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Aquilo que os olhos veem ou o Adamastor, de Manuel António Pina

- Mistura factos históricos com ficção

- Mestre João: Personagem histórica (físico e cirurgião no reinado de D. Manuel)

- Manuel: Personagem ficcional e protagonista

Início: monólogo de Mestre João que, após longos anos no Oriente, regressa a Portugal.

Ao passar o Cabo da Boa Esperança (Angra de S. Brás), recorda acontecimentos muitos anos
antes (as suas memórias), quando, na nau em que regressava, recolheu o náufrago Manuel.

Manuel: conta também ele uma história fantástica e terrível, passada num momento anterior
às memórias de Mestre João.

A ação centra-se em três tempos distintos: o presente (correspondente à viagem de regresso


de Mestre João), o perfeito (o tempo das memórias de Mestre João) e o mais-que-perfeito
(relativo às recordações de Manuel)

Na Cena 1, o narrador da ação inicia um monólogo. Relembra o momento em que recolheu


Manuel, dado quase como morto. Ação central da peça: o encontro do náufrago e o relato da
sua história (cena 2 até à cena 13). A cena 14 corresponde ao desenlace da ação.

Os episódios relatados a partir entre as cenas 2 e 4 surgem no tempo presente por encaixe. É
no Tempo do Perfeito (que se inicia na cena 2) que o leitor acede às memórias de Mestre
João, quando conta a história do resgate de Manuel. Na cena 4, retoma-se o tempo presente,
quando Mestre João abandona as deambulações e ele próprio duvida da veracidade dos
acontecimentos que recordara. Não compreende como, sendo ele um homem da ciência,
poderia acreditar numa história fantástica como o encontro com o Adamastor relatado por
Manuel.

Já na cena 5, retoma-se o tempo da memória de Mestre João (Tempo do Perfeito), quando


Manuel conta o que lhe acontecera. Faz referência ao seu encontro com o Adamastor,
apelidando-o de "Demónio" e "Avantesma", dizendo que as naus onde seguiam os seus
companheiros foram "atirados pelo mar como bocados de papel” com o objetivo de o atingir.

Cena 6 - memórias de Manuel – “ Tempo do mais-que-perfeito” , que surge por encaixe.


Manuel inicia a narração de como seguiu as pisadas de seu pai, que integrara a frota de
Bartolomeu Dias aquando da passagem do Cabo da Boa Esperança. Explica também que o
sonho que tivera, em que salvava o seu próprio pai das garras de Adamastor, o arrastara para
aquela situação em que se encontrava.
PERSONAGENS

Mestre João é um homem das ciências, dominado pela racionalidade. O episódio narrado por
Manuel fá-lo duvidar do seu pensamento racional. No entanto, estas dúvidas não o impedem
de sentir curiosidade sobre aquele ser fantástico, chegando mesmo, na cena 12, a considerar a
Avantesma como uma criatura natural de Deus.

Manuel é um adolescente, segundo a sinopse da obra, com 14/15 anos que vive com a mãe e
a irmã Ana em Massarelos, nos arredores do Porto. O pai partiu no passado na frota de
Bartolomeu Dias, e Manuel já estava assim familiarizado com a vida no mar. Um dia sonha que
o pai é atacado pelo Adamastor. Nesse sonho revelador e premonitório, Manuel enfrenta o
monstro, laçando-se à água para salvar o seu pai e vence-o. O seu sonho acaba por se tornar
realidade, como se pode verificar na fala do pai, acabado de regressar da sua viagem: “ Por
pouco morria eu ali! (…) Salvou-me o meu Anjo da Guarda…”.

Posto isto, Manuel convence-se que o monstro quererá vingança. Algum tempo mais tarde,
embarca na armada de Pedro Álvares Carbral, que acaba por naufragar ao lago do Cabo das
Tormentas. Com a certeza que o Adamastor o procura, acaba também ele por naufragar, mas
sobrevive, embora bastante ferido.

Manuel é, desta forma, uma personagem comum, sem nenhum traço de excecionalidade. O
facto de sobreviver ao naufrágio transforma-o num herói, pos é o único que sobrevive da sua
armada.

A figura de Adamastor omnipresente em toda a obra, sem nenhuma vez aparecer fisicamente.
Esta figura é referida no título da obra, introduzida através de uma conjunção coordenativa
disjuntiva (ou). Esta expressa exatamente a ideia de alternativa, ou seja, o que vemos ("Aquilo
que os olhos veem") corresponde à realidade, enquanto a figura do Adamastor corresponde ao
irreal e inexplicável. Assim, o Homem tem sempre a oportunidade de acreditar na realidade
ou aceitar o inexplicável.

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