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KELLY CRISTINA CANELA

NANCI SOARES

(organizadores)

A PESSOA IDOSA EM FRANCA:

DIÁLOGOS ENTRE SABERES E PRÁTICAS

Câmpus de Franca
2013
A pessoa idosa em Franca: diálogos entre saberes e práticas [recur-
so eletrônico] / Kelly Cristina Canela e Nanci Soares (organiza-
doras). – Franca (SP): UNESP-FCHS, 2013
116 p.

ISBN: 978-85-7818-069-0

1. Velhice – Aspectos sociais. 2. Envelhecimento. 3. Idosos –


Assistência em instituições. 4. Idosos – Legislação. I. Kelly Cristina
Canela. II. Nanci Soares. III. Título.

CDD – 362.6

Índices para catálogo sistemático:

Centro Jurídico Social – UNESP – Campus de Franca (SP).... 361.007


Envelhecimento........................................................................ 301.4286
Serviço Social – Velhice ..........................................................362.6
Idosos – Legislação ….….........................................................341.2762
Idosos – Aspectos psicológicos e sociais..................................301.435
Velhice – Aspectos sociais........................................................362.6
Idosos – Assistência em instituições.........................................362.61
APRESENTAÇÃO

Segundo o art. 8º do Estatuto do Idoso, “o envelhecimento é um direito personalíssimo e a


sua proteção um direito social”.
Trata-se de um direito fundamental tutelado nas esferas internacional e nacional.
No âmbito internacional, interessa destacar uma série de ações das Nações Unidas no
sentido de identificar direitos fundamentais dos idosos e de traçar recomendações para a
concretização destes direitos: o Plano de Ações Internacional de Viena sobre o Envelhecimento
(1982), a Assembleia Geral da ONU que aprovou o Princípio das Nações Unidas em favor das
Pessoas Idosas (1991) e, finalmente, a Segunda Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre o
Envelhecimento, a qual adotou a Declaração Política e o Plano de Ação Internacional sobre o
Envelhecimento de Madrid (2002).
No Brasil, a tutela jurídica do envelhecimento alçou um novo patamar com o advento, em
2003, do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741), logo em seguida ao Plano de Ação de Madrid. Segundo
o art. 3º desta legislação, a proteção e a efetivação destes direitos é obrigação de todos, da família,
da comunidade, da sociedade e, por fim, do Poder Público.
Pode-se afirmar, portanto, que os direitos dos idosos são direitos fundamentais reconhecidos
nacional e internacionalmente e que devem ser tutelados e promovidos por todos os cidadãos e
Estados.
Neste sentido, é importante reconhecer o dever das Universidades de fomentar projetos de
extensão que busquem a conscientização dos idosos, das famílias e de toda a comunidade sobre tais
direitos fundamentais.
Cumprindo exatamente este dever, cabe destacar a existência de projetos de extensão
universitária sobre esta temática na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
A Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) de Franca, vinculada à Pró-Reitoria de
Extensão Universitária (PROEX), tem exercido uma relevante função social ao disponibilizar a esta
população o acesso a diferentes cursos que possibilitam a conscientização de direitos, informações,
saúde e bem-estar, enfim, condições adequadas para o correto exercício da cidadania.
Além disso, cabe destacar outro projeto, também apoiado pela PROEX, atualmente
denominado “Oficina da Família: uma análise interdisciplinar sobre a efetivação dos direitos dos
idosos”. Embasado em um trabalho interdisciplinar, este projeto propõe a realização de oficinas nos
diferentes Centros de Convivência do Idoso (CCIs) de Franca com os objetivos de divulgar os
direitos dos idosos, de oferecer orientações psicossociojurídicas e, quando necessário, de promover
os devidos encaminhamentos. Este projeto é realizado através da competente atuação dos
profissionais do Centro Jurídico Social (CJS) da Unesp.
Justamente através da união destes dois projetos de extensão universitária que foi realizado,
nos dias 24, 25 e 26 de setembro de 2013, o evento “A pessoa idosa em Franca: diálogos entre
saberes e práticas”, integrativo das comemorações da Semana Municipal da Pessoa Idosa em
Franca.
Este evento contou com expressiva participação dos Centros de Convivência de Franca, de
estudantes, bem como de profissionais de diversas áreas de conhecimento que trabalham com a
questão dos idosos. Foram proferidas palestras sobre diversos assuntos dentro dos seguintes eixos
temáticos: “envelhecimento e saúde”, “realidade das pessoas idosas em Franca: políticas públicas e
garantia dos direitos” e “cidadania e velhice”. Além disso, cabe destacar a realização de uma roda
de conversa entre profissionais especializados sobre o seguinte tema: “UNATI, Centros de
Convivência do Idoso e Instituições de Longa Permanência: interfaces com o programa Cidade
Amiga do Idoso”.
Sem dúvida, todas as informações divulgadas e todos os rebates resultantes deste evento
serviram para uma maior conscientização do seu público-alvo, os idosos, seus familiares e os
profissionais envolvidos com a questão em tela.
Ainda como resultado deste evento, surge a presente colaboração acadêmica, um e-book,
com o objetivo de apresentar artigos científicos sobre o tema. São apresentadas sérias e relevantes
pesquisas sobre a vulnerabilidade social, o envelhecimento ativo, os centros de convivência de
idosos no Brasil, a situação psicossocial da pessoa idosa, a institucionalização da pessoa idosa, as
atividades desenvolvidas no projeto de extensão e o reajuste do plano de saúde dos idosos.
Por fim, preciosas contribuições criadas pelos próprios idosos participantes do evento restam
consignadas nas páginas que se seguem. São apresentadas todas as poesias que participaram do
“Concurso Cultural de Poesias: o Envelhecer na Voz do Idoso”, parte integrante do evento
supracitado. Verdadeiras obras de arte que comovem pela sabedoria expressa com simplicidade,
mensagens da maturidade para iluminar o caminho das futuras gerações.
SUMÁRIO

A VULNERABILIDADE E O RISCO SOCIAL NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E


VELHICE: UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
Lucélia Cardoso Gonçaves
Raquel Renzo da Silva Pequiá
Nanci Soares ........................................................................................................................................ 7

O ESTATUTO DO IDOSO E O REAJUSTE DO PLANO DE SAÚDE EMBASADO NA FAIXA


ETÁRIA: A LUZ DAS RECENTES DECISÕES DO STJ
Kelly Cristina Canela ......................................................................................................................... 19

OS CENTROS DE CONVIVÊNCIA PARA PESSOAS IDOSAS NO BRASIL


Lucélia Cardoso Gançalves
Nanci Soares ...................................................................................................................................... 27

ENVELHECIMENTO ATIVO: EXPERIÊNCIA DE VIDA DE UMA PESSOA IDOSA


Letícia Terra Pereira
Lucélia Cardoso Gonçalves ............................................................................................................... 50

O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PESSOA


IDOSA NA CIDADE DE FRANCA-SP
Rosângela Aparecida de Paula ........................................................................................................... 64

SITUAÇÃO PSICOSSOCIAL DA PESSOA IDOSA: ASPECTOS APREENDIDOS NO


CONTEXTO DA UNIDADE AUXILIAR CENTRO JURÍDICO SOCIAL
Claudia Mazzer Rodrigues
Adriana Regina de Almeida ............................................................................................................... 75

OFICINA DA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE INTERDISCIPLINAR SOBRE A EFETIVAÇÃO DOS


DIREITOS DOS IDOSOS
Jéssica Taís da Silva
Junia Utida
Laura da Cunha Varella ...................................................................................................................... 85

POESIAS PARTICIPANTES DO CONCURSO CULTURAL “ENVELHECER NA VOZ DO


IDOSO” .............................................................................................................................................. 96
7

A VULNERABILIDADE E O RISCO SOCIAL NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E


VELHICE: UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

A VULNERABILIDADE E O RISCO SOCIAL NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E


VELHICE: UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
Lucélia Cardoso Gonçalves1
Raquel Renzo da Silva Pequiá2
Nanci Soares3

Resumo
Diante da complexidade do envelhecimento humano, o presente trabalho tem por finalidade refletir a
vulnerabilidade e o risco social no processo de envelhecimento e velhice, perpassando pelo processo
histórico da assistência social, o atendimento à pessoa idosa, como política pública. O interesse pela
formulação do presente trabalho se baseou na insuficiência sobre a temática e suas especificidades, bem
como a apreensão do conceito vulnerabilidade e risco social no processo de envelhecimento O mesmo não
tem a pretensão de esgotar o tema, mas de mergulhar em uma análise crítica que permita a formulação de
políticas públicas de assistência social, voltada à pessoa idosa.

Palavras-chave: Vulnerabilidade; Risco Social; Envelhecimento; Assistência Social.

INTRODUÇÃO

Pensar em envelhecimento humano é compreender suas características e seu processo. O


envelhecimento humano é uma das maiores conquistas e um dos maiores desafios mundiais. Esses
desafios refletem o crescimento significativo da população idosa e a ausência ou precarização de
ações em nível de proteção social a referida população. Nesse percurso, vemos a legalidade da
Assistência Social enquanto política de seguridade social, que prevê os mínimos sociais, tendo por
funções a proteção social, a vigilância socioassistencial e a defesa de direitos sociais, organizados
sob o Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

1
Assistente Social. Mestranda no Programa da Pós-Graduação em Serviço Social UNESP/Faculdade de Ciências
Humanas e Sociais - Câmpus de Franca. Participa do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Envelhecimento, Política
Pública e Sociedade - UNESP. E-mail: lucelia_cardoso@yahoo.com.br.
2
Bacharel em Serviço Social. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UNESP/Faculdade de
Ciências Humanas e Sociais – Câmpus de Franca. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Formação Profissional -
GEFORMSS - UNESP. E-mail: raquelrenzo@bol.com.br.
3
Professora Doutora da UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais - Câmpus de Franca. Coordenadora da
Universidade Aberta a Terceira Idade - UNATI - UNESP Câmpus de Franca e pesquisadora da temática do
envelhecimento humano. E-mail: nancisoares@netsite.com.br
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A Constituição Federal de 1988 prevê em seu artigo 203 que, “A assistência social será
prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social [...]” tendo
vários objetivos, sendo um deles a proteção a velhice. Segundo a Política Nacional de Assistência
Social (PNAS) por proteção social entende-se as formas “[...] institucionalizadas que as sociedades
constituem para proteger parte ou o conjunto de seus membros” (BRASIL, 2004, p. 25).
A proteção a velhice na PNAS é materializada em um conjunto de ações estruturadas e
sistematizadas de iniciativa pública e da sociedade civil. O SUAS constitui-se em um sistema
público que organiza os serviços socioassistenciais por níveis de complexidade, sendo os mesmo:
Proteção Social Básica e Proteção Social Especial (de média e alta complexidade).
As Casas-Lar, Instituições de Longa Permanência Para pessoas Idosas (ILPI), Serviços de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoas idosas (SCFVI), dentre outros compõem os
inúmeros serviços desenvolvidos no país que tem por foco a proteção social a referida segmento
populacional.
A proteção social dentro da PNAS é destino a grupos ou cidadãos que se encontram em
situações de vulnerabilidade e risco social. Nesse sentido, esse trabalho pretende mergulhar no
campo dos riscos e da vulnerabilidade social, específicos a população idosa, oferecendo reflexões
que contribuam para a melhor compreensão da proteção social (básica e especial), dos serviços que
atuam com pessoas idosas e especificamente na apreensão desses conceitos.

1. A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

A trajetória da assistência social no Brasil tem sido marcada pelo binômio


filantropia/caridade, sendo a primeira palavra de origem grega – philos (amor) e antropos (homem),
portanto nos remete a uma ideia de amor ao homem, à humanidade e, também como uma laicização
da concepção católica de caridade. “A filantropia constitui-se, pois no campo filosófico, moral, dos
valores como o altruísmo e a comiseração, que levam a um voluntarismo que não se realiza no
estatuto jurídico, mas no caráter da relação” (MESTRINER, 2001, p. 14).
O que se observa é que durante décadas, a mesma não assumiu o caráter de política social,
pública de fato, mas, simplesmente focalizada na doação de auxílios, uma política tuteladora,
mediada pelo favor, circunstancial e imediatista.
Há de considerar que, diante dessas características, pode-se apontar alguns traços como a
descontinuidade, pontualidade, não rompimento com a pobreza, política de alívio, focalização nas
piores situações, que não permitem avançar enquanto política publica.
9

Em relação à legislação, a primeira alteração significativa na política de assistência social


sobrevém com a Constituição Federal de 1988 que institui a assistência social como direito e não
mais como caridade e favor aos pobres e necessitados. Nesse sentido, em seu Art. 203 nos diz

a assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de


contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II – o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadores de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária;
V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Após cinco anos da Constituição Federal, é promulgada a LOAS (Lei Orgânica da


Assistência social - Lei Nº 8.742, de 07 de Dezembro de 1993), que institui seu Art. 1º que “A
assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é política de Seguridade Social não
contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de
iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas”.
Vale ressaltar que embora indique a responsabilidade estatal e aponte a noção de
solidariedade social, soldando a cadeia da de atendimento à população-alvo de seus programas, faz
isso de maneira genérica, ao citar a provisão dos mínimos sociais, sem defini-los, conforme nos
aponta COUTO (2010, p. 173).
É interessante relatar que os princípios e diretrizes da LOAS são inovadores pois, nos
coloca a supremacia do Estado no atendimento às necessidades sociais sobre às exigências da
rentabilidade econômica, a universalização, o respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia,
igualdade de direitos no acesso ao atendimento, entre outros. Segundo Couto (2010, p.174):

Tanto os princípios como as diretrizes são inovadores para o sistema de proteção


social criado no Brasil. Desvincular da contribuição a prestação de serviços e ainda
fazê-lo na ótica da supremacia das necessidades sociais sobre a rentabilidade
econômica é bastante ousado e não encontra precedente nem na legislação social
nem nos projetos políticos explicitados no Brasil.

Dentro disso, é possível afirmar que apesar muitos desafios dificultaram e ainda dificultam a
compreensão da assistência social como direito, mas

“Inegavelmente, a LOAS não apenas introduz novo significado para a assistência


social, diferenciando-a do assistencialismo e situando-a como política de
Seguridade voltada à extensão da cidadania social dos setores mais
vulnerabilizados da população brasileira, mas também aponta a centralidade do
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Estado na universalização e garantia de direitos e de acesso a serviços sociais


qualificados, ao mesmo tempo em que propõe o sistema descentralizado e
participativo na gestão da assistência social no país, sob a égide da democracia e da
cidadania (YAZBEK, 1997, p.9)

Como consequência da organização e da luta da população para a melhoria da qualidade


dos serviços e da efetivação da política pública de assistência social, tem-se a construção da PNAS
– Política Nacional de Assistência Social em 2004, as Normas Operacionais Básicas NOB/SUAS
2005, NOB/SUAS 2006.
Nesse sentido, avançando na efetivação da política de assistência social, no ano de 2011,
têm se a promulgação da Lei nº 12.435, de 06 de Julho de 2011- SUAS, que elevou e organizou a
mesma ao nível de política pública de fato e, como tal com inúmeras conquistas, mas, também com
inúmeros desafios.
Apesar dos avanços legais, segundo (SILVA, 2013, p.95) não se pode esquecer que toda
política social atende a demandas do trabalho, mas é, também, funcional às requisições da expansão
do capital, apreendemos, na contra-face dos recentes avanços da política de Assistência Social.
Diante disso:

[...] é significativo considerar que um dos marcos dessa política provêm da


dinâmica conflitiva capital/trabalho – incorporando inclusive conceitos sociais
liberalistas, ao quais visam à ( re) naturalização da questão social, despolitizando-
a, para blindá-la, de qualquer reflexão que permita o tensionamento de suas causas
fundantes: a expropriação e a exploração dos trabalhadores (SILVA, 2013, p. 94).

Nesse sentido, faz-se necessário repensar a perspectiva de inclusão proposta pela política,
pois, ela focaliza na extrema pobreza, bem como o conceito de vulnerabilidade social que será
discutido abaixo que, remetem à estratégia de responsabilização dos indivíduos.

2. VULNERABILIDADE E RISCO SOCIAL: ASPECTOS CENTRAIS

Primeiramente, é importante identificar o que se entende por situação de vulnerabilidade,


Carneiro (2005, p. 67) faz uma analise identificando dos níveis: insuficiência de renda e situações
de baixa renda. O primeiro nível da condição de vulnerabilidade, em sociedade monetarizadas, à
pobreza é entendida como insuficiente de renda.

A ausência ou insuficiência de renda constitui um fator de extrema vulnerabilidade


em um contexto de economia de mercado, estando essa condição diretamente
ligada à qualidade de inserção dos indivíduos no mundo do trabalho .
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O segundo nível da condição de vulnerabilidade, em sociedade monetarizadas, à pobreza é


entendida como situação de baixa renda.

Situações de baixa renda somam-se, perversamente, a necessidades básicas


insatisfeitas: condições precárias de saúde e nutrição, situações de baixa
escolarização, moradias inadequadas, precárias e ilegais, localizadas em lugares
insalubres, estigmatizados. (CARNEIRO, 2005, p. 67)

A autora argumenta ainda, frequentemente tem-se vinculado a estas dimensões, um


conjunto de situações familiares que envolvem violação de direitos, como trabalho infantil,
violência doméstica, abuso sexual, entre outras. Nesse sentido é necessário que a vulnerabilidade
“[...] seja entendida como uma conjugação de fatores, envolvendo, via de regra, características do
território, fragilidades ou carências das famílias, grupos o indivíduos e deficiências da oferta e do
acesso a políticas públicas”. (BRASIL, 2013, p. 03).
A vulnerabilidade das famílias, segundo Carneiro (2005) apresenta gradações, onde se
mesclam, frequentemente, dimensões objetivas e subjetivas, tanto materiais quanto relativas a
valores e comportamentos. Ainda segunda a autora, isso se torna mais grave quando a provisão de
serviços públicos é deficiente, e os pobres não podem contar com uma rede pública de proteção
social, com o acesso a serviços básicos capazes de viabilizar patamares mínimos de qualidade de
vida. Nesse sentido,

Segundo a PNAS (2004) a vulnerabilidade se constitui em situações ou ainda em


identidades que podem levar a exclusão social dos sujeitos. Estas situações se
originam no processo de produção e reprodução de desigualdades sociais, nos
processos discriminatórios, segregacionistas engendrados nas construções
sociohistóricas que privilegiam alguns pertencimentos em relação aos outros.
(BRASIL, 2013, p. 02).

Segundo Minayo (2000, p.7) a qualidade de vida consiste na “percepção dos sujeitos
sociais com relação ao seu contexto de vida, culturais e valores, bem como seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações” (BULLA, SOARES, KIST, 2007, p. 173). É importante
ressaltar que os direitos sociais são, “a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição” (ARTIGO 6º da CF/1988).
É uma conquista da classe trabalhadora, e as políticas sociais, um instrumento através do
qual se materializam os direitos sociais, porém são muitas vezes definidas sem que esse fato seja
levado em conta (COUTINHO, 2005).
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A política de seguridade social, que prevê os mínimos sociais, tendo por funções a proteção
social, a vigilância socioassistencial e a defesa de direitos sociais, organizados sob o Sistema Único
de Assistência Social (SUAS).
A seguridade social (saúde, previdência e assistência social) instituída pela Constituição
Cidadã pressupõe a proteção social. No campo da política pública de assistência, a proteção social é
implementada através da LOAS (1993), da PNAS aprovada (2004), da Tipificação Nacional de
Serviços Socioassistenciais (2009) e do SUAS (2011).
A PNAS ressalta que a assistência social é política de proteção social. Viabilizar proteção
social pressupõe conhecer riscos e vulnerabilidades e as possibilidades de enfrentamento na ótica da
política pública. Para a assistência social, o conceito de risco exige o real desvelamento do real,
bem como medidas de proteção e redução de seus agravos.

O conceito de risco é utilizado em diversas áreas do conhecimento e tem aplicação


distinta no âmbito de diversas políticas, tais como, saúde, meio-ambiente,
segurança, etc. Via de regra, a operacionalização do conceito, numa perspectiva
objetivista, visa identificar a probabilidade ou a iminência de um evento acontecer
e, consequentemente, está articulado com a disposição ou capacidade de antecipar-
se para preveni-lo, ou de organizar-se paraminorar seus efeitos, quando não é
possível evitar sua ocorrência. (BRASIL, 2013, p.01)

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) diz que o público em situação de


vulnerabilidades e riscos são os sujeitos ou famílias com perda ou fragilidades de vínculos
familiares, identidades estigmatizadas em termos étnicos, exclusão social em virtude de deficiências
e pobreza, drogadição, diferentes formas de violência, precarização do trabalho, trabalho infantil.
De acordo com a PNAS a proteção social é destinada:

[...] à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da


pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços
públicos, dentre outros), e, ou, fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de
pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por
deficiências, dentre outros) (BRASIL, 2004, p.27).

O SUAS prevê a assistência social em níveis de complexidade, divididas em


proteção social básica e proteção social especial: média e alta complexidade. A proteção social
básica visa através de um conjunto de ações, prevenção de situações de vulnerabilidades e risco
social. A proteção social especial, através de um conjunto de ações, tem por objetivo, contribuir
para a reconstrução de vínculos familiares e comunitários.
A população idosa está inserida em todos os níveis de proteção social da assistência, pois,
seus riscos sociais se referem à violação de direitos, violência intrafamiliar, situação de rua,
rompimento de convívio familiar, dentre outros.
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As vulnerabilidades se referem à ruptura com o processo de trabalho e como consequência


a privação de renda ou sua precarização, bem como a dificuldade de acesso a informação e a
limitação a serviços socioassistenciais públicos em geral, discriminação, dentre outros.

Para compreender e analisar as vulnerabilidades sociais deve-se, antes de tudo


considerar as múltiplas interações entre a pobreza, o acesso aos direitos em sentido
amplo, o acesso e à rede de serviços e políticas públicas, bem como as capacidades
dos sujeitos e grupos sociais acessarem e usufruírem deste conjunto de direitos,
bens e serviços, exercendo a sua cidadania. As relações dos sujeitos, seja ela
individual ou coletiva, com padrões de desenvolvimento geradores de
desigualdade, tendem a produzir situações de fragilidades desses sujeitos, dos seus
grupos de sociabilidade e dos territórios onde se encontram inseridos. Essa
perspectiva possibilita reconhecer a descontinuidade ou mesmo a ausência de
investimento estatal nos territórios e nos indivíduos, bem como as situações de
estigma e desamparo que engendram ou reforçam condições de fragilidade. Por
outro lado, possibilita também a compreensão das capacidades e potencialidades
dos sujeitos para enfrentar as situações de risco e exclusão decorrentes dessas
interrelações (BILAC apud BRASIL, 2013, p. 02).

Portanto, pensar em envelhecimento e vulnerabilidades requer análise de suas


características, a saber: processo de envelhecimento e velhice. Quando nos remetemos à palavra
processo, temos uma ação contínua. O envelhecimento constitui-se num processo, pois desde que
nascemos, nosso corpo em todos os seus aspectos se desenvolve e consequentemente, envelhece.
Falar em processo de envelhecimento é pensar que não há uma idade em que a pessoa
“adentra” no envelhecimento. Falar em envelhecimento é pensar que toda sociedade se encontra
nesse processo e com isso torna-se necessário, ações que viabilizem a perspectiva saudável.
Segundo Faleiros, o processo de envelhecimento “[...] se caracteriza por mudanças nos vínculos
com o trabalho, com a família e consigo mesmo” (2006, p. 116).

Finalmente, é preciso pensar que o envelhecimento e as condições em que o


indivíduo chega a ser velho resultam de uma longa existência onde Saúde,
Educação, Trabalho, Lazer, Alimentação etc, entram no somatório dos ganhos e
perdas de cada um, a partir de seu nascimento. (MAGALHÃES, 1989, p. 58).

Quando nos remetemos à palavra “velhice” pensamos em fase, ciclo de vida. Assim, a
questão da velhice concentra-se naqueles que vivenciam essa fase. A velhice é marcada
historicamente por vários estereótipos como ausência da sexualidade, improdutividade,
dependência, mania. Segundo Magalhães (1989) a velhice e o envelhecimento são socialmente
construídos, pois isso a compressão das idades biológica, cronológica e social são importantes para
a compreensão de tais concepções.
O envelhecimento humano é um constructo vivenciado de forma heterogênea, sendo
composto e influenciado por várias determinantes como cultura, família, economia, mundo do
14

trabalho, desenvolvimento social, saúde, educação, dentre outros. Lopes (2000) mostra a
heterogeneidade da velhice, argumentando que os sujeitos não envelhecem de maneira igual, cada
um constrói sua própria história, com características e dificuldades diferentes.
Segundo Faleiros, “o contexto domiciliar e a convivência familiar do idoso mudam
significativamente ao longo da vida, principalmente quando há vínculos intergeracionais” (2006, p.
117). Aspectos da família como configurações familiares, conflito entre gerações, estratégias de
vida e sobrevida são alguns dos aspectos que interferem diretamente a vida das pessoas idosas
(grupo em foco). As pessoas idosas são os grupos que mais tem propensão de perda de entes
familiares, o que pode aumentar consideravelmente quadros de isolamento social.
O mundo de trabalho também é um determinante do envelhecimento humano.
Especificamente no caso do Brasil, a aposentadoria se faz presente variavelmente entre as idades de
60 e 70 anos, devido às formas de aposentadoria previstas pela Previdência Social.
A aposentadoria almejada durante o processo de trabalho é sentida de formas diversas
quando a mesma se torna presente. Segundo Bulla, Kaefer (2003) a aposentadoria torna-se um
dificultador do processo de envelhecimento, pois a categoria trabalho é fundamental para o
desenvolvimento humano. “O mito da aposentadoria como início de uma época onde o indivíduo
vai dispor livremente de sua vida e usufruir os bens e serviços que a natureza e a sociedade lhe
oferece é muito forte em nossa sociedade” (MAGALHÃES, 1989, p. 37).

O homem uma vez desligado do mercado de trabalho pela aposentadoria e da


função protetora familiar, tende a marginalizar-se como produtor, o que equivale
dizer como consumidor, quando na fase ativa tende a ser o grande consumidor e
sustentáculo de consumo dos que estão em fase de formação: crianças,
adolescentes e jovens adultos (MAGALHÃES, 1989, p.31).

O processo de ruptura com o mercado de trabalho tende a ser um grande impulsionador do


quadro de isolamento social da pessoa idosa. Há de ressaltar que essa ruptura também marca
significativamente a saúde e sua qualidade de vida.
A velhice é composta por transformações na área da saúde, porém erra-se ao priorizar a
condição biológica como a formadora do comportamento e da saúde do sujeito. Segundo Lopes
(2000, p. 23) “a velhice é um fenômeno biológico, mas entendê-lo só dessa maneira significa
reduzir a questão e não analisa-la em sua complexidade, o que implica não levar em conta aspectos
psicológicos, sociais e culturais”.
Portanto, determinantes biológicos, genéticos e psicológicos, sociais e culturais interferem
na velhice. Assim, durante essa fase aumentam os riscos de doenças. Esses riscos ocorrem
concomitantemente as demais mudanças e transformações na vida da pessoa idosa, o que gera
níveis elevados de stress e depressão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),
15

O isolamento social e a solidão na velhice estão ligados a um declínio de saúde,


tanto física como mental. Em muitas sociedades, homens têm menos chance do que
as mulheres de obter redes de apoio social. Entretanto, em algumas culturas, as
mulheres idosas que ficam viúvas são sistematicamente excluídas da sociedade ou
até rejeitadas por sua comunidade (2005, p. 29).

