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MUNICÍPIO DE VIÇOSA – MINAS GERAIS

PROCURADORIA GERAL

PARECER JURÍDICO

Procedimento: SEI 0941.0.000004006/2023-9

Interessado: Secretaria de Educação

Assunto: Visita de parlamentares nas unidades escolares

I – RELATÓRIO

O Procedimento Administrativo de SEI 0941.0.000004006/2023-9 refere-se à


uma solicitação à Procuradoria Especializada de Educação para emitir um parecer sobre
a legalidade das ações dos parlamentares do Município de Viçosa/MG, que vem,
continuamente, entrando nas dependências escolares públicas municipais, gravando
vídeos, editando-os e divulgando em suas redes sociais, possivelmente abusando de seu
poder fiscalizador enquanto parlamentar.

É o breve relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO

É sabido que os vereadores discutem e aprovam leis a serem aplicadas no


Município, além de acompanharem as ações do Executivo para verificar se as metas do
governo estão sendo cumpridas e se as normas legais estão sendo atendidas.

Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo


Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do
Poder Executivo Municipal, na forma da lei.
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos
Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou
Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.

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§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o


Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois
terços dos membros da Câmara Municipal.
§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à
disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá
questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei.
§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas
Municipais. (Constituição Federal/1988)

O art. 31 da Constituição Federal/1988, mencionado anteriormente, demonstra


que existem quatro modos pelos quais é exercida a fiscalização pelo Poder Legislativo
Municipal.

A primeira delas ocorre por meio do controle externo, com o auxílio de


Tribunais de Contas, sejam municipais sejam estaduais, visando proporcionar aos
vereadores uma fiscalização mais segura e confiável.

O segundo modo pelo qual os parlamentares desempenham seu poder


fiscalizatório se revela na aprovação das contas do Poder Executivo. Nesse processo, o
Executivo emite, ao final de cada exercício, a prestação de contas, encaminhando-a ao
Tribunal de Contas para parecer. Posteriormente, esse parecer é remetido à Câmara dos
Vereadores para aprovação.

O terceiro aspecto abordado pela Constituição da República de 1988, no que


concerne à fiscalização municipal, trata da transparência das informações. Durante um
período de 60 (sessenta) dias, anualmente, as contas do município ficam disponíveis à
população para exame e apontamentos, o que se revela uma importante fonte no que
concerne ao poder social.

Em última instância, o art. 31 da Constituição proíbe também a criação de


tribunais, conselhos ou órgãos de contas municipais. Em outras palavras, apenas os

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órgãos já existentes podem prosseguir com suas atividades, sendo vedada a criação de
novas entidades após a promulgação deste artigo.

Pois bem.

O objetivo deste breve relato sobre as funções constitucionalmente atribuídas


aos vereadores na fiscalização da atuação executiva foi evidenciar que, no caso em
questão, não se observa o exercício de tais atribuições.

Na narrativa apresentada, os parlamentares visitam as unidades escolares com a


finalidade de realizar postagens em suas redes sociais, mesmo após terem sido alertados
pelas diretoras sobre essa proibição. Observa-se, portanto, que, embora sejam
parlamentares, suas ações não estão impregnadas de interesse público, visto o
evidente caráter de promoção individual em suas redes sociais pessoais.

Sobre a temática, é relevante salientar que em abril de 2023, o Governo do


Estado de Minas Gerais, em colaboração com diversos órgãos, elaborou e divulgou um
Protocolo de Segurança para as Instituições Escolares do Estados de Minas Gerais. Este
protocolo estabelece que o acesso às dependências da escola por qualquer pessoa
deve ser precedido de agendamento prévio.

Além disso, de maneira explícita, foi determinado que o controle de acesso


também se aplica a visitas de autoridades políticas, sendo necessária a
comunicação aos órgãos superiores a elas vinculados:

2. Controle de acesso de pessoas à escola: É imprescindível que o acesso ao


ambiente escolar se dê de forma criteriosa, sendo o controle de entrada e saída
de pessoas sempre monitorado e realizado a partir de critérios que garantam a
segurança de todos. Para tanto, orientamos que, no momento atual, as visitas à
instituição sigam as diretrizes abaixo elencadas: 2.1. De maneira provisória, o

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acesso às dependências da escola por qualquer pessoa


(pais/mães/responsáveis/demais visitantes) deverá ser precedido de prévio
agendamento junto à instituição, cabendo ao gestor escolar, ou pessoa por ele
determinada, gerenciar o procedimento junto à comunidade escolar;
2.4. A partir do agendamento, o responsável na escola informará o dia e horário
de atendimento ao interessado, observando: Sendo possível, a escola poderá
dispor de armários com chaves na entrada da instituição, para guarda dos
pertences do visitante, que manterá em seu poder apenas documentos de
identificação e aparelho de celular, se for o caso, fazendo a retirada dos itens
após finalizada a visita;
2.8. Em caso de visitas de autoridades políticas, grupos de pessoas ou ainda
pessoas estranhas à comunidade escolar, o agendamento deverá ser realizado
previamente e a escola deverá comunicar a agenda aos órgãos superiores a
ela vinculados, devendo cumprir rigorosamente todos os procedimentos
elencados anteriormente. As escolas da rede estadual de ensino deverão
comunicar à SRE de sua circunscrição, a solicitação de visitas de autoridades
políticas, grupos de pessoas ou ainda pessoas estranhas à comunidade escolar,
dando ciência do dia, horário, número de pessoas, duração da visita e
atividades que serão desenvolvidas.

De maneira abrangente, nota-se que estamos diante de uma questão de


complexidade intrínseca. Nesse contexto, faz-se imperativo reconhecer o direito dos
parlamentares em exercer a fiscalização e em tomar medidas diante de eventuais
irregularidades por parte do poder executivo.

Entretanto, contrapondo-se a essa prerrogativa, constata-se que os vereadores


têm, por vezes, utilizado suas atribuições de maneira exacerbada, direcionando seus
esforços mais para promoções pessoais do que para a promoção efetiva do interesse
público legítimo.

A Procuradoria Especializada em Educação propõe, portanto, a adoção das


seguintes diretrizes com o intuito de mitigar possíveis conflitos futuros.
Em primeiro plano, recomenda-se que todas as visitas dos parlamentares às
unidades escolares sejam devidamente agendadas com antecedência. O gestor
escolar notifica o dia e o horário disponíveis para atendimento ao interessado.

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O parlamentar deverá fornecer justificativa para sua visita ao ambiente escolar, e


a unidade escolar, por sua vez, comunicará o agendamento ao órgão vinculado à
autoridade política do interessado, informando detalhes como dia, horário, duração da
visita e as atividades que serão desenvolvidas, seguindo as diretrizes estabelecidas pelo
Governo do Estado de Minas Gerais.

Por fim, é válido ressaltar que, caso ocorra a veiculação de informações


inverídicas por parte de algum parlamentar, o direito de resposta se configura
como um instrumento legítimo e assegurado, tendo em vista o princípio da
veracidade e da transparência.

Espero que as dúvidas tenham sido esclarecidas de maneira satisfatória, e


coloco-me à disposição para fornecer esclarecimentos adicionais, caso surjam novas
questões. A Procuradoria Especializada em Educação está empenhada em assegurar um
diálogo aberto e esclarecedor, visando a compreensão e colaboração de todos.

É o meu entendimento, salvo melhor juízo.

Viçosa, 24 de novembro de 2023.

MARCOS AZEVEDO MAGALHAES


OAB/MG 89.930
Procuradoria Especializada de Educação

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