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Termografia - Civil - 0.1
Termografia - Civil - 0.1
Introdução
A ação da água tem um efeito significativo e O ensaio utiliza como princípio básico que todos
negativo com respeito à durabilidade das os objetos com temperatura acima do zero absoluto
edificações, pois pode causar danos ou (0 K) emitem radiação na faixa infravermelha do
desencadear grande parte das manifestações espectro eletromagnético. A radiação detectada de
patológicas tradicionais existentes. Defeitos uma maneira sem contato através de uma câmera
relacionados à infiltração de água nas edificações termográfica é transformada em sinais elétricos
podem causar problemas como transtornos na para depois originar uma imagem térmica,
relação entre construtor e usuário final e elevação conhecida também como termograma, em que
dos custos para as correções das falhas cada cor representa um intervalo de temperatura
(BERNHOEFT; MELHADO, 2009). Tanto a (BAGGATHIAPPAN et al., 2013; SILVA, 2012;
presença de umidade quanto as mudanças em seu GUCUNSKI et al., 2013). O ensaio pode ser
estado físico podem causar condições insalubres realizado passivamente, capturando a temperatura
para os usuários, resultantes do crescimento natural do elemento causada pelo ambiente (OH et
biológico e da degradação de materiais e al., 2013); outra forma é ativa, fornecendo calor
componentes de construção. Para um correto para aquecer o objeto e revelar defeitos,
diagnóstico é importante definir o tipo de umidade, denominada termografia ativa (REHMAN et al.,
que pode ser: de construção, ascensional, de 2016).
precipitação, de condensação, devido a fenômenos
Os mecanismos de transferência de calor são a
de higroscopicidade e devido a causas fortuitas
radiação, a condução e a convecção, os quais
(BARREIRA; ALMEIDA; DELGADO, 2016;
afetam o fluxo de calor através do material.
OLIVEIRA, 2013). Embora a radiação seja o parâmetro medido pela
A umidade representa um problema de difícil câmera termográfica, a condutividade térmica
solução e de grande frequência nas edificações. dentro do material e a convecção de calor em torno
Fatores como idade da edificação, clima, materiais, do objeto têm influência nos resultados (JIMENO,
práticas construtivas utilizadas e grau de controle 2011).
de qualidade durante sua execução influenciam o O ensaio tem seu uso consolidado na engenharia
quanto esse tipo de anomalia ocorre. A umidade
elétrica (LIZAK; KOLCUN, 2008; HUDA; TAIB,
pode se manifestar de várias formas, como
2013) e mecânica (KUTIN; ADAMOVIE, 2010;
manchas, mofo ou bolor, fissuras, entre outros
ZHAO et al., 2017), como em outras áreas
(JONOV; NASCIMENTO; PAULA E SILVA, (BAGAVATHIAPPAN et al., 2013); no entanto, o
2013). Muitas vezes a impermeabilização é ensaio é relativamente novo na construção civil,
indicada como principal contribuinte para as
especificamente na inspeção de obras civis
anomalias nas edificações relacionadas à umidade,
(REHMAN et al., 2016; FOX; GOODHEW;
que tem por função preservar a estrutura por meio
WILDE, 2016; O’GRADY; LECHOWSKA;
do entendimento das forças naturais e seus efeitos
HARTE, 2017), e sua aplicação específica na
durante o ciclo de vida; no entanto, as falhas no detecção de umidade é cada vez mais desenvolvida
projeto de impermeabilização e até mesmo uma (BARREIRA; ALMEIDA; DELGADO, 2016;
manutenção inadequada podem produzir esses
OLIVEIRA, 2013; LERMA; CABRELLES;
problemas (RIGHI, 2009; OTHMAN et al., 2015).
PORTALÉS, 2011; MELRINHO; MATIAS;
Normalmente a avaliação dos problemas FARIA, 2015; BARREIRA; ALMEIDA;
relacionados à umidade e de seu teor é realizada MOREIRA, 2017; EDIS; FLORES-COLEN;
por métodos destrutivos; no entanto, na área de BRITO, 2014).
diagnóstico de manifestações patológicas é
Apesar do avanço nas aplicações da termografia
priorizada a utilização de ferramentas não
infravermelha na detecção de manifestações
destrutivas devido ao inconveniente causado por
patológicas ocultas, a detecção de umidade ainda
técnicas destrutivas, principalmente nas pode ser um problema, pois muitas vezes a
construções habitadas (FREITAS; CARASEK; detecção é feita em áreas onde existem marcas
CASCUDO, 2014). A termografia infravermelha é
visíveis, quando a degradação do material é
um ensaio não destrutivo usado com esse
avançada, o que mostra um cenário não desejado;
propósito, pois não precisa contato direto com a
portanto, é importante identificar os focos de
estrutura, pode analisar áreas, e os resultados são propagação que estejam em fase embrionária e
em tempo real (AGGELIS et al., 2010; OH et al., prevenir futuras infiltrações para evitar reparos
2013; BAGAVATHIAPPAN et al., 2013), além de
custosos. O objetivo do presente trabalho é avaliar
haver minimização de riscos e de interferências na
a potencialidade do ensaio da termografia
vida dos usuários (BARREIRA; FREITAS, 2007).
