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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DECIÊNCIAS DA SAÚDE


APS - Atividade Prática em Saúde da Família

NEILSON NERY SILVA

“MAIS UM CASO DA FAMÍLIA BRASILEIRA”

Santo Antônio de Jesus – BA


2023
NEILSON NERY SILVA

“MAIS UM CASO DA FAMÍLIA BRASILEIRA”

Trabalho solicitado como forma de avaliação


parcial no componente curricular APS I –
Atividade Prática em Saúde da Família I -
“MAIS UM CASO DA FAMÍLIA
BRASILEIRA”, no curso de Medicina, da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
sob orientação da prof. Dr. Paulo Roberto Lima
Falcão do Vale.
“MAIS UM CASO DA FAMÍLIA BRASILEIRA”

Durante a reunião de equipe a ACS Janúbia solicita uma visita domiciliária para a senhora Rose, descrevendo a
seguinte situação: “Olha doutora, Rose é hipertensa, assim como o seu marido que é hipertenso e diabético. Todos
dois dizem que comem pouco sal, mas eu duvido. Cheguei e perguntei como eles tomavam os remédios, ela saiu de lá
do quarto com um saco cheio de medicamentos e não soube explicar muito bem como é o uso. O marido dela é
aposentado, mas não sai de casa porque ele tem incontinência urinária e usa fraldas, quando eu cheguei lá, a casa só
“fedia” a urina. Eles moram com uma neta, o marido dela e o filho deles de dois anos. A neta só arruma a casa e
trabalha fora o dia todo. O marido da neta faz uso de álcool. Lá tem uma árvore, na frente de casa, feita só com a
garrafa do corote (cachaça) e a suspeita é que o marido de Rose também bebe escondido com esse rapaz. Boa parte
do dia Rose passa cuidando do bisneto, ela se mostrou muito preocupada com esse consumo de álcool e também com
a violência no bairro, porque ela já teve um filho morto pelo tráfico, outro está foragido do tráfico e esse marido da
neta já foi do tráfico, hoje só fica em casa porque também já foi jurado de morte. A senhora não acha que devíamos
fazer uma visita lá? Vamos planejar essa visita?
Nota: O caso acontece no município Curiópa de 200 mil habitantes.

OBJETIVOS
- Indicar o tipo de visita domiciliária necessária;
- Elaborar avaliação e plano do SOAP;
- Discutir o programa Melhor em Casa, suas modalidades (AD1, AD2 e AD3) e
equipes Emad e Emap credenciadas pelo município;
- Aplicar a escala de risco familiar de Coelho e Savassi.
RESPOSTAS

1. Tipo de visita domiciliária necessária:

Dadas as informações fornecidas, a situação da senhora Rose e de sua família parece


complexa e multifacetada, envolvendo problemas de saúde, incontinência urinária, uso
de álcool e questões de violência no bairro. Portanto, uma visita domiciliária mais
completa seria apropriada. Uma opção adequada poderia ser uma visita de Avaliação
Domiciliar 2 (AD2) do Programa Melhor em Casa, que abrange situações de maior
complexidade e necessidades de saúde mais acentuadas.

2. Avaliação e plano do SOAP:


a. Subjetivo (S): Os principais problemas identificados são hipertensão e diabetes em
Rose e seu marido, o uso excessivo de medicamentos não apropriado, incontinência
urinária, consumo de álcool, preocupações com a segurança no bairro e envolvimento
passado com o tráfico. A preocupação com a criança também é mencionada.P6demos
relacionar:
 A paciente Rose é hipertensa, assim como seu marido, que também é diabético.
 Ambos afirmam que têm uma dieta com baixo teor de sal, mas há dúvidas sobre a
precisão dessas afirmações.
 Rose tem dificuldades em explicar o uso de seus medicamentos.
 O marido de Rose é aposentado e tem incontinência urinária, o que leva a um forte
odor de urina na casa.
 Eles moram com uma neta, que trabalha fora o dia todo, e o marido da neta, que faz
uso de álcool.
 Existe uma árvore na frente da casa feita de garrafas de cachaça, levantando
suspeitas sobre o consumo de álcool de Rose e seu marido.
 Rose também expressou preocupação com o consumo de álcool e a violência no
bairro devido a experiências passadas relacionadas ao tráfico de drogas.