A ausência de acesso a informação interfere diretamente nas condições de saúde, refletindo


a fragilidade de políticas públicas que favoreçam a inclusão social. Relacionando essa inclusão
social e o processo educativo, vemos a Educação como outro fator determinante da qualidade no
processo de envelhecimento e velhice. A população idosa de hoje vivenciaram tempos de ditadura,
ausência de acesso ao sistema educacional. Parcela significativa dessa população não frequentou a
escola ou não concluíram o ensino fundamental.
Uma das razões para os altos índices de evasão escolar e analfabetismo no país, constitui-
se na estrutura educacional brasileira, pois, como consequência tem-se uma população com a força
de trabalho envelhecida e precarizada, com a predominância de vínculo informal, ausência de
contribuição previdenciária, remunerações insuficientes para subsistência. O trabalho durante a vida
das pessoas idosas de hoje predominaram em atividades ligadas a área rural. “Os valores culturais e
as tradições determinam muito como uma sociedade encara as pessoas idosas e o processo de
envelhecimento” (OMS, 2005, p. 20).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se uma nítida dificuldade em compreender o real significado dos conceitos de


riscos e vulnerabilidades na assistência social. Diante de uma legítima compreensão dos referidos
conceitos, a proteção social como segurança a população idosa será efetiva e eficaz.
Diante disso, faz-se necessário refletir sobre a busca por uma seguridade social ampliada,
que garanta direitos relacionados ao trabalho (seguro desemprego, aposentadorias), proteção à
saúde e benefícios assistenciais, com intuito de reduzir desigualdades e responder à satisfação de
necessidades básicas e específicas da população, especificamente à população idosa, considerando
os riscos e vulnerabilidades às quais estão expostas.
No Brasil, estamos longe desse padrão de seguridade social. O capitalismo brasileiro
implantou um modelo de seguridade social sustentado predominantemente na lógica do seguro.
Desde o reconhecimento legal dos tímidos e incipientes benefícios previdenciários com a Lei Elóy
Chaves em 1923, predominou o acesso às políticas de previdência e de saúde apenas para os
contribuintes da previdência social.
16

E no âmbito da assistência social, temos 60 anos de história consolidada numa relação


público/privado marcada pela filantropia e assistencialismo – cultura difícil de ser rompida e
superada, ainda que a C. F. de 1988 tenha instituído a seguridade social brasileira, e a assistência
social constitui um de seus pilares juntamente com a saúde e a previdência social, não é tarefa
simples implementá-la, pois isto supõe pensar de outra maneira, sobretudo a assistência social,
campo híbrido, nebuloso, e rechaçado por se dispor a atender àqueles que quase se tornaram
invisíveis na nossa sociedade, e que sempre foram negligenciados por esta mesma sociedade, ou
atendidos com meras ajudas, caridades, por pessoas e/ou instituições ditas benevolentes.
Para consolidar a assistência social no campo do direito algumas questões como o
estabelecendo do embate com a filantropia tradicional, a primazia da responsabilidade pública sobre
o privado, ou seja, O Estado precisa se responsabilizar pelos direitos sociais, inclusive o da
assistência social, tem que avançar. É preciso também superar a cultura do favor, do
apadrinhamento e do primeiro-damismo.
É urgente a reforma do Estado, incluindo a sociedade, obviamente, e suas organizações –
estabelecendo novas formas de parcerias: transparente, democrática, em que a população
demandatária seja a prioridade desta relação, em que se supere os favorecimentos, em que o
controle social seja exercido em prol do zelo pelo recurso público, aplicado à garantia das
necessidades sociais, e não em prol de interesses particulares.
Sabemos da reordenação no campo da assistência social, hoje, e esperamos que as velhas
marcas sejam superadas, fazendo emergir um novo pensar e fazer neste campo.

REFERÊNCIAS

BRASIL. DOU. Diário Oficial da União. RESOLUÇÃO Nº 33, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2012.


Aprova a Norma Operacional Básica Do Sistema Único De Assistência Social -Nob/Suas. Brasília:
Distrito Federal, 2012.

______. DOU. Diário Oficial da União. LEI No 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003. Dispõe sobre
o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Brasília: Distrito Federal, 2003.

______. DOU. Diário Oficial da União. LEI Nº 8.842, DE 4 DE JANEIRO DE 1994. Dispõe sobre a
Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Brasília:
Distrito Federal, 1994.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Tipificação Nacional de


Serviços Socioassistenciais. Brasília, 2009.

______. Secretaria Nacional de Assistência Social. Vigilância Socioassistencial. Texto base


apresentado a CIT no processo de revisão da NOB SUAS 2005. Departamento de Gestão do SUAS.
17

Coordenação Geral dos Serviços de Vigilância Socioassistencial. Disponível em:


<www.mds.gov.br/cnas/conferencias-nacionais>. Acesso em: 13 jun. 2013.

BOSCHETI, I. (Org). Política social no capitalismo: tendências contemporâneas. São Paulo:


Cortez, 2009. 280 p.

BULLA, L. C.; KAEFER, C. O. Trabalho e aposentadoria: as repercussões sociais na vida do idoso


aposentado. Textos & Contextos, n. 2, ano II, dez. 2003.

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idosos - Grupo Trocando Ideias e Matinê das Duas: Cine Comentado. Ser Social, n.21, p.169-196,
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CAMARANO, A. A. PASINATO, M. T. O envelhecimento populacional da agenda das políticas


públicas. In: CAMARANO, A. A. (Org.). Os Novos Idosos Brasileiros: muito além dos 60? Rio de
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Serviço Social & Sociedade, ano XXVI, nov. 2005.

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idosa e a necessidade de políticas de proteção como mecanismo de inclusão social. Revista
Eletrônica Qualitas, v. l9. n. 1. 2010.

COUTINHO, C. N. Notas sobre a cidadania e modernidade. Revista Ágora: Políticas Públicas e


Serviço Social, v. 2, n. 3, 2005. Disponível em: <http://www.assistentesocial.com.br>. Acesso em:
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COUTO, B. R. O direito social e a assistência social na sociedade brasileira: uma equação


possível? São Paulo: Cortez, 2010.

JANCZURA, R. Risco ou vulnerabilidade social? Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 11, n. 2,
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LOPES, R. G. C. Saúde na velhice: as interpretações sociais e os reflexos no uso do medicamento.


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______. A terceira idade: estudos sobre envelhecimento. v. 20. n. 48, 2010. São Paulo: SESC-
GETI, 2010.
18

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funcionalidades ao capital. Serviço Social e Sociedade. n. 113. São Paulo: Cortez, 2013.

SIMSON, O. R. M. V;. NERI, A. L.; CHACHIONI, M. (Orgs.) As múltiplas faces da velhice no


Brasil. Coleção Velhice e Sociedade. São Paulo: Editora Alínea, 2003.
19

O ESTATUTO DO IDOSO E O REAJUSTE DO PLANO DE SAÚDE EMBASADO NA


FAIXA ETÁRIA: A LUZ DAS RECENTES DECISÕES DO STJ

ESTATUTO DO IDOSO E O REAJUSTE DO PLANO DE SAÚDE EMBASADO NA FAIXA


ETÁRIA: A LUZ DAS RECENTES DECISÕES DO STJ Kelly Cristina Canela
Kelly Cristina Canela1

Resumo
O presente trabalhado busca examinar o tema do reajuste de mensalidade de plano de saúde de segurado
idoso pela simples fato da idade. O Estatuto do Idoso trouxe um relevante dispositivo sobre esta questão, mas
surgiu uma divergência jurídica acerca da sua aplicabilidade aos contratos de plano de saúde celebrados
anteriormente à sua vigência. As recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça possuem entendimento
consolidado sobre esta questão e o seu entendimento contribui para a concretização da função social dos
contratos, bem como para a efetivação da dignidade humana da pessoa idosa.

Palavras-Chave: Planos de saúde; Idosos; Consumidor.

INTRODUÇÃO

O direito contratual contemporâneo está intimamente ligado à massificação das relações


negociais e, ao mesmo tempo, à concretização da dignidade humana. O contrato não é mais um
simples instrumento da autonomia da vontade para regular interesses particulares.
Vivemos o fenômeno da sociedade de consumo. Este não deve ser reprimido, mas, ao
contrário, deve ser colocado a serviço do interesse público (OLIVEIRA, 2004, p. 73).
O Código Civil de 2002 afirma expressamente, nos seus arts. 421 e 422, que o contrato deve
cumprir a sua função social e que as partes contratantes devem obedecer aos princípios da
probidade e da boa-fé objetiva. Vivemos um período, sobretudo, de ética na relação contratual e de
justiça contratual.
Os contratos de planos de saúde, contratos de adesão e de trato sucessivo, inserem-se
perfeitamente neste contexto. Ainda mais quando se relacionam com os direitos fundamentais dos
idosos.
E é exatamente esta perspectiva que deve acompanhar o presente estudo.

1. A LEGISLAÇÃO APLICADA

1
Docente do Departamento do Direito Privado da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais/UNESP- Câmpus de
Franca
20

A Lei nº 10.741/03, Estatuto do Idoso, foi promulgada em 1º de janeiro de 2004. Diante de


um movimento internacional de reconhecimento de necessidade de tutela dos idosos – apenas a
título de exemplo, cabe mencionar o relevante instrumento internacional denominado Plano de
Ação Internacional sobre o Envelhecimento de Madrid, de 2002 –, surgiu, em território nacional,
uma legislação especializada para a promoção e a tutela dos direitos fundamentais dos idosos.
Trata-se de uma legislação de interesse social e de ordem pública. Dentre os direitos
assegurados, destaca-se a proibição de discriminação dos idosos por ocasião do reajuste de
mensalidade dos contratos de planos de saúde:

Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do


Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em
conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção,
proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que
afetam preferencialmente os idosos.
§ 3o. É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança
de valores diferenciados em razão da idade.

Tal dispositivo representa um grande avanço para a concretização da justiça contratual e


para a tutela dos idosos perante as seguradoras do plano de saúde.
Entretanto, é comum verificar a situação na qual uma pessoa paga por vários anos um plano
de saúde para o momento em que mais tiver necessidade, mas, ao completar a idade de 60 anos,
recebe a comunicação da seguradora de que a sua mensalidade será reajustada, sofrendo um
significativo aumento pelo simples fato da sua idade. Esta possibilidade, sem dúvida, não respeita a
função social do contrato expressa no art. 412 do Código Civil: “a liberdade de contratar será
exercida em razão e nos limites da função social do contrato”.
É evidente que os reajustes de mensalidades de plano de saúde devem ser realizadas,
inclusive para manter o equilíbrio contratual, todavia, tal reajuste deve ser proporcional e sua
previsão deve ser expressa, bem como o seu percentual deve constar em cláusula contratual.
Segundo art. 6, inc. III, do Código de Defesa do Consumidor, o consumidor tem o direito
básico de receber informações adequadas e claras sobre o serviço prestado, bem como sobre o
preço pago pelo mesmo. Além disso, determina o inc. IV do mesmo dispositivo legal que ele deve
ser protegido “contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e
serviços”.
Desta forma, o reajuste, a sua forma e percentual de aplicação devem ficar claramente
consignados no instrumento contratual, pois a informação é um direito essencial do consumidor. A
simples previsão de reajuste, sem a apresentação de um critério objetivo, importa claramente em
abusividade.
21

No tocante à proteção contratual, importa destacar dois importantes dispositivos da


legislação consumerista:
Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os
consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio
de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a
dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

Art. 51. Não nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas
ao fornecimento de produtos e serviços que:
IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou seja, incompatíveis com a boa-fé ou a
equidade.
X – permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira
unilateral.

A cláusula de reajuste, portanto, deve ser clara e apresentar critérios objetivos


antecipadamente. O novo valor deve de ser proporcional, pois, se gerar desvantagem exagerada
para o segurado, será considerada nula de pleno direito por abusividade.
Quanto à necessidade de apresentação de critérios objetivos para que o reajuste não ocorra
de forma unilateral, pode-se mencionar o art. 15 da Lei nº. 9656/98:

Art. 15. A variação das contraprestações pecuniárias estabelecidas nos contratos de


produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, em razão da idade do
consumidor, somente poderá ocorrer caso estejam previstas no contrato inicial as
faixas etárias e os percentuais de reajustes incidentes em cada uma delas, conforme
normas expedidas pela ANS, ressalvado o disposto no art. 35-E.

Os contratos de plano de saúde contemporâneos possuem, em sua maioria, estipulações


sobre as faixas etárias e os percentuais aplicados para o reajuste. Todavia, os contratos mais antigos
silenciam a respeito (LOPES DA SILVA, 2008, p. 538).
Importa destacar, ainda, que tanto as legislações do consumidor e do idoso são estatutos que
tutelam grupos marcados pela vulnerabilidade. Observa-se, portanto, que o contrato de plano de
saúde de idoso implica em dupla vulnerabilidade, significando que estes contratos demandam uma
análise jurídica de maior comprometimento social.

2. APLICABILIDADE DO ESTATUTO DO IDOSO AOS CONTRATOS


ANTERIORES À SUA VIGÊNCIA

Em razão do princípio da irretroatividade, entende-se que uma lei não pode ser aplicada a
negócios jurídicos celebrados antes da sua entrada em vigor. Configurar-se-ia, no caso em tela, a
22

violação do preceito constitucional referente ao reconhecimento do direito adquirido e do ato


jurídico perfeito, consoante o art. 5º, inc. XXXVI.
Diante desta questão, um importante questionamento apresentado diz respeito à
aplicabilidade do § 3º, do art. 15 do Estatuto do Idoso aos contratos de planos de saúde firmados
antes da sua vigência.
Todavia, este entendimento acima exposto não deve ser aplicado quando se trata de uma
norma de ordem pública e de nítido interesse social, pois, neste caso, a nova lei deve ter aplicação
imediata, incidindo, inclusive, sobre contratos firmados antes da sua vigência. E este é justamente o
caso do Estatuto do Idoso.

3. A POSIÇÃO DA AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS)

Em âmbito nacional, a regulamentação do setor de planos de saúde é operada pela Agência


Nacional de Saúde Suplementar.
O entendimento da ANS indica que o § 3º do art. 5º do Estatuto do Idoso apenas deve incidir
nos contratos de plano de saúde firmados após a entrada em vigor desta lei, ou seja, após o dia 1º de
janeiro de 2004.
Além disso, a Agência entende que, dependendo da data da assinatura do negócio jurídico, é
possível a verificação de três situações distintas quanto ao reajuste das mensalidades por faixa etária
(TRETTEL, 2008, p. 5 e 6):
1ª) Aplica-se a vedação do § 3º do art. 5º do Estatuto do Idoso aos contratos firmados a
partir de 1º de janeiro de 2014. Segundo a Resolução Normativa nº 63/03 da ANS, não pode haver
reajuste de mensalidade para pessoas com a idade igual ou superior a 60 anos. O último aumento da
mensalidade poderá ser até os 59 anos. Neste sentido, foram estabelecidas dez faixas etárias para o
reajuste em tela. Entre as faixas II e IX, o aumento ocorre a cada quatro anos.
I - de 0 a 18 anos;
II - de 19 a 23 anos;
III - de 24 a 28 anos;
IV - de 29 a 33 anos;
V - de 34 a 38 anos;
VI - de 39 a 43 anos;
VII - de 44 a 48 anos;
VIII - de 49 a 53 anos;
IX - de 54 a 58;
X - de 59 anos ou mais;
23

2ª) Aos planos contratados a partir de, ou seja, a partir da entrada em vigor da Lei nº
9656/1998, sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde, aplica-se a regulamentação do
Conselho de Saúde Suplementar, Resolução nº 6/98, que estabelece o aumento das mensalidades em
razão das faixas etárias. O percentual de aumento, por outro lado, não foi objeto do regulamento.
Desta forma, existem sete faixas:
I - de 0 a 17 anos;
II - de 18 a 29 anos;
III - de 30 a 39 anos;
IV - de 40 a 49 anos;
V - de 50 a 59 anos;
VI - de 60 a 69 anos;
VII - de 70 anos em diante.
3ª) Os planos de saúde contratados anteriormente a 2 de janeiro de 1999, ou seja, à Lei de
Planos de Saúde, não possuem uma regulamentação legal própria. São os denominados “planos
antigos”. Neste caso, segundo a ANS, aplicar-se-ia a regra anterior, deste que a hipótese esteja
prevista expressamente no contrato, isto é, desde que haja previsão das faixas etárias e do
percentual aplicado. Não havendo tais previsões, caberia à ANS a autorização de reajuste por faixa
de idade.

4. AS RECENTES DECISÕES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Segundo o entendimento jurisprudencial contemporâneo, os contratos de plano de saúde


devem apresentar cláusulas expressas e precisas sobre “percentuais a serem adotados para a
operacionalização dos aumentos relativos à variação de idade dos consumidores”. Neste sentido,
cláusulas genéricas sobre este tema têm sido consideradas nulas por diversos julgados (LOPES DA
SILVA, 2008, p. 538).
Importa mencionar que há entendimento já consolidado no Superior Tribunal de Justiça
considerando abusivo o aumento de mensalidade de segurada idosa apenas em razão da mudança
de faixa de idade, mesmo no caso de contrato celebrado anteriormente ao advento do Código de
Defesa do Consumidor e ao Estatuto do Idoso. Neste sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. PLANO DE SAÚDE. ANTECIPAÇÃO DE
TUTELA. ALEGADA AUSÊNCIA DE REQUISITOS. SÚMULA 7/STJ.
AUMENTO DE MENSALIDADE BASEADO EXCLUSIVAMENTE EM
MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA. ABUSIVIDADE. INCIDÊNCIA DO CDC E
DO ESTATUTO DO IDOSO. ACÓRDÃO RECORRIDO EM SINTONIA COM A
24

JURISPRUDÊNCIA DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO, COM


APLICAÇÃO DE MULTA.
(AgRg no AREsp 95.973/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 06/08/2013, DJe 12/08/2013)

O mesmo Ministro reafirma o seu entendimento, declarando, a seguir, tratar-se de


jurisprudência pacífica na Corte:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PLANO


DE SAÚDE.
REAJUSTE EM RAZÃO EXCLUSIVA DE MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA.
INCIDÊNCIA DO CDC E DO ESTATUTO DO IDOSO. ABUSIVIDADE.
JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DESTA CORTE. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
(AgRg no AREsp 244.541/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/08/2013, DJe 15/08/2013)

Não há dúvida de que é nula a cláusula de reajuste de mensalidade pelo exclusivo fato de
implemento da idade de 60 anos, mesmo no caso de contrato firmado anteriormente à vigência do
Estatuto do Idoso. A ratio deste entendimento seria o afastamento da irretroatividade da Lei
nº10.741/2003, pois o Estatuto em questão é uma norma de ordem pública (vedação de
discriminação em razão da idade), tendo, por este fato, aplicação imediata. Além disso, há a
consideração da abusividade de cláusula contratual, pois fica configurado um obstáculo à
continuidade da contratação por parte do segurado. A seguradora deve comprovar o desequilíbrio
contratual para promover o reajuste, ou seja, a proporção entre o novo valor da mensalidade e o
potencial aumento da utilização dos serviços. Neste sentido:

AGRAVO REGIMENTAL. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE EM FUNÇÃO DE


MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA. CONTRATO CELEBRADO
ANTERIORMENTE À VIGÊNCIA DO ESTATUTO DO IDOSO. NULIDADE
DE CLÁUSULA.
1.- É nula a cláusula de contrato de plano de saúde que prevê reajuste de
mensalidade baseado exclusivamente na mudança de faixa etária, ainda que se trate
de contrato firmado antes da vigência do Estatuto do Idoso, porquanto, sendo
norma de ordem pública, tem ela aplicação imediata, não havendo que se falar em
retroatividade da lei para afastar os reajustes ocorridos antes de sua vigência, e sim
em vedação à discriminação em razão da idade.
2.- Ademais, o art. 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor permite reconhecer
a abusividade da cláusula, por constituir obstáculo à continuidade da contratação
pelo beneficiário, devendo a administradora do plano de saúde demonstrar a
proporcionalidade entre a nova mensalidade e o potencial aumento de utilização
dos serviços, ou seja, provar a ocorrência de desequilíbrio ao contrato de maneira a
justificar o reajuste.
3.- Agravo Regimental improvido.
(AgRg no REsp 1324344/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 21/03/2013, DJe 01/04/2013)
25

Em outro interessante julgado, agora tratando do tema na perspectiva da ação coletiva


proposta pelo IDEC, o Instituto Brasileiro de Defesa do consumidor, foram confirmados os
entendimentos acima expostos, mas também ficou consignada a impossibilidade, via recurso
especial, de analisar as cláusulas dos diversos contratos individuais de plano de saúde. Todavia,
afirmou-se que a o reajuste de mensalidade em razão de mudança de faixa etária apenas é possível
quando presentes os seguintes requisitos: 1º) previsão de cláusula contratual específica; 2º)
observância dos limites impostos na Lei de planos de Saúde; e 3º) atenção ao preceito da boa-fé
objetiva:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO


CIVIL. CONSUMIDOR. AÇÃO COLETIVA. PLANO DE SAÚDE.
CLÁUSULA DE REAJUSTE POR MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA.
SEGURADO IDOSO. INCREMENTO DO RISCO SUBJETIVO.
DISCRIMINAÇÃO. ABUSO A SER AFERIDO CASO A CASO. CONDIÇÕES
QUE DEVEM SER OBSERVADAS PARA VALIDADE DO REAJUSTE. LEI
9.656/98. APLICAÇÃO A CONTRATOS ANTERIORES A SUA VIGÊNCIA.
TRATO SUCESSIVO. POSSIBILIDADE. INDICAÇÃO, EM CADA
CONTRATO, DO PERCENTUAL DE REAJUSTE INCIDENTE EM CADA
FAIXA ETÁRIA. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME (SÚMULA 5/STJ).
CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DAS VERBAS SUCUMBENCIAIS.
AFASTAMENTO (CDC, ART. 87). EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
ACOLHIDOS COM ATRIBUIÇÃO DE PARCIAL EFEITO INFRINGENTE
PARA AFASTAR OS ÔNUS SUCUMBENCIAIS. (EDcl no REsp 866.840/SP,
Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 28/05/2013, DJe
11/06/2013)

5. CONCLUSÃO

Diante do exposto, observa-se que o Estatuto do Idoso trouxe relevantíssima contribuição


para o cenário sociojurídico nacional.
No tocante à sua aplicação aos contratos de plano de saúde, a sua incidência contribuiu para
a efetivação dos princípios da dignidade humana e da função social do contrato. Cumpre-se, desta
forma, a eticidade nas relações contratuais e a justiça contratual.
Apesar do entendimento da Agência Nacional de Saúde Suplementar no sentido de que o
Estatuto do Idoso, no que tange ao tema em análise, não se aplica aos contratos celebrados
anteriormente à sua entrada em vigor, não há dúvidas de que o Superior Tribunal de Justiça tem
aplicado a vedação de discriminação estudada a todos os planos de saúde em execução,
independentemente do momento em que foram firmados.
26

Os reajustes dos planos de saúde são necessários para o equilíbrio contratual e para cumprir
a própria função social dos contratos, mas eles devem obedecer aos parâmetros traçados pela Lei de
Planos de Saúde, pelo Estatuto do Idoso e, especialmente, pelo Código de Defesa do Consumidor.
No plano de saúde de segurado idoso verifica-se dupla vulnerabilidade. Deve-se, pois,
garantir a sua respectiva dupla tutela.

REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, J. E. F. Reformatio in pejus do Código de Defesa do Consumidor: impossibilidade em


face das garantias constitucionais de proteção. In: O direito do consumidor no 3º milênio.
Caderno jurídico da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, ano 3, v. 2, n. 6, 2004, pp.
73-94.

SILVA, J. S. L. Planos de saúde e boa-fé objetiva: uma abordagem crítica sobre os reajustes
abusivos. Salvador: Editora JusPodium, 2008.

TRETTEL, D. B. Estudo sobre a aplicação do Estatuto do Idoso aos planos de saúde – a


questão dos reajustes por mudança de faixa etária. São Paulo: Idec, 2008.
27

OS CENTROS DE CONVIVÊNCIA PARA PESSOAS IDOSAS NO BRASIL


OS CENTROS DE CONVIVÊNCIA PARA PESSOAS IDOSAS NO BRASIL Lucélia Cardoso G e
Nanci Soares
Lucélia Cardoso Gonçalves1
Nanci Soares2

Resumo
Diante da complexidade do envelhecimento humano, o presente trabalho tem por finalidade refletir sobre os
centros de convivência para pessoas idosas, seu processo histórico, suas características e seu trabalho
conforme a política pública inserida. O interesse pela formulação do presente trabalho se baseou na
insuficiência de informações que retratem os centros de convivência e suas especificidades, bem como a
confusão conceitual do que venha a realmente ser um “centro de convivência”. O mesmo não tem a
pretensão de esgotar o tema, mas de mergulhar na natureza dos centros de convivência, especificamente os
“centros de convivência de idosos”. Nesse sentido, essa análise contribuirá em novos olhares frente o
processo histórico dos serviços, bem como de sua estrutura atual.

Palavras-chave: Centro de Convivência; Pessoa Idosa; Proteção Social.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é uma das maiores conquistas da humanidade,


contrapondo assim com vários desafios. O Brasil é um dos 10 países em maior quantidade de
pessoas idosas no mundo e segundo dados do IBGE 2008 em 2050 serão 100 crianças para cada
172,7 pessoas idosas. Vários estudos também apontam os impactos do envelhecimento humano na
seguridade social brasileira, a saber, Saúde, Assistência Social e Previdência Social. Há de ressaltar
que a população idosa é a faixa etária que mais cresce no Brasil e demanda atenção em todos os
campos do conhecimento.
Cabe a esses estudos, segundo Bulla, Soares, Kist (2007, p. 173), “ressaltar alguns aspectos
do envelhecimento e da importância da atuação profissional em espaços coletivos que visem à
cidadania, à participação e à promoção dos direitos sociais desse segmento populacional. Esses três
objetivos estão estreitamente ligados, pois a cidadania supõe participação e direitos”.

1
Assistente Social. Mestranda no Programa da Pós-Graduação em Serviço Social UNESP/Faculdade de Ciências
Humanas e Sociais - Câmpus de Franca. Participa do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Envelhecimento, Política
Pública e Sociedade - UNESP. E-mail: lucelia_cardoso@yahoo.com.br.
2
Professora Doutora da UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – Câmpus de Franca. Coordenadora da
Universidade Aberta a Terceira Idade - UNATI e pesquisadora da temática do envelhecimento humano. E-mail:
nancisoares@netsite.com.br
28

As autoras mostram também que os grupos de convivência podem ser vistos como um
instrumento de organização coletiva e de incentivo à participação social. “O processo de
participação social, viabilizado pela dinâmica nos Grupos de Convivência, quando bem coordenado
e orientado, é de extrema importância, pois pode trazer mudanças significativas para a vida dos
sujeitos envolvidos” (BULLA, SOARES, KIST, 2007, p. 175).
O nosso foco de estudo constitui-se nos “Centros de Convivência de Idosos”. Vale destacar
que atualmente, o termo utilizado não é “idoso”, mas sim “pessoa idosa”. No entanto, quando
referimos o termo “idoso”, nos referimos ao nome “Centro de Convivência do Idoso” que perpassa
todo um contexto histórico.
Esses serviços são um dos que mais crescem no Brasil integrando várias políticas públicas
como Assistência Social, Saúde, Previdência Social, bem como Associações, Empresas, ONGs,
dentre outros.
Falar sobre Centro de Convivência para pessoas idosas é falar de um dos maiores desafios
conceituais nesse tempo. Além de poucos estudos e materiais direcionados a esses serviços, o termo
“CCI” é um termo que muitas vezes gera confusão, pois sua origem, conceito e características são
elementos pouco precisos.
Muitos trabalhos e pesquisas mencionam os CCIs ou suas atividades no decorrer das
análises, mas existem poucas reflexões sobre o que realmente é CCI. Mas o que realmente é CCI? O
que esses serviços propõem? Quem é o público de atendimento? Como é organizado e desenvolvido
seu trabalho? Existe diferença entre CCIs?

