade por longos períodos de tempo. Eviden-

Em 1903, os ingleses desenvolveram um temente, a máquina alternati vajá tinha atingi-

projétil perfurante com 2,5 polegadas de do o limite da sua e, da


potência portanto,
capacidade, capaz de couraças de velocidade dar aos navios, no
perfurar que podia
espessura igual ao calibre do uma espaço disponível a bordo. Diferentemente
projétil,
evolução do projétil semiperfurante. do que ocorria com um navio mercante, onde,

No início do século, os canhões


grandes por não haver limite para a altura da máquina,
instalados nos navios tinham um alcance a máquina alternativa
podia ter um curso do
muito superior às distâncias usuais de embolo muito longo e, assim, desenvolver

combate, que oscilavam entre 3.000 e 5.000 grandes potências com baixa rotação, as limi-

jardas no máximo. Conforme já vimos, isto tações de espaço de um navio de guerra


se devia à precariedade dos sistemas de obrigavam a que as máquinas trabalhassem a

direção de tiro mas, também, à dificuldade rotações muito altas; nessas condições, o

de fazer a espotagem dos tiros de canhões desgaste e as eram muito acentua-


quebras
de diferentes calibres; causa disso, dos e freqüentes, o choque e os esfor-
por pois,
tornou-se necessário todas as armas induzidos mudança de direção do
que ços pela
usadas numa salva fossem de mesmo movimento de enormes êmbolos, haste e

calibre, tendo, portanto, os seus o conectoras, a cada revolução do eixo, eram


projetis
mesmo tempo de vôo; era preciso ainda causa de freqüentes avarias e, é claro,
que provo-
a salva fosse dada menos cavam um desgaste acentuado das
pelo por quatro partes
canhões de modo que a coluna d'água feita móveis da máquina.

pelo projétil ao cair no mar fosse visível e, A turbina a vapor, com todas as suas

também, que a razão de tiro (velocidade de móveis rotativas, era a resposta ade-
partes
tiro) fosse suficientemente elevada, de a esses o de-
quada problemas, permitindo
modo que a distância entre os dois navios senvolvimento das altas necessá-
potências
não variasse muito entre as salvas em riascomelevadíssimograudeconfiabilidade,

virtude das mudanças de rumo do alvo. sem as freqüentes quebras de máquinas,


prin-
Nessas condições, o combate ser cipalmente quando era necessário desenvol-
poderia
travado eficazmente a maiores distâncias, ver, por um tempo razoável, a
potência máxima
tornando praticamente inúteis os canhões do navio.

de calibre menor. Assim, esses canhões

menores podiam ser dispensados e o peso

ganho e o espaço deixado aproveitado A GUERRA RUSSO-JAPONESA


para
aumentar o número de canhões.
grandes
Obrilhanteprojetista naval italiano Vittorio Enquanto esses conceitos iam se conso-

Cuniberti é o pioneiro em advogar as vanta- lidando, acontece, eni 1904, a Guerra Russo-

gens de um encouraçado armado apenas com Japonesa (1904-05), cuja repercussão seria

grandes canhões de mesmo calibre: o concei- enorme, em todo o mundo.

182 RMB4QT/2000
O ataque das torpedeiras ram os tiros dos inúmeros
japonesas canhões de tiro

rápido da frota russa, sem, contudo, sofrerem

A teve início com um ataque de maiores danos. O fracasso desta operação,


guerra
surpresa- sem a formalidade
de uma declara- em que todas as condições eram favoráveis,

Ção de guerra, como ocorreria cerca de quatro deveu-se, especialmente, à ineficácia dos
décadas mais tarde no
ataque a Pearl Harbour torpedos então existentes (fracasso ainda
~
deslanchado
por dez torpedeiros japoneses maior ocorreria noutra ocasião, quando 40
contra a Esquadra russa fundeada em Port torpedeiras japonesas não acertaram um úni-

Arthur, em fevereiro de 1904. A frota russa co alvo). A medida que o desenvolvimento


estava em regime normal de apenas tecnológico
porto, melhorasse a qualidade dos tor-
com o vapor disponível
para as auxiliares, sem pedos, sua influência seria cada vez mais

Precauções especiais contra um ataque de relevante na evolução da tática naval.


surpresa, exceto uma rede de
por proteção
Combate ao largo do Porto Arthur
antitorpédica e de dois navios selecionados

