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As Diversas Fases da Anamnese

Abrangente
História Pessoal e Social
Objectivos de Aprendizagem
Até ao fim da aula os alunos devem ser
capazes de:
 Explicar os dados relevantes do perfil
psicossocial:
1. Alimentação;
2. Habitação (aceso à água potável,
saneamento, número de conviventes,
combustível usado para cozinhar e
localização);
3. Ocupação actual e anterior;
4. Actividades físicas;
5.Vícios (álcool, tabaco, tóxicos);
6. Grau de escolaridade;

7. Situação económica;
8. Viagens recentes;

9. Uso de medicina alternativa.


História pessoal e social

A história pessoal e social consiste em captar a


personalidade e os interesses do paciente, seu
ambiente de vida e hábitos, as fontes de apoio,
a forma de como lida com problemas, e seus
pontos fortes e fracos.
É importante que o clínico explique ao paciente
o motivo de todas essas perguntas, sobretudo
quando vai investigar sobre problemas
familiares, hábitos de álcool ou drogas. Os
hábitos como as condições psicossociais do
paciente podem influenciar o seu estado de
saúde positivamente ou negativamente
• Os tópicos a serem investigados incluem 2
grupos:
Condições socioeconómicas e culturais
• Ocupação actual e anterior;
• Grau de escolaridade;
• Habitação;
• Situação socioeconómica;
• Condições culturais (incluindo crenças religiosas
e espirituais);
• Vida conjugal, familiar e relacionamento com
amigos;
• Fontes de estresse.
Estilo de vida e hábitos
• Alimentação;
• Actividades físicas;

• Hábitos: álcool, tabagismo, tóxicos;

• Ritmo do sono;

• Viagens recentes;
• Uso de medicina alternativa
CONDIÇÕES SOCIOECONÓMICAS E
CULTURAIS DO PACIENTE
1. Ocupação actual e anterior

É o tipo de trabalho que o paciente está


fazendo e fez nos últimos anos, incluindo
lugar/província/país. Isso chama-se história
ocupacional. Anotar se o paciente esta
desempregado.
Conhecer a natureza do trabalho desempenhado
é importante por causa das seguintes razões:
• Pode estar relacionado à patologia actual ou
pregressa do paciente:
 Factores desencadeantes no ambiente do
trabalho (exemplo: fumo, poeiras, pólen podem
desencadear um ataque de asma em paciente
que sofre de asma);
 Factores patogenéticos (exemplo: trabalhar
como clínico numa enfermaria de TB pode ser
um risco de ser infectado pelo Myc Tuberculose).
• Pode ter uma contínua exposição a eventuais
substâncias tóxicas. Exemplo: fábrica de
cimento, minas de carvão.
• Pode aumentar o risco para o paciente de ficar
doente em determinadas situações (se o
paciente trabalha como pedreiro e sofre de
vertigens, esta condição põe em risco a sua
saúde).
• O paciente pode ter risco de transmitir a
doença a pessoas no ambiente de trabalho:
por exemplo um professor com TB pode
transmiti-la aos seus alunos.
• Está relacionado ao salário e portanto a
situação economica do paciente, a
possibilidade de fazer seguimento.
2. Grau de escolaridade.

O grau de escolaridade corresponde ao nível


de educação formal que o paciente recebeu; o
clínico deve também investigar se o paciente é
analfabeto ou alfabetizado e se sabe
reconhecer letras e/ou números.
O grau de escolaridade pode ser:
• Primário;
• Secundário;
• Superior: graduação e pós-graduação;
• Nenhum.
Conhecer todas essas informações é importante
para:
• Pensar como o paciente pode perceber o
processo saúde-doença e decidir como explicar
uma condição patológica, o prognóstico e seu
tratamento.
3. Habitação
É importante ter uma ideia do tipo de
habitação em que o paciente vive, incluindo:
• O material com qual a casa é construída:
caniço, tijolos, cimento, chapas.
• O número de quartos e de pessoas que vivem
na casa.
• O aprovisionamento da água: água canalizada,
do poço do quintal, do poço a 100metros;
água adquirida pelo vizinho; se há habito de
ferver, filtrar, ou usar desinfectantes químicos.
• A condição do saneamento: se há latrinas, se
estão a serem usadas.
• Se tem animais em casa ou no quintal.

