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GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA


DE FONTES ALTERNATIVAS
Giancarlo Michelino Gaeta Lopes

GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA


DE FONTES ALTERNATIVAS
1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020

2
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.

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Hâmila Samai Franco dos Santos
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Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


__________________________________________________________________________________________
Lopes, Giancarlo Michelino Gaeta
L864g
Geração de energia elétrica de fontes alternativas/
Giancarlo Michelino Gaeta Lopes, –
Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020.
42 p.

ISBN 978-65-86461-17-6

1. Geração de energia. 2. Energia Renovável I. Lopes,


Giancarlo Michelino Gaeta.Título.

CDD 621.472
____________________________________________________________________________________________
Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753

2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

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GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DE
FONTES ALTERNATIVAS

SUMÁRIO
Energia eólica ________________________________________________________ 05

Energia solar fotovoltaica ____________________________________________ 20

Biomassa e energia geotérmica______________________________________ 35

Geração distribuída__________________________________________________ 48

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Energia eólica
Autoria: Giancarlo Michelino Gaeta Lopes
Leitura crítica: Paulo Takao Okigami

Objetivos
• Compreender as características dos ventos a fim
de saber definir a instalação de turbinas eólicas
em determinada região.

• Compreender o funcionamento das turbinas


eólicas e aerogeradores, estudando as topologias
e partes existentes.

• Desenvolver conceitos que permitam a criação


de sistemas de geração eólicos e conhecer as
topologias elétricas utilizadas em tais sistemas.

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1. Introdução e evolução histórica

Com o passar dos anos a preocupação ambiental relacionada à geração


de energia elétrica ficou cada vez mais evidente. Assim, surgiram novas
fontes energéticas renováveis, que minimizaram ou acabaram com o
impacto ambiental na geração. Uma dessas fontes é a eólica, que utiliza
a energia presente nos ventos para gerar energia elétrica.

Os ventos começaram a ser utilizados há mais de dois mil anos com


a invenção dos moinhos, os quais o movimento das pás gerado pelo
vento culmina no movimento vertical de um pistão contido dentro de
um cilindro. Com o passar dos anos, os moinhos que tinham a função
de processar alimentos foram refinados ao ponto de serem utilizados
para gerar energia elétrica. Tal feito aconteceu em 1887, na Escócia, pelo
engenheiro eletricista e professor James Blyth (PINTO, 2013).

A criação de turbinas eólicas semelhantes às que encontramos


atualmente ocorreu no final do século XIX e início do século XX, na
Dinamarca, que financiou as pesquisas com o objetivo de levar energia
elétrica para as áreas rurais do país. Devido ao incentivo do governo
Dinamarquês, em 1909 já haviam sido construídas 72 turbinas eólicas
que produziam energia em corrente contínua, com capacidade de gerar
de 60 a 70 MWh por ano (PINTO, 2013).

Atualmente, em capacidade instalada, a Europa figura como uma


das regiões do mundo que mais utiliza a energia eólica na geração
de energia elétrica, contribuindo com 11,6% de toda a demanda de
eletricidade da União Europeia em 2017, ano em que foram gerados
336 TWh a partir dessa fonte de energia (IBERDROLA, 2020). No Brasil,
em 2020, 9,04 % de toda a energia elétrica gerada advém de 629
centrais geradoras eólicas, totalizando uma potência instalada de cerca
de 15.000 MW (ANEEL, 2020).

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2. Caracterização dos ventos

A instalação de uma turbina eólica para a geração de energia elétrica


passa pelo estudo da intensidade e constância dos ventos no local de
instalação desejado. Dessa forma, é importante conhecer como são
realizadas essas medições, como os dados são disponibilizados e como
os ventos são gerados.

Os ventos podem ser definidos como sendo o movimento de massas de


ar na atmosfera e são formados pela rotação e aquecimento da Terra,
bem como pela influência de efeitos térmicos. De acordo com Fadigas
(2011), eles podem ser classificados como:

• Ventos de circulação local: que são as brisas marítimas e terrestres,


geradas em áreas costeiras, devido à diferença na capacidade de
absorção de calor da terra e do mar; e ventos das montanhas e
vales, criados pela diferença de temperatura das massas de ar
originada pela diferença de altitude.

• Ventos de circulação global: que são gerados pelas variações de


densidade, pressão e temperatura, causadas pelo aquecimento
desigual da terra devido à radiação solar. Esses ventos também
são afeados pela rotação da Terra.

Dentro do Brasil, uma região que recebe destaque na geração de energia


a partir dos ventos é o litoral norte da região Nordeste. Como a região
está próxima da linha do Equador, a incidência de radiação solar é alta,
causando uma grande diferença de temperatura entre a massa de ar
sobre o oceano e a massa de ar sobre a terra, gerando ventos de grande
intensidade. Dessa forma, os ventos de circulação local, que chegam
próximos a 9 m/s (32,4 km/h) (AMARANTE et al., 2001), criam uma
condição extremamente favorável para a instalação de turbinas eólicas.

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Sabe-se que os ventos não possuem uma velocidade e direção
constantes e que essas variações podem ser temporais ou espaciais,
havendo diferentes parâmetros que influenciam o perfil do vento. Dentre
as variações temporais existem as variações interanuais, sazonais,
diárias e de curta duração. Já as variações espaciais, estão relacionadas
à topografia e rugosidade do terreno, assim, os principais fatores
espaciais que influenciam na velocidade do vento, são: os obstáculos,
como edifícios, silos e árvores; a rugosidade do terreno, como o tipo de
utilização da terra, construções e vegetação; e a orografia, que indica a
existência de colinas e depressões (FADIGAS, 2011).

A energia presente no vento, que será posteriormente convertida em


energia elétrica em um aerogerador, é a energia cinética decorrente da
movimentação das massas de ar. Assim, sabendo que a massa de ar que
se movimenta em uma determinada área em um determinado intervalo
de tempo é igual à massa específica do ar multiplicada pelo volume de
ar que passa na área a cada segundo, é possível determinar a potência
contida no vento, em Watts, como sendo (PINTO, 2013):

(1)

Onde ρ é a massa específica do ar em kg/m3, v a sua velocidade em m/s


e A é a área em m2 por onde está passando o vento a ter a potência
determinada. No caso de uma turbina com hélice de eixo horizontal, a
área será o círculo formado pelas hélices.

Analisando a Equação 1, fica clara a necessidade de ventos intensos para


a geração de uma alta potência, o que justifica a instalação das centrais
eólicas em locais com ventos fortes. Além disso, como a energia é dada
pela multiplicação da potência com o tempo, quanto maior o tempo de
ventos intensos sobre um gerador eólico, maior será a energia gerada.

Contudo, é importante ressaltar que a massa específica do ar varia


conforme a localidade, fazendo com que locais que apresentem a

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mesma velocidade média dos ventos apresentem diferentes potências
eólicas. Isso pode ser confirmado matematicamente pela expressão que
determina a massa específica do ar, dada pela Equação 2:

(2)

Onde P é pressão do ar em Pa, T é a temperatura do ar em escala


absoluta, em K, e R é a constante geral dos gases em (Pa.m3)/(K.mol).
Assim, é comum realizar a comparação do potencial eólico de diferentes
locais por meio da densidade de potência, em W/m2, dada pela equação 3:

(3)

Desta forma, a densidade de potência determina a potência do vento


que atinge a turbina, independentemente de seu tamanho.

Atualmente, existem atlas eólicos que são capazes de indicar os


locais com maior incidência de ventos, sua velocidade e constância
(AMARANTE et al., 2001). A partir dessa informação, é possível
determinar a região de instalação de uma central eólica. Porém,
a definição precisa do local de instalação não deve se basear
exclusivamente nesses dados, que na maioria das vezes não são
resultantes de medições diretas, mas extrapolações e aproximações.
Sendo assim, é necessário se instalar no local uma ou mais torres para a
medição dos ventos, por um período mínimo de um ano.

Tais torres são chamadas de torres anemométricas ou estações


meteorológicas, onde são instalados os seguintes instrumentos:
anemômetros, para a medição da velocidade do vento; lemes, para
indicar a direção do vento; termômetro, para a medição da temperatura
do ar; barômetro, para a medição de pressão do ar; e um sistema de
aquisição e armazenamento dos dados. Com isso, tendo em mãos
os dados coletados por tais equipamentos, é possível determinar a
densidade de potência do vento em função do tempo e concluir com
segurança sobre a instalação ou não de um aerogerador no local.

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3. Turbinas eólicas

As turbinas eólicas são equipamentos que possuem a função de


converter a energia cinética presente no vento em energia mecânica,
que posteriormente será convertida em energia elétrica por meio de um
gerador elétrico acoplado em seu eixo. Esta conversão de energias pode
ser visualizada na Figura 1.

Figura 1 – Conversões de energias e partes principais de um aerogerador

Fonte: Pinto (2013, p. 79).

As turbinas eólicas podem ser classificadas em termos do eixo no qual


as suas pás giram. A grande maioria das turbinas possui o eixo de
rotação horizontal, paralelo ao solo, e é utilizada em locais com poucos
obstáculos, já que requer um vento com característica laminar para
ter máxima eficiência. Existem ainda modelos verticais, com o eixo de
rotação perpendicular ao solo, que conseguem operar com ventos
turbulentos e emitem um baixo nível de ruído, podendo ser utilizados
em ambientes urbanos. A Figura 2 mostra esses dois tipos de turbina,
horizontal e vertical.

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Figura 2 – Turbinas eólicas horizontais e verticais

Fonte: Pinto (2013, p. 80).

As turbinas com eixo horizontal são majoritariamente baseadas em


hélices, criando um conjunto com características que permite se sobressair
em relação aos demais tipos. Nesse tipo de turbina, a velocidade do rotor
e a potência de saída podem ser controladas pela variação do ângulo das
pás, que podem ser otimizadas aerodinamicamente, a fim de aumentar a
eficiência na conversão de energia.

Conhecendo as energias associadas e as topologias das turbinas,


é importante saber que há um máximo de potência que a turbina
consegue extrair do vento. Assim, não é toda a potência do vento
calculada pela Equação 1 que será convertida em potência mecânica no
eixo da turbina. Isso ocorre, pois, após passar pela turbina, o vento tem
velocidade e pressão reduzidas, fazendo com que o ar atrás da turbina
se expanda. Essa expansão impossibilita a retirada de toda a potência.

Utilizando cálculos matemáticos a partir da equação de Bernoulli,


chega-se que o máximo de potência que uma turbina eólica pode retirar
da potência disponível do vento é de 59,3% (PINTO, 2013). Perceba que
essa eficiência está relacionada à conversão de energia cinética do vento
em mecânica, portanto, a eficiência total do sistema eólico será ainda
menor devido às perdas na conversão da energia mecânica em elétrica.

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As turbinas eólicas são divididas em quatro classes em relação a seu
projeto e condições de vento do local onde serão instaladas. O principal
fator que determina a classe da turbina é o nível da velocidade do vento,
sendo considerada a média anual do vento, a velocidade de rajada do
vento e o percentual de turbulência (PINTO, 2013). Desta forma, no
momento de se indicar o modelo de turbina a ser instalada, determinar
a classe a ser utilizada é fundamental.