Para manter uma busca com holofotes duran- Na manhã seguinte a este ataque, o Almi-
te a noite e dois destróieres usados como rante Togo, comandante das forças navais do

piquetes, cerca de 20 milhas o lado do Japão, levou a Esquadra os


para japonesa para
mar. acessos de Port Arthur, esperando encontrar

As torpedeiras tinham sido a frota russa ainda desarvorada ataque


japonesas pelo
construídas em 1899 pela Thornycrofte pela das torpedeiras. Não teve sucesso, porém.
Yarrow; eram navios de cerca de As duas Esquadras passaram, em rumos opos-
pequenos
300 toneladas, capazes de se deslocar a uma tos, à distância de cerca de 7.000 jardas,
velocidade de até
30 nós, armados com dois canhoneando-se. Era de se esperar
que gran-
tubos de torpedos Whitehead de 18 des danos recíprocos
polega- ocorressem, mas os
das e um canhão 12-pounder e cinco 6- defeitos dos navios pre-dreadnought torna-

Pounder, todos de tiro rápido. As torpedeiras ram-se evidentes: as baterias com canhões de

haviam sido desenvolvidas exatamente para calibres diferentes tornaram difícil a


este tipo de ataque e foram a causa da insta- espotagem e a precariedade dos primitivos
'ação de
um grande número de canhões de tiro sistemas de direção de tiro tornavam o tiro
rápido nos
grandes navios de 1 inha, conforme muito errático. Após o desengajamento, os

já vimos. cruzadores russos, que tinham sido os navios

O ataque das torpedeiras foi


japonesas próximos do inimigo, e, portanto, tinham rece-
feito a noite de certa
e, a despeito confusão bido o seu fogo concentrado, sofreram uma
entre os devido à escuridão
japoneses e a série de impactos, mas nenhum ficou fora de
interferência dos navios
piquete, de cujaexis- ação por isso; também os encouraçados rus-
'ência a força japonesa não suspeitava, -
ata- sos foram atingidos inúmeras vezes um
caram os encouraçados e os cruzadores rus- -
deles, o Pobieda, 15 vezes mas como a
sos muito de atirando 19 torpedos
perto, maioria dos tiros provinha da bateria secun-
contra os alvos estacionários, a distâncias dária dos navios japoneses, as couraças não

lue variavam de 700 a 1.600 jardas; só três foram e, em conseqüência, os


perfuradas
torpedos atingiram o alvo, avariando dois danos foram as russas
pequenos; perdas
encouraçados e um cruzador russos; as totalizaram 21 mortos e 101 feridos. Do lado
torpedeiras exceto a divisão encouraçados foram atingi-
japonesas, que japonês, quatro
'iderou -
o ataque e acertou três torpedos, dos o Mikasa três vezes de
por projetis
foram apanhadas holofotes e recebe- - mas os danos sofridos foram
pelos grosso calibre

RMB4"T/2000
183
apenas superficiais e as baixas ainda menores A guerra de minas
que as russas.
As Esquadras oponentes eram assim A Guerra Russo-Japonesa foi plena de
constituídas: ensinamentos no que se refere à guerra de
-a linha de batalha japonesa era liderada minas. As minas foram amplamente usadas
por seis encouraçados, que constituíam a pelos dois contendores e com muita eficácia.
Primeira Divisão, com o Mikasa como Os campos minados foram usados mesmo em
capitania, todos típicos encouraçados da era mar aberto, com o propósitode influenciar as
pré-dreadnought, cada um com quatro ca- manobras da Esquadra inimiga, o que, ganha-
nhões de 12 polegadas, montados em duas ria uma enorme dimensão na Primeira Guerra
torres barbetas, e 14 canhões de 6 polegadas Mundial.
montados em casamatas ao longo dos bordos Em abril de 1904, a Esquadra russa con-
dos navios; seguia-se um esquadrão homo- tinuava concentrada em Port Arthur, mas
gêneo de cruzadores encouraçados, cinco agora protegida contra incursões japonesas
navios ao todo, com quatro canhões de 8 em por vários campos minados defensivos, com
barbetas duplas minas controla-
e 12 ou 14 ca- das. Osjapone-
nhõesdeópole- ses por sua vez
gadas; na reta- lançaram um
guarda, um es- campo minado
quadrãodequa- ofensivo ao lon-
tro cruzadores go da entrada
protegidos, três do porto: ten-
dos quais com (ando ocultar
dois canhões de esta operação,
8 e dez de 4,7 po- realizaram simul-
legadas de tiro taneamente um
rápido, e o quar- novo ataque
to com quatro Mikasa (1904), encouraçado japonê !, aqui visto transformado em torpédico, a ti-
canhões de 6 e monumento nacional na cidade de Yokosuka (Foto: Proceedings) tulo diversio-
oitode4,7pole- nário, mas sem
gadas de tiro rápido. êxito. No dia seguinte, um esquadrão de
-a linha de batalha russa, desfalcada dos cruzadores japoneses deslocou-se até a
dois encouraçados e do cruzador avariados entrada da baía, procurando atrair as forças
no ataque a torpedo feito anteriormente, for- russas para um combate que, na aparência,
mou com cinco encouraçados, liderados pelo seria fácil para elas (que ignoravam a
capitania Petropavlovsk, com armamento presença, logo além do alcance visual, do
semelhante ao dos encouraçados japoneses, grosso das forças japonesas e, pensavam
e um esquadrão misto de cruzadores, que os japoneses, também, a existência dos
comprecndiaoCruzador Encouraçado Bayan, campos minados). O Almirante Makharov
com dois canhões de 8 e oito de 6 polegadas, aceitou o desafio dos cruzadores e saiu em
e três cruzadores protegidos, cada um com sua perseguição, evitando os campos
oito ou doze canhões de 6 polegadas de tiro minados; ao perceber, porém, a aproxima-
rápido e dois cruzadores ligeiros com ca- ção das demais forças japonesas procurou
nhões de 4,7" de tiro rápido. voltar para o porto, mas uma hábil manobra
184 RMB4T/2000
¦^
,';U4\ ¦¦

