Como Ler Os Atos Dos Apóstolos

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COMO LER OS

ATOS DOS APÓSTOLOS


Pe. Bruno Igor Oliveira Cavalcante
(Diocese de Palmeira dos Índios)
► INTRODUÇÃO GERAL AOS ATOS DOS APÓSTOLOS
► 1. DIMENSÃO TEOLÓGICA
► 2. REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE AT 2,42
► PALAVRA FINAL: O ESPÍRITO E A IGREJA
► BIBLIOGRAFIA
INTRODUÇÃO GERAL AOS
ATOS DOS APÓSTOLOS
► 1. INTRODUÇÃO GERAL AOS ATOS DOS APÓSTOLOS (cf. J. A. Fitzmyer,
Gli Atti degli Apostoli, pp. 11-127)
► 1.1. IMPORTÂNCIA DO LIVRO DOS ATOS
❖ Atos dos Apóstolos: História de Jesus → Igreja Primitiva.
❖ Os Atos dos Apóstolos são uma fonte de informações não somente sobre a
Igreja Nascente, mas também sobre o Novo Testamento (NT) em geral.
❖ O Livro dos Atos: Palavra de Deus para o nosso hoje.
❖ Os Atos dão “aos cristãos de todas as épocas algo para imitar e exemplificam o
modo como Deus atua em nossas vidas” (W. S. Kurtz, “Atos dos Apóstolos”, p.
143).
❖ Nos Atos, o autor sagrado narra os acontecimentos mais importantes.
❖ “Lucas escreve, não como uma espécie de ‘simples historiador’, mas como
líder pastoral, estabelecendo modelos a ser seguidos pelos leitores cristãos. [...]
é um relato de fé, cheio de crença na ação divina dentro dos acontecimentos
que narra. Procura também edificar ou desenvolver a fé do leitor. De fato,
poderíamos descrever os Atos como apresentação da maneira cristã de seguir a
Jesus, observada na vida dos cristãos primitivos” (W. S. Kurtz, l. c., p. 143).
❖ Lucas escreve como teólogo (cf. J. Gnilka, Pablo de Tarso, p. 305).

► 1.2. QUEM É O AUTOR DO EVANGELHO DE LUCAS E DOS ATOS?


