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Ebook A Pessoa Idosa em Franca
Ebook A Pessoa Idosa em Franca
NANCI SOARES
(organizadores)
Câmpus de Franca
2013
A pessoa idosa em Franca: diálogos entre saberes e práticas [recur-
so eletrônico] / Kelly Cristina Canela e Nanci Soares (organiza-
doras). – Franca (SP): UNESP-FCHS, 2013
116 p.
ISBN: 978-85-7818-069-0
CDD – 362.6
Resumo
Diante da complexidade do envelhecimento humano, o presente trabalho tem por finalidade refletir a
vulnerabilidade e o risco social no processo de envelhecimento e velhice, perpassando pelo processo
histórico da assistência social, o atendimento à pessoa idosa, como política pública. O interesse pela
formulação do presente trabalho se baseou na insuficiência sobre a temática e suas especificidades, bem
como a apreensão do conceito vulnerabilidade e risco social no processo de envelhecimento O mesmo não
tem a pretensão de esgotar o tema, mas de mergulhar em uma análise crítica que permita a formulação de
políticas públicas de assistência social, voltada à pessoa idosa.
INTRODUÇÃO
1
Assistente Social. Mestranda no Programa da Pós-Graduação em Serviço Social UNESP/Faculdade de Ciências
Humanas e Sociais - Câmpus de Franca. Participa do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Envelhecimento, Política
Pública e Sociedade - UNESP. E-mail: lucelia_cardoso@yahoo.com.br.
2
Bacharel em Serviço Social. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UNESP/Faculdade de
Ciências Humanas e Sociais – Câmpus de Franca. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Formação Profissional -
GEFORMSS - UNESP. E-mail: raquelrenzo@bol.com.br.
3
Professora Doutora da UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais - Câmpus de Franca. Coordenadora da
Universidade Aberta a Terceira Idade - UNATI - UNESP Câmpus de Franca e pesquisadora da temática do
envelhecimento humano. E-mail: nancisoares@netsite.com.br
8
A Constituição Federal de 1988 prevê em seu artigo 203 que, “A assistência social será
prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social [...]” tendo
vários objetivos, sendo um deles a proteção a velhice. Segundo a Política Nacional de Assistência
Social (PNAS) por proteção social entende-se as formas “[...] institucionalizadas que as sociedades
constituem para proteger parte ou o conjunto de seus membros” (BRASIL, 2004, p. 25).
A proteção a velhice na PNAS é materializada em um conjunto de ações estruturadas e
sistematizadas de iniciativa pública e da sociedade civil. O SUAS constitui-se em um sistema
público que organiza os serviços socioassistenciais por níveis de complexidade, sendo os mesmo:
Proteção Social Básica e Proteção Social Especial (de média e alta complexidade).
As Casas-Lar, Instituições de Longa Permanência Para pessoas Idosas (ILPI), Serviços de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoas idosas (SCFVI), dentre outros compõem os
inúmeros serviços desenvolvidos no país que tem por foco a proteção social a referida segmento
populacional.
A proteção social dentro da PNAS é destino a grupos ou cidadãos que se encontram em
situações de vulnerabilidade e risco social. Nesse sentido, esse trabalho pretende mergulhar no
campo dos riscos e da vulnerabilidade social, específicos a população idosa, oferecendo reflexões
que contribuam para a melhor compreensão da proteção social (básica e especial), dos serviços que
atuam com pessoas idosas e especificamente na apreensão desses conceitos.
Dentro disso, é possível afirmar que apesar muitos desafios dificultaram e ainda dificultam a
compreensão da assistência social como direito, mas
Nesse sentido, faz-se necessário repensar a perspectiva de inclusão proposta pela política,
pois, ela focaliza na extrema pobreza, bem como o conceito de vulnerabilidade social que será
discutido abaixo que, remetem à estratégia de responsabilização dos indivíduos.
Segundo Minayo (2000, p.7) a qualidade de vida consiste na “percepção dos sujeitos
sociais com relação ao seu contexto de vida, culturais e valores, bem como seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações” (BULLA, SOARES, KIST, 2007, p. 173). É importante
ressaltar que os direitos sociais são, “a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição” (ARTIGO 6º da CF/1988).
É uma conquista da classe trabalhadora, e as políticas sociais, um instrumento através do
qual se materializam os direitos sociais, porém são muitas vezes definidas sem que esse fato seja
levado em conta (COUTINHO, 2005).
12
A política de seguridade social, que prevê os mínimos sociais, tendo por funções a proteção
social, a vigilância socioassistencial e a defesa de direitos sociais, organizados sob o Sistema Único
de Assistência Social (SUAS).
A seguridade social (saúde, previdência e assistência social) instituída pela Constituição
Cidadã pressupõe a proteção social. No campo da política pública de assistência, a proteção social é
implementada através da LOAS (1993), da PNAS aprovada (2004), da Tipificação Nacional de
Serviços Socioassistenciais (2009) e do SUAS (2011).
A PNAS ressalta que a assistência social é política de proteção social. Viabilizar proteção
social pressupõe conhecer riscos e vulnerabilidades e as possibilidades de enfrentamento na ótica da
política pública. Para a assistência social, o conceito de risco exige o real desvelamento do real,
bem como medidas de proteção e redução de seus agravos.
Quando nos remetemos à palavra “velhice” pensamos em fase, ciclo de vida. Assim, a
questão da velhice concentra-se naqueles que vivenciam essa fase. A velhice é marcada
historicamente por vários estereótipos como ausência da sexualidade, improdutividade,
dependência, mania. Segundo Magalhães (1989) a velhice e o envelhecimento são socialmente
construídos, pois isso a compressão das idades biológica, cronológica e social são importantes para
a compreensão de tais concepções.
O envelhecimento humano é um constructo vivenciado de forma heterogênea, sendo
composto e influenciado por várias determinantes como cultura, família, economia, mundo do
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trabalho, desenvolvimento social, saúde, educação, dentre outros. Lopes (2000) mostra a
heterogeneidade da velhice, argumentando que os sujeitos não envelhecem de maneira igual, cada
um constrói sua própria história, com características e dificuldades diferentes.
Segundo Faleiros, “o contexto domiciliar e a convivência familiar do idoso mudam
significativamente ao longo da vida, principalmente quando há vínculos intergeracionais” (2006, p.
117). Aspectos da família como configurações familiares, conflito entre gerações, estratégias de
vida e sobrevida são alguns dos aspectos que interferem diretamente a vida das pessoas idosas
(grupo em foco). As pessoas idosas são os grupos que mais tem propensão de perda de entes
familiares, o que pode aumentar consideravelmente quadros de isolamento social.
O mundo de trabalho também é um determinante do envelhecimento humano.
Especificamente no caso do Brasil, a aposentadoria se faz presente variavelmente entre as idades de
60 e 70 anos, devido às formas de aposentadoria previstas pela Previdência Social.
A aposentadoria almejada durante o processo de trabalho é sentida de formas diversas
quando a mesma se torna presente. Segundo Bulla, Kaefer (2003) a aposentadoria torna-se um
dificultador do processo de envelhecimento, pois a categoria trabalho é fundamental para o
desenvolvimento humano. “O mito da aposentadoria como início de uma época onde o indivíduo
vai dispor livremente de sua vida e usufruir os bens e serviços que a natureza e a sociedade lhe
oferece é muito forte em nossa sociedade” (MAGALHÃES, 1989, p. 37).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
______. DOU. Diário Oficial da União. LEI No 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003. Dispõe sobre
o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Brasília: Distrito Federal, 2003.
______. DOU. Diário Oficial da União. LEI Nº 8.842, DE 4 DE JANEIRO DE 1994. Dispõe sobre a
Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Brasília:
Distrito Federal, 1994.
BULLA, L. C.; SOARES, E.S.; KIST, R. B. B.B. Cidadania, pertencimento e participação social de
idosos - Grupo Trocando Ideias e Matinê das Duas: Cine Comentado. Ser Social, n.21, p.169-196,
jul./dez. 2007.
JANCZURA, R. Risco ou vulnerabilidade social? Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 11, n. 2,
p. 301-308, 2012.
MESTRINER, M. L. O estado entre a filantropia e a assistência social. São Paulo: Cortez, 2001.
320 p.
SESC. A terceira idade: estudos sobre envelhecimento. Empowerment e idosos: uma reflexão sobre
programas de educação física. v. 21. n. 44, 2009. São Paulo: SESC-GETI.
______. A terceira idade: estudos sobre envelhecimento. v. 20. n. 48, 2010. São Paulo: SESC-
GETI, 2010.
18
______. A terceira idade: estudos sobre envelhecimento. v. 22. n. 51, 2011. São Paulo: SESC-
GETI, 2011.
Resumo
O presente trabalhado busca examinar o tema do reajuste de mensalidade de plano de saúde de segurado
idoso pela simples fato da idade. O Estatuto do Idoso trouxe um relevante dispositivo sobre esta questão, mas
surgiu uma divergência jurídica acerca da sua aplicabilidade aos contratos de plano de saúde celebrados
anteriormente à sua vigência. As recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça possuem entendimento
consolidado sobre esta questão e o seu entendimento contribui para a concretização da função social dos
contratos, bem como para a efetivação da dignidade humana da pessoa idosa.
INTRODUÇÃO
1. A LEGISLAÇÃO APLICADA
1
Docente do Departamento do Direito Privado da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais/UNESP- Câmpus de
Franca
20
Art. 51. Não nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas
ao fornecimento de produtos e serviços que:
IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou seja, incompatíveis com a boa-fé ou a
equidade.
X – permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira
unilateral.
Em razão do princípio da irretroatividade, entende-se que uma lei não pode ser aplicada a
negócios jurídicos celebrados antes da sua entrada em vigor. Configurar-se-ia, no caso em tela, a
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2ª) Aos planos contratados a partir de, ou seja, a partir da entrada em vigor da Lei nº
9656/1998, sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde, aplica-se a regulamentação do
Conselho de Saúde Suplementar, Resolução nº 6/98, que estabelece o aumento das mensalidades em
razão das faixas etárias. O percentual de aumento, por outro lado, não foi objeto do regulamento.
Desta forma, existem sete faixas:
I - de 0 a 17 anos;
II - de 18 a 29 anos;
III - de 30 a 39 anos;
IV - de 40 a 49 anos;
V - de 50 a 59 anos;
VI - de 60 a 69 anos;
VII - de 70 anos em diante.
3ª) Os planos de saúde contratados anteriormente a 2 de janeiro de 1999, ou seja, à Lei de
Planos de Saúde, não possuem uma regulamentação legal própria. São os denominados “planos
antigos”. Neste caso, segundo a ANS, aplicar-se-ia a regra anterior, deste que a hipótese esteja
prevista expressamente no contrato, isto é, desde que haja previsão das faixas etárias e do
percentual aplicado. Não havendo tais previsões, caberia à ANS a autorização de reajuste por faixa
de idade.
Não há dúvida de que é nula a cláusula de reajuste de mensalidade pelo exclusivo fato de
implemento da idade de 60 anos, mesmo no caso de contrato firmado anteriormente à vigência do
Estatuto do Idoso. A ratio deste entendimento seria o afastamento da irretroatividade da Lei
nº10.741/2003, pois o Estatuto em questão é uma norma de ordem pública (vedação de
discriminação em razão da idade), tendo, por este fato, aplicação imediata. Além disso, há a
consideração da abusividade de cláusula contratual, pois fica configurado um obstáculo à
continuidade da contratação por parte do segurado. A seguradora deve comprovar o desequilíbrio
contratual para promover o reajuste, ou seja, a proporção entre o novo valor da mensalidade e o
potencial aumento da utilização dos serviços. Neste sentido:
5. CONCLUSÃO
Os reajustes dos planos de saúde são necessários para o equilíbrio contratual e para cumprir
a própria função social dos contratos, mas eles devem obedecer aos parâmetros traçados pela Lei de
Planos de Saúde, pelo Estatuto do Idoso e, especialmente, pelo Código de Defesa do Consumidor.