Além das classes das turbinas em função da velocidade do vento, elas


também são classificadas quanto a sua potência, sendo: turbinas de
pequeno porte, para potências de até 100 kW; turbinas de médio porte,
para potências entre 100 e 1.000 kW; e turbinas de grande porte para
potências acima de 1.000 kW (FADIGAS, 2011).

4. Aerogeradores

O aerogerador é definido como sendo todo o conjunto responsável


por gerar energia elétrica a partir dos ventos, ele é composto pela
turbina eólica e diversas outras partes, como pode ser visto na
Figura 3. Os aerogeradores podem possuir potência de até 8 MW, com
torres de até 170 metros de altura, com pás que podem chegar a até
85 m. Os modelos mais comuns possuem potência em torno de 4 MW,
com 120 m de altura e pás de 60 m (PINTO, 2013).

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Figura 3 – Partes de um aerogerador

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Wind_turbine_int_pt.svg.
Acesso em: 14 jan. 2020.

As principais partes que constituem os aerogeradores estão detalhadas


a seguir:

• Turbina eólica: é composta pelas pás, pelo cubo rotor e pelo


mecanismo de controle de inclinação das pás. As pás são as
estruturas movimentadas pelo vento, que ficam acopladas
ao cubo rotor. Nesse acoplamento, existem mecanismos de
controle de passo, responsáveis por controlar a inclinação das
pás. Esse ajuste no ângulo das pás tem como objetivo controlar
a potência e a velocidade da turbina, e é utilizado para frear
aerodinamicamente o rotor quando necessário.

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• Torre: é o elemento de sustentação do aerogerador. Pode ser do
tipo tubular cônico (mais comum), construído em aço ou concreto,
ou treliçado, construído em aço.

• Nacela ou nacele: é a estrutura que abriga o gerador elétrico, a caixa


de engrenagens da turbina e o gerador. Ela fica montada sobre
a torre e possui um sistema de controle de direção, que possui a
função de colocar a turbina e a nacela na direção do vento, de forma
lenta, para evitar forças giroscópicas de grande intensidade.

• Anemômetro: é o dispositivo responsável por medir a velocidade do


vento. Junto a ele se encontra um dispositivo para a indicar a direção
do vento (leme ou biruta). Esses equipamentos enviam dados para o
sistema de controle geral alocado na base da torre, que monitora o
desempenho do aerogerador e permite a sua supervisão e controle
de forma remota. Os dados coletados por esses equipamentos
também são utilizados pelo sistema de controle de direção da
turbina e pelo sistema de controle de inclinação das pás.

• Caixa de câmbio ou caixa de engrenagens: tem a função de transmitir


a energia mecânica do eixo acoplado à turbina para o eixo do gerador
elétrico. Nesse processo é realizada a multiplicação da velocidade,
já que a velocidade de rotação da turbina eólica é limitada a valores
entre 15 e 200 rpm, enquanto os geradores elétricos comerciais
possuem rotações bem mais altas, como 1.800 rpm no caso de um
gerador de quatro polos operando em 60 Hz. Vale ressaltar que
existem modelos mais recentes de aerogeradores sem a caixa de
engrenagens, onde o eixo do rotor eólico é acoplado diretamente ao
eixo do gerador elétrico, que passa a ter um número maior de polos,
permitindo a sua operação em uma velocidade mais baixa.

• Freio: tem a função de manter o rotor parado para serviços de


manutenção e auxiliar o freio aerodinâmico, especialmente em
turbinas eólicas de menor capacidade, com a finalidade de evitar
a sobrevelocidade do sistema. O freio utilizado pode ser a disco
ou a embreagem.

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• Gerador: é o elemento responsável pela geração da energia
elétrica a partir da energia mecânica gerada pela turbina e
transmitida pela caixa de engrenagens. Podem ser utilizados
geradores de corrente contínua, de ímã permanente, síncronos e
de indução (assíncrono). Mais detalhes sobre o processo geração
estão citados na próxima seção.

5. Conexão de aerogeradores na rede elétrica

Conhecendo as partes de um aerogerador e os tipos de geradores


elétricos que são utilizados, resta saber como tais geradores operam
para permitir a sua conexão à rede elétrica. Neste momento, é
importante saber que dependendo da estratégia de controle utilizada,
uma turbina eólica pode operar com velocidade fixa ou variável. Assim,
o tipo de gerador utilizado e o modo de operação definem duas formas
de conexão do aerogerador na rede elétrica: direta ou indiretamente
acoplado à rede elétrica (FADIGAS, 2011). Baseado nessas informações,
a seguir são apresentados os principais sistemas geradores utilizados,
divididos na operação com velocidade fixa ou variável.

5.1 Sistemas geradores com velocidade fixa

Uma das soluções mais simples e compatíveis com a tecnologia padrão


atual de geradores trifásicos é utilizar um gerador síncrono acoplado
diretamente na rede elétrica, conforme o esquema apresentado
na Figura 4. Nesse caso, se faz necessária a caixa de engrenagens
devido à grande diferença entre as velocidades do gerador e da
turbina, o que garante a velocidade de rotação fixa da turbina, em
conjunto com a frequência da rede e o número de polos do gerador.
Uma desvantagem dessa topologia é a potência de saída altamente
flutuante devido à rigidez do acoplamento dos rotores, que mantém a
velocidade de rotação fixa.

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Figura 4 – Gerador síncrono acoplado diretamente na rede elétrica

Fonte: Fadigas (2011, p. 171).

Uma outra topologia que pode ser utilizada é um gerador de indução


com rotor de gaiola acoplado diretamente na rede elétrica. Nessa
configuração, apresentada na Figura 5, também é necessária a caixa
de engrenagens e a compensação de reativos deve ser feita por banco
de capacitores. Além disso, as flutuações de potência devido ao vento
também são transferidas à rede, porém, em uma forma levemente
amortecida devido ao escorregamento do gerador.

Figura 5 – Gerador de indução com rotor de gaiola


acoplado diretamente na rede elétrica

Fonte: Fadigas (2011, p. 173).

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5.2 Sistemas geradores com velocidade variável
Quando a operação da turbina acontece com velocidade variável,
inevitavelmente a tensão de saída do gerador alternado terá uma
frequência variável. Dessa forma, é necessário utilizar um inversor de
frequência para adequar a frequência da corrente gerada, que varia, em
uma corrente com frequência fixa para ser acoplada a rede.

A operação com velocidade variável permite o melhor aproveitamento


da aerodinâmica da turbina. Devido a isso, ela tem sido cada vez mais
utilizada nos aerogeradores de grande porte, algo possível devido ao
avanço da tecnologia dos inversores, que permite o desenvolvimento de
conversores cada vez mais eficientes.

A forma mais simples de operação de um aerogerador com velocidade


variável é utilizando um gerador síncrono com inversor, como está
apresentado na Figura 6. Nessa topologia, um inversor de frequência
é utilizado, gerando um desacoplamento da velocidade do gerador e
permitindo que haja uma variação na velocidade de rotação da turbina.
O maior problema dessa e de outras topologias que usam inversores
é as harmônicas que podem ser inseridas na rede, o que traz a
necessidade de filtros e outros elementos.

Figura 6 – Gerador síncrono com inversor

Fonte: Fadigas (2011, p. 175).

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Como forma de reduzir o custo do gerador e aumentar a sua robustez,
mantendo a possibilidade de operação com velocidade variável da
turbina, pode-se optar pela substituição do gerador síncrono da
topologia anterior por um gerador de indução com rotor de gaiola, o
que elimina a necessidade da excitatriz. Nessa configuração o controle
de reativos passa a ser feito pelo inversor e a caixa multiplicadora de
velocidades ainda é necessária.

Também é possível encontrar topologias que realizam o acoplamento do


rotor da turbina diretamente no gerador elétrico, sem a necessidade da
caixa de engrenagens. Isso se torna possível quando a corrente na saída
do gerador é contínua e se aplica um conversor CC/CA para permitir a
sua ligação com a rede. O grande problema dessa topologia é o custo
mais alto do gerador CC e maiores necessidades de manutenção.

Uma outra possibilidade de se eliminar a necessidade da caixa


de engrenagens é utilizar um gerador síncrono com uma grande
quantidade de polos, em uma topologia semelhante à apresentada na
Figura 6. A desvantagem fica novamente por conta do gerador, que tem
seu tamanho e peso aumentados consideravelmente com o aumento da
potência, inviabilizando a instalação sobre a torre.

Uma última opção é utilizar um gerador síncrono com ímã


permanente, conforme a topologia apresentada na Figura 7. A grande
vantagem está na eliminação da excitatriz e na alta eficiência que o
gerador possui. Além disso, a alta densidade do material magnético
utilizado para gerar o campo do rotor torna o equipamento compacto,
o que tem motivado os fabricantes de aerogeradores a optarem por
essa topologia, utilizando múltiplos geradores com ímãs permanentes.
Perceba que com essa topologia tem-se um gerador mais compacto
e eficiente e não há caixa de engrenagens, o que reduz o tamanho da
nacela e consequentemente o peso da estrutura, impactando em um
custo geral menor do aerogerador.

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Figura 7 – Gerador síncrono com ímã permanente
acoplado diretamente à turbina

Fonte: Fadigas (2011, p. 180).

Dentre as fontes de energia renováveis, a energia eólica desempenha


um papel importante. Assim, foram apresentadas nessa Leitura Digital
conceitos que permitem o conhecimento das tecnologias empregadas
nessa forma de geração de energia elétrica, trabalhando com aqueles
que permitem desde a determinação do local de instalação de uma
central eólica até a forma de conexão dos aerogeradores na rede elétrica.

Referências bibliográficas
AMARANTE, O. A. C. do; BROWER, M.; ZACK, J.; SÁ, A. L. de. Atlas do potencial
eólico brasileiro. Brasília, DF, 2001. Disponível em: http://www.cresesb.cepel.
br/publicacoes/download/atlas_eolico/Atlas%20do%20Potencial%20Eolico%20
Brasileiro.pdf. Acesso em :14 jan. 2020.
ANEEL. Sistema de Informações de Geração da ANEEL – SIGA. 2020. Disponível
em: https://www.aneel.gov.br/siga. Acesso em: 18 jun. 2020.
IBERDROLA. Evolução da energia eólica na Europa: o vento, a melhor forma de
apostar no futuro. 2020. Disponível em: https://www.iberdrola.com/meio-ambiente/
evolucao-energia-eolica-europa. Acesso em: 27 jan. 2020.
PINTO, M. O. Fundamentos de energia eólica. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013.

19
Energia solar fotovoltaica
Autoria: Giancarlo Michelino Gaeta Lopes
Leitura crítica: Paulo Takao Okigami

Objetivos
• Compreender o funcionamento de uma célula
solar e de fatores que determinam a sua eficiência
na produção de energia elétrica.

• Conhecer os equipamentos e fluxo de projeto de


um sistema de geração fotovoltaico autônomo.

• Estudar a topologia e característica de um sistema


de geração fotovoltaico conectado à rede elétrica.