O que é Centro de Convivência para idosos? Um lugar onde idosos convivem, mas
sob que projeto, objetivos e procedimentos? Um Centro de Convivência se
caracteriza por ter um projeto pedagógico embasando suas atividades? Ou qualquer
lugar onde idosos se encontram pode ser considerado um Centro de Convivência?
(SILVA, 2004, p. 11).

Algumas dessas indagações nos motivaram a resgatar o processo histórico dessas


instituições, serviços, programas, ações ou propostas, analisando sua estrutura atual e seu trabalho,
o que nos auxilia entender o que realmente significa um “Centro de Convivência de Idosos”.

1. CENTRO DE CONVIVÊNCIA DO IDOSO: PERCURSO HISTÓRICO

Existem poucos materiais que mostrem com precisão a origem dos CCIs e seus objetivos.
Rodrigues (2001) ao analisar a retrospectiva histórica da Política Nacional do Idoso no Brasil,
mostra alguns dados que nos dão uma visão geral do contexto histórico dos CCIs no Brasil.
Segundo a autora, na década de 1970 começa a ser visualizado no Brasil um contingente
29

significativo de pessoas idosas que reordena o olhar do governo a questão social da pessoa em
processo de envelhecimento e velhice. Mais especificamente em 1976 são realizados 03 seminários
regionais que discutiam a situação da pessoa idosa no país. Este ano passa a compor o “[...] marco
de uma nova era nas atenções públicas com relação a velhice”. (RODRIGUES, 2001, p. 150).

Os centros e grupos de convivência de idosos são formas de associativismo que


começaram a ser implementados no Brasil na década de 1960, como alternativas de
convivência e participação de idosos saudáveis que viviam isolados, sobretudo em
decorrência da diminuição do número de membros da família, dos baixos
rendimentos da aposentadoria e da inexistência de políticas públicas de proteção.
(DAL RIO, MIRANDA, 2009, p. 17).

Historicamente, surgem os grupos de convivência (inseridos no PAI – Programa de


Assistência ao Idoso) como um dos primeiros focos de assistência a população por iniciativa do
então Instituto Nacional da Previdência Social - INPS. Esses grupos eram direcionados a pessoas
idosas inseridas na previdenciária social, nos postos de atendimento do INPS.

A partir da década de 1970, o governo federal introduziu reformulações nos


programas da Previdência e da Assistência Social que visavam garantir o
atendimento governamental a esse segmento populacional que apresentava um
aumento acelerado. Para tanto, foram definidas áreas específicas, cabendo à Legião
Brasileira de Assistência (LBA) a responsabilidade de desenvolver programas de
assistência social, inclusive o Programa de Assistência ao idoso (BULLA,
SOARES, KIST, 2007, p. 177).

Já em 1987, com a reestruturação da Legião Brasileira de Assistência (LBA) e do PAI,


surge o PAPI – Programa de Apoio a Pessoa Idosa. O PAPI tinha

[...] ações voltadas para as pessoas idosas, visando dar-lhes oportunidades de maior
participação em seu meio social e, também, desenvolver a discussão ampla de sua
situação como cidadãos, suas reivindicações e direitos, além de valorizar todo o
potencial de vivência das comunidades (RODRIGUES, 2001, p. 151).

Com isso, nota-se que o foco a população idosa no Brasil ocorre concomitantemente a 1º
Assembleia Mundial sobre envelhecimento humano em Viena (1982) e na 2º Assembleia mundial
realizada em Madri – Espanha em 2002.
Em 1989, o Programa Nacional de Voluntariado (PRONAV) da LBA se propõe a entregar
130 centros de convivência para pessoas idosas (Rodrigues, 2001, p. 151). Esses centros de
convivência trabalhariam desenvolvendo a convivência intergeracional e seriam implantados em
diversos Estados brasileiros. As ações, projetos ou programas dessa época sempre se propunham a
trabalhar a convivência em seus múltiplos aspectos.
30

Nesse percurso, Rodrigues mostra que na década de 1990 há a mobilização das


Universidades Federais com cursos destinados a população idosa. Concomitantemente, grande
maioria das prefeituras e Conselhos de Pessoas Idosas implantam programas municipais com ênfase
nos grupos de convivência. Há de ressaltar também que:

Em nível Federal, Estadual e Municipal, há muito o que dizer das entidades


privadas. Há inúmeros Serviços, Associações de Idosos, Entidades congregando
aposentados, (associações e federações), Centros de Convivência, Grupos de
Convivência em paróquias de credos religiosos diferentes, em associações
comunitárias, filantrópicas, etc. (RODRIGUES, 2001, p. 153, 154).

Em 1961 surge a Associação Brasileira de Geriatria e Gerontologia no Rio de Janeiro e em


1985, a Associação Nacional de Gerontologia – ANG. A mais destacada no trabalho junto a
população idosa é o Departamento Regional do SESC (Serviço Social do Comércio) com fundação
em 1946. O SESC atuava além de diversas atividades, também por meio de Centros de Convivência
para pessoas idosas. Este serviço serviu de modelo para os demais departamentos regionais, bem
como centros de convivência e UNATIs que surgiriam ao longo dos anos. Segundo Bulla, Soares,
Kist (2007, p, 178) ”são grupos diferenciados que não possuem financiamento governamental para
atendimento que prestam aos idosos com melhor situação econômica”. Argumenta ainda autoras
que a parcela da população idosa atendida nestes programas ainda é muito reduzida se comparada à
imensa população de brasileiros idosos.
O SESC é o pioneiro do país em trabalho social com pessoas idosas e possivelmente o
pioneiro na América Latina. Este trabalho social teve e tem como objetivo a oferta de uma melhor
qualidade de vida e saúde integral a população em processo de envelhecimento e velhice. Este
trabalho compõe a convivência geracional e intergeracional propiciando o compartilhar de
expectativas e projetos de vida. Reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), este
trabalho acontece desde o início da década de 1960, mais precisamente no ano de 1963 (DAL RIO,
MIRANDA, 2009, p. 32), no SESC Carmo em São Paulo, atendendo milhares de pessoas em
diversas regiões. As atividades oferecidas pelos SESC referem-se a atividades físicas, cursos e
oficinas, atividades de voluntariado, cinema, educação em saúde, recreação, Projeto Era uma Vez,
dentre outros.
O Trabalho social com pessoas idosas além de resgatar a identidade da população atendida,
visa a operacionalização da educação e cidadania por meio de projetos implantados nas diversas
regiões do país, sempre levando em conta suas particularidades, cultura e identidade social.
Há de ressaltar que por ser o pioneiro no trabalho social com pessoas idosas, o SESC
participou ativamente de discussões e lutas na defesa da pessoa idosa. Os eventos que o mesmo
participou referem-se as duas Assembleias Mundiais sobre Envelhecimento Humano, a saber: 1º
31

Assembleia Mundial sobre Envelhecimento Humano em Viena no ano de 1982 e a 2º Assembleia


Mundial sobre Envelhecimento Humano ocorrida em Madri-Espanha no ano de 2002. Além disso, o
SESC colaborou também na formulação da Política Nacional do Idoso (1994) e do Estatuto do
Idoso (2003).
O isolamento social foi um dos maiores motivos que impulsionou a criação desses
serviços. A população idosa sofre várias vulnerabilidades e riscos em todos os campos da vida
social. O isolamento social e a depressão são um dos fenômenos mais visíveis no cotidiano de vida
dessa população. “A quebra desse isolamento é o ponto de partida para o desejo de criar, de
interferir, de marcar o meio com a sua ação” (SILVA, 2004, p. 13).
Os riscos sociais concernentes a pessoa idosa se referem a violação de direitos social,
questões como violência intrafamiliar, situação de rua, rompimento do convívio familiar, dentre
outros. As vulnerabilidades se referem a ruptura com o processo de trabalho e como consequência a
privação de renda ou sua precarização, dificuldade de acesso a informação, serviços
socioassistenciais e públicos em geral, dentre outros.

As pessoas idosas apresentam maior probabilidade de perder parentes e amigos, de


ser mais vulneráveis à solidão, isolamento social e de ter um “menor grupo social”.
O isolamento social e a solidão na velhice estão ligados a um declínio de saúde
tanto física como mental (OMS, 2008, p. 29).

Ampliando a gama das expressões da questão social referentes ao processo de


envelhecimento e velhice, temos: perda de familiares e amigos, ruptura com o processo de trabalho,
aumento de quadros de doenças, violência e maus tratos, negligência, abandono, discriminação,
drogadição, quedas, ausência ou insuficiência de moradia, aspectos relacionados à biologia e
genética, depressão e inúmeros outros fatores que ampliam questão do envelhecimento humano. A
existência e origem dessas Instituições ou Serviços podem estar ligadas ao processo de prevenção
desses riscos sociais, buscando propiciar a convivência entre os mesmos e entre outras gerações, o
que atua diretamente na redução desses quadros.

2. O QUE É UM “CENTRO DE CONVIVÊNCIA PARA PESSOAS IDOSAS” (CCI)?

Ao mergulhar no campo dos CCIs é notável as atribuições que os mesmos tem em todo o
território brasileiro. Alguns conceitos marcam a identidade do Serviço, porém o conceito central
sobre os CCIs perpassa a ideia de Convivência, sociabilidade.
Conforme o disposto no Decreto n° 1948, de 03 de julho de 1996, o CCI “[...] é uma
modalidade não asilar de atendimento destinado à permanência diurna do idoso [...], onde são
32

desenvolvidas atividades físicas, laborativas, recreativas, culturais, associativas e de educação para


a cidadania”. (BRASIL, 2011, p. 2). A Política Nacional do Idoso (em seu capítulo IV) também
menciona a relevância dos Centros de Convivência, delineando caminhos para sua implantação.

Artigo 10 - Na implementação da política nacional do idoso, são competências dos


órgãos e entidades públicos:
I - na área de promoção e assistência social:
a) prestar serviços e desenvolver ações voltadas para o atendimento das
necessidades básicas do idoso, mediante a participação das famílias, da sociedade e
de entidades governamentais e não-governamentais.
b) estimular a criação de incentivos e de alternativas de atendimento ao idoso,
como centros de convivência, centros de cuidados diurnos, casas-lares, oficinas
abrigadas de trabalho, atendimentos domiciliares e outros (BRASIL, 2010, p. 09,
10. grifo nosso).

Os “centros de convivência” expressos nos referidos textos e em diversos estudos e


pesquisas inseridos nesses contextos, auferem o desenvolvimento de ações que promovam a
sociabilidade. Nesse sentido, o objetivo geral desse serviço é a melhoria da qualidade de vida da
população idosa através de atividades que contribuam no processo de “convivência familiar e
comunitária” (BRASIL, 2003).
Especificamente, esses serviços também direcionam ações que possibilitam o
desenvolvimento de projetos de vida, integração entre várias gerações, aquisição de novos
conhecimentos e novas habilidades, construção da cidadania, socialização ou (res) socialização.

A socialização é a meta central dos centros e grupos de convivência de idosos, que


utilizam como estratégia o trabalho coletivo, com atividades regulares e
permanentes que incentivam o convívio, desenvolvendo habilidades nas relações
interpessoais (DAL RIO, MIRANDA, 2009, p.18).

Os CCIs são entendidos como locais de permanência diurna da pessoa idosa. Nesse local,
são ofertadas e desenvolvidas várias atividades, que vão desde artesanatos, artes, até passeios,
atividades físicas e educacionais, todas com o intuito de convivência, fortalecimento de vínculos.
Como afirma Camarano; Pasinato, os CCIs visam, “[...] contribuir para a autonomia, o
envelhecimento ativo e saudável, a prevenção do isolamento social e a geração de renda”. (2004. p.
281).
Há vários tipos de Centros de Convivência no Brasil para diversos públicos. Estes vão
desde Centros de Convivência infantil, para pessoa com deficiência física e mental, centros de
convivência para famílias, para comunidade negra, para população com DST/AIDS, para juventude,
dentre outros.
33

Existem Centros de Convivência de Idosos nas políticas públicas de Saúde, Educação,


Assistência Social, nas Associações ou grupos vinculados a esfera religiosa, dentre outros. Cada
CCI tem um objetivo comum quando o propósito é trabalhar a convivência, a sociabilidade, porém,
cada um possui sua especificidade e identidade particular quando inserido em um direcionamento
baseado na legislação. A exemplo disso, enquanto o CCI na Assistência Social envolve aspectos do
Sistema Único de Assistência Social (SUAS), Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais e
Política Nacional de Assistência Social, o CCI na Saúde trabalha dentro dos propósitos do Sistema
Único de Saúde (SUS), Política Nacional de Atenção Básica, que abrange a promoção, proteção e
recuperação da saúde, trabalho este vinculado a atenção primária a saúde (ou atenção básica).
O trabalho de um centro de convivência deve basear-se numa pedagogia libertadora para
que de fato a redução de quadros de isolamento social seja realidade. O envelhecimento humano é
heterogêneo, o que permite o maior e melhor impacto social nas vidas das pessoas idosas. Um
trabalho como esse deve valorizar as potencialidades, particularidades e conhecimento de cada
pessoa, para que venha a trabalhar a ampliação desses aspectos e o surgimento de outros, como a
cidadania ou a autonomia.
O CCI é um trabalho de constante (des) construção de valores morais, pessoais e sociais.
Preconceitos, estigmas, hábitos estáticos, desengajamento são alguns dos valores a serem
transformados, dando lugar a novos projetos de vida, processo de consciência, mudança de hábitos,
dentre outros.

2.1. OS CENTROS DE CONVIVÊNCIA DE IDOSOS NO CONTEXTO EDUCACIONAL:


AS UNIVERSIDADES ABERTAS A TERCEIRA IDADE – UNATI

As Universidades Abertas a Terceira Idade – UNATI surgiram nas décadas de 1970 na


França e nos Estados Unidos e posteriormente no Brasil, nas décadas de 1980 a 1990, quando as
universidades abrem espaço para ações (programas) que visam a inserção de pessoas idosas na
Universidade, possibilitando a ampliação do processo educacional. Este trabalho ao longo dos anos
se estrutura e se caracteriza nas Unatis. A Unati é considerada um CCI inserido na política
educacional, pois possibilita a convivência entre as pessoas idosas dentro do contexto educacional.
O desenvolvimento deste trabalho se relaciona diretamente a sociabilidade e a educação. Conforme
Silva, este CCI é “[...] espaço privilegiado de encontros e intenções pedagógicas voltadas para a
pessoa idosa, considerada em toda a sua multidimensionalidade”. (SILVA, 2004, p. 10).
A Unati, inserida no espaço da universidade pública (municipal, estadual ou federal) e
privada, desenvolve atividades que vão desde artes até inserção dos participantes nos cursos de
graduação do campus universitário. As atividades desse CCI muitas vezes são implantadas e
34

conduzidas como programas de extensão universitária. Nesse aspecto, a fragilidade das atividades
reflete no completo vínculo dos profissionais com os participantes, o que prejudica diretamente o
impacto social do serviço.

As instituições, tato públicas quanto privadas, costumam oferecer os cursos como


programas de extensão universitária, sem exigência de pré-requisitos de
escolaridade, além da alfabetização, para pessoas acima de 45 anos. Estruturam-se
em regime sequencial ou modular, em geral com disciplinas e atividades de
conteúdo psicológico, sociológico e médico sobre o envelhecimento, atualização
cultural, noções básicas sobre informática e atividades de lazer, físicas e de
expressão artísticas. (DAL RIO, MIRANDA, 2009, p. 21).

Cada Unati tem sua particularidade, pois estão inseridas em contextos e universidades
diferentes, com profissionais, atividades e público-alvo distintos.
Concomitantemente aos demais centros de convivência, as Unatis também buscam a
redução de quadros de isolamento social e solidão através da oferta de atividades que promovam a
convivência, a sociabilidade.

Quando pensamos em um Centro de Convivência para pessoas idosas, o que


estamos tentando enfrentar são questões como reduzir os problemas de solidão dos
idosos, melhorar seu contato social e desenvolver novas capacidades em idade mais
avançada, além de oferecer tratamento qualificado quando alguma patologia está
presente. (SILVA, 2004, p. 11).

Uma peculiaridade desse centro de convivência é que os profissionais que atuam


diretamente como monitores de oficinas e atividades internas da Unati, trabalham na perspectiva do
voluntariado, por se caracterizar em uma Universidade – espaço público.
As atividades desenvolvidas variam de Universidade para Universidade. Em geral são
oferecidas atividades, por áreas temáticas (saúde, lazer, arte e cultura, novos conhecimentos) através
de oficinas e cursos de: informática, musicoterapia, teatro, biodança, línguas estrangeiras,
fotografia, pintura, oficina da memória, orientação postural, oficina de culinária, ginástica chinesa,
contação de histórias, dança de salão, violão, artes, dentre outros.
A característica das atividades e desses serviços é lapidada conforme a estrutura do campus
e dos cursos oferecidos. Em uma Unati inserida em uma Faculdade de Ciências Humanas e Sociais,
as atividades serão diferentes da Unati inserida em uma Faculdade de Medicina ou Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras. Cada atividade tem um espaço temporal, dimensão e objetivos (pré)
estabelecidos. Estes objetivos se inter-relacionam com a promoção de saúde e visam garantir a
melhora do “[...] desempenho físico e mental, garantir e expandir autonomia, instrumentalizar o
35

idoso para seu autocuidado, potencializar a vida, tornando-a mais plena e satisfatória para todos os
alunos da UNATI”. (SILVA, 2004, p. 27). Além disso, para se consolidar,

[...] as UNATIs podem manter contato com outras Universidades e com órgãos
públicos que desenvolvem atividades voltadas à população idosa, nas três esferas
de governo, bem como o Conselho Municipal do Idoso, para conhecer as atividades
desenvolvidas e estabelecer parcerias, além de solicitar sugestões para a atuação.
(DEL-MASSO, AZEVEDO, 2012, p. 32).

Além do potencial de consolidação de parcerias, a Unati possui em projeto pedagógico que


objetiva a socialização e ressocialização, a ampliação do potencial intelectual e da autoestima. As
mesmas abrem espaço dentro da “academia possibilitando investir em pesquisas e atividades de
extensão relacionadas à terceira idade como forma de promover a qualificação profissional de
acadêmicos por meio da atuação, direta junto à população idosa” (BULLA, SOARES, KIST, 2007,
p. 172).
Ainda segundo as autoras, este trabalho é de fundamental importância para a inserção dos
alunos em experiências teórico-práticas, que os capacitam para atuar nos grupos de convivência
com maior competência profissional, imbuídos de conhecimentos sobre a pessoa idosa. Ressaltam,
que desta forma, concretizam-se o pressuposto de articulação necessária e indissociável entre as três
funções da universidade (ensino, pesquisa e extensão).
A UNATI como atividade de extensão, busca “oferecer aos idosos um espaço para a
promoção da cidadania, aquisição de novos conhecimentos, discussão coletiva de seus direitos,
lazer, reflexão e trocas de experiências que estimulem a interação social, visando ao pertencimento
social” (BULLA, SOARES, KIST, 2007, p. 172). Nesse sentido, a Unati tem seu valor inestimável e
inquestionável para a sociedade. Seu trabalho tem proposto mudança e qualidade de vida no
processo de envelhecimento e velhice.

2.2. OS CENTROS DE CONVIVÊNCIA DE IDOSOS NA POLÍTICA PÚBLICA DE


ASSISTÊNCIA SOCIAL

Os Centros de Convivência de Idosos no âmbito da Assistência Social não são novos, mas
também possuem um frágil contingente de material que mostra sua origem e processo histórico.
A Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução nº 109, de 11 de Novembro
de 2009), vem trazer uma padronização aos serviços socioassistenciais no país, desenvolvendo
assim, uma identidade comum aos mesmos. Os Centros de Convivência para pessoas idosas dentro
da Tipificação são nomeados e identificados como Serviço de Convivência e Fortalecimento de
36

Vínculos (SCFV). Esse serviço se insere no Sistema Único de Assistência Social no nível de
complexidade proteção social básica.
O Objetivo principal da proteção social básica constitui-se na prevenção de “[...] situações
de risco por meio do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, sendo destinada à
população que vive em situação de vulnerabilidade social, decorrente da pobreza, privação e/ou
fragilização de vínculos afetivos”. (BRASIL, 2011, p. 2). Nesse sentido os CCIs no âmbito da
Assistência Social são:

Serviço realizado em grupos, organizado a partir de percursos, de modo a garantir


aquisições progressivas aos seus usuários, de acordo com o seu ciclo de vida, a fim
de complementar o trabalho social com famílias e prevenir a ocorrência de
situações de risco social. Forma de intervenção social planejada que cria situações
desafiadoras, estimula e orienta os usuários na construção e reconstrução de suas
histórias e vivências individuais e coletivas, na família e no território. Organiza-se
de modo a ampliar trocas culturais e de vivências, desenvolver o sentimento de
pertença e de identidade, fortalecer vínculos familiares e incentivar a socialização e
a convivência comunitária. Possui caráter preventivo e proativo, pautado na defesa
e afirmação dos direitos e no desenvolvimento de capacidades e potencialidades,
com vistas ao alcance de alternativas emancipatórias para o enfrentamento da
vulnerabilidade social (BRASIL, 2009, p. 09).

Esses Serviços desenvolvem atividades que contribuem no processo de envelhecimento


saudável, no fortalecimento de vínculos familiares, no convívio comunitário, no desenvolvimento
da autonomia e da sociabilidade. O público desses CCIs são pessoas idosas em situação de
vulnerabilidade social. Esse serviço possui um aporte teórico e metodológico novo que direciona
seu trabalho, a saber: Política Nacional de Assistência Social (PNAS – 2004), Tipificação Nacional
de Serviço Socioassistenciais (2009), Orientações Técnicas – SCFVI (2013).
Estes CCIs possuem algumas provisões como ambiente físico adequado, recursos humanos
e materiais pertinentes ao trabalho. O mesmo trabalha dentro da complexidade da centralidade da
família, buscando com isso materializar as seguranças de acolhida, de convívio familiar e
comunitário e de desenvolvimento da autonomia, previstas pela Política Nacional de Assistência
Social.
As condições e formas de acesso se dão sob referencia do CRAS (Centro de Referência da
Assistência Social) e as formas de acesso são por procura espontânea da pessoa idosa, busca ativa,
encaminhamento da rede socioassistencial e pelas demais políticas públicas. O impacto social que
se espera nesses espaços são:

Redução da ocorrência de situações de vulnerabilidade social; Prevenção da


ocorrência de riscos sociais, seu agravamento ou reincidência; Aumento de acessos
a serviços socioassistenciais e setoriais; Ampliação do acesso aos direitos
socioassistenciais; Melhoria da qualidade de vida dos usuários e suas famílias. [...]
37

Melhoria da condição de sociabilidade de idosos; Redução e Prevenção de


situações de isolamento social e de institucionalização (BRASIL, 2009, p. 16).

Em 2011 foi realizado o 1º estudo (BRASIL 2011) sobre as reais condições e


funcionamento desses CCIs. O estudo foi realizado com base na existência de 248 municípios que
tinham em sua rede socioassistencial esses serviços e especificamente 65 serviços que participaram
por sorteio para realização da pesquisa de campo. Os resultados mostram condições estruturais e de
trabalho desses espaços.
Os resultados mostram muitas vezes a inexistência de coordenadores na direção do serviço,
ausência e/ou insuficiência de capacitação para os profissionais responsáveis pelo espaço, alguns
CCIs possuem coordenadores com nível médio de escolaridade e grande maioria desses
profissionais não compreendem a dimensão do envelhecimento humano, ou muitas vezes nem do
próprio papel ou objetividade do serviço.
Com relação aos resultados da pesquisa, específicos das pessoas idosas inseridas no
serviço, vemos a maior participação das mulheres em relação aos homens, a presença de usuários
com Benefício de Prestação Continuada (BPC) e majoritariamente sem limitações para participação
ativa nas atividades. Os critérios para participação nesses serviços (de acordo com a pesquisa)
auferem a idade, renda e vulnerabilidade social. A Equipe de referência desses serviços consistem
em profissionais do Serviço Social (como profissão inseridas em praticamente todos os espaços),
Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição e Orientadores Sociais.

Retomar a discussão [...] sobre a finalidade da existência dos Centros, à luz da


Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, bem como disponibilizar
orientações sobre metodologias adequadas e sugestão de atividades para os
serviços para idosos (e, portanto, também dos CCIs) contribuiria para a
conscientização da importância de atividades de convivência, intergeracional,
culturais e para o fortalecimento de vínculos sociais e familiares na superação das
vulnerabilidades e melhoria da qualidade de vida dos idosos (BRASIL, 2011, p.
10).

A explanação desses resultados não é para descaracterizar os serviços, mas ressaltá-los


como importante campo de compreensão da realidade social. Há de ressaltar, que os resultados
obtidos nessa pesquisa também são presentes nos demais centros de convivência em outras áreas.
“É preciso ampliar as atividades e programas destinados aos idosos, e qualificar os que existem,
incentivando sua auto-expressão, sua criatividade, seu processo emancipatório e sua plena inserção
na vida social” (BULLA, SOARES, KIST, 2007, p.194).
38

2.3. OS CCIs NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS

Os Centros de Convivência na área da saúde surgem impulsionados por um contingente de


situações como instauração de uma lógica diferenciada dos “transtornos mentais” e seu tratamento,
o que reflete no processo histórico, a reforma psiquiátrica. Esses centros surgem como formas de
expressão de liberdade, de criação, expressão, o que propicia diretamente qualidade de saúde,
cidadania e inclusão social.

A existência de entidades destinadas à assistência ao idoso vem ainda contemplar o


Programa Nacional de Direitos Humanos (1998), preparado a partir de
recomendações da Conferência Mundial de Direitos Humanos realizada em Viena,
no ano de 1993, que figurou como uma iniciativa visando a eleição de prioridades e
apresentação de propostas concretas na tentativa do equacionamento das barreiras
que dificultam a promoção e proteção dos direitos humanos no Brasil e o pleno
exercício da cidadania (IGARASHI, 2001, p. 41).

Os Centros de Convivência são um importante veículo de prevenção a agravos na área de


saúde, porém, nessa área também notamos a insuficiente quantidade de aporte teórico e
metodológico que nos auxilie a entender seus objetivos, princípios e principalmente seu histórico.
Os Centros de Convivência estão inseridos como serviços (ou ações) da rede SUS na atenção
primária (ou básica) e também na atenção terciária. Por atenção básica caracteriza-se por:

[...] um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem


a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o
tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. [...] A Atenção Básica
considera o sujeito em sua singularidade, na complexidade, na integralidade e na
inserção sócio-cultural e busca a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento
de doenças e a redução de danos ou de sofrimentos que possam comprometer suas
possibilidades de viver de modo saudável (BRASIL, 2006, p. 10).

Na área da Saúde, um dos centros de convivência com visibilidade relevante são os


“Centros de Convivência e Cultura”, direcionados na rede de atenção a saúde mental no SUS. A
saúde mental utiliza esses centros como propiciador de qualidade de vida a população referenciada.
No SUS encontramos centros de convivência para pessoas idosas em todo o país. Os
objetivos desses CCIs são a propiciação da convivência, inclusão social, da autonomia, qualidade de
vida através de atividades físicas, recreativas, lúdicas, de lazer, esportes, cidadania, dentre outros.