No plano de saúde de segurado idoso verifica-se dupla vulnerabilidade. Deve-se, pois,
garantir a sua respectiva dupla tutela.
REFERÊNCIAS
SILVA, J. S. L. Planos de saúde e boa-fé objetiva: uma abordagem crítica sobre os reajustes
abusivos. Salvador: Editora JusPodium, 2008.
Resumo
Diante da complexidade do envelhecimento humano, o presente trabalho tem por finalidade refletir sobre os
centros de convivência para pessoas idosas, seu processo histórico, suas características e seu trabalho
conforme a política pública inserida. O interesse pela formulação do presente trabalho se baseou na
insuficiência de informações que retratem os centros de convivência e suas especificidades, bem como a
confusão conceitual do que venha a realmente ser um “centro de convivência”. O mesmo não tem a
pretensão de esgotar o tema, mas de mergulhar na natureza dos centros de convivência, especificamente os
“centros de convivência de idosos”. Nesse sentido, essa análise contribuirá em novos olhares frente o
processo histórico dos serviços, bem como de sua estrutura atual.
INTRODUÇÃO
1
Assistente Social. Mestranda no Programa da Pós-Graduação em Serviço Social UNESP/Faculdade de Ciências
Humanas e Sociais - Câmpus de Franca. Participa do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Envelhecimento, Política
Pública e Sociedade - UNESP. E-mail: lucelia_cardoso@yahoo.com.br.
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Professora Doutora da UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – Câmpus de Franca. Coordenadora da
Universidade Aberta a Terceira Idade - UNATI e pesquisadora da temática do envelhecimento humano. E-mail:
nancisoares@netsite.com.br
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As autoras mostram também que os grupos de convivência podem ser vistos como um
instrumento de organização coletiva e de incentivo à participação social. “O processo de
participação social, viabilizado pela dinâmica nos Grupos de Convivência, quando bem coordenado
e orientado, é de extrema importância, pois pode trazer mudanças significativas para a vida dos
sujeitos envolvidos” (BULLA, SOARES, KIST, 2007, p. 175).
O nosso foco de estudo constitui-se nos “Centros de Convivência de Idosos”. Vale destacar
que atualmente, o termo utilizado não é “idoso”, mas sim “pessoa idosa”. No entanto, quando
referimos o termo “idoso”, nos referimos ao nome “Centro de Convivência do Idoso” que perpassa
todo um contexto histórico.
Esses serviços são um dos que mais crescem no Brasil integrando várias políticas públicas
como Assistência Social, Saúde, Previdência Social, bem como Associações, Empresas, ONGs,
dentre outros.
Falar sobre Centro de Convivência para pessoas idosas é falar de um dos maiores desafios
conceituais nesse tempo. Além de poucos estudos e materiais direcionados a esses serviços, o termo
“CCI” é um termo que muitas vezes gera confusão, pois sua origem, conceito e características são
elementos pouco precisos.
Muitos trabalhos e pesquisas mencionam os CCIs ou suas atividades no decorrer das
análises, mas existem poucas reflexões sobre o que realmente é CCI. Mas o que realmente é CCI? O
que esses serviços propõem? Quem é o público de atendimento? Como é organizado e desenvolvido
seu trabalho? Existe diferença entre CCIs?
O que é Centro de Convivência para idosos? Um lugar onde idosos convivem, mas
sob que projeto, objetivos e procedimentos? Um Centro de Convivência se
caracteriza por ter um projeto pedagógico embasando suas atividades? Ou qualquer
lugar onde idosos se encontram pode ser considerado um Centro de Convivência?
(SILVA, 2004, p. 11).
Existem poucos materiais que mostrem com precisão a origem dos CCIs e seus objetivos.
Rodrigues (2001) ao analisar a retrospectiva histórica da Política Nacional do Idoso no Brasil,
mostra alguns dados que nos dão uma visão geral do contexto histórico dos CCIs no Brasil.
Segundo a autora, na década de 1970 começa a ser visualizado no Brasil um contingente
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significativo de pessoas idosas que reordena o olhar do governo a questão social da pessoa em
processo de envelhecimento e velhice. Mais especificamente em 1976 são realizados 03 seminários
regionais que discutiam a situação da pessoa idosa no país. Este ano passa a compor o “[...] marco
de uma nova era nas atenções públicas com relação a velhice”. (RODRIGUES, 2001, p. 150).
[...] ações voltadas para as pessoas idosas, visando dar-lhes oportunidades de maior
participação em seu meio social e, também, desenvolver a discussão ampla de sua
situação como cidadãos, suas reivindicações e direitos, além de valorizar todo o
potencial de vivência das comunidades (RODRIGUES, 2001, p. 151).
Com isso, nota-se que o foco a população idosa no Brasil ocorre concomitantemente a 1º
Assembleia Mundial sobre envelhecimento humano em Viena (1982) e na 2º Assembleia mundial
realizada em Madri – Espanha em 2002.
Em 1989, o Programa Nacional de Voluntariado (PRONAV) da LBA se propõe a entregar
130 centros de convivência para pessoas idosas (Rodrigues, 2001, p. 151). Esses centros de
convivência trabalhariam desenvolvendo a convivência intergeracional e seriam implantados em
diversos Estados brasileiros. As ações, projetos ou programas dessa época sempre se propunham a
trabalhar a convivência em seus múltiplos aspectos.
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Ao mergulhar no campo dos CCIs é notável as atribuições que os mesmos tem em todo o
território brasileiro. Alguns conceitos marcam a identidade do Serviço, porém o conceito central
sobre os CCIs perpassa a ideia de Convivência, sociabilidade.
Conforme o disposto no Decreto n° 1948, de 03 de julho de 1996, o CCI “[...] é uma
modalidade não asilar de atendimento destinado à permanência diurna do idoso [...], onde são
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Os CCIs são entendidos como locais de permanência diurna da pessoa idosa. Nesse local,
são ofertadas e desenvolvidas várias atividades, que vão desde artesanatos, artes, até passeios,
atividades físicas e educacionais, todas com o intuito de convivência, fortalecimento de vínculos.
Como afirma Camarano; Pasinato, os CCIs visam, “[...] contribuir para a autonomia, o
envelhecimento ativo e saudável, a prevenção do isolamento social e a geração de renda”. (2004. p.
281).
Há vários tipos de Centros de Convivência no Brasil para diversos públicos. Estes vão
desde Centros de Convivência infantil, para pessoa com deficiência física e mental, centros de
convivência para famílias, para comunidade negra, para população com DST/AIDS, para juventude,
dentre outros.
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conduzidas como programas de extensão universitária. Nesse aspecto, a fragilidade das atividades
reflete no completo vínculo dos profissionais com os participantes, o que prejudica diretamente o
impacto social do serviço.
Cada Unati tem sua particularidade, pois estão inseridas em contextos e universidades
diferentes, com profissionais, atividades e público-alvo distintos.
Concomitantemente aos demais centros de convivência, as Unatis também buscam a
redução de quadros de isolamento social e solidão através da oferta de atividades que promovam a
convivência, a sociabilidade.
idoso para seu autocuidado, potencializar a vida, tornando-a mais plena e satisfatória para todos os
alunos da UNATI”. (SILVA, 2004, p. 27). Além disso, para se consolidar,
[...] as UNATIs podem manter contato com outras Universidades e com órgãos
públicos que desenvolvem atividades voltadas à população idosa, nas três esferas
de governo, bem como o Conselho Municipal do Idoso, para conhecer as atividades
desenvolvidas e estabelecer parcerias, além de solicitar sugestões para a atuação.
(DEL-MASSO, AZEVEDO, 2012, p. 32).
Os Centros de Convivência de Idosos no âmbito da Assistência Social não são novos, mas
também possuem um frágil contingente de material que mostra sua origem e processo histórico.
A Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução nº 109, de 11 de Novembro
de 2009), vem trazer uma padronização aos serviços socioassistenciais no país, desenvolvendo
assim, uma identidade comum aos mesmos. Os Centros de Convivência para pessoas idosas dentro
da Tipificação são nomeados e identificados como Serviço de Convivência e Fortalecimento de
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Vínculos (SCFV). Esse serviço se insere no Sistema Único de Assistência Social no nível de
complexidade proteção social básica.
O Objetivo principal da proteção social básica constitui-se na prevenção de “[...] situações
de risco por meio do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, sendo destinada à
população que vive em situação de vulnerabilidade social, decorrente da pobreza, privação e/ou
fragilização de vínculos afetivos”. (BRASIL, 2011, p. 2). Nesse sentido os CCIs no âmbito da
Assistência Social são:
uma arte livre que resgata emoções, valores, vivências e lutas (SOARES, online, p.
02).
De acordo com o Ministério da Saúde, uma das atribuições da equipe no âmbito do SUS é
o “[...] desenvolvimento de ações intersetoriais, integrando projetos sociais e setores afins, voltados
para a promoção da saúde”. (BRASIL, 2006, p. 19). Há de ressaltar que essa equipe conduz o
processo de acolhimento do público atendido e conta também com o apoio de voluntários na
condução de trabalhos específicos.
O trabalho desse centro de convivência permeia o envelhecimento ativo e a promoção de
qualidade de vida com foco na atenção a saúde. A demanda desse serviço caracteriza-se por
encaminhamento da rede de saúde, procura espontânea, bem como demanda específica da geriatria.
Igarashi afirma que a busca inicial pelo serviço é o alívio a dor, mas a complexidade das ações
repercute diretamente na melhor qualidade de vida e principalmente na sociabilidade da pessoa
idosa.
Aliviar a dor, ter mais saúde, mostrou-se como um dos aspectos da busca do
usuário pelo atendimento no CCI, mas a possibilidade de ampliar se convívio
social, de relacionar-se com outros seus semelhantes, de ter um espaço onde possa
ser ouvido, não enquanto doente, mas como pessoa, ser reconhecido como um
membro da sociedade e poder se perceber como elemento importante desta,
certamente constituem aspectos relevantes no movimento do idoso (2001, p.
93,94).
As Associações têm sua importância inegável na história, no campo das lutas em defesa do
trabalhador brasileiro. Suas reinvindicações tiveram reflexos na promulgação da Constituição
Federal de 1988, materializada na Seguridade Social como importante campo de proteção social.
Há de ressaltar que a Constituição também aponta avanços e conquistas para esse público
como a “irredutibilidade” do valor dos benefícios. Haddad mostra que conquistas como essa
irredutibilidade são resposta na luta contra o desmonte dos direitos do trabalhador, bem como a
deterioração desses benefícios. A autora também nos mostra a diversidade de profissionais que
compunham esses movimentos. Ferroviários, camponeses, costureiros, têxteis, alfaiates, gráficos,
ensacadores de café, vidreiros, metalúrgicos, portuários, bancários, marceneiros eram alguns dos
militantes que caracterizavam o movimento, as Associações (HADDAD, 2001).
Como os outros serviços e propostas, essas associações nasceram tímidas e ao longo do
processo histórico ganharam força e vida e principalmente, ganharam uma identidade no meio
social. Como mesmo afirma Haddad (2001, p. 107), “Velhos trabalhadores velhos... lutando pelo
direito à velhice... exemplos de resistência na guerra pela vida”.
A participação popular e política nas associações envolviam a “convivência” mesmo que
menos intensiva, devido o caráter militante e reivindicatório, porém, como afirma Dal Rio e
Miranda, esse caráter militante traz a tona o sentimento de pertença, que repercute diretamente na
sociabilidade. Em tempos atuais, essas associações perderam relevante espaço no cenário político,
porém os mesmos ainda continuam sendo espaços importantes de convivência e socialização, pois
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Estatuto do Idoso - 2003) referenciam qualquer trabalho que tenha a pessoa idosa como público
atendido.
consolidação dos direitos das pessoas idosas e na condução da melhor qualidade de vida a essa
população.
