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Estudos em

!'<JJTl'I s So0 &;: A -r-~óêr"'., 1vo J...O eq/,q D,'! Pl?.:lvA _


Homenagem à
P41P. 3o3 - ~ l'ó
J'llAC-,,.~ 5 .
Professora

Achille Saletti Adroaldo Furtado Fabrício Alberto Silva Franco Andrea Proto Pisani Angel Landooi Sosa
Antonio Gidi Antonio Magalhlies Gomes Filho Antonio Scarance Fernandes Alhos Gusmão Carneiro
Cândido Rangel Dinamarco Carlos Manuel Ferreira da Silva Claudia Lima Marqnes Cristina de Maglie
Édis Milaré Edoardo F. Ricd Elio Fazzruari Elival da Silva Ramos Fedcrico Carpi Fernanda Dias
M<:De'leS de Almeida Flavia Tavares Rocha Loures Flávio Luiz Yarshell Francesco P. Luiso Franco Cipriani
Gi u!io Ubertis Giuseppe Tarzia Gustavo Henrique Righ i Ivahy Badaró Humberto Theodoro Júnio,
Ivette Senise Ferre ira Jaime Gneif Jairo Parra Quijano José Afonso da Silva José Carlos Barbosa Moreira
José Cretella Júnior José Manoel Arruda Alvim José Renato Nalini José Roberto dos Santo, Bedaque
Julio B. J. Maier Kazuo Wataoabe Luigi Paolo Comoglio Luiz Flávio Gomes Luiz Guilherme Mariuon:
Lui~ Rodrigues Wambíer Manoel Gonçalves Ferreira Filho Maurício Zanoide de Moraes Michelle Taruffi:
Miguel Reale Júnior Nelson Nery Júnior Nieola Picardi Nina Beatriz Stocco Ranieri Odeie Medaua,
Paulo Hernique dos Santos Lucon Pedro J. Bertoli no Roberto Ornar Berizooce Ronaldo Porto Macedo Junio,
Sergio Bermudes Sergio Chiarloni Sergío La China Sídnei Agostinho Bencti Tales Castelo Brane<
Teresa Arruda Alvim Wamhicr Virenzo Vigoriti Z.Clmo Dcnari

Organização: Flávio Luiz Yarshell e Maurício Zanoide de Moraes


Notas sobre a terminologia da
prova (reflexos no processo
penal brasileiro)
Antonio Mogol hães Gomes Filho
Professor titular de processo penal na Faculdade de
Direito da Universidade de São Paulo.

Sumário: 1. Inerodução. 2. As ririas ~ do lenno prova em ~ - 3. O emprego do


tenni:::: prova na lmgt.'agem processual. 4-. Elemento de prov.t e resultado da' pto'/a. 5. Fonte
de pnwa, meios de prova. e meios de in"\'esli_gação da _.PlUVa. 6. CJas.siiiação das provas:
pro~ direta e prova im:líreta. 7. Segue: inoo.o (prova indireta), icx:lk:io (prova semiplen11}
e :suspeitai. 8. Argumento de pcon. 9. Prova direta (positi,.·a) e contrária (negativa); .a
oontraprova. J l'l. Prmras típicas f: :atíptca:S. J 1. ~ o de prova.

1. Introdução
O tema da prova é dos mais importantes da ciência do processo, na medida em que
a correta verificação dos fatos em que se assentam a., pretensões da.s partes é pressuposto
fundamental para a prolação da deàsão justa Isso vale, ainda mais, no âmbito penal, pois
só a pr""" cabal do fato criminoso é capaz de superar a presunção de inocência do acusado,
que representa a maior garantia do cidadão contra o uso arbitrário do poder punitivo.
Ao mesmo tempo, não é possível deixar de constatar que a matéria também desta-
ca-se por sua complexidade: trata-se, de um lado, dea,pítulo de problema mais amplo,
próprio da filosofia e da teoria científica, ligado à busca do conbecimento verdadeiro
pelo b o mero. De outro, a prova judiciária constitui sobretudo um fenômeno cu/ !Ural
vinrulado a concepções e paradigmas estreitamente relacionados às características de
uma determinada soei ed ade; não fosse assim~ não seriam eocon trados, no curso da
histórj a ou mesmo em ordenamentos contemporâneos, sistemas probatórios variados,
que têm como base pressupostos ideológicos, culturais e sociológicos que correspondem
ao modo de ser de cada grupo social 1 .