Os Centros de Convivência têm a arte como recurso potencializador de


transformações, propondo um fazer que ao mesmo tempo é um inventar. O que se
pretende não é a representação do mundo, mas a criação de um mundo, sendo,
desse modo, o instrumento catalizador de uma força expressiva que se constrói;
39

uma arte livre que resgata emoções, valores, vivências e lutas (SOARES, online, p.
02).

As atividades são gratuitas e a equipe responsável pelo direcionamento do trabalho é a


equipe multidisciplinar. De acordo com o Estatuto do Idoso, o Ministério da Saúde necessita
reordenar ações em prol da população em processo de envelhecimento e velhice a fim de

[...] desenvolver e apoiar programas de prevenção, educação e promoção da saúde


do idoso de forma a:
a) estimular a permanência do idoso na comunidade, junto à família,
desempenhando papel social ativo, com a autonomia e independência que lhe for
própria;
b) estimular o autocuidado e o cuidado informal;
c) envolver a população nas ações de promoção da saúde do idoso;
d) estimular a formação de grupos de autoajuda, de grupos de convivência, em
integração com outras instituições que atuam no campo social (BRASIL, 2003).

De acordo com o Ministério da Saúde, uma das atribuições da equipe no âmbito do SUS é
o “[...] desenvolvimento de ações intersetoriais, integrando projetos sociais e setores afins, voltados
para a promoção da saúde”. (BRASIL, 2006, p. 19). Há de ressaltar que essa equipe conduz o
processo de acolhimento do público atendido e conta também com o apoio de voluntários na
condução de trabalhos específicos.
O trabalho desse centro de convivência permeia o envelhecimento ativo e a promoção de
qualidade de vida com foco na atenção a saúde. A demanda desse serviço caracteriza-se por
encaminhamento da rede de saúde, procura espontânea, bem como demanda específica da geriatria.
Igarashi afirma que a busca inicial pelo serviço é o alívio a dor, mas a complexidade das ações
repercute diretamente na melhor qualidade de vida e principalmente na sociabilidade da pessoa
idosa.

Aliviar a dor, ter mais saúde, mostrou-se como um dos aspectos da busca do
usuário pelo atendimento no CCI, mas a possibilidade de ampliar se convívio
social, de relacionar-se com outros seus semelhantes, de ter um espaço onde possa
ser ouvido, não enquanto doente, mas como pessoa, ser reconhecido como um
membro da sociedade e poder se perceber como elemento importante desta,
certamente constituem aspectos relevantes no movimento do idoso (2001, p.
93,94).

As atividades desenvolvidas inserem-se em um complexo campo de ações na promoção a


saúde, a saber: consultas médicas, grupos socioeducativos, campanhas de prevenção a doenças,
palestras, dentre outros. Nesse sentido, esse serviço compõe um importante foco de ações e
interlocuções direcionadas à qualidade de saúde no processo de envelhecimento e velhice.
40

2.4. AS ASSOCIAÇÕES DE PESSOAS IDOSAS

Assim como o envelhecimento ganha espaço nas discussões internacionais e nacionais, a


questão dos aposentados torna-se maior evidência na década de 1990, influenciada também pela
Constituição Federal de 1988. A importância de refletir a condição do trabalhador depois dos 60
anos fica mais nítida ainda com a criação da Associação de Aposentados.
Falar em associações de aposentados ou pensionistas ou outra associação de pessoas idosas
remete ao processo histórico do Brasil no campo da Previdência Social. “[...] Com o processo de
constituição do sistema de previdência social, velhice e aposentadoria passaram a estar associadas”.
(HADDAD, 2001, p. 18).
Não será abordado o detalhamento do processo histórico sobre o movimento dos
aposentados e pensionistas, mas sim, caracterizá-los como importante espaço de lutas, defesa de
direitos e espaço de sociabilidade.
Vemos ao longo das décadas o surgimento do movimento de aposentados e pensionistas
como força política e social na luta pelos direitos previdenciários. Com a ampliação dessas lutas em
todo o território nacional, surge na década de 1960 a União de Aposentados e Pensionistas, na
década de 1970 a 1980 as Associações de Aposentados e Pensionistas, em 1985 a Confederação
Brasileira de Aposentados e Pensionistas (COBAP), dentre inúmeros outros órgãos, uniões ou
federações organizadas.
O surgimento e o papel dos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) e da Caixa de
Aposentadoria e Pensão (CAPs) configuram o processo e evolução do sistema previdenciário
brasileiro. Esse processo refletia também as intensas desigualdades econômicas e sociais entre as
diversas categorias profissionais.

Intensos debates sobre questões previdenciárias ocorreram a partir da segunda


metade da década de 40, em decorrência das mudanças econômicas e políticas no
cenário brasileiro. À medida que cresciam os debates, aumentou o número de
projetos propostos objetivando alterações no sistema previdenciário (HADDAD,
2001, p. 26).

Aspectos como a ruptura com o processo de trabalho, a modificação da economia


brasileira, a (re) configuração das famílias, o processo de isolamento social, bem como a
emergência da proteção as pessoas idosas contribuíram no desenrolar dos movimentos e ações das
pessoas idosas, em especial, do trabalhador aposentado. “O movimento de Aposentados e
Pensionistas, ao longo do seu percurso, foi articulando suas demandas, trazendo à tona os limites da
política previdenciária”. (HADDAD, 2001, p. 38). Nesse sentido, o trabalho dessas associações
consistia:
41

[...] na prestação de informações atualizadas sobre os direitos dos aposentados e na


condução de processos contra a Previdência Social. Elas também publicam
informativos e mobilizam a participação dos associados em manifestações por seus
direitos, além de esporadicamente promova congressos, conferências e encontros
(DAL RIO, MIRANDA, 2009, p. 24).

O movimento, através das associações, sofre contínuas mudanças em sua configuração,


trabalho, militância (e militantes), tornando uma prática política diversificada conforme a área ou
espaço de concentração. Seu trabalho crescia ao longo dos anos e refletia além das lutas e defesa de
direitos, a estruturação de reuniões, jornais e boletins informativos, comunicados, encontros,
panfletos para a ampliação do conceito de direito.

O Movimento de Aposentados e Pensionistas encaminha propostas que questionam


o modelo e a centralização da previdência nas mãos do Estado, e que clamam pelo
cumprimento da Constituição. Ele é portador, portanto, de elementos que
despertam nos aposentados e pensionistas a consciência dos seus direitos, o espírito
de cidadania (HADDAD, 2001, p. 103).

As Associações têm sua importância inegável na história, no campo das lutas em defesa do
trabalhador brasileiro. Suas reinvindicações tiveram reflexos na promulgação da Constituição
Federal de 1988, materializada na Seguridade Social como importante campo de proteção social.
Há de ressaltar que a Constituição também aponta avanços e conquistas para esse público
como a “irredutibilidade” do valor dos benefícios. Haddad mostra que conquistas como essa
irredutibilidade são resposta na luta contra o desmonte dos direitos do trabalhador, bem como a
deterioração desses benefícios. A autora também nos mostra a diversidade de profissionais que
compunham esses movimentos. Ferroviários, camponeses, costureiros, têxteis, alfaiates, gráficos,
ensacadores de café, vidreiros, metalúrgicos, portuários, bancários, marceneiros eram alguns dos
militantes que caracterizavam o movimento, as Associações (HADDAD, 2001).
Como os outros serviços e propostas, essas associações nasceram tímidas e ao longo do
processo histórico ganharam força e vida e principalmente, ganharam uma identidade no meio
social. Como mesmo afirma Haddad (2001, p. 107), “Velhos trabalhadores velhos... lutando pelo
direito à velhice... exemplos de resistência na guerra pela vida”.
A participação popular e política nas associações envolviam a “convivência” mesmo que
menos intensiva, devido o caráter militante e reivindicatório, porém, como afirma Dal Rio e
Miranda, esse caráter militante traz a tona o sentimento de pertença, que repercute diretamente na
sociabilidade. Em tempos atuais, essas associações perderam relevante espaço no cenário político,
porém os mesmos ainda continuam sendo espaços importantes de convivência e socialização, pois
42

[...] ser militante traz sentido de pertencimento e afirmação. Constituem espaços


coletivos, organizados de modo solidário, nos quais novas estratégias políticas
permitem atuar em defesa de interesses e valores comuns quanto à questão dos
direitos dos aposentados, pensionistas, idosos e, em consequência, de toda a
sociedade. (DAL RIO, MIRANDA, 2009, p. 25).

3. UMA INTERLOCUÇÃO ENTRE TODOS OS CENTROS DE CONVIVÊNCIA PARA


PESSOAS IDOSAS

Para facilitar a compreensão da dimensão de trabalho dos CCIs, abordaremos eixos


importantes na compreensão de suas características comuns e específicas. O primeiro aspecto a ser
detalhado é justamente o objetivo similar desses serviços e alguns específicos (não todos).

Aspectos Centrais dos Centros de Convivência de Idosos


Objetivo Geral Objetivos Específicos
CCI Assistência Social Convivência Fortalecimento de Vínculos
Sociabilidade Prevenção situações de risco social e
vulnerabilidade
CCI Saúde Convivência Proporcionar Envelhecimento Ativo e
Sociabilidade Saudável
Fortalecimento da qualidade de vida
CCI Educação – UNATI Convivência Educação permanente
Sociabilidade Construção da Cidadania
Desenvolvimento de Autonomia
Associações Convivência Prestação de informações referentes aos
Sociabilidade direitos dos aposentados
Luta na defesa dos direitos dos
trabalhadores
Construção da Cidadania

O objetivo comum a todos os serviço é a convivência, a sociabilidade, porém, há de


ressaltar que os serviços não são exclusivamente “convivência”, mas através de um conjunto
integrado de ações com objetivos previamente estabelecidos, a convivência para ser materializada
de forma mais concreta, mais complexa.
Cada serviço trabalha dentro da política ou proposta inserida, o que influência na
construção e visibilidade de objetivos específicos. Muitos objetivos citados em alguns serviços são
vistos e/ou operacionalizados em outro que não foi mencionado. Devido a realidade complexa e
subjetiva, todos esses elementos estão em constante movimento entre si, o que é considerado um
avanço na concretização do serviço e materialização dos direitos das pessoas idosas.
Um elemento muito importante na implantação e condução dos serviços, instituições e
associações é a legislação pertinente ao trabalho. Legislações centrais na história do Brasil
(Constituição Federal de 1988) e pertinente a pessoas idosas (Política Nacional do Idoso – 1994 e
43

Estatuto do Idoso - 2003) referenciam qualquer trabalho que tenha a pessoa idosa como público
atendido.

Aspectos Centrais dos Centros de Convivência de Idosos


Legislação Comum Legislação Específica
CCI Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS)
Assistência Política Nacional de Assistência Social
Social Tipificação Nacional de Serviços
Estatuto do Idoso Socioassistenciais
NOB/RH-SUAS
CCI Saúde Política Nacional do Idoso Lei Orgânica da Saúde (LOS)
Política Nacional de Atenção Básica
Constituição Federal de Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
CCI 1988 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Educação – Declaração Universal dos Direitos Humanos
UNATI
Associações Constituição das Leis Trabalhistas (CLT)

As legislações específicas modelam os serviços e criam uma identidade comum a eles,


dentro da proposta ou política inserida. Há de ressaltar que as legislações também auxiliam na
formatação da equipe de trabalho, da equipe técnica ou equipe de referência, conforme quadro
abaixo.

Aspectos Centrais dos Centros de Convivência de Idosos


Equipe de Trabalho
CCI Assistência Social Coordenador; Assistente Social; Psicólogo;
Enfermeiro; Fisioterapeuta; Terapeuta
Ocupacional; Voluntários
CCI Saúde Assistente Social; Médicos (Geriatra
principalmente); Fisiatra; Terapeuta
Ocupacional; Fisioterapeuta; Nutricionista;
Enfermeiro; Voluntários
CCI Educação – UNATI Coordenador; Docentes da Universidade;
Assistente Social; Estagiários; Voluntários;
Advogados; Médicos
Associações Coordenador; Assistente Social; Voluntários

Os profissionais, citados acima, referem-se aos inseridos diretamente na execução do


trabalho. Os CCIs ainda são vistos como espaço de desenvolvimento integral da saúde, por isso
grande maioria dos profissionais inseridos nas propostas correspondem a equipes da área da Saúde.
Profissionais da Medicina, Nutrição, Fonoaudiologia, dentre outros, também compõe o quadro
técnico ou apoio. Cada profissional com sua atribuição específica tem sua importância inegável na
44

consolidação dos direitos das pessoas idosas e na condução da melhor qualidade de vida a essa
população.
Outro fator importante sobre o atendimento desses CCIs é a faixa etária atendida. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) para fins de legislação aponta a idade que referencia a
pessoa idosa, a idade de 60 anos em países em desenvolvimento e 65 anos para países
desenvolvidos.
Entre os profissionais que atuam com este segmento, destacamos o Assistente Social, que
desde origem da profissão trabalha com a pessoa idosa, em diversos espaços sócio-ocupacionais, no
Estado (esferas do poder executivo, legislativo e judiciário), em empresas privadas capitalistas, em
organizações da sociedade civil sem fins lucrativos e na assessoria a organizações e movimentos
sociais:

(...) os(as) assistentes sociais atuam na sua formulação, planejamento execução de


políticas públicas, nas áreas de educação, saúde, previdência, assistência social,
habilitação, meio ambiente, entre outras, movidos pela perspectiva de defesa e
ampliação dos direitos da população.(IAMAMOTO, 2009, p. 19)

Em grupos de convivência, a atuação profissional do assistente social esta embasada no


projeto ético político da profissão, que visa à cidadania, à participação e à promoção dos direitos
sociais.
Na sociedade brasileira, tão marcada pela desigualdade, onde ser excluído é quase natural,
com tradição de governos reguladores, acentua Canoas (2008), surge o texto constitucional de 1988,
propondo igualdade de princípios entre homens e mulheres, entre jovens e velhos e entre brancos e
negros. Mas, para ser cidadão, tem que passar por um processo de compreensão da própria
individualidade para depois poderem compreender sua participação nos sujeitos coletivos e
entenderem sua condição humana.

Fica claro que a cidadania ativa vai bem além de votar e ter alguns direitos sociais,
feitos em verdadeiras doações de governantes. Ser cidadão é compreender e saber
situar a própria existência e, junto com seus parceiros, lutar pela conquista,
ampliação e defesa de direitos coletivos, sociais e sindicais (CANOAS, 2008, p.
130).

Nesta perspectiva, a cidadania esta vinculada a participação, não dada aos indivíduos é
uma capacidade conquistada:

Cidadania é a capacidade conquistada por alguns indivíduos, ou (no caso de uma


democracia efetiva) por todos os indivíduos, de se apropriarem dos bens
socialmente criados, de atualizarem todas as potencialidades de realização humanas
45

abertas pela vida social em cada contexto historicamente determinado


(COUTINHO, 1977, apud BULLA, SOARES, KIST, 2007, p. 170).

O fato de um cidadão estar na velhice não significa descompromisso com a participação,


nem renuncia dos direitos de cidadania, argumenta BULLA, SOARES, KIST, (2007), mesmo
ocorrendo diversas mudanças em sua vida, entre elas, o afastamento das atividades de trabalho em
virtude da aposentadoria. Nesta fase da vida, quando diminui a participação pela aposentadoria,
por menos atribuições dentro da família, pela viuvez, salienta Canoas (2008) pode levar a pessoa
idosa ao isolamento e alheamento das questões de todos.
Participação em espaços coletivos pode significar conviver com pessoas da mesma idade,
oportunizando momentos de reflexão e debate sobre o processo de envelhecimento, qualidade de
vida, valorização da própria vida, bem como enfatiza Bulla, Soares, Kist, (2007, p.174) “sobre as
potencialidades, as perspectivas futuras, as possibilidades de exercício pleno da cidadania, que
fomentem sentimentos de pertencer e que abram os caminhos para a participação mais ampla na
vida social”.
Outro ponto importante que queremos ressaltar é o sentimento de pertencimento social,
que centros de convivência e grupos de convivência podem despertar na pessoa idosa, segundo
Bulla, Soares, Kist, (2007) com participação aos poucos vai moldando uma identidade que poderá
constituir um novo ator social, num patamar de organização mais ampliada, pela vida de fóruns de
representação e dos conselhos de direitos, assim como poderá contribuir para mudanças na
imagem da velhice, pois são espaços públicos com capacidade de intervir nos rumos das políticas.

Aspectos Centrais dos Centros de Convivência de Idosos

Faixa etária atendida


CCI Assistência Social 60 anos ou mais
(em alguns CCIs a idade de 50 anos
ou mais, aproximadamente)
CCI Saúde Acima de 30 anos
(aproximadamente)
CCI Educação – UNATI Acima de 45 anos
(aproximadamente)
Associações Acima de 50 anos
(aproximadamente)

Estudiosos da área do envelhecimento humano, afirmam a existência de particularidades


no processo de envelhecimento e velhice. Como o nome mesmo afirma, “processo de
envelhecimento” é um percurso, um processo.
46

Nesse campo, o envelhecimento é compreendido como um fator intrínseco ao ser humano


e que está intimamente ligado ao mesmo por toda a vida. Ao nascemos já estamos em processo de
envelhecimento, pois todas as funções psicológicas, físicas, motoras, biológicas e genéticas estão
em constante movimento e envelhecimento. O envelhecimento ativo preconiza ações ao longo da
vida, para que a sociedade possa entender e compreender que está inserida e já vivencia o processo
de envelhecimento. “O processo de envelhecimento se caracteriza por mudanças nos vínculos com
o trabalho, com a família e consigo mesmo [...]”. (FALEIROS, 2006, p. 116).
Em contraponto com o exposto, a velhice é uma etapa da vida, é uma fase (FALEIROS,
2006, p. 43).

Na velhice [...] além da morte do corpo que está sendo comentada, o idoso tem de
lidar com sua morte profissional, com a morte das suas funções corporais e
intelectuais, entre outras. Nos dias de hoje, com a produtividade sendo o pilar de
nossa sociedade, um idoso que não trabalha perde o valor, recobre-se de estigmas
de deterioração e é colocado à margem da sociedade. Idoso é sinônimo de morte,
apesar de todo investimento em se prolongar a vida; a concepção de velhice ainda
está muito ultrapassada em questão de valores (SESC, v. 22, 2011, p. 51).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devido à urgência no tratamento as questões relacionadas ao envelhecimento humano e o


constante aumento demográfico da população idosa, é visível o crescimento exorbitante de
instituições, ações e serviços em várias áreas de trabalho direcionados a esse público.
Crescem inúmeras Instituições de Longa Permanência (ILPI), CCIs, escolas para terceira
idade e outras ações que buscam reduzir possíveis “malefícios” que o processo de envelhecimento e
velhice possam supostamente ocasionar. Paralelamente a esse contexto, crescem também ações que
ao tentar intervir no processo de envelhecimento e velhice, acabam por culpabilizar a pessoa idosa
ou lançar a “cura” para a velhice unicamente no indivíduo. Ações, Instituições ou Serviços
desconexos da realidade e da própria complexidade da temática, acabam por desfacelar os direitos
sociais das pessoas idosas.
Refletir sobre a origem e características de um serviço como o CCI é dar respostas ao
envelhecimento humano com qualidade. Quando compreendido o papel de um serviço e o mesmo
se materializar de forma adequada com os objetivos propostos, a proteção social a pessoa idosa
passará da aparência a completa essência.
Essa análise não esgotou a temática, mas ampliou o processo de focalização nos serviços
direcionados a pessoa idosa e seu funcionamento.
47

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50

ENVELHECIMENTO ATIVO: EXPERIÊNCIA DE VIDA DE UMA PESSOA IDOSA


ENVELHECIMENTO ATIVO: EXPERIÊNCIA DE VIDA DE UMA PESSOA IDOSA Letícia
Terra Pereira e Lucélia Cardoso Gonçalves
Letícia Terra Pereira1
Lucélia Cardoso Gonçalves2

Resumo
Diante da complexidade do processo de envelhecimento humano, o presente artigo tem por finalidade refletir
brevemente sobre o processo de envelhecimento humano e o constructo de envelhecimento ativo. O interesse
pela formulação do presente trabalho se baseou nas discussões realizadas na disciplina “Envelhecimento
Humano e Ativo” do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Unesp/Franca. O mesmo não tem a
pretensão de esgotar o tema, mas refletir acerca desta temática, sob o olhar de alguns pesquisadores e por
meio dos dados obtidos a partir de entrevista realizada com uma pessoa idosa do Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos de Franca/SP. Neste sentido, esta análise pretende contribuir com novos olhares
frente ao processo histórico dos serviços, bem como de sua estrutura atual.

Palavras-chave: Envelhecimento Ativo. Pessoa Idosa. Centro de Convivência da Pessoa Idosa

INTRODUÇÃO

O objetivo do presente estudo foi analisar a experiência de envelhecimento ativo na


história de vida de uma pessoa idosa, no município de Franca/SP, além de analisar a experiência de
envelhecimento ativo na reconfiguração identitária, na sociabilidade e no mundo do trabalho da
referida população. Foi um estudo realizado a partir da participação na disciplina “Envelhecimento
humano e ativo” desenvolvida no 1º semestre de 2013 pelo Programa de Pós-graduação em Serviço
Social, ministrada pelas Profª Drª Nanci Soares e Profª Drª Alcione Silva Leite.
O Projeto de Política de Envelhecimento Ativo elaborado pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) tem como pilares: saúde, participação e segurança.
Dentro da conjuntura mundial marcada pela precarização das relações sociais e pela
valorização do novo fica o questionamento: o que pode levar algumas pessoas a envelhecerem de
forma ativa e outras, não?
Para refletir sobre a temática, as autoras envolvidas neste estudo fizeram uma breve análise
conjuntural em que este Projeto de Política foi elaborado e os conceitos que antecederam o
1
Assistente Social. Aluna do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Unesp/Franca. Membro do Grupo de
Estudos e Pesquisa sobre Saúde, Qualidade de Vida e Relações de Trabalho (QUAVISSS). E-mail:
leticia_terra_pereira@yahoo.com.br
2
Assistente Social. Aluna do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Unesp/Franca. Membro do Grupo de
Estudos e Pesquisa sobre Envelhecimento, Política Pública e Sociedade. - UNESP. E-mail:
lucelia_cardoso@yahoo.com.br
51

constructo de “Envelhecimento Ativo”. Realizou-se uma revisão bibliográfica de estudiosos sobre o


processo de envelhecimento e velhice na realidade brasileira, bem como a realização de entrevista
com uma idosa do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para idosos do município
de Franca/SP. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS)
em O Brasil sem miséria no seu município (2013), a cidade de Franca possui uma população de
323.307 habitantes. Dentro deste universo 36.379 são pessoas idosas (IBGE, 2010). A cidade de
Franca possui 05 (cinco) CCIs (SCFVI) contabilizando um atendimento de aproximadamente 1.200
pessoas idosas por mês. Neste sentido, evidencia-se a significância em número de pessoas idosas e a
necessidade de conhecer aspectos centrais da vida desta população.

1. METODOLOGIA DO ESTUDO

Foi feito um estudo qualitativo utilizando-se o método de História Oral, além da utilização
de revisão bibliográfica e documental, o que permitiu uma maior aproximação com a temática por
meio de autores que trabalharam o conceito de envelhecimento e velhice, bem como o constructo
acerca do “envelhecimento ativo”.
A entrevista semiestruturada foi realizada com uma pessoa idosa que frequenta
regularmente o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para idosos, intitulado Centro
de Convivência do Idoso em Franca. Anteriormente à realização da entrevista, a participante foi
orientada pelas pesquisadoras acerca dos objetivos do estudo; o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) foi lido, devidamente preenchido e assinado. Com a permissão da entrevistada,
a “conversa” foi gravada para facilitar a transcrição integral e posterior análise dos dados.
Os CCIs (na Política Pública de Assistência Social) são serviços socioassistenciais
direcionados a proteção social da população idosa. Os mesmos constituem-se nos serviços que mais
crescem no Brasil e que mais atendem a essa população (em números).
Existem CCIs na área da saúde (vinculados a prevenção, proteção e recuperação da saúde,
sendo que a saúde mental possui um número expressivo de serviços), a Educação (a importância e
presença das Universidades Abertas à Terceira Idade – UNATI), a Assistência Social (SCFVI de
acordo com a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais), as associações, dentre outros.
De acordo com o disposto no Decreto nº 1.948, de 3 de julho de 1996,

[...] o CCI é uma modalidade não asilar de atendimento destinado à permanência


diurna do idoso (pessoa com 60 anos ou mais de idade), onde são desenvolvidas
atividades físicas, laborativas, recreativas, culturais, associativas e de educação
para a cidadania (BRASIL, 2011, p. 2).
52

O estudo foi desenvolvido através da narração biográfica de acontecimentos que a pessoa


entrevistada realiza para justificar suas ações e condições presentes. O objetivo deste tipo de estudo
foi captar a totalidade de uma experiência biográfica no tempo e no espaço, desde a infância até o
presente; captar os marcos e a visão subjetiva com que a entrevistada vê a si mesma e ao mundo,
além de descobrir chaves para a compreensão, não apenas de um fenômeno social e histórico geral,
mas encontrar uma explicação através da experiência de vida.
Ao utilizar a História Oral neste estudo pretendeu-se ouvir ao máximo a pessoa,
observando o discurso acerca da percepção que ela tem sobre o processo de envelhecimento. Não
existiu uma cronologia linear, mas sim um encandeamento de fatos marcantes, pois a vida é uma
práxis que se apropria das relações sociais.
O envelhecimento ativo e saudável é um eixo vinculado a existência e funcionalidade do
CCI (SCFVI). Este eixo materializa a concepção de direito no processo de envelhecimento e velhice
com qualidade:

Desta maneira, e por meio deste eixo que o Serviço de Convivência e


Fortalecimento de Vínculos para Pessoas Idosas e estruturado de modo a
proporcionar entre os participantes uma vivência da velhice de maneira integrada,
ativa e saudável com a orientação sobre práticas de autocuidado. Por meio deste
eixo, o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Pessoas Idosas
tem como objetivo a realização de atividades que tratem do processo de
envelhecimento, de ser pessoa idosa, das perdas e ganhos advindos com a idade,
produzindo espaços de reflexão, debate e vivências que permitam ressignificar
experiências, desenvolver habilidades, capacidades, novas motivações e
possibilitem a construção de projetos de vida (BRASIL, 2012, p. 58).

A análise dos dados foi organizada por categorias preestabelecidas pelas professoras, tendo
como eixo central a compreensão da concepção de Envelhecimento Ativo, proposto pela ONU. A
interpretação dos dados colhidos por meio da fala da entrevistada está relacionada com o referencial
teórico formulado.