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1. Introdução e evolução histórica

A energia solar pode ser utilizada para diversos fins, como em processos
de aquecimento residencial e industrial, dessalinização e para a geração
de energia elétrica (KALOGIROU, 2016). Nesse último, quando se
deseja fazer a conversão direta de energia solar para elétrica, se faz
necessária a utilização de módulos fotovoltaicos que possuem diversas
especificações e parâmetros que determinam a sua eficiência e forma de
instalação, com o objetivo de maximizar a conversão de energia.

Por ser uma forma de geração de energia elétrica limpa e sustentável,


o seu uso está se expandindo a cada dia, em especial nos pequenos
geradores independentes. A motivação dessa expansão também se deve
principalmente à redução do custo dos módulos fotovoltaicos, que animou
os consumidores a instalar sistemas fotovoltaicos em suas residências e
empreendimentos a fim de minimizar suas contas de energia.

O primeiro pesquisador a trabalhar com a energia fotovoltaica foi o


francês Alexandre-Edmond Becquerel, que em 1839 inseriu duas placas
de latão em um líquido condutor e visualizou uma luz saindo das placas,
bem como a geração de uma corrente elétrica. Tal experimento iniciou o
desenvolvimento da tecnologia dos sistemas fotovoltaicos, culminando
com a construção da primeira célula solar em 1880 por Charles
Fritts. Porém, a maior evolução ocorreu da década de 1950 quando
os cientistas dos Laboratórios Bell descobriram que o silício dopado
é responsivo à luz, o que permitiu a criação de células solares mais
baratas e eficientes (BALFOUR et al., 2016).

Atualmente, o Brasil possui 3.870 centrais de geração fotovoltaicas,


que totalizam uma potência de aproximadamente 2.500 MW,
correspondendo a cerca de 1,5 % da capacidade de geração do país
(ANEEL, 2020). Vale ressaltar que esse número não contempla os
sistemas de geração privados instalados nos consumidores. Assim, o
número total de centrais fotovoltaicas no país é muito maior.

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2. Módulos solares e regras de instalação

Quando a luz ou a radiação eletromagnética do Sol incide sobre uma


célula composta de materiais semicondutores com propriedades
específicas, acontece o efeito fotovoltaico, permitindo a conversão
direta da luz em eletricidade. É a partir desse efeito que as células
fotovoltaicas funcionam.

Uma célula solar fotovoltaica é composta por duas camadas de


materiais semicondutores tipo N e P, depositados sobre uma base
metálica e com uma grade de coletores metálicos em sua superfície.
Assim, quando a luz solar atinge a célula, os elétrons e lacunas dos
materiais semicondutores saltam a barreira de potencial criada na
junção e geram corrente elétrica. Esses elétrons em movimento são
coletados pelos eletrodos metálicos.

A partir desse princípio de funcionamento, existem diversos tipos


de células solares, que utilizam diferentes tecnologias de fabricação.
As mais comuns de serem encontradas são (VILLALVA; GAZOLI, 2012):

• Silício monocristalino: desenvolvido a partir de blocos de silício


ultrapuros, aquecidos a altas temperaturas e submetidos a um
processo de cristalização. Os lingotes formados nesse processo
geram finas placas de silício puro (wafers), que recebem impurezas
em ambas as partes, criando as camadas de material P e N que são
a base da célula fotovoltaica. Então, a célula semiacabada recebe
uma película metálica em uma das faces, uma grade metálica na
outra e um material antirreflexivo na face que irá receber luz.

• Silício policristalino: nesse tipo de célula, os lingotes que geram


os wafers são formados por um aglomerado de pequenos cristais,
com tamanhos e orientações diferentes. O processo de dopagem e
acabamento é semelhante ao que ocorre no silício monocristalino.

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• Filmes finos: fabricados a partir da deposição de finas camadas de
materiais (silício e outros) sobre uma base. Podem ser encontrados
células com filmes finos de silício amorfo, silício microcristalino,
telureto de cádmio e CIGS (cobre-índio-gálio-selênio).

As células de silício monocristalino são as mais eficientes disponíveis


comercialmente em larga escala, com um rendimento que chega a até
19%. Porém, seu custo é mais alto que as de silício policristalino, que
podem chegar a um rendimento de até 17% (VILLALVA; GAZOLI, 2012).
Assim, essas duas tecnologias são as mais comuns de se encontrar no
mercado, sendo produzidas por diversos fabricantes.

Um painel, placa ou módulo solar fotovoltaico é composto por um


arranjo de diversas células solares e outros elementos, como pode ser
visto na Figura 1. Podem ser encontrados comercialmente painéis com
potências a partir de 1 W, utilizados em sistemas embarcados, a até
cerca de 400 W. Os modelos mais comuns utilizados em sistemas de
geração elétrica são de 270 W e 330 W, possuem tensão de saída em
torno 37 V e corrente que varia conforme a sua potência (VILLALVA;
GAZOLI, 2012).

Figura 1 – Partes de um painel solar

Fonte: adaptada de alejomiranda/iStock.com.

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É importante saber que um módulo fotovoltaico não apresenta
uma tensão de saída constante em seus terminais, sendo que ela é
dependente de sua corrente e vice-versa. Assim, o ponto de operação
do painel depende da carga que está conectada a ele. Desta forma, é
possível traçar curvas que indicam a relação entre corrente e tensão, e
potência e tensão em um painel fotovoltaico, como estão apresentados
na Figura 2. Analisando as curvas é possível perceber três pontos
distintos: o ponto de máxima potência, onde idealmente o painel deve
operar para maximizar a sua eficiência; a corrente de curto-circuito, que
ocorre quando os terminais do módulo são curto-circuitados, atingindo
a sua máxima corrente; e a tensão de circuito aberto, obtida com a
medição dos terminais do módulo sem carga, indicando a maior tensão
que ele pode fornecer.

Figura 2 – Curvas características de um painel fotovoltaico:


(a) corrente e tensão e (b) potência e tensão

Fonte: Villalva e Gazoli (2012, p. 77).

Além da carga, a eficiência de um painel fotovoltaico depende de dois


fatores fundamentais, a radiação solar e a temperatura, e ambos
impactam na corrente gerada pelo painel. A radiação solar ideal para a
operação de um módulo deve ser de ao menos 1000 W/m2, fazendo com
que ele consiga fornecer a corrente máxima especificada em sua folha
de dados. Uma redução na radiação causa uma redução na corrente

24
gerada, como pode ser visto na Figura 3(a). Na condição ideal de
radiação solar, a corrente nominal do módulo acontece na temperatura
de 25 °C. Temperaturas superiores a essa também causam uma redução
na corrente gerada, como pode ser visto na Figura 3(b).

Figura 3 – Influências na operação de um painel fotovoltaico:


(a) radiação solar e (b) temperatura

Fonte: Villalva e Gazoli (2012, p. 80).

A fim de otimizar a radiação solar recebida pelos módulos, é importante


saber que existem diversas características que afetam a captação de
energia dos módulos solares. Elas estão relacionadas à inclinação do
eixo de rotação da Terra, o ângulo da altura solar, o ângulo azimutal
do Sol e o ângulo de inclinação dos módulos. Assim, a partir dessas
características, existem algumas regras que devem ser seguidas para a
instalação dos módulos solares:

• Para maximizar a produção média diária de energia, sempre que


possível, o módulo deve ser instalado com a sua face voltada para
o norte geográfico.

• O ângulo de inclinação do módulo deve ser ajustado conforme


o ângulo da latitude geográfica onde o sistema será instalado,

25
seguindo a Tabela 1, a fim de otimizar a produção no decorrer
do ano. Lembrando que, na prática, o instalador deve calcular a
altura da haste de fixação (h) em um triângulo pitagórico, sendo
função do comprimento do módulo (L) e do ângulo escolhido (ϕ),
conforme a relação (VILLALVA; GAZOLI, 2012):
(1)

Tabela 1 – Determinação do ângulo de inclinação do módulo


Latitude geográfica Ângulo de inclinação
do local de instalação do módulo
0º a 10º 10º
11º a 20º Latitude
21º a 30º Latitude + 5º
31º a 40º Latitude + 10º
41º ou mais Latitude + 15º

Fonte: adaptada de Villalva e Gazoli (2012, p. 59).

Com o objetivo de aumentar a potência total, um sistema fotovoltaico


pode utilizar um grande número de módulos, conectados em série,
paralelo ou mesclando essas duas formas de conexão. As principais
características de cada uma dessas formas de conexão são:

• Conexão de módulos em série: a tensão de saída do conjunto


(string) corresponde à soma da tensão de saída de cada
módulo. A corrente que circula pelo conjunto é a mesma para
todos os módulos.

• Conexão de módulos em paralelo: a tensão de saída do conjunto


é igual à tensão de um módulo individual. A corrente total de
saída é a somatória das correntes dos módulos.

• Conexão de módulos em série e paralelo: os módulos são


conectados em série e depois em paralelo. Conforme o arranjo,
há a somatória das correntes e tensões dos módulos.

26
3. Sistemas fotovoltaicos autônomos
Também chamados de sistemas fotovoltaicos isolados, os sistemas
autônomos são aqueles que não são ligados na rede elétrica, por isso,
em inglês, recebem o nome de offgrid. Usualmente, tais sistemas são
utilizados em locais que não são atendidos pela rede elétrica, como
por exemplo em zonas rurais remotas ou comunidades isoladas da
Amazônia. Eles são usados, inclusive, para o fornecimento de energia
para veículos terrestres e náuticos ou para a alimentação de pequenos
aparelhos eletrônicos portáteis.

Quando tratamos de um sistema fotovoltaico autônomo que tem por


objetivo substituir ou compensar a falta da rede elétrica em um local,
ele deve ser composto, basicamente, por: painéis solares, banco de
baterias, controlador de carga e inversor. Nesse sistema, a energia é
gerada em corrente contínua pelos painéis e armazenada nas baterias,
que tem seu processo de carregamento regulado pelo controlador
de carga. Para ser utilizada na alimentação dos equipamentos que
encontramos em nossas residências, a energia passa pelo inversor, que
converte a corrente contínua armazenada nas baterias e gerada pelos
painéis em corrente alternada.

3.1 Baterias
Em um sistema autônomo, a geração de energia, que varia durante
o dia devido à radiação solar, dificilmente coincide com o consumo.
Assim, é necessário um elemento que seja capaz de armazenar a energia
gerada, a fim de proporcionar o fornecimento de energia para o usuário,
mesmo em momentos em que a geração seja mínima ou inexistente,
como no período da noite ou em dias nublados e chuvosos. O elemento
responsável por isso é a bateria.

Com o objetivo de aumentar a capacidade de armazenamento do


sistema, podem ser utilizados bancos de baterias, que podem ser

27
agrupadas em série, permitindo a obtenção de tensões maiores, ou
em paralelo, aumentando a capacidade de corrente. Pode ainda ser
feita uma mescla entre as duas formas de ligação. Vale ressaltar que
podem ser encontradas no mercado baterias de 12 V, 24 V e 48 V, e
que a capacidade de tensão e corrente do banco devem entender as
especificações de operação do controlador de carga e do inversor.

Existem diversos tipos de baterias que podem ser utilizadas em um


sistema autônomo e a mais conhecida e utilizada é a de chumbo ácido,
que pode ser de ácido líquido ou em gel, seladas ou abertas. Essas
baterias são constituídas de placas de chumbo mergulhadas em uma
solução ácida e a energia é carregada e descarregada por meio de
reações químicas do chumbo com o ácido. As baterias com eletrólito em
gel possuem maior vida útil e permitem um maior número de ciclos de
carga e descarga quando comparadas com as de eletrólito líquido. Já a
vantagem das seladas é que não necessitam de manutenção, ao passo
que as abertas requerem a adição periódica de água. Normalmente, os
modelos com eletrólito em gel são seladas e são chamadas de VRLA (do
inglês, valve regulated lead acid) devido à presença de uma válvula de
segurança que permite a liberação de gases no caso de sobrecarga.

Vale ressaltar que as baterias de chumbo ácido utilizadas em sistemas


autônomos são do tipo estacionárias, portanto, diferentes daquelas
utilizadas em automóveis. As baterias estacionárias são desenvolvidas
especialmente para sistemas que necessitam do fornecimento de
corrente durante um longo período de tempo, diferentemente do que
ocorre nos modelos veiculares, nos quais a bateria é acionada somente
no momento da partida do veículo, por um curto intervalo de tempo.

Além das baterias de chumbo ácido, podem ser encontradas no


mercado baterias de NiCd (níquel-cádmio), NiMH (níquel-metal-hidreto)
e lítio, que são mais leves, compactas, confiáveis, porém possuem um
custo mais elevado. Dentre elas, as que mais se destacam são as de lítio,
que estão se popularizando no mercado devido à grande quantidade de
ciclos que suportam e sua capacidade de descarga.

28
3.2 Controlador de carga
O controlador de carga é o dispositivo que faz o controle da carga do
banco de baterias de um sistema autônomo, evitando que a bateria seja
sobrecarregada ou excessivamente descarregada. Especificamente, as
funções que o controlador de carga desempenha são (BALFOUR et al., 2016):

• Proteção de sobrecarga: impede que a bateria seja


sobrecarregada, monitorando o valor da tensão nos terminais da
bateria e impedindo que ela continue sendo carregada quando a
tensão de carga é atingida.

• Proteção de descarga excessiva: faz com que o consumo de


energia do sistema seja interrompido quando a bateria atinge um
nível crítico de carga.

• Gerenciamento de carregamento: recurso presente em alguns


controladores que gerencia o carregamento respeitando o perfil
de carga da bateria, criando múltiplos estágios de carregamento.
Uma bateria de chumbo ácido possui três estágios: de
carregamento pesado, no qual a corrente é levada ao máximo
suportado pelo controlador; de absorção, quando a bateria está
praticamente carregada e é aplicado um carregamento lento
para que carga chegue até seu máximo; e de flutuação, no qual o
controlador apenas mantém a bateria carregada.

Os controladores de carga comerciais possuem três conjuntos de


terminais para a conexão do painel solar, da bateria e a saída para
o inversor ou cargas alimentadas em corrente contínua. Eles são
encontrados com capacidades de corrente entre 10 e 60 A e operam
com diferentes tecnologias, as principais estão destacadas a seguir
(BALFOUR et al., 2016):

• Controladores Liga/Desliga: são os modelos mais simples que


existem e têm a função de desconectar a bateria dos painéis
quando ela está completamente carregada e desconectá-la da

29
carga quando descarregada. Podem ser construídos com a chave
que conecta os painéis à bateria em série ou em paralelo.

• Controlador eletrônico com PWM (pulse width modulation, ou,


modulação por largura de pulso): no lugar de chaves simples que
somente abrem ou fecham, esse controlador possui circuitos
eletrônicos que permitem o controle das correntes de carga, com a
aplicação de uma onda PWM sobre as chaves. Esse tipo de controle
aumenta a vida útil e maximiza o uso da bateria.

• Controlador eletrônico com PWM e MPPT (maximum power


point tracking, ou, rastreamento do ponto de potência máxima):
acrescenta ao controlador PWM o módulo MPPT, fazendo com
que o painel fotovoltaico opere sempre em seu ponto de máxima
potência, independente da radiação solar e de sua temperatura de
trabalho. Geralmente esse tipo de controlador gera uma eficiência
30% maior na produção de energia que os demais modelos.

3.3 Inversor

Dentro de um sistema fotovoltaico, o inversor tem a função de converter


e adequar os níveis de tensão e de corrente contínua (CC) em tensão
e corrente alternada (CA). Ele é necessário pois a grande maioria dos
equipamentos que conhecemos é construída para trabalhar em tensão
alternada (127 V ou 220 V) a 60 Hz.

Podem ser encontrados diversos tipos de inversores, que variam


conforme o formato da onda de saída, que podem ser um dos tipos
apresentados na Figura 4. Os inversores de menor custo são os que
possuem ondas semiquadradas em sua saída, podendo ser uma onda
quadrada ou uma senoidal modificada. Os modelos com saída senoidal
pura produzem tensões com o formato de uma senoide com baixa
distorção harmônica, entregando uma energia de qualidade.

30
Figura 4 – Formas de onda que podem ser encontradas
na saída de um inversor

Fonte: Villalva e Gazoli (2012, p. 124).

Quando se deseja adquirir um inversor para um sistema autônomo,


além do tipo de onda de saída, devem ser consideradas diversas
especificações e características, como a potência nominal e máxima,
tensão de saída CA, frequência de saída, regulação de tensão, eficiência,
distorção harmônica e proteções contra curto-circuito e reversão de
polaridade. Especificando corretamente o inversor, há a garantia de que
os equipamentos ligados a ele irão funcionar sem problemas.

3.4 Dimensionamento do sistema

Para se fazer o dimensionamento de um sistema fotovoltaico


autônomo, o primeiro passo é determinar o consumo energético
que ele deverá suprir, considerando a potência dos equipamentos
e por quanto tempo eles ficam ligados por dia. Feito isso, devem ser
especificadas as seguintes características:

• Qual a tensão de alimentação dos equipamentos (cargas) que


serão ligados ao sistema?

• Quantos dias as baterias devem sustentar o sistema?

• Qual tipo de bateria utilizar, tensão e máximo de descarga, bem


como a tensão e arranjo do banco de baterias?

31
• Qual o tipo de controlador e suas especificações?

• Qual a potência necessária dos painéis, indicando qual modelo


será utilizado, quantos serão necessários e como será feita a
associação deles?

• Qual modelo de inversor utilizar?

4. Sistemas fotovoltaicos conectados à rede


elétrica
Um sistema fotovoltaico conectado à rede elétrica, ou sistema ongrid,
opera em paralelo com a rede elétrica, com o objetivo de gerar energia
para o consumo local, reduzindo ou eliminando o consumo de energia
da rede, ou até gerando excedente de energia. Atualmente, tais tipos
de sistemas estão sendo largamente instalados por consumidores a fim
de minimizar a sua conta de energia, sendo que, durante o dia, com o
sistema em operação, é gerada uma quantidade de energia excedente,
que é injetada na rede. No período na noite, o excedente inserido é
consumido, gerando um balanço energético, que torna a fatura de
energia extremamente baixa (ZILLES, 2012).

Vale ressaltar que esse tipo de sistema também pode ser utilizado na
construção de usinas de geração de energia, que caracterizam sistemas
com potência acima 1 MW. Porém, tais sistemas possuem a topologia
de diversos sistemas de minigeração ligados em conjunto. Dessa forma,
conhecer a topologia de sistemas com potências menores é suficiente
para o projeto de sistemas maiores. Lembrando que um sistema é
caracterizado como sendo de microgeração quando possui uma potência
instalada de até 100 kW, já um sistema de minigeração possui potência
instalada superior a 100 kW e menor ou igual a 1 MW (ANEEL, 2014).

A topologia de um sistema fotovoltaico de microgeração conectado à


rede elétrica está apresentada na Figura 5. A principal característica

32
de tal sistema é a sua modularidade, permitindo que novos painéis e
inversores sejam acrescentados em paralelo com o sistema, de acordo
com a capacidade de geração desejada.

Figura 5 – Topologia de um sistema fotovoltaico de microgeração


conectado à rede elétrica

Fonte: Villalva e Gazoli (2012, p. 153).

Dentro do sistema apresentado na Figura 5, o inversor tem o papel de


realizar a ligação dos painéis que trabalham em CC com a rede elétrica
que opera em CA. Assim, preferencialmente devem ser utilizados
inversores que tenham saída senoidal pura. Além disso, vale ressaltar
que os inversores para a operação ongrid são diferentes daqueles
utilizados no sistema offgrid, sendo que no primeiro caso ele opera como
uma fonte de corrente e no segundo como uma fonte de tensão.

O inversor ongrid funciona apenas quando está conectado à rede


elétrica, assim, caso ela não esteja disponível, garante a segurança de
equipamentos que estão ligados na instalação elétrica e outros usuários
da rede. Desta forma, cabe ao instalador especificar o modelo correto de
inversor a ser utilizado, dependendo do tipo de sistema de geração.

33
As características dos inversores ongrid são diversas e as que requerem
maior atenção no momento da aquisição são: faixa útil de tensão
contínua na entrada; tensão contínua máxima de entrada; número
máximo de strings de entrada; tensão de operação na conexão com
a rede; frequência da rede elétrica; distorção da corrente injetada na
rede; potências CC de entrada e CA de saída; e rendimento. Assim,
conhecendo as características desse tipo de inversor, é possível chegar a
sua especificação.

Nessa Leitura Digital foram apresentados conceitos relacionados à


geração de energia elétrica a partir da energia solar fotovoltaica. Foram
trabalhados conceitos sobre os painéis solares e formas com que
eles podem ser utilizados na geração de energia, operando de forma
autônoma ou ligados à rede. Estudou-se, ainda, os principais dispositivos
que são encontrados nas duas formas de operação, permitindo uma
visão geral sobre as características e passos de projeto desse tipo de
sistema de geração.

Referências bibliográficas
ANEEL. Sistema de Informações de Geração da ANEEL – SIGA. 2020.
Disponível em: https://www.aneel.gov.br/siga. Acesso em: 18 jun. 2020.
ANEEL. Micro e minigeração ditribuída: sistema de compensação de energia
elétrica. 1. ed. Brasília: ANEEL, 2014. Disponível em: https://www2.aneel.gov.br/
biblioteca/downloads/livros/caderno-tematico-microeminigeracao.pdf. Acesso em:
7 fev. 2020.
BALFOUR, J.; SHAW, M.; NASH, N. B. Introdução ao projeto de sistemas
fotovoltaicos. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016.
KALOGIROU, S. A. Engenharia de energia solar: processos e sistemas. 2. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
VILLALVA, M. G; GAZOLI, J. R. Energia solar fotovoltaica: conceitos e aplicações.
1. ed. São Paulo: Érica, 2012.
ZILLES, R. et al. Sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica. 1. ed.
São Paulo: Oficina de Textos, 2012.