❖ Segundo uma tradição do século II, trata-se de Lucas, “o médico”, que foi
companheiro de Paulo (cf. Fm 24; Cl 4,14 e 2Tm 4,11).
❖ Atualmente, porém, acredita-se que o autor do 3º Evangelho e do Livro dos
Atos se chame realmente Lucas, mas não o médico, e sim um cristão de origem
pagã, pertencente à segunda geração cristã, entre os anos 70 e 100, homem
culto, familiarizado com as culturas helenística e bíblica, que provavelmente
pertenceu a alguma comunidade paulina.
❖ “O Evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos, como muitos outros escritos
do NT, foram editados de forma anônima a serviço da comunidade cristã. Foi
no século II, quando começam a editar-se juntos todos os livros do NT, que se
coloca um título às obras para distinguir umas das outras” (A. Rodríguez
Carmona, Hechos de los Apóstoles, p. XXX).
❖ Ambos os livros foram escritos entre os anos 80 ou 90, mais ou menos 20 ou
30 anos depois da morte do Apóstolo Paulo.
► 1.3. CONFIABILIDADE DOS ATOS DOS APÓSTOLOS
❖ “Estudos da historiografia bíblica e helenística mostram que os Atos são
comparáveis aos melhores escritos históricos antigos, tais como os livros
bíblicos Samuel-Reis e 1–2 Macabeus e histórias contemporâneas dos Atos
escritas por [Flávio] Josefo e seu modelo, Dionísio de Halicarnasso” (W. S.
Kurtz, l. c., p. 144).
❖ Nas últimas cinco décadas, os estudos bíblicos têm passado por uma grande
transformação: passaram de uma crítica histórica exagerada para uma
abordagem mais holística e literária.
❖ A crítica da recepção: interpreta os Atos no contexto global da Bíblia Sagrada.
❖ A crítica narrativa: estuda a Obra de Lucas com perguntas literárias.
► 1.4. ABORDAGENS NARRATIVAS DO LIVRO DOS ATOS
❖ O autor: é um cristão, seguidor de Paulo, que escreve em grego, conhece a
cultura helenística e o Antigo Testamento (AT) grego, ou seja, os LXX.
❖ O leitor: está familiarizado com o AT grego (LXX), com o judaísmo e com o
cristianismo.
❖ Geralmente, nos Atos o narrador fala em 3ª pessoa: “ele”, “ela” e “eles”.
❖ Dessa forma, o narrador “relata o que as personagens pensam, de uma forma
que ultrapassa o que um observador próximo poderia descobrir” (W. S. Kurtz,
l. c., p. 144).
❖ Depois de At 16,10, o narrador passa da 3ª pessoa do singular para a 1ª do
plural. Assim, aquele que narra parece estar presente nos acontecimentos.
► 2. FINALIDADE DOS ATOS DOS APÓSTOLOS
❖ O Prefácio do Evangelho de Lucas (1,1-4):
1) No v. 3, Lucas se dirige a um certo Teófilo (“Amigo de Deus”).
2) No v. 4, diz que escreveu o Evangelho “para que conheças a solidez dos
ensinamentos que recebeste”.
3) O que significa “solidez”? Com essa palavra, Lucas se refere tanto aos fatos
históricos como ao seu significado teológico.
4) Nos Atos, os fatos têm uma significação salvífica: Israel → Jesus → Igreja.
❖ Lucas escreve o Livro dos Atos para edificar a fé dos seus leitores.
❖ Questões importantes:
1) Qual a identidade dos primeiros cristãos?
2) Como conciliar o ministério de Jesus e o dos apóstolos?
❖ Continuidade entre passado e presente: “Porém, a relação entre as duas épocas
históricas não é a de uma simples continuidade histórica. A intenção de Lucas
não é escrever uma história do cristianismo primitivo. O novo fator decisivo é
a presenta do Espírito Santo, a quem os apóstolos têm que esperar” (B. S.
Childs, Teología bíblica del AT y del NT, p. 306).
❖ Pentecostes: “[...] quando o Espírito Santo vier sobre vós, recebereis uma força
que os fará ser minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judeia e Samaria,
até os confins da terra” (At 1,8).
► 3. COMO O LIVRO DOS ATOS FOI ELABORADO?
► 3.1. O USO DO AT GREGO (LXX)
❖ Lucas escreveu a sua obra – Evangelho e Atos – em grego. Para isso, utilizou
não o AT hebraico (original), mas o AT grego (tradução), conhecida como a
versão dos LXX.
❖ Lucas lê a Bíblia judaica não como lei (leitura rabínica), mas como profecia
(leitura cristã):
1) A afirmação cristológica “Jesus, o Filho de Deus” (Sl 2; 16, 110 e 118).
2) A resistência dos judeus: At 7,42 (Am 5,25-27) e At 28,26 (Is 6,9-10).
3) Pentecostes: At 2,16-18 (Jl 2,28-32).
❖ Conclui W. S. Kurtz: “A abordagem legal procurava no AT orientações e regras
de como se comportar nos aspectos cotidianos da vida. Os cristãos, porém,
procuravam nas Escrituras judaicas profecias do Messias e dos últimos tempos
de realização (“Atos dos Apóstolos”, p. 145).

► 3.2. OS DISCURSOS
❖ Três tipos de discursos:
1) Missionário (At 2): converter judeus e pagãos.
2) Defesa (At 22): nos julgamentos do Apóstolo.
3) Despedida (At 20): fala sobre a essência do ministério de Paulo.
❖ Processo de elaboração dos discursos dos Atos dos Apóstolos: (1) material
reunido → (2) redação própria → (3) unidade literária.
❖ Esse processo seguido por nosso autor explica a semelhança entre o discurso
de Pedro (At 2) e o discurso de Paulo (At 13).