1'

Pclropavlov.sk
Pelropavlov.sk (1900), encouraçado
cncoura^ado russo (Folo: A Marinha amiga
autiga e a moderna)

Japonesa levou-o a atravessar o campo A Batalha do Mar Amarelo


binado, com conseqüências: o
trágicas
Capitânia
Petropalovsk afundou, com 600 As idéias de Cumiberti e Fisher iam assim
homens
da sua tripulação, e o Poblieda foi sendo confirmadas no teste real de batalha,
severamente
danificado. conforme vimos no ataque a Port Arthur em
Um mês mais tarde, os russos deram fevereiro, e o seriam ainda mais no combate
0 troco. O Navio Mineiro Amur, após em alto-mar entre as duas Esquadras, em
minuciosa dos movimentos
observação agosto de 1904, no que seria conhecido como
dos navios
japoneses que efetuavam o a Batalha do Mar Amarelo, ficou
quando
bloqueio,
conseguiu lançar um campo claramente demonstrado o tiro dos ca-
que
binado na inimiga.
rota da patrulha Os nhões de 12 polegadas, nas distâncias em
que
Encouraçados
Hatsuse e Yashima bate- só eles alcançar, era mais eficaz do
podiam
ram
em minas: o afundou e o o fogo indiscriminado de todos os ca-
primeiro que
Segundo,
quando regressando para o Japão nhões nas distâncias menores, dentro do
a fim de fazer reparos, teve de ser alcance de todos. Também ficou claro que,
abandonado.
Os tentaram varrer numa batalha envolvendo navios com coura-
japoneses
a área
minada, mas antes que o conseguis- o único canhão resultados
ça, que produzia
Sern
três cruzadores bateram em minas era o de 12", sem os canhões menores
(os que
russos
mudaram de lugar as bóias deixadas dano significativo.
provocassem
Pelos indicar as áreas Logo no começo da ação, o Mikasa, atin-
japoneses para
'¦mpas).
gido por dois tiros de canhões de 12 polega-

As de ambos os lados ação das, sofreu extensivos danos e teve muitas


perdas por
de minas foram impressionantes. Os russos baixas; os mais tarde,
quando japoneses,
Perderam um encouraçado, um cruzador, tiveram oportunidade de usar todos os seus
d°is destróieres e duas embarcações me- canhões de mais de 6 polegadas contra a frota
n°res;
os japoneses, dois encouraçados, russa, esta nada sofreu. Após
praticamente
luatro cruzadores, dois destróieres, uma diversas horas de canhoneio, com o Mikasa
torpedeira
e um navio mineiro (o Yenisei, repetidamente atingido, seus danos e suas

guando operando em um campo minado baixas crescendo sempre, e a batalha parecia


'ançado
pelos próprios japoneses). chegar a termo com o que seria uma vitória

RMB4"T/2000
185
1 .

-emmm BfHfc*^áJ*T .