34
Biomassa e energia geotérmica
Autoria: Giancarlo Michelino Gaeta Lopes
Leitura crítica: Paulo Takao Okigami

Objetivos
• Compreender como é feito o processamento da
biomassa e como ela é uma importante fonte
energética no cenário nacional.

• Conhecer os tipos e como funcionam as usinas


termoelétricas que podem utilizar a biomassa
como combustível.

• Conhecer a energia geotérmica e como ela pode


ser utilizada para a geração de energia elétrica.

35
1. Biomassa

Apesar de não ter grande destaque dentro do cenário mundial de fontes


renováveis de geração de energia elétrica, a biomassa desempenha papel
fundamental, sendo uma fonte altamente sustentável. Isso também é
válido para os biocombustíveis utilizados em veículos, como o etanol e o
biodiesel, que se enquadram em fontes de energia derivadas da biomassa.

A biomassa é definida como sendo toda matéria orgânica, de origem


vegetal ou animal, existente na natureza ou gerada pelo homem/animais,
que pode ser utilizada na geração de energia elétrica. Como exemplos
podemos citar os resíduos urbanos, rurais e agroindustriais, óleos
vegetais e combustíveis produzidos com base em culturas agrícolas e
resíduos. Além disso, também é importante saber que a energia derivada
da biomassa é chamada de bioenergia (MOREIRA, 2019).

Dentro do cenário nacional, uma das aplicações clássicas da utilização


da biomassa para a geração de energia elétrica acontece no setor
sucroalcooleiro, que utiliza o bagaço da cana para a cogeração de
eletricidade. Algo semelhante ocorre em indústrias de papel e celulose,
que utilizam os resíduos do processo de produção (resíduos de madeira
e licor negro) na cogeração. Nessas indústrias e em outras que possuem
cogeração, a energia gerada é utilizada para a alimentação da própria
indústria e o excedente é injetado na rede. Porém, também podem ser
encontradas no Brasil centrais geradoras elétricas que operam tendo
como fonte a biomassa (ANEEL, 2008).

No Brasil, 8,77% de toda a energia gerada advém da biomassa, com um


total de 571 centrais geradoras termoelétricas, que somadas possuem
uma potência instalada de aproximadamente 15.000 MW. Para operar
essas termoelétricas com biomassa, são utilizadas fontes variadas,
como o biogás advindo de resíduos animais, florestais, agroindustriais e
sólidos urbanos, etanol e óleos vegetais, casca de arroz, capim elefante,
licor negro e como principal fonte de biomassa, o bagaço de cana de

36
açúcar. Somente o bagaço de cana de açúcar responde por 6,47% de
toda a energia elétrica gerada no país, sendo a fonte de biomassa mais
utilizada, com uma capacidade de geração de aproximadamente 11.500
MW distribuída em 405 usinas termoelétricas (ANEEL, 2020).

Vale ressaltar que a utilização do bagaço de cana como fonte geradora


de eletricidade é interessante dentro do cenário nacional devido à
periodicidade das safras de cana e o período de chuvas. No período de
estiagem, a geração de energia por fonte hídrica, que corresponde a
aproximadamente 61% da capacidade de geração do país (ANEEL, 2020),
fica limitada devido aos baixos níveis dos reservatórios. Porém, nesse
mesmo período acontece a safra da cana de açúcar, período no qual há
a maior oferta de matéria-prima para as termoelétricas movidas com o
bagaço da cana. Desta forma, a utilização do bagaço em larga escala pode
compensar a baixa dos reservatórios e evitar a utilização de combustíveis
fósseis nas termoelétricas, mostrando-se uma estratégia interessante,
considerando a matriz geradora de energia elétrica do Brasil.

1.1 Formas de geração de energia elétrica a partir da


biomassa

Dependendo do tipo e quantidade disponível de biomassa e a potência


a ser instalada, existem diferentes tecnologias que podem ser utilizadas
para a geração de energia elétrica. Basicamente, para sistemas
pequenos, menores de 200 kW, utiliza-se sistemas de gaseificação de
pequeno porte. Para sistemas acima de 200 kW, majoritariamente, se
opera com ciclos a vapor.

A operação de grande porte é baseada nas usinas termoelétricas,


que realizam a queima do combustível para a geração de calor, que
consequentemente aquece um fluido, responsável por acionar uma
turbina. Essas usinas podem operar utilizando combustíveis fósseis ou
utilizando biomassa como fonte de energia.

37
A maioria das usinas termoelétricas que utilizam a biomassa como
fonte na geração de energia elétrica se baseiam na transformação de
calor em trabalho útil, operando como máquinas térmicas. A grande
maioria das máquinas térmicas opera segundo um determinado ciclo
termodinâmico e depende de uma fonte ou reservatório térmico
de fornecimento de calor de alta temperatura, um reservatório ou
absorvedouro de rejeição de calor de baixa temperatura e da máquina
de conversão de calor em trabalho útil, a qual fica ligado um gerador
elétrico. Tais componentes estão relacionados entre si, conforme
mostra a Figura 1.

Figura 1 – Esquema do princípio de funcionamento de uma máquina


térmica genérica

Fonte: Moreira (2019, p. 32).

As máquinas térmicas operam em ciclos que possuem interações de


trabalho e calor. Nessas máquinas, o transporte de energia entre os
reservatórios é feito por um fluido de trabalho, comumente a água,
proporcionando a conversão de energia térmica em trabalho de forma
contínua. A seleção de um ciclo de trabalho específico depende, dentre
outros fatores, das temperaturas e pressões envolvidas até os custos de
instalações.

38
Um dos ciclos utilizados em centrais termoelétricas é o ciclo de
Rankine, que possui diversas variações. O ciclo de Rankine simples faz
somente algumas alterações no ciclo de Carnot, que é o ciclo ideal,
a fim de torná-lo realizável na prática. Contudo, esse ciclo possui
susceptibilidade ao aparecimento de erosões na turbina, o que é
evitado no ciclo de Rankine com superaquecimento, que tem os
componentes e fases do ciclo apresentados na Figura 2a. Comparando
o esquema da Figura 2a com o gráfico da Figura 2b, que relaciona a
temperatura em função da entropia específica, é possível identificar
em quais pontos do ciclo se encontram os elementos necessários para
o seu funcionamento e estabelecer uma ordem para o fluxo do fluido
no sistema. O processo se inicia com a bomba injetando o líquido
no gerador de vapor, que joga o vapor gerado ao superaquecedor,
que por sua vez aplica o vapor na turbina. Após passar pela turbina
e gerar trabalho, o vapor segue para o condensador, onde volta a se
tornar líquido, encerrando o ciclo. Lembrando que o gerador elétrico
é acoplado à turbina e que o calor utilizado no gerador de vapor e no
superaquecedor advêm da queima da biomassa ou combustível fóssil.

Figura 2 – (a) componentes do ciclo de Rankine com superaquecimento e


(b) gráfico das fases do ciclo

Fonte: Moreira (2019, p. 37).

39
As biomassas que possuem as melhores características para a
combustão e utilização no ciclo de Rankine são as de estado sólido,
como o bagaço de cana de açúcar. No caso de biomassas em estados
gasosos, como o biogás e outros gases obtidos em processos de
gaseificação, a melhor opção é utilizar o ciclo de Brayton.

O ciclo de Brayton é considerado o ciclo padrão de uma turbina a gás,


que pode ser classificada como industrial ou aeroderivativa. Neste
ciclo, um compressor comprime o ar de admissão, que é levado para a
câmara de combustão, onde o combustível é queimado. O ar aquecido
é comprimido e sofre uma expansão na turbina de força, gerando
trabalho e movendo o gerador elétrico. No mesmo eixo da turbina onde
está acoplado o gerador, também está acoplado o compressor, como
pode ser visto na Figura 3 que mostra o diagrama com os componentes
básicos de uma termoelétrica a gás.

Figura 3 – Elementos básicos de uma termoelétrica com ciclo Brayton

Fonte: Moreira (2019, p. 43).

Os produtos da combustão de uma turbina a gás possuem uma


temperatura relativamente elevada e em um sistema de geração isolado
eles são lançados para a atmosfera. Contudo, o calor presente nesses
gases pode ser utilizado em outro sistema, como na produção de vapor
para o acionamento de uma turbina a vapor. Com isso, é possível

40
criar um ciclo combinado, formado por uma turbina a gás e uma
turbina a vapor, chamado de Brayton-Rankine, que tem seu diagrama
apresentado na Figura 4. Essa combinação tem como objetivo maximizar
o aproveitamento dos combustíveis e da energia térmica gerada no
processo geração.

Figura 4 – Diagrama do ciclo combinado Brayton-Rankine

Fonte: Moreira (2019, p. 53).

Analisando a Figura 4, é possível perceber que são necessários dois


geradores elétricos para o sistema de ciclo combinado. Além disso,
dependendo da temperatura dos gases que saem da turbina a gás, pode
ser necessária a queima de outro combustível sólido a fim de aumentar
a temperatura no trocador de calor, para que seja possível a geração
de vapor a ser utilizado no ciclo de Rankine. Porém, vale ressaltar que o
combustível consumido será bem menor se comparado ao utilizado no
ciclo de Rankine isolado.

41
A partir dos ciclos apresentados, a tecnologia mais eficiente para a
conversão termoelétrica é a de ciclo combinado. Porém, a produção
de gás de síntese para operacionalizar um sistema de ciclo combinado
de grande porte não tem se mostrado viável, devido à dificuldade
de limpeza adequada dos gases após o processo de gaseificação da
biomassa sólida. Assim, atualmente, a maioria das termoelétricas de
grande porte que operam com biomassa como fonte de energia utilizam
o ciclo de Rankine como base, ao passo que os outros ciclos estão sendo
utilizados em sistemas de pequeno porte (MOREIRA, 2019).

Como foi dito, para uma central de geração de pequeno porte, o uso de
sistemas de ciclo combinado é uma opção. Dessa forma, é importante
conhecer o processo de gaseificação, que gera como produto final o gás
de síntese utilizado em tais sistemas.

A gaseificação utiliza a decomposição da matéria orgânica para


transformar o carbono presente nas estruturas químicas dos elementos
em gás de síntese. Os principais gases presentes no gás de síntese são
o dióxido de carbono, metano, hidrocarbonetos leves e nitrogênio. Essa
composição depende de alguns fatores, como o tipo de gaseificador,
tempo de retenção, sistema de retirada de gases e da matéria orgânica
utilizada. Além disso, na maioria dos casos, o processo de gaseificação
utiliza como agente gaseificador o ar e operam sob pressão atmosférica.
Os principais tipos de gaseificadores são (MOREIRA, 2019):

• Gaseificadores de leito fixo: é a tecnologia mais difundida, onde a


biomassa a ser gaseificada se move por ação da gravidade, sendo
sustentada por uma grelha fixa. O preaquecimento da biomassa
em conjunto com o ar gera o gás de síntese.

• Gaseificadores de leito fluidizado: o material é mantido em


suspensão em um leito de areia, mantido em movimento por um
fluxo de ar. Com o movimento, a biomassa é arrastada e o gás é
gerado.