2. ENVELHECIMENTO ATIVO: PROCESSO HISTÓRICO

Para pensar sobre o constructo de “Envelhecimento Ativo” foi necessário retomar momentos
históricos de discussão e terminologias que antecederam a criação deste Projeto de Política.
A crise econômica que assolou a Europa na década de 1970 com a crescente influência do
receituário neoliberal proporcionou projeções com os custos futuros do cuidado de longo termo, ou
seja, iniciou-se a preocupação com o aumento da expectativa de vida, o aumento do número de
53

pessoas idosas e a saída precoce da força de trabalho, alterando a configuração da economia dos
países desenvolvidos e em desenvolvimento. Esse ideário trouxe consigo a difusão de que o
envelhecimento humano traria consequências negativas para a economia dos países.
Algumas dessas consequências demonstraram barreiras à participação ativa das pessoas
idosas – estereótipo discriminatório – a pessoa idosa tida como passiva, submissa, orientada para a
família e desinteressada da participação social, política e econômica. A “terceira idade” passou a ser
vista como um período temido, pois se acreditava que era marcado pela pobreza e fragilidade do
ser, pelo isolamento da família, dos amigos e da sociedade. Atrelada a esses fatores apareceu a
biomedicalização do envelhecimento demonstrando a percepção geral de que envelhecimento e má
qualidade de saúde estavam relacionados.
A priori, é necessário identificar a diferença de conceitos entre dois termos utilizados
muitas vezes como sinônimos: envelhecimento e velhice. O primeiro relaciona-se com o processo
pelo qual as pessoas vivenciam ao longo da vida, ou seja, desde que os seres nascem já começam a
envelhecer; e o segundo, diz respeito a uma determinada fase da vida como a infância, adolescência
e fase adulta. Os dois conceitos são marcados por extrema heterogeneidade, pois cada pessoa
vivencia ao longo de sua vida experiências diferentes e singulares que contribuem para a forma de
como chegarão a velhice.
É necessário levar em consideração que as pessoas estão inseridas em um contexto
marcado pela precarização das relações sociais com consequências que afetam o processo de
envelhecimento, dentre eles: inserção ou não no mercado de trabalho, formas de acesso às políticas
públicas de Educação, Saúde, Transporte, Cultura e Lazer, Alimentação e Nutrição.
Como foi apontado anteriormente, desde a década de 1970 o mundo passou por mudanças
significativas marcadas pela introdução do receituário neoliberal, com o estímulo à valorização da
produtividade, portanto, quem não conseguisse produzir dentro das “normas” estabelecidas pelo
mercado e pelo Estado neoliberal seria descartado.
Diante do exposto, a questão do envelhecimento populacional se constitui em um
fenômeno mundial visualizado como uma conquista, porém o mesmo acarreta vários impactos e
desafios que vão desde o acesso política de saúde, à organização da cultura. Evidencia-se, portanto,
a importância do estudo acerca do envelhecimento ativo no Brasil, pois:

A diversidade brasileira obriga-nos a relativizar esse fenômeno. Os idosos


brasileiros integram todas as camadas sociais; ricos e pobres envelhecem neste
país. Logo, faz-se necessário compreender como eles se percebem na Terceira
Idade, como encaram os desafios impostos pelo tempo, como solucionam os
problemas do cotidiano social, como se relacionam com os infortúnios de doenças
e, principalmente, como se identificam tal uma pessoa idosa (SESC, 2010, vl. 21,
p. 57).
54

O Brasil é um dos 10 países com maior número de pessoas idosas e esta é a faixa etária que
mais cresce no país. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE)
(2008) em 2025 o país será o 6º em número de pessoas idosas, caracterizando 100 crianças para
cada 172,7 pessoas idosas. Com o crescimento da população em processo de envelhecimento e
velhice, concentram-se estudos mostrando que a pessoa idosa necessita de maior atenção em todas
as políticas públicas.
A partir da pesquisa bibliográfica e documental utilizada para a elaboração do presente
artigo, observou-se que o “Envelhecimento Ativo” ainda é um constructo pouco explorado pelos
estudiosos por ser uma temática muito nova. Porém, a discussão sobre o processo de
envelhecimento e sobre a velhice iniciou-se já no ano de 1982, em Viena, momento em que
aconteceu a I Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento da Organização das Nações Unidas
(ONU). A partir desse encontro surgiu a adoção do Plano de Ação Internacional para o
Envelhecimento com diretrizes e princípios gerais para enfrentar o envelhecimento populacional.
No ano de 1991 houve a aprovação dos Princípios em favor das pessoas idosas, também
realizado pela ONU, abrangendo os seguintes eixos: Independência, Participação, Cuidados,
Autorrealização e Dignidade.
O ano de 1993 foi marcado pela Comissão Europeia como o Ano Europeu da Pessoa Idosa
e 1999, foi determinado pela ONU como o Ano Internacional da Pessoa Idosa. Em 2002 ocorreu a
II Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento com o objetivo de examinar e revisar os resultados
da I Assembleia do Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento. Nesse mesmo ano foi
aprovado o Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento com as seguintes orientações
prioritárias: pessoas idosas e o desenvolvimento; promoção da saúde e bem-estar na velhice; criação
de ambiente propício e favorável para o envelhecimento ativo.
Em 2007, na sede da ONU em Genebra (Suíça), Alexandre Kalache e Louise Plouffe
desenvolveram o Projeto Guia Global: Cidade Amiga do Idoso, o qual aponta que: “Uma cidade
amiga das pessoas idosas estimula o envelhecimento ativo ao otimizar oportunidades para saúde,
participação e segurança, para aumentar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem”
(OMS, 2008, p. 7).
As terminologias que precederam o constructo de “Envelhecimento Ativo” se referiam a
dois aspectos:
 Envelhecimento Bem-Sucedido: terminologia desenvolvida a partir da década de 1950,
com ênfase na ausência da doença e incapacidade cognitiva. Na década de 1960 já se
trabalhava com uma perspectiva de envelhecer com atividade e sucesso financeiro. As
críticas acerca dessa terminologia apontam que é uma abordagem idealista, portanto tem
uma expectativa irrealista do envelhecimento individual para manter níveis elevados de
55

atividade associados com a meia idade em seu avanço para a velhice, fazendo generalizações
sobre o processo de envelhecimento e homogeneizando as pessoas idosas, como se todas
passassem pelo mesmo processo de envelhecimento ao longo da vida.
 Envelhecimento Produtivo: terminologia que surgiu na década de 1970, entendendo como
direito das Pessoas Idosas escolherem entre a aposentadoria ou continuarem empregadas em
tempo integral ou parcial. Além de ter sido um componente “chave” das propostas da
política social da Europa e Organização para Cooperação de Desenvolvimento Econômico
(OCDE), ficou o questionamento: o que é ser produtivo?
Já no início da década de 2000, a OMS com o objetivo de superar a falta de clareza e de
definições concordantes acerca do que seria envelhecer de forma ativa e procurando atender de
forma mais abrangente o “envelhecimento saudável”, adotou o termo “Envelhecimento Ativo”
entendendo este processo como uma forma de otimização das oportunidades para a saúde, a
participação e a segurança, objetivando a melhoraria da qualidade de vida, à medida que as
pessoas envelhecem (OMS, 2007). Saúde, participação e segurança constituem os três pilares da
estrutura política para o envelhecimento ativo.
Além disso, o Projeto traz como determinantes transversais do envelhecimento ativo
gênero e cultura, os quais perpassam pelos demais determinantes, a saber:
 Determinantes econômicos;
 Serviços sociais e de saúde;
 Determinantes comportamentais;
 Determinantes pessoais;
 Ambiente físico;
 Determinantes sociais.
A OMS ao analisar o eixo saúde como determinante do envelhecimento ativo, coloca a
prevenção e a redução de quadros de doenças, riscos e mortalidade, bem como educação em saúde
como prioridades. Neste sentido, aspectos como qualidade de vida, influência econômica na saúde,
audição, visão, apoio social, tratamento, prevenção, ambientes seguros e apropriados, saúde mental,
avaliar e abordar o impacto do HIV e DST sobre pessoas idosas, atividade física, tabagismo,
nutrição, medicamentos, cuidadores, álcool, drogas, dentre outros, formam o campo de fatores que
interferem diretamente na qualidade de vida da pessoa idosa.
A busca pela saúde perfeita, pela resposta a “angústia” do corpo na tentativa de reverter o
processo de envelhecimento e outras questões referentes ao envelhecimento humano, tem motivado
a criação de propostas, ações, projetos, instituições, serviços que atuem na tentativa de reduzir os
possíveis “danos” causados pela velhice. Esta busca incessante tem atraído atenção da sociedade
56

atual e tomado lugar de destaque com referência à qualidade de vida no processo de envelhecimento
e na velhice.
Estudos também mostram agregados a estas novas propostas, a presença da culpabilização
da pessoa idosa, ou simplesmente, a transferência do envelhecimento ativo somente como
responsabilidade pessoal, ou seja, responsabilidade da pessoa idosa. Mas o que a população em
processo de envelhecimento considera ser “envelhecimento”?

Empinar o nariz, fazer o que você quer e ser o que eu sou! Eu acho que é isso. Eu
sou o que eu sou, eu faço o que eu gosto, eu sou livre. Ninguém manda em mim.
Eu faço o que eu gosto. [...]

Muitos estudos mostram a necessidade de serem elaboradas propostas direcionadas à


população idosa, mas poucos concentram sobre do que realmente esta população carece. Com isso,
entender como a mesma pensa, o processo em que está inserida, é caracterizar aspectos relacionados
à saúde e qualidade de vida.
Anteriormente às duas Assembleias Mundiais sobre Envelhecimento Humano a questão do
isolamento social já se constituía tema de relevância social. Nesse sentido, muitas ações foram
criadas na década de 1960 e 1970 no Brasil, com a intenção de fortalecer vínculos e promover a
convivência das pessoas idosas. O isolamento social e a depressão são as problemáticas que mais
atingem este segmento etário devido a vários elementos, como por exemplo, perdas de parentes,
amigos, violência, quadros de doenças, automedicação, ruptura com o processo de trabalho,
ambiente físico, ausência e/ou insuficiência de cuidadores.

Entender como se constitui a convivência entre pessoas idosas é justamente andar no


caminho para a efetividade do envelhecimento ativo. Percebe-se a expectativa relacionada à
convivência, assim exposta:

[...] Convivência... Eu quis essa aula, porque eu quis conviver mais com gente de
sessenta anos pra cima, [...]

Nesta etapa da vida, muitas pessoas idosas encontram nos grupos ou centros de
convivência uma oportunidade de (re)fazer vínculos comunitários. Estes espaços propiciam e
potencializam o fortalecimento de vínculos afetivos, laços de amizade, trocas de experiências e
saber, construção de novos projetos de vida, fortalecimento da identidade, potencialidade,
particularidade e aquisição de novas habilidades.
As conquistas referentes ao envelhecimento humano em todos os campos do conhecimento
e da realidade social são visíveis. Avanços tecnológicos e científicos atrelados ao desenvolvimento
57

legal proporcionaram estratégias que possibilitaram um novo olhar sobre a questão social da
velhice.

Porque minha vó não sabia o que era hidroginástica, não sabia o que era Pilates.
Minha vó não sabia o que era essas coisaiada. Eu sei tudo isso, eu trabalho com
isso, eu vivo isso. [...]

A velhice foi conceituada e reconceituada ao logo dos tempos. Um dos avanços na


referida temática se deu justamente nesta mudança de olhares e de consideração acerca desta etapa
da vida humana.
Outro eixo caracterizador do envelhecimento ativo é a participação. O conceito de
participação também vai muito além do mero ato de participar. Participar do que? Para que? A
participação requer articulação entre a população e o mercado de trabalho, a saúde, educação,
emprego e cultura. E com esta articulação talvez seja possível que a sociedade tente concretizar a
efetivação dos direitos sociais.
Aspectos como processo educacional e de aprendizagem, trabalho, geração de renda,
redução da pobreza, liderança, voluntariado, transporte, igualdade, participação da mulher, proteção
às organizações que têm as pessoas idosas como representantes, formam o constructo participação.
E o último eixo que caracteriza o envelhecimento ativo é a segurança. A segurança se
divide na área financeira, física e social. A proteção às pessoas idosas referem-se, neste campo, a
proteção ao consumidor; à pessoa com HIV/AIDS; a vítimas de maus-tratos, violência e/ou
negligência; ausência de abrigo, justiça social e ambiente físico. Assim, como os demais eixos, a
segurança também precisa acontecer de forma integrada.
A cidadania brasileira (ou a ausência dela) reflete diretamente no processo de participação
e concomitantemente, na segurança. A segurança é um dos elementos mais representativos no
exercício da cidadania.

3. DISCUSSÃO DOS DADOS

Para análise do constructo envelhecimento ativo, foram considerados os eixos, a saber:


Pessoa e Identidade, Identidade e Sociabilidade, Identidade e trabalho e Identidade na velhice
e envelhecimento ativo.
O campo identidade (composto em todos os eixos) é iminentemente amplo e complexo, o
que traz uma relação e articulação com os demais campos como a sociabilidade, o trabalho e o
envelhecimento ativo.
58

3.1. Pessoa e Identidade

Quando nos referimos ao eixo “pessoa e identidade”, destacamos alguns autores que
abordaram com precisão a temática: Dirceu Nogueira Magalhães na obra A invenção social da
velhice, Vicente de Paula Faleiros em Desafios do Envelhecimento: vez, sentido e voz, Maria Cecília
Minayo, Olga Rodrigues de Moraes Von Simson e Ana Liberalesso Neri esta última em As
Múltiplas Faces da Velhice no Brasil.
O Serviço Social do Comércio (SESC), na revista “Terceira Idade”, também propôs
discussões em todos os campos do conhecimento direcionado ao envelhecimento humano. Como
afirma a pesquisa do Sesc, “A velhice é socialmente e culturalmente construída” (SESC, v. 21,
2010, p. 65).
A participante da pesquisa diz ter tido uma vida muito boa, pontuando que:

Com meus filhos eu participava de toda a vida deles. Por isso que eu não quis
formar [...] Porque eu queria curti-los. E eu ia com eles pra tudo quanto é canto. No
cinema... Eles amavam! [...] Eu levava eles pra tudo quanto é canto. Pronto! Eu
tive uma fase linda.

A entrevistada relatou que está com 65 anos e questionada sobre o que pensava a respeito
do envelhecimento, quando era mais jovem, afirma de maneira segura:

Eu nunca pensei em ficar velha, eu não quero ficar velha, eu não vou ficar velha.
Eu não quero ficar [...] Eu não penso em ficar velha e nem vou ficar. E se eu ficar,
vou curtir muito velha [...]. Se eu num puder andar, eu pego carro, pego cadeira
motorizada... E dou um jeito. Eu não vou ficar velha, não vou!

3.2. Identidade e Sociabilidade

Existem muitas autoras de grande prestígio na discussão da sociabilidade ou socialização


(articulada ao contexto da identidade) destacando-se Eclea Bosi e Guita Grin Debert. Debert em
uma de suas obras que contempla o eixo “identidade e sociabilidade”, além de aprofundar a questão
da “reinvenção da velhice”.
Ao nos remeter ao eixo sociabilidade, autores como Sidney Dutra da Silva (UNATI), Maria
Cristina Dal Rio, Danilo Santos de Miranda e também o Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (MDS) compõem um vasto debate sobre estes serviços e a perspectiva de
sociabilidade. MARAGAS apud DAL RIO afirma que sociabilidade ou socialização “[...] é um
termo amplo que indica que o ser humano, desde que nasce, não apenas está sujeito às influências
59

da sociedade de que participa e ajuda a construir, como também a influência” (DAL RIO,
MIRANDA, 2009, p. 14).
Indagada sobre os pontos positivos e negativos do município de Franca, a entrevistada
avalia os serviços destinados às pessoas idosas:

Positivo? Aqui eles cuida muito dos velho. Aqui eles cuida muito de gente velho.
[...] No SESI, no SESI eu participo muito do SESI [...]. O SESI trabalha bem os
véio. Nossa! Aqui cuida muito bem de véio.

[...] Falta de respeito com os véio nas ruas. Os véio vai atravessa a rua, eles num
respeita. [...] O povo daqui de Franca eles não respeita os idoso. Como eu luto com
isso, eu gosto disso, eu noto.

3.3. Identidade e Trabalho

A categoria trabalho é eixo fundante da vida social. Refletir sobre o processo de


envelhecimento e velhice distanciado do mundo do trabalho é fragilizar a real atenção a pessoa
idosa. Vários autores se direcionam sobre o aspecto da identidade e trabalho no envelhecimento
humano a saber, Leonia Capaverde Bulla, Ana Amélia Camarano, Maria Tereza Pasintato, dentre
outros.
Ao ser questionada sobre o que o trabalho representou em sua vida, a entrevistada afirma:

Ao longo da minha vida eu só costurei. Porque minha mãe, minha mãe foi
costureira.[...]. Aí eu sempre costurei. [...] Eu me aposentei com 60, passei agora
pra minha filha. [...] O trabalho que eu fiz aqui em Franca sempre foi esse. Sempre
foi esse o meu trabalho.

Há de ressaltar a importância inegável das pesquisas do Instituto de Pesquisa Econômica


Aplicada (IPEA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Ministério da Saúde, Previdência Social na discussão
sobre este eixo, bem como dos demais. Como afirma Bulla, “O trabalho representa o papel de
regulador da organização da vida humana, em que horários, atividades e relacionamentos pessoais
são determinados conforme as suas exigências, sendo fundamentais para a vida social” (BULLA,
KAEFER, 2003, p. 05).
Nesse sentido, Magalhães aponta que o homem quando vivencia a ruptura com o mercado
de trabalho através da aposentadoria e da função protetiva ou mantenedora da família, “Tende a
marginalizar-se como produtor, o que equivale dizer como consumidor, quando na fase ativa tende a
ser o grande consumidor e sustentáculo de consumo [...]” (MAGALHÃES, 1989, p. 31).
60

3.4. Identidade na velhice e envelhecimento ativo

A OMS baseou o Guia Global: Cidade Amiga do Idoso num contexto de envelhecimento
ativo, criando posteriormente, o documento Envelhecimento ativo: uma política de saúde
fundamentando este constructo e sua importância indiscutível na proteção à população idosa. Este
eixo também se faz presente em discussões de autores como Mônica de Assis e Anita Liberalesso
Neri. Neste sentido, “[...] é preciso pensar que o envelhecimento e as condições em que o indivíduo
chega a ser velho resultam de uma longa existência onde Saúde, Educação, Lazer [...] entram no
somatório de ganhos e perdas de cada um, a partir de seu nascimento” (MAGALHÃES, 1989, p.
58).
Nas palavras da entrevistada:

[...] Depois que eu me aposentei, eu cai em campo mesmo pra ver como é que é,
como que era tudo. Assim... Aqui você tem muita oportunidade. Você vai no
campo. [...]. Apesar daqui o povo não respeitá. O povo não, mas o setor que nós
vamos assim... A gente é muito bem acolhido, recebido. A gente acha o que quer,
eu acho que é nisso [...] É, eu acho... Eu acho...

E relata sobre como se sente neste processo de envelhecimento ativo:

Nova! Melhor de que quando eu era menina. Melhor de que quando eu era moça.
Melhor de que quando eu casei. [...] Criar filho é uma fase muito corrida. Eu não
vivia eu. [...] Vivia mais pros filho, pra marido. [...] Hoje eu não tenho trabalho,
meus filho já é tudo casado nos seus canto. [...] E vivo minha vida livre! [...]

Diz ainda que:

A melhor vida do mundo é quando você faz 60 anos, se aposenta. Porque é livre
[...] faz o que quer. [...] Eu amo ter me aposentado. Eu amo ter feito 60. Hoje eu
tenho 65. Agora eu amo toda a minha vida! Eu amo! Eu amo a vida de hoje.

A pessoa que envelhece ativamente tem projetos e aspirações futuras:

Primeira coisa que eu quero é pegar um navio com meu marido e andar. Num é
aqui pertinho não. É pra bem longe. [...] Eu já andei de ultraleve, eu já andei de
asa-delta, depois de aposentada. Mas eu não andei de navio ainda, meus plano é
esse. [...] Isso eu quero e vou fazer, não sei quando, mas eu vou. [...] Risos. Eu dei
um rasante de ultraleve, eu dei um rasante. [...] Eu já fiz tudo o que eu quis fazer,
depois dos 60.
61

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Torna-se difícil concluir um tema tão complexo quanto este, por isso são apontadas apenas
algumas considerações observadas ao longo do processo de pesquisa.
Tomando como ponto de partida o objetivo geral do estudo o qual pretendia analisar a
experiência de envelhecimento ativo na história de vida de pessoas idosas, compreende-se que o
fato de apenas uma pessoa ter sido entrevistada não representa a totalidade da população idosa. A
heterogeneidade no processo de envelhecimento é algo marcante e não pode ser desconsiderado.
Ressalta-se que a pessoa entrevistada vivencia o envelhecimento de forma ativa, além de
não se considerar “velha”. Tratando da própria experiência de vida relatada, ela não enxerga a
velhice como uma fase ruim, mas sim um período em que pode se dedicar mais a si mesma. É uma
pessoa que está inserida em vários espaços em busca da melhoria de sua saúde e qualidade de vida,
além da participação e envolvimento em setores que oferecem serviços às pessoas idosas do
município de Franca.

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64

O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PESSOA


IDOSA NA CIDADE DE FRANCA-SP
O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PESSOA
IDOSA NA CIDADE DE FRANCA-SP Rosângela Aparecida de Paula
Rosângela Aparecida de Paula1

Resumo
O presente estudo trata-se de uma reflexão que tem por intuito abordar o trabalho do Serviço Social na
perspectiva da institucionalização do idoso, sobretudo, na cidade de Franca-SP. Para isso, serão refletidos os
aspectos sociais inerentes ao idoso, bem como as possibilidades de intervenção profissional direcionada a
este público específico. Em um primeiro plano, pretende-se colocar em pauta a questão social inerente aos
idosos. Em um segundo plano, pretende-se abordar o aspecto da institucionalização dos idosos em
Instituições de Longa Permanência e questões que envolvem o assunto. Já em um terceiro, objetiva-se trazer
à pauta deste estudo a atuação profissional do assistente social e as especificidades da profissão que
favorecem o trabalho com os idosos e especificamente as características da Instituição de Longa
Permanência no atendimento aos idosos. Cumpre ressaltar que o principal objetivo deste estudo é contribuir
para a discussão da institucionalização do idoso, na cidade de Franca SP, com efetivação da promoção de
qualidade de vida deste publico, e as contribuições que se espera do assistente social nesta área.

Palavras Chave: Pessoa Idosa; Institucionalização; Serviço Social.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento é o início de uma fase longa por quais passam cada vez mais pessoas no
Brasil. Envelhecer, em muitas situações, torna-se muito difícil por causa dos vários aspectos sociais,
psicológicos e físicos por quais se passa. Trata-se de um caminho a ser trilhado que requer suas
devidas atenções nos campos da saúde, da psicologia, da gerontologia e do serviço social, dentre
vários campos de atuação profissional.
Partindo da delimitação do conceito de envelhecimento, esse estudo tem como objetivo
realizar uma reflexão teórica sobre o tema idoso Institucionalizado, bem como os componentes
sociais envolvidos nessa temática. Tal estudo encontrará amparo na literatura sobre o assunto
através de artigos científicos, livros e pesquisas.

1. A QUESTÃO SOCIAL INERENTE AOS IDOSOS

Para o desenvolvimento desse estudo, torna-se necessário a compreensão do conceito


denominado questão social, assim, nesse trecho do estudo abordar-se-á a definição sobre o tema na
ótica de alguns autores que discorrem sobre o assunto.

1
Assistente Social da Instituição Espírita Nosso Lar.
65

A questão social é compreendida pelo conjunto das expressões das desigualdades sociais
do capitalismo que tem sua raiz na produção social coletiva, sendo que a apropriação dos frutos de
tal produção encerra-se nas mãos de parte da sociedade (IAMAMOTO, 2005). Depreende-se que as
relações sociais fundamentadas no capitalismo estão fundamentadas na lógica da apropriação das
riquezas produzidas por parte de poucos, o que fatalmente gera tensões sociais, na medida em que
os excluídos de tais frutos da produção experimentam a outra face desta situação, que é a lógica da
exclusão social travestida como problemas sociais que tendem a atingir os mais frágeis na
sociedade.
A questão social, dessa forma, incide em vários setores da sociedade e atinge patamares
diferentes de uma região para outra. Posto de outro jeito, a questão social por se tratar de um
conjunto de desigualdades sociais é vista e sentida de modo distinto, nos mais diferentes contextos
sociais. Compreende-se que a riqueza acumulada por parte da sociedade é uma das causas da
privação de bens e serviços à outra parte da sociedade que sentirá a questão social através da falta
de serviços públicos que atendam a demanda dos mais frágeis na população.
Como já se percebeu, os grupos sociais mais vulneráveis são os que mais sofrem com a
questão social, no caso deste artigo, o grupo social em estudo é composto pelos idosos que se veem
na condição de moradores de instituições de longa permanência.
Para entendimento da situação do de idoso, que é preconizado pela lei nº 10.741 de 2003,
Estatuto do Idoso, que em seu artigo 1º considera idoso a pessoa com idade igual ou superior a 60
anos de idade (BRASIL, 2003). Neste aspecto, pode-se dizer que os idosos constam na lista dos
integrantes da população que são mais frágeis.

A longevidade é uma realidade dos tempos atuais, porém trás consigo a


necessidade de adaptação pelas perdas que vão ocorrendo ao longo da vida. Viver
mais significa ver seus entes queridos serem tirados do convívio pela morte, pela
mudança para lugares longínquos ou pelo distanciamento que a vida moderna
provoca, com o seu individualismo e hedonismo (BESSA; PEIXOTO, 2008, p.
259).

Assim, a autora coloca que o idoso se percebe frágil ao ver a base familiar se fragmentar
pelas mudanças, mortes e ausências e passa a buscar a reconstrução dos seus vínculos e rearranjar
seu cotidiano. Essa situação gera um impacto muito grande na vida dos idosos, pois sabe-se que a
organização familiar é muito importante para qualquer pessoa e é vista como espaço onde são
estabelecidos laços de afetividade, de pertencimento e de proteção. Assim sendo, ao perder a
referência de lar e de família, inicia-se um processo da questão social que atua fortemente na vida
dos idosos.
66

Na Atualidade o envelhecimento do ser humano, é um fenômeno cada vez mais presente e


frequente nas sociedades em desenvolvimento, no caso, no Brasil não é diferente. Ramos (2007) diz
que no ano 2000 a população idosa representava cerca de 9% da população do Brasil e era estimado
que esse segmento da população representaria 24% no ano 2050.
Neste sentido, verifica-se que as estimativas são de que a tendência é de que haja o
crescimento da população idosa no país. Lima (2012) traz uma importante colocação sobre o
contingente de pessoas que passam a compor a faixa etária dos idosos no Brasil todos os anos.

O Brasil hoje é um jovem país de cabelos brancos. Todo ano, 650 mil novos idosos
são incorporados à população brasileira, a maior parte com doenças crônicas e
alguns com limitações funcionais. De 1960 a 1975, o número de idosos passou de 3
milhões para 7 milhões e, em 2006, para 17 milhões – um aumento de 600% em
menos de 50 anos (VERAS, 2007 apud LIMA, 2012).

Os dados acima revelam números bastante significativos sobre o aumento da população


idosa no Brasil, ou seja, de 1960 a 2006 houve um aumento de 3 milhões de idosos para 17 milhões
de idosos no Brasil, o que corresponde a impressionantes 600% de aumento em meia década. Estes
dados revelam em si mesmos os impactos sociais que são decorrentes dessa situação.
O Brasil passa a ter que disponibilizar recursos e políticas públicas que atendam essa
demanda que cresce a cada dia. É fato, por assim dizer que, o crescimento populacional dos idosos
representa desafios ao Brasil. Estes desafios são concernentes às expressões sociais que são
inerentes aos idosos. É necessário que a estrutura pública do país apreenda essa demanda que só
cresce a todos os dias e identifique as reais necessidades de preparar o país para o envelhecimento
populacional, situação que vem seguida de necessidades específicas dessa população e que se não
forem bem dirigidas pelos gestores públicos acarretaram em grandes impactos e lacunas sociais
traduzidas como questões sociais relacionadas ao envelhecimento da população brasileira.