l. G1rn.1AN1, Alessandro. PProblem i metodologkhe- nello .studio dcl diritto proces:rua le comparato ". Rivi.st:d
lrimt5tral-C" di diriuo e p,roc.eàura âilile. 1962, 16:652-3.
Por tudo isso, o seu estudo abarca não só o.s aspectos jurídicos, mas envolve funda- Assim... o passo inicial do seu tratamento deve ser aclarar esses diversos senti dos,
mentalmente questões lógicas e epistemológicas, exigindo ainda incursões nos domí- com o propósito de evitar que as possíveis confusões decorrentes do emprego inade-
nios da psko logi.l e das ciências sociais. quado do próprio tenno prova possam causar mal-entendidos.
Também daí decorre outra constatação relevante: grande parte das dificuldades A pa Iavra prova tem a mesma origem etimológica de prouo (do latim, probalio e
encontradas pe]os juristas no tratamento da matéria está no emprego~ nem sempre probus), que traduz as idéias de aprovação, confiança, correção etc.' e, naquilo que aqui
adequado, de certas expressões próprias da linguagem comum, da terminologia filosófi- interessa, relaciona-se com o vasto campo de operações do intelecto na busca e comuni-
ca e científica ou mesmo elaboradas em outras culturas jurídicas, que nem sempre ser- cação do conhecimenw verdadeiro'.
vem para -esclarecer a natureza dos fenômenos ligados à prova judiciária, mas, ao rontrá- Mas é oportuno distinguir, desde logo, pelo menos três acepções da expressão,
rior muito contribuem para incertezasr equívocos e contradições. a] como demonstração; b) comoexperimenração; c] como desafio.
Desdelogo,e como e,cemplo, basta lembrar que o nosso Cõdigode Processo Penal, A P= é entendida como dernonstra(ão quando se diz que ela se,ve para estabelecer
nas disposições gerais sobre o tema (arts. 155 mq,,e 15 7], emprega a expressão prova em a verdade sobre deterrninados fatos. Nessa primeira acepção, provar significa apresentar
três sentidos diferentes: o arL 15 5 a utiliza como meio de prova, o art. 15 6, como remltado elementos de i nforrnação idôneos para decidir se a afirmação ou negação de um fato é
de prova e, finalmente, o art. 157, como conjunto dos elementos de prova'. verdadeira.
fustificável, assim, o interesse por uma breve incursão sobre o léxico proba tórior Com esse primeiro significado, o vocábulo pode aplicar-se tanto aos campos do
ainda que sem a pretensão de esgotar o exame dos vocábulo,; normalmente empregados conhecimento em que a dern onstração se faz· em termos rjgo rosas~ como ocorre na
nos textos jurídicos, nem de assentarconceitosdefinitivos, mas com o propósito mais 1ógica formal e na matemática, quanto em outras si luações em que, mesmo sendo ina-
singelo de evidenciaros perigos da utilização inconseqüente ou promíscua de termos de tingível uma verdade absoluta, é possível admitir que uma asserção é verdadeira, desde
uso mais freqüente. que existam razões (provas] suficientes para reconhecê-] a como tal'.
Para tanto, pretende-se ressaltar inicialmente a natureza polissêmica do próprio Em segundo lugar, a expressão proVll indica um a a !ividade ou procedimenW destina-
termo -prooa, indicando suas variadas acepç(),es._, tanto na terminologia comum e científi- do a verificar a correção de uma hipótese ou afirrnação. Em outras palavras, trata-se de
ca como no disarno dos juristas. Em seguida, serão analisadas outras expressões utiliza- realizar um teste, ao fim do qual é possível admitir como verdadeira, fundada, provável
das para designar os vários aspectos do fenômeno probatório judicial e também as das- etc a proposição inicia!'·
s ificaçôes mais freqüentes empregadas na linguagem do processo, concluindo-se com É o que se faz sobretudo no âmbito das chamad as ciências expcri mentais, em que,
uma menção ao que se entende por ol,jem d,, prova_ Tudo sem perder de vista os possíveis ao cabo da realização de certos procedimentos, é possível admitir como vá Iida uma
reflexos de uma adequada terminologia da prova para a solução de questões freqüentemente teoria precedentemente formulada. É com esse mesmo sentido que, na linguagem co-
suscita das na prática judiciária penal. mum, denominam-se também provas as verificações feitas em certas atividades profis-
Finalmente~ mas não menos importante~ o presente estudo tem o propósito de sionais como etapas indispensáveis à realização do melhor serviço [por exemplo, nas
manifestar o grande apreço e reconhecimento de um antigo od en ta do e assjstente por pravas que realizam os alfaiates, costureiras, fotógrafos etc.).
sua mestra, que - dentre tantas outras virtudes- sempre transmitiu a seus alunos a Finalmente, numa terceira acepção, prova pode ainda significar desafw ou competi-
constante preocupação em utilizar as elaborações científicas como instrumento para ção, indicando um obstáculo que deve ser superado como condição para se obter o reco-
uma aplicação do direito mais atenta às e,cigências e tran.sformações da realidade social nhecimento de certas qualidades ou aptidões.
eculturaL São muitos os exemplos em que, na vida cotidiana, a palavra é utilizada com esse
sentido: !em brem-se das prrwas a que se submetem os estudantes ao final de um curso ou

2. As várias acepções do termo prova em geral


A primeira das dificuldades apontadas prende-se à própria natureza polissêmica do
vocábuJo-provaj que apresenta vários significados não só na Jinguagem comum, mas 3. fuMZ Jrt,r lerdo S. Intrnduç,fu ao estudo do direrto: récnica,, àeci500, dominação. São P;;rnloI Atlas,. 19 ~ 3,
também no discurso científico, em geral, e no jurídico, em particular. p.291.
4. G1m.. 1.-.r-.1, Al_essand.ro. Prm,c1. (fifosofiil). ln: En.ddttpedi~ del d:iâuo. Miião, Giuffre, 198Br v. 37, p. 519.
5. TA1uno, M1chde-. Lo. Pmt.'ll dei foui giuridiá.. Milano, Giufhl-, l992,. p . 41.5.
-6.. Id-emr p. 4 l 6; é o que Gil denomina ~vertente objetivaª da prova. Ver C11., Fcrn.m ndo. Prows. Lisboa,
2. Sobre: esses significados, v~:r;. adiante, números 4 -e: 5. Imprensa Nacional 1 98 6, p. 13.

-304-
1" u-L..iCi :;uun: a term1 no1og1a aa prova l ret lexos no processo penal brasil e iro)
.t\n to ruo r.·rngainae:s u0mes .r itno

4. Elemento de prova e resultado da prova


de uma etapa deste ou, aínda.. as provas queselVem para escolher os melhores atletas na
diversas modalidades esportivas etc. A constatação sobre a aludida natureza polissêmica do vocábulo prova, na lingua-
gem comum, filosófica e científica, e também no discurso jurídico, não é suficiente,
todavia, para esclarecer e delimitar o seu emprego na ciência do processo.
3. O emprego do termo prova na linguagem processual Além de sna utili2ação naquelas três acepções mais gerai.s, o termo também é em-
Na linguagem do direito processual, a utilização do termo prova também pode ser pregado para designar aspectos diversos desse fenômeno complexo, resultando daí a
-constatada com essas mesmas três acepções já mencionadas. necessidade, percebida pela doutrina, de fazer algumas distinções e tentar definir, com a
Com aquele primeiro sentido de demmutraçiw, diz-se que há prova de um fato que possível precisão, alguns componentes essenciais da atividade probatória.
interessa à decisão judicial quando são apresentados dados de conhecimento idóneos Assim, na terminologia do processo, a palavra prmm seive também para indicar
para admitir-se, comoverdadeiroz um enunciado sobre aquele mesmo fato. Ainda que cada um dos dados objetivos que confirmam ou negam uma asserção a respeito d e um
não se trateT como nas ciências exatas, de demonstrar uma verdade: irrefutável, é p ossíve] fato que interessa à decisão da causa É o que se denomina e!emenw de proPJO (euidence, em
chegar a um conhecimento processummente verd,,deiro a respeito dos fatos <li.seu tidos no inglês"). Constituem elemenws de (Jrolla, por exemplo, a declaração de uma testemunha
processo sempre que, por meio de procedimentos racionais, sejam obtidos elementos sobre determinado fato, a opinião deum perito sobre a matéria de sua especialidade, o
capazes de autorizar um determinado grau de certeza sobre a ocorrência daque]es mes- conteúdo deum documento etc.
A expressão revela, por sinal, outra característica fundamental da atividade probatória,
mos fatos7•
Ainda no campo do processo, também é possível entender a expressão prova com a de que o convencimento judicial resulta [ou deve resultar) de uma pluralidade de
aquele segundo significado de experimentaçiío já referi do. Não se trata, evidentemente, do infonnações (provas), a partir das quais são realizados procedimentos inferenciais para
mesmo tipo de procedimento utilizado no âmbito das chamadas ciências experimentais. que .se chegue a uma conclusão sobre os fatos 11 .
mesmo porque o objeto do conhecimento judicial são fatos ocorridos no passado, que não É com atenção a isso que se fala em prova inadmissível e prova impertinente ou
podem ser reproduzidos. A pesquisa que se faz, na fase processual denominada irutruç,io irrekvante, para indicar os dados que, em virtude de proibição legal ou por motivos
proi,,, 0ria, reclama um outro tipo de atividade, destinada a recolher e analisar os elemen- lógicos, não podem ou não devem ser levados em
consideração pelo juiz. Na verdade,
tos necessários para confirmar ou refutar as asserções sobre aqueles ratos. sejam elas feitas 1 como sublinha Taruffu, essas expressões contêm uma contradição porque tais elementos
pelas partes, sejam colocadas pelo próprio juiz como tema demvestigação'. não constituem verdadeiras provas 12•
Finalmente, em outras situações, é possível reconhecer também o emprego do Assim, na leitura do art. s•, LVI, da Constituição Federal brasileira, devem enten-
vocábulo prova naquela acepção por último mencionada, de desafio ou obstáculo a ser der-se inadmissíveis os elementos de prova resultantes de atos de obtenção praticados com
supera<Úl, quando se fala, na linguagem processual, por exemplo, de ônus d,, prova como violação de direitos. Daí o equívoco em considerar-se afetada pela disposição constitu-
o encargo que incumbe à parte demonstrar um fato alegado. cional a regra do art. 15 8 do Código de Processo Penal, que exige o exame de corpo de
É exatamente nesse sentido que, na cultura medieval, as ordá/ia, oujufzos de Deus delito para comprovar a materialidade da infração penal que deixou vestígios". Trata-se,
constituíam provas, uma vez que tais métodos probatórios - hoje considerados irracia-- nessa situação, de meio de prova (pericial, no caso) exigido pelo legislador para que se
nais mas que cor.respondiam na verdade a uma outra racionalidade, então vigente: - possa considerar demonstrado o fato criminoso.
1

representavam um sup lido imposto ao acrn;ado, por meio do qual o mesmo lograva
demonstrar a sua inocência'.

10. Segundo May: • Bridimce i5 .somefhir.ig whi.ch r:e.11ds ti, pn,ve or di5prow •Ut)' far:t ar co,ií.fosion. fo a tr:illl it
m.e.i:in.s die irl.f,.,rmatitm whkh is fnd !iefou die cmrn: ür. or.ier W Pm1Je th~ far::ts ?ri: Wue". M.-.Yr Rirhard.
Criminal .rwulenc.e.. 2 ed. Londres. s ....reet & Maxwell. 1990, p. 4.
7. TII RURO, op. dt., p. 415. l 1. Uimms, Giulio. La prout1 pena!e; -pr'1fiii gWTidici ed epütemologici. Torinor UTET, 1995, p. 27,
8. É com atenção a -esse: aspe-a.o da pro'\la que tem sido feita, nõ'! doutrina, uma .analogia entre as. 12. TAR\J rro, op. dt.r p. 422.
a!ivi<lade.s do juiz e da h isto ri ::idor;. ambos empenhados em fazer rec.onstitui r., no pn!sente, .aconteci- B. V. STJ, RHC 2.4:54-2.-~~ én RT 694/3:90, de ruja ementa atrai-se: ~A Constituição da Repúl:iltca
mentos ocorridos no passado, -com a uti liz.açãio de _prwas.. Ver espechdmente ü.1..ocaior Cuido. úr. resgu:uda serem .id.m1t1das as provas que não fo,e_m proibidas por lei. Ratou a:Wm afetada a dáwut.a
iogiw de1 giauitt:B e i1 ruo cc:introlo i11 t::aJSllZTor.i.e. Padov;a, CEDAM., 1937, p. 128-149; O.u.."M.NDFtElz Piero. final do art. 158 d.o Código de Proasso Peoalr ou ~ il..- a confissão não se:r idônea para conooHe.- com
"'Il giudice e il storico~. ln: Opere giuriàiche. Napoli, Morano, 1965, v. 1, p . .'!~3-414; TA1urFO, o e:xa~e- de mrpo de d_elito. No processo penal moderno, não há hierarquia de provas.. nem provas
Michele. ~u giudice e il storkoª. Rivúta di diritto p~u~le:. 1967, 22, p. 43S.4G.'i. espectficas para detemnnado caso. Tudo o que for lícito, idóneo, será para projetar a verdade real"'.
si. U111=.Jn1s, Giulio. futta e mlore nel ristema pnib-atorii, -p~l~ Mi l:ão, Giuffrê. 1979, p. 102. nota 55.
Sob outro aspecto, a pai avra prova pode significar a própria conclusão que se extrai se serve o juiz. Assim, quando se fala em prova par testemunlw ou prova dxumenr,,J,
dos diversos elementos de prova existentes, a propósito de um determinado fato, é o indica-se que a representação d o fato foi conseguida par meio do testemunho ou do
resultado da prova (proof, em inglês"), qne é obtido não apenas pela soma daqueles dorumento 1 6.
elementos, mas sobretudo por meio de um procedimento intelectual feito pelo juiz, que Essas atividades são reguladas nos códigos processuais, de modo a ordená-las, com
permite estabelecer se a afirmação ou negação do fato é verdadeira ou não. o objetivo de propiciarwnaseleção mais criteriosa das informações, especialmente pela
A ótica aqui é, portanto, subi etiva, indicando a cnmça na existência de uma realida- concomitante participação do juiz e das partes nessa iarefa, assim com o assegurar a
de~ mas isso não significa, em abso]uto, que possa constituir produto de intuiçõe:s ou idoneidade dos dados obtidos.
suspeitas do julgador, ao contrário, essa crença deve estar amparada por aqueles dados Num processo penal garantidor, no q uai seja assegurado ao réu o direi to de não
objetivos (elementos de prova) introduzidos no processo. Dito de outra forma: deve colaborar para a obtenção de provas contra si mesmo (nem,;, tenetur se accusare ), a distin-
havei; necessariamente. uma conexão entre os elementos objetivos produzidos e o resul- 1 ção entre fonu, e meio de prova é relevante: o acusado será. eventualmente, fonu, de prova,
tado da prova
Essa distinção entre elemento de prova e resultada de prova, nem sempre feita de
r na medida em que trouxer voluntariamente eJe-mentos probatórios úteis à decisão; mas
o seu in terrog.a tório não poderií ser consider.ado meio de- prova porque nã O constitui
forma dara pelo legislador, é de grande relevância prática no processo penal brasileiro: atividade destinada a tal finalidade, mas antes instrumento de defesa".
pense-,,e nas situações em que a lei admite a apelação contra decisões do júri quando 'for Ainda a propósito dos meio, de prova, também é necessário fazer uma distinção
a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos' ( art. 593, III, d) ou entre estes e os chamados meios de pesquisa ou de investigação d a prova [me.ui di ricerca
quando autoriza a revisão criminaJ diante da contrariedade: .. à evidência dos autos·". del/a prova, na terminologia do CPP italiano).
Nesses dois casos, o senti do dessas expressões só pode ser o de re.sul rada d a prova, não Os meios de prova referem-se a uma atividade endoprocessual que se desenvolve
sendo viável entender-se, como muitas vezes. ocorre, que a existência de um só elemento perante o juiz, com o conhecimento e participação das partes, visando a introdução e a
poderia afastar o conhecimento da impugnação". fixação de dados probatórios no processo. Os meios de pesquisa ou invesiigação dizem
respci to a certos procedimentos ( em geral, eximprocessuais) regulados pela lei, com 0
objetivo de conseguir provas materiais, e que podem ser realizados por outros funcioná-
5. Fonte de prova, meios de prova e meios de investigação da prova rio, (policiais, por exemplo),
Com base nisso, o Código de Processo Penal italiano de 1988 disciplinou, em
Distinguem-se, ainda, na terminologia processual, as expressões fonte de prova, títulos diferentes, os m=i di prova (testemunhos, pericias, documentos), que se caracte-
meios de prova e meios de in .,,,ligação da prova. rizam por oferecer ao juiz resultados probatórios diretamente utilizáveis na decisão, e os
Fala-se em fonw de prova para designaras p,= ou coisa, das quais pode-se conse- mezri di ricerca dei/a prova (inspeções, buscas e apreenoões, interceptações de conversas
guir a prova (rutius, o elemenro de prova), resultando disso a sua usual classificação em telefônicas etc.), que não são por si fontes de conhecimento, mas servem para adquirir
fon u,s pessoais (1estemunh as, vítima, acusado, peritos) e fon ws reais (documentos, em coisas materiais, traços ou declarações dotadas de força probatória, e que também po-
sentido amplo). dem ter como destinatários a polícia judiciária ou o Ministério Público".
Outra coisa são os denominados meios de prova,. ou seja. os instrumentos ou alividtl- Outra importante distinção, ressaltada por Paolo Tonini, reside na surpresa que
des por intermédio dos quais os dados probatórios (elemenw, de provaJsão introduzidos quase sempre acompanha a realização dos procedimentos de investigação, sem a qual
e fixados no processo [produção da prova). São, em síntese, os canais de informação de que seria inviável a obtenção das fontes de prova, ao passo que nos meios de prova é rigorosa
a obecliênci a ao contraditório, o que supõe tanto o conhecimento como a efetiva partici-
pação das partes na sua realização".

14. O termo proof i ndic.a, com efeito, "'ihe effecc a/ evide11u; l~ esl.Qlr!i5hment of a faa b,· ~idence; tlie-
wniricâmi or p.er1:uasiim of !he mi,rd oj a ju~ or jury.; liy thi!! nliibi!icm of evidem::e"'. Üi.Mf'l!.IU. Henry B.
Black's !..!w diclfoniuy. 6 M. Se Paul. Minn, West Group, 19SI0, p. 1215.
J5. Como observa Nilo Batista, ;a propósito da r-evis.ão criminal: "'A ~irli:nda dos autos ~ô pode se-r 16. Dm.n. Viltorio. La VeJifa;azj,0,i,e delle p..-we dorumenwii. Torino, LffEL 1~57~ p. 2.
algum a c::o ÍS.!I qu-e .-esulte d e uma apreciação conjunta e conj ugacl a d.a prova. Não b ilsla que o 17. ~1NO..,ER,Ada P; SCARANC1;. Amanio F..; G~ES F'1U10, Antonio M. As mlíidaàes na proce5$rJ penal 7 ecL
decisório se finne- ~ qualquer prol'a: é mister que ;a prova que o ampare seja oponíve:I, formal e São Paulor Revista dos Tribunais. 2001, p. 81. '
logicamente,. às provas que mil item em sentido contrário .... Ver B.imsv., N Clo. Deci5ões cri mi.ruais I B• Co.-iocuo~ l..uigi Paofo .... Les.siro deJJ e prove e modello aa:us aitor[o-"_ RWiuo di diritto prou.5..5uale 19'9 5
comrntrulas. Rio de Janej ro. Llber Juris~ 1976, p. 120-111. Par.11 uma síntese das posições do ui rin.ári as., 50(4):1206-7. • '
nos dois .si::ntidos, vu Q umo. Maria Elizabeth. Da nvisão c,riminrill; condíçiíe:s da t1,;:.ãa. São Paulo, 19. TOH_L'fl, Paolo. A (JT'1WI. no process.rJ /]rnai italiano. Trad. Alexandra M,mins e Daniela Mróz. Sjo Paulo
.\talheiros, 1!:1'98~ p. 209~213. Rm.sta dos Tribu11ais. 2002~ p. 242-243. r

-308-
No tas sobre a termin oi ogia da prova ( reflexos no processo p e-na[ bra.s i Ieiro)

Mesmo sem semelhante sistematização legislativa, essa terminologia também é 7. Segue: indício (prova indireta), indício (prova semiplena) e
aplicável ao direito processual penal brasileiro. De fato, depois de tratar dos meios de suspeita
prova - perícias, testemunhos e documentos -, o Código de Processo Penal dioci plina
Neste ponto, é conveniente deter a atenção sobre o emprego ambíguo da expressão
o procedimento de busca e apreensão (arts. 2 40 e segs.), que não visa obter e/emen tos de
indício, nem sempre claramente identificada, mas de conseqüências práticas relevantes
prova, mas fontes materiais de prova. O mesmo ocorre com as interr:eptações telefõnicas,
disciplinadas pela Lei 9.296/96, a infiltração de agentes (Lci 9.034/95) e a captação e no processo penal, que devem ser propositadamente sublinhadas.
interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos e acústicos (Lei 10.217/2001). Como visto, por indício deve-se entender a prova indireta que, ao lado d aprova
Na prática, essa diversidade terminológica também serve para identificar as possí- direta ou em sentido estrilo, constitui uma das subespécies do gênero prova, aqui no
veis reperrnssões das irregularidades verificadas em rei ação aos meios de prova e aos sentido de elemento de prova, ou seja, de dado objetivo que serve para confirmar ou negar
meios de investigai:ão. No primeiro caso, a conseqüência do vício será a nuliddde da prova uma asserção a respeito de um fato que interessa à decisão judicial.
produzida (rectius: dos elementos de prova), enquanto no segundo tratar-se-á de prova Mas a expressão indicio também não é unívoca na terminologia das provas, poden-
inadmissível no processo, diante da violação de regras relacionadas à sua oblençiio ( ar!. s•, do indicar, além do sentido apontado, também o elemento de prova de menorvalor
LVI, da CF). persuasivo on prova ,em iplena, expressão herdada do velho sistema das provas Jegais.
É que a própria estrutura lógica do procedimento indireto de verificação acaba
refletindo na qualidade epistemológica do resultado; assim, nessa outra acepção, o ter-
6. Classificação das provas: prova direta e prova indireta mo indica aqueles elementos que, mesmo não sendo desprovidos de eficácia probatória,
Sob perspectiva diversa, relacionada à dassifica,;ão ou tipologia das provas, merece não autorizam uma inferência segura sobre o fato a ser demonstradol(J.
ser referida, de início, a utilização das expressões prova direi,, e prova indireta. Também pode oco= nesse caso, como observa Elena MariaCata!ano, que a qua-
Essa nomenclatura decorre de uma dassificação dos elementos de prova, segundo a lificação de um fato como indício consti rua um e=motage para eximir o juiz d a justifi-
complexidade do procedimento inferencial realizado pelo juiz para, a partir deste, che- cação mais rigorosa sobre a inidoneidade do elemento de prova".
)
gar ao rruultado da prova. D aí a referência fui ta por alguns autores a prova em sentido Sob outro aspecto, também não é possível confundir-se o indicio - sempre um
es!riln (direta) e indício (prova indireta) como subespêcies do gênero prova. dado objetivo, em qual quer das acepções acima referidas - com a simples suspeita, que
Denomina-se direta a prova (entenda-se hem: o e!ementD de prova) que Permite não passa de um estado de ànimo -fenômeno subjetivo-, que pode até possuir um
conhecer o fato pela única operação inferencial. Assim, por exemplo, se a testemunha vaJ or heurístico~ orientando a pesquisa sobre os fatos~ mas que não tem aptidão para
narra que viu o acusado desferira facada no corpo da vítima, é possível concluir, com um fundar o convencimento judicial". Dito de outro modo: o primeiro é constituído por
único racioánio, que aquele foi o autor das lesões que esta sofreu. um fato demonstrado que autoriza a indução sobre outro fato ou, pelo menos, constirui
Como anota Taruffo, aqui a prova verte diretamente sobre o fato a provar. Por isso, om elemento de menor valor; a segunda é uma pura intuição, que pode gerar desconfian-
a prova direta também é dila, às vezes, histórica ou reprruentatiim. ça, dúvida, mas também conduzir a engano".
Diz-seindirua aprova (sempre oelemenwdeprova] quando, para alcançar uma Nem serve para amparar a eventual equiparação a invocação do princípio do livre
conc:lusão sobre o fato a provai; o juiz de\,e realizar pelo menos duas operações inferenàais: -convencimento, _pois este não autoriza o juiz a adotar decisões que sejam produto de
num primeiro momento, parte da informação trazida ao processo para conduir sobre a
ocorrência de um fato, que ainda não é o fato a ser provado; conhecido este fato, por meio
de uma segunda operação lógica, chega-se então ao fato a ser provado.
Voltando ao exemplo citado: imagine-se que a testemunha narra não ter visto efeti-
vamente o acusado desferir a facada, mas somente haver presenciado sua saída da resi- 20. AuaúiN,. Marina G. [os hecho5 en deucho; 005~ argurnienmles de la pruí!lm. Mad ri. Marcial Pons, 199 gr
p. 93; T,utw:.FOr op. -dl, p. 452.
dênóa da vítima, ocultando o que parecia ser uma faca. A partir desses elementos de 2!. D:rAu.,.,,..o, Ma ria E!ena. l.~ pro aia del .cilrbi. M ilã D, Giu ffre:,. 19:9 8, p. 4 6. Eu:m:plo disso. entre nós, pode
prova (indícios), e aplicando as regras de experiência vigentes na soei edade, é possível ao ser encontrado em julgado d o TJSP, qu-e: admitiu a .ap.res-e:nt.ação ao júri de gravação -de ...confissão"
juiz co nduir, do mesmo modo qne no primeiro caso, embora com uma mediação i nte- prestada pelo acusada aos m-ei os d e comunicaçãio, com a segujn1e justificaç:.io: ... Na verdade não é
bem uma prova e sim um indício contra o reu• (Ap. Crim. 154.1.51-3/'9).
lectual mais elaborada, sido o réu o autor das lesões. 22. M~N.t..'ARINO, Nicola. l.~ ma.s.sime d'e5perieriza nd gi:udi2:io pena1e e il foro co-ntroUo in aw:,,u:ioni:t P.1dova,
A distinção entre a prova direta e a prova indireta (indício) não é portanto ontológica, CEDMi, 19'93, p . .87~ nota 35.
mas apenas resulta d a complexidade do raciocínio que deve ser feito para chegar-se a 23. Assis Mouu, Maria There.za R. A proM par ind!dos rw fJ,"OCe5SD f}eMl São Paulo,, Saraiva, 1~94, p. 52,;
GRN,,WfA. Luigi. IA lUtda à~!a libmà personaJ,e nel diritto--pro~r.role p,e~le. Milão~ Giuffre, 19 51, p. 60.
uma conclusão sobre o fato a ser provado.
A~tonio "Magalhãe; Gomes Filho K o tas s.o bre a ter mi noJogia d a prova ( reflexos no processo penal brasileiro)

puras convicções subjetivas, mas apenas lhe conkre uma liberdade de seleção e valoração peninsu] ar atri hui àqueles dados de convencimento um va]or inferior ao das provas
dos dados objetivos introduzidos no processo, rnj a racionalidade sempre deve estar sn- (inclusive os indícios), sublinhando que não são suficientes para decidir, mas que po-
jei ta a controles. dem reforçar o raciocínio feito com base em verdadeiros elementos de prova2i_
No processo penal brasileiro, a apontada distinção é importante na medida em Embora sem correspondente previsão textual no estatuto processual penal da Itália,
que, para certas decisões, exige-se um juízo de probabilidade necessariamente fundado assinala-se na doutrina a pertinência do conceito também em sede de fuízo criminal,
na coil.Statação d a existência de indicio ou de 1ndicios. É o que ocorre em relação à decre- lembrando-se, como exemplo, a regra do art 192, § 3•, do Código de Processo Penal de
tação do seqüestro de bens (art. 126 do CPP), à pri<iio /J1Buenlivt1 (ar!. 312, parte final, do 1988, que proclama não ser possível estabelecer a autoria do fato exclusivamente com base
CPP) e à pronúncia, no procedimento dos crimes de competência do júri (art 408, mpu~ na clu!maàa M co-nfu, sendo necessários outros elementos de prova que confirmem a
do CPP). Nesses casos, ainda que não seja exigi do um juízo de certeza, é necessária a idoneidade da atribuição d a responsabilidade feita por um acu,;ado em relação a outro".
presença, no mínimo~ de algum elemento de prova~ ainda que indireto ou de menor Essa noção, embora não desenvolvida entre nós, parece presente também em algu-
aptidão persuasiva, que possa autorizar pelo menos um juízo de probabilidiule a propósito m as disposições da nossa legislação processual penal, assim, o arr. 155 do Código de
da origem ilícita dos bens, no primeiro, e da autoria do fato nos demais". Processo Penal, que adota as restrições da lei civil quanto à prova do estado das pessoas;
Constatação semelhante também vale para as si luações em que a lei pro cessu ai o ar!. 15 8 do Código d e Precesso Pena!, que veda expressamente o recurso à própria
penal faz referência à fend,,àa suspeitll como requisito para a busca pessoal (arts. 24 O, confissão para suprir-se a falta de exame de corpo de delito; e, depois da Lei 10. 792/2003,
§ 2~, e 244 do CPP), Aqui o legislador rui dou de sublinhar que não basta uma simples o parágrafo único do art 18 6 do Código de Processo Penal, que exclui seja o silêncio do
convicção subjetiva, só estará autorizada a bu,;ca quando houver algum dado objetivo acusado 'interpretado• em prejuízo da defesa.
que possa ampará-la. É o que, na linguagem do constitucionalismo norte-americano, Nesses casos, o legisla dor nacional, da mesma forma que o italiano, nega a possibi-
denomina-seprobable cause, expressão que indica exatamente 'mais do que mera suspei- 1idade de se utilizar esses dados com o elemen tOs de prova, ou seja, como j nform ações
ta.- -embora menos do que o quantum de prova necessária para a condenação-"'H. aptas a fundar o convencimento judicia]. E a razão disso não é simplesmente poHti car
mas tem relevante fundamento epistemológico: trata-se de dados essencialmente equí-
vocos, por isso perigosos para dei es serem extraídas inferências a respeito de fatos.
8. A.-gumento de JJTOVª
Ainda com atenção à classificação dos elementos de prova, cabe fazer uma rtlerên- 9. Prova direta (positiva) e contrária (negativa); a contraprova
ci a a outro conceito empregado especialmente na doutrina italiana. que é o argumento de
prova. Ainda com atenção à classificação das provas (elementos de prova) em dire!ns e
Trata-se, com deito, de expressão enunciada pelo ar!. 116, § 2°, do Código de Pro- inàirntas, cabe evitar outra confusão, sublinhada por Ta rufio, que decorre do emprego da
cesso Civil, que Iiterai mente consente ao juiz extrair argumen ws de prova das respostas e:xpress ão Jrrova dire ta para indicar também a prova -p.o.si tiM, em o posição à proua con rrá-
dadas pelas partes em sede de interrogatório livre, de sua recusa em consentir inspeções Tld ou negativa.
ou, em geral, de seu comportamento no processo. Nesse caso, trata-se de distinção que tem por fundamento a relação entre a prova e
Assim, e ao contrário do que sucede naquela legislação com o intem,gatório fofmlll, o fato a ser comprovado: diz-se posüiva (ou direta) a prova que objetiva demonstrar a
considerado verdadeiro meio de prova e do qual pode resultar a confissão, o legislador exist~nda do fato1 ou, mais corretamente confirmar a asserção :sobre o fato principal;
1

negallva (ou con irária) será a prova que se destina a negar tal asserção, demons Irando
que: o fato não oco.rreu.2ª.
É preciso observar, ainda. que também há prova negativa na situação em que a
24. Essa distiDÇão oem sempre-é observada. na prática. Virr, a. propôs[to, julgado da segunda turma do STF demonstração da inexistência do fato se faz pela prova da existência de um fato diver.io
no RHC 64.240--PR. em que ficou :assentado, com prec.isio: •Meras. suspeiw não podem ser h:al'idaS;
como indíckJs .sufiàentes de a.utoai a, ;a justifiCli!lr a necessidade: da prisão cautelar. Para tanto, d,e,,-E:m incompatível com o fato principal afirmado. Fala-se, então, em {lra!){I negativa [ou am'.
os indkio.s convenc.er o juiz da probabilidade da prática do crime., e não de mua possjbilidade~ (DJU
26.09.198", p. 17718; RTJ 123/ns}.
25. Bu.e1,:, op. dt.... p. 1201. No mes.mo sentido, AII en., Kuhns -E: Stuntz: ,. Pro~abie c::,ms-e m11'.S~ he 00.Jed im
mot'l!' rMr.i We ruspicwn. Pro&ab-le cause exüts Ul'lrert" tfu: fects . uui ân:.1.-mt.!mneü wiihin thefr 1r1te officmJ
ho~ed:e a:nd af which. thq had nmma~ly trnstum·l'Chy informatian [are} suffic-ien1 in them~f!IW!'.! to 2 6- T~rr?· ºP: -cit., P- 453 e: segs.; Rica,.Gian Fraüco. Prinâpi di diritto pn:tcie.ssuale general~ Torino
warr.ant a man ... hl the Cll5e cf a seardt, pro~ble um.se .mu.st itX!.St lO- OIE!lie:iie l~llt ~he item.s Ullli11g S!lught wtlr G1app1chelh, 2001, p. 367-369. '
he ~md i n the p!.ace searche.d". A1J.a..i; lúmr,is; STUNTI"_ C:m..sli!1dio;r1ai' criminal procMUl!. 3 ed. Boston. 27. R1caT op. ril, p. 368.
Llttle, Brown. 1 ~ 95, p. 626. 2,8.. TAflllffO, op. d L, p. 432.
Antonio Magalhães Gomes l:,.ilho

trária indireta. Éo caso do a1ibi, que consiste exatamente na provade_não-~corrên"'.~ do Na segunda situação, pensa-se nas hipóteses em que o elemento de prova, mesmo
fato i~putado, mediante a demonstração positiva de uma ,circunstanoa mconohavel sendo proveniente de um meio contemplado pela lei, é introduzido no processo, s egun-
com tal fato, ou ,ej a, a presença do acusado em outro 1ugar' - _ _ . do um procedimento diverso d aquele estabelecido pelo direito". Nesse caso, como res-
Não se pode confundir, igualmente, aproWI contrária com outra expressao propnda salta Cavallone:, interessa saber se os requisitos previstos -em lei para a admissão e a
do léxico processual, que é a contraproM. Com esta, •md"1ca-se qualquer prova apresenta , _a produção de uma prova tém, ou não, caráter essencial e inderrogável"'.
or uma parte, com o propósito de refutaros elementos apresentados pelo a~vers_an?. No plano das conseqüências práticas, a distinção também é re!evan te, porquanto,
~rata-se aqui de fenómeno que não se liga à relação enu:e fato e prova, mas a propna no primeiro caso, a ati.picidade deveria levar à iruidmissibifüiade dos elementos resultan-
traditória do processo, que exige O reconheomento, dentre outros, de um tes do meio de prova não previsto pelo ordenamento, ao passo que a infringência às
natureza con . às ap resen-
direiro à prOll<l, que inclui, e\identemente, a prerrogativa de contrapor provas _ regras do procedimento probatório deveria conduzir à nulidade dos atos de produção
t das pela parte contraria, com O objetivo deinfluirnoconvenomento do JUIZ. _ _ realizados em desconformidade com a lei.
a No processo penal brasileiro, esse verda derro • d"irei!o
• a• con traprova decorre nao so
No processo civil brasileiro, o legislador ru idou de superar a primeira questão, ao
do texto constitucional que garante o contraditório e a ampla defesa_ ( art 5"-, LV), mas inserir no art. 332 do Código de Processo Civil regra segundo a qual todos os meio, legai>,
também está assegurado especialmente em algumas disposições da le:t processual, como
b,,m como os moralmen i,, legítimos, ainda que mio especificados nesre Código, ,ão hábeis
a do arL 4 7 5 do O'idigo de Processo Penal, que impede a leitura de do rumen: ~~ para provar a verdade dos faws em que ,e funda a ação ou a <kfesa. Assim, diante do texto
lenário do júri sem a cientificação prévia da parte contrária (entre outras, ";'m ad a ,_
P processual civil não se distinguem, naquele primeiro sentido, as provas típicas e atíp;a,,,
d ade de, justamente, possibih•tara ap resentaçao - d e con tran
....- rova"') , e tambem
_ b a _ o_an.
_
para fins de sua admissibilidade, uma vez que a própria lei assimilou as duas espécies"'.
523, relacionada ao procedimento dos crimes contra a hon'.ª• que ens_'.'Jª asu sutmçao
Caberia indagar, então, se tal regra tem aplicação ao processo penal, na falta de
ou complementação do rol de testemunhas quando ofereoda a exceçao da verdilde.
disposição semelhante, ou se neste a legalidade probatória - que representa a mais
valiosa garantia do acusado contra decisões arbitrárias - conduziria à inadmissibilidade
10. Provas típicas e a.típicas das provas não contempladas pelo ordenamento.
A questão não é meramente teórica diante do que se disse sobre a dificuldade de
Outra classificação que vale a pena referir - especial meo te pelas conseqüênc!ª' identificar outros meios de prova, além dos já previstos pelo legisladoL Alguns exemplos
ráticas-é aquela entre provas típicas e atípicas.Aqui se toma como base a sua pre:115ao, da prática judicial servem para indicar outros aspectos do problema e, talvez, contribuir
pou não, no ordenamento: sao - ass •tm tímcas
,- -
as provas catalogadas
_
e reguladas
_ _
em lei e, ao para o encaminhamento de uma so luçâo.
contrário, a típicas [ou inominadas) aquelas de que o legislador nao cog, tou • Assim, em certos casos, o Ministério Público pretende juntar, como prova, testemu-
Mas é preciso distinguir, desde logo, pelo menos duas vertentes para o emprego de nho colhido unilateralmente em seu gabine:te, ai egando ser documemo3'. Trata-se aqui de
tais expressões: pode-se levar em conta, de um lado, a previsão do in.strumrnw Pelo qual
um verdadeiro jogo de palavras qne levaria a se admitir a introdução, no processo, de
o elemento de prova é introduzido no processo [meia de prova) ou, de outro, os modos
elementos obtidos com violação da própria natureza da prova testemunhal, cujo valor
empregados para tanto". _ _ está,, justamente, na sua produção na presença d o juiz e em con trad itório, de forma a
No primeiro caso, seriam então atípicos os ev-e_ntuais instru~ento~ nao previst~s
permitir que o magistrado e as partes possam acompanhar o depoimento, observando o
lei embora não seja fácil identificar meios diversos daqueles 1a refrr'.d~ pelo kg,s-
em • . . - como o sao
- as Posswe,s modaLida- comportamento e as reações do depoente, e formulando perguntas necessárias ao escla-
lador dado que as fontes de prova são lumtadas, assim recimento completo dos fatos relatados.
des ~ função representa tiva. Isso vale até mesmo para os meios resul lantes do desen:'? 1-
vimento te:cno]ógico porque se reduzem s~mpre. às_ noções de do~~m=nto ou penoa1
submetendo-se às regras que disciplinam tais modalidades p robalo nas -
33_ RLca, op. dt_, p. 45.
34. 0..vAI.LOHE, Bruno.... Critica ddl21 teoria delle pn:r,e :alipiche"". ln: Jr grudice e 1.a prova ne1 procesw ci&'i!e.
P.adOY:3, CEDAM, 1991, p. 350 .
24 .3-5. Observe-s-e.. a propósjto, que tal disposLção condiciona 21 admissão da prov,11 somente à sua l~ttimidade
29. [dem.. p. 433; Üi.T.",.L\NO, op. dt.IP- 23 • • . . ~---'- 00., Rio dE'! jan-eiro, freitas
30. Es MNOLA f 1u 10 , Eduardo. C6d1go de pror:e.ss,o j)etl.al bnmjeuo ~ nou.u.w. 2 mo-ral, não fazendo referência, como ocorre no Processo Pt':nal italiano, à sua idoneidade para assegu-
Bastos. 1946, v. 4, p. 550. rar ;a l'"erifica:ção -dos fatos. OJm efeito, o ;ut. 1-81) do Código de Processo Penal -de 1~88 prescreve:
e· F Le proH aâjDiidie. Milão, GiufEre. 199~. p. 41-48. ªQuando ê n·c.nie!W tHilll! j)mv.:J nmr disapifrut.u:il daUi:1 legp, fl giuàü:e plW rurumerla j,e ~ nsul.ra ido:riea 6d
31 • Rica, iAan ra_nroCa. 1 C Comentários ac:i- Cckfi.m de Pr,c;,r::t!S;!i,:i, Civil. Rio d-e Janeiro, Forense, 2000, assicur:;!n1l" r.accert,uninW det ftJtti e m:in prngrtlàiw fo 1ibertà mo-rale ddl.a /J'n:!-Ond'.
32. AY,.1.l ro, ntomo r os . ,r
3 6. Ver, a propósito, 'ijS.P, 2~ Cim.a.ra Criminal, Correi ção Parcial 145 .555-3/ 1.
V. 4, p. 16-17.
Nessa situação não se trata, simplesmente, de infringência ao modo de introdução to para a ap Iicação judicial do direito. Para o processe (e particularmente para a atividade
da prova, com o possível reconhecimento de nulidade, até porque as regras rela tivas à probatória) o próprio fato é determinado, segundo a sua idoneidade para produzir con-
prova documental geralmente são observadas. A atip icidade está ligada ao próprio meio seqüências jurídicas. Em síntese, como adverteTaruffo, é o direito que define e determi-
de prova, pois o canal de informação utilizado é diverso do estipulado em Ici; a prova é na aquilo que no processo constitui o fato''.
atípica {no primeiro sentido) e não pode ser admitida, sob pena de completa subversão Sob outro aspecto, também não é exato dizer que a prova destina-se a obter o conhe-
do valor de garantia da legalidade probatória. cimento sobre um fato, pois, antes disso~ o que s.-e apura no processo é a verdade ou a
O mesmo deve ser dito em n::]ação ao não-atendimento de certos requisitos essen- falsidade de uma afirmaçiio ,obre um fato. É que o fato, como fenômeno do mundo real,
ciais, estabelecidos pelo legislador, para assegurar a idoneidade dos elementos em que somente poderia ser constatado no próprio momento em que se verifica; não é possível,
pode fundar-se o convencimento judicial portanto, prarN1r um acontecimento passado~ mas somentedemons.trar se uma afirma-
É o que ocorre com a exigência de exame de rorpo de delito nas infrações que deixam ção sobre este é ou não verdadeira.
vestígios (art. 15 8 do CPP). Aqui o legislador estabelece, claramente, uma regra de exclusão Disse resulta que, na verdade, o thema probandum é determinado pelas proposições
de outros meios de prova, com o propósito evidente de evitar erros que poderiam advir de representativas do fato furidicamente relevantes, e colocadas pelas partes como base da
sua indiscriminada admissão para a comprovação da própria existência de um crime que acusação e da defesa, ou mesmo como fundamênto de eventual pesqujsa judiciaP1 .
deixou rastros materiais. É o que a doutrina alemã denomina proilnção relativa de prova, Daí não seT possível -entender a pesquisa probatória como algo dissociado do con-
pois o dado probatório só pode ser introduzido no processo por determinado meio". traditório processual, pois o seu objeto não são simples fatos extenw.s - realidadies jn-
Também deve ser lembrado, a propósito, o chamado reconhecimento fotogrdfia,. Para dependentes do sujeito-, mas fato, interpretados, pois constituem resultado de uma
o reconhecimento de pessoas, a lei processo al ( art. 22 6 do CPPJ só admite que isso seja subsunção em uma classe de fatos relevantes para o direito, segundo a perspectiva de
feito com a presença física daquele que se pretende reconhecer e, mais do que isso, pres- quem os afirma no processo,4(1.
creve certas formalidades~ como a·de colocar indivíduos de características físicas sem-e- Para o prooesso pen ai brasil eiro, essas ponderações adquirem particular relevància
lhan tes ao lado do reconhecido, de modo a se obter um elemento mais confiáve I de quando se examina, por exemplo, a regra inscrita no art. 383 do Código de Processo
convencimento. Ora, se isso não sucede em relação à identificação fotográfica, é dar o que Penal, que permite ao juiz dar ao fato definição jurídica di ver.ia da que constar da queixa
ela não pode servalorada como prova, pois não preenche o requisito da tipicidade. ou da denúncia, ainda que, em conseqüêocia, tenha de aplicar pena mais grave.
Entender-se que o fato a que se refere a disposição legal é simples mente uma real i-
dade externa - ou even tD M mralístico - , independente de sua subsunção em um certo
11. Objeto de prova tipo penal como freqüentemente ocorre na praxe judiciária e mesmo com o respaldo da
Por último~ também parece conveniente discutir nestas notas o sentido da expn:s- doutrina mais acatada41 , implica admi rir a mencionada confusão a respeito do que: cons-
titui o ol,jeto da prova no processe penal.
são objeto de prova, que muitas vezes não é empregada com suficiente precisão no discur-
No processo penal, a atividade probatória versa, fundamentalmente, sobre a impu-
so jmídico.
Afirma-se, em geral, que objeto de prciva ( thema prohandum) são os fatos que interes- tação de um fato criminoso, ou seja, sobre a afirmação que faz a acusação a respeito d a
sam à solução de uma controvérsia submetida à apreciação judicial. Com isso, pretende- ocorrência de um fato tipificado pelo direito penal. Assim, a qualificação jurídica tam-
bém integra a imputação", na medida em que o fato narrado só tem valor quando ligado
se colocar em especial evidência a circunstância de que a atividade probatória não se
à norma incriminadora 41 .
destina a informar o juiz sobre as normas de direito positivo, mesmo porque tal conhe-
cimento pelo juiz é presumido (iura novit curia).
Mas essa idéia traduz apenas uma visão parcial e aproximada daquilo sobre o que,
efetivamente, verte a atividade probatória judicial 38. T1LA.u1=1:o, op. ciL1 p. 69.
Em primeiro 1ugar, a prova não objetiva simplesmente reconstruir uma realidade 39. u IIF.JtnS,, op. cit.l p. sio.
fálica como tal, mas na medida em que os fatos a serem provados constituam pressupos- 40. Sobre a d~ificação de-fatos atemos.. fatos ~bidos e fatos interpretados,. sob a ótica da epistemologia,
ver.. especialmente.,. GoNZALtz. Dame-] L. los hechos bajo .sospecha: 5 obre:: l :1 obj-e:tividacl de tos
htthos }' e! razonamien:° judi~ al ~- rn: Analisi e díriuo 2000. Tmtno, Gfappkhelli, 200l, p. 72 e seg.s.
41. Por todos, MARQUE-5, Jose Fredenco. ElementD;j de direiw processual penal. 2 ed. Rio de Janeiro, Fm-e:nse
1"%5 V. 2, p. 252.
1 '
42. &..DA.A.ó, Gustavo Henrique L R Con-dação enrre arusaçiio e- sentença. 5ão Paulo, Revista dos Tribun.üs
3-7. Gõssa... Karl-Heinz. •As proibições de:: prova no direito proce::s.sual penal da República federal da 2000, p. 117. '
Ale::manfta"'. Trad. Manoel da C.os.ta Anàr.11de. ReJll5'ta Pmtup,esa de Ciência Crtrnirurl. 1992, 2(3):3~9.
4 3. So.~NCE,. Antonio F. A ~çiio de{ensh.-a à impu:!afiio. São Paulo, lkirista dos Tribuna is, 2002., p. 231.

-316- _,17_
Antonio Magalhã~ Gom-e!'i Filho

É por isso que, mesmo com a omissão do código diante de uma possível alteração
da qualificação jurídica do fato (rectiu.,, do fato com sua qualificação jurídica), de\•em ser
necessariamente observadas as garantias do contraditório e da ampla defesa, não só para
que o réu possa defender-se de possíveis repercussões em seu direito à liberdade, mas
também para que a acusação teoh a a oportunidade de sustentar a afirmação inicial... E
isso vale especi a1mente para o exercido do direito à prova das partes, em atenção à
ai teração do objeto da pesquisa probatória.

l.
44. Nesse: se-ntido, B.-..IMiOI op. cil, p. 117; Sa.RANCC::.. op. dt . . p. n2-234; MA.L'i.Nr Diogo R. A 5mttmça
Í1<1r_nnon.r-t"' ..... ,.,..,,,.....,..., ... .,..,,.1 u;..., A .... T... .... ~:~~ T , ---- 1 .. ...;: ~ ., ........... _ , .., n ~ .....

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