42
Além da utilização de máquinas térmicas e turbinas a gás, uma central
geradora que utiliza a biomassa como fonte de energia pode trabalhar
baseada em motores de combustão interna. Nesse caso, podem ser
utilizados diversos tipos de biomassa, como etanol, biodiesel e biogás.

Os motores de combustão podem trabalhar em vários ciclos térmicos,


de modo que os mais difundidos são os ciclos de Otto e de Diesel.
Nesse tipo de motor, um ciclo de trabalho se completa a cada uma ou
duas voltas do eixo do motor, sendo constituído por diferentes etapas
de funcionamento. Além disso, um motor de combustão pode ser
classificado de duas formas, conforme a sua construção (MOREIRA, 2019):

• Motor de dois tempos: o ciclo do motor é completo a cada volta do


eixo e o próprio pistão atua como válvula, realizando a abertura
e fechamento das janelas presentes na câmara. Isso torna a
máquina mais simples, compacta e leve, contudo, os índices
de poluição e consumo são altos devido à queima parcial do
combustível que entra na câmara.

• Motor de quatro tempos: o ciclo do motor se completa a cada


duas voltas do eixo, onde, para um pistão, em uma volta ocorre a
admissão e compressão e na volta seguinte acontece a combustão
e escape. Devido a isso, são necessárias válvulas sincronizadas
com o movimento do motor.

Na prática, os motores de dois tempos são utilizados somente em


máquinas de pequeno porte, como equipamentos de jardinagem. Para
a geração de energia elétrica, utiliza-se majoritariamente motores de
quatro tempos, que são acoplados diretamente a geradores elétricos e
possuem um sistema de controle de sua velocidade de rotação, a fim de
garantir estabilidade na frequência da tensão gerada pelo gerador.

Em um motor que opera em quatro tempos, o trabalho é produzido em


apenas um tempo do motor, quando há a combustão do combustível.
Nos outros tempos são realizadas as operações para completar o

43
ciclo de funcionamento. Assim, um motor de quatro tempos possui
as seguintes fases de operação: admissão, na qual o pistão em
deslocamento descendente aspira a mistura de ar e combustível através
da válvula de admissão; compressão, quando o pistão atinge a sua
excursão mínima, ele começa a subir, comprimindo a mistura de ar
e combustível; combustão, em que próximo do pistão atingir o nível
máximo, ocorre a combustão, o que impulsiona o pistão para baixo;
exaustão, na qual o pistão atinge o seu nível mínimo após a combustão
e se abre a válvula de exaustão, que serve de caminho para a descarga
dos produtos da combustão.

Quando o motor de combustão opera baseado no ciclo de Otto, a


combustão interna é gerada pela centelha de uma vela, podendo
ter como combustível o etanol, bem como outros combustíveis não
renováveis, como a gasolina ou gás natural. Já quando o motor opera
baseado no ciclo de Diesel, a ignição acontece de forma espontânea,
sem a necessidade de vela, pela compressão do combustível. Esse tipo
de motor pode utilizar como combustível o biodiesel e com algumas
modificações, por ser uma mistura de biogás e biodiesel, além de suas
variantes não renováveis.

É importante frisar que dependendo do tipo de biomassa utilizada para


a produção do biogás, ele terá uma composição diferente, o que impacta
no seu poder calorífico quando queimado. Assim, existem gases que são
mais recomendados para serem utilizados em motores à combustão
interna, ao passo que existem outros mais recomendados para serem
utilizados em turbinas a gás.

Para a geração do biogás são utilizados biodigestores, onde os resíduos


urbanos, rurais ou agroindustriais são inseridos e digeridos, gerando
o gás. Dependendo do tipo de resíduo, existe um tipo de biodigestor
mais recomendado. Para resíduos rurais e de esgoto sanitário urbano,
o biodigestor Rafa (Reator Anaeróbico de Fluxo Ascendente) é o mais
utilizado. Esse biodigestor possui uma camada de iodo que permite

44
a passagem dos líquidos e faz a remoção dos nutrientes orgânicos,
gerando o gás. Para resíduos sólidos urbanos, o biogás pode ser
coletado de um aterro sanitário. Este tipo de resíduo também pode ser
incinerado, e o calor gerado na queima aproveitado para a geração de
energia elétrica (MOREIRA, 2019).

2. Energia geotérmica

O calor oriundo do subsolo terrestre apresenta potencial para a geração


de energia elétrica, além dos fins não elétricos que já eram utilizados
há muito tempo, como o cozimento de alimentos ou uso medicinal. Os
primeiros projetos de geração de eletricidade aproveitando a energia
geotérmica são datados de 1904, em Lardarello (Itália), e de 1950 na
cidade de Wairakei (Nova Zelândia). Nos Estados Unidos essa fonte de
energia começou a ser utilizada em 1960, com o projeto Geysers, na
Califórnia. Dele resultou o Campo Geyser, que possui uma potência
instalada de 2.800 MW, sendo a central de geração geotérmica mais
desenvolvida no mundo. Por estar distante de falhas geológicas, o Brasil
não possui projetos de usinas geotérmicas. Aqui, a energia geotérmica é
utilizada somente na forma de água aquecida para fins medicinais e de
lazer, como acontece em alguns parques termais (REIS, 2011).

As principais vantagens da utilização da energia geotérmica estão no


fato dela ser uma energia renovável, que causa um impacto ambiental
reduzido, e por não depender de condições climáticas, como acontece
com a energia eólica, hidráulica e solar. Os principais impactos dessa
forma de geração acontecem na instalação da central geradora, pelas
perfurações e rebaixamento do solo. Após a instalação, o impacto está
relacionado aos resíduos gerados pelos gases não condensados e pela
água condensada, que possuem alguns poluentes como o gás carbônico
e metais pesados. Porém, esses elementos gerados no processo são
reinjetados no solo, minimizando o impacto.

45
A energia geotérmica pode ser utilizada para a produção de energia
elétrica quando o vapor está disponível a altas temperaturas (150 ºC a
200 ºC). Assim, também estando em alta pressão, o vapor aciona uma
turbina, que está acoplada a um gerador elétrico.

O vapor e a água quente gerados pela energia geotérmica podem estar


disponíveis em rochas superficiais, podendo ser utilizados diretamente
para a produção de eletricidade ou em locais onde não há reservatórios
subterrâneos naturais. Nesse último caso, a água fria é bombeada para
dentro das rochas quentes, retirada via tubulação e então utilizada na
geração de energia elétrica. A partir desses princípios de utilização da
energia geotérmica, podem ser elencadas algumas vias utilizadas na
conversão da energia geotérmica em elétrica, que indicam as possíveis
formas de aproveitamento da energia geotérmica pelas centrais
geradoras (REIS, 2011):

• Energia hidrotérmica: advém de reservatórios de água quente


e/ou vapor presentes entre rochas ou sedimentos. Ela pode
ser aproveitada de duas formas: vapor quente, que tem a sua
liberação feita por um tubo inserido no reservatório, onde o vapor,
após passar por um processo de filtragem, é utilizado para acionar
uma turbina ligada a um gerador elétrico; e água aquecida, da qual
é separado o vapor que aciona a turbina, podendo a água restante
ser injetada novamente na terra (método flash) ou ser utilizada
para aquecer outro líquido em um outro processo de vaporização
e geração de eletricidade (método ciclo binário).

• Rocha quente e seca: aplicado em locais onde não há reservatórios


subterrâneos. Nesse caso é perfurado um poço e injetada água,
que quando aquecida é levada à superfície para gerar eletricidade.

• Reservatórios geopressurizados: se encontram em rochas


sedimentares e contêm uma mistura de água e metano, sob
pressão elevada.

46
• Magma: em algumas localizações é possível extrair calor
diretamente do magma, injetando água, que se solidifica e
fratura, criando um buraco trocador de calor. Esse calor é então
aproveitado para gerar eletricidade.

Analisando as quatro formas de aproveitamento da energia geotérmica,


se percebe que o maior custo associado à instalação e operação de uma
central geotérmica acontece com o aproveitamento do magma, que
requer um processo delicado para a utilização do calor. Por outro lado,
a forma mais comum é com o aproveitamento da energia hidrotérmica,
que utiliza a estrutura geológica pré-existente como reservatório.

Nessa Leitura Digital foram tratadas duas importantes fontes de energia


renováveis, a biomassa e a energia geotérmica. Foram apresentadas as
formas de biomassa disponíveis e como é operacionalizada uma usina
termoelétrica que utiliza essa fonte, indicando os tipos de processos e
ciclos que podem ser utilizados, além da aplicabilidade dessa fonte no
cenário nacional. Sobre a energia geotérmica, foram apresentadas as
formas de aproveitamento dessa energia em usinas que utilizam essa
fonte e uma visão geral sobre sua aplicabilidade.

Referências bibliográficas
ANEEL. Sistema de Informações de Geração da ANEEL – SIGA. 2020. Disponível
em: https://www.aneel.gov.br/siga. Acesso em: 18 jun. 2020.
ANEEL. Atlas de energia elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília: Aneel, 2008. Disponível
em: http://www2.aneel.gov.br/arquivos/PDF/atlas3ed.pdf. Acesso em: 3 fev. 2020.
MOREIRA, J. R. S. [org.] Energias renováveis, geração distribuída e
eficiência energética. 1. ed. [Reimpr.]. Rio de Janeiro: LTC, 2019.
REIS, L. B. dos. Geração de energia elétrica. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2011.

47
Geração distribuída
Autoria: Giancarlo Michelino Gaeta Lopes
Leitura crítica: Paulo Takao Okigami

Objetivos
• Relacionar os diferentes tipos de fontes alternativas
de energia com a sua aplicabilidade dentro do
sistema elétrico e a forma que elas podem ser
conectadas à rede.

• Conhecer a geração distribuída, suas normas


regulamentadoras, vantagens e desvantagens,
formas de tarifação e como ela afeta o sistema
elétrico de potência.

• Conhecer artifícios que permitam a aplicação da


geração distribuída em larga escala, como as redes
inteligentes, e refletir sobre a sua aplicabilidade.

48
1. Introdução
As fontes renováveis apresentam um papel fundamental na matriz
energética encontrada no Brasil, em especial quando tratamos da
fonte mais utilizada no país, a fonte hidráulica. Quando tratamos de
fontes alternativas, menos usuais, como a solar, eólica e biomassa, é
importante saber que elas são utilizadas majoritariamente em pequenas
centrais de geração. Essa fragmentação na geração é o ponto de estudo
da geração distribuída.

Com diversas unidades geradoras de pequeno porte instaladas próximas


ou nas propriedades dos consumidores finais, o setor elétrico passa a
ter uma estruturação diferente daquela que se via nas últimas décadas,
principalmente no sistema de distribuição. Isso se torna cada vez mais
evidente quando temos noção da quantidade de sistemas solares
fotovoltaicos que estão sendo instalados pelos consumidores com a
finalidade de minimizar suas faturas de energia elétrica. E é justamente
essa forma de geração que tem mudado o panorama do sistema elétrico
e gerado novas normas e resoluções do órgão regulamentador do setor
elétrico nacional, a Aneel (agência nacional de energia elétrica). Assim,
conhecer as resoluções normativas e aspectos relacionados à geração
distribuída é essencial para o profissional que trabalha com sistemas de
geração de energia elétrica a partir de fontes alternativas.

