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Coordenação Geral:

João Edson Oliveira Queiroz


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Carol de Castro
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Vivianne Alves

Edições Shalom
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ISBN: 978-85-7784-251-3
1° Edição: 2018
© EDIÇÕES SHALOM, Aquiraz, Brasil, 2018.
Apresentação

As Edições Shalom, fiel à sua missão de evangelização e formação, lançam agora, em 2018,
uma nova coleção de livros que propõe ser, de forma dinâmica, didática e atual, uma resposta
para o homem católico que busca conteúdo formativo consistente e acessível, escrito de forma
clara e objetiva, sem cair no pecado da superficialidade nem da pressa na abordagem.
Trata-se da coleção “COMO”, um novo posicionamento editorial para responder a um mundo
que passa por profundas transformações culturais e onde nem sempre conseguimos acompanhar
e, até mesmo, entender para responder.
A nova Coleção tem como objetivo tornar o leitor protagonista de sua própria história, capaz
de solucionar, à luz do conhecimento do e da graça de Deus, seus desafios de caminhada e
conversão na Igreja sem perder nunca o link com a vida concreta onde a graça divina atua.
Nessa nova coleção constam alguns temas muito interessantes: “Como fazer uma pregação”,
“Como superar crises no relacionamento”, “Como transformar a dor em amor”, “Como
evangelizar nas redes sociais”, dentre outros.
Fique atento às novidades! Com certeza, COMO nos pede nossa missão, estaremos preparando
cada vez mais conteúdos que o ajude a COMO viver melhor sua fé.
Apresentação

É com imensa alegria que apresento o livro de Franco Galdino e Larissa Moura sobre a
evangelização nas redes sociais. A presente obra representa uma iniciativa importante para uma
urgente e atual demanda: anunciar Cristo no espaço digital. Os jovens autores mostram ousadia,
amor a Deus, à Igreja e à humanidade diante do desafio de iluminar a web com conteúdos que
revelam a Verdade. Eles desbravam um novo caminho de evangelização, na companhia do
Magistério: Papa Francisco, Bento XVI, São João Paulo II, Paulo VI; dos santos: Santa
Teresinha, Santa Teresa D’Ávila e do Evangelho.
Franco e Larissa ressaltam as exigências da evangelização nas redes sociais: coerência de vida,
ardor pela missão, liberdade cristã, misericórdia e ternura, disposição ao sacrifício, que devem
estar alinhadas a tantas questões práticas da vida moderna e pessoais: organização de tempo,
privacidade, auto-estima, tudo isso num espaço ocupado por tentações, mundanismo,
relativismo, ateísmo, dominado por discursos do mercado publicitário, das ideologias, das
vaidades, das confusões mentais. Mas, eles não se acanham e, sem medo, traçam propostas,
ensinam técnicas, rezam e indicam novas perspectivas para habitar e se comunicar nas redes
sociais.
Lembro das palavras do monsenhor Lucio Adrian Ruiz, secretário de Comunicação da Santa
Sé, durante Seminário de Comunicação na Arquidiocese do Rio de Janeiro, em 2017: “Este novo
espaço vital e cultural criado pelo ser humano exige uma especial capacitação para graduar,
discernir, aprender, escolher e criar conteúdos”. Segundo Ruiz, só assim a informação se
transformará em conhecimento útil para a vida. “Ninguém pode ser deixado como passivo
consumidor, obeso de informação desconectada e a mercê de qualquer coisa que lhe é oferecido.
Temos que formar, portanto, pessoas capazes de ser criadoras de espaços digitais humanizadores,
ensinando-lhes que a tecnologia tem que ser posta a serviço do homem e isto é parte da
formação. Por isso é tão importante compreender que diante do que às vezes nos fascina e é
lindo, como a tecnologia e o mundo digital, e outras vezes nos aterroriza diante de toda a
capacidade de alcance, que nos deixa um pouco a atônitos frente a realidade tão grande, a chave
está no discernimento da pessoa, no governo que a pessoa tem da realidade, da possibilidade de
escolha, da possibilidade de construir, da possibilidade de dizer ‘sim’ e também de dizer ‘não’. E
isto se ensina. Esta é a nossa missão. A grandeza do controle do digital está na liberdade do
homem e a liberdade do homem é fundamentalmente é ensinada.”
Acredito que Franco e Larissa cumprem essa missão com profunda sabedoria, texto leve, amor
ao Evangelho, revelando o feliz compromisso de comunicadores da Verdade.

