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ATIVIDADE DE FIXAÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA

TEXTOS NARRATIVOS: O CONTO


9º ANO – FUNDAMENTAL 2
Professor: Ilan Alves Miranda
Nome: _______________________________________________ N°: ____ Turma: ___

Leia o texto a seguir e responda às questões de 1 a 9.


Curso superior
O meu medo é entrar na faculdade e tirar zero eu que nunca fui bom de matemática fraco no inglês eu que
nunca gostei de química geografia e português o que é que eu faço agora hein mãe não sei.
O meu medo é o preconceito e o professor ficar me perguntando o tempo inteiro por que eu não passei por
que eu não passei por que eu não passei por que fiquei olhando aquela loira gostosa o que é que eu faço se ela me
der bola hein mãe não sei.
O meu medo é a loira gostosa ficar grávida e eu não sei como a senhora vai receber a loira gostosa lá em
casa se a senhora disse um dia que eu devia olhar bem para a minha cara antes de chegar aqui com uma namorada
hein mãe não sei.
O meu medo também é do pai da loira gostosa e da mãe da loira gostosa e do irmão da loira gostosa no dia
em que a loira gostosa me apresentar para a família como o homem da sua vida será que é verdade será que isso é
felicidade hein mãe não sei.
O meu medo é a situação piorar e eu não conseguir arranjar emprego nem de faxineiro nem de porteiro nem
de ajudante de pedreiro e o pessoal dizer que o governo já fez o que pôde já pôde o que fez já deu a sua cota de
participação hein mãe não sei.
O meu medo é que mesmo com diploma debaixo do braço andando por aí desiludido e desempregado o
policial me olhe de cara feia e eu acabe fazendo uma burrice sei lá uma besteira será que vou ter direito a uma cela
especial hein mãe não sei.
FREIRE, Marcelino. Curso superior. In: Contos negreiros. Rio de Janeiro: Record, 2005: p. 97.

1. Explique por que o narrador personagem teme fracassar no curso universitário.

2. Como é possível ao leitor construir a personalidade da personagem?

3. Cursar a universidade incluiria a personagem em um ambiente distinto daquele em que vive, possibilitando a ele
estabelecer outras relações sociais. Que efeito tem no texto a imagem da “loira gostosa” em relação à dificuldade de
inclusão da personagem nesse novo ambiente?

4. O medo da personagem se estende para o período posterior à formatura. O que o aflige?

5. Em geral, os contos apresentam uma situação inicial que é desequilibrada, por exemplo, por um fato.
a) Qual é a situação inicial nesse conto? Ela está explícita?
b) O que desestabiliza a situação inicial?
c) Os vários conflitos imaginados pela personagem são sintomas de um conflito maior. Qual?

6. Releia o trecho: “[...] o pessoal dizer que o governo já fez o que pôde já pôde o que fez já deu a sua cota de
participação [...]”. Conforme o que foi expresso, a sociedade seria capaz de avaliar o contexto complexo que envolve
o processo de inclusão social dos negros? Justifique.

7. O conto de Marcelino Freire simula um diálogo.


a) Quem é o interlocutor do narrador?
b) Que características do texto sugerem uma conversa frente a frente?

8. A linguagem empregada reproduz uma situação de comunicação oral.


a) Identifique no texto duas marcas de oralidade e escreva-as.
b) Como é a pontuação do conto? Que efeito isso produz no ritmo da fala?
c) Todos os parágrafos iniciam-se com a expressão “O meu medo é”. Qual é o efeito dessa anáfora (repetição de
palavras no início de orações ou versos) para a caracterização emocional do narrador?
d) Explique de que maneira as marcas de oralidade, o uso da pontuação e a anáfora contribuem para a construção
do narrador personagem na imaginação do leitor.

9. O narrador personagem parece responder a uma provocação, que pode ser externa (feita por outra personagem
intuído pelo leitor) ou vir de sua própria consciência.
a) Suas falas incorporam e repetem certos pensamentos preconceituosos da sociedade. Identifique um deles e
anote.
b) Por que a incorporação do discurso preconceituoso da sociedade reforça, no conto, a denúncia da violência moral
exercida sobre o narrador personagem e outras pessoas do mesmo grupo?