IX- cima para baixo,


'"5? '' llalsuse e Yashiina,
^—pmf^ ¦?-'¦ ,, ^:*m^\ Ç^^t_\v * encouraçados japoneses.
(Fotos: CAB)
Ttarevkh (1901) e
Osslybia (1899).
encouraçados russos
t ¦ :'^i7 •.- (Fotos: ,-t Marinha anliü"
e (/ moderna)

¦ríÁ
IV».. 18f.-RMl'4""'

*"
V^ mmWi^mTr " i^^mmm^L*"T*Q^^^t^K^^^^^^~^S^LC^y r ^s^ff-^^aasBffl^sMsl^^B.
russa,
a explosão de duas granadas de 12 três cruzadores e destróieres, para seguir

Polegadas no capitânia russo, mudou a situ- viagem via Suez, enquanto a força principal
aÇão: com seguiria a rota do Cabo. Os dois
o navio fora de controle, estabele- grupos
cendo-se foi, voltaram
a confusão na linha russa que a se reunir na Ilha de Madagascar,
então,
obrigada a uma retirada ignominiosa. O rumando então juntos com destino a
Almirante russo Witheft, a bordo do Vladivostock.
Tzarevitch
morreu atingido por uma granada. As forças russas e japonesas encontra-

Como conseqüência dessa batalha, a Ia de ram-se no mais ao sul da Ilha de


ponto
Janeiro de 1905, Port Arthur estava nas-mãos Tsushima; os russos em duas colunas tinham
dos
japoneses. os japoneses a boreste; graças a superior

velocidade dos japoneses, pôde Togo cortar


A Batalha de Tsushima o"T"dos russos-uma manobra que permitia

que todos os navios japoneses usassem os

A e decisiva batalha estava, seus canhões numa bordada contra os rus-


grande po-
rem,
ainda
por vir. Em maio sos, enquanto esses fica-
de 1905, nos Estreitos de vam limitados ao uso ape-
Tsushima,
a Esquadra ja- nas dos poucos canhões

Ponesa aniquilou a Esqua-


Só três navios russos que podiam atirar pela proa.
dra russa vinda do Báltico Tão grande era a superiori-
sobreviveram e
e> ainda
desta vez, foi o tiro dade de velocidade dos
dos canhões alcançar
de 12", atiran- puderam navios de Togo, ele
que
do
próximo ao limite do seu Vladivostock. pôde ainda guinar com os
alcance,
que determinou o seus navios e pela segun-
Nenhum navio de linha
resultado
da batalha. davezcortaro"T"daforça

A frota russa do Báltico foi


japonês perdido russa. A 6.000 de
jardas
teve de
fazer uma viagem de distância, os japoneses
cercade
18.000milhasmarí- concentraram seu fogo
tunas -
para vir de sua base em Kronstadt até à contra os líderes das duas divisões russas
"ha de
Tsushima, onde encontraria o seu fim. o Suvaroff, com o pavi lhão de Rojdestvensky,
Como
ao longo de todo o percurso não havia e o Osslyabia ,comopavilhãodeFalkersam18;
uma única
base onde esta Esquadra pudesse logo, o Osslyabia estava em chamas e
pouco
Procurar apoio, ela foi reabastecida em via- depois afundou; o Suvaroff com o leme ava-

gem por navios carvoeiros ingleses riado deixou a linha, estabelecendo-se a con-
(colliers).
Somente
em outubro de 1904, quando a Ba- fusão nas forças russas e teve início o verda-
•alha
do Rio Amarelo já tinha selado a sorte deiro massacre dessas forças. Num combate
dos navios russos de Port Arthur,
pôde o que durou cerca de 20 minutos, um a um foram
Almirante
Rojdestvensky sair com a sua for- sendo fora de combate os
postos
Ça, constituída 45 navios, incluindo os encouraçados russos. O Suvaroffdurou até o
por
navios "trem
que hoje chamaríamos de de dia seguinte, foi abandonado
quando por
Esquadra";
sob o comando do Almirante Rojdestvensky, se transferiu um
que para
Falkersam
foi destacada uma força, composta destróier que, pouco depois, foi aprisionado

Pe'os três menores navios de linha da força,


pelos japoneses.

'8- Falkersam havia falecido dois dias antes, mas Rojdestivensky não queria que os demais navios tomassem
conhecimento do fato.