• O lugar onde está construída, o meio ecológico


do qual faz parte: zona rural ou urbana.
Todas essas condições podem proporcionar o
surgimento de várias doenças e portanto essas
informações podem ajudar em pensar em
patologias relacionadas ao tipo de habitação e
características vistas acima. Exemplo: a falta
de latrinas pode estar associada a casos de
diarreia ou casas de caniço que facilitem o
acúmulo de poeira podem estar relacionadas
com alergias do paciente.
4. Situação socioeconómica
A situação socioeconómica inclui o
rendimento mensal, se há dependência
económica de familiares ou instituição. Isso
pode influenciar na capacidade do paciente de
comprar comida, medicamentos, de apanhar
chapa e vir às consultas seguintes, ou de ficar
internado
5. Condições culturais.
As condições culturais abrangem:

• A religiosidade;
• As tradições;

• As crenças;

• Os mitos;

• A medicina tradicional;
• Os comportamentos;
• Os hábitos alimentares.

Uma avaliação das condições culturais é


importante para entender como o paciente
pode perceber o processo saúde-doença, o
que irá ajudar o clínico a melhor explicar e
acompanhar a doença.
6. Vida conjugal e familiar.
São informações sobre a vida íntima e as
relações familiares do paciente.
É importante investigar sobre o tipo de
relacionamento entre o paciente e o cônjuge
(perguntando a orientação hetero ou
homossexual), os filhos, os irmãos, os
conviventes mais próximos:
• Se há pequenos desentendimentos, como
esses desentendimentos afectam a saúde
mental do paciente;
• O relacionamento com os membros da
comunidade;

• A vida sexual com o cônjuge, comportamentos


em risco.

Os relacionamentos dentro da família podem ser


de grande ajuda para apoiar o paciente caso haja
uma patologia importante, crónica ou debilitante
7. Fonte de estresse
É importante perguntar ao paciente se nesse
momento ou durante o ano passado, ele viveu
situações que lhe causaram estresse.
O paciente pode nomear algumas situações bem
claras como pode não reconhecer que
determinadas situações podem ser causas de
estresse:
• Um falecimento de um familiar;
• A perda do emprego;
• A mudança de emprego;
• Uma viagem longa
ESTILO DE VIDA E HABITOS DO PACIENTE
1. Alimentação
Os hábitos alimentares do paciente incluem o
que o paciente come normalmente, ou seja:
• Tipo de alimentos;
• Quantidade;
• Frequência;
• Grau de tolerabilidade.
O clínico deve perguntar sobre qual é a comida
tipica que o paciente come durante o
matabicho, o almoço, o jantar; o que ele bebe,
se bebe refrescos, água, cerveja com a
comida, e/ou fora das horas da comida.
Isso chama-se anamnese alimentar ‘básica’ e
vai permitir ao clínico a fazer uma avaliação
qualitativa e quantitativa da dieta do paciente
de maneira de aconselhá-lo sobre uma dieta
equilibrada.
As expressões a serem utilizadas para
descrever a alimentação do paciente podem
ser:
• Alimentação vegetariana;
• Alimentação com alto teor de gorduras, ou de
carboidratos;
• Consumo de calorias acima das necessidades;
• Insuficiente consumo de proteínas;
• Reduzida ingestão de fruta e verduras;
• Dieta equilibrada.
2. Actividades físicas
As actividades fisicas a serem investigadas
incluem:
• Se o paciente pratica algum desporto,
incluindo actividade física ocasional e devida
ao trabalho (pedreiro, machamba) ou a rotina
do dia como caminhar uma longa distância
para apanhar chapa todos os dias.
• A frequência da prática e a intensidade.
3. Actividades físicas

As actividades físicas podem influenciar a saúde


do paciente em duas maneiras:

• Torná-lo mais saudável: por exemplo caminhar


em caso de diabetes, ou da obesidade.

• Prevenir algumas doenças: manter um peso


otimal, contribuir na prevenção de doenças
coronárias.
• Determinar algumas patologias: por exemplo o
trabalho na machamba pode determinar dor
de coluna e artrose.

• Agravar sintomas de patologias já existentes:


por exemplo pôr coisas pesadas em cima da
cabeça por longos períodos pode agravar uma
dor de coluna
4. Hábitos ou vícios: alcool, tabagismo,
tóxicos
Alguns hábitos são ocultados pelo paciente
e/ou pelos familiares. O clínico portanto deve
ter habilidade, descrição, perspicácia no
processo de recolha de informações,
sobretudo em caso de drogas ilícitas.
É importante investigar sobre uso de:
• Tabaco: o paciente normalmente relata esse
hábito, exceto quando tenha sido proibido de
fumar.
• Bebidas alcoolicas: o paciente pode minimizar
a quantidade ou omitir quando tenha sido
proibido de beber.
• Drogas e sua dependência (incapacidade de
parar de tomar): anabolizantes, anfetaminas,
sedativos.
• Drogas ilícitas: Marijuana ‘maconhas ou
suruma’, cocaina, heroina, inalantes como cola
de sapateiro
É importante anotar sobre:
• Tipo de substância que está sendo tomada;
• Quantidade;
• Frequência;
• Duração;
• Abstinência;
• Efeitos secundários ao hábito: o paciente pode
já ter tido sintomas relacionados.
Os efeitos nocivos que podem estar relacionados
com a queixa actual são:

•Tabaco: cancer do pulmão, afecções


broncopolmunares (asma, bronquite, enfisema,
bronquiectasias), afecções cardiovasculares
(insuficiência coronária, hipertensão arterial,
tromboembolia), disfunções sexuais masculinas,
baixo peso fetal.
• Álcool: efeitos deleterios sobre figado,
cérebro, nervos.
• Drogas ilícitas: podem levar à dependência;
cocaina pode levar a problema cardíacos;
heroina pode levar à infecção pelo HIV. Após
Após a recolha de informações, o clínico pode
avaliar e classificar o uso de bebidas álcoolicas
e o grau de dependência como a seguir:

• Abstemia: não usa nenhum tipo de bebida


alcoólica.

• Uso ocasional em quantidade moderada.


• Uso ocasional em grande quantidade,
chegando a estado de embriaguez.
• Uso frequente em quantidade moderada.
• Uso diário em pequena ou moderada
quantidade.

• Uso diário em quantidade para determinar


embriaguez: ‘alcoólico.’
4. Ritmo sono-vigília
O tempo que o paciente usa para descansar é
importante em determinar seu estado de
saúde geral. Os seguintes aspectos devem ser
investigados:
• A qualidade do sono: se adormece sem
problemas, se tem um sono tranquilo, sem
interrupções, ou se acorda no meio da noite;
se há factores disturbantes no sono (sede,
barulho, ansiedade, dor, necessidade de urinar,
hábitos antes de deitar, outras patologias).
5. Viagens recentes
É a recolha de informações sobre viagens
recentes, ou seja, no último ano que podem ter
relacionamento com possíveis patologias.
Há doencas que são endémicas em determinadas
áreas, ou há áreas em risco. Exemplo: a malária é
endêmica em Moçambique, mas não em
Portugal.
É importante investigar sobre:
• O lugar/sítio visitado;
• A duração da viagem;
• O meio de transporte;
• O propósito da viagem;
• Acontecimentos a salientar durante a viagem;
• Os acompanhantes da viagem.
É importante tambem perguntar sobre
familiares que vieram visitar de outra região e
ficaram em casa (útil sobretudo para o caso de
doenças contagiosas como a tuberculose).
6. Uso de medicina alternativa
É a recolha de informações sobre o uso de
medicina alternativa, sem julgar ou culpabilizar o
paciente. Isso faz parte da cultura de um
indivíduo e deve ser respeitado; só assim o
paciente vai se sentir livre para falar.
Possíveis efeitos de medicamentos tradicionais:
• Podem influenciar a evolução de uma doença no
sentido de melhorar ou piorar;
• Podem interagir com medicamentos da
medicina classica;
• Podem ser tóxicos por si;

• Podem ser neutros: não determinar nada;


• A escarificação pode determinar infecção da
ferida, transmitir doenças (como HIV, Hepatite
B).
É preciso investigar sobre:
• O tipo de prática ou medicamento tomado;
• A quantidade;

• A duração;

• A frequência;
• O nome do médico tradicional: para
eventualmente poder contactá-lo.
PONTOS-CHAVE
Os hábitos e o estilo de vida afectam a saúde do
paciente, seja positivamente ou negativamente.
1. Os aspectos a avaliar na história pessoal e social
são:
•Condições socioeconómicas e culturais inlcuindo:
ocupação actual e anterior, grau de
escolaridade, habitação, situação
socioeconómica, condições culturais, vida
conjugal, familiar e relacionamento com amigos
e fonte de estresse.
• Hábitos de vida incluindo: alimentação, as
actividades físicas, os hábitos como o uso de
álcool, tabagismo, tóxicos, o ritmo sono-vigília,
as viagens recentes e o uso de medicina
alternativa.
2. Ao falar com o paciente o clínico deve ter
em conta o seu grau de escolaridade, e não
deve culpabilizar ou julgar o paciente pelos
seus hábitos, tradições, ou uso de medicina
tradiconal
3. A actividade física relacionada a rotina do
dia, como caminhar para apanhar chapa, ou o
tipo de trabalho desempenhado (na
machamba ou sedentário) devem ser incluidas
nas informações sobre a actividade física do
paciente.
Indagar sobre as condições sociais e familiares
é importante, pois estas situações têm uma
grande influência na possível evolução de uma
patologia, podendo influenciar de maneira
positiva ou negativa

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