Leia o texto a seguir e responda às questões de 10 a 12.


Uma situação delicada
Jorge bateu o olho na potencial freguesa que acabara de entrar no departamento de artigos de papelaria e
pensou: eu conheço essa pessoa. Não se apresentou logo para atendê-la porque a nova orientação da casa era
esperar que os fregueses solicitassem ajuda. Havia aprendido nas reuniões de treinamento e de avaliação que
vendedores ávidos acabavam pressionando os fregueses que ainda não se haviam decidido e os espantavam. O que
tinha de fazer era deixá-los entregues ao prazer de descobrir o que lhes agradasse, atento a qualquer solicitação. Os
vendedores se comunicavam com um olhar que significava: deixe este comigo, ou: esta é sua. A partir daí, ficavam à
disposição da pessoa, à distância.
Naquele momento o outro vendedor estava atendendo, por isso Jorge nem precisou fazer qualquer sinal.
Acompanhava a freguesa com os olhos tentando se lembrar de onde a conhecia.
Aquele rapaz está me vigiando, pensava a freguesa. Acha que eu vou roubar alguma coisa. Ou será que me
reconheceu?
Jorge, o jovem vendedor, viu a mulher percorrer com olhos pouco atentos o estande de cadernos escolares,
depois o de mochilas, o de estojos. Não era pessoa de suas relações, era alguém que havia visto em algum lugar.
Mais que isso: alguém que via habitualmente em algum lugar. Ela agora olhava os cartões de mensagens, ainda sem
nenhuma objetividade. Era senhora de mais de cinquenta anos, vestida de saia e blusa de boa qualidade, óculos
escuros pendurados ao pescoço por um cordão, bolsa de couro a tiracolo. Jorge se perguntava se não seria freguesa
de sua mãe, que era costureira. Provável que fosse isso, concluiu. A senhora passou pela seção de impressões
fiscais e chegou à de material de escritório.
Será que ele ainda está me olhando, perguntava-se a freguesa, meio de costas. Ai, meu Deus, vou pegar
essa caixa de clipes coloridos.
Jorge percebeu pelo movimento da mulher que ela havia apanhado alguma coisa e preparou se para atendê-
la. Perguntava se se deveria dar mostras de reconhecê-la. Ela continuou a examinar os artigos daquela seção e num
dado momento, decidida, meteu a caixinha que tinha nas mãos dentro da bolsa. O jovem vendedor, imobilizado pelo
espanto, viu-a começar a se afastar.
Se ele não me chamar nesse minuto estou salva, pensava a freguesa, afastando-se. Deve ter me
reconhecido.
No segundo momento Jorge ficou imobilizado pela hipótese de ser uma freguesa da mãe, pela possibilidade
de causar um escândalo, pela certeza de que a situação seria inevitavelmente desagradável. Imobilizado, viu-a
afastar-se sem olhar para trás.
Salva mais uma vez, pensou a freguesa.
Jorge não contou a ninguém da loja o acontecido. Arriscara-se: se alguém tivesse visto, poderia ser
despedido. Em casa, enquanto pulavam de um programa de televisão para outro, contou o caso à mãe. Ela não
achou certa a sua decisão de não denunciar a mulher. Ele explicou que nem fora uma decisão, que fora pego de
surpresa.
E depois, afinal de contas, poderia ser mesmo uma freguesa dela. A mãe não identificou nenhuma de suas
freguesas pela descrição que ele fez.
No dia seguinte, ao voltar de sua hora de almoço, ainda intrigado com a figura e o fato, viu a mulher no
departamento de roupas íntimas femininas. Escondeu-se entre roupões para espreitá-la. Ela perambulou um pouco,
depois saiu do departamento. Teria levado alguma coisa? Seguiu-a, escondendo-se atrás de mercadoria, e viu-a
descer a escada rolante e sair pela porta da rua. De alguma forma sentiu-se triste por ela. Tão sozinha na sua vida de
pequenos riscos. Só ele, talvez, participava do seu segredo, e furtivamente. Teria marido, filhos, namorado,