R.MB4"T/2000
187
"'J
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'T -o:
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TrT 1T ilr Tt 1] ^

t
i

Dreadnought (1906). o revolucionario cncoura^ado ingles (Folos: CAB e USNIP)

Só três navios russos sobreviveram e A concretização das expectativas de

alcançar Vladivostock - dois CunibertieFisheremTsushimalogo tiveram


puderam

destróieres e o Cruzador Ligeiro Almaz\ seis conseqüências práticas.

pequenos navios chegaram a neu-


portos
tros e foram internados; dois encouraçados O APARECIMENTO DO

que não afundaram foram aprisionados, DREADNOUGIIT

reparados e mais tarde incorporados à

Marinha japonesa (prática tinha sido Em 1906, os ingleses lançaram ao mar o


que
comum na era da Marinha a vela). Encouraçado 11MS Dreadnougth, um navio

Nenhum navio de linha


japonês foi perdi- tão revolucionário
que os navios

do; apenas três torpedeiras foram afundadas. encouraçados antes dele seriam conhecidos
"pré-dreadnoughts"
Sofreram avarias de diferentes
graus três cru- como e os que o suce-

zadores e seis destróieres. deram como dreadnoughts. Ele incorporava

É incontestável que a vitória de Tsushina todos os ensinamentos recentes: era um na-

foi tão decisiva quanto a de Trafalgar. vio de 18.000 toneladas, armado com dez

Em 1904 são lançados ao mar os canhões de 12 polegadas (na era precedente,


Submarinos franceses Aigrette e um encouraçado não teria mais de quatro
Cigone-, são navios de 175 toneladas, canhões desse calibre), em torres duplas, e

flutuabilidade de 29%; são os primeiros uma bateria segundária - cuja fina-


principal
navios a usar os novos motores de lidade era repelir o ataque das torpedeiras

combustão interna óleos cada vez mais temidas à medida


que queimam que se aper-

pesados. feiçoava o torpedo - constituída de canhões

188 RMB4uT/2000
12-pounder
e de 3 polegadas de tiro rápido Em 1906, tendo em vista as lições de

(liais tarde substituídos canhões de 4 Tsushima, o novo Ministro da Marinha,


por
Polegadas); dispunha ainda de cinco tubos Alexandrino de Alencar, fez modificações no
de torpedo -
de 18 polegadas quatro nos Plano anterior, estabelecendo o Plano Naval
lados
e um a ré, abai xo da 1 i nha d' água. Graças de 1906 foi o efetivamente realizado,
que
as turbinas de 23.000 HP, acionando seus dando origem à Esquadra de 1910, nucleada

quatro eixos, desenvolvia 21 nós. em dois dreadnoughts.20 Esses navios repre-

A confiabilidade das turbinas como siste- sentavam um enorme desafio tecnológico,


Ha de
propulsão ficou demonstrada na práti- face ao nível industrial do País e o nível de
Ca
quando o Dreadnought realizou uma via- preparo profissional de todo o pessoal. É

§em de 17.000 milhas marítimas, numa excep- verdade sob alguns aspectos os navios
que
c'onal
velocidade mantida de 17,5 nós, sem não representavam o que havia de mais mo-
aPresentar
qualquer avaria, um feito impen- derno: por exemplo, a propulsão do encou-
savel
na época das máquinas alternativas. raçados era com máquina alternativa
quando,
Também no Brasil, a Ba- à época, a maioria dos encou-
talha
de Tsushima teve im- raçados e cruzadores já usa-
?
P°rtantes desdobramentos. E importante o Brasil va a turbina; os contratorpe-
Depois de um longo deiros ingleses lançados
perí- em
desenvolver um Poder
od° sem
que se investisse na 1903 usavam caldeiras a

•"enovação Naval consentâneo com
da frota naval, óleo. E inegável,
porém, que
Pelas razões apontadas, o as suas aspirações, um os dois encouraçados, dois
Plano
Naval de 1904, do Al- cruzadores e dez
verdadeiro instrumento protegidos
mirante
Júliode Noronha, foi contratorpedeiros constituí-
aPro de apoio à
vado e foram alocadas as política
am uma força de expressão
V£rbas externa do País
para a sua implanta- mundial.
Çao. Isto se devia à melhoria De lamentar, porém, éque,
(Barão do Rio Branco)
das condições
financeiras do devido à falta de recursos,
^a*s
(o Compromisso de não foi construir,
possível
Taubaté
relativamente ao café e a exploração conforme tanto no Plano de 1904
previsto
^a borracha
natural na Amazônia para aten- como no de 1906, o estaleiro de Jacuacanga,
der
à demanda criada indústria o apoio de manutenção desses navios,
pela jovem para
automobilística)
mas, também, ao apoio do nem se investiu na do
preparação pessoal
^arão
do Rio Branco, chanceler no
período de para operação, manutenção e reparo dessa
1902
a 1912 ,
que, com sua visão esclarecida, frota. Mal conduzidos, mal mantidos, esses
defendia
a importância de o Brasil desenvol- navios, ao invés de terem servido como uma
Ver um
Poder Naval consentâneocom as suas base sólida a construção de uma nova
para
asPirações,
um verdadeiro instrumento de Marinha, logo se transformariam em fator de
aPoio
à política externa do País.19 frustração. A defasagem tecnológica entre a

'9. A defesa de Laurindo Pitta das verbas da Marinha no Congresso Nacional foram importantes a sua
para
aprovação.

