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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E POLÍTICAS


CURSO DE DIREITO, 2023.2
PROC. CIVIL IV, prof. Ricardo Sichel

Alunos: Ezequiel Cardoso de Meireles - 20201361027


Julia Viveiros de Castro - 20201361075
Pablo Santo Anastácio Saudan - 20171361069
Victor de Abreu Baptista - 20162361056

Inteligência Artificial e Execução de Títulos de Créditos no Direito Processual Civil

Com o aumento populacional e a complexidade crescente das demandas da sociedade


civil e seus sujeitos, o sistema judiciário se vê sobrecarregado, incapaz de cumprir com as
expectativas dos sujeitos das lides, visto que são muitas demandas para órgãos, agentes e
recursos insuficientes.

O desenvolvimento tecnológico do século passado nos campos das ciências da


computação e informática trouxe novas formas de processamento das demandas dos cidadãos
junto ao judiciário, contribuindo para a celeridade de procedimentos tradicionalmente
demorados, que dependiam de sistemas sobrecarregados de distribuição e execução.

Dentre as inovações mais promissoras do presente, destaca-se a tecnologia de


Inteligência Artificial, justamente por sua capacidade adaptativa, que consiste na repetição de
sistemas complexos com o intuito de aprender o seu melhor funcionamento, conferindo-lhe
grande versatilidade, mesmo em disciplinas intelectualmente sofisticadas.

Dentro das inovações da área, destaca-se o IBM Watson, uma das mais avançadas
soluções de inteligência artificial. Ela desempenha um papel crucial e bastante expressivo no
aconselhamento legal, oferecendo uma análise abrangente e contextual de vastos volumes de
documentos legais, jurisprudência e regulamentações em tempo recorde, quando comparado
ao método tradicional. Utilizando técnicas de processamento de linguagem natural (PLN) e
aprendizado de máquina, o Watson é capaz de identificar padrões, tendências e informações
relevantes em documentos legais complexos, permitindo que advogados e profissionais
jurídicos tomem decisões mais assertivas e eficazes em um menor espaço de tempo. Além
disso, o Watson pode fornecer respostas rápidas a consultas legais, agilizando a pesquisa e
economizando tempo valioso no aconselhamento jurídico, o que o torna uma ferramenta
valiosa no campo do direito, podendo ser utilizado com um apoio à elaboração de atividades
jurídicas.

O artigo “A Desjudicialização e a Tecnologia em Busca da Efetividade na Execução


Civil” de Rodrigo Frantz Becker, Mestre em Direito pela UnB, e Renan Lima Barão,
Pós-graduado em Direito Processual Civil pela UCAM, publicado em 2021 pela Revista
Eletrônica de Direito Processual – REDP, periódico quadrimestral da Pós-Graduação em
Direito Processual da UERJ, dedica-se à discussão a respeito dos diversos recursos
tecnológicos, operacionais e legislativos voltados para o enfrentamento do problema da
sobrecarga do Judiciário no que diz respeito às execuções civis.

Um dos trechos desse texto diz que "Outras iniciativas promissoras são vistas em
diversos Tribunais pelo País e demonstram como a tecnologia tem auxiliado na busca pela
efetividade do processo executivo”. Este estudo diz que no Rio Grande do Norte, o Tribunal
de Justiça local desenvolveu o sistema Poti, que conta com a inteligência artificial para
realizar automaticamente a busca e bloqueio de valores em contas bancárias. Caso a
localização de bens seja frustrada, o Poti pode ser programado para realizar novas tentativas
em períodos consecutivos de 15, 30 ou 60 dias. Já quando tais tarefas eram realizadas por
serventuários da justiça, elas levavam semanas ou meses para serem cumpridas. O texto
também menciona uma ferramenta parecida que é encontrada no Tribunal de Justiça do
Paraná, com o PIAA - Projeto de Inteligência Artificial e Automação, que também possibilita
a automação de busca de endereços, análises de saldos bancários e bloqueio de valores."

De acordo com esse estudo, “A desjudicialização da execução civil, no entanto, ainda


não vingou em solo brasileiro. Por aqui, alguns atos executivos já não mais precisam do
Poder Judiciário, mas ainda são poucos e tímidos.” O texto utiliza como exemplos a alienação
do bem penhorado por iniciativa particular (art. 880 do CPC/15), o protesto do título judicial
(art. 517 do CPC/15) e a execução extrajudicial de cédula hipotecária (Decreto-lei 70/66).

Ainda conforme a obra supramencionada, vale citar que “Outros atos executivos são
realizados pelo Judiciário, mas não pelo Juiz. Ex: avaliação do bem penhorado, arresto de
bens e leilão dos bens constritos. Autoriza-se, também, excepcionalmente, a prática de atos
executivos por oficiais de justiça em comarcas contíguas ao juízo e regiões metropolitanas
(arts. 255 e 782, §1º, do CPC), sendo-lhes permitido efetuar “citações, intimações,
notificações, penhoras e quaisquer outros atos executivos”.

Também é trazido à baila o Projeto de Lei da desjudicialização, que dispõe que os


tabeliães de protesto serão chamados de agentes da execução, já afeitos aos temas dos títulos
de créditos, além de detentores de uma infraestrutura compatível e adequada aos atos e
procedimentos executivos. Assim, haveria a descaracterização de parte da atividade executiva
como jurisdicional.

Segundo esse estudo, “É exatamente a ideia de retirar do Poder Judiciário brasileiro a


atribuição para a execução de títulos judiciais e extrajudiciais e delegá-la aos tabelionatos de
protestos, que funcionariam como agentes de execução, com diversas competências,
promovendo uma maior efetividade da atividade executiva, de modo a resolver o problema
instaurado entre credor e devedor.”
Além disso, Flávia Hill pontua que tal sistema deve zelar pela observância do devido
processo legal extrajudicial, significando que os atos executivos praticados pelos tabeliães de
protestos devem obedecer aos princípios do contraditório, da ampla defesa, da imparcialidade
do agente da execução, da instrumentalidade das formas, da duração razoável do processo,
entre outros.

Podemos apontar, por exemplo, o aprimoramento do sistema de “penhora on-line”,


prevista no art. 854 do CPC/2015, com a recente substituição do BacenJud pelo SisbaJud –
Sistema de Busca de Ativos do Poder Judiciário. O SisbaJud, desenvolvido pelo CNJ em
parceria com o Banco Central e a Procuradoria da Fazenda Nacional, tem objetivo de dar
maior celeridade no cumprimento das decisões judiciais e, consequentemente, na efetividade
das execuções. Entre as novas ferramentas, o sistema possibilita o bloqueio célere não só de
valores em conta corrente, mas também de ativos mobiliários, como títulos de renda fixa,
ações, fundos de rendimento e demais opções de investimentos autorizadas pela Comissão de
Valores Mobiliários. No caso de pessoas jurídicas, o sistema consegue localizar, pelos
primeiros dígitos do CNPJ, as filiais da empresa matriz, mitigando as possibilidades de
fraude à execução. Além disso, automatiza-se os trâmites administrativos para cumprimento
das requisições judiciais de informações financeiras (afastamento de sigilo bancário) e das
ordens de bloqueio de valores. No antigo BacenJud, tais rotinas levariam semanas ou até
meses para cumprimento.

Nesse ínterim, a utilização da inteligência artificial (IA) na área jurídica tem sido um
tópico de crescente relevância, revolucionando a maneira como os processos judiciais são
conduzidos. No contexto da execução civil, em que a eficiência e a celeridade são essenciais,
a IA desempenha um papel significativo, particularmente no que diz respeito aos títulos de
crédito.

Os títulos de crédito são instrumentos financeiros que representam obrigações de


pagamento e são frequentemente utilizados em transações comerciais. A execução desses
títulos envolve etapas complexas, incluindo notificações, intimações e cálculos de valores
devidos. A IA pode otimizar esse processo de várias maneiras, principalmente por poder ser
empregada na análise de documentos.

Com algoritmos de processamento de linguagem natural (PLN), ela pode extrair


informações relevantes de contratos e títulos de crédito, identificando cláusulas e datas de
vencimento. Isso economiza tempo e reduz erros humanos.

Ademais, a IA pode auxiliar na identificação de devedores e seus bens. Bancos de


dados públicos podem ser cruzados com informações dos títulos, facilitando a localização de
ativos para penhora. Isso torna o processo de execução mais eficaz e transparente. A IA
também pode ser valiosa na previsão de resultados. Algoritmos de machine learning podem
analisar casos anteriores e jurisprudência, ajudando os advogados a avaliar as chances de
sucesso e as estratégias mais adequadas. Isso permite uma tomada de decisão mais
informada.
Porém, é importante reconhecer que o uso da IA na execução civil de títulos de
crédito também levanta questões éticas e legais. A privacidade dos indivíduos deve ser
protegida, e o uso de algoritmos deve ser transparente e regulamentado para evitar
discriminação.

Não obstante, a formação e a capacitação dos profissionais jurídicos são cruciais para
a adoção bem-sucedida da IA. Advogados, defensores públicos, promotores, procuradores,
magistrados e servidores devem entender como a tecnologia funciona e como usá-la de
maneira ética e eficaz.

Em conclusão, a inteligência artificial está revolucionando a execução civil de títulos


de crédito, tornando-a mais eficiente e precisa. Com exemplos como o sistema Athos e o
SISBAJUD, a IA está se consolidando como uma ferramenta valiosa no sistema judiciário,
impulsionando a administração da justiça e garantindo a efetivação dos direitos dos credores.
No entanto, é necessário um equilíbrio entre os benefícios da IA e as preocupações éticas e
legais associadas a seu uso. Com a regulamentação adequada, a IA pode ser uma ferramenta
poderosa para aprimorar a administração da justiça e garantir a efetivação dos direitos dos
credores e um sistema de justiça democrático, célere, moderno e transparente.

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