2. ASPECTOS DA REALIDADE DA PESSOA NA CIDADE DE FRANCA

Passando a verificar os dados populacionais da cidade de Franca, nota-se que segundo os


dados mais recentes do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010), a cidade
contava com uma população estimada em 318.640 habitantes no referido ano e um universo de
36.379 idosos.
Neste aspecto, nota-se que a presença de idosos em Franca é marcante, e fatalmente esse
contingente populacional gera seus impactos sociais, requerendo uma maior capacitação e preparo
dos atores sociais que atuam nas políticas públicas nesse contexto.
67

A população idosa no município de Franca-SP, de acordo com a definição dada pela lei
10.741 de 2003, Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003) é representada no quadro abaixo:

Quadro 1 - Quantidade aproximada de pessoas idosas em Franca-SP


Idosos por sexo Quantidade de idosos Percentual de idosos em relação a
população
Homens com mais 15.926 5%
de 60 anos
Mulheres com mais 20.453 6,42%
de 60 anos
Total de idosos 36.379 11,42%

Nota-se que a população de idosos na cidade ocupa importante parcela do contingente


populacional o que, com certeza, reflete no cotidiano das famílias e da cidade como um todo.
Observa-se que existe uma maioria significativa de mulheres acima dos 60 anos em relação
à quantidade de homens idosos. Este fato pode estar associado a inúmeros fatores que não são o
foco deste estudo. Porém, salienta-se que a população acima dos 60 anos apresenta importância
fundamental para os estudos acerca do envelhecimento populacional na cidade, pois requer olhar
mais preparado para fornecer estrutura social e equipamentos públicos que atendam as demandas do
município.

3. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PESSOA IDOSA E A SITUAÇÃO DE FRANCA-SP

Por institucionalização, Goffman (2001) entende tratar-se do processo de confinamento de


pessoas em estabelecimentos públicos ou privados, com características de moradia de longa
permanência.
Assim, o termo institucionalização significa o ato de colocar pessoas em instituições que
ofereçam estada de longa permanência.
O autor fala sobre a institucionalização de pessoas em regime de longa duração, onde
ficam em regime fechado e na maioria das vezes sem o convívio social. Tavares (2005)
complementa as informações sobre institucionalização da seguinte forma:

A institucionalização é o processo no qual um conjunto de normas de


comportamento, que orientam uma atividade social considerada importante,
adquire regulamentação jurídica formal, no sentido mais amplo, institucionalização
refere-se a um processo de cristalização de procedimentos, de comportamentos; é
68

sinônimo de ordem social, representa a passagem de organizações informais a


organizações formais (TAVARES, 2005, p.55).

Esse conceito expressa a função jurídica, que serve para auxiliar todos participantes a
definir o conteúdo da gestão estratégica, os procedimentos a serem adotados, as atribuições e as
responsabilidades de cada um e de cada área. Em outras palavras, refere-se à forma com que se dá o
ordenamento social dentro da instituição.
Esta citação coloca um importante tema no centro desse estudo, que é o cotidiano das
instituições de longa permanência para idosos.

Residir em uma ILPI leva a um reestabelecimento da vida na sua integralidade, o


que, para quem vivencia o envelhecimento pode ser um evento por demais
complexo. Culturalmente uma ILPI é rejeitada socialmente pelo simbolismo que
carrega, por outro lado, está cada vez mais sendo a alternativa de quem ficou sem
condições de tocar a vida autonomamente. As ILPIs são “instituições
governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinada a
domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem
suporte familiar, em condição de liberdade e dignidade e cidadania (SANTOS;
ANDRADE, 2005 apud CARVALHO; LUCKOW; SIQUEIRA, 2011).

O cotidiano dos idosos que residem em uma ILPI é muito complexo, pois num primeiro
momento há a rejeição por parte do idoso por todas as questões simbólicas que se relacionam com a
institucionalização. O idoso, de certa forma percebe a institucionalização como uma questão
negativa no primeiro momento, pois os mesmos passam a perder o convívio familiar, a rotina na
qual estavam inseridos, passam a ter que dividir espaço com pessoas desconhecidas. Todos estes
fatores são dificultadores no início de uma institucionalização de idoso.
Carvalho, Luckow e Siqueira (2011) desenvolvem importantes considerações sobre a
questão da solidão para o idoso, a qual está, muitas vezes, relacionada às alterações que se iniciam
no seio familiar, principalmente as que envolvem perdas de familiares.
Muitos idosos têm nos filhos o referencial de segurança e de apoio. Acontece que muitos
filhos, ao perceber o processo de envelhecimento dos pais, não se sentem capazes de continuarem a
viver com os mesmos, ocorrendo a necessidade de institucionalização dos idosos. Esse é um dos
inúmeros motivos que levam os idosos a perderem espaço no contexto familiar, porém ressalta-se
que essa medida é de grande impacto para o idoso que se vê sem a referência e o apoio que outrora
eram dispensados pela família.
Porém, o Brasil, atualmente, dispõe de importantes mecanismos que oferecem proteção aos
idosos, dentre eles a Constituição Federal de 1988, no art. 229, afirma que a família, a sociedade e o
Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas (BRASIL, 1988). Este artigo constitucional
69

estabelece que é dever das famílias e de outros atores sociais aparar os idosos. Isso fornece aos
idosos uma garantia de que suas necessidades devam ser supridas pela família, sociedade ou Estado.
O Estatuto do Idoso, no art. 3º, prioriza o atendimento ao idoso por meio de suas próprias
famílias (BRASIL, 2003). Entretanto, é comum observar em algumas famílias os conflitos entre as
diferentes gerações e a exclusão familiar, conduzindo o idoso a sair do contexto familiar para
procurar uma instituição de longa permanência para idosos. O sentido de família para o idoso é de
um espaço de proteção, aconchego, segurança. As gerações anteriores têm a concepção de família
não só em seu núcleo, mas também considerando os parentes mais próximos. Assim, há a
expectativa de amparo (BESSA; PEIXOTO, 2008).
Carvalho, Luckow e Siqueira (2011), informam que os idosos que estão em instituições de
longa permanência possuem perfil diferenciado. Muitos necessitam de atenção e suporte
especializado, sendo que a grande maioria apresenta morbidades físicas ou mentais, que os tornam
mais propensos a agravos na saúde.
Renato Veras (1995) coloca em pauta a importância da necessidade que o idoso participe e
saiba da importância do processo de envelhecimento que atinge todas as pessoas, e a sabedoria de
saber como envelhecer com atitude para uma melhor qualidade de vida. O autor aborda a
importância do conhecimento do ser humano, no âmbito de aceitação do processo de envelhecer
com autonomia e noção de todos os benefícios que a idade traz para o indivíduo. Saber de seus
direitos como cidadãos que já prestaram sua parcela de contribuição para a sociedade e que ainda
têm muito a contribuir.
A institucionalização dos idosos passa a ser um recurso inevitável, pois os mesmos
necessitam de amparo social das novas necessidades que emergiram em suas vidas decorrentes da
falta ou ausência do grupo familiar que os acolhiam em outro momento de suas vidas.
E o convívio nessa nova realidade constitui novo desafio aos idosos:

O idoso pode ser forçado a aprender a conviver com aqueles totalmente


desconhecidos, após longa trajetória de vida convivendo com aqueles com quem
mantinha laços de amizade e consanguinidade, deixando para trás seu estilo de vida
pessoal e de viver seu cotidiano. É nesse contexto que o residente em Instituições
de Longa Permanência para Idosos (ILPI) reconstitui o seu cotidiano, no qual se
faz funcionar “todos os seus sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas
habilidades manipulativas, seus sentimentos, paixões, idéias, ideologias (BESSA;
PEIXOTO, 2008, p. 259).

Assim, nota-se que os impactos causados pela necessidade de institucionalizar idosos são
muito grandes e traduzem um cenário onde é refletida uma das faces mais cruéis da questão social,
o abandono.
70

Na instituição de longa permanência para idosos, os mesmos são direcionados a reconstruir


suas vidas, não a que tinham antes, mas em uma dimensão muito restrita. A localização da velhice
no asilo parece não ser apenas geográfica, mas também representativa: o asilo passa a ser visto
como uma espécie de limbo, onde a velhice se encontra fora do tempo e do espaço, vista como
degeneração, alienada do mundo (BESSA; PEIXOTO, 2008). Assim, um importante aspecto da
questão social inerente aos idosos a ser citada é o abandono e o estigma que a institucionalização
acarreta em suas vidas.
Sobre a bandeira da institucionalização e a necessidade de atender os idosos de que dela
necessitam, a cidade de Franca conta com instituições de longa permanência para idosos que
cumprem com o objetivo de oferecer abrigo e moradia aos idosos que perderam a referência do lar.
Abaixo segue um quadro que mostra as instituições existentes em Franca e o número
aproximado de idosos que as mesmas possuem.

Quadro 2 - Instituições de longa permanência para idosos em Franca-SP


Instituição Bairro Número de Idosos
atendidos
Instituição Espírita Nosso Vila Nossa Senhora das 42 idosas
Lar “Lar Dona Leonor” Graças
Casa São Camilo de Lellis Bairro São Luis 2 35 idosos (ambos os sexos)
Lar São Vicente de Paulo Jardim Consolação 50 idosos (ambos os sexos)
Fundação Espírita Judas Jardim Planalto 184 idosos (ambos os
Iscariotes “Lar de Ofélia” sexos)
Lar de Idosos Eurípedes Jardim Santa Mônica 40 idoso (ambos os sexos)
Barsanulfo
Total 5 entidades em 5 bairros 351 idosos (ambos os
de Franca sexos)

No quadro acima, verifica-se que na cidade de Franca, existem 5 instituições de longa


permanência para idosos, as quais atuam em bairros diferentes, o que mostra que a atenção aos
idosos que necessitam desse recurso ocupa áreas diferentes da cidade e populações com
características distintas por várias questões. Dentre elas, ressalta-se o Lar Dona Leonor, situado no
bairro Vila Nossa Senhora das Graças, que atende somente mulheres.
O número aproximado de 351 idosos institucionalizados em Franca, talvez não atenda a
demanda, já que ao se analisar a quantidade de idosos no município, verifica-se uma proporção
71

muito pequena de idosos em instituições de longa permanência, representando 0,84% de idosos


institucionalizados.
Esses dados revelam que uma pequena parcela de idosos, na cidade de Franca, está em
condição de institucionalização. Porém, não existe meio de se afirmar se a grande maioria não
institucionalizada poderia requerer essa medida, e também não se pode afirmar que essa grande
maioria de não institucionalizados não necessitem de tal medida. O que se pode afirmar é que a
quantidade de idosos em condição de morador de instituição de longa permanência em Franca é
pequeno se comparado ao número de idosos da cidade.
Nota-se que na cidade de Franca, a questão social que envolve os idosos, bem como as
características das instituições de longa permanência para idosos abordados neste estudo, não
diverge dos estudos de diversos autores apresentados neste artigo.

4. OS DESAFIOS DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL JUNTO AO IDOSO


INSTITUCIONALIZADO NA CIDADE DE FRANCA-SP

No Brasil, a base de atuação dos assistentes sociais é a questão social e suas múltiplas
facetas, sendo assim, torna-se relevante definir o conceito de serviço social.

Serviço Social é uma ação de construções teórico-metodológicas advindas do


movimento fecundo da teoria pela prática e da prática pela teoria que implica
acumulação de experimentações controladas por um saber sistemático que articula
a investigação quanti-qualitativa com as análises críticas das mesmas no exercício
profissional (FALEIROS, 2002, p. 32).

O autor expõe sua forma particular de conhecimento voltado para a prática do serviço
social, em que ao conhecer a realidade vai construindo no pensamento um projeto de ação, vai de
uma maneira particular de ver os problemas e construindo soluções, desenvolvendo aplicações
técnicas e teóricas na atuação profissional. Já Iamamoto e Carvalho (2005), delimitam o serviço
social como uma profissão socialmente determinada na história da sociedade brasileira e que se
formou e desenvolveu no marco das forças societárias como uma especialização do trabalho na
sociedade.
Atualmente, muitos idosos desprovidos de seus familiares procuram as instituições asilares
pela certeza de estarem em um local onde serão cuidados por profissionais capacitados, garantindo
sua segurança e saúde. Contudo, uma das realidades observadas em muitos lugares é a falta de
qualificação dos recursos humanos (FURKIM et al. 2010).
72

Entende-se que os idosos já possuem um histórico de fragilização, e quando a equipe de


profissionais não possui o devido preparo e qualificação, possibilita o atendimento inadequado aos
mesmos, sem atender as suas reais necessidades.
É importante trazer para o debate a questão da qualificação profissional da equipe de
atendimento aos idosos nas instituições de longa permanência. Sabe-se que a maior parte das
instituições referidas conta com equipe multidisciplinar, a qual Lima (2012) qualifica da seguinte
forma:

Multidisciplinaridade consiste na agregação de duas ou mais áreas do


conhecimento para examinar um mesmo tema sob pontos de vista distintos, sem
que os profissionais implicados estabeleçam entre si efetivas relações no campo
técnico ou científico. Funciona com a justaposição de disciplinas de um único
nível, sem cooperação sistemática entre os diversos campos (TAVARES, et. al.,
2005 apud LIMA, 2012, p.872).

Nestes termos, nota-se que a multidisciplinaridade é a composição de áreas do


conhecimento diversas que atuam com o mesmo tema, porém, torna se prioridade a sistematização e
troca dos saberes, o que pressupõe dizer que este tipo de atuação norteia a promoção de qualidade
de vida, para atender as demandas que emergem dos idosos institucionalizados, pois é necessária a
troca de informações e sistematização das ações para não se fragmentar o trabalho.
Lima traz o conceito de “interdisciplinaridade que acontece quando campos marcadamente
diferentes trocam interações reais, devido a certa reciprocidade no intercâmbio, o que acaba
produzindo um enriquecimento mútuo” (BONILHA, 2009 apud LIMA 2012, p.872). Assim,
verifica-se que o processo interdisciplinar é o mais recomendado ao trabalho com os idosos
institucionalizados, pois a efetiva troca de saberes pode produzir efeitos muito positivos no
trabalho, uma vez que o objetivo da atuação das diversas profissões terminam por ser o mesmo, que
é o de promover qualidade de vida aos idosos e propiciar ambiente que favoreça a adaptação dos
mesmos à realidade institucional.
No que se refere ao trabalho da assistente social da instituição, a atuação ocorre de forma
ética e responsável, cumprindo os dispositivos do Código de Ética Profissional dos Assistentes
Sociais. O trabalho do serviço social em instituição de longa permanência possui caráter
extremamente estratégico, uma vez que atua de modo a facilitar o cotidiano das idosas através da
busca e efetivação dos direitos das mesmas, trabalhando a questão da cidadania para as pessoas
institucionalizadas. Percebe-se que o serviço social contribui muito para a equipe, de modo a
fornecer recursos que facilitam o processo de trabalho obtidos do conhecimento técnico/operativo e
teórico/metodológico do serviço social. Verifica-se que o trabalho da assistente social visa também
73

à articulação da rede socioassistencial em favor das pessoas idosas da instituição, como forma de
acesso à cidadania e aos direitos.

5. EFETIVAÇÃO DO PROGRAMA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA

Atuando na Instituição Espírita Nosso Lar, na cidade de Franca-SP, onde são


institucionalizadas quarenta e duas idosas em regime de longa permanência, a atuação profissional
da assistente social, tem como competência teórica metodológica, a humanização e promoção de
qualidade de vida acrescida de carinho, afetividade e respeito às necessidades e às demandas das
idosas do referido instituto. Através do estudo, constatou-se também, como a atuação do trabalho
multidisciplinar entre equipe de profissionais contribui para uma melhor qualidade de vida das
mesmas.
O envelhecimento humano é um fenômeno complexo, com dimensões objetivas e
subjetivas, construídas cultural e historicamente. O bem-estar da pessoa na velhice depende tanto de
fatores sociais e ambientais como das determinações genéticas.
Tendo em conta estas realidades, cabe ao profissional do serviço social encontrar medidas
e formas de intervenção que permita proporcionar uma transformação no ambiente institucional,
promovendo o bem-estar dos idosos para que tenha sua individualidade e suas necessidades
atendidas. Verifica-se que o trabalho da assistente social visa também à articulação da rede
socioassistencial em favor das idosas da instituição, como forma de acesso à cidadania e aos
direitos.
O assistente social em sua atuação tem como meta promover o acolhimento e proteção
social e garantia dos direitos dos idosos, além de desencadear um processo de promoção da
qualidade de vida da pessoa idosa através de ações de capacitação, valorização, autonomia,
integração e participação do idoso na sociedade. A assistência social é referência no atendimento
social da Instituição Espírita Nosso Lar.
Nesse sentido, entende-se que a atuação do assistente social baseia-se na promoção de um
trabalho humanizado, na sustentação da qualidade de vida e do bem-estar do público beneficiário de
sua atuação profissional.

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75

SITUAÇÃO PSICOSSOCIAL DA PESSOA IDOSA: ASPECTOS APREENDIDOS NO


CONTEXTO DA UNIDADE AUXILIAR CENTRO JURÍDICO SOCIAL
SITUAÇÃO PSICOSSOCIAL DA PESSOA IDOSA: ASPECTOS APREENDIDOS NO
CONTEXTO DA UNIDADE AUXILIAR CENTRO JURÍDICO SOCIAL Claudia Mazzer
Rodrigues e Adriana Regina de Almeida
Claudia Mazzer Rodrigues1
Adriana Regina de Almeida2

Resumo
Apesar de um importante conquista, o envelhecimento individual e social tem provocado o surgimento de
novas demandas e problemas, especialmente em realidades nas quais imperam significativa desigualdade
social e carência de políticas públicas que atendam às necessidades dos cidadãos. Diante dos desafios que
essa nova condição representa, o presente artigo teve como objetivo discutir sobre a situação psicossocial da
pessoa idosa, a partir de apreensões da realidade do contexto de atendimentos da Unidade Auxiliar Centro
Jurídico Social da UNESP, conferindo-se destaque para o lugar do idoso no que se refere às questões de
família e da previdência social. Por meio do levantamento e da análise dos dados referentes aos arquivos dos
anos de 2012 e 2013, foi possível observar a ocorrência de mudanças de valores e atitudes em relação aos
papéis filiais, uma vez que os idosos demonstraram assumir responsabilidades de cuidado e sustento de
filhos e netos; bem como a inexistência de um amparo seguro oferecido pela família, ou pelo Estado, a esses
idosos. Quanto às questões relacionadas à previdência social, observa-se que o idoso também acaba
assumindo a responsabilidade do sustento da família, uma vez que o benefício, muitas vezes, representa a
principal renda do núcleo familiar. A partir da situação psicossocial da pessoa idosa constatada no referido
contexto, ressalta-se que enquanto o cuidado ao idoso não for entendido como uma questão pública, de
responsabilidade das famílias, do Estado e da sociedade como um todo, este provavelmente continuará
ocupando um lugar de exclusão e desamparo, sem qualquer garantia de exercício de sua cidadania.

Palavras-chave: Pessoa Idosa; Envelhecimento; Família; Previdência Social.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é sem dúvida uma importante conquista para a sociedade


moderna, haja vista os avanços científicos nas áreas da saúde, do saneamento básico, da tecnologia
e até mesmo da área ambiental, que permitiram à humanidade vivenciar o fenômeno da transição
demográfica decorrente do aumento da expectativa de vida e da significativa diminuição da taxa de

1
Psicóloga da Unidade Auxiliar Centro Jurídico Social - UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca.
Mestra em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia USP/Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
de Ribeirão Preto. E-mail: claudiamr@franca.unesp.br
2
Assistente Social da Unidade Auxiliar Centro Jurídico Social - UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de
Franca. Mestra em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social UNESP/Faculdade de Ciências
Humanas e Sociais de Franca. E-mail: adriana.almeida@franca.unesp.br
76

fertilidade. Apesar do crescimento do número de pessoas idosas na população consistir em um


indício de progresso social, sua ocorrência provoca o surgimento de novas demandas e problemas.
Em países com significativa desigualdade social e políticas públicas que não atendem às
necessidades evolutivas dos cidadãos de todas as idades, como é o caso do Brasil, as demandas
decorrentes do envelhecimento individual e social acarretam ônus econômico, conflitos de
interesses e carências de todo tipo. Dados nacionais têm retratado um envelhecimento sem
qualidade e uma carência quanto aos aspectos político e social de suporte para um envelhecer digno.
Considerando os desafios que a nova realidade social representa, o presente artigo tem
como objetivo discutir sobre a situação psicossocial da pessoa idosa, a partir de apreensões da
realidade no contexto de atendimentos psicossociojurídicos da Unidade Auxiliar Centro Jurídico
Social da UNESP, conferindo destaque para a condição do idoso no que se refere à família e à
previdência social.

1. ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DA VELHICE

O envelhecimento é um processo natural do curso de vida, caracterizado por mudanças


físicas, psicológicas e sociais que acometem a cada pessoa de maneira particular, conforme as
experiências e características próprias e peculiares, resultantes da trajetória de vida, na qual umas
apresentam maior dimensão e complexidade que outras, integrando a formação do indivíduo idoso
(MENDES et al., 2005). Pressupõe-se, assim, que envelhecimento e desenvolvimento sejam
processos correlatos, de modo que, mesmo na presença das limitações biológicas, se o ambiente
sociocultural for propício, pode ocorrer desenvolvimento na velhice (BALTES, 1987, 1997).
Ainda que haja a possibilidade de desenvolvimento, o avanço da velhice está
inegavelmente associado a um risco aumentado de vulnerabilidade e disfuncionalidade (NÉRI,
2004). Nessa fase da vida, pode ocorrer um acúmulo de perdas: o abandono da vida profissional e o
fim das relações com os colegas de trabalho, perda de alguns familiares e amigos, perda do cônjuge,
perda de alguma independência financeira, perdas ao nível da saúde, entre outras. Tais fenômenos,
que são ainda mais intensos quando da institucionalização, exigem uma profunda alteração dos
papéis sociais e demandam um processo de reconstrução identitária.
Nesse sentido, o processo de envelhecimento é, ao mesmo tempo, uma realidade biológica
e sociocultural, representado de formas diversas em diferentes culturas e com papéis sociais,
expectativas e valores próprios desse momento da vida, os quais exercem grande influência sobre a
percepção que o sujeito possui acerca do mundo e da sua própria definição enquanto sujeito que
interage com este mundo (SANTOS, 1994). Sendo assim, esse fenômeno histórico, social e
cultural, multifacetado e multidisciplinar, perpassa as trajetórias de vida pessoal e social e só pode
77

ser compreendido em determinado tempo e espaço, sofrendo influência de variáveis como etnia,
classe social, relações de gênero, ideologias, entre outras.
Conforme afirmaram Baltes e Smith (1995, p. 41) “o envelhecimento precisa de uma
avaliação sustentada em uma perspectiva multidimensional, na qual fatores objetivos e subjetivos
sejam considerados dentro de um contexto cultural, que contém demandas específicas”.
Na sociedade atual, qualquer valoração apresenta como fundamento a ideia básica de
produtividade, inerente ao capitalismo. Em razão desse modelo de produção econômica que
exacerba o individualismo, o efêmero, o consumo, e em que apenas o novo pode ser valorizado,
enquanto o velho passa a ser considerado ultrapassado e, muitas vezes, acaba descartado,
descortina-se o pano de fundo de uma conjuntura social em que o envelhecimento humano se tece
ainda entre mitos e estereótipos, concepções e crenças, que acabam por marginalizar a pessoa idosa
e arrastam consigo um conjunto de problemas ao nível da saúde pública, dos sistemas de segurança
social e do próprio bem-estar geral da população idosa.

Na sua elaboração enquanto um problema, o envelhecimento pode receber


influência além do ‘envelhecimento da população’, de outros como o da pobreza,
da dependência, ou ainda das relações entre as gerações. O papel definido aos
velhos em determinada sociedade é fruto das influências exercidas pela
organização sócio econômica cultural, que acaba sugerindo a imagem do que serão
seus velhos. Podemos considerar que a visão marginalizada dos que se
transformam em velhos perdurou durante muitos séculos e continua no século XXI,
apenas de maneira mais sutil (ALVEZ JUNIOR, 2009, p. 19).

A perspectiva do envelhecimento ativo pode estar contribuindo para a sutileza apontada


pelo referido autor ao proporcionar ao idoso a possibilidade de tecer projetos de vida, que os
coloquem em papéis ativos diante da própria vida e da sociedade, sem restringir-se aos limites
cronológicos do presente que, no imaginário social, não vislumbra, sem preconceito, um futuro tido
como “promissor”. Trata-se de uma sociedade que deseja viver muito e, ao mesmo tempo, teme
envelhecer, que exclui o idoso da esfera social, e que desconhece os direitos sociais da pessoa idosa.
A legislação criada especificamente para a garantia da autonomia, integração e participação
efetiva dos idosos não tem sido aplicada de maneira eficiente, o que se deve a vários fatores, desde
as contradições dos textos legais até o desconhecimento de seu conteúdo por grande parte da
população. A distância entre o que é previsto pela lei e a realidade da pessoa idosa em nosso país
somente poderá ser minimizada por meio da mobilização constante da sociedade.
A visibilidade da pessoa idosa necessita ser cotidianamente construída, primeiramente,
tendo-se em vista as relações intergeracionais, capazes de cultivar uma cultura da tolerância, em que
o respeito às diferenças seja o valor fundamental, considerando o ser humano como prioridade
absoluta, independentemente da faixa etária, classe social, capacidade produtiva, entre outros
78

fatores; e posteriormente, a efetivação da inclusão e proteção social, até então conquistadas


enquanto direitos sociais, e que, pela lógica neoliberal, deveriam ser suprimidos por representarem
um entrave ao crescimento econômico.
Sendo assim, viabilizar os direitos sociais dos idosos requer um esforço extra na
mobilização e na organização dos movimentos sociais que representem os interesses dessa
população, pois a materialização dos mesmos só ocorre pela implementação de políticas sociais,
que, por sua vez, não garantem automaticamente o usufruto dos direitos. É essencial que a
sociedade seja capaz de construir um novo olhar sobre o processo de envelhecimento que está
vivenciando.

2. A PESSOA IDOSA NA UNIDADE AUXILIAR CENTRO JURÍDICO SOCIAL

2.1. A UNIDADE AUXILIAR CENTRO JURÍDICO SOCIAL

Em 1992, o até então Escritório Jurídico da Unesp Câmpus de Franca foi transformado em
Unidade Auxiliar de estrutura simples Centro Jurídico Social - UACJS pela Resolução Unesp n.
34/92, passando a desenvolver atividades interdisciplinares que, atualmente, integram saberes das
áreas de Direito, Serviço Social e Psicologia. Em atendimento ao tripé da Universidade - ensino,
pesquisa e extensão - constitui-se em um campo diferenciado de estágio para alunos dos cursos de
Direito e Serviço Social, oferece atendimento psicossociojurídico à população em situação de
vulnerabilidade social e oportuniza o desenvolvimento de pesquisas acadêmico-científicas.
Seu foco de atuação foi sendo delineado ao longo dos anos, a partir das demandas da
sociedade na qual se insere, de modo que hoje apresenta como suas principais áreas de atuação:
família (divórcio, alimentos, guarda, regulamentação de visitas, investigação de paternidade,
adoção, interdição, alvará judicial, autorização para trabalho de adolescente) e previdência social
(aposentadoria, auxílios doença e acidente, salários maternidade e família, pensão por morte e
auxílio reclusão, e benefício assistencial de prestação continuada).
A UACJS tem como objetivo fundamental incentivar a construção do conhecimento em
suas áreas de intervenção, a partir da formação técnica, ética e profissional de seus estagiários, os
quais atuam junto à comunidade por meio da prestação de serviços sociojurídicos e da divulgação
de direitos e deveres, com vistas à sensibilização das pessoas enquanto sujeitos do processo político,
econômico, social e jurídico. Para tanto, a Unidade desenvolve também atividades em projetos de
extensão, elaborados a partir de demandas identificadas no cotidiano de trabalho, os quais envolvem
a participação de alunos, da equipe técnica composta por advogadas, assistentes sociais e psicóloga,
79

e dos docentes coordenadores, possibilitando a articulação de conhecimentos das diferentes áreas e


a apreensão da realidade social da população-alvo.
Nesse sentido, a UACJS apresenta uma atuação atenta às demandas e às novas
possibilidades de intervenção, fundamentada no compromisso social de integrar ensino e pesquisa,
universidade e sociedade, com um trabalho voltado para a divulgação, em diversos espaços da
comunidade, dos direitos humanos fundamentais e para a oportunização dos meios de acesso à
justiça.