A nova Esquadra compreendia os dois dreadnouglils, Minas Gerais e São Paulo, de 19.500 toneladas,
velocidade 21 nós, armados de 12 canhões de 305 mm (12 polegadas) e 14 canhões de 120 mm (4,5"); dois
cruzadores o Bahia e o Rio Grande do Sul, de velocidade
protegidos, 3.150 toneladas, de 27 nós, propulsão
a turbina, armados com dez canhões de 120 mm; dez contratorpedeiros, de 560 toneladas, velocidade 28 nós
e armados com dois canhões 101,6 mm
de (4") e dois tubos lança-torpedos.

RMB43T/2000 189
Esquadra e o parque industrial do País seria outra torreta, de tal forma que apenas algumas
"poderosa"
fatal e, logo, esta Esquadrajá não torres podiam atirar pelos dois bordos do

tinha um expressivo valor militar (embora isso navio; além disso, como as torres e os paióis

não fosse considerado na época, provável- ficavam espalhados todo o navio, havia
por
mente ela tinha uma capacidade dissuasória muita dificuldade para um projeto bom para as

considerável). praças de máquinas. Com o novo sistema,

Após Tsushima, os ingleses, que não todo o armamento principal ficava na linha de

acompanharam os italianos e japoneses no centro do navio, assim, todos os


podendo,
desenvolvimento de encouraçados-cruzado- canhões disparar por bordo, num
qualquer
res, definiram a configuração dos seus cruza- arco de 160° a partir da proa ou da popa. Antes

dores de batalha, lançando ao mar, em 1907, os da adoção das torretas superpostas foi ne-

HMS Inflexible, Indomitable e Invincible, cessário resolver um como as


problema:
navios de 17.250toneladas, torretas tinham na parte
capazes de desenvolver 25 ^— — superior uma de
janela
nós, graças a turbina observação, o sopro do

Parsons de 41.000 HP, aci- disparo da torre superior


Mal conduzidos, mal
onando quatro eixos do prejudicava a observação
mantidos, esses navios, da
navio; eram armados com na torre inferior; a difieul-

oito canhões de 12 e 16 de Esquadra de 1910, ao dade foi resolvida remo-

4 polegadas de tiro rápido vendo-se a janela de ob-


invés de terem servido

(bateria secundária); eram servação da parte superi-


como uma base sólida
dotados de couraça lateral or da torreta, substituin-

leve. navios a construção de uma do-a por visores com tela,


Sem dúvida, para

que incorporavam as lições nova Marinha, logo se projetados das paredes


de Tsushima (grandes ca- laterais da torreta. As tor-
transformariam em fator
nhões em grande número, retas superpostas torna-
de frustração
velocidade ram-se
alta e couraça prática comum em
leve). todos os navios de linha.
" Q
Embora as experiências aCJVento Jqj gran-
com radiotclefonia datas- des canhões, cujo alcan-

sem do início do século XX, somentecni 1907 ce era de 10 ou mais m i lhas, tornou necessário

foi feita experimentalmente uma transmissão o aperfeiçoamento dos sistemas de direção

de música e voz, recebida nas estações rádio de tiro para que o tiro a estas grandes distân-

de diversas navios estavam no mar. A cias pudesse ser eficaz.


que

partir daí, seu desenvolvimento foi rápido. As primeiras medidas tomadas foram sim-

Uma importante contribuição para o pro- pies: os navios foram dotados de telêmetros

colocados na mais mastro de


jeto da artilharia dos navios veio, nessa épo- parte alta do

ca, dos Estados Unidos: foi adotado um sis- vante; através de uma rede de tubos acústi-

tema de torretas superpostas, uma atirando cos até os canhões, eram transmitidas as

- sistema conhecido distâncias


por sobre a outra como (alcances) que deveriam ser ajus-

superfiring. O propósito dessa inovação era tadas nos visores individuais de cada ca-

eliminaro problema, existente após a adoção nhão; o oficial de controle de fogo, na posição

da torreta, de alguns canhões terem o seu arco elevada, dava a ordem de fogo para todos

de tiro reduzido pela obstrução causada pela canhões, de modo que o tiro fosse simultâ-

superestrutura do navio ou até mesmo por neo, ou seja, por salva; estudando as colunas