Outro fator importante sobre o atendimento desses CCIs é a faixa etária atendida. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) para fins de legislação aponta a idade que referencia a
pessoa idosa, a idade de 60 anos em países em desenvolvimento e 65 anos para países
desenvolvidos.
Entre os profissionais que atuam com este segmento, destacamos o Assistente Social, que
desde origem da profissão trabalha com a pessoa idosa, em diversos espaços sócio-ocupacionais, no
Estado (esferas do poder executivo, legislativo e judiciário), em empresas privadas capitalistas, em
organizações da sociedade civil sem fins lucrativos e na assessoria a organizações e movimentos
sociais:
Fica claro que a cidadania ativa vai bem além de votar e ter alguns direitos sociais,
feitos em verdadeiras doações de governantes. Ser cidadão é compreender e saber
situar a própria existência e, junto com seus parceiros, lutar pela conquista,
ampliação e defesa de direitos coletivos, sociais e sindicais (CANOAS, 2008, p.
130).
Nesta perspectiva, a cidadania esta vinculada a participação, não dada aos indivíduos é
uma capacidade conquistada:
Na velhice [...] além da morte do corpo que está sendo comentada, o idoso tem de
lidar com sua morte profissional, com a morte das suas funções corporais e
intelectuais, entre outras. Nos dias de hoje, com a produtividade sendo o pilar de
nossa sociedade, um idoso que não trabalha perde o valor, recobre-se de estigmas
de deterioração e é colocado à margem da sociedade. Idoso é sinônimo de morte,
apesar de todo investimento em se prolongar a vida; a concepção de velhice ainda
está muito ultrapassada em questão de valores (SESC, v. 22, 2011, p. 51).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. DOU. Diário Oficial da União. Resolução Nº 33, De 12 De Dezembro De 2012. Aprova
A Norma Operacional Básica Do Sistema Único De Assistência Social -Nob/Suas. Brasília: DF.
2012.
______. DOU. Diário Oficial da União. LEI Nº 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003. Dispõe sobre
o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Brasília: DF, 2003.
______. DOU. Diário Oficial da União. LEI Nº 8.842, DE 4 DE JANEIRO DE 1994. Dispõe sobre a
política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Brasília:
DF, 1994.
______. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. Departamento de Atenção à Saúde. Brasília. MS, 2006.
BULLA, L. C.; SOARES, E. S.; KIST, R. B.B. Cidadania, pertencimento e participação social de
idosos - Grupo Trocando Ideias e Matinê das Duas: Cine Comentado. Ser Social, Brasília, n.21,
p.169-196, 2007.
______. Envelhecimento, Pobreza e Proteção Social na América Latina. Texto para discussão nº
1292. IPEA. Rio de Janeiro, julho de 2007.
IBGE. Perfil dos Estados Brasileiros 2012. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Diretoria de Pesquisas. Coordenação de
População e Indicadores Sociais. Pesquisa de Informações Básicas Estaduais. Rio de Janeiro: 2013.
JANCZURA, R. Risco ou vulnerabilidade social? Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 11, n. 2,
p. 301-308, 2012.
MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes,
1994.
OLIVEIRA, R. C. S. Terceira idade: do repensar dos limites aos sonhos possíveis. Coleção
Terceira Idade. São Paulo: Paulinas, 1999.
______. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Guia Global: Cidade Amiga do Idoso. OMS,
2008.
SESC. A Terceira Idade: Estudos sobre envelhecimento, São Paulo: SESC-GETI, v. 20, n. 48, 2010.
______. A Terceira Idade: Estudos sobre envelhecimento. Empowerment e idosos: uma reflexão
sobre programas de educação física, São Paulo: SESC-GETI, v. 21. n. 44, 2009.
______. A Terceira Idade: Estudos sobre envelhecimento. São Paulo: SESC-GETI, v. 22. n. 51,
2011.
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SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
Resumo
Diante da complexidade do processo de envelhecimento humano, o presente artigo tem por finalidade refletir
brevemente sobre o processo de envelhecimento humano e o constructo de envelhecimento ativo. O interesse
pela formulação do presente trabalho se baseou nas discussões realizadas na disciplina “Envelhecimento
Humano e Ativo” do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Unesp/Franca. O mesmo não tem a
pretensão de esgotar o tema, mas refletir acerca desta temática, sob o olhar de alguns pesquisadores e por
meio dos dados obtidos a partir de entrevista realizada com uma pessoa idosa do Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos de Franca/SP. Neste sentido, esta análise pretende contribuir com novos olhares
frente ao processo histórico dos serviços, bem como de sua estrutura atual.
INTRODUÇÃO
1. METODOLOGIA DO ESTUDO
Foi feito um estudo qualitativo utilizando-se o método de História Oral, além da utilização
de revisão bibliográfica e documental, o que permitiu uma maior aproximação com a temática por
meio de autores que trabalharam o conceito de envelhecimento e velhice, bem como o constructo
acerca do “envelhecimento ativo”.
A entrevista semiestruturada foi realizada com uma pessoa idosa que frequenta
regularmente o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para idosos, intitulado Centro
de Convivência do Idoso em Franca. Anteriormente à realização da entrevista, a participante foi
orientada pelas pesquisadoras acerca dos objetivos do estudo; o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) foi lido, devidamente preenchido e assinado. Com a permissão da entrevistada,
a “conversa” foi gravada para facilitar a transcrição integral e posterior análise dos dados.
Os CCIs (na Política Pública de Assistência Social) são serviços socioassistenciais
direcionados a proteção social da população idosa. Os mesmos constituem-se nos serviços que mais
crescem no Brasil e que mais atendem a essa população (em números).
Existem CCIs na área da saúde (vinculados a prevenção, proteção e recuperação da saúde,
sendo que a saúde mental possui um número expressivo de serviços), a Educação (a importância e
presença das Universidades Abertas à Terceira Idade – UNATI), a Assistência Social (SCFVI de
acordo com a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais), as associações, dentre outros.
De acordo com o disposto no Decreto nº 1.948, de 3 de julho de 1996,
A análise dos dados foi organizada por categorias preestabelecidas pelas professoras, tendo
como eixo central a compreensão da concepção de Envelhecimento Ativo, proposto pela ONU. A
interpretação dos dados colhidos por meio da fala da entrevistada está relacionada com o referencial
teórico formulado.
Para pensar sobre o constructo de “Envelhecimento Ativo” foi necessário retomar momentos
históricos de discussão e terminologias que antecederam a criação deste Projeto de Política.
A crise econômica que assolou a Europa na década de 1970 com a crescente influência do
receituário neoliberal proporcionou projeções com os custos futuros do cuidado de longo termo, ou
seja, iniciou-se a preocupação com o aumento da expectativa de vida, o aumento do número de
53
pessoas idosas e a saída precoce da força de trabalho, alterando a configuração da economia dos
países desenvolvidos e em desenvolvimento. Esse ideário trouxe consigo a difusão de que o
envelhecimento humano traria consequências negativas para a economia dos países.
Algumas dessas consequências demonstraram barreiras à participação ativa das pessoas
idosas – estereótipo discriminatório – a pessoa idosa tida como passiva, submissa, orientada para a
família e desinteressada da participação social, política e econômica. A “terceira idade” passou a ser
vista como um período temido, pois se acreditava que era marcado pela pobreza e fragilidade do
ser, pelo isolamento da família, dos amigos e da sociedade. Atrelada a esses fatores apareceu a
biomedicalização do envelhecimento demonstrando a percepção geral de que envelhecimento e má
qualidade de saúde estavam relacionados.
A priori, é necessário identificar a diferença de conceitos entre dois termos utilizados
muitas vezes como sinônimos: envelhecimento e velhice. O primeiro relaciona-se com o processo
pelo qual as pessoas vivenciam ao longo da vida, ou seja, desde que os seres nascem já começam a
envelhecer; e o segundo, diz respeito a uma determinada fase da vida como a infância, adolescência
e fase adulta. Os dois conceitos são marcados por extrema heterogeneidade, pois cada pessoa
vivencia ao longo de sua vida experiências diferentes e singulares que contribuem para a forma de
como chegarão a velhice.
É necessário levar em consideração que as pessoas estão inseridas em um contexto
marcado pela precarização das relações sociais com consequências que afetam o processo de
envelhecimento, dentre eles: inserção ou não no mercado de trabalho, formas de acesso às políticas
públicas de Educação, Saúde, Transporte, Cultura e Lazer, Alimentação e Nutrição.
Como foi apontado anteriormente, desde a década de 1970 o mundo passou por mudanças
significativas marcadas pela introdução do receituário neoliberal, com o estímulo à valorização da
produtividade, portanto, quem não conseguisse produzir dentro das “normas” estabelecidas pelo
mercado e pelo Estado neoliberal seria descartado.
Diante do exposto, a questão do envelhecimento populacional se constitui em um
fenômeno mundial visualizado como uma conquista, porém o mesmo acarreta vários impactos e
desafios que vão desde o acesso política de saúde, à organização da cultura. Evidencia-se, portanto,
a importância do estudo acerca do envelhecimento ativo no Brasil, pois:
O Brasil é um dos 10 países com maior número de pessoas idosas e esta é a faixa etária que
mais cresce no país. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE)
(2008) em 2025 o país será o 6º em número de pessoas idosas, caracterizando 100 crianças para
cada 172,7 pessoas idosas. Com o crescimento da população em processo de envelhecimento e
velhice, concentram-se estudos mostrando que a pessoa idosa necessita de maior atenção em todas
as políticas públicas.
A partir da pesquisa bibliográfica e documental utilizada para a elaboração do presente
artigo, observou-se que o “Envelhecimento Ativo” ainda é um constructo pouco explorado pelos
estudiosos por ser uma temática muito nova. Porém, a discussão sobre o processo de
envelhecimento e sobre a velhice iniciou-se já no ano de 1982, em Viena, momento em que
aconteceu a I Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento da Organização das Nações Unidas
(ONU). A partir desse encontro surgiu a adoção do Plano de Ação Internacional para o
Envelhecimento com diretrizes e princípios gerais para enfrentar o envelhecimento populacional.
No ano de 1991 houve a aprovação dos Princípios em favor das pessoas idosas, também
realizado pela ONU, abrangendo os seguintes eixos: Independência, Participação, Cuidados,
Autorrealização e Dignidade.
O ano de 1993 foi marcado pela Comissão Europeia como o Ano Europeu da Pessoa Idosa
e 1999, foi determinado pela ONU como o Ano Internacional da Pessoa Idosa. Em 2002 ocorreu a
II Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento com o objetivo de examinar e revisar os resultados
da I Assembleia do Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento. Nesse mesmo ano foi
aprovado o Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento com as seguintes orientações
prioritárias: pessoas idosas e o desenvolvimento; promoção da saúde e bem-estar na velhice; criação
de ambiente propício e favorável para o envelhecimento ativo.
Em 2007, na sede da ONU em Genebra (Suíça), Alexandre Kalache e Louise Plouffe
desenvolveram o Projeto Guia Global: Cidade Amiga do Idoso, o qual aponta que: “Uma cidade
amiga das pessoas idosas estimula o envelhecimento ativo ao otimizar oportunidades para saúde,
participação e segurança, para aumentar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem”
(OMS, 2008, p. 7).
As terminologias que precederam o constructo de “Envelhecimento Ativo” se referiam a
dois aspectos:
Envelhecimento Bem-Sucedido: terminologia desenvolvida a partir da década de 1950,
com ênfase na ausência da doença e incapacidade cognitiva. Na década de 1960 já se
trabalhava com uma perspectiva de envelhecer com atividade e sucesso financeiro. As
críticas acerca dessa terminologia apontam que é uma abordagem idealista, portanto tem
uma expectativa irrealista do envelhecimento individual para manter níveis elevados de
55
atividade associados com a meia idade em seu avanço para a velhice, fazendo generalizações
sobre o processo de envelhecimento e homogeneizando as pessoas idosas, como se todas
passassem pelo mesmo processo de envelhecimento ao longo da vida.