b. Objetivo (O): Para esta seção, a equipe de saúde precisa fazer uma avaliação
detalhada das condições de saúde de Rose e seu marido, das condições de higiene e
saneamento do lar e, se possível, identificar possíveis riscos à segurança, então temos
que:
 Realizar o exame físico, incluindo a verificação da pressão arterial de Rose e seu
marido.
 Registrar resultados de exames de laboratório, se disponíveis.
 Registrar qualquer achado relevante, como condições de higiene na casa, condições
de saúde, sinais de consumo de álcool e outras informações relevantes observadas
durante a visita domiciliária.

c. Avaliação (A): Uma avaliação abrangente da situação da senhora Rose e de sua


família deve ser feita. É importante identificar riscos, necessidades e prioridades de
saúde, incluindo intervenções relacionadas ao controle da hipertensão e diabetes, a
gestão do uso de medicamentos, a incontinência urinária, o uso de álcool e as
preocupações de segurança. Relacionando então:
 Diagnóstico: Hipertensão arterial em Rose e seu marido.
 Hipótese de consumo de álcool por Rose e seu marido com base nas observações.
 Incontinência urinária no marido de Rose.
 Possíveis problemas de saúde mental, considerando a história de envolvimento no
tráfico de drogas e experiências anteriores de violência na família.
 Condições precárias de saneamento na casa.

d. Plano (P): Elaborar um plano de ação. Isso pode incluir ajustes no tratamento da
hipertensão e do diabetes, educação sobre o uso adequado de medicamentos,
encaminhamentos para assistência especializada em urologia, aconselhamento sobre o
uso de álcool, encaminhamento para serviços de apoio à família e estratégias de
segurança. Para isso devemos traçar o plano de tratamento ou gerenciamento com base
na avaliação, entao:
 Encaminhar para avaliação da incontinência urinária do marido de Rose.
 Avaliação mais aprofundada do consumo de álcool e saúde mental de Rose e seu
marido.
 Promover a educação continuada sobre a importância do controle da hipertensão,
incluindo orientações dietéticas e uso correto de medicamentos.
 Avaliar as condições de saneamento na casa e intervenções apropriadas.
 Acompanhar o regular da equipe de saúde para monitorar o progresso e fazer ajustes
no plano conforme necessário.

3. Programa Melhor em Casa:

O Programa Melhor em Casa envolve atenção domiciliar para pessoas que apresentam
condições de saúde que demandam cuidados mais complexos. As modalidades AD1,
AD2 e AD3 representam diferentes níveis de complexidade e intensidade de cuidados
em casa, sendo que a AD2 é mais indicada para situações complexas, como a de Rose.
As equipes EMAD (Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar) e EMAP (Equipe
Multiprofissional de Apoio) são fundamentais para o programa. A EMAD é responsável
pela assistência direta ao paciente, enquanto a EMAP oferece suporte às equipes EMAD
e assistência nas situações de maior complexidade, é uma iniciativa do Sistema Único
de Saúde (SUS) que visa levar os cuidados de saúde para o ambiente domiciliar de
pacientes que necessitam de assistência contínua, mas que não precisam estar
hospitalizados. O programa tem como objetivo promover a desospitalização e
proporcionar atendimento de qualidade no conforto do lar, garantindo a continuidade
dos cuidados e o acompanhamento da saúde do paciente.
As modalidades do programa "Melhor em Casa" são:

Atenção Domiciliar 1 (AD1): Esta modalidade é destinada a pacientes que têm


problemas de saúde controlados ou compensados, mas enfrentam dificuldades físicas de
locomoção até uma unidade de saúde. Eles necessitam de cuidados de menor
complexidade, incluindo a recuperação nutricional. As visitas são realizadas com menor
frequência, geralmente uma vez por mês.