► 3.3. AS REPETIÇÕES
❖ “Lucas repete alguns dos acontecimentos principais dos Atos para assinalar sua
importância especial para entender o progresso e a difusão do cristianismo”
(W. S. Kurtz, l. c., p. 146).
❖ Por exemplo, a conversão de Paulo é narrada três vezes (At 9, 22 e 26).
► 3. 4. OS PARALELISMOS
❖ Jesus – Pedro – Paulo:
1) Ressuscitaram mortos.
2) Curaram enfermos.
3) Preparam às multidões.
4) Sofreram rejeição.
► 4. ESQUEMA DOS ATOS DOS APÓSTOLOS (cf. W. S. Kurtz, “Atos dos
Apóstolos”, pp. 146-147)
❖ 1,12–8,3. Origem e crescimento da Igreja em Jerusalém, por intermédio do
Espírito Santo.
❖ 8,4–9,31. Perseguição e expansão na Judeia e na Samaria.
❖ 9,32–15,35. Pagãos: Pedro e Cornélio, Barnabé e Saulo (Paulo), a Assembleia
de Jerusalém (Concílio de Jerusalém).
❖ 15,36–18,23. Missão de Paulo para os pagãos: a segunda viagem.
❖ 18,24–21,14. Destino de Paulo em Jerusalém: a terceira viagem.
❖ 21,15–26,32. Prisioneiro, Paulo dá testemunho da ressurreição.
❖ 27,1–28,31. “É preciso que em Roma testemunhes igualmente”.
1. DIMENSÃO TEOLÓGICA

► 1.1. TEMAS GERAIS (cf. W. S. Kurtz, “Atos dos Apóstolos”, pp. 146-147)
❖ A realização do plano divino de salvação.
❖ Jesus ressuscitado age por meio dos discípulos repletos de seu Espírito.
❖ Continuidade em meio a mudança: Deus mantém as promessas a seu povo.
❖ Cura e restauração do povo de Deus.
❖ Triunfo do cristianismo, apesar de todos os obstáculos.
❖ Orientação divina do caminho cristão.
❖ Apologética para o cristianismo, em especial para Paulo.
► 1.2. TEMAS ESPECÍFICOS (cf. A. Rodríguez Carmona, “Dimensión
teológica”, pp. 405-428)
❖ Caminho profético
1) Caminho
2) Etapas do caminho
❑ Tempo de preparação
❑ O tempo de Jesus e a etapa da realização
❑ A parúsia
❖ Características do caminho
1) Animado pelo Espírito Santo
2) A oração
3) Apostólico
4) Caminho reto e imparável
5) Caminho atual
❖ Caminho salvador
1) A salvação
2) Salvação radical e universal
3) Agentes da salvação
4) Destinatários da salvação
❑ Universalismo e privilegiados
❑ Os pecadores
❑ Os pobres
❑ Os samaritanos e as mulheres
5) A alegria
6) Maria, modelo no caminho profético salvador
2. REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE AT 2,42