Envelhecimento Produtivo: terminologia que surgiu na década de 1970, entendendo como
direito das Pessoas Idosas escolherem entre a aposentadoria ou continuarem empregadas em
tempo integral ou parcial. Além de ter sido um componente “chave” das propostas da
política social da Europa e Organização para Cooperação de Desenvolvimento Econômico
(OCDE), ficou o questionamento: o que é ser produtivo?
Já no início da década de 2000, a OMS com o objetivo de superar a falta de clareza e de
definições concordantes acerca do que seria envelhecer de forma ativa e procurando atender de
forma mais abrangente o “envelhecimento saudável”, adotou o termo “Envelhecimento Ativo”
entendendo este processo como uma forma de otimização das oportunidades para a saúde, a
participação e a segurança, objetivando a melhoraria da qualidade de vida, à medida que as
pessoas envelhecem (OMS, 2007). Saúde, participação e segurança constituem os três pilares da
estrutura política para o envelhecimento ativo.
Além disso, o Projeto traz como determinantes transversais do envelhecimento ativo
gênero e cultura, os quais perpassam pelos demais determinantes, a saber:
Determinantes econômicos;
Serviços sociais e de saúde;
Determinantes comportamentais;
Determinantes pessoais;
Ambiente físico;
Determinantes sociais.
A OMS ao analisar o eixo saúde como determinante do envelhecimento ativo, coloca a
prevenção e a redução de quadros de doenças, riscos e mortalidade, bem como educação em saúde
como prioridades. Neste sentido, aspectos como qualidade de vida, influência econômica na saúde,
audição, visão, apoio social, tratamento, prevenção, ambientes seguros e apropriados, saúde mental,
avaliar e abordar o impacto do HIV e DST sobre pessoas idosas, atividade física, tabagismo,
nutrição, medicamentos, cuidadores, álcool, drogas, dentre outros, formam o campo de fatores que
interferem diretamente na qualidade de vida da pessoa idosa.
A busca pela saúde perfeita, pela resposta a “angústia” do corpo na tentativa de reverter o
processo de envelhecimento e outras questões referentes ao envelhecimento humano, tem motivado
a criação de propostas, ações, projetos, instituições, serviços que atuem na tentativa de reduzir os
possíveis “danos” causados pela velhice. Esta busca incessante tem atraído atenção da sociedade
56
atual e tomado lugar de destaque com referência à qualidade de vida no processo de envelhecimento
e na velhice.
Estudos também mostram agregados a estas novas propostas, a presença da culpabilização
da pessoa idosa, ou simplesmente, a transferência do envelhecimento ativo somente como
responsabilidade pessoal, ou seja, responsabilidade da pessoa idosa. Mas o que a população em
processo de envelhecimento considera ser “envelhecimento”?
Empinar o nariz, fazer o que você quer e ser o que eu sou! Eu acho que é isso. Eu
sou o que eu sou, eu faço o que eu gosto, eu sou livre. Ninguém manda em mim.
Eu faço o que eu gosto. [...]
[...] Convivência... Eu quis essa aula, porque eu quis conviver mais com gente de
sessenta anos pra cima, [...]
Nesta etapa da vida, muitas pessoas idosas encontram nos grupos ou centros de
convivência uma oportunidade de (re)fazer vínculos comunitários. Estes espaços propiciam e
potencializam o fortalecimento de vínculos afetivos, laços de amizade, trocas de experiências e
saber, construção de novos projetos de vida, fortalecimento da identidade, potencialidade,
particularidade e aquisição de novas habilidades.
As conquistas referentes ao envelhecimento humano em todos os campos do conhecimento
e da realidade social são visíveis. Avanços tecnológicos e científicos atrelados ao desenvolvimento
57
legal proporcionaram estratégias que possibilitaram um novo olhar sobre a questão social da
velhice.
Porque minha vó não sabia o que era hidroginástica, não sabia o que era Pilates.
Minha vó não sabia o que era essas coisaiada. Eu sei tudo isso, eu trabalho com
isso, eu vivo isso. [...]
Quando nos referimos ao eixo “pessoa e identidade”, destacamos alguns autores que
abordaram com precisão a temática: Dirceu Nogueira Magalhães na obra A invenção social da
velhice, Vicente de Paula Faleiros em Desafios do Envelhecimento: vez, sentido e voz, Maria Cecília
Minayo, Olga Rodrigues de Moraes Von Simson e Ana Liberalesso Neri esta última em As
Múltiplas Faces da Velhice no Brasil.
O Serviço Social do Comércio (SESC), na revista “Terceira Idade”, também propôs
discussões em todos os campos do conhecimento direcionado ao envelhecimento humano. Como
afirma a pesquisa do Sesc, “A velhice é socialmente e culturalmente construída” (SESC, v. 21,
2010, p. 65).
A participante da pesquisa diz ter tido uma vida muito boa, pontuando que:
Com meus filhos eu participava de toda a vida deles. Por isso que eu não quis
formar [...] Porque eu queria curti-los. E eu ia com eles pra tudo quanto é canto. No
cinema... Eles amavam! [...] Eu levava eles pra tudo quanto é canto. Pronto! Eu
tive uma fase linda.
A entrevistada relatou que está com 65 anos e questionada sobre o que pensava a respeito
do envelhecimento, quando era mais jovem, afirma de maneira segura:
Eu nunca pensei em ficar velha, eu não quero ficar velha, eu não vou ficar velha.
Eu não quero ficar [...] Eu não penso em ficar velha e nem vou ficar. E se eu ficar,
vou curtir muito velha [...]. Se eu num puder andar, eu pego carro, pego cadeira
motorizada... E dou um jeito. Eu não vou ficar velha, não vou!
da sociedade de que participa e ajuda a construir, como também a influência” (DAL RIO,
MIRANDA, 2009, p. 14).
Indagada sobre os pontos positivos e negativos do município de Franca, a entrevistada
avalia os serviços destinados às pessoas idosas:
Positivo? Aqui eles cuida muito dos velho. Aqui eles cuida muito de gente velho.
[...] No SESI, no SESI eu participo muito do SESI [...]. O SESI trabalha bem os
véio. Nossa! Aqui cuida muito bem de véio.
[...] Falta de respeito com os véio nas ruas. Os véio vai atravessa a rua, eles num
respeita. [...] O povo daqui de Franca eles não respeita os idoso. Como eu luto com
isso, eu gosto disso, eu noto.
Ao longo da minha vida eu só costurei. Porque minha mãe, minha mãe foi
costureira.[...]. Aí eu sempre costurei. [...] Eu me aposentei com 60, passei agora
pra minha filha. [...] O trabalho que eu fiz aqui em Franca sempre foi esse. Sempre
foi esse o meu trabalho.
A OMS baseou o Guia Global: Cidade Amiga do Idoso num contexto de envelhecimento
ativo, criando posteriormente, o documento Envelhecimento ativo: uma política de saúde
fundamentando este constructo e sua importância indiscutível na proteção à população idosa. Este
eixo também se faz presente em discussões de autores como Mônica de Assis e Anita Liberalesso
Neri. Neste sentido, “[...] é preciso pensar que o envelhecimento e as condições em que o indivíduo
chega a ser velho resultam de uma longa existência onde Saúde, Educação, Lazer [...] entram no
somatório de ganhos e perdas de cada um, a partir de seu nascimento” (MAGALHÃES, 1989, p.
58).
Nas palavras da entrevistada:
[...] Depois que eu me aposentei, eu cai em campo mesmo pra ver como é que é,
como que era tudo. Assim... Aqui você tem muita oportunidade. Você vai no
campo. [...]. Apesar daqui o povo não respeitá. O povo não, mas o setor que nós
vamos assim... A gente é muito bem acolhido, recebido. A gente acha o que quer,
eu acho que é nisso [...] É, eu acho... Eu acho...
Nova! Melhor de que quando eu era menina. Melhor de que quando eu era moça.
Melhor de que quando eu casei. [...] Criar filho é uma fase muito corrida. Eu não
vivia eu. [...] Vivia mais pros filho, pra marido. [...] Hoje eu não tenho trabalho,
meus filho já é tudo casado nos seus canto. [...] E vivo minha vida livre! [...]
A melhor vida do mundo é quando você faz 60 anos, se aposenta. Porque é livre
[...] faz o que quer. [...] Eu amo ter me aposentado. Eu amo ter feito 60. Hoje eu
tenho 65. Agora eu amo toda a minha vida! Eu amo! Eu amo a vida de hoje.
Primeira coisa que eu quero é pegar um navio com meu marido e andar. Num é
aqui pertinho não. É pra bem longe. [...] Eu já andei de ultraleve, eu já andei de
asa-delta, depois de aposentada. Mas eu não andei de navio ainda, meus plano é
esse. [...] Isso eu quero e vou fazer, não sei quando, mas eu vou. [...] Risos. Eu dei
um rasante de ultraleve, eu dei um rasante. [...] Eu já fiz tudo o que eu quis fazer,
depois dos 60.
61
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Torna-se difícil concluir um tema tão complexo quanto este, por isso são apontadas apenas
algumas considerações observadas ao longo do processo de pesquisa.
Tomando como ponto de partida o objetivo geral do estudo o qual pretendia analisar a
experiência de envelhecimento ativo na história de vida de pessoas idosas, compreende-se que o
fato de apenas uma pessoa ter sido entrevistada não representa a totalidade da população idosa. A
heterogeneidade no processo de envelhecimento é algo marcante e não pode ser desconsiderado.
Ressalta-se que a pessoa entrevistada vivencia o envelhecimento de forma ativa, além de
não se considerar “velha”. Tratando da própria experiência de vida relatada, ela não enxerga a
velhice como uma fase ruim, mas sim um período em que pode se dedicar mais a si mesma. É uma
pessoa que está inserida em vários espaços em busca da melhoria de sua saúde e qualidade de vida,
além da participação e envolvimento em setores que oferecem serviços às pessoas idosas do
município de Franca.
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Resumo
O presente estudo trata-se de uma reflexão que tem por intuito abordar o trabalho do Serviço Social na
perspectiva da institucionalização do idoso, sobretudo, na cidade de Franca-SP. Para isso, serão refletidos os
aspectos sociais inerentes ao idoso, bem como as possibilidades de intervenção profissional direcionada a
este público específico. Em um primeiro plano, pretende-se colocar em pauta a questão social inerente aos
idosos. Em um segundo plano, pretende-se abordar o aspecto da institucionalização dos idosos em
Instituições de Longa Permanência e questões que envolvem o assunto. Já em um terceiro, objetiva-se trazer
à pauta deste estudo a atuação profissional do assistente social e as especificidades da profissão que
favorecem o trabalho com os idosos e especificamente as características da Instituição de Longa
Permanência no atendimento aos idosos. Cumpre ressaltar que o principal objetivo deste estudo é contribuir
para a discussão da institucionalização do idoso, na cidade de Franca SP, com efetivação da promoção de
qualidade de vida deste publico, e as contribuições que se espera do assistente social nesta área.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento é o início de uma fase longa por quais passam cada vez mais pessoas no
Brasil. Envelhecer, em muitas situações, torna-se muito difícil por causa dos vários aspectos sociais,
psicológicos e físicos por quais se passa. Trata-se de um caminho a ser trilhado que requer suas
devidas atenções nos campos da saúde, da psicologia, da gerontologia e do serviço social, dentre
vários campos de atuação profissional.
Partindo da delimitação do conceito de envelhecimento, esse estudo tem como objetivo
realizar uma reflexão teórica sobre o tema idoso Institucionalizado, bem como os componentes
sociais envolvidos nessa temática. Tal estudo encontrará amparo na literatura sobre o assunto
através de artigos científicos, livros e pesquisas.
1
Assistente Social da Instituição Espírita Nosso Lar.