2.2. A PESSOA IDOSA NAS QUESTÕES DE FAMÍLIA

O papel da família, fundamental em qualquer estágio da vida, torna-se especialmente


relevante durante a velhice, cabendo a ela estabelecer um ambiente harmonioso, propiciador do
fortalecimento das relações e do oferecimento de cuidados que favoreçam o equilíbrio afetivo e
físico do ente idoso, de modo a valorizar as suas potencialidades de maneira global (LEME; SILVA,
2002). É na família que a pessoa idosa pode encontrar recursos para viver esse momento,
caracterizado pelo confronto entre sonhos, rupturas e realidade, de maneira mais criativa e afetiva
(BRACIALI, 2009).
Embora o cuidado familiar seja essencial, e afirmado pela legislação e pelas políticas
públicas, este não se constitui em uma realidade para muitos idosos. Alguns não têm família, outros
são cuidados de maneira inadequada ou ineficiente, e para outros simplesmente inexiste qualquer
relação de cuidado, o que acontece devido à insuficiência de recursos financeiros, à
indisponibilidade, ao despreparo ou à sobrecarga de responsabilidades dos familiares, entre outros
fatores.
As mudanças contemporâneas ocorridas nas famílias, decorrentes da redução de seu
tamanho médio, do surgimento de novas configurações familiares, entre outros aspectos, têm
ressaltado a necessidade de estudos e discussões sobre o lugar do idoso no contexto familiar. A
pessoa idosa, hoje, encontra-se apenas na condição de dependente dentro da família, ou, ao
contrário, tem representado a garantia de subsistência familiar? Tem se observado uma
interdependência entre as gerações?
O levantamento e a análise dos dados de arquivos da UACJS, dos anos de 2012 e 2013,
referentes aos usuários idosos, com idades entre 61 e 80 anos, revelaram os seguintes motivos para
a procura por assistência sociojurídica: interdição de filho(a) com transtornos mentais; guarda de
neto(a); exoneração de alimentos devidos ao(à) filho(a) ou neto(a); execução de alimentos devidos
ao(à) neto(a), do(a) qual possui a guarda; divórcio; e partilha de bens do(a) companheiro(a).
80

Tais achados evidenciaram alterações de valores e atitudes com relação aos papéis filiais,
uma vez que foi possível observar idosos assumindo responsabilidades de sustento e cuidado de
filhos e netos. Embora as trocas intergeracionais e o exercício de novos papéis familiares sejam
favoráveis para o envelhecimento ativo, ressalta-se que, nos casos analisados, evidenciou-se a
sobrecarga de responsabilidades assumidas pelos idosos diante da capacidade insuficiente dos filhos
e netos de desempenhá-las, bem como a inexistência de um amparo seguro, oferecido pela família
ou pelo Estado, para esses idosos.
Observou-se uma renda média de dois salários mínimos entre as pessoas idosas que
buscaram atendimento na Unidade, sendo elas as únicas pessoas responsáveis pela provisão de
recursos para a família ou as corresponsáveis, juntamente ao(à) companheiro(a), também idoso(a).
Foi possível notar que as rendas advêm de aposentadoria, pensão por morte ou benefício de
prestação continuada. Em vista disso, cabe destacar, conforme constatou Telles (2003), que a pessoa
idosa tem se constituído em uma garantia do sustento familiar, considerando-se sua renda da
aposentadoria ou outros benefícios e o patrimônio que tenha adquirido ao longo da vida.
Outro dado relevante se refere ao fato de que esses usuários são em sua maioria mulheres,
o que parece refletir que o cuidado familiar, também no caso da pessoa idosa que assume as
responsabilidades de outros entes, ainda é compreendido como um valor predominantemente
feminino. A noção de que cabe às mulheres a responsabilidade pelas tarefas inerentes ao trabalho
reprodutivo contribui para sustentar o entendimento de que a reprodução social é um encargo das
mulheres e não da sociedade. Tal compreensão, além de prejudicar a divisão equitativa de
responsabilidades entre homens e mulheres, apresenta também influências na definição de temas e
prioridades das políticas públicas, resultando em uma não abordagem das questões do cuidado por
parte do Estado e no déficit dos serviços públicos voltados para a cobertura dessas tarefas
(VASCONCELOS, 2009).
Também foi possível observar, entre esses usuários, idosos que vivem sozinhos após a
morte do cônjuge. A configuração familiar unipessoal pode ser influenciada por fatores como o
nível de renda, a preferência por privacidade e o momento do ciclo de vida em que a pessoa se
encontra (TELLES, 2003). Apesar das vantagens da preservação da privacidade e da independência,
o isolamento social e a ausência de apoio familiar podem representar obstáculos a um
envelhecimento saudável e digno, especialmente quando a composição unipessoal não ocorreu por
uma livre escolha da pessoa.
A situação da pessoa idosa na família, conforme apreendida no contexto em questão,
revelou que, apesar da inquestionável relevância da manutenção das relações familiares e da
permanência do idoso no seio da família, se faz indispensável a consideração das mudanças
ocorridas na estrutura familiar, bem como a carência dos idosos, e das suas famílias, de condições
81

de vida favoráveis. Enquanto o cuidado à pessoa idosa não for entendido como uma questão
pública, de responsabilidade das famílias, mas também do Estado e da sociedade como um todo,
provavelmente, o idoso continuará ocupando um lugar de exclusão e desamparo. É evidente a
necessidade de estruturação de serviços em vários âmbitos de atuação das políticas públicas para
que se possa garantir o bem-estar da pessoa idosa e o exercício de sua cidadania.

2.3. A PESSOA IDOSA E A PREVIDÊNCIA SOCIAL

Num contexto em que o capital concentra poder e globaliza a miséria, torna-se difícil
compreender de que modo é possível a sociedade brasileira atender às demandas sociais tendo em
contrapartida o desemprego estrutural, o subemprego e a redução da presença do Estado nas
políticas sociais, sendo estas, muitas vezes, insuficientes para resolver problemas básicos de
sobrevivência dos mais variados segmentos da população. Nesse cenário, a população idosa
configura-se como um dos segmentos mais vulneráveis, pois como já mencionado, para que a
velhice possa ser vivida com dignidade, qualidade de vida e direitos assegurados são necessários
renda, políticas, serviços, atenção e cuidado social permanente no dia-a-dia.
No que diz respeito à renda, nos deparamos com uma contradição interessante ao
observarmos que, ao mesmo tempo em que o idoso, enquanto força de trabalho, é considerado
improdutivo e até mesmo oneroso ao sistema previdenciário, ocupa, no ambiente familiar, um
espaço significativo para a sobrevivência da família, que passa a depender cada vez mais da
contribuição de seus benefícios previdenciários como aposentadoria, pensões, e até mesmo do
beneficio assistencial, para a composição da renda familiar, sendo essa dependência cada vez maior,
quanto menor o nível de renda dos demais membros da família.

Dessa forma, o benefício recebido pelo idoso, que é proveniente da previdência


social, na forma de aposentadoria e pensão, cumpre uma função de proteção social
importante. Através dele é possível constatar, no espaço familiar, uma
revalorização da pessoa idosa que, de posse da renda oriunda de sua aposentadoria,
obtém uma espécie de salvaguarda de subsistência familiar. Dessa forma, os idosos
invertem o papel social de assistido para assistente (AREOSA, AREOSA, 2008, p.
140).

Este fato não significa que o valor real do beneficio, previdenciário ou assistencial, que o
idoso recebe seja suficiente para o provimento das necessidades básicas, mas sim a pauperização
cada vez maior das famílias num país em que a desigualdade social ainda é um grande desafio.
A Constituição de 1988, além de afirmar que a Família, a Sociedade e o Estado devem dar
a devida atenção e atender as necessidades que são inerentes à pessoa idosa, garantiu o amparo para
aqueles que não possuem renda, por meio do beneficio assistencial, regulamentado pela Lei
82

8742/98 (LOAS). Por esse Benefício de Prestação Continuada (BPC), a pessoa deficiente e o idoso,
com idade acima de 65 anos, que não tenha condições de ter provido seu sustento por sua família ou
por si mesmo, no caso do idoso pelo fato de não ter contribuído no decorrer da vida profissional
com a previdência social, e por isso não conseguiria o beneficio da aposentadoria, lhe é concedida
uma renda mensal no valor de um salário-mínimo.
Quando por algum motivo o benefício, seja ele previdenciário ou assistencial, é negado
pela Previdência Social, cabe à pessoa recorrer ao judiciário para solicitar a efetivação do direito de
recebê-lo. Na área previdenciária, em que o idoso, com idades entre 60 e 85 anos, procurou
atendimento na Unidade Auxiliar Centro Jurídico Social nos anos de 2012 e 2013, o Benefício de
Prestação Continuada (BPC) representou 32 % das solicitações, seguida da aposentadoria por idade
e pensão por morte. Outras demandas foram por auxílio-doença e aposentadorias rural e por
invalidez.
Observou-se nas solicitações de BPC que o idoso era o principal provedor do sustento da
família por meio de sua aposentadoria que variava entre um e dois salários mínimos, sendo que o
benefício era solicitado para os filhos portadores de doenças incapacitantes tanto para o trabalho
como para as responsabilidades da vida civil, já que se encontravam interditados, sendo os pais
idosos seus curadores, ou para o cônjuge, também idoso, que naquele momento estava com a saúde
comprometida por doenças crônicas ou demais doenças próprias dessa fase da vida, como por
exemplo, o Alzheimer. Apenas em um dos casos, a solicitação era para o próprio idoso, o qual no
decorrer da vida trabalhou no mercado informal, e devido a um acidente de trabalho, aos 65 anos,
não consegue mais prover o sustento da família de quatro pessoas, sendo que em seu núcleo
familiar também há um filho interditado.
Na solicitação de aposentadoria por idade, o idoso contava com a idade necessária, porém
a dificuldade em comprovar as 180 contribuições, critério para a concessão do beneficio, o levou a
recorrer ao judiciário na tentativa de efetivar seu direito. Já no caso da pensão por morte, a
dificuldade estava na comprovação da dependência do idoso em relação ao assegurado que havia
falecido.
Destacamos essas três solicitações pela representatividade da questão da renda no processo
de envelhecimento da população, pois a forma como o sistema previdenciário está organizado
apresenta influência direta tanto no que diz respeito aos rendimentos de famílias inteiras,
determinando inclusive o grau de dependência econômica dos idosos, como também à questão da
distribuição futura da renda não só entre indivíduos, mas entre gerações.
Sendo assim, as preocupações no que tange ao sistema previdenciário vão além do
puramente contábil, ou seja, vão além da discussão do aumento das contribuições e/ou impostos,
redução do valor dos benefícios sociais e, até mesmo, o aumento da idade mínima para a
83

aposentadoria, pois o que está posto é a questão de sobrevivência de uma parcela significativa das
famílias brasileiras, as quais deveriam ser consideradas como prioridade das políticas públicas
voltadas para a qualidade de vida e o bem-estar coletivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retomando o objetivo proposto de discutir a situação psicossocial da pessoa idosa a partir


de apreensões da realidade no contexto de atendimentos da UACJS-UNESP, com destaque para o
lugar do idoso no que se refere às questões de família e da previdência social, entende-se que os
aspectos observados provavelmente não são representativos da totalidade da população idosa do
país, dado o seu caráter histórico, social e cultural, multifacetado e multidisciplinar, que perpassa as
trajetórias de vida pessoal e social. No entanto, a constatação de situações de sobrecarga de
responsabilidades e de desemparo por parte das famílias e do Estado, revelam a necessidade de um
novo olhar para o cuidado da pessoa idosa, o qual deve ser compreendido como uma questão
pública, de responsabilidade das famílias, do Estado e de toda a sociedade. Evidencia-se, assim, a
primordialidade da estruturação de serviços em vários âmbitos de atuação das políticas públicas
para que se possa garantir a dignidade e o exercício da cidadania à pessoa idosa.

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85

OFICINA DA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE INTERDISCIPLINAR SOBRE A EFETIVAÇÃO


DOS DIREITOS DOS IDOSOS

OFICINA DA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE INTERDISCIPLINAR SOBRE A EFETIVAÇÃO DOS


DIREITOS DOS IDOSOS éssica Taís da Silva, Junia Utida e Laura da Cunha Varella
Jéssica Taís da Silva1
Junia Utida2
Laura da Cunha Varella3

Resumo
O presente artigo trata do projeto “Oficina da família: uma análise interdisciplinar sobre a efetivação dos
direitos dos idosos”, que é desenvolvido pela Unidade Auxiliar Centro Jurídico Social (UACJS). O projeto
tem como objetivos divulgar o trabalho de assistência sociojurídica à população e, ainda, informar a respeito
dos direitos dos idosos consolidados pelo Estatuto do Idoso. Para isso, são realizadas oficinas nos Centro de
Convivência do Idoso (CCI) na cidade de Franca, onde se debatem as deficiências na saúde, transporte e
outras políticas públicas municipais. Além disso, o trabalho realizado pelo UACJS é divulgado, permitindo
aos idosos que tirem suas dúvidas acerca de procedimentos jurídicos. A partir das demandas e
questionamentos abordados nas oficinas, o grupo procura conversar com autoridades municipais
responsáveis pela efetivação dos direitos dos idosos, na tentativa de solucionar os problemas apresentados.
Além das oficinas, também são criadas cartilhas populares a fim de que a população tenha acesso facilitado
às informações sobre benefícios, leis e do próprio trabalho da UACJS. Por fim, destaca-se a realização do
evento “A pessoa idosa em Franca: diálogos entre saberes e práticas”, que contou com a participação ativa
dos idosos de Franca, além de profissionais da área da saúde, da assistência social e do direito.

Palavras-chave: Idosos; Direitos; Interdisciplinaridade; Acesso à informação.

INTRODUÇÃO

O temática da velhice tem ganhado cada vez mais destaque no Brasil, na medida em que a
população tem evoluído para uma pirâmide etária de envelhecimento. Tendo em vista esse quadro
nacional, a Unidade Auxiliar Centro Jurídico Social (UACJS) criou o projeto de extensão
atualmente denominado “Oficina da família: uma análise interdisciplinar sobre a efetivação dos

1
Graduanda do 3º ano de Serviço Social da UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca. E-mail:
jessicataais@gmail.com
2
Graduanda do 4º ano de Direito da UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca. E-mail:
junniautida@gmail.com
3
Graduanda do 4º ano de Direito da UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca. E-mail:
laura.varella1@gmail.com
86

direitos dos idosos”, o qual tem como um de seus objetivos principais a divulgação dos direitos da
pessoa idosa na cidade de Franca-SP, a fim de lhes garantir maior efetividade.
A partir da especificação do tema a ser desenvolvido pelo projeto, foi necessária a
definição da melhor abordagem prática para alcançar os objetivos almejados. Assim, houve a
realização de oficinas junto aos Centros de Convivência do Idoso de determinadas regiões na cidade
de Franca, com a exposição dos dispositivos contidos no Estatuto do Idoso. Vale ressaltar que, no
presente artigo, não se pretendeu esgotar os assuntos tratados nas oficinas, por conveniência, serão
explanados apenas os assuntos que geraram certa polêmica ou originaram muitos questionamentos
por parte dos idosos. A partir da identificação das demandas dos indivíduos da terceira idade, os
integrantes do projeto começaram as atividades objetivando a concretização de melhorias na
realidade vivenciada pelos idosos em Franca.
Durante as reuniões do projeto, tendo sido observada a aproximação da data 1º de outubro
de 2013, dia internacional do idoso, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) na
Assembleia Mundial sobre Envelhecimento, realizada em 1982, na Áustria, foi decidido pelo grupo
sobre a realização de um evento em prol da pessoa idosa. Assim, o UACJS, em parceria com o
Núcleo Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) e a Pró-Reitoria de Extensão Universitária –
PROEX realizaram o evento “A pessoa idosa em Franca: Diálogos entre saberes e práticas”, nos
dias 24, 25 e 26 de setembro de 2013, com localização no Anfiteatro II da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”- Câmpus de Franca. Os assuntos tratados foram relativos ao bem
estar do idoso para um envelhecimento ativo, tendo como ouvintes os próprios idosos, os estudantes
e os profissionais das diversas áreas interessadas.

1. APRESENTAÇÃO DO PROJETO

O projeto “Oficina da família: uma análise interdisciplinar sobre a efetivação dos direitos
dos idosos” surgiu como consequência do trabalho desenvolvido pela Unidade Auxiliar Centro
Jurídico Social (UACJS), grupo do qual os integrantes do projeto em análise também fazem parte, e
que tem como objetivo a prestação de assistência sociojurídica à população em vulnerabilidade
social da comarca de Franca-SP. No desenvolvimento desse trabalho, observou-se uma deficiência
quanto à informação das pessoas a respeito de seus direitos. Foi discutido que não bastava somente
tutelar o direito depois que ele já foi violado ou depois que o litígio já havia se consumado: era
necessária a conscientização da população enquanto cidadãos de direito, antes mesmo de qualquer
violação.
87

Como grande parte da demanda do Centro Jurídico está relacionada às questões familiares,
se fez imprescindível a realização de um projeto que pudesse levar à população informações a
respeito das leis e de suas aplicações na vida dos particulares.
O estudo para a realização do projeto se iniciou a partir da leitura e discussão dos Estatutos
do Idoso e do Estatuto da Criança e do Adolescente. Com o desenvolvimento do projeto e com a
parceria com a UNATI (Universidade Aberta da Terceira Idade), o grupo acabou convergindo seus
estudos para a questão do idoso em Franca, por ser uma questão que apresenta diversas
problemáticas, tanto no âmbito da violação de direitos como no da desinformação da população.
Dessa forma, o grupo optou por realizar atividades que fomentem a conscientização das
pessoas idosas e suas famílias, bem como das novas gerações, sobre os direitos dos idosos e os
meios para a garantia de sua cidadania. A realização de atividades com idosos, famílias, crianças e
adolescentes, apresenta-se de fundamental importância, uma vez que as práticas intergeracionais
têm sido consideradas essenciais na prevenção de preconceitos e no estímulo ao respeito, à
convivência e à reciprocidade entre gerações.
Para alcançar esse objetivo, foram definidos dois métodos principais: a distribuição de
cartilhas populares e a realização de oficinas. As cartilhas foram pensadas no intuito de favorecer o
esclarecimento e a conscientização sobre os direitos da pessoa idosa através do uso de linguagem de
fácil acesso ao público-alvo. As oficinas, realizadas no Centro de Convivência do Idoso (CCI) em
Franca, tem a finalidade de divulgar os direitos do idoso e os meios de acesso à justiça.
Paralelos a esses métodos, é interessante ressaltar que são oferecidas orientações
psicossociojurídicas e realizado encaminhamento das demandas coletivas identificadas à instituição
jurídica competente, visando à garantia e à consolidação da cidadania da pessoa idosa. Além disso,
foi realizado o evento “O idoso em Franca: diálogos entre saberes e práticas”, que teve a
participação de profissionais da área em debates acerca de políticas públicas que tutelem os direitos
dos idosos. Este evento não foi voltado apenas para a comunidade acadêmica, mas também para a
população idosa que participou ativamente e pôde se informar melhor sobre seus direitos.
Assim, a realização do projeto contribuiu para a população atendida que se informou a
respeito da situação do idoso em Franca e dos direitos e deveres de todos para com essa questão, e
também para o amadurecimento profissional e acadêmico das alunas participantes, que através do
projeto foram incentivadas a realizarem pesquisas acadêmicas voltadas para as demandas sociais,
além do aprendizado adquirido com um trabalho de caráter interdisciplinar, que reúne elementos da
Psicologia, do Serviço Social e do Direito.
Portanto, considerando que a pessoa idosa tem ocupado lugar de exclusão em nossa
sociedade, o projeto de extensão “Oficina da família: uma análise interdisciplinar sobre a efetivação
dos direitos dos idosos” da Unidade Auxiliar Centro Jurídico Social - Unesp Câmpus de Franca tem
88

o objetivo de fomentar discussões sobre a realidade da pessoa idosa e a conscientização sobre seus
direitos e os meios de acesso à justiça, a partir da realização de oficinas em Centros de Convivência
do Idoso. As atividades também são voltadas para as famílias, por ser considerado de fundamental
importância o aspecto intergeracional na prevenção de preconceitos e no estímulo ao respeito, à
convivência e à reciprocidade entre gerações.

2. AS OFICINAS

2.1. REALIZAÇÃO DAS OFICINAS

Tendo definido o enfoque no tema relacionado aos direitos dos idosos, em especial na
situação vivenciada pelo idoso dentro do município de Franca-SP, o método de abordagem realizado
pelo grupo foi o da elaboração de oficinas junto aos Centros de Convivência do Idoso (CCI)
instalados nas regiões da cidade.
Inicialmente, após algumas reuniões feitas entre os integrantes do projeto de extensão
"Oficina da Família", foram sendo realizados estudos sobre os direitos dos idosos, em especial, os
expressos na Lei n. 10.741, de 1 o de outubro de 2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso.
Posteriormente, o grupo realizou a elaboração de slides de apresentação, tendo em vista a
determinação da data da primeira oficina. Através do esforço em equipe, com vistas a tratar do tema
de maneira bastante ilustrativa, foram abordados os temas principais contidos do referido Estatuto,
quais sejam, os alimentos, a saúde, o transporte e a questão do respeito ao idoso.
A primeira oficina teve local no CCI "Rodolfo Ribeiro Vilas Boas", região leste, no dia
05/04/2013, tendo início às 8h30 e duração até as 10h30, período da manhã. Surpreendentemente,
fomos privilegiados com a presença de 40 idosos na oficina realizada. Para a exposição do tema
abordado, surgiu a necessidade de preparação e desenvoltura para falar em público, em tom de voz
adequado. Os idosos, durante a explanação do tema, mostraram-se deveras interessados e atentos,
interagindo com a apresentação por meio de dúvidas e comentários acerca do que já vivenciaram.
Por conta de pedido da assistente social que coordenava o CCI, uma segunda oficina foi
realizada no mesmo local, no dia 11/04/2013, no horário das 18h50 até 19h30, também abordando o
Estatuto do Idoso, porém, com público-alvo diferente: as famílias. Este encontro contou com a
participação de sete pessoas e foi muito produtivo, tendo em vista que a família também necessita
saber quais são os direitos dos idosos, a fim de ajudá-los a efetivarem esses direitos.
Abrangendo uma nova região de Franca, foi agendada uma oficina junto ao CCI “Avelina
Maria de Jesus”, CCI-Sul, no data de 15/05/2013, no período da manhã, das 9h00 até as 10h30, com
um público total de 50 idosos aproximadamente. A experiência junto a esse CCI foi de grande
89

importância para os resultados das oficinas, sendo possível analisar diferentes demandas com
relação ao CCI de outra região da cidade.

2.2. OS ASSUNTOS CENTRAIS DEBATIDOS NOS ENCONTROS

Foram dois os objetivos principais das oficinas: levar ao conhecimento da população sobre
o serviço que é prestado pela Unidade Auxiliar do Centro Jurídico Social e divulgar os direitos dos
idosos. Assim, nas oficinas, havia, primeiramente, uma apresentação da UACJS, com a exposição
das atividades desenvolvidas e as áreas de atuação jurídica, bem como todo o apoio social e
psicológico que é oferecido pela unidade. Permeando a exposição, destacava-se cada situação em
que os idosos poderiam procurar o auxílio da unidade a fim de estar em juízo para obter a efetivação
de seu direito.
Adentrando no Estatuto do Idoso, há que se notar que o referido diploma considerou idoso,
portanto, fazendo jus aos direitos então disciplinados, toda pessoa com idade igual ou superior a 60
anos, conforme disposto no art. 1º do referido diploma1. A determinação dessa idade se deu por
conta de que, oficialmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera idoso o indivíduo
com idade igual ou superior a 65 anos para os residentes em países desenvolvidos e 60 anos para
aqueles que residem em países em desenvolvimento, que é o caso do Brasil. A diferença existente
entre as idades se deve por conta de fatores que influem na qualidade de vida do ser, como
econômicos, políticos, culturais, ambientais, entre tantos outros2.
Insta ressaltar que a obrigação pelo cumprimento dos direitos dos idosos pode ser atribuída
à família, à comunidade, à sociedade e ao Poder Público3. Portanto, nota-se que é de todos em geral
a vinculação de observar a efetividade dos direitos tratados no presente estudo.
Sobre a pensão alimentícia devida ao idoso, a referida lei, em seu art. 12, dispõe que este
pode requerer alimentos para qualquer de seus parentes a sua escolha, sempre devendo ser
respeitada, em contrapartida, a conciliação entre a necessidade do idoso e as possibilidades de ajuda
do parente. Essa é a regra fundamental da obrigação alimentar4. Observa-se, então, que a questão de
alimentos ao idoso traduz uma obrigação solidária. Convém também assinalar que a percepção de
pensão alimentícia pode ser cumulada ao recebimento de benefício previdenciário, desde que este

1
Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003, o Estatuto do Idoso.
2
FRANGE, Paulo. Estatudo do Idoso comentado por Paulo Frange. Disponível em:
<http://www.slideshare.net/Luanapqt/estatuto-do-idoso-comentado-16055858>. Acesso na data: 17/10/2013.
3
Arts. 3º e 9º, Estatuto do Idoso.
4
CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. 4ª ed. rev. ampl. e atual. de acordo com o Novo Código Civil. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2002.
90

não seja suficiente para suprir as necessidades do idoso. Caso não haja pessoa na família em
condições financeiras de auxiliar nos proventos do idoso sem prejudicar o seu próprio, então a
responsabilidade recairá sobre o Estado1. Neste caso, o idoso deverá requerer o benefício de
prestação continuada (BPC), perante o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), atendidos os
requisitos legais.
Com relação ao direito do idoso à saúde, é garantido o seu acesso universal e igualitário
por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo atuação para que haja a prevenção,
promoção, proteção e recuperação da saúde, com atenção especial às doenças que afetam os idosos.
Em continuidade, também é assegurado ao idoso que o Estado forneça-lhe os medicamentos, de
forma gratuita, principalmente aqueles de uso continuado.
Quando se trata de saúde, a polêmica que se insurge é acerca dos valores diferenciados dos
planos de saúde. Segundo o art. 15, parágrafo 3º, do Estatuto do Idoso, é vedada a discriminação do
idoso por meio da cobrança de valores mais elevados em detrimento daqueles de menor idade.
Entretanto, é de geral ciência o fato de que a realidade vivenciada pelos idosos não caminha ao
encontro do estabelecido nessa regra legal para os planos de saúde.
Acerca do transporte público, foi identificada uma contradição dentro do próprio Estatuto.
Ao tratar do direito a gratuidade do transporte público urbano e semiurbanos aos idosos, a lei previu
no art. 39 que o indivíduo deva ter a idade igual ou superior a 65 anos, cabendo à lei municipal
estabelecer a idade igual ou superior a 60 anos, se o caso. Contudo, o próprio diploma dos idosos
estabeleceu, conforme já exposto no presente estudo, que se considera idoso todas as pessoas com
idade igual ou superior a 60 anos. Assim, diante dessa problemática, pode-se encontrar dentro do
território brasileiro, idosos entre a faixa etária de 60 e 65 anos, que têm ou não o direito ao
transporte público. Através de pesquisa elaborada durante a realização projeto, foi constatado que a
Lei Municipal de Franca segue a idade contida no Estatuto do Idoso.
Ainda em se tratando de transporte, houve uma problematização com relação a uma
exigência estipulada pela empresa prestadora do serviço em Franca com relação aos idosos: o
cadastramento para a emissão de um cartão para garantir a gratuidade da passagem. Para a
fabricação do referido cartão, o idoso deve comparecer ao Posto Passe Fácil do Terminal Ayrton
Senna munido de um documento pessoal e um comprovante de residência recente e renová-lo a
cada aniversário. No entanto, consoante expressa determinação em lei, a gratuidade para o idoso
dos transportes públicos urbanos e semiurbanos deve se dar apenas com a apresentação de
documento pessoal para sua identificação.