190 RMB4"T/2000
Invinrible (1903). cruzador de batalha inglês (Foto: Proceedings)

^ água formadas
pelos projetis, o controlador ção generalizada dos dreadnoughts. Assim,
Passava as correções simultâneas
para a ajus- em 1909, tem início na França a construção do
tagem
da distância. Posteriormente, o sistema Encouraçado Danton,
primeiro de uma série
f°i eletri
ficado: uma luneta ou alça diretora era de seis, acionados a turbina, com armamento
'nstalada
no topo do mastro; quando ela era de quatro canhões de 12 e 12 de 9,4
polega-
Movimentada
para visar o alvo, acionava ele- das; apesar da data do início da construção,
Wcamente
os indicadores dos canhões, per- esses navios ainda são típicos navios pré-
ruindo
que todos atirassem na mesma marca- dreadnought. Logo após vieram os verdadei-
Ção e com a mesma elevação. ros dreadnoughts, os quatro navios da cias-
Os telêmetros foram melhorados, tornan- se Jean Bart, cuja construção teve início em
do-se
mais acurados; os alemães destaca- 1910e 1911; são navios de 23.120 toneladas,
ram-se
nesta área usando um sistema armados com 12 canhões de 12
polegadas, em
estereoscópio.
torretas duplas superpostas a vante e a ré, e
Em 1909, é lançado o torreta dupla não-superposta
primeiro em cada con-
dreadnought
italiano, o DanteAlighieri, pri- vés; acionados
por turbinas Parsons de 28.000
Meiro navio
a usar torretas triplas (um total HP, desenvolviam velocidade de 21-22 nós.
c'e
quatro torretas triplas com canhões de 12 Um ano mais tarde, esses navios foram segui-
Polegadas). O navio de 20.500 toneladas ain-
dos pelos três super-dreadnoughts da classe
^a não usava as torretas superpostas de Bretagne, do mesmo desloca-
praticamente
Modo
que só três canhões podiam disparar na mento, mas armados com dez canhões de 13,4
'¦nha
de
proa do navio e três na linha de popa. polegadas. Sem dúvida, a postura oficial fran-
Com o advento do all-big-gun sliip, a cesa não podia estar mais distante da jeune
tendência
passou a ser a construção de navi- école.
0s cada
vez maiores, armados com canhões Com a do uso das
quase generalização
Sernpre
de maior calibre. Os i ngleses lançaram turbinas, cujo maior rendimento é em alta velo-
a° mar, em 1909, o HMS Orion, o primeiro cidade, a engrenagem rcdutora tornou-se
SuPer-dreadnouglit,
um navio de 22.500 to- obrigatória, o melhor rendimento do
já que
ne'adas,
armado com dez canhões de 13,5 héliceéem baixa rotação. Assim, em 1911, são
Polegadas, em torres duplas superpostas na lançados os Contratorpedeiros ingleses
' 'nha
central, e dotado de couraça lateral de 12 Badger e Beaver, com engrenagem redutora
Polegadas.
na turbina de AP a título experimental. Em
Os conceitos dajeune école, 1914,
que predomi- são lançados os, Contratorpedeiros,
navam
na França desde a
gestão de Aube na também ingleses, Leonidas e Lucifer, que já
Pasta da Marinha,
perderam força com a ado- usam a engrenagem redutora única
para todas

RMB4"t/2000
191
•W

Acima, O ri ou (1909), o primeiro supcr-dreadnoiiglil inglês; Abaixo: Vergniaud (1909). irmão do DíiiiIi"1-
e o Couberl, irmão do Jean Bati (1910), ambos encouraçados franceses (Todas as fotos: Prorcedings)

iJrJw

' I *•
''

I |

t
I ^ I
I

Kentucky
(1898), encouraçado
americano
(Foto: CAB)

S3

nJ W1'- Hr

Ao lado: Geórgia (1904). Notar o convés do


principal
^SP^SSkI^^ss^^ cncouraçado americano com torretas e
principal
BfTu. w^ni'' -? fr~J*''!
secundária superpostas (Foto: CAB)

^¦EL5%SnD«

TORRETAS SUPERPOSTAS

-I

w '
'
Micliigan
S 1' *
('908), com
IS
torretas Jbc*'
(principais)
superpostas.