sobrinhos? Aquilo, furtar coisas em lojas, não era coisa que pudesse conversar com nenhum deles. Que faria se ela
furtasse novamente no seu departamento? Tinha medo de ter de expô-la. No dia seguinte viu-a entrar, apanhar
decidida um bloquinho de anotações e dirigir-se a ele.
— Boa tarde. Posso fazer a notinha?
— Só isso hoje, senhora?
Uma frase habitual de vendedor, ou ele está insinuando alguma coisa sobre antes de ontem?, pensou a
freguesa.
— É só isso.
Jorge não queria ser indelicado. Não sabia ainda o que faria se ela tentasse de novo furtar no seu
departamento. Não conseguia se lembrar onde a tinha visto antes. Talvez ali mesmo na loja, pois era a terceira vez
em três dias que reparava realmente nela. Passou-lhe a notinha.
— Pague no caixa e apanhe ao lado, por favor.
— Obrigada. Eu estive aqui ontem e não vi você.
Ele não entendeu mesmo o que aquilo queria dizer.
— Eu não conheço a senhora de algum lugar?
— É possível. E muito possível.
Virou-se para sair, mas voltou-se novamente, como se tomasse uma decisão.
— Eu estive aqui antes de ontem.
— Eu vi.
— Viu mesmo? Viu? Viu?
— Vi.
Aonde ela quer chegar? Quer saber se eu a vi ou se vi o que ela fez?
ー Vi tudo.
— Aah.
Jorge entendeu aquele ah como um ah de alívio, uma espécie de ainda bem. Ela se foi. Jorge conversou com
seu colega e procurou saber se ele havia visto aquela mulher alguma vez. A cara não me parece estranha, disse ele,
mas eu não sou bom fisionomista. E brincou: era da televisão! Uma atriz de pequenos papéis nas novelas. Nem
sabia o nome dela. Não disse nada ao seu colega. Estava certo de que, no dia seguinte, à mesma hora da tarde, ela
voltaria. Queria estar preparado para ela.
Contou à mãe a descoberta. Procuraram-na em todos os canais, sem sucesso. Ele tinha certeza que ela
trabalhava numa novela que havia acabado há pouco. A mãe disse que ele iria aparecer nos jornais se a
denunciasse. Jorge se divertiu com a hipótese.
A mulher entrou na hora prevista. Outra saia e blusa, lenço na cabeça, óculos escuros por cima do lenço,
prendendo-o, bolsa a tiracolo, meio aberta. Tinha alguma coisa da passada beleza, considerou Jorge.
Ela olhou para ele. Havia outros fregueses no departamento e Jorge fez sinal para o colega, reservando para
si a presa. A mulher passou vagarosamente pelos artigos escolares, cartões, formulários fiscais, artigos de escritório
e parou na seção das canetas. As mais caras ficavam fechadas em vitrines. Em exposição estavam as mais baratas.
E as de valor médio. Sem hesitação, nem se escondendo muito, ela apanhou um punhado de canetas de valor médio
e enfiou na bolsa. E foi saindo, Jorge se adiantou.
— Senhora!
Ela parou — viu os ombros dela se contraírem sob a blusa — e se voltou. Jorge caminhava em sua direção e
vacilou ao ver seus olhos dilatados, mãos trêmulas de expectativa, segurando a alça da bolsa, respiração apressada.
A mulher percebeu que ele fraquejava e o encorajou num quase apelo ou desafio:
— Me faz parar.
Ficou mais perturbado ainda. Definitivamente não entendia aquela mulher. O esforço para compreender ou a
confusão transpareciam no rosto dele. Sua inteligência estava bloqueada pela piedade, pela ideia de que ela estava
só e sem rumo. Podia estar sem papéis na tevê. Podia estar usando para chamar a atenção. Podia tanta coisa.
Ficaram por um longo tempo aguardando que se quebrasse o elo da perplexidade. Ela se libertou primeiro, com
raiva:
— Seu titica!
Virou-se apressada e saiu. Ele acordou do seu torpor e gritou chamando o segurança.
ANGELO, Ivan. Uma situação delicada. In: BRANDAO, Ignácio de Loyola e outros. Brilho nos olhos mortos e outras histórias. São Paulo:
Lazuli; Edições Sesc SP, 2004. p. 37-40.