► 2.1. A IGREJA SEGUNDO AT 2,46 (cf. J. Ratzinger, Guardare al Crocifisso,


pp. 66-68; J. Dupont, Teologia della Chiesa negli Atti degli Apostoli, pp.
26-29)
❖ “Mantinham-se constantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão, na
fração do pão e nas orações” (At 2,42):
1) O ensinamento dos apóstolos.
2) A Igreja e sua “tríplice dimensão” (cf. B. Forte, Il Vangelo della Chiesa, pp.
17-27) ou “tríplice perseverança” (cf. B. Maggioni, Atti degli Apostoli, pp.
64-68):
❑ 1ª dimensão: a comunhão (koinonia).
❑ 2ª dimensão: a fração do pão (Eucaristia).
❑ 3ª dimensão: a oração.
► 2.1.1. O ENSINAMENTO DOS APÓSTOLOS
❖ At 2,42 nos oferece uma descrição da Igreja Primitiva, válida para a Igreja de
todos os tempos (cf. B. Forte, Il Vangelo della Chiesa, p. 18).
❖ A Igreja Nascente “é e será sempre o modelo para a Igreja de todos os tempos,
o modelo de toda comunidade cristã em todo estado de vida: monástica,
religiosa ou familiar” (A. M. Cànopi, Di questi fatti siamo testimoni, p. 25).
❖ Ensinamento apostólico = Tradição.
❖ Diz B. Maggioni: “A presença dos apóstolos garante a continuidade entre Jesus
e a comunidade e é um indício muito claro de ligação com Tradição” (Atti degli
Apostoli, p. 65).
► 2.1.2. A IGREJA E SUA TRÍPLICE DIMENSÃO
► 2.1.2.1. PRIMEIRA DIMENSÃO: A COMUNHÃO (KOINONIA)
❖ O termo comunhão (koinonia) pertence ao vocabulário paulino (cf. 1Cor 1,9 e
2Cor 9,13).
❖ Comunhão significa “a realidade concreta de uma poderosa atuação salvífica,
destinada de antemão à comunidade” (J. Roloff, Hechos de los Apóstoles, p.
100).
❖ Comunhão é a presença de Cristo vivo entre nós. É Ele que cria a comunhão.
❖ Comunhão entre nós – os cristãos – e entre nós e Cristo, ou seja, entre nós e a
Trindade (cf. J. Ratzinger, El camino pascual, pp. 158-159).
► 2.1.2.2. SEGUNDA DIMENSÃO: A FRAÇÃO DO PÃO (EUCARISTIA)
❖ O termo “fração do pão” recorda um gesto familiar, realizado por aquele que
preside a mesa nas refeições (cf. Mc 6,41 e Lc 24,30).
❖ Significa a celebração eucarística (cf. At 20,7 e 1Cor 10,16).
❖ “Nos primeiros tempos da Igreja, a eucaristia se celebrava como um banquete,
no qual adquiriam particular relevo a fração do pão, no começo, e o cálice da
benção, no final, como recordação da última ceia de Jesus (1 Cor 10,16;
11,25)” (J. Roloff, o. c., p. 100).
❖ Segundo J. Ratzinger, a fração do pão – Eucaristia – “não é um ato isolado de
culto, senão uma forma de existência: a vida no compartilhar, na comunhão
com Cristo, que se dá a si mesmo” (La Iglesia, p. 38).
► 2.1.2.3. TERCEIRA DIMENSÃO: A ORAÇÃO
❖ A oração dos primeiros cristãos estava vinculada aos costumes judaicos: por
exemplo, a oração dos Salmos.
❖ Depois, a experiência do dom do Espírito Santo fez com que os cristãos
aprendessem novas formas de rezar (cf. Rm 8,15 e Gl 4,6).
❖ Homem → Jesus → Deus.
❖ O Pai Nosso como modelo de toda oração cristã.
PALAVRA FINAL: O ESPÍRITO E A IGREJA

► Pentecostes: “vento e fogo do Espírito Santo fundam a Igreja. Esta não nasce
de uma decisão autônoma, nem é produto de uma vontade humana, senão
criação do Espírito Santo. Este Espírito é a superação do espírito babilônico do
mundo. A vontade humana de poder como se expressa em Babilônia tende à
uniformidade, pois se trata de dominar e de submeter, e por isso precisamente
suscita ódio e divisão. Ao contrário, o Espírito de Deus é amor, e por isso
suscita reconhecimento e cria unidade, na aceitação da diversidade e na
multiplicidade de línguas se compreendem reciprocamente” (J. Ratzinger, La
Iglesia, p. 39).

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