infravermelha na detecção de umidade em áreas
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Figura 1 - Locais do ensaio de termografia infravermelha: (a) localização; (b) esquema do LIE; e (c)
esquema do LACC
Detecção de infiltração em áreas de edificações com termografia infravermelha: estudo de caso 331
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Em outra área da mesma parede (Figura 4a), sol na parte superior, o que cria maior contraste
observa-se uma fissura que não apresenta sinais de térmico, mas as paredes que estão sem contato
infiltração ou umidade, mas na imagem térmica solar direto pela superfície externa ou interna são
(Figura 4b) podem-se notar áreas com menor apenas aquecidas e esfriadas pelo ambiente, pelo
temperatura, o que indica infiltração em estágio mecanismo de convecção.
inicial e com possível causa na fissura; no entanto,
A parede 4 e o teto mostrado na Figura 8a,
a diferença da temperatura da parede sem umidade orientados a oeste, apresentavam uma clara
e da área afetada pela infiltração é mínima, 0,6 ºC mancha de umidade, proveniente da falha no
(SP2=25,8 ºC - SP1=25,2 ºC).
sistema de impermeabilização devido à chuva
Na parede 2 (Figura 5a), localizada na direção acumulada na laje. A imagem térmica (Figura 8b)
leste, pode-se detectar a presença de umidade confirma a presença da umidade na mesma área
quase imperceptível na inspeção visual. A causa da observada visualmente, o que mostra que, neste
infiltração é atribuída principalmente a falhas no caso, a infiltração não afeta outras áreas. É
sistema de impermeabilização. Apesar de os sinais importante perceber que a superfície externa da
de infiltração serem discretos, consegue-se parede analisada está com exposição solar durante
perceber uma infiltração generalizada na laje, no a tarde, no momento do ensaio, portanto é
termograma da Figura 5b. A parede apresenta aquecida na superfície exposta ao ambiente,
algumas áreas afetadas visualizadas como áreas transferindo esse calor para a superfície interna,
frias. A diferença de temperatura entre essas áreas mas sendo interrompida na área da infiltração
é de 1,2 ºC (SP3=28,1 ºC – SP1=26,9 ºC). devido à presença de água. Por isso, neste caso, a
diferença apresenta-se maior do que nas outras
Foi possível analisar também o teto desse setor.
Durante a inspeção visual não foi detectada paredes estudadas, mostrando valor de 5,8 ºC (SP3
nenhuma manifestação patológica, como pode ser – SP1), sendo as áreas afetadas claramente
identificadas e definidas no termograma.
visto na Figura 6a, mas durante o ensaio com a
câmera termográfica foi percebida uma área fria Pode-se notar que existem dois casos para a
(Figura 6b), o que revela a presença de umidade detecção de umidade nos tetos e paredes: o
nesse setor, que ainda não atingiu a superfície do primeiro quando a superfície externa não tem
teto da sala e apresentou diferença de 2,5 ºC (SP2 contato solar direto (Figura 9a), e o segundo
– SP1). quando está exposta à radiação solar (Figura 9b).
Observa-se que as diferenças de temperatura (ΔT)
A parede 3, localizada em direção sul, mostrada na
entre as áreas sem umidade e as afetadas pela
Figura 7a, apresentou evidência mínima de
umidade, sendo pouco visível na inspeção visual e infiltração apresentam valores mais altos no
segundo caso do que no primeiro, isto porque,
sem delimitação clara da área afetada, porém tinha
quando a radiação solar atinge a superfície externa,
uma mancha na pintura do teto. Na imagem
uma parte é refletida e outra absorvida. A radiação
térmica (Figura 7b) observam-se as áreas afetadas
absorvida é transferida através do objeto (teto ou
pela infiltração de água com temperaturas baixas,
mostrando maior área afetada na parede. No teto parede), aquecendo-o e, portanto, emitindo maior
percebem-se áreas frias com diferença próxima a 2 radiação do que sem presença solar. A área afetada
pela umidade apresenta menor temperatura devido
ºC (SP5 – SP4), e na parede, com diferença de 1,1
à presença da água e, portanto, emite menor
ºC (SP2 – SP1). Pode-se notar que a variação de
radiação.
temperatura é maior no teto, pois é aquecido pelo
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(a) Sem contato solar (b) Com contato solar na superfície externa
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Figura 11 - Parede 5
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A Figura 12a mostra uma área próxima à pia do temperatura ambiente, de forma a desenvolver
laboratório constituída de revestimento cerâmico, pequenas diferenças. Outro fator importante é a
em que, mediante uma simples inspeção visual, presença de revestimento cerâmico, que pode
não é detectado indício de infiltração. Porém, a impedir que a radiação emitida pela parede seja
imagem térmica (Figura 12b) permite observar captada de forma direta pela câmera. A radiação
toda a área afetada pela infiltração proveniente da emitida pela superfície da parede é transferida para
parede externa. Nesse caso, a diferença estava a placa, o que afeta a temperatura desta. A câmera
limitada a valores de 0,6 ºC (SP2 – SP3) e 0,4 ºC capta a radiação emitida pela placa e,
(SP2 – SP1). Isso pode ser devido ao fato de a consequentemente, os diferenciais de temperatura,
superfície externa da parede estar localizada em que, neste caso, são menores se comparados com
uma região que não recebe radiação solar em uma parede sem revestimento cerâmico (Figura
nenhuma hora do dia, sendo apenas aquecida pela 13).
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