65
A questão social é compreendida pelo conjunto das expressões das desigualdades sociais
do capitalismo que tem sua raiz na produção social coletiva, sendo que a apropriação dos frutos de
tal produção encerra-se nas mãos de parte da sociedade (IAMAMOTO, 2005). Depreende-se que as
relações sociais fundamentadas no capitalismo estão fundamentadas na lógica da apropriação das
riquezas produzidas por parte de poucos, o que fatalmente gera tensões sociais, na medida em que
os excluídos de tais frutos da produção experimentam a outra face desta situação, que é a lógica da
exclusão social travestida como problemas sociais que tendem a atingir os mais frágeis na
sociedade.
A questão social, dessa forma, incide em vários setores da sociedade e atinge patamares
diferentes de uma região para outra. Posto de outro jeito, a questão social por se tratar de um
conjunto de desigualdades sociais é vista e sentida de modo distinto, nos mais diferentes contextos
sociais. Compreende-se que a riqueza acumulada por parte da sociedade é uma das causas da
privação de bens e serviços à outra parte da sociedade que sentirá a questão social através da falta
de serviços públicos que atendam a demanda dos mais frágeis na população.
Como já se percebeu, os grupos sociais mais vulneráveis são os que mais sofrem com a
questão social, no caso deste artigo, o grupo social em estudo é composto pelos idosos que se veem
na condição de moradores de instituições de longa permanência.
Para entendimento da situação do de idoso, que é preconizado pela lei nº 10.741 de 2003,
Estatuto do Idoso, que em seu artigo 1º considera idoso a pessoa com idade igual ou superior a 60
anos de idade (BRASIL, 2003). Neste aspecto, pode-se dizer que os idosos constam na lista dos
integrantes da população que são mais frágeis.
Assim, a autora coloca que o idoso se percebe frágil ao ver a base familiar se fragmentar
pelas mudanças, mortes e ausências e passa a buscar a reconstrução dos seus vínculos e rearranjar
seu cotidiano. Essa situação gera um impacto muito grande na vida dos idosos, pois sabe-se que a
organização familiar é muito importante para qualquer pessoa e é vista como espaço onde são
estabelecidos laços de afetividade, de pertencimento e de proteção. Assim sendo, ao perder a
referência de lar e de família, inicia-se um processo da questão social que atua fortemente na vida
dos idosos.
66
O Brasil hoje é um jovem país de cabelos brancos. Todo ano, 650 mil novos idosos
são incorporados à população brasileira, a maior parte com doenças crônicas e
alguns com limitações funcionais. De 1960 a 1975, o número de idosos passou de 3
milhões para 7 milhões e, em 2006, para 17 milhões – um aumento de 600% em
menos de 50 anos (VERAS, 2007 apud LIMA, 2012).
A população idosa no município de Franca-SP, de acordo com a definição dada pela lei
10.741 de 2003, Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003) é representada no quadro abaixo:
Esse conceito expressa a função jurídica, que serve para auxiliar todos participantes a
definir o conteúdo da gestão estratégica, os procedimentos a serem adotados, as atribuições e as
responsabilidades de cada um e de cada área. Em outras palavras, refere-se à forma com que se dá o
ordenamento social dentro da instituição.
Esta citação coloca um importante tema no centro desse estudo, que é o cotidiano das
instituições de longa permanência para idosos.
O cotidiano dos idosos que residem em uma ILPI é muito complexo, pois num primeiro
momento há a rejeição por parte do idoso por todas as questões simbólicas que se relacionam com a
institucionalização. O idoso, de certa forma percebe a institucionalização como uma questão
negativa no primeiro momento, pois os mesmos passam a perder o convívio familiar, a rotina na
qual estavam inseridos, passam a ter que dividir espaço com pessoas desconhecidas. Todos estes
fatores são dificultadores no início de uma institucionalização de idoso.
Carvalho, Luckow e Siqueira (2011) desenvolvem importantes considerações sobre a
questão da solidão para o idoso, a qual está, muitas vezes, relacionada às alterações que se iniciam
no seio familiar, principalmente as que envolvem perdas de familiares.
Muitos idosos têm nos filhos o referencial de segurança e de apoio. Acontece que muitos
filhos, ao perceber o processo de envelhecimento dos pais, não se sentem capazes de continuarem a
viver com os mesmos, ocorrendo a necessidade de institucionalização dos idosos. Esse é um dos
inúmeros motivos que levam os idosos a perderem espaço no contexto familiar, porém ressalta-se
que essa medida é de grande impacto para o idoso que se vê sem a referência e o apoio que outrora
eram dispensados pela família.
Porém, o Brasil, atualmente, dispõe de importantes mecanismos que oferecem proteção aos
idosos, dentre eles a Constituição Federal de 1988, no art. 229, afirma que a família, a sociedade e o
Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas (BRASIL, 1988). Este artigo constitucional
69
estabelece que é dever das famílias e de outros atores sociais aparar os idosos. Isso fornece aos
idosos uma garantia de que suas necessidades devam ser supridas pela família, sociedade ou Estado.
O Estatuto do Idoso, no art. 3º, prioriza o atendimento ao idoso por meio de suas próprias
famílias (BRASIL, 2003). Entretanto, é comum observar em algumas famílias os conflitos entre as
diferentes gerações e a exclusão familiar, conduzindo o idoso a sair do contexto familiar para
procurar uma instituição de longa permanência para idosos. O sentido de família para o idoso é de
um espaço de proteção, aconchego, segurança. As gerações anteriores têm a concepção de família
não só em seu núcleo, mas também considerando os parentes mais próximos. Assim, há a
expectativa de amparo (BESSA; PEIXOTO, 2008).
Carvalho, Luckow e Siqueira (2011), informam que os idosos que estão em instituições de
longa permanência possuem perfil diferenciado. Muitos necessitam de atenção e suporte
especializado, sendo que a grande maioria apresenta morbidades físicas ou mentais, que os tornam
mais propensos a agravos na saúde.
Renato Veras (1995) coloca em pauta a importância da necessidade que o idoso participe e
saiba da importância do processo de envelhecimento que atinge todas as pessoas, e a sabedoria de
saber como envelhecer com atitude para uma melhor qualidade de vida. O autor aborda a
importância do conhecimento do ser humano, no âmbito de aceitação do processo de envelhecer
com autonomia e noção de todos os benefícios que a idade traz para o indivíduo. Saber de seus
direitos como cidadãos que já prestaram sua parcela de contribuição para a sociedade e que ainda
têm muito a contribuir.
A institucionalização dos idosos passa a ser um recurso inevitável, pois os mesmos
necessitam de amparo social das novas necessidades que emergiram em suas vidas decorrentes da
falta ou ausência do grupo familiar que os acolhiam em outro momento de suas vidas.
E o convívio nessa nova realidade constitui novo desafio aos idosos:
Assim, nota-se que os impactos causados pela necessidade de institucionalizar idosos são
muito grandes e traduzem um cenário onde é refletida uma das faces mais cruéis da questão social,
o abandono.
70
No Brasil, a base de atuação dos assistentes sociais é a questão social e suas múltiplas
facetas, sendo assim, torna-se relevante definir o conceito de serviço social.
O autor expõe sua forma particular de conhecimento voltado para a prática do serviço
social, em que ao conhecer a realidade vai construindo no pensamento um projeto de ação, vai de
uma maneira particular de ver os problemas e construindo soluções, desenvolvendo aplicações
técnicas e teóricas na atuação profissional. Já Iamamoto e Carvalho (2005), delimitam o serviço
social como uma profissão socialmente determinada na história da sociedade brasileira e que se
formou e desenvolveu no marco das forças societárias como uma especialização do trabalho na
sociedade.
Atualmente, muitos idosos desprovidos de seus familiares procuram as instituições asilares
pela certeza de estarem em um local onde serão cuidados por profissionais capacitados, garantindo
sua segurança e saúde. Contudo, uma das realidades observadas em muitos lugares é a falta de
qualificação dos recursos humanos (FURKIM et al. 2010).
72
à articulação da rede socioassistencial em favor das pessoas idosas da instituição, como forma de
acesso à cidadania e aos direitos.
REFERÊNCIAS
BEHRING, E. R. BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. 5. ed. São Paulo: Cortez,
2008.
74
BESSA, M. E. P.; SILVA, M. J. Motivações para o ingresso dos idosos em instituições de longa
permanência e processos adaptativos: um estudo de caso. Texto contexto - enfermagem.,
Florianópolis, v. 17, n. 2, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tce/v17n2/06.pdf>
Acesso em 13 mar. 2012.
BRASIL. Constituição 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Atlas,
1988.
BRASIL. Lei n.º 10.741 – de 1 de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm>
Acesso em 20 fev 2012.
FURKIM, A. M. et al. A instituição asilar como fator potencializador da disfagia. Revista CEFAC,
São Paulo, v. 12, n. 6, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v12n6/06.pdf >
Acesso em 11 mar. 2012.
GOFFMAN, E. Manicômio, Prisões e Conventos. Trad. Dante Moreira Leite. 7ª edição. São
Paulo: Editora Perspectiva, 2001.
IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil. 17 ed. São
Paulo: Cortez (Lima, Peru): CELATS, 2005.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. População 2010. Rio de Janeiro, 2010.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1> Acesso em 21 fev 2012.
LIMA, T. J. V. et al. Humanização na Atenção à Saúde do Idoso. Saúde e sociedade, São Paulo, v.
19, n. 4, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
12902010000400013 > Acesso em 11 mar. 2012.
VERAS, R. P. Terceira idade: um envelhecimento digno para o cidadão do futuro. Rio de Janeiro:
Unati, 1995.
75
Resumo
Apesar de um importante conquista, o envelhecimento individual e social tem provocado o surgimento de
novas demandas e problemas, especialmente em realidades nas quais imperam significativa desigualdade
social e carência de políticas públicas que atendam às necessidades dos cidadãos. Diante dos desafios que
essa nova condição representa, o presente artigo teve como objetivo discutir sobre a situação psicossocial da
pessoa idosa, a partir de apreensões da realidade do contexto de atendimentos da Unidade Auxiliar Centro
Jurídico Social da UNESP, conferindo-se destaque para o lugar do idoso no que se refere às questões de
família e da previdência social. Por meio do levantamento e da análise dos dados referentes aos arquivos dos
anos de 2012 e 2013, foi possível observar a ocorrência de mudanças de valores e atitudes em relação aos
papéis filiais, uma vez que os idosos demonstraram assumir responsabilidades de cuidado e sustento de
filhos e netos; bem como a inexistência de um amparo seguro oferecido pela família, ou pelo Estado, a esses
idosos. Quanto às questões relacionadas à previdência social, observa-se que o idoso também acaba
assumindo a responsabilidade do sustento da família, uma vez que o benefício, muitas vezes, representa a
principal renda do núcleo familiar. A partir da situação psicossocial da pessoa idosa constatada no referido
contexto, ressalta-se que enquanto o cuidado ao idoso não for entendido como uma questão pública, de
responsabilidade das famílias, do Estado e da sociedade como um todo, este provavelmente continuará
ocupando um lugar de exclusão e desamparo, sem qualquer garantia de exercício de sua cidadania.
INTRODUÇÃO
1
Psicóloga da Unidade Auxiliar Centro Jurídico Social - UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca.
Mestra em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia USP/Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
de Ribeirão Preto. E-mail: claudiamr@franca.unesp.br
2
Assistente Social da Unidade Auxiliar Centro Jurídico Social - UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de
Franca. Mestra em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social UNESP/Faculdade de Ciências
Humanas e Sociais de Franca. E-mail: adriana.almeida@franca.unesp.br
76
ser compreendido em determinado tempo e espaço, sofrendo influência de variáveis como etnia,
classe social, relações de gênero, ideologias, entre outras.
Conforme afirmaram Baltes e Smith (1995, p. 41) “o envelhecimento precisa de uma
avaliação sustentada em uma perspectiva multidimensional, na qual fatores objetivos e subjetivos
sejam considerados dentro de um contexto cultural, que contém demandas específicas”.