10. Releia um trecho do conto para analisar o comportamento do narrador.


Jorge bateu o olho na potencial freguesa que acabara de entrar no departamento de artigos de
papelaria e pensou: eu conheço essa pessoa. Não se apresentou logo para atendê-la porque a nova orientação
da casa era esperar que os fregueses solicitassem ajuda. [...]
Naquele momento o outro vendedor estava atendendo, por isso Jorge nem precisou fazer qualquer
sinal. Acompanhava a freguesa com os olhos tentando se lembrar de onde a conhecia.
Aquele rapaz está me vigiando, pensava a freguesa. Acha que eu vou roubar alguma coisa. Ou será
que me reconheceu?
a) De que maneira o narrador alterna a representação externa e a apresentação do mundo interno das personagens?
b) O narrador observador pode ter como característica a onisciência, que lhe daria acesso, inclusive, a fatos
anteriores ao enredo. Como esse conhecimento se evidencia no trecho?
c) Embora tenha acesso aos pensamentos de ambas as personagens, o narrador parece estar mais próximo de
Jorge, pois leva ao conhecimento do leitor os fatos que ocorrem com este, independentemente de estar em
companhia ou não da mulher. Cite uma passagem que confirme essa análise.

11. Suponha que os autores Marcelino Freire e Ivan Angelo tivessem optado por um narrador diferente.
a) Qual seria o principal efeito de um narrador observador no conto “Curso superior”?
b) Que limitações teria um narrador protagonista no conto “Uma situação delicada”?

12. Releia um parágrafo do conto, prestando atenção ao trecho sublinhado, em que se percebe a voz da personagem
mesclada ao discurso do narrador.
No dia seguinte, ao voltar de sua hora de almoço, ainda intrigado com a figura e o fato, viu a mulher no
departamento de roupas íntimas femininas. Escondeu-se entre roupões para espreitá-la. Ela perambulou um
pouco, depois saiu do departamento. Teria levado alguma coisa? Seguiu-a, escondendo-se atrás de
mercadoria, e viu-a descer a escada rolante e sair pela porta da rua. De alguma forma sentiu-se triste por ela.
Tão sozinha na sua vida de pequenos riscos. Só ele, talvez, participava do seu segredo, e furtivamente. Teria
marido, filhos, namorado, sobrinhos? Aquilo, furtar coisas em lojas, não era coisa que pudesse conversar com
nenhum deles. Que faria se ela furtasse novamente no seu departamento? Tinha medo de ter de expô-la. No
dia seguinte viu-a entrar, apanhar decidida um bloquinho de anotações e dirigir-se a ele.
a) Alguma palavra indica que o trecho destacado é um pensamento ou uma fala da personagem?
b) Transcreva outro período em que também se perceba a voz da personagem entremeada à do narrador.

13. A citação do discurso alheio não é um recurso mobilizado apenas nos contos e demais gêneros literários. Muitos
outros gêneros se valem dele, como é o caso das notícias, que pertencem à esfera jornalística.
Oito dos dez bairros de São Paulo que mais reduziram o consumo de água em 2014 são abastecidos
pelo sistema Cantareira. [...]
No início de 2015, o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massa-to, disse que a área abastecida pelo
sistema é justamente a mais atingida pela redução de pressão, principal ferramenta da Sabesp para reduzir o
consumo - a manobra, porém, tem causado falta de água.
Para Antônio Carlos Zuffo, professor da Unicamp especialista em hidrologia, a queda de consumo
nesses locais pode ter também relação com uma maior preocupação do morador, diante do risco de colapso do
Cantareira.
“Se a crise fosse no Guarapiranga, possivelmente os bairros que mais teriam reduzido seriam os
atendidos por ele, e não pelo Cantareira”.
LOBEL, Fabricio; GALLO, Ricardo. Santana é o bairro de São Paulo que mais reduziu consumo em 2014. Folha de S. Paulo. Publicado em
11 fev. 2015. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/02/1588243-santana-e-o-bairro-de-sao-paulo-que mais-reduziu-
consumo-em -2014.shtml. Acesso em: 5 out. 2015.

a) Que tipos de discurso foram usados pelo produtor da notícia?


b) Que procedimentos o produtor da notícia segue ao introduzir um discurso alheio?
c) Que relação existe entre os dois discursos citados?

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