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Teologia Biblica Da Missao Origem e Abordagem
Teologia Biblica Da Missao Origem e Abordagem
William L. Lane
1. Introdução
Neste texto queremos refletir sobre a origem da disciplina de Teologia
Bíblica da Missão, particularmente, o contexto de crise em que se achava a obra
missionária em meados do século 20, como é constatado por vários autores, e
observar a proposta de diversos autores para um retorno às Escrituras como fonte
de fundamentação da missão. Depois, queremos apontar alguns caminhos para o
desenvolvimento de uma teologia que não se preocupe exclusivamente com a
fundamentação da missão, mas que busque encontrar o propósito bíblico da
missão.
Quando Hermann Bavinck publicou a sua obra sobre a ciência de missões
em 1954, a obra missionária e o estudo da missiologia passavam por severas
críticas sobre sua razão de ser e isso fez com que teólogos buscassem defender a
importância do estudo dessa ciência e justificar a sua existência a partir de uma
adequada fundamentação teológica. Na sua introdução ele retrata a crise da
época e afirma:
É verdade que as missões se encontram nesse momento em uma grave crise [...]
De fato, provavelmente, hoje estamos mais conscientes, do que gerações
passadas, que problemas teóricos relacionados a princípios que só podem ser
respondidos pelas Escrituras, estão por trás de inúmeros problemas práticos que
afligem a igreja. Tato, intuição e uma clara apreciação às dificuldades envolvidas
são importantes, mas estes não nos apontam para soluções. A palavra final e
decisiva deve ser dita pelas Escrituras (1960:xv. Tradução nossa).
Leslie Newbigin, em 1958, como parte do debate sobre a integração do
Concílio Missionário Internacional com o Concílio Mundial de Igrejas, inicia a
discussão apresentando a situação corrente das missões cristãs. Ele reconhece
também que o movimento missionário de então passava por uma “situação
Origem da disciplina - 2
1
A palestra foi publicada em L. NEWBIGIN. One Body, One Gospel, One World. London: International
Missionary Council, 1958.
2
O grifo é do autor do artigo. A citação tem nota de rodapé, mas a edição consultada não traz as referências
bibliográficas.
nações e religiões não cristãs, mas Hahn vê essa crise de uma maneira positiva,
pois entende que é um meio usado por Deus para fazer a igreja consciente dos
problemas e diz:
As grandes mudanças no mundo não cristão, não criaram estas crises, mas
tornaram o fato mais evidente. A ascendência do nacionalismo em países
aparentemente ocupados por Missões, a revitalização das mais antigas religiões
orientais e africanas, o desafio provocador e militante do materialismo dialético,
ateístico, representado não só pelo Marxismo mas também pelo materialismo e
secularismo do oeste, tudo isso tem sido usado pela providência de Deus para
fazer o Cristianismo cônscio de sua crise teológica inerente. Tudo isso tem servido
para o impelir a buscar seus próprios recursos e postulados teológicos, resultando
numa volta à teologia bíblica (1963, p. 75. Grifo nosso).
Percebemos também que Hahn aponta para um retorno à teologia bíblica
e mais, defende que “o movimento missionário, ao examinar suas próprias raízes,
descobre que tem a sua fonte no Deus Trino” (1963, p. 75). Assim, faz coro com
outros teólogos que defenderam que o motivo e justificativa para as missões era o
próprio Deus.
Semelhantemente Johannes Blauw constata uma crise no movimento
missionário nas décadas de 1950 e 1960 e diz:
O caráter problemático do movimento missionário, iniciado há cerca de dois
séculos e meio, tem levado a uma pergunta sempre mais insistente sobre o porque
das missões. O que está em questão não é só o método das missões, mas o seu
próprio direito de existir. Aqueles que vêem o movimento missionário dos últimos
poucos séculos apenas como fenômeno historicamente distinto, não encontram
dificuldade alguma em colocar as missões entre as grandes instituições que, como
qualquer outro complexo histórico específico, já tiveram o seu tempo, uma vez que
irão desaparecer natural e gradualmente por si. Pois o que é velho e obsoleto está
3
desaparecendo (1966, p. 9).
3
A obra de Blauw foi originalmente publicada em 1962.
‘Deus que envia’ e que ‘está em movimento,’ e a Jesus, a respeito de quem o Novo
Testamento diz que é o ‘enviado do Pai’. Esse Deus fala a nós através da Bíblia
(1978, p. 89. Tradução nossa).