Na sociedade atual, qualquer valoração apresenta como fundamento a ideia básica de
produtividade, inerente ao capitalismo. Em razão desse modelo de produção econômica que
exacerba o individualismo, o efêmero, o consumo, e em que apenas o novo pode ser valorizado,
enquanto o velho passa a ser considerado ultrapassado e, muitas vezes, acaba descartado,
descortina-se o pano de fundo de uma conjuntura social em que o envelhecimento humano se tece
ainda entre mitos e estereótipos, concepções e crenças, que acabam por marginalizar a pessoa idosa
e arrastam consigo um conjunto de problemas ao nível da saúde pública, dos sistemas de segurança
social e do próprio bem-estar geral da população idosa.
Em 1992, o até então Escritório Jurídico da Unesp Câmpus de Franca foi transformado em
Unidade Auxiliar de estrutura simples Centro Jurídico Social - UACJS pela Resolução Unesp n.
34/92, passando a desenvolver atividades interdisciplinares que, atualmente, integram saberes das
áreas de Direito, Serviço Social e Psicologia. Em atendimento ao tripé da Universidade - ensino,
pesquisa e extensão - constitui-se em um campo diferenciado de estágio para alunos dos cursos de
Direito e Serviço Social, oferece atendimento psicossociojurídico à população em situação de
vulnerabilidade social e oportuniza o desenvolvimento de pesquisas acadêmico-científicas.
Seu foco de atuação foi sendo delineado ao longo dos anos, a partir das demandas da
sociedade na qual se insere, de modo que hoje apresenta como suas principais áreas de atuação:
família (divórcio, alimentos, guarda, regulamentação de visitas, investigação de paternidade,
adoção, interdição, alvará judicial, autorização para trabalho de adolescente) e previdência social
(aposentadoria, auxílios doença e acidente, salários maternidade e família, pensão por morte e
auxílio reclusão, e benefício assistencial de prestação continuada).
A UACJS tem como objetivo fundamental incentivar a construção do conhecimento em
suas áreas de intervenção, a partir da formação técnica, ética e profissional de seus estagiários, os
quais atuam junto à comunidade por meio da prestação de serviços sociojurídicos e da divulgação
de direitos e deveres, com vistas à sensibilização das pessoas enquanto sujeitos do processo político,
econômico, social e jurídico. Para tanto, a Unidade desenvolve também atividades em projetos de
extensão, elaborados a partir de demandas identificadas no cotidiano de trabalho, os quais envolvem
a participação de alunos, da equipe técnica composta por advogadas, assistentes sociais e psicóloga,
79
Tais achados evidenciaram alterações de valores e atitudes com relação aos papéis filiais,
uma vez que foi possível observar idosos assumindo responsabilidades de sustento e cuidado de
filhos e netos. Embora as trocas intergeracionais e o exercício de novos papéis familiares sejam
favoráveis para o envelhecimento ativo, ressalta-se que, nos casos analisados, evidenciou-se a
sobrecarga de responsabilidades assumidas pelos idosos diante da capacidade insuficiente dos filhos
e netos de desempenhá-las, bem como a inexistência de um amparo seguro, oferecido pela família
ou pelo Estado, para esses idosos.
Observou-se uma renda média de dois salários mínimos entre as pessoas idosas que
buscaram atendimento na Unidade, sendo elas as únicas pessoas responsáveis pela provisão de
recursos para a família ou as corresponsáveis, juntamente ao(à) companheiro(a), também idoso(a).
Foi possível notar que as rendas advêm de aposentadoria, pensão por morte ou benefício de
prestação continuada. Em vista disso, cabe destacar, conforme constatou Telles (2003), que a pessoa
idosa tem se constituído em uma garantia do sustento familiar, considerando-se sua renda da
aposentadoria ou outros benefícios e o patrimônio que tenha adquirido ao longo da vida.
Outro dado relevante se refere ao fato de que esses usuários são em sua maioria mulheres,
o que parece refletir que o cuidado familiar, também no caso da pessoa idosa que assume as
responsabilidades de outros entes, ainda é compreendido como um valor predominantemente
feminino. A noção de que cabe às mulheres a responsabilidade pelas tarefas inerentes ao trabalho
reprodutivo contribui para sustentar o entendimento de que a reprodução social é um encargo das
mulheres e não da sociedade. Tal compreensão, além de prejudicar a divisão equitativa de
responsabilidades entre homens e mulheres, apresenta também influências na definição de temas e
prioridades das políticas públicas, resultando em uma não abordagem das questões do cuidado por
parte do Estado e no déficit dos serviços públicos voltados para a cobertura dessas tarefas
(VASCONCELOS, 2009).
Também foi possível observar, entre esses usuários, idosos que vivem sozinhos após a
morte do cônjuge. A configuração familiar unipessoal pode ser influenciada por fatores como o
nível de renda, a preferência por privacidade e o momento do ciclo de vida em que a pessoa se
encontra (TELLES, 2003). Apesar das vantagens da preservação da privacidade e da independência,
o isolamento social e a ausência de apoio familiar podem representar obstáculos a um
envelhecimento saudável e digno, especialmente quando a composição unipessoal não ocorreu por
uma livre escolha da pessoa.
A situação da pessoa idosa na família, conforme apreendida no contexto em questão,
revelou que, apesar da inquestionável relevância da manutenção das relações familiares e da
permanência do idoso no seio da família, se faz indispensável a consideração das mudanças
ocorridas na estrutura familiar, bem como a carência dos idosos, e das suas famílias, de condições
81
de vida favoráveis. Enquanto o cuidado à pessoa idosa não for entendido como uma questão
pública, de responsabilidade das famílias, mas também do Estado e da sociedade como um todo,
provavelmente, o idoso continuará ocupando um lugar de exclusão e desamparo. É evidente a
necessidade de estruturação de serviços em vários âmbitos de atuação das políticas públicas para
que se possa garantir o bem-estar da pessoa idosa e o exercício de sua cidadania.
Num contexto em que o capital concentra poder e globaliza a miséria, torna-se difícil
compreender de que modo é possível a sociedade brasileira atender às demandas sociais tendo em
contrapartida o desemprego estrutural, o subemprego e a redução da presença do Estado nas
políticas sociais, sendo estas, muitas vezes, insuficientes para resolver problemas básicos de
sobrevivência dos mais variados segmentos da população. Nesse cenário, a população idosa
configura-se como um dos segmentos mais vulneráveis, pois como já mencionado, para que a
velhice possa ser vivida com dignidade, qualidade de vida e direitos assegurados são necessários
renda, políticas, serviços, atenção e cuidado social permanente no dia-a-dia.
No que diz respeito à renda, nos deparamos com uma contradição interessante ao
observarmos que, ao mesmo tempo em que o idoso, enquanto força de trabalho, é considerado
improdutivo e até mesmo oneroso ao sistema previdenciário, ocupa, no ambiente familiar, um
espaço significativo para a sobrevivência da família, que passa a depender cada vez mais da
contribuição de seus benefícios previdenciários como aposentadoria, pensões, e até mesmo do
beneficio assistencial, para a composição da renda familiar, sendo essa dependência cada vez maior,
quanto menor o nível de renda dos demais membros da família.
Este fato não significa que o valor real do beneficio, previdenciário ou assistencial, que o
idoso recebe seja suficiente para o provimento das necessidades básicas, mas sim a pauperização
cada vez maior das famílias num país em que a desigualdade social ainda é um grande desafio.
A Constituição de 1988, além de afirmar que a Família, a Sociedade e o Estado devem dar
a devida atenção e atender as necessidades que são inerentes à pessoa idosa, garantiu o amparo para
aqueles que não possuem renda, por meio do beneficio assistencial, regulamentado pela Lei
82
8742/98 (LOAS). Por esse Benefício de Prestação Continuada (BPC), a pessoa deficiente e o idoso,
com idade acima de 65 anos, que não tenha condições de ter provido seu sustento por sua família ou
por si mesmo, no caso do idoso pelo fato de não ter contribuído no decorrer da vida profissional
com a previdência social, e por isso não conseguiria o beneficio da aposentadoria, lhe é concedida
uma renda mensal no valor de um salário-mínimo.
Quando por algum motivo o benefício, seja ele previdenciário ou assistencial, é negado
pela Previdência Social, cabe à pessoa recorrer ao judiciário para solicitar a efetivação do direito de
recebê-lo. Na área previdenciária, em que o idoso, com idades entre 60 e 85 anos, procurou
atendimento na Unidade Auxiliar Centro Jurídico Social nos anos de 2012 e 2013, o Benefício de
Prestação Continuada (BPC) representou 32 % das solicitações, seguida da aposentadoria por idade
e pensão por morte. Outras demandas foram por auxílio-doença e aposentadorias rural e por
invalidez.
Observou-se nas solicitações de BPC que o idoso era o principal provedor do sustento da
família por meio de sua aposentadoria que variava entre um e dois salários mínimos, sendo que o
benefício era solicitado para os filhos portadores de doenças incapacitantes tanto para o trabalho
como para as responsabilidades da vida civil, já que se encontravam interditados, sendo os pais
idosos seus curadores, ou para o cônjuge, também idoso, que naquele momento estava com a saúde
comprometida por doenças crônicas ou demais doenças próprias dessa fase da vida, como por
exemplo, o Alzheimer. Apenas em um dos casos, a solicitação era para o próprio idoso, o qual no
decorrer da vida trabalhou no mercado informal, e devido a um acidente de trabalho, aos 65 anos,
não consegue mais prover o sustento da família de quatro pessoas, sendo que em seu núcleo
familiar também há um filho interditado.
Na solicitação de aposentadoria por idade, o idoso contava com a idade necessária, porém
a dificuldade em comprovar as 180 contribuições, critério para a concessão do beneficio, o levou a
recorrer ao judiciário na tentativa de efetivar seu direito. Já no caso da pensão por morte, a
dificuldade estava na comprovação da dependência do idoso em relação ao assegurado que havia
falecido.
Destacamos essas três solicitações pela representatividade da questão da renda no processo
de envelhecimento da população, pois a forma como o sistema previdenciário está organizado
apresenta influência direta tanto no que diz respeito aos rendimentos de famílias inteiras,
determinando inclusive o grau de dependência econômica dos idosos, como também à questão da
distribuição futura da renda não só entre indivíduos, mas entre gerações.
Sendo assim, as preocupações no que tange ao sistema previdenciário vão além do
puramente contábil, ou seja, vão além da discussão do aumento das contribuições e/ou impostos,
redução do valor dos benefícios sociais e, até mesmo, o aumento da idade mínima para a
83
aposentadoria, pois o que está posto é a questão de sobrevivência de uma parcela significativa das
famílias brasileiras, as quais deveriam ser consideradas como prioridade das políticas públicas
voltadas para a qualidade de vida e o bem-estar coletivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REREFÊNCIAS
LEME, L. E. G.; SILVA, P. S. C. P. O idoso e a família. In: NETTO, Matheus Papaléo (Org.).
Gerontologia: a velhice e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo: Atheneu, 2002.
Resumo
O presente artigo trata do projeto “Oficina da família: uma análise interdisciplinar sobre a efetivação dos
direitos dos idosos”, que é desenvolvido pela Unidade Auxiliar Centro Jurídico Social (UACJS). O projeto
tem como objetivos divulgar o trabalho de assistência sociojurídica à população e, ainda, informar a respeito
dos direitos dos idosos consolidados pelo Estatuto do Idoso. Para isso, são realizadas oficinas nos Centro de
Convivência do Idoso (CCI) na cidade de Franca, onde se debatem as deficiências na saúde, transporte e
outras políticas públicas municipais. Além disso, o trabalho realizado pelo UACJS é divulgado, permitindo
aos idosos que tirem suas dúvidas acerca de procedimentos jurídicos. A partir das demandas e
questionamentos abordados nas oficinas, o grupo procura conversar com autoridades municipais
responsáveis pela efetivação dos direitos dos idosos, na tentativa de solucionar os problemas apresentados.
Além das oficinas, também são criadas cartilhas populares a fim de que a população tenha acesso facilitado
às informações sobre benefícios, leis e do próprio trabalho da UACJS. Por fim, destaca-se a realização do
evento “A pessoa idosa em Franca: diálogos entre saberes e práticas”, que contou com a participação ativa
dos idosos de Franca, além de profissionais da área da saúde, da assistência social e do direito.
INTRODUÇÃO
O temática da velhice tem ganhado cada vez mais destaque no Brasil, na medida em que a
população tem evoluído para uma pirâmide etária de envelhecimento. Tendo em vista esse quadro
nacional, a Unidade Auxiliar Centro Jurídico Social (UACJS) criou o projeto de extensão
atualmente denominado “Oficina da família: uma análise interdisciplinar sobre a efetivação dos
1
Graduanda do 3º ano de Serviço Social da UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca. E-mail:
jessicataais@gmail.com
2
Graduanda do 4º ano de Direito da UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca. E-mail:
junniautida@gmail.com
3
Graduanda do 4º ano de Direito da UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca. E-mail:
laura.varella1@gmail.com
86
direitos dos idosos”, o qual tem como um de seus objetivos principais a divulgação dos direitos da
pessoa idosa na cidade de Franca-SP, a fim de lhes garantir maior efetividade.
A partir da especificação do tema a ser desenvolvido pelo projeto, foi necessária a
definição da melhor abordagem prática para alcançar os objetivos almejados. Assim, houve a
realização de oficinas junto aos Centros de Convivência do Idoso de determinadas regiões na cidade
de Franca, com a exposição dos dispositivos contidos no Estatuto do Idoso. Vale ressaltar que, no
presente artigo, não se pretendeu esgotar os assuntos tratados nas oficinas, por conveniência, serão
explanados apenas os assuntos que geraram certa polêmica ou originaram muitos questionamentos
por parte dos idosos. A partir da identificação das demandas dos indivíduos da terceira idade, os
integrantes do projeto começaram as atividades objetivando a concretização de melhorias na
realidade vivenciada pelos idosos em Franca.
Durante as reuniões do projeto, tendo sido observada a aproximação da data 1º de outubro
de 2013, dia internacional do idoso, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) na
Assembleia Mundial sobre Envelhecimento, realizada em 1982, na Áustria, foi decidido pelo grupo
sobre a realização de um evento em prol da pessoa idosa. Assim, o UACJS, em parceria com o
Núcleo Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) e a Pró-Reitoria de Extensão Universitária –
PROEX realizaram o evento “A pessoa idosa em Franca: Diálogos entre saberes e práticas”, nos
dias 24, 25 e 26 de setembro de 2013, com localização no Anfiteatro II da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”- Câmpus de Franca. Os assuntos tratados foram relativos ao bem
estar do idoso para um envelhecimento ativo, tendo como ouvintes os próprios idosos, os estudantes
e os profissionais das diversas áreas interessadas.
1. APRESENTAÇÃO DO PROJETO
O projeto “Oficina da família: uma análise interdisciplinar sobre a efetivação dos direitos
dos idosos” surgiu como consequência do trabalho desenvolvido pela Unidade Auxiliar Centro
Jurídico Social (UACJS), grupo do qual os integrantes do projeto em análise também fazem parte, e
que tem como objetivo a prestação de assistência sociojurídica à população em vulnerabilidade
social da comarca de Franca-SP. No desenvolvimento desse trabalho, observou-se uma deficiência
quanto à informação das pessoas a respeito de seus direitos. Foi discutido que não bastava somente
tutelar o direito depois que ele já foi violado ou depois que o litígio já havia se consumado: era
necessária a conscientização da população enquanto cidadãos de direito, antes mesmo de qualquer
violação.
87
Como grande parte da demanda do Centro Jurídico está relacionada às questões familiares,
se fez imprescindível a realização de um projeto que pudesse levar à população informações a
respeito das leis e de suas aplicações na vida dos particulares.
O estudo para a realização do projeto se iniciou a partir da leitura e discussão dos Estatutos
do Idoso e do Estatuto da Criança e do Adolescente. Com o desenvolvimento do projeto e com a
parceria com a UNATI (Universidade Aberta da Terceira Idade), o grupo acabou convergindo seus
estudos para a questão do idoso em Franca, por ser uma questão que apresenta diversas
problemáticas, tanto no âmbito da violação de direitos como no da desinformação da população.
Dessa forma, o grupo optou por realizar atividades que fomentem a conscientização das
pessoas idosas e suas famílias, bem como das novas gerações, sobre os direitos dos idosos e os
meios para a garantia de sua cidadania. A realização de atividades com idosos, famílias, crianças e
adolescentes, apresenta-se de fundamental importância, uma vez que as práticas intergeracionais
têm sido consideradas essenciais na prevenção de preconceitos e no estímulo ao respeito, à
convivência e à reciprocidade entre gerações.
Para alcançar esse objetivo, foram definidos dois métodos principais: a distribuição de
cartilhas populares e a realização de oficinas. As cartilhas foram pensadas no intuito de favorecer o
esclarecimento e a conscientização sobre os direitos da pessoa idosa através do uso de linguagem de
fácil acesso ao público-alvo. As oficinas, realizadas no Centro de Convivência do Idoso (CCI) em
Franca, tem a finalidade de divulgar os direitos do idoso e os meios de acesso à justiça.
Paralelos a esses métodos, é interessante ressaltar que são oferecidas orientações
psicossociojurídicas e realizado encaminhamento das demandas coletivas identificadas à instituição
jurídica competente, visando à garantia e à consolidação da cidadania da pessoa idosa. Além disso,
foi realizado o evento “O idoso em Franca: diálogos entre saberes e práticas”, que teve a
participação de profissionais da área em debates acerca de políticas públicas que tutelem os direitos
dos idosos. Este evento não foi voltado apenas para a comunidade acadêmica, mas também para a
população idosa que participou ativamente e pôde se informar melhor sobre seus direitos.
Assim, a realização do projeto contribuiu para a população atendida que se informou a
respeito da situação do idoso em Franca e dos direitos e deveres de todos para com essa questão, e
também para o amadurecimento profissional e acadêmico das alunas participantes, que através do
projeto foram incentivadas a realizarem pesquisas acadêmicas voltadas para as demandas sociais,
além do aprendizado adquirido com um trabalho de caráter interdisciplinar, que reúne elementos da
Psicologia, do Serviço Social e do Direito.
Portanto, considerando que a pessoa idosa tem ocupado lugar de exclusão em nossa
sociedade, o projeto de extensão “Oficina da família: uma análise interdisciplinar sobre a efetivação
dos direitos dos idosos” da Unidade Auxiliar Centro Jurídico Social - Unesp Câmpus de Franca tem
88
o objetivo de fomentar discussões sobre a realidade da pessoa idosa e a conscientização sobre seus
direitos e os meios de acesso à justiça, a partir da realização de oficinas em Centros de Convivência
do Idoso. As atividades também são voltadas para as famílias, por ser considerado de fundamental
importância o aspecto intergeracional na prevenção de preconceitos e no estímulo ao respeito, à
convivência e à reciprocidade entre gerações.
2. AS OFICINAS
Tendo definido o enfoque no tema relacionado aos direitos dos idosos, em especial na
situação vivenciada pelo idoso dentro do município de Franca-SP, o método de abordagem realizado
pelo grupo foi o da elaboração de oficinas junto aos Centros de Convivência do Idoso (CCI)
instalados nas regiões da cidade.
Inicialmente, após algumas reuniões feitas entre os integrantes do projeto de extensão
"Oficina da Família", foram sendo realizados estudos sobre os direitos dos idosos, em especial, os
expressos na Lei n. 10.741, de 1 o de outubro de 2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso.
Posteriormente, o grupo realizou a elaboração de slides de apresentação, tendo em vista a
determinação da data da primeira oficina. Através do esforço em equipe, com vistas a tratar do tema
de maneira bastante ilustrativa, foram abordados os temas principais contidos do referido Estatuto,
quais sejam, os alimentos, a saúde, o transporte e a questão do respeito ao idoso.
A primeira oficina teve local no CCI "Rodolfo Ribeiro Vilas Boas", região leste, no dia
05/04/2013, tendo início às 8h30 e duração até as 10h30, período da manhã. Surpreendentemente,
fomos privilegiados com a presença de 40 idosos na oficina realizada. Para a exposição do tema
abordado, surgiu a necessidade de preparação e desenvoltura para falar em público, em tom de voz
adequado. Os idosos, durante a explanação do tema, mostraram-se deveras interessados e atentos,
interagindo com a apresentação por meio de dúvidas e comentários acerca do que já vivenciaram.
Por conta de pedido da assistente social que coordenava o CCI, uma segunda oficina foi
realizada no mesmo local, no dia 11/04/2013, no horário das 18h50 até 19h30, também abordando o
Estatuto do Idoso, porém, com público-alvo diferente: as famílias. Este encontro contou com a
participação de sete pessoas e foi muito produtivo, tendo em vista que a família também necessita
saber quais são os direitos dos idosos, a fim de ajudá-los a efetivarem esses direitos.
Abrangendo uma nova região de Franca, foi agendada uma oficina junto ao CCI “Avelina
Maria de Jesus”, CCI-Sul, no data de 15/05/2013, no período da manhã, das 9h00 até as 10h30, com
um público total de 50 idosos aproximadamente. A experiência junto a esse CCI foi de grande
89
importância para os resultados das oficinas, sendo possível analisar diferentes demandas com
relação ao CCI de outra região da cidade.
Foram dois os objetivos principais das oficinas: levar ao conhecimento da população sobre
o serviço que é prestado pela Unidade Auxiliar do Centro Jurídico Social e divulgar os direitos dos
idosos. Assim, nas oficinas, havia, primeiramente, uma apresentação da UACJS, com a exposição
das atividades desenvolvidas e as áreas de atuação jurídica, bem como todo o apoio social e
psicológico que é oferecido pela unidade. Permeando a exposição, destacava-se cada situação em
que os idosos poderiam procurar o auxílio da unidade a fim de estar em juízo para obter a efetivação
de seu direito.
Adentrando no Estatuto do Idoso, há que se notar que o referido diploma considerou idoso,
portanto, fazendo jus aos direitos então disciplinados, toda pessoa com idade igual ou superior a 60
anos, conforme disposto no art. 1º do referido diploma1. A determinação dessa idade se deu por
conta de que, oficialmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera idoso o indivíduo
com idade igual ou superior a 65 anos para os residentes em países desenvolvidos e 60 anos para
aqueles que residem em países em desenvolvimento, que é o caso do Brasil. A diferença existente
entre as idades se deve por conta de fatores que influem na qualidade de vida do ser, como
econômicos, políticos, culturais, ambientais, entre tantos outros2.
Insta ressaltar que a obrigação pelo cumprimento dos direitos dos idosos pode ser atribuída
à família, à comunidade, à sociedade e ao Poder Público3. Portanto, nota-se que é de todos em geral
a vinculação de observar a efetividade dos direitos tratados no presente estudo.
Sobre a pensão alimentícia devida ao idoso, a referida lei, em seu art. 12, dispõe que este
pode requerer alimentos para qualquer de seus parentes a sua escolha, sempre devendo ser
respeitada, em contrapartida, a conciliação entre a necessidade do idoso e as possibilidades de ajuda
do parente. Essa é a regra fundamental da obrigação alimentar4. Observa-se, então, que a questão de
alimentos ao idoso traduz uma obrigação solidária. Convém também assinalar que a percepção de
pensão alimentícia pode ser cumulada ao recebimento de benefício previdenciário, desde que este
1
Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003, o Estatuto do Idoso.
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FRANGE, Paulo. Estatudo do Idoso comentado por Paulo Frange. Disponível em:
<http://www.slideshare.net/Luanapqt/estatuto-do-idoso-comentado-16055858>. Acesso na data: 17/10/2013.
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Arts. 3º e 9º, Estatuto do Idoso.
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CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. 4ª ed. rev. ampl. e atual. de acordo com o Novo Código Civil. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2002.