A geração distribuída apresenta diversas vantagens e desvantagens para


o setor elétrico. A principal vantagem está nos custos de expansão do
sistema de transmissão, que são evitados, já que os geradores estão
próximos aos consumidores. As desvantagens estão relacionadas à
qualidade da energia presente na rede, como a presença de harmônicos,
que podem ser causados por inversores de sistemas fotovoltaicos sem
filtragem, por exemplo, e possíveis variações de tensão. Além disso, se
torna necessário um reforço da rede de distribuição, que passa a ter um
fluxo bidirecional (BAJAD et al., 2018).

49
2. Impacto das fontes renováveis de energia no
sistema elétrico

A matriz energética brasileira é composta em sua maioria por fontes


renováveis, o que contribui para um impacto ambiental menor que
o gerado com a queima de combustíveis fósseis. O grande problema
é que diversas dessas fontes renováveis são intermitentes, ou seja, a
sua capacidade de geração varia ao longo do ano, como nas usinas
hidroelétricas a fio d’agua, e ao longo do dia, como nas centrais
fotovoltaicas e eólicas. Assim, para que o sistema elétrico possa
suportar uma grande quantidade de fontes renováveis intermitentes
e consiga suprir a demanda, devem ser tomadas algumas medidas.
Para solucionar o problema, pode-se optar por um sistema de
geração superdimensionado, o que é inviável devido ao custo elevado,
ou possuir um sistema flexível para absorver a intermitência das
fontes renováveis. Uma forma de garantir essa flexibilidade é utilizar
fontes flexíveis como termoelétricas a gás ou hidroelétricas com
armazenamento (BAJAD et al., 2018).

O grande problema da dependência de hidrelétricas com


armazenamento é a capacidade dos reservatórios, que sofrem
nos períodos de estiagem. Portanto, para garantir o equilíbrio dos
reservatórios e absorver a intermitência de outras fontes renováveis,
a utilização de termoelétricas que operam com combustíveis fosseis
é inevitável. A partir dessa reflexão, é possível concluir que as fontes
renováveis alternativas (eólica, solar fotovoltaica e biomassa) são
importantes para garantir a variabilidade da matriz energética, porém,
elas não conseguem suprir a demanda constante em sua totalidade.

A partir do exposto, fica claro que um sistema elétrico baseado em


fontes renováveis deve ser altamente flexível. Tal flexibilidade é
dependente de quatro fatores principais:

50
• Plantas de geração altamente despacháveis: são plantas que
podem rapidamente aumentar a sua capacidade produtiva,
partindo de sua capacidade mínima de geração até atingir a
sua potência instalada (máximo que pode ser gerado). Quanto
maior essa diferença entre o máximo e mínimo de geração, mais
despachável é a planta.

• Interconexões de regiões e mercados consumidores: garantir


que o máximo de consumidores estejam conectados em
um mesmo sistema, de forma que o aumento da demanda
de algumas regiões possa ser compensado com a queda no
consumo de outras.

• Mecanismos de resposta da demanda: como incentivar o uso de


equipamentos eficientes energeticamente, reduzindo o consumo
nos períodos em que são utilizados, ou a tarifação variável ao
longo do dia e do ano, para reduzir o consumo nos horários em
que a tarifa é alta.

• Estocagem ou armazenamento: que pode ser em forma de energia


cinética ou potencial, como reservatórios de usinas hidroelétricas
ou volantes de inércia; eletroquímicos, em baterias e células
combustíveis; químicos, com estoque de hidrogênio gerado pela
eletrólise da água, dentre outros.

Tendo em vista o panorama futuro de crescimento da geração


distribuída, impulsionada pela geração solar fotovoltaica em pequena
escala, é perceptível que o sistema elétrico deverá passar por
mudanças, a fim de absorver uma situação até então inédita dos
consumidores gerando a sua própria energia. Por consequência, o
sistema de distribuição será o mais afetado. Por isso, já estão sendo
aplicadas novas tecnologias, como a implantação das redes inteligentes
(smart grids), que será discutida mais à frente.

51
3. Geração distribuída de energia elétrica

A geração distribuída é caracterizada pela conexão de uma fonte de


geração de energia elétrica diretamente à rede de distribuição. Além
disso, esse tipo de geração tem a característica de possuir uma pequena
capacidade instalada, onde a geração ocorre próxima ao seu ponto de
consumo, podendo ser integral ou parcialmente consumida no próprio
local de geração e com excedente injetado na rede (MOREIRA, 2019).

Com a geração distribuída, há uma mudança na estrutura convencional


de um sistema de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica,
onde as unidades geradoras ficam alocadas distantes dos grandes centros
de consumo, tornando necessária uma grande estrutura de transmissão.
Na geração distribuída, a geração passa a ser descentralizada, com
diversas centrais de pequeno porte próximas aos consumidores.

No Brasil, as principais tecnologias utilizadas para a geração distribuída


de médio porte são: instalações de cogeração, como de indústrias
sucroalcooleiras; pequenas centrais hidrelétricas; centrais solares
fotovoltaicas; centrais eólicas; e termoelétricas a biogás. Na geração
de pequeno porte, a principal tecnologia são os painéis solares
fotovoltaicos, contudo, também se encontram as termoelétricas
a biogás. Além das fontes renováveis, existem algumas centrais
termoelétricas a gás natural, de pequeno e médio porte. Perceba
que associar a geração distribuída somente a fontes renováveis não
é correto, já que algumas centrais de geração utilizam combustíveis
fósseis (ANEEL, 2019).

Para compreender como a geração distribuída é regulamentada


no Brasil, é importante conhecer alguns termos e classificações
importantes. Uma dessas classificações são as classes de consumo
dos consumidores de energia elétrica, que estão apresentadas no
Quadro 1 e determinam como é feita a tarifação. Analisando o quadro,

52
é perceptível que a classificação depende do nível de tensão de
alimentação, potência instalada dos sistemas e energia consumida,
ao passo que a divisão é feita em dois grandes grupos. O grupo B é
tarifado somente pelo consumo efetivo da energia (tarifa monômia),
em kWh ou MWh, e é composto por unidades consumidoras
alimentadas com tensão inferior a 2,3 kV. No grupo A, composto por
unidades consumidoras atendidas com tensão maior ou igual a 2,3 kV,
além do consumo, também é tarifada a demanda contratada (tarifa
binômia) (ANEEL, 2010).

Quadro 1 – Classificação de consumidores de energia elétrica


Subgrupo
Tipo de consumidor e tensão de fornecimento
consumidor
A1 Tensão de fornecimento igual ou maior que 230 kV
A2 Tensão de fornecimento de 88 kV a 138 kV
A3 Tensão de fornecimento de 69 kV
A3a Tensão de fornecimento de 30 kV a 44 kV
A4 Tensão de fornecimento de 2,3 kV a 25 kV
Tensão de fornecimento inferior a 2,3 kV a
AS
partir de sistema subterrâneo de distribuição
B1 Residencial
B2 Rural
B3 Demais classes
B4 Iluminação pública
Fonte: adaptado de Aneel (2010).

No Brasil, existe um total de 188.110 unidades consumidoras (UCs)


com geração distribuída, que geram créditos para 249.226 UCs (ANEEL,
2020). Do total de UCs com geração distribuída, a maioria se enquadra
na classe de consumo Residencial (B1), porém, a classe Comercial
(B3) também apresenta uma participação importante, como pode ser
visto na Tabela 1. Vale ressaltar que os números apresentados são
atualizados constantemente e o aumento na quantidade de novas
UCs com geração distribuída aumenta a cada dia, assim, os números
apresentados refletem a situação de quando esse material foi escrito.

53
Além disso, é possível que um consumidor industrial ou comercial se
enquadre em diferentes subgrupos de consumo, desta forma, a Tabela
1 apresenta os números por classe econômica, sem considerar a
classificação de grupos do Quadro 1.

Tabela 1 – Classes de unidades consumidoras com geração distribuída


Classe de Quantidade de UCs Potência
Quantidade
consumo que recebem créditos instalada (kW)
Comercial 33.758 59.983 941.260,24
Iluminação pública 11 15 309,10
Industrial 5.044 7.300 243.607,07
Poder Público 764 1.066 32.467,62
Residencial 136.377 162.505 849.920,00
Rural 12.075 18.272 281.604,52
Serviço Público 81 85 2.456,87
Fonte: Aneel (2020).

Além dos grupos consumidores considerados na tarifação de energia,


é importante conhecer outras definições relacionadas à geração
distribuída, que são utilizadas para diferenciar o tamanho da unidade
geradora, além de outros termos importantes, são eles (ANEEL, 2012):

• Microgeração distribuída: central geradora de eletricidade, com


potência instalada menor ou igual a 75 kW, que utilize fontes
renováveis ou cogeração qualificada, conectada à rede por meio de
instalações de unidades consumidoras.

• Minigeração distribuída: central geradora de eletricidade, com


potência instalada superior a 75 kW e menor ou igual a 5 MW, que
utilize fontes renováveis ou cogeração qualificada, conectada à
rede por meio de instalações de unidades consumidoras.

• Sistema de compensação de energia elétrica: sistema em que a


energia elétrica excedente de uma unidade consumidora com
microgeração ou minigeração é cedida à distribuidora local e

54
posteriormente consumida. Esse sistema é base de operação de
centrais fotovoltaicas instaladas nos consumidores, que durante
o dia injetam o excedente de produção na rede e, quando não há
geração (momentos sem sol ou à noite), consomem energia da rede.

• Geração compartilhada: é o agrupamento de diversos


consumidores, dentro de uma área de concessão ou permissão,
por meio de consórcio ou cooperativa, que possua sistemas de
microgeração ou minigeração distribuída em um local diferente
daquele que será utilizado na compensação da energia excedente.
Esse tipo de geração é aplicado, por exemplo, quando um grupo
de pessoas cria um sistema de minigeração na zona rural e
utiliza o excedente gerado para compensar o consumo de suas
residências na zona urbana da cidade.

• Autoconsumo remoto: caracterizado por unidades consumidoras


que possuam microgeração ou minigeração distribuída em locais
diferentes de outras unidades consumidoras onde a energia
excedente será compensada, sendo todas as unidades de mesma
titularidade e dentro de uma área de concessão ou permissão.
Essa situação acontece, por exemplo, quando uma empresa
instala um sistema de minigeração em uma de suas sedes e utiliza
o excedente gerado para compensar o consumo em outra sede,
dentro da mesma cidade.

Os termos apresentados podem ser aplicados em consumidores


pessoa física e pessoa jurídica. Considerando os consumidores pessoa
física, que majoritariamente são atendidos dentro do grupo B1 e B2, a
instalação de um sistema de microgeração ou minigeração distribuídos
de pequeno porte é suficiente para atender o seu consumo. Como para
essas situações a fonte mais utilizada é a fotovoltaica, tais sistemas
operam no sistema de compensação de energia elétrica, já que essa
fonte é intermitente. Contudo, devido ao consumo ser baixo, ainda pode
se optar pela geração compartilhada ou, no caso de se possuir mais de
uma unidade consumidora, o autoconsumo remoto.