Diante da crise do movimento missionário da primeira metade do século
passado, não apenas Bavinck, Blauw e Verkuyl, mas também Vicedom Anderson,
Hahn apontam para o mesmo caminho: a missão é um mandato divino constatado
nas Escrituras. Blauw afirma: “Todavia, quando as missões não são consideradas
como fenômeno histórico, mas como comissão divina, a questão de uma base
bíblica e teológica da missão passa a ser importante.” (1966, p. 9).
Pode-se supor que a preocupação com a base bíblica da missão ou das
missões é uma tarefa recente no estudo de missões e que é fruto de uma luta
para defender as missões em uma época em que a igreja estava se voltando a
outras questões e o movimento missionário dos séculos 19 a 20 estava se
enfraquecendo e, consequentemente, sendo visto como um movimento superado
historicamente.
Isso pode ser também confirmado na observação de Bavinck à obra de
Gisbertus Voetius (1588-1676), um teólogo reformado. Bavinck se surpreende
com a ausência de uma fundamentação bíblica da missão. Ele diz: “É
impressionante que Voetius não está preocupado com a fundamentação bíblica de
missões. Esta questão não era tão importante em sua época” (1960, p. 6.
Tradução nossa).
Isso não significa que a questão não era tratada teologicamente. Bosch é
da opinião que Voetius “foi o primeiro protestante a desenvolver uma ampla
‘teologia de missão’” e que ele defendia que “a base da missão era
primordialmente teológica – emanando do próprio âmago divino.” Bosch diz ainda
que Voetius é provavelmente “um dos primeiros expoentes daquilo que hoje se
conhece como missio Dei” (2002, p. 313-314).
Portanto, fica evidente que o campo de estudo da teologia bíblica da
missão como se denomina hoje é fruto de uma preocupação recente para provar
que a missão da igreja e sua obra missionária no mundo não são resultados de
empreendimentos eclesiásticos colonialistas, mas vem da própria vontade de
Deus.
4
Inclusive suas divisões, a teologia do Antigo Testamento e a teologia do Novo Testamento.
5
Uma síntese da questão é a introdução da obra de EICHRODT. (1961, p. 25s.) Apesar de publicada
originalmente há mais de setenta anos na Alemanha, sua obra é referência e passa a ter um valor maior para o
estudante de língua portuguesa uma vez que foi publicada recentemente no Brasil. A edição aqui consultada é
da língua inglesa.
6
BAVINCK justifica o uso do termo “ciência de missões” para enfatizar a preocupação com “cada aspecto
das missões” (p. xvii).
7
O termo da tradução inglesa é “diaconological.”
8
VERKUYL fala figuradamente de “conteúdo, largura e profundidade.” (1978, p. 2)
9
VERKUYL usa essa expressão para evitar a noção de uma disciplina no currículo teológico. Posteriormente,
ele analisa como e onde a missiologia conquistou espaço no currículo teológico de faculdades e seminários.
(1960, p. 11)
10
A expressão motivo é usada como termo técnico, portanto, na presente obra estará em itálico cada vez que
for usada neste sentido.
11
Alguns capítulos da obra de CARRIKER já haviam sido publicados na década de 1980 e a obra de
HEDLUND é iniciada em 1974 e em 1985 é impressa pela primeira vez na Índia.
12
Ambas as obras estão traduzidas para o português. Mas o original inglês passou por revisão e acréscimo. A
edição da teologia do Antigo Testamento citada aqui é a revisada.
13
EICHRODT, no prefácio da primeira edição de sua teologia do Antigo Testamento (publicada
originalmente em 1933), manifesta o desafio de se tratar do assunto e expressa a consciência de se estar
entrando em caminho não comumente trilhando pela comunidade acadêmica (1961, p. 11).
14
O campo da teologia bíblica foi desdobrada em dois campos, a teologia do Antigo Testamento e teologia do
Novo Testamento. Cada um desses campos evoluiu com critérios e metodologias próprias ao ponto de se ter
chegado a uma indefinição da relação entre os testamentos. Há inclusive quem entenda que não é possível
falar de teologia bíblica, mas separadamente da teologia do AT e do NT (cf. HASEL, 1978 e 1991).
15
Para citar algumas obras traduzidas para o português, sobre a teologia do Antigo Testamento
WESTERMANN, 1987; ROBERTSON, 1997; KAISER, Jr, 1980; WRIGHT, 1967; VON RAD, 1973;
FOHRER, 1982. Sobre a teologia do Novo Testamento, SCHELKLE, 1977; JEREMIAS, 1984.
16
CARRIKER em sua obra mostra sua preocupação, ocasionalmente, com a intenção ou propósito de um
referido relato (cf. 1992, p. 18, n. 2).
1. Fundamentação
Neste texto pretendemos apresentar a abordagem metodológica para a
investigação bíblica. O argumento básico é que a forma canônica bíblica denuncia
a intencionalidade teológica.
O objeto principal de análise é o próprio texto bíblico através de uma
abordagem sincrônica do texto. Procura-se resgatar as afirmações teológicas no
nível do texto e não as que supostamente se encontram nas tradições, fontes ou
níveis redacionais anteriores à fixação do texto.
Essa leitura se fundamenta em dois eixos principais: a crítica ou análise
canônica e a crítica literária, também chamada de nova crítica literária. Sem
pretender discutir as várias escolas dentro de cada uma das abordagens, esta
seção expõe a metodologia de leitura e interpretação aplicada ao curso de
teologia bíblica.
17
Cf. CHILDS, 1979, p. 30-45; OLLENBURGER, 1992, p. 3s.; BRUEGGEMANN, 1997, p. 43-60; HASEL,
1978, p. 13-71; HASEL, 1991, p. 10-27; KNIERIM, 1984, p. 25-57.
Questões metodológicas- 17
18
CHILDS publicou uma introdução ao Antigo Testamento como Escritura (1979), logo seguiu-se a
introdução do Novo Testamento como cânon (1984) depois a teologia do Antigo Testamento em um contexto
canônico (1985).
19
REYES sintetiza e avalia habilmente a abordagem canônica de CHILDS e outros autores (1996, p. 232s).
20
Uma avaliação dessa abordagem se encontra em REYS (1996, p. 225-242).
21
Uma introdução a essa questão se encontra em POWELL (1990, p. 11-21).
22
O modelo é proposto por Roman JAKOBSON, (cf. POWELL, 1990, p. 7-9).
23
Leitwort pode ser descrito como palavra-guia. A expressão comumente utilizada em português é palavra-
chave.
24
Frequentemente, adota-se na literatura técnica a expressão alemã Leitmotiv, o motivo-chave ou motivo-
guia.
1.4. Síntese
Tanto Carriker (1992, p. 16) como Hedlund (1991, p. 23) têm observado a
centralidade do ser humano na criação. Carriker destaca a estrutura paralela dos
seis dias da criação na qual se observa que nos primeiros três dias Deus criou os
“reinos” ou ambientes e nos últimos três criou os “reis” ou as criaturas que
ocupariam os respectivos ambientes (1992, p. 17).
Deve-se acrescentar a esse esquema paralelo o fato de que nos primeiros
três dias da criação Deus cria, faz separação e dá nome aos elementos criados
(Gn 1.5; 8; 10). O conceito de ‘dar o nome’ a algo denota domínio. 25
Curiosamente, o conceito não se repete nos últimos três dias. Contudo, o motivo
do domínio está presente, porém, tendo a criatura como sujeito do domínio. Desse
modo, no quarto dia os luzeiros são estabelecidos com o propósito de ‘governar’ o
dia e a noite. No sexto dia, o ser humano é criado para ter o ‘domínio’ sobre os
animais. Os termos são distintos, mas ambos conceitos sugerem o motivo do
governo.
Há de se observar que o domínio do sol e da lua está sobre o dia e a
noite, mas o domínio do ser humano é sobre as obras criadas no terceiro, quinto e
sexto dia (a terra e vegetação, peixes e aves e animais).
25
A ideia está relacionada à semântica da raiz hebraica qará (cf. JENNI, WESTERMANN, s. v. arq, vol. 3,
1997, p. 1162, e HARRIS, ARCHER, WALTKE, s. v. arq, 1998, p. 1364). Em Isaías 63.19 há um
paralelismo entre “governar” (lvm) e “dar nome” (arq) que comprova a ligação semântica dessas palavras:
“Somos teus desde a antiguidade, mas aqueles tu não governaste; eles não foram chamados pelo teu nome”
(NVI).
26
Em artigo publicado, eu analiso com detalhe o conteúdo de Gn 1.28 e sua relação com a missão (LANE,
2003, p. 22-41).
comandada por Deus. Deus usa a própria ordem criada por ele para gerar outros
elementos.
Dia Atos de Deus Dia
1o Disse Deus Disse Deus 4o
Haja luz
Haja luzeiros
e houve luz
para separarem
Viu Deus
para serem sinais
Separou
para iluminar a terra
Chamou dia e noite Fez Deus os dois grandes
Houve tarde e manhã
luzeiros
para governar o dia e a noite
Fez também as estrelas
Os colocou no firmamento
Viu Deus
Houve tarde e manhã
2o Disse Deus Disse Deus 5o
Haja firmamento Povoem-se as águas
Fez e separou Voem as aves
Assim se fez Criou Deus os animais marinhos...
Chamou Viu Deus
Houve tarde e manhã
Abençoou
Sede fecundos, multiplicai, enchei as
águas, multipliquem as aves
Houve tarde e manhã
3o Disse Deus Disse Deus 6o
Ajuntem-se as águas produza a terra seres viventes
Apareça a porção seca Fez Deus os animais domésticos...
Assim se fez Viu Deus
Chamou
Viu
duas vezes que o próprio Deus “fez” os grandes luzeiros e “fez” as estrelas. No
quinto dia, Deus diz “povoem as águas de enxames de seres viventes; e voem as
aves sobre a terra, sob o firmamento dos céus” (Gn 1.20. RA). Em seguida, se
registra que Deus “criou...os grandes animais marinhos e todos os seres
viventes...e todas as aves.” (Gn 1.21. RA). No sexto dia, o mesmo acontece. Deus
diz: “Produza a terra seres viventes...animais domésticos, répteis e animais
selváticos...” (Gn 1.24. RA). Ainda que se registre que “assim se fez”, registra-se
também que “fez Deus os animais selváticos...animais domésticos...e todos os
répteis da terra...” (Gn 1.25. RA). Ainda no sexto dia, Deus diz “façamos o homem
à nossa imagem...” e repete três vezes o verbo “criou” (Gn 1.26, 27), verbo usado
anteriormente, apenas em Gênesis 1.1 e 1.21.
Essa análise sugere que mesmo quando Deus ordena um elemento da
natureza a “produzir” ou “povoar” ele mesmo é considerado o sujeito da criação e
o responsável por ter feito aquelas obras. Com respeito ao ser humano, não há
registro de que “assim se fez” ou de que Deus tenha tornado o homem fecundo,
multiplicado e o espalhado pela terra. Isso se cumprirá no decorrer do relato da
vida humana e haverá menção específica desses verbos em Êxodo 1.7.
A centralidade de Deus se confere também no capítulo dois quando Deus
forma o homem do pó da terra e assopra nele o fôlego da vida (Gn 2.7). Em
Gênesis 2.19 constata-se que Deus formou “da terra todos os animais do campo e
todas as aves do céu...” (NVI). Deus utiliza elementos criados por ele para gerar
outros elementos, entretanto, ele mesmo é o sujeito da criação.
A própria criação do ser humano sugere a centralidade de Deus uma vez
que o ser humano é criado à imagem de Deus. É comum se dar ênfase ao ser
humano como co-regente da criação por ter sido entregue a ele o domínio sobre a
ordem criada.27 Ainda que o ser humano de fato se distinga das demais criaturas
neste respeito, segundo Keil e Delitzsch, a semelhança do ser humano para com
Deus não está no domínio a ele entregue, pois este domínio é atribuído ao homem
27
MARTENS considera que um dos propósitos para a criação do ser humano era para que este tivesse
domínio sobre a natureza (1981, p. 25).
passos do Senhor Deus que andava pelo jardim quando soprava a brisa do dia,
esconderam-se da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim” (Gn
3.8).
Apesar do pecado humano, Deus ainda está no controle. As maldições
atestam a isso (Gn 3.15-19). Se na bênção dada ao ser humano em Gênesis 1.28
havia os motivos da descendência (“sede fecundos, multiplicai-vos”) e da terra
(“enchei a terra, sujeitai-a”), nas maldições esses motivos são retomados. O
domínio é substituído pela inimizade com a serpente (Gn 3.15), e a relação entre
seres humanos (homem e mulher) também se dá através de dominação (Gn 3.16).
A descendência é gerada em meio de dores (Gn 3.16), e a terra é amaldiçoada
por causa do homem (Gn 3.17).
No final desse relato, Deus determina:
Agora o homem se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Não se
deve, pois, permitir que ele tome também do fruto da árvore da vida e o coma, e
viva para sempre. Por isso o Senhor Deus o mandou embora do jardim do Éden
para cultivar o solo do qual fora tirado (Gn 3.22-23).
O ser humano é expulso da presença de Deus (do jardim do Éden) e
perde o acesso à vida (Gn 3.24). Agora, o ser humano não tem o privilégio e
acesso irrestrito à árvore da vida.
Os relatos da criação e da desobediência do ser humano se movem da
presença de Deus (Gn 1.1), criação, ordenanças e bênçãos, representação de
Deus na criação através do ser humano para a expulsão do ser humano da
presença de Deus.
O foco da criação é a presença de Deus e a expulsão do ser humano do
convívio e comunhão com Deus. A narrativa sobre Caim, segue o mesmo padrão
da de Adão: pecado (Gn 4.7), tentativa de esconder Gn (4.8), Deus pergunta
“onde está...?” (Gn 4.9), maldição (Gn 4.11, 12), expulsão da presença de Deus
(Gn 4.16).
O jardim representa a presença de Deus e a ordem por ele criada. O
pecado é punido com a expulsão do ser humano do convívio com Deus e do
acesso à vida.
28
Para uma exposição das questões de interpretação, estrutura e o simbolismo de Apocalipse, cf. BORING,
1989, p. 47-58.
29
HENDRIKSEN entende a expressão “árvore da vida” como um termo coletivo para designar “um bosque
inteiro” e se referir ao fato de que a cidade estaria repleta de árvores da vida (1982, p. 242).
Jardim Nova
do Éden Jerusalém
vida humana na terra
Deus Deus
Presente Presente
30
EICHRODT se refere a “teleologia que permeia toda a criação”, ou seja, o propósito de Deus na criação
(1967, p.109)
E defende ainda que “não pode haver uma missiologia saudável, bíblica e
evangélica, à parte de uma adequada teologia da criação” (ibid). Deste modo,
Stam procura valorizar a temática desde o início até o final da Bíblia e reconhecer
a sua importância para a compreensão da missão.
Na interpretação de Carlos Mesters, a descrição da criação e da vida no
jardim do Éden reflete um ideal desejado pela humanidade. O autor percebe a
unidade entre os capítulos iniciais de Gênesis, a vinda de Jesus e o Apocalipse
dentro de um plano de Deus:
Com a vinda de Jesus Cristo, o projeto de Deus tomou forma e o paraíso se
concretizou de fato na sua ressurreição. Por isso, São Paulo considera Jesus como
um “novo Adão” (cf. Rm 5.12-19), e São João, no Apocalipse, descreve o futuro
que nos aguarda com imagens tiradas do paraíso terrestre (cf. Ap 21.4; 22.2-3)
(1989, p. 30).
Não se pretende traçar o tema da presença de Deus como linha mestra ou
espinha dorsal, como um tema unificador, mas propõe-se que a revelação bíblica
deva ser compreendida a partir dessa perspectiva. A Bíblia é muito rica em temas,
afirmações a respeito de Deus e da humanidade, modos de linguagem e tipos de
literatura para ser reduzida a um tema central. Porém, há de se notar que a forma
canônica enfatiza a presença de Deus no início e no final e que esta serve de
parâmetro para o propósito da missão.
3. Conclusão
A importância da temática da presença ou glória de Deus para a definição
do propósito da missão já foi apontada por outros autores. Kuyper, por exemplo,
afirma:
Geralmente, ouvimos como resposta à pergunta, qual é o propósito de missões? A
conversão do pagão, a salvação de almas. Tudo isso é bonito e bom, mas é
impossível que isto seja o propósito final que dá à missão sua nobreza e vigor [...]
Para a glória de Deus, o Pai, esse é o propósito final da vinda de Jesus, o
propósito final da igreja e, portanto, também o propósito final de missões. Quando
a igreja se esquece disso, ela se distancia do verdadeiro fundamento (KUYPER,
2003, p. 244. Tradução nossa).
Blauw também destacou a importância da presença “ativa” de Deus entre
seu povo como aspecto essencial para o testemunho de Israel às nações. Ele
defendeu que,
A questão, em Israel e no mundo das nações não é a existência, mas a presença
de Deus. A presença ativa de Deus é o problema da história do mundo. [...] A