Atenção Domiciliar 2 (AD2): Esta modalidade é direcionada a pacientes que têm


problemas de saúde e dificuldades de locomoção, bem como uma necessidade maior de
cuidados, recursos de saúde e acompanhamento contínuo até que seu quadro esteja
estabilizado. As visitas são mais frequentes, geralmente uma vez por semana.
Atenção Domiciliar 3 (AD3): Essa modalidade é voltada para pacientes que se
enquadram no perfil AD2, mas também fazem uso de equipamentos ou procedimentos
especiais, como ventilação mecânica, paracentese de repetição, nutrição parenteral e
transfusão sanguínea. Esses pacientes requerem cuidados mais complexos e frequentes.
As equipes responsáveis pela implementação do programa "Melhor em Casa" incluem a

Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar (EMAD): Essa equipe é composta


por profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas
ocupacionais, assistentes sociais e técnicos de enfermagem, que prestam cuidados
diretos ao paciente no ambiente domiciliar. A EMAD é responsável por realizar
avaliações clínicas, implementar o plano de cuidados e fornecer tratamentos adequados.

Equipe de Apoio (EMAP): A EMAP é uma equipe de apoio à EMAD e oferece


suporte a essa equipe e às equipes de atenção básica. Ela é composta por profissionais
de diferentes especialidades, como farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos,
odontólogos, entre outros. A EMAP auxilia no gerenciamento de medicamentos, no
fornecimento de informações específicas e em consultas especializadas quando
necessário.

O programa "Melhor em Casa" é fundamental para garantir que pacientes com


necessidades de saúde específicas possam receber atendimento de qualidade em casa,
onde se sentem mais confortáveis, reduzindo assim a demanda por leitos hospitalares e
melhorando a qualidade de vida desses pacientes. Ele promove a continuidade dos
cuidados de saúde e é uma alternativa importante para a gestão de casos crônicos e
complexos.

4. Escala de risco familiar de Coelho e Savassi:

Para aplicar a escala de risco familiar de Coelho e Savassi com base nos dados
fornecidos, atribui escores às sentinelas de risco de acordo com a situação da senhora
Rose e de sua família.
Acamado: 3 (Rose, devido à incontinência urinária do marido)
Deficiência Física: 3 (O marido, devido à incontinência urinária e limitação de
mobilidade)
Deficiência Mental: 0 (Nenhuma informação foi fornecida sobre deficiência mental)
Baixas Condições de Saneamento: 3 (Devido ao forte odor de urina na casa)
Desnutrição (Grave): 0 (Nenhuma informação foi fornecida sobre desnutrição)
Drogadição: 2 (Devido ao consumo de álcool pelo marido da neta e a suspeita de
consumo de álcool por Rose)
Desemprego: 0 (Nenhuma informação foi fornecida sobre desemprego)
Analfabetismo: 0 (Nenhuma informação foi fornecida sobre analfabetismo)
Menor de 06 Meses: 0 (Nenhuma informação foi fornecida sobre lactentes)
Maior 70 anos: 2 (Rose e possivelmente o marido)
HAS (Hipertensão Arterial Sistêmica): 1 (Rose e o marido são hipertensos)
Diabetes Mellitus: 1 (O marido é diabético)
Relação Morador/Cômodo: 3 (Vários moradores em uma casa aparentemente
pequena)

Temos a soma dos escores das sentinelas de risco:


3 (Acamado) + 3 (Deficiência Física) + 3 (Baixas Condições de Saneamento) + 2
(Drogadição) + 2 (Maior 70 anos) + 1 (HAS) + 1 (Diabetes Mellitus) + 3 (Relação
Morador/Cômodo) = 18

Com um escore total de 18, a família de Rose se enquadra na categoria de "Risco


Máximo (R3)" de acordo com a escala de risco familiar de Coelho e Savassi.
Isso sugere que a família enfrenta um alto grau de vulnerabilidade e deve ser priorizada
para intervenção e acompanhamento pelas equipes de saúde. Portanto, uma visita
domiciliária detalhada e a implementação de medidas de apoio são altamente
recomendadas.
Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de


outubro de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 05 out., 1988. Disponível em
URL:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui
%C3%A7ao.htm. ,> Acesso em: 19 out; 2023

CUIDAR EM CASA -
<https://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2018/04/Cuidar_Em_Casa_Cartilh
a.pdf> Acesso em: 19 out; 2023

DEMARZO, M. M. P., Oliveira, C. A., & Gonçalves, D. A. (s/d). Prática clínica na


Estratégia Saúde da Família – organização e registro. UNA – SUS-UNIFESP,
Disponível em:
< http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/2/unidades_conteudos/
unidade15m/unidade15m.pdf,> Acesso em: 19 out; 2023

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