Encouraçado

americano

(Foto: CAB)
I1
•j
•i

HIB o ^ \ \ m

A-i^UjSU^I B=^gg2£^yfagj|0

Badger (1911). contratorpedeiro inglês Ilistory of lhe War - vol. 11, 5)


(Times pág.

as turbinas (engrenagem helicoidal dupla com dos favoráveis, a propulsão turboelétrica,

dentes com perfil envolvente). O sistema mos- usada em todos os encouraçados americanos

trou ser livre de vibrações e apresentou um construídos após 1915 Os


(turboelétrica).

nível de ruído aceitável, além de que a durabi- americanos só adotariam a turbina com engre-

lidade dos dentes da engrenagem superou as nagem redutora em 1937.

melhores expectativas. Uma outra importante As vantagens da turboelétrica


propulsão
vantagem do sistema de engrenagem redutora são várias: as máquinas (moto-
propulsoras
é a pequena perda de transmissão associada a res elétricos) podem ser controladas de qual-

este sistema, além de ele é muito mais do navio; é usar toda a


que quer parte possível

barato para fabricar e para instalar. potência quando dando máquina atrás, o que

A solução passou a ser adotada por todos é impossível numa propulsão clássica a vapor

os países, com a única exceção dos Estados (queda do vácuo no condensador


principal);
Unidos que adotaram, com os mesmo resulta- como as turbinas que acionam os geradores

Daiiie Alighiere (1909), encouraçado italiano, o primeiro a usar tones triplas (Foto: CAI!)

^ '*
r*'J I feWfiSSJufrtjB 1

v vra"—'jVi"r*w" '' I

KyfiLitV
r 1

-———.—.— ^
^

!vir
1'
^

New Uampshire, cncouraçado norte-americano (antigo), primeiro navio a receber c transmitir


sinais radiotelcgráficos, em 1915

e'étricos
operam a velocidade constante, é mentos acompanhados por meio de

Possível usar altas temperaturas de vapor radiogoniômetros.


suPeraquecido,
do que resulta melhor rendi- Em dezembro de 1912, o Submarino grego

^ento Dolphin realiza dois ataques com torpedos a


para a planta.

A importante limitação da propulsão elé- navios de guerra turcos, sem sucesso, porém (o
tr'ca,
especialmente no caso de navios de pri meiro ataque torpédico realizado por subma-
guerra, é a vulnerabilidade dos circuitos elé- rino que teve êxito só ocorreu em 1914, quando
tr]cos
(chaves, disjuntores, etc.) ao choque o Submarino alemão U-21 afundou o Cruzador

Provocado explosões Batalha da HMS Pathfinder, de 3.000 toneladas).


por (a
Jutlândia,
na Primeira Guerra Mundial, de- O rádio telefone de ondas longas de
•^onstrou
essa vulnerabilidade, com diver- Marconi representou um avanço significati-
s°s navios ingleses sofrendo esse efeito). vo em termos de alcance: em 1914, de uma

Em 1912, Marconi adquire a patente de estação montada Marconi em Cliften,


por
UlTi equipamento
desenvol- Irlanda, foram enviadas mensagens
que vinha sendo que pu-
v'do
desde 1904 para identificar a posição de deram ser ouvidas por navios de guerra itali-
"avios,
através da marcação de sinais rádio anos ao longo da costa da Sicília, a mais de

Provenientes de duas ou mais estações 1.750 milhas de distância.


transmissoras
de terra cuja a posição fosse O primeiro navio a receber um equipamen-
conhecida.
Era o radiogoniômetro, nesse to de radiotelefonia, que lhe permitia tanto
¦ttesmo
ano instalado experimentalmente num transmitir como receber, foi o USS New
navio
mercante britânico. A sua difusão en- Hampshire, em 1915.0 seu uso só generali-
tao foi
rápida, inclusive zaria anos mais tarde.
para a área militar, até
¦^esmo
no setor de inteligência: a Esquadra APrimeira Guerra Mundial (1914-8) marca,
alemã
que se deslocava para enfrentar a ingle- indubitavelmente, o início de uma outra etapa
Sa numa -
batalha histórica a Batalha da no desenvolvimento do Poder Naval, fora,
Jutlândia -
(1916) teve todos os seus movi- portanto, do contexto deste trabalho.

^CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


^CIÊNCIA
& TECNOLOGI A> / Desenvolvimento de equipamentos /; Sistemas de propulsão;
Sistemas
de artilharia; Sistema de direção de tiro; Sistemas de comunicação;

RMB4UT/2000 195
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O conquistador e
é sempre um

amante da
paz.

Gostaria de entrar em nossa terra

sem oposi^ao.
oposição.

Karl Von Clciusenwitz


Clausenwitz

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