55
Quando tratamos de indústrias e outros empreendimentos que
possuem uma capacidade produtiva maior, os sistemas de minigeração
são os mais comuns, como acontece em um sistema de cogeração
industrial. Nessa situação, a indústria deve ponderar a adoção do
sistema de compensação de energia elétrica e o autoconsumo remoto,
ligado diretamente à rede de distribuição, em relação à venda direta
de energia elétrica por meio de leilões de energia, descaracterizando
a geração distribuída. A escolha pelo melhor modelo a ser utilizado
depende da intermitência da geração, possiblidade do autoconsumo
remoto e da potência gerada.

Além de apresentar definições e características da geração distribuída,


a Resolução 482, de 17 de abril de 2012, da Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), que passou por várias alterações com a resolução 687
de 24 de novembro de 2015, estabelece diversas regras operacionais
para a microgeração e minigeração distribuídas. As principais estão
apresentas a seguir:

• Deverá ser realizada a cobrança de, no mínimo, o valor referente


ao custo da demanda contratada para o consumidor do grupo A
ou de disponibilidade da rede para o consumidor do grupo B.

• O consumo faturado será a energia elétrica consumida,


descontada a energia injetada e o eventual crédito acumulado em
ciclos de faturamento anteriores, e quando for o caso, isso deverá
ser feito por posto tarifário, no qual deverão incidir todas as
componentes da tarifa em R$/MWh.

• O excedente de energia é definido como sendo a diferença positiva


entre a energia injetada e a consumida, com exceção para o caso
de empreendimentos com múltiplas unidades consumidoras, nos
quais o excedente será igual à energia injetada.

• Quando forem utilizados créditos de energia acumulados em


ciclos anteriores de faturamento para compensar o consumo

56
do ciclo corrente, não deve ser debitado o montante de energia
equivalente ao custo de disponibilidade, que é aplicado aos
consumidores do grupo B.

• A energia excedente que não tenha sido compensada na própria


unidade consumidora poderá ser utilizada na compensação do
consumo de outras unidades consumidoras, se atentando ao
enquadramento como empreendimento com múltiplas unidades
consumidoras, o autoconsumo remoto e a geração compartilhada.
Para tanto, o titular da unidade consumidora onde o sistema
de geração distribuída está instalado deve definir o percentual
de energia excedente que será destinado a cada unidade
consumidora participante do sistema de compensação.

• Em uma unidade consumidora, a compensação de energia


elétrica deve ser dar primeiramente no posto tarifário em que o
correu a geração, e posteriormente deverá ser utilizada para a
compensação em outros postos horários, observando a relação
entre os valores das tarifas de energia, se houver diferença
tarifária conforme o horário.

• Os créditos de energia gerados pelo sistema de compensação de


energia elétrica expiram em 60 meses após o seu faturamento,
sendo que após esse prazo o consumidor não faz jus a qualquer
forma de compensação. Os créditos expirados serão revertidos em
prol da modicidade tarifária.

Como pode-se perceber, as regras apresentadas estão relacionadas à


operacionalização da minigeração e microgeração distribuída, bem como
à forma que é realizada a sua tarifação. Contudo, para realizar a tarifação
em um sistema de compensação de energia elétrica é necessário um
medidor que realize a medição da energia consumida da rede e da
energia injetada na rede, ou seja, que faça uma medição bidirecional.
Outra opção é utilizar dois medidores, um para cada sentido. A Figura 1
ilustra ambas as situações, para consumidores do grupo B.

57
Figura 1 – Diagrama de medição de um sistema com geração distribuída

Fonte: Moreira (2019, p. 153).

Ainda sobre a tarifação de energia, existem diversos impostos que


incidem sobre a tarifa e estão presentes em sistemas que utilizam a
compensação de energia elétrica. O imposto de maior impacto na fatura
é o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), aplicado
pelo governo dos estados. Esse imposto é aplicado tanto na energia
consumida quanto na injetada na rede, exceto em alguns estados que
adotaram a isenção do ICMS em sistemas de microgeração e minigeração,
estabelecendo que o imposto seja cobrado somente pela diferença
positiva entre a energia consumida e a injetada (MOREIRA, 2019).

A partir da parte regulatória da geração distribuída, é perceptível que


ela apresenta diversas vantagens, como a redução nos investimentos
de novos sistemas de transmissão de energia elétrica e estímulo à

58
utilização de fontes renováveis de energia. Contudo, traz também
algumas desvantagens e desafios para todo o sistema elétrico, podendo
criar problemas técnicos, operacionais e econômicos. O principal
entrave fica nos sistemas de distribuição, que foram projetados para o
fluxo unidirecional de energia e passam a ter um fluxo bidirecional com
a inserção de consumidores que também são geradores de energia
elétrica. De imediato, essa mudança torna necessária a redefinição de
sistemas de proteção, e a longo prazo, pode ocasionar outros problemas.

Na parte técnica, a geração distribuída pode causar um aumento da


tensão, em uma situação em que existem muitos geradores e poucos
consumidores, limitando a geração distribuída em uma localidade. Pode
causar também uma redução na qualidade da energia, como a variação
de tensão e injeção de harmônicas na rede, que podem ser causadas
por inversores de sistemas fotovoltaicos, por exemplo. Comercialmente,
a geração distribuída pode afetar as concessionárias de distribuição,
que não possuem incentivos para desenvolver esse mercado e deixam
de receber quando a energia distribuída por eles não é consumida.
Portanto, o avanço da geração distribuída ainda depende de políticas
regulatórias que a incentivem e tragam vantagens para todo o sistema
elétrico (BAJAD et al., 2018).

4. Redes inteligentes

Como já foi dito, dentro da geração distribuída, o setor mais afetado é


o da distribuição de energia elétrica. Assim, tendo em vista os desafios
futuros do setor, as concessionárias de distribuição têm investido em
tecnologias que auxiliam na gestão do sistema e uma delas são as redes
inteligentes (smart grids).

As redes inteligentes são redes elétricas que carregam, além de energia


elétrica, dados, que permitem monitorar, supervisionar, controlar
e proteger a rede de elétrica. Isso é feito com a convergência de

59
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), com as tecnologias
associadas às redes elétricas (MOREIRA, 2019).

Dentro dessas redes, os dados podem trafegar utilizando diversas


tecnologias e ainda não há um padrão mundial a ser utilizado. Assim,
podem ser aplicadas tecnologias de comunicação sem fio, como
radiofrequência, ZigBee e LoRa, ou realizar a transmissão de dados
pela própria rede elétrica, utilizando a tecnologia PLC (Power Line
Communication) (MOREIRA, 2019).

Uma rede inteligente incorpora funcionalidades que visam otimizar a


distribuição de energia elétrica, como a medição inteligente do consumo,
aumento na qualidade da energia, autorrestabelecimento e autocura
do sistema, armazenamento de energia, gestão eficiente do sistema
de iluminação pública, dentre outras. Algumas dessas funcionalidades
serão discutidas detalhadamente a seguir.

Os medidores inteligentes são medidores eletrônicos que possuem


um processamento de dados interno, permitindo que seja criado um
perfil de consumo da unidade e criando um histórico de consumo
que auxilia na previsão da demanda pela concessionária. Além disso,
ele permite o atendimento remoto pela concessionária no caso de
algum problema, o melhor monitoramento da rede pela distribuidora,
a redução de perdas técnicas e abre a possibilidade para a oferta de
novos serviços aos consumidores.

A utilização dos medidores inteligentes permitirá um melhor


monitoramento de parâmetros relacionados à qualidade da energia
e à qualidade do serviço. Quanto à qualidade de energia, poderão
ser avaliados o nível de harmônicas da rede, a flutuação de tensão,
o nível de cintilação e a detecção de surtos. Quanto à qualidade
de serviço, serão avaliados facilmente a duração e frequência de
desligamentos equivalentes e individuais, bem como o tempo de
restabelecimento do serviço.

60
O uso desse tipo de medidor ainda é incipiente no Brasil, onde
existem apenas projetos piloto em algumas regiões do país. Contudo,
espera-se que futuramente a utilização desse medidor seja difundida,
proporcionando uma melhoria na eficiência da medição, além de
permitir a detecção de fraudes e o corte e religamento de forma
remota (MOREIRA, 2019).

A partir do que foi apresentado, a aplicação de redes inteligentes irá


trazer muitos benefícios ao sistema elétrico, facilitando a sua gestão e
melhorando a sua qualidade de forma geral. Somado a isso, permitirá
a utilização em larga escala de novas tecnologias, como os veículos
elétricos e o pré-pagamento de energia elétrica.

Nesta Leitura Digital o ponto principal de estudo foi a geração distribuída,


na qual foram apresentadas as topologias que podem ser utilizadas, as
normas regulatórias, suas vantagens e desvantagens e quais as fontes são
as mais utilizadas nesse tipo de geração dentro do panorama nacional.
Foram apresentados, também, conceitos de como as fontes alternativas
de energia podem influenciar um sistema de geração e a importância de
haver uma variabilidade na matriz energética. Por fim, foram estudadas
as redes inteligentes, que são uma tecnologia que permite, além de
outros objetivos, o avanço da geração distribuída.

Referências bibliográficas
ANEEL. Resolução Normativa n. 414, de 9 de setembro de 2010. Brasília, DF, 2010.
Disponível em: http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2010414.pdf. Acesso em: 9 fev.
2020.
ANEEL. Resolução Normativa n. 482, de 17 de abril de 2012. Brasília, DF, 2012.
Disponível em: http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012482.pdf. Acesso em: 9 fev.
2020.
ANEEL. Resolução Normativa n. 687, de 24 de novembro de 2015. Brasília, DF, 2015.
Disponível em: http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2015687.pdf. Acesso em: 11 fev.
2020.

61
ANEEL. Outorgas e registros de geração: unidades consumidoras com geração
distribuída. 2020. Disponível em: https://www.aneel.gov.br/outorgas/geracao/-/
asset_publisher/mJhnKIi7qcJG/content/registro-de-central-geradora-de-capacidade-
reduzida/655808. Acesso em: 9 fev. 2020.
BAJAD, S. et al. Geração distribuída e eficiência energética: reflexões para o
setor elétrico de hoje e do futuro. Campinas: International Energy Initiative –
IEI Brasil, 2018.
MOREIRA, J. R. S. [org.] Energias renováveis, geração distribuída e eficiência
energética. 1. ed. [Reimpr.]. Rio de Janeiro: LTC, 2019.
ROMEIRO, D. L. As contradições entre a expansão renovável e a flexibilidade térmica
no Brasil. In: Energia Elétrica, Blog Infopetro, 19 abr. 2016. Disponível em: https://
infopetro.wordpress.com/2016/04/19/as-contradicoes-entre-a-expansao-renovavel-
e-a-flexibilidade-termica-no-brasil/. Acesso em: 11 fev. 2020.

62
BONS ESTUDOS!

63

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