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não seja suficiente para suprir as necessidades do idoso. Caso não haja pessoa na família em
condições financeiras de auxiliar nos proventos do idoso sem prejudicar o seu próprio, então a
responsabilidade recairá sobre o Estado1. Neste caso, o idoso deverá requerer o benefício de
prestação continuada (BPC), perante o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), atendidos os
requisitos legais.
Com relação ao direito do idoso à saúde, é garantido o seu acesso universal e igualitário
por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo atuação para que haja a prevenção,
promoção, proteção e recuperação da saúde, com atenção especial às doenças que afetam os idosos.
Em continuidade, também é assegurado ao idoso que o Estado forneça-lhe os medicamentos, de
forma gratuita, principalmente aqueles de uso continuado.
Quando se trata de saúde, a polêmica que se insurge é acerca dos valores diferenciados dos
planos de saúde. Segundo o art. 15, parágrafo 3º, do Estatuto do Idoso, é vedada a discriminação do
idoso por meio da cobrança de valores mais elevados em detrimento daqueles de menor idade.
Entretanto, é de geral ciência o fato de que a realidade vivenciada pelos idosos não caminha ao
encontro do estabelecido nessa regra legal para os planos de saúde.
Acerca do transporte público, foi identificada uma contradição dentro do próprio Estatuto.
Ao tratar do direito a gratuidade do transporte público urbano e semiurbanos aos idosos, a lei previu
no art. 39 que o indivíduo deva ter a idade igual ou superior a 65 anos, cabendo à lei municipal
estabelecer a idade igual ou superior a 60 anos, se o caso. Contudo, o próprio diploma dos idosos
estabeleceu, conforme já exposto no presente estudo, que se considera idoso todas as pessoas com
idade igual ou superior a 60 anos. Assim, diante dessa problemática, pode-se encontrar dentro do
território brasileiro, idosos entre a faixa etária de 60 e 65 anos, que têm ou não o direito ao
transporte público. Através de pesquisa elaborada durante a realização projeto, foi constatado que a
Lei Municipal de Franca segue a idade contida no Estatuto do Idoso.
Ainda em se tratando de transporte, houve uma problematização com relação a uma
exigência estipulada pela empresa prestadora do serviço em Franca com relação aos idosos: o
cadastramento para a emissão de um cartão para garantir a gratuidade da passagem. Para a
fabricação do referido cartão, o idoso deve comparecer ao Posto Passe Fácil do Terminal Ayrton
Senna munido de um documento pessoal e um comprovante de residência recente e renová-lo a
cada aniversário. No entanto, consoante expressa determinação em lei, a gratuidade para o idoso
dos transportes públicos urbanos e semiurbanos deve se dar apenas com a apresentação de
documento pessoal para sua identificação.
1
Art. 14, Estatuto do Idoso.
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O Estatuto do Idoso, em título próprio, também dispõe sobre os crimes relativos ao idoso,
tendo em vista serem praticados em razão da sua condição de maior fragilidade. É de conhecimento
das pessoas o fato de que, infelizmente, não é rara a caracterização de desrespeito, de discriminação
ou mesmo de maus tratos cometidos contra o idoso. E, com mais pesar, muitas vezes, os agentes
desses atos traduzem naquelas pessoas que deveriam cuidar do idoso. Ainda, há pessoas mal
intencionadas que pretendem usufruir de benefícios recebidos pelo idoso, ou tentam coagi-lo a doar,
contratar, testar ou outorgar procuração. Dentre outras, todas essas práticas constituem crime contra
o idoso, tipificados pelo próprio diploma legal do idoso.
Durante as oficinas foi possível entrar em contato com muitos idosos de regiões diferentes
do município de Franca. Realmente, muito interessante perceber que abordamos questões de
diversas áreas do direito e do serviço social, dúvidas relacionadas à família, à previdência, aos
medicamentos gratuitos, ao transporte, ao plano de saúde, entre tantas outras.
Importa destacar que houve também diferenças quanto aos relatos de vida comentados
pelos idosos durante as oficinas, provenientes do CCI-Leste e do CCI-Sul. O conhecimento e
contato feitos pelos idosos do CCI-Leste impressionou o nosso grupo, havendo comentários por
parte dos idosos sobre a facilidade do acesso a internet junto às lan houses e perguntas sobre a
existência de benefícios aos idosos quanto às passagens aéreas.
Passo aqui a exposição de alguns dos questionamentos relevantes que nos foram
apresentados ao longo das exposições nas oficinas:
- A pensão alimentícia pode ser solicitada ao cônjuge?
- Onde solicitar a execução de alimentos?
- Após a aposentadoria, com tempo de trabalho de 10 anos, é previsto direito à restituição?
- Situação de desemprego justifica o não pagamento da pensão?
- Filhos com deficiência têm direito a algum benefício?
- Por que os planos de saúde não respeitam o Estatuto do Idoso?
- Como fica o transporte gratuito para o aposentado por invalidez?
- Como funciona o transporte intermunicipal?
- O idoso pedindo alimentos ao filho, pode gerar prisão?
- Posso pedir alimentos para o Estado antes de pedir para parentes?
- E quanto aos menores de 60 anos, como é garantido seus direitos?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse cenário, um grande avanço e conquista foi a criação do Estatuto do Idoso, pois
amplia direitos e leva para o futuro melhores condições de vida na velhice. Todos os indivíduos têm
papel fundamental para a garantia dos direitos previstos no Estatuto, tanto a família, quanto a
comunidade, bem como o poder público.
Temos consciência de que o Estatuto é um começo bastante promissor. Contudo, para
serem efetivados os direitos fundamentais à pessoa idosa se faz necessário trazer esse conhecimento
a público. Ao tomar consciência de seus direitos, o indivíduo pode superar a imediaticidade, em
busca de melhores condições de vida, reconhecendo-se como sujeito de sua própria história e
exercendo sua própria autonomia.
Essa foi uma das ferramentas utilizadas pelo nosso grupo, uma vez que através das oficinas
possibilitou-se levar aos idosos o acesso a informações acerca de seus direitos. Com a realização do
evento, pôde-se gerar o debate intergeracional sobre a temática em questão e a reflexão conjunta por
melhorias para a população idosa na atual conjuntura.
Ao trazermos o debate acerca do idoso, acreditamos ter contribuído para a efetivação de
seus direitos e dignidade, no sentido de mobilização da população e de controle social para que seja
possível lutar por mudanças e melhorias de nossa sociedade, tendo em vista que a realidade está em
constante movimento.
Para finalizar, não podemos deixar de expressar quão grandiosa foi a experiência adquirida
na participação do presente projeto e agradecer a todos que contribuíram de alguma forma para a
realização do mesmo. Talvez no futuro, ao olharmos para o espelho, não veremos apenas rugas e
cabelos brancos. Que possamos ver além da aparência... Que encontremos efetividade em nossos
direitos, reconhecendo que trabalhamos para a materialização deste ideal.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 11.433 de 28 de Dezembro de 2006. Dispõe sobre o Dia Nacional do Idoso.
Diário Oficial da União - Seção 1 - 29/12/2006, Página 28 (Publicação Original).
BRASIL. Lei n. 10.741 de 1º de outubro de 2003. Estatuto do Idoso. Brasília: Secretaria Especial
dos Direitos Humanos, 2004.
CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.
FRANGE, Paulo. Estatudo do Idoso comentado por Paulo Frange. Disponível em:
<http://www.slideshare.net/Luanapqt/estatuto-do-idoso-comentado-16055858>. Acesso em 17 out.
2013.
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VOZ DO IDOSO
Voz da experiência
Que na vida conquistou,
E que hoje, muitas vezes,
Para alguns silenciou.
Voz ultrapassada
De quem é do tempo antigo,
Que muito pode ensinar,
E também ser um amigo.
ORAÇÃO DO IDOSO
Terceira Idade
Viva com muita dignidade
Tenha saúde preservada
E sua vida curtida com felicidade.
A FACULDADE DA VIDA
Lembranças da juventude
Traz na imaginação
Sabor de beijos molhados
Dos amores de um passado
Que não retorna jamais.
E o caminho percorrido
É experiência de vida,
Paciência adquirida...
São diplomas recebidos
Na faculdade da vida.
ENVELHECER
Era uma fria manhã, tomei o ônibus na estação rodoviária com destino a Passos.
Quando sentei na minha poltrona, tinha um senhor bastante velho e corcunda. Estava
alegre e durante a viagem iniciei um diálogo:
O ônibus parou em Cássia e ele desceu, com uma mão acenava e com a outra segurava a
corcunda. Foi caminhando pela frente. Aquele velho que eu conheci, apesar de seu
cansaço, sua velhice, me mostrou que está vivendo. Me fez acreditar que a luta é o
fertilizante da vida.
Eu quero viver muito, por isso peço em minhas orações, que me deixe livre para pensar,
amar, sorrir, e se preciso for, me deixe livre para chorar. A minha vida será um eterno
começar de novo.
MOMENTOS
Quão grandes são as emoções
Quão maravilhosas são as experiências
As experiências do amor e do perdão
Tudo nasce, tudo cresce
Quando não morre antes
Tudo se transforma
Tudo é útil, depende da maneira de aproveitar
O presente é hoje, o aqui, o agora, este é o momento
O momento precioso de sua própria história
Há lembranças de júbilo e alegria,
Há lembranças de tristezas e quedas,
Tudo faz parte da jornada,
Da longa ou curta estrada.
Os caminhos são diversos,
As opções são do próprio arbítrio.
Nunca é bom andar somente à direita
Nunca é bom andar somente à esquerda.
Importante é sempre analisar
Por onde andar.
Pensar, sentir, para depois agir.
O pensamento navega como navio no mar,
Às vezes voa como pássaro no ar,
Mas o importante é refletir aonde se quer chegar.
Isso possibilita concretizar o sonho imaginado.
O pensamento refletido,
O sentimento decidido,
A atitude raciocinada
Levam a um ato incomparável.
A culpa destrói, O ressentimento corrói,
Mas o amor, tudo edifica e constrói.
Airton José Barbosa
UNATI-UNESP
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EXPERIÊNCIA DE VIDA
Envelhecer é ver
a família crescer
Envelhecer não é
se tornar dependente
É ver o sol nascer
com sabedoria e amor
Envelhecer acompanhado
O velho ficando mais velho junto
EXPERIÊNCIA DE VIDA
Envelhecer é viver
De forma saudável
É amar a vida
Junto com a família crescer
Ser feliz
Envelhecer é verificadas
os netos crescerem
É se tornar mais experiente
É ver no mundo
suas belezas
suas dores
suas alegrias
com sabedoria e amor
Envelhecer é se tornar
maduro
sem deixar de ser jovem
Envelhecer é se esquecer
das doenças
das falhas
que nosso corpo apresenta
Dos desgastes
que a vida impõe
EXPERIÊNCIA DE VIDA
Envelhecer é saber
aceitar mudanças
Ver a vida passar
É aproveitar com sabedoria
as experiências vividas.
Envelhecer é aprender
dia-a-dia
Ter maior compreensão
É dar mais de si
aos irmãos
Envelhecer é ter
espírito sempre jovem.
Nair Torres
EJA-CCI Avelina Maria de Jesus
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ENVELHECER É RECORDAR
Envelhecer sorrindo
Aproveitar as experiências vividas
Envelhecer é
Ver o sol nascer
Com alegria
Ver a família crescer
com esperança e amor
Ver o tempo passar
O corpo esse tempo
Retratar
Envelhecer é um
bom sinal
Demonstra experiências vividas
através das dores, das alegrias
É crescimento
como ser humano
EXPERIÊNCIA DE VIDA
EXPERIÊNCIA DE VIDA
Envelhecer é aproveitar
Tropeços para evoluir
Valorizar a vida
Ser grato a Deus
Sendo honesto
Saber plantar
Para poder colher.
EXPERIÊNCIA DE VIDA
Envelhecer é viver
É dar as mãos
É amar a vida
Agradecer a Deus.