Gabriela Viana
Assessora de Comunicação
Comunidade Católica Shalom
Introdução

O título do livro exige uma resposta imediata. Diferente de qualquer outro autor, que deixaria
para o fim do livro, respondemos à pergunta chave neste primeiro parágrafo, esperando não
estragar o desejo de ler o livro até o final: habitando-o como verdadeiros cristãos! O Evangelho
encarnado na vida de um cristão é já missão.
Um texto antiquíssimo datado por volta do ano 120 d.C. intitulado “Carta a Diogneto” é
considerado um dos primeiros textos de apologética cristã, ou seja, de defesa do cristianismo
nascente. Diante das perseguições o autor explica o que são os cristãos e qual o papel deles no
mundo: “Os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela língua,
nem pelos costumes. Nem, em parte alguma, habitam cidades peculiares, nem usam alguma
língua distinta, nem vivem uma vida de natureza singular. [...] Casam como todos e geram filhos,
mas não abandonam
à violência os recém-nascidos. Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito.
Encontram-se na carne, mas não vivem segundo a carne. Moram na terra e são regidos pelo céu.
Obedecem às leis estabelecidas e superam as leis com as próprias vidas. Amam todos e por todos
são perseguidos. Não são reconhecidos, mas são condenados à morte; são condenados à morte e
ganham a vida. [...] Numa palavra, o que a alma é no corpo, isso são os cristãos no mundo.”
Da mesma forma, esse é o nosso papel nas redes. O que alma é no corpo, isso são os cristãos
nas redes!
Trazemos como constitutivo do nosso ser a evangelização, primeiro, por mandato evangélico:
“Ide por todo mundo e anunciai o Evangelho” (Mc 16,15); segundo, como inquietação paulina:
“ai de mim se eu não anunciar o Evangelho” (1Cor 9,16). Como Igreja, nos sentimos motivados
a abraçar a “tarefa da evangelização deste ‘continente digital’”, e como membros da Comunidade
Shalom, nascemos para evangelizar os mais distantes de Deus - que talvez estejam lá atrás da tela
do smartphone.
Vemos um novo continente formado por uma imensidão de homens, em sua maioria, jovens.
“Rede à vista”, diria Pedro Alvares Cabral se avistasse o mesmo que nós: um novo continente.
Como nas Américas, no novo continente há uma terra para povoar e uma multidão para ser
evangelizada. Enquanto alguns veem apenas “terra”, cabos, fios e computadores; vemos muitos
homens, nativos desta nova terra, que estão esperando a boa nova.
O assunto, além de amplo, é muito recente, ou melhor, ainda em construção, é muito
controverso. Tomamos coragem de arriscar, primeiro motivados pelo Espírito Santo, que pode e
sabe utilizar-se de instrumentos insuficientes; e depois por termos feito uma descoberta.
A descoberta foi através do Papa Francisco que diz que a Palavra de Deus possui, em si
mesma, uma tal potencialidade, que não a podemos prever. O Evangelho fala da semente que,
uma vez lançada à terra, cresce por si mesma, inclusive quando o agricultor dorme1. Por isso,
afirma o Papa, “a Igreja deve aceitar esta liberdade incontrolável da Palavra, que é eficaz a seu
modo e sob formas tão variadas que muitas vezes nos escapam, superando as nossas previsões e
quebrando os nossos esquemas.”2
Ao falar do “como” da evangelização não podemos querer planejar métodos e calcular seus
efeitos! A nossa descoberta com o Papa Francisco é que o tempo é superior ao espaço, por isso é
impossível fazer um livro sobre os do’s e dont’s3 da evangelização, não se pode ter regras para
tudo.
Certamente, muitos líderes e coordenadores de grupos de oração buscarão ler este livro para
tentar responder às perguntas frequentes de suas “ovelhas” do tipo: “pode ou não pode?”, “é
correto ou errado?”. Aqui também não encontrarão as regras no uso das redes sociais.
Apresentaremos somente os 5 pães e 2 peixinhos e esperamos que o Senhor os multiplique e
alimente segundo a necessidade de cada um.
Não nos preocuparemos tanto em dar dicas técnicas, - para isso já existem bons cursos - mas
vamos nos deter em partilhar, com base em nossa experiência e partindo sempre de fontes
seguras como a vida dos santos e do Magistério da Igreja, como deve ser a vida de um
evangelizador neste continente, além de alertar dos possíveis riscos que podemos correr. Os
riscos não devem nos assustar, mas nos colocar em estado de vigilância: “Eis que eu vos envio
como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como
as pombas” (Mt 10, 16).
Com base nessas experiências, nossa conversa será dividida em três pontos: como habitar,
como se relacionar e como comunicar nas redes sociais. Os três capítulos serão discutidos
com base na Palavra de Deus, nos documentos da Santa Igreja, nas palavras dos santos e dos
papas, e nas reflexões da vida ordinária de uma jornalista e um seminarista, ambos consagrados
na Comunidade Católica Shalom e apaixonados pela Comunicação.
Buscamos trazer aqui temas relevantes em debate na atualidade, tais como: o fenômeno das
fake news, o tempo gasto nas redes sociais, o narcisismo e exposição da privacidade, a
comunicação como terra de missão, dentre outros. Não é nossa intenção nos dirigirmos à
técnicos de informação, profissionais da comunicação ou experts em redes sociais. Queremos
falar especialmente aos evangelizadores, que desejam anunciar - começando por uma vida
autenticamente cristã - a experiência que tiveram com o amor de Deus.
Vem em nossas mentes tantos santos missionários! Como eles, aceitamos o desafio, mas não
sozinhos. Vamos juntos a todos aqueles chamados pela Igreja: “A vós, jovens, que vos encontrais
quase espontaneamente em sintonia com estes novos meios de comunicação, compete de modo
particular a tarefa da evangelização deste «continente digital»”4.
É o Espírito Santo o protagonista da evangelização, de fato é Ele que “vos ensinará, no
momento próprio, o que deveis dizer” (Lc 12,12). Se podemos citar uma regra, é essa: Suplica ao
Espírito Santo para que te ensine a evangelizar. A nova evangelização é tarefa nossa! Somos os
missionários.
Um continente jovem nos espera.