1
Art. 14, Estatuto do Idoso.
91

O Estatuto do Idoso, em título próprio, também dispõe sobre os crimes relativos ao idoso,
tendo em vista serem praticados em razão da sua condição de maior fragilidade. É de conhecimento
das pessoas o fato de que, infelizmente, não é rara a caracterização de desrespeito, de discriminação
ou mesmo de maus tratos cometidos contra o idoso. E, com mais pesar, muitas vezes, os agentes
desses atos traduzem naquelas pessoas que deveriam cuidar do idoso. Ainda, há pessoas mal
intencionadas que pretendem usufruir de benefícios recebidos pelo idoso, ou tentam coagi-lo a doar,
contratar, testar ou outorgar procuração. Dentre outras, todas essas práticas constituem crime contra
o idoso, tipificados pelo próprio diploma legal do idoso.

2.3. AS DEMANDAS E OS QUESTIONAMENTOS REALIZADOS PELOS IDOSOS

Durante as oficinas foi possível entrar em contato com muitos idosos de regiões diferentes
do município de Franca. Realmente, muito interessante perceber que abordamos questões de
diversas áreas do direito e do serviço social, dúvidas relacionadas à família, à previdência, aos
medicamentos gratuitos, ao transporte, ao plano de saúde, entre tantas outras.
Importa destacar que houve também diferenças quanto aos relatos de vida comentados
pelos idosos durante as oficinas, provenientes do CCI-Leste e do CCI-Sul. O conhecimento e
contato feitos pelos idosos do CCI-Leste impressionou o nosso grupo, havendo comentários por
parte dos idosos sobre a facilidade do acesso a internet junto às lan houses e perguntas sobre a
existência de benefícios aos idosos quanto às passagens aéreas.
Passo aqui a exposição de alguns dos questionamentos relevantes que nos foram
apresentados ao longo das exposições nas oficinas:
- A pensão alimentícia pode ser solicitada ao cônjuge?
- Onde solicitar a execução de alimentos?
- Após a aposentadoria, com tempo de trabalho de 10 anos, é previsto direito à restituição?
- Situação de desemprego justifica o não pagamento da pensão?
- Filhos com deficiência têm direito a algum benefício?
- Por que os planos de saúde não respeitam o Estatuto do Idoso?
- Como fica o transporte gratuito para o aposentado por invalidez?
- Como funciona o transporte intermunicipal?
- O idoso pedindo alimentos ao filho, pode gerar prisão?
- Posso pedir alimentos para o Estado antes de pedir para parentes?
- E quanto aos menores de 60 anos, como é garantido seus direitos?

2.4. OS RESULTADOS E AS PROVIDÊNCIAS


92

Após a realização das oficinas mencionadas, foram identificados alguns problemas e


realizadas novas pesquisas quanto aos assuntos que mais geraram indignação ou dúvida dentro do
espírito do idoso. Em reunião realizada pelo grupo do projeto de extensão, foram levantados alguns
problemas existentes nas áreas da saúde, alimentação e transporte vivenciados pelos idosos de
Franca.
Houve a necessidade, então, de concentrar esforços primeiramente na resolução de um
problema, que ressaltou as emoções tanto dos idosos quando da explanação sobre o tema nas
oficinas, como ao próprio grupo de extensão que estava levando e trocando conhecimentos sobre os
direitos dos idosos nas oficinas: a questão do transporte urbano no município de Franca.
Ao longo da realização de outras reuniões, foram realizadas pesquisas com relação ao
Estatuto do Idoso, à Lei Estadual de São Paulo, à Lei Municipal de Franca-SP, às especificações
provenientes de órgãos como a Organização Mundial da Saúde para as questões relativas aos
idosos, dentre outras. A partir das pesquisas, foi observada a questão de o Estatuto do Idoso
mencionar a idade de 65 anos para a gratuidade do transporte e o fato de que alguns municípios,
como o da capital São Paulo, terem diminuído essa idade para 60 anos por meio de lei municipal.
Quando da verificação da situação de Franca, notou-se pelos relatos dos idosos, e confirmando-se
na lei municipal, que para o transporte urbano, apenas tem gratuidade aqueles com idade igual ou
superior a 65 anos.
Outra situação que gerou contradição e questionamento foi o fato de que o Estatuto do
Idoso, quando discorre acerca do benefício da gratuidade do transporte, menciona a necessidade
apenas da apresentação de documento de identificação para se obter o passe livre. Com o contato
com a população idosa, notamos a exigência feita pela empresa São José, que fornece o transporte
público urbano em Franca, sobre a necessidade de elaboração, validação e apresentação de um
cartão junto ao motorista ou cobrador do transporte para se obter o passe livre. Insta delatar que os
funcionários alegam ser instruídos pela chefia a cobrar a passagem do idoso que esquece a referida
carteirinha quando da utilização do transporte público.
Com relação às providências tomadas pelos integrantes do projeto “Oficina da Família”,
cabe mencionar que com relação à questão da idade, apesar de ser legalmente permitido adotar a
idade de 65 anos, objetivamos diminui-la para a idade de 60 anos. Entramos, então, em contato com
o promotor do idoso em Franca, bem como junto à Justiça Eleitoral para poder identificar o número
de assinaturas necessárias para a elaboração de um futuro projeto de lei municipal para a alteração
almejada.
Para modificar também a situação vivida pelos idosos com relação ao cartão para passe
livre no ônibus, relatamos o caso para o promotor do idoso, destacando a contradição da referida
93

exigência com a disposição contida no Estatuto do Idoso quanto à concessão do benefício da


gratuidade. Fora realizado, então, a devida notificação em âmbito administrativo para a empresa
prestadora do serviço a fim de extinguir essa exigência que vai de encontro com a Lei.

3. EVENTO: “A PESSOA IDOSA EM FRANCA: DIÁLOGOS ENTRE SABERES E


PRÁTICAS”

A ideia da realização de um evento abordando a temática da pessoa idosa no município de


Franca surgiu das reuniões de estudo do projeto “Oficina da Família”, que, no ano de 2013, passou
a dar maior enfoque a temática do idoso através das oficinas realizadas nos Centros de Convivência
do Idoso (CCI) do referido município. A partir da troca de experiências e com o objetivo de
promover a construção do conhecimento, fez-se necessária a vinda dos idosos para a Universidade,
para que pudessem ter contato com o ambiente universitário, e principalmente para que houvesse o
contato entre diferentes gerações.
A priori, o evento seria organizado apenas pelo grupo “Oficina da Família”. O mesmo
ocorreria na última semana do mês de setembro em que celebramos a semana do idoso, haja vista
que no dia 1º de outubro comemora-se o Dia Internacional do Idoso - dia este estipulado pela
Organização das Nações Unidas - e também o Dia Nacional do Idoso, instituído pela Lei nº
11.433/06, que reforça a importância da inclusão social desta parcela da população, além da
garantia de acesso aos benefícios já conquistados.
Contudo, optamos por realizar parceria com o núcleo Universidade Aberta à Terceira Idade
(UNATI), um dos grupos vinculados à Pró-Reitoria de Extensão Universitária - PROEX, que tem
como objetivo possibilitar às pessoas idosas o acesso à Universidade Pública, na execução de sua
função social usufruindo o espaço educacional e cultural para a ampliação de conhecimentos, além
de possibilitar a educação continuada, proporcionando a convivência social e a troca de
experiências de vida.
Estabelecemos a parceria, o que foi muito importante e enriquecedor para ambos os
projetos. Realizamos reuniões conjuntas para o planejamento e a organização do evento, das
temáticas pertinentes, palestrantes, entre outras questões práticas. Optamos por promover um evento
que unisse teoria e prática, com um diálogo acessível. A partir dessa premissa, surgiu o tema “A
pessoa idosa em Franca: diálogos entre saberes e práticas”. Organizamos um concurso cultural com
o tema “O Envelhecer na voz do Idoso”, do qual participaram idosos dos CCIs e da UNATI, onde
estes escreveram poesias depositando os pensamentos e reflexões referentes ao tema, suas vivências
e enfrentamentos na atual conjuntura.
94

Nos dias 24, 25 e 26 de setembro ocorreu o evento, contando com a participação de


aproximadamente 130 pessoas. No primeiro dia, 24 de setembro, a abertura do evento foi
abrilhantada pelo coral da UNATI do Câmpus de Franca e logo após, houve uma mesa redonda com
o tema “Envelhecimento e Saúde”, contando com a presença da Dra. Ana Maria Bruxelas de Freitas
Neves, médica geriatra. Também participaram desta mesa a Dra Luziane Miglioranza Thimoteo,
cirurugiã dentista e Maria Clara Rodrigues da Silveira, articuladora regional do Programa Saúde da
Pessoa Idosa - DRS VIII - Franca.
No dia 25 de setembro, foi realizada a atividade cultural de declamação das poesias
vencedoras do Concurso Cultural “O Envelhecer na voz do Idoso”. Após a atividade, tivemos a
mesa redonda, cuja temática abordada foi “A realidade da pessoa idosa em Franca: políticas
públicas e garantia dos direitos”. Essa mesa contou com a colaboração de Bruno César Tozatti Piola
(Repórter do Jornal Comércio da Franca), Gislaine Alves Liporini Peres (Secretária Municipal de
Ação Social), Débora Faleiros Chioca Vieira (Coordenadora da Atenção Básica da Secretaria
Municipal da Saúde) e Jaqueline Beatriz Coev Marcondes (Presidente do Conselho Municipal da
Terceira Idade).
O último dia do evento, 26 de setembro, contou com uma palestra abordando o tema
“Cidadania e Velhice”, ministrada pelo Prof. Dr. Rafael Salatini, docente do Departamento de
Ciências Políticas e Econômicas da FFC - Unesp - Câmpus de Marília. Por fim, foi realizada uma
roda de conversa, participando desta, profissionais dos Centros de Convivência do Idoso, bem como
profissionais de Instituições de Longa Permanência que trataram do tema “Interfaces com o
Programa Cidade Amiga do Idoso”.
Ao falar da importância do evento, não restaram dúvidas de que o mesmo trouxe um
acúmulo grandioso de conhecimento e experiências. Podemos concluir que o evento foi produtivo
no que concerne a nossa formação profissional e amadurecimento pessoal, visto que abrangeu
temáticas, com as quais tratamos em nosso campo de estágio supervisionado e que iremos enfrentar,
muitas vezes, em nosso cotidiano profissional, não nos esquecendo que também faremos parte dessa
futura geração. A luta pelo direito e o respeito à pessoa idosa hoje refletirá para nós idosos do
amanhã.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos estudos realizados, no que tange ao avanço do desenvolvimento tecnológico,


percebemos que houve um aumento da expectativa de vida em nosso país e que este fator tende a
aumentar ainda mais no futuro. Entretanto, é necessário levar em conta que a população idosa
enfrenta diversos problemas, desde o preconceito, até problemas da saúde.
95

Nesse cenário, um grande avanço e conquista foi a criação do Estatuto do Idoso, pois
amplia direitos e leva para o futuro melhores condições de vida na velhice. Todos os indivíduos têm
papel fundamental para a garantia dos direitos previstos no Estatuto, tanto a família, quanto a
comunidade, bem como o poder público.
Temos consciência de que o Estatuto é um começo bastante promissor. Contudo, para
serem efetivados os direitos fundamentais à pessoa idosa se faz necessário trazer esse conhecimento
a público. Ao tomar consciência de seus direitos, o indivíduo pode superar a imediaticidade, em
busca de melhores condições de vida, reconhecendo-se como sujeito de sua própria história e
exercendo sua própria autonomia.
Essa foi uma das ferramentas utilizadas pelo nosso grupo, uma vez que através das oficinas
possibilitou-se levar aos idosos o acesso a informações acerca de seus direitos. Com a realização do
evento, pôde-se gerar o debate intergeracional sobre a temática em questão e a reflexão conjunta por
melhorias para a população idosa na atual conjuntura.
Ao trazermos o debate acerca do idoso, acreditamos ter contribuído para a efetivação de
seus direitos e dignidade, no sentido de mobilização da população e de controle social para que seja
possível lutar por mudanças e melhorias de nossa sociedade, tendo em vista que a realidade está em
constante movimento.
Para finalizar, não podemos deixar de expressar quão grandiosa foi a experiência adquirida
na participação do presente projeto e agradecer a todos que contribuíram de alguma forma para a
realização do mesmo. Talvez no futuro, ao olharmos para o espelho, não veremos apenas rugas e
cabelos brancos. Que possamos ver além da aparência... Que encontremos efetividade em nossos
direitos, reconhecendo que trabalhamos para a materialização deste ideal.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 11.433 de 28 de Dezembro de 2006. Dispõe sobre o Dia Nacional do Idoso.
Diário Oficial da União - Seção 1 - 29/12/2006, Página 28 (Publicação Original).

BRASIL. Lei n. 10.741 de 1º de outubro de 2003. Estatuto do Idoso. Brasília: Secretaria Especial
dos Direitos Humanos, 2004.

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.

FRANGE, Paulo. Estatudo do Idoso comentado por Paulo Frange. Disponível em:
<http://www.slideshare.net/Luanapqt/estatuto-do-idoso-comentado-16055858>. Acesso em 17 out.
2013.
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O ENVELHECER NA VOZ DO IDOSO


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VOZ DO IDOSO

Voz do idoso é aquela


Que clama por atenção,
Esperando que seus anseios
Não fiquem na interrogação.

Voz da experiência
Que na vida conquistou,
E que hoje, muitas vezes,
Para alguns silenciou.

Voz ultrapassada
De quem é do tempo antigo,
Que muito pode ensinar,
E também ser um amigo.

Que dentro do Estatuto


Espera uma conquista,
Já cansado de esperar,
Vive igual malabarista.

Voz de alguém que exprime


Seu amor, e agradece
A Deus que o escuta
Através da sua prece.

Voz que outrora tinha firmeza,


E agora já não é tanta,
Porque está presa ou sufocada,
Por soluços na garganta.

Dalva Darcy Sobral


CCI Lions Sobral
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O ENVELHECIMENTO NA VOZ DO IDOSO

Já vai alta a madrugada,


No meu leito mal deitada
Tento brincar com as letras em busca de inspiração.
Queria falar de amor... Exaltar a natureza...
Que inspiração que nada!
Dizem que “velho vive de passado”
“Velho só conta o que foi”
Velho? Idoso? Eis a inspiração!
Pra fechar os olhos da razão,
E dar asas à imaginação.
Viajo através do tempo:
Trazendo em minha bagagem,
Travessuras de criança...
Pezinhos descalços no chão,
Medo de bicho-papão... Calor de colo de mãe.

Como não sentir saudades


Das primaveras da vida?
Dos amores da adolescência...
Do vigor da juventude.
No corre-corre da vida,
Distraída nem percebi
Flocos de neve cobrindo,
Meus poucos cabelos brancos.
“O envelhecimento na voz do idoso”
É experiência desperdiçada
E mão de obra descartada.
Sentimo-nos como um oásis no deserto:
Fonte de sabedoria... Amor... Paciência... Abnegação
Exemplo para que as novas gerações,
Cheguem até onde estamos
Com a mesma disposição.
Maria Aparecida da Silva
CCI Lions Sobral
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ORAÇÃO DO IDOSO

“O envelhecimento na voz do idoso”,


É como o sol da manhã
Que em suas idas e vindas
Ao som do cantar dos pássaros
Desperta a vida na terra.

Ser idoso significa


Se aceitar sem preconceito
Alheio aos cabelos brancos
Dar exemplos de esperança
Sem deixar de ser criança.

Fazer de cada manhã,


Um momento diferente
Daqueles que a alma da gente
Ainda no leito quente
Sente a força do Criador.

Obrigado Senhor! Obrigado!


Pelo simples fato de existir
Por tudo que fiz nesta vida,
Pelo que ela fez por mim,
Pelas etapas vencidas...
Pelo amor que recebi.

Maria Aparecida da Silva


CCI Lions Sobral
100

O ENVELHECIMENTO DA VOZ DO IDOSO...

Terceira Idade
Viva com muita dignidade
Tenha saúde preservada
E sua vida curtida com felicidade.

Não somos inconsequentes


Mas somos valentes
Não temos juventude
Mas o que não nos falta é atitude.

O tempo passou... Mas a sabedoria ficou


Não importa a idade
Nem o que diz a sociedade
O importante é nossa autenticidade.

Coloque em sua mente


Temos que seguir em frente
Exerça sua paciência
Com toda a sua experiência

E para você jovem...


Guarde o presente na memória
Para que no amanhã
Você também possa contar sua história.

Sirlene de Lourdes Figueiredo


CCI Lions Sobral
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A FACULDADE DA VIDA

Pela estrada empoeirada


Caminha o velho peão,
Olhar perdido no horizonte
Mãos trêmulas... Pele enrugada.
Sorriso tímido... Semblante cansado.

Seus passinhos sossegados


Vão arrastando seus pés
Quase grudados no chão.
É o peso da saudade
Lhe apertando o coração.

Lembranças da juventude
Traz na imaginação
Sabor de beijos molhados
Dos amores de um passado
Que não retorna jamais.

Reaja coração... Reaja!


Seque a lágrima caída.
Sabes que: “O envelhecimento na voz do idoso”,
É comparado a um bom vinho...
“Quanto mais velho melhor”.

E o caminho percorrido
É experiência de vida,
Paciência adquirida...
São diplomas recebidos
Na faculdade da vida.

Maria Aparecida da Silva


CCI Lions Sobral
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ENVELHECER

Fui jovem, como todos um dia,


Pena que o tempo passa.
Muito embora pouca diferença faça.
Se ainda sou jovem, ou se envelheci.
Hoje colhendo os louros da velhice,
Esperando ainda na crendice,
Que muitos venham comigo aprender.
Não importa, se muito sei, ou se deixei de saber.
Tenho idade, mereço respeito, amor, carinho.
Falo isso, não por mim sozinho,
Mas por todos que na velhice hão de chegar.
Homens, mulheres, enfim, se terão quem venhas os amparar.
Amparo, proteção, tudo isso, até o Estado pode lhes dar.
Porém o mais importante,
Muito embora seja relevante,
É o carinho de quem se propõem a lhe cuidar.
Como todo idoso, tem sempre um passado,
Se foi solteiro ou casado,
Não importa.
Há de ter sempre, a lhe abrir a porta,
Alguém que o queira escutar.
Falo dos filhos, dos netos, enfim, também dos sobrinhos.
Por sua vida, mesmo em pedacinhos,
Feliz ou infeliz, que tenha sido seu passado.
Como dizia o poeta Francisco Octaviano
“Quem passou a vida em brancas nuvens
E em plácido repouso adormeceu,
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.”
Carlos Hugo Barbosa Marques
Lar São Vicente de Paulo
103

O ENVELHECIMENTO NA VOZ DO IDOSO

Era uma fria manhã, tomei o ônibus na estação rodoviária com destino a Passos.
Quando sentei na minha poltrona, tinha um senhor bastante velho e corcunda. Estava
alegre e durante a viagem iniciei um diálogo:

- Lutando com a vida, senhor?


- Isso mesmo. Lutando para não envelhecer.
- Mas o senhor não acha que está na hora de parar com essa luta?
- É aí que você se engana. Se eu abandonar a luta serei um covarde. Se eu parar de lutar,
ficar sentado esperando a morte, aí me sentirei velho e perderei o gosto de viver.

- O que o senhor me diz da vida?


- A vida tem as cores que a gente escolhe para colorir nossos dias. Nosso espírito é uma
aquarela mágica, onde as cores estão guardadas. O vermelho do amor, o verde é sempre
esperança, o amarelo dá alegria, o azul é tranquilo e manso, suavizando as cores do dia.
Viver é a arte do saber usar as cores na medida certa.

O ônibus parou em Cássia e ele desceu, com uma mão acenava e com a outra segurava a
corcunda. Foi caminhando pela frente. Aquele velho que eu conheci, apesar de seu
cansaço, sua velhice, me mostrou que está vivendo. Me fez acreditar que a luta é o
fertilizante da vida.

Eu quero viver muito, por isso peço em minhas orações, que me deixe livre para pensar,
amar, sorrir, e se preciso for, me deixe livre para chorar. A minha vida será um eterno
começar de novo.

Aparecida de Fátima Leite


UNATI-UNESP
104

O ENVELHECER NA VOZ DO IDOSO

Na viagem pela vida


Desfrute cada uma das passagens
E cada uma das paisagens
Pois todas elas têm uma rara beleza.
O tempo é uma escada... Escola da sabedoria
Terceira idade... Idade da experiência
Caminhos de uma realidade
Buscando a essência da felicidade.
A felicidade é uma raiz
Onde cultivei e aprendi a ser feliz
Passado... Presença da ausência
Mas vivido com muita persistência.
É o tempo de esperanças
É o tempo de sorrir sem medo
De se entregar sem receio
Isto faz toda a diferença.
Que seja libertada as imperfeições
E que venha novas revelações
Com todas as condições
E principalmente mais orientações
Os dias são iguais
Mas vivenciados de formas diferentes
Já não quero ter razão
Prefiro mesmo é ser feliz
E não ter solidão!
Os anos são degraus da vida
Daqui a pouco a página vira
Portanto vamos nos embalos
Aproveitando os intervalos
Não queremos frieza
Nem indiferença
Queremos sim, é fazer a diferença...
Sirlene de Lourdes Figueiredo
CCI Lions Sobral
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MOMENTOS
Quão grandes são as emoções
Quão maravilhosas são as experiências
As experiências do amor e do perdão
Tudo nasce, tudo cresce
Quando não morre antes
Tudo se transforma
Tudo é útil, depende da maneira de aproveitar
O presente é hoje, o aqui, o agora, este é o momento
O momento precioso de sua própria história
Há lembranças de júbilo e alegria,
Há lembranças de tristezas e quedas,
Tudo faz parte da jornada,
Da longa ou curta estrada.
Os caminhos são diversos,
As opções são do próprio arbítrio.
Nunca é bom andar somente à direita
Nunca é bom andar somente à esquerda.
Importante é sempre analisar
Por onde andar.
Pensar, sentir, para depois agir.
O pensamento navega como navio no mar,
Às vezes voa como pássaro no ar,
Mas o importante é refletir aonde se quer chegar.
Isso possibilita concretizar o sonho imaginado.
O pensamento refletido,
O sentimento decidido,
A atitude raciocinada
Levam a um ato incomparável.
A culpa destrói, O ressentimento corrói,
Mas o amor, tudo edifica e constrói.
Airton José Barbosa
UNATI-UNESP
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EXPERIÊNCIA DE VIDA

Envelhecer é ver
a família crescer

Envelhecer não é
se tornar dependente
É ver o sol nascer
com sabedoria e amor

Ter esperança no porvir


Sorrir, pois a vida passa ligeiro
Como passa tudo na terra

Jovercina Rosa da Silva


EJA-CCI Avelina Maria de Jesus
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ENVELHECER COM SABEDORIA

Envelhecer sorrindo, ver a família crescer


Juntos compartilhar com alegria

Envelhecer acompanhado
O velho ficando mais velho junto

Ver todas as dificuldades do tempo...

Envelhecimento é viver para sempre


Como Deus quiser

Pedro Joaquim da Silva


EJA-CCI Avelina Maria de Jesus
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EXPERIÊNCIA DE VIDA

Envelhecer é viver
De forma saudável

É amar a vida
Junto com a família crescer
Ser feliz

Ver o tempo passar


Sem deixar a vida passar
Aproveitar as experiências vividas

Antônia Rodrigues Alves


EJA-CCI Avelina Maria de Jesus
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ENVELHECER COM SABEDORIA

Envelhecer é verificadas
os netos crescerem
É se tornar mais experiente

Envelhecer com saúde


Para ser chamada de vovó

É ver no mundo
suas belezas
suas dores
suas alegrias
com sabedoria e amor

Envelhecer é se tornar
maduro
sem deixar de ser jovem

Envelhecer é se esquecer
das doenças
das falhas
que nosso corpo apresenta
Dos desgastes
que a vida impõe

Suely das Graças de Souza Santos


EJA-CCI Avelina Maria de Jesus
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EXPERIÊNCIA DE VIDA

Envelhecer é saber
aceitar mudanças
Ver a vida passar
É aproveitar com sabedoria
as experiências vividas.

Envelhecer é aprender
dia-a-dia
Ter maior compreensão
É dar mais de si
aos irmãos

Envelhecer é ter
espírito sempre jovem.

Nair Torres
EJA-CCI Avelina Maria de Jesus
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ENVELHECER É RECORDAR

Envelhecer sorrindo
Aproveitar as experiências vividas

Envelhecer com esperança


Pois é como mágica
Envelhece sem ver
Envelhecer.

Maria Luiza da Rocha


EJA-CCI Avelina Maria de Jesus
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VOLTAR A SER CRIANÇA

Envelhecer é
Ver o sol nascer
Com alegria
Ver a família crescer
com esperança e amor
Ver o tempo passar
O corpo esse tempo
Retratar

Envelhecer é um
bom sinal
Demonstra experiências vividas
através das dores, das alegrias
É crescimento
como ser humano

Maria Aparecida Silva


EJA-CCI Avelina Maria de Jesus
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EXPERIÊNCIA DE VIDA

Envelhecer é poder viver


muitos anos
Envelhecer é bom
pra quem sabe viver
É ruim pra quem
desiste de viver.

Armelindo Pacheco da Silva


EJA-CCI Avelina Maria de Jesus
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VOLTAR A SER CRIANÇA

Envelhecer é objetivo de todos


Envelhecer com sabedoria
E aceitação
Com Deus Nosso Pai
no coração.
Pois, é assim
a sua vontade
E a minha também.

José Neuber Marques


EJA-CCI Avelina Maria de Jesus
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EXPERIÊNCIA DE VIDA

Envelhecer é ver a família crescer


É ter mais carinho
Um bom coração

Envelhecer é aproveitar
Tropeços para evoluir
Valorizar a vida
Ser grato a Deus
Sendo honesto
Saber plantar
Para poder colher.

Augusto Cândido Vieira


EJA-CCI Avelina Maria de Jesus
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EXPERIÊNCIA DE VIDA

Envelhecer com sabedoria


Com amor e disposição.
Envelhecer é aprendizado
É como ser criança
É crescer como criatura divina.

Envelhecer é viver
É dar as mãos
É amar a vida
Agradecer a Deus.

Maria de Jesus Silva


EJA-CCI Avelina Maria de Jesus

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