Franco Galdino e Larissa Moura


15 de agosto de 2018
Solenidade de Nossa Senhora da Assunção
Como habitar
as redes
Como habitar as redes

“O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres,
[…] ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas.”5
Convencidos da urgência da evangelização, somos chamados a, mais uma vez, com o auxílio
do Espírito Santo, inculturarmos o Evangelho de Cristo. A compreensão de um novo espaço a ser
habitado é muito evidente ao Magistério da Igreja, que costuma dar o nome de “continente
digital” à essa nova terra de missão, muito semelhante ao convite ad gentes diante do
descobrimento das Américas no século XV, mas bem diferente porque, nesse caso, já o
habitamos.
Evangelizar nas redes sociais, então, é mais que transmitir conteúdos - como se pensava sobre
os meios de comunicação de massa. É um lugar de interação, no qual devemos sempre, com as
palavras e especialmente com a vida, estarmos dispostos a dar as razões da nossa fé6. Aqui, mais
do que meios de comunicação, as entenderemos como espaços de relação. E por ser um
ambiente, dedicamos a primeira parte deste livro sobre como devemos habitá-lo, pois considerar
a internet simplesmente uma plataforma de comunicação não nos permitiria entender a fundo as
suas reais consequências e a nossa missão.
Criar a minha conta em uma rede social já basta para evangelizar? Com certeza afirmamos que
não! É necessário termos clareza do nosso objetivo. Como discípulos de Jesus e filhos da Igreja,
precisamos conceber a totalidade da nossa vida como uma missão7, e para um missionário,
descansar e navegar nas redes não deixa de ser missão. Humanizando as nossas redes,
encontraremos uma via fecunda de identificar em cada perfil, em cada seguidor e em cada like
uma pessoa que a Providência Divina nos apresenta para dar de graça o que de graça recebemos.
Vamos desbravar este maravilhoso continente juntos?!

HABITAR COM PARRESIA


“Preguem o Evangelho sempre. Quando necessário, usem palavras”, ensinava São
Francisco aos seus irmãos, o que hoje é uma de suas frases mais famosas. Pode-se pensar que
isso não se aplica à evangelização nas redes sociais, afinal, este é ambiente de comunicação
sobretudo verbal. Mas é aqui que está a chave daquilo que queremos desenvolver mais a frente: a
evangelização – seja on-line ou off-line - não exige grandes habilidades, mas antes de tudo, uma
experiência pessoal com o Jesus Cristo que transforma a nossa vida e nos impulsiona a anunciá-
lo com convicção, com coragem, com parresia!
A palavra parresia tem se tornado cada vez mais comum na linguagem magisterial. Mas o que
significa exatamente? É uma palavra grega utilizada no Novo Testamento, sobretudo nos Atos
dos Apóstolos e nas cartas paulinas, como adjetivo da forma como os apóstolos anunciavam o
kerigma, ou seja, a boa nova da salvação realizada por meio do testemunho de Jesus morto e
ressuscitado.
Parresia pode ser traduzida por franqueza, intrepidez, coragem, plena liberdade. É exatamente
a postura dos apóstolos após o pentecostes: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e
anunciavam corajosamente [com parresia] a palavra de Deus.” (At 4,31). Ela não é só uma
atitude exterior, mas antes, fruto da presença do Espírito Santo. Só Ele pode nos fazer
evangelizadores com vigor, que saem de si mesmos para anunciar não só com palavras, mas
sobretudo com uma vida transfigurada pela presença de Deus8.
A vivência da santidade – que não significa perfeição, mas parresia – é o que mais conta para
a verdadeira evangelização em qualquer ambiente, incluindo as redes sociais. Ela exige
sacrifício, exige que a carne seja colocada no braseiro, ou seja, exige uma vida comprometida, a
disposição de sair de si e de pensar mais no outro que em si mesmo. Em época de fake news, de
“pós-verdade”, somente um discurso acompanhado de um testemunho é capaz de convencer
sobre a Verdade.
É disso que precisamos: habitar as redes de santos cheios de parresia que é o “selo do Espírito,
testemunho da autenticidade do anúncio.”9 Tudo isso lembra-nos, como afirma o Papa Francisco,
que a Igreja não precisa de muitos burocratas e funcionários, mas de missionários apaixonados,
devorados pelo entusiasmo de comunicar a verdadeira vida. Os homens e mulheres que, por
graça de Deus, alcançaram a santidade, surpreendem, desinstalam, porque a sua vida nos chama
a sair da mediocridade tranquila e anestesiadora fruto do pecado.10
Se compreendemos as redes sociais não como uma rede de fios, mas de pessoas11 entendemos
também que esse ambiente é bem mais real do que virtual. Diz o Papa Bento XVI: “O ambiente
digital não é um mundo paralelo ou puramente virtual, mas faz parte da realidade quotidiana de
muitas pessoas, especialmente dos mais jovens. As redes sociais são o fruto da interação
humana, mas, por sua vez, dão formas novas às dinâmicas da comunicação que cria relações”.12
Pensar em evangelizar em um “mundo imaginário” afeta também a espiritualidade. O risco é
uma fé desencarnada, uma espécie de desmembramento entre a fé que professo e o que vivo, por
isso talvez nos pareça cômodo falar de “evangelizar na internet”, afinal, não compromete minha
vida. Esta tentação é o que o Papa Francisco chama de “gnosticismo atual”, ou seja, aqueles que
“concebem uma mente sem encarnação, incapaz de tocar a carne sofredora de Cristo nos outros,
engessada numa enciclopédia de abstrações.”13
Para evitar esse risco, é necessário alimentar uma vida de relação com o Senhor que tem como
fruto a caridade, critério para uma verdadeira evangelização. Ações que refletem a caridade que
recebo do próprio Cristo, que miram mais o bem do outro que o meu próprio bem. Aos que
insistem em fazer algo para Deus, mas sem Deus, Jesus os chama de “sepulcros caiados”, que
não obstante levassem a Palavra consigo e a conhecessem como ninguém, não eram mais que
hipócritas porque não viviam o que diziam.
A autenticidade dos fiéis nas redes sociais é posta em evidência através da partilha daquela
que é a fonte da sua esperança e da sua alegria: o próprio Deus, que é Amor e rico em
misericórdia, revelado em Jesus Cristo. Tal partilha consiste não apenas na expressão da fé, mas
também - e acima de tudo - no testemunho, isto é, no modo como se comunicam “escolhas,
preferências, juízos que sejam profundamente coerentes com o Evangelho, mesmo quando não se
fala explicitamente dele”14.
Alimentar no off o desejo do on

Quando se fala de projetos ou de iniciativas pessoais de evangelização pela internet, pensa-se


imediatamente nos equipamentos ou nos recursos, em alguém que saiba usar bem os sistemas
informáticos, programas, e no tempo que precisaremos para desenvolver aquelas tarefas. Tudo
isso é muito justo, mas não é fundamental como o é próprio desejo de evangelizar de quem
começa algo do tipo.
O evangelizador não nasce quando liga o computador, ou assiste a tutoriais no Youtube. O
testemunho bíblico nos mostra que a evangelização é precedida de um encontro com Jesus: a
mulher samaritana que ouvindo as palavras de Jesus vai anunciar a toda a cidade (Cf. Jo 4),
Maria Madalena que depois do encontro com Jesus Ressuscitado vai anunciar que Ele está vivo
(Cf. Jo 20), ou o grande apóstolo São Paulo após a aparição de Jesus no seu caminho para
Damasco, que passa a segui-lo e ajuda a fundar as primeiras comunidades cristãs (Cf. At 22,3).
A experiência com Jesus nos faz sentir profundamente amados e gera em nós a compaixão
pelos outros, um verdadeiro movimento de saída de si mesmo. Da compaixão brota a
evangelização: “porque tanto amor é dado a mim e não a ele?”. A evangelização começa com a
simples partilha da minha experiência no meu trabalho, na escola, no ônibus, nas minhas
relações e se estende nos serviços em ministérios e em projetos de evangelização, inclusive, nas
redes sociais.
O Papa Francisco chama a isso de pregação informal: “[...] há uma forma de pregação que nos
compete a todos como tarefa diária: é cada um levar o Evangelho às pessoas com quem se
encontra, tanto aos mais íntimos como aos desconhecidos. É a pregação informal que se pode
realizar durante uma conversa, e é também a que realiza um missionário quando visita um lar.
Ser discípulo significa ter a disposição permanente de levar aos outros o amor de Jesus; e isto
sucede espontaneamente em qualquer lugar: na rua, na praça, no trabalho, no caminho”15 e, se
dúvidas, nas redes sociais.
Como se vê, tudo começa no off-line. Ou melhor, começa no coração. É necessário se
alimentar com a oração, com os sacramentos, com a abertura e serviço aos outros. Aí sim,
podemos falar de evangelização na internet e de todas as formas multíplices de utilizar seus
recursos. A nossa máxima é: quem não se evangeliza na vida ordinária, não se evangeliza na
internet. As redes sociais se tornam, então, uma extensão da minha vida ordinária.
Por que o nosso sumo pontífice, o Papa Francisco, está no Twitter e no Instagram? A resposta
é do Mons. Lucio Adrian Ruiz16: “Dove sta l’uomo, lì sta anche la Chiesa”, ou seja: “Onde está
o homem, ali está também a Igreja”. Em seu primeiro vídeo na sua conta oficial no Instagram
(@franciscus), o santo padre resumiu em cinco segundos o porquê decidiu estar na rede social:
“Inizio un nuovo cammino per percorrere con voi la via della misericordia e della tenerezza di
Dio” (Inicio um novo caminho para percorrer com vocês a via da misericórdia e da ternura de
Deus). O Papa da “revolução da ternura” não poderia dar um testemunho diferente nas redes
sociais.
A rede alarga o alcance da sua mensagem (e da sua vida), faz chegar também pela imagem a
forma como se relaciona com as pessoas que encontra, com os doentes, com as crianças, com os
pobres. É aí que se encontra a credibilidade do Papa Francisco: ele não está nas redes para fazer
marketing, defender a figura do Papa ou para atrair pessoas com argumentos engessados. Ele está
nas redes para expressar a misericórdia e ternura de Deus com sua vida cotidiana, marcas
evidentes do seu apostolado.
O Papa Francisco nos ensina que só há uma forma de dar credibilidade ao que anunciamos:
comprometer a própria vida. Aos jovens da Comunidade Shalom, por ocasião dos seus 35 anos,
disse: “para falar de misericórdia é preciso pôr toda a carne ‘no braseiro’, caso contrário
não se entende esse testemunho de não estar fechado em si mesmo ou nos próprios interesses,
mas de sair.”17
Pôr a carne no braseiro significa estar disposto ao sacrifício. Um erro comum de quem quer
começar a evangelizar é o de pensar que para evangelizar é necessário, primeiro, atingir um alto
grau de perfeição moral. Mas aquilo que mede a perfeição das pessoas é o seu grau de
caridade.18 Sacrifício é se comprometer com a vida do outro, aprender a chorar com quem chora
e sofrer com quem sofre. Gastar tempo com a pessoa, levá-la à Deus e reerguê-la uma duas ou
dez vezes.
O evangelizador-pastor precisa estar disposto a perder sono, renunciar a alguns lazeres, sair da
sua zona de conforto, sair de si constantemente para cuidar de cada um que o Senhor o confia.
Isso é misericórdia.
Pôr a carne no braseiro é ainda transparência para testemunhar a misericórdia recebida. E
como se identifica a misericórdia na vida de uma pessoa? Quando se pode ver de onde Deus a
resgatou e o que Deus é capaz de fazer com um tão grande pecador. A misericórdia se torna
evidente quando se vê o arrependimento e a gratidão do pecador perdoado. E nada mais eficiente
para isso do que dar testemunho. Anunciar, com as palavras e com a vida, as misericórdias do
Senhor é sermos nós um Evangelho vivo, sinal concreto de esperança para o homem sedento de
Amor.
A transparência nos livra do caminho da corrupção, para isso é necessário expor, não ter
vergonha de ser pecador e por isso mesmo se levantar e correr 70 vezes ou 70x7 ao sacramento
da reconciliação. Esconder os próprios pecados é tentação do corrupto que não pensa nem em
Deus nem nos outros, só na própria imagem. Este deixa que o pecado crie raízes, é incapaz de ser
corrigido e por mais que se diga cristão, dentro já perdeu o temor de Deus, no fundo já se tornou
um ateu.
Para que se manifeste a misericórdia é necessário “expor a mão seca” (Cf. Lc 6,6-11) só assim
Jesus pode curar. Quanta esperança encontramos na vida dos santos quando vemos que eles
também eram fracos como nós, tinha pecados, mas foram santos por causa da abertura à graça de
Deus!

SABER ADMINISTRAR O TEMPO


Se escolho, de fato, viver uma vida segundo os desígnios amorosos do Pai, isso inclui também
viver sob o Seu senhorio na administração do meu tempo. Nestes anos vivendo em comunidade,
aprendi que o tempo está diretamente relacionado a prioridade, pois sempre estamos dispostos a
mudar todo o nosso dia para nos dedicar ao que consideramos importante. A tentação está em,
tendo a vida em nossas mãos, escolhermos administrá-la sob óticas diferentes das do Evangelho,
pois se tudo é urgente, nada mais é urgente.
Mas o que isso tem a ver com Redes Sociais? Tudo! Elas são uma grande tentação para nós
ativistas, pois é o lugar por excelência de levantar a bandeira da exaustão como símbolo de
status. A todo momento é exigido que a nossa vida gere um conteúdo atrativo, somos convidados
a nos unirmos a geração do “tá pago”, que vive em função de um dia cheio de compromissos e
da eterna expectativa pelas sextas-feiras.
Outro fator comum está relacionado às doenças psíquicas. Uma delas, a ansiedade (enquanto
transtorno), pode estar diretamente ligada ao excesso de tempo gasto na internet, pois não
somente as drogas psicotrópicas, mas também o consumo de informação pode gerar um vício. A
Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA), um dos quadros que causa o transtorno de
ansiedade, nos rouba do tão importante silêncio interior, essencial para ouvir a Deus, ao próximo
e a nós mesmos.
Nesses pontos, ao invés de tratarmos o tempo como um dom e criatura de Deus, que nos foi
dado para amar a Ele e aos irmãos, o usamos sob a lógica de um pensamento exacerbadamente
ativista e individualista, o submetendo aos nossos planos e projetos, e tentando encaixar a vida
de intimidade com Deus na agenda. Mas, como nos diz Moysés Azevedo, “aquilo que fazemos
com pouco tempo de oração exige muito mais do que aquilo que fazemos com muito tempo”.
O escritor Saint Exupéry, em seu livro mais famoso, reflete que “foi o tempo que dedicaste à
tua rosa que a fez tão importante”19. Em uma geração de redes sociais digitais, de mensagens
instantâneas, de modernidade líquida20, nossas relações nunca foram tão numerosas, mas
também nunca tão superficiais pela falta de tempo dedicado ao outro. Segundo a nossa fé, pela
qual a caridade é a maior das virtudes, a tecnologia deve estar submissa ao homem, e não o
contrário!
Aos “desocupados” o Senhor chama, mesmo já na última hora: “Ide vós também para a minha
vinha” (Cf. Mt 20). Como missionários, o Senhor nos tirou da “desocupação do mundo” para
nos ocuparmos da sua vinha. Conhecemos bem a passagem do Evangelho citada, mas para quem
não lembra: Jesus explica que o Reino de Deus é assim, como o pai de família que sai para
contratar trabalhadores para a sua vinha. Ele chama em várias horas do dia, vai à praça e chama
aqueles que estavam desocupados porque ninguém os tinham contratado. Ao final do dia, todos
recebem a mesma recompensa.
Você que está lendo esse livro muito provavelmente já possui seu perfil nas redes sociais, mas
talvez ainda espere na praça, ocupado nas coisas exteriores que, segundo Santa Teresa21, são a
enfermidade do homem que não tem oração. O Senhor da vinha te chama, ou melhor, já te
chamou para servir na sua vinha, pois você não estaria lendo esse livro se Ele não o tivesse feito.
Como missionários, precisamos “gastar” bem o tempo na vinha, ocupados com as coisas do
Senhor. Uma forma de perceber se estou gastando bem o meu tempo é avaliar quanto tempo
gasto no que é fútil. Mesmo com uma vida cheia e sem tempo para nada, nem para rezar, quanto
tempo gasto antes de dormir atualizando o meu feed, procurando novidades em todas as redes!
Mesmo que já tivesse me programado para dormir sete horas, que infelizmente se tornaram
quatro.
São Josemaria Escrivá, que de forma tão bela fala sobre o espírito de santificação do trabalho,
repete com determinação que a fé cristã se opõe ao conformismo e à inércia interior: “Não
compreendo que te digas cristão e tenhas essa vida de preguiçoso inútil. Será que esqueces da
vida de trabalho de Cristo?”. O tempo escorre, nos planejamos e passamos o dia correndo para
aproveitá-lo ao máximo, mas arriscamos, tantas vezes, desperdiçá-lo com o desnecessário não-
programado.
“Deus quer que os jovens tenham uma missão. A cura da ansiedade e da depressão passa pela
própria missão”, aponta o papa Francisco22. Adoecemos quando vivemos para nós mesmos, pois
o homem não foi somente criado por amor, mas também para amar! Uma vida a serviço do outro
é uma vida cheia de sentido, onde há um sofrimento com fecundidade e uma alegria que não
muda pelas circunstâncias.
Deus quis depender de nós para amar o mundo e demonstrar-lhe o muito que Ele o ama. Se
nos ocupamos muito com nós mesmos, não nos sobrará tempo para os demais23. Por isso, é
necessário que, iluminados pelo Espírito Santo, peçamos a Deus a graça de nos convencer que
nosso valor não está naquilo que fazemos, mas naquilo que somos. E o que mais edifica o Reino
de Deus não é o tempo investido naquilo que posso oferecer com meus talentos, mas sim uma
autêntica opção pela radicalidade evangélica, pelo testemunho de vida, pela santidade.
Para refletir

Há alguns meses perdi uma amiga e irmã de comunidade em um acidente de carro.


Recentemente havia partilhado com ela sobre as realidades pessoais que vinha passando, e recebi
a atenção e a ajuda de que precisava. Pouco tempo depois, a procurei para agradecer o grande
bem que me fez e de como me senti amada por Deus através dela. Que grande consolo é saber,
hoje, que “tive tempo” de lhe agradecer antes de sua morte! Lamentavelmente, só ao entardecer
da vida muitos de nós saberemos o valor do tempo gasto com alguém que amamos.

SEM PERDER O SABOR


Já dissera o Papa Francisco aos jovens sobre não confundir a felicidade com o sofá, de trocar o
sofá por um par de sapatos e sair com Jesus no mundo para contagiar o mundo com a Sua
alegria.
No ambiente virtual, não podemos permanecer em nossos círculos religiosos, precisamos
arriscar, sair de nós mesmo e entrar nos lugares onde estão os mais distantes de Deus. Não se
evangeliza permanecendo em nossas comodidades, é necessário sair da zona de conforto para
evangelizar. São Paulo, para evangelizar, se fez fraco com os fracos, gentio com os gentios (Cf. I
Cor 9,20ss), entrou em muitas cidades pagãs para anunciar o Evangelho.
Mas como se sabe, nem só de coisas boas é feita a internet, nem todas as redes sociais convêm
a um verdadeiro cristão. Alguns sites, aplicativos e novas redes de relacionamento são
claramente imorais. Por isso, se faz extremamente necessário o discernimento que não pode
partir de uma permissividade inocente. Quem aceita a missão de evangelizar nas Redes Sociais
deve arriscar-se, mas aqui a questão se torna bem complexa: Até onde devo ir? Até onde
convém? Se o desejo é evangelizar, tudo vale?
Seguindo o passo do Mestre, tomamos duas indicações; Jesus entra na casa dos pecadores com
uma missão clara dada pelo Pai e somente depois da abertura do pecador.
A necessária abertura do pecador

A premissa para o discernimento é identificar se o ambiente é explicitamente contra os valores


da Igreja. Um ambiente intencionalmente criado para ser satanista ou para incentivar o
compartilhamento de conteúdo imoral, pornográfico, racista, etc, não convém a um cristão.
Querer evangelizar em um lugar assim é como lançar pérolas aos porcos.
O encontro do homem com Deus - apesar de movido pelo Espírito Santo – só pode acontecer
se existe da parte do homem o desejo; sem o desejo livre de “algo” (algumas vezes do próprio
Encontro) esse não pode acontecer. É necessário que Zaqueu humildemente suba na árvore para
que Jesus entre na sua casa. Podemos até dar uma forcinha: “vai lá Zaqueu, vale a pena vê-lo,
sobe!”, mas só ele pode decidir-se e subir.
Para o evangelizador, é necessária também a sadia humildade de deixar ser instrumento. Não
querer planejar excessivamente ou forçar uma experiência, chegando por fim a tomar o lugar do
próprio Deus, que é o primeiro a querer se encontrar com a pessoa. O protagonista da
evangelização (o Espírito Santo) é o único que pode abrir o espaço, seja no coração da pessoa,
seja na inteligência do evangelizador, que vê em uma rede social o espaço para semear o
Evangelho.
A tentação do evangelizador, nesse caso, é de querer semear onde o Senhor ainda não
preparou o terreno e, orgulhosamente, querer prepará-lo com suas forças. Nesse caso, é mais
sadia a oração de intercessão, a súplica ao Espírito Santo.
A compaixão do coração do evangelizador

Por outro lado, é necessário que a missão seja clara para não deixar-se engolir pelo mundo.
Uma tentação que pode nos fazer muito mal é dar a desculpa de evangelizar para dar asas ao
mundanismo pintado de cristianismo dentro de nós. Começamos com a desculpa da
evangelização e terminamos nos mundanizando... Jesus não senta na mesa dos pecadores para
pecar com eles, mas para salvá-los do mal.
É a compaixão que deve mover nosso coração em meio ao mundo. Um evangelizador
compadecido não se sente atraído pelo mundo, antes, só está nele porque se importa com o
sofrimento de quem vive nele, está em missão!
O cristão-mundano é como o sal que não salga mais e que por isso, não serve senão que para
ser pisado. Foi criado para o alto, mas já está tão satisfeito com as recompensas desta terra que
não espera mais a recompensa incorruptível. Um sintoma do evangelizador marcado pelo
mundanismo é o de não querer mais a salvação dos outros, mas somente pensar em si mesmo.
Com pouco tempo já não pensa mais no céu, na recompensa dos santos e termina por preferir o
mundo.
Em resumo: quem aceita a missão de evangelizar nas Redes Sociais deve arriscar-se. Sair de
si: sempre; mas, “entrar” somente onde o Senhor já preparou o terreno. Algumas novas redes
sociais e certos aplicativos de relacionamento querem nos arrastar para o inferno nos oferecendo
o pecado de forma escancarada, às vezes dourando com humorismo, adocicando a sua aparência
para torná-lo mais atrativo. Dessas devemos correr! Não dá para ser sal ali.
Em que lugar, então, não podemos estar? Onde não podemos ser sal. Onde Jesus não entra,
nós também não podemos entrar. Entramos com Ele! E como não podemos sair? Saída, para nós,
é missão! Não se pode sair sem querer ser sal, ou seja, sem ter clareza da nossa missão.

PREZAR PELA PRIVACIDADE


As redes sociais digitais são alimentadas pelos conteúdos que nós mesmos produzimos
diariamente, sem os nossos textos, fotos, vídeos, curtidas e compartilhamentos, elas se
resumiriam a um site de notícias. Por isso, são criadas e atualizadas constantemente para
estimular o compartilhamento: check-in, avaliações de serviços e produtos, selfies, filtros em
fotos, novas funções e novas formas (geralmente interessantíssimas) de compartilhar algo do que
pensamos, fazemos ou onde estamos.
Com a desculpa de personalização, de facilitar a vida do usuário e acelerar os serviços
oferecidos, aplicativos agrupam nossos dados, preferências, opções religiosas e políticas e
conseguem nos dar exatamente o que “precisamos”! Na lógica do Frictionless Sharing
(compartilhamento sem atrito) cada dado e histórico de navegação é armazenado e analisado. Os
assuntos das últimas pesquisas que fizemos, lugares que frequentamos, pessoas que marcadas em
nossas fotos, qualquer clique, tudo se transforma em informação para: tcharam! Parece mágica.
Do jeito que gosto, preferências, lembretes, até as propagandas chegam cada vez mais
personalizadas, o serviço vem aperfeiçoado e se torna exatamente o que estávamos procurando.
Sem que percebamos, aos poucos, um sistema nos conhece melhor que nós mesmos. Por um
lado, nos preocupamos com a nossa privacidade, por outro, gostamos dos serviços, por isso
confiamos cada vez mais informações a um desconhecido. Concordamos com as políticas de
privacidade de uma rede social sem as ler. A sensação de segurança e de comodidade nos faz
utilizar a nossa impressão digital para desbloquear o celular, a treinar a assistente digital com o
meu timbre vocal, permito que identifiquem meu rosto nas fotos e, por isso, o próprio sistema me
taga automaticamente... melhor não continuar para não assustar mais! - brincadeira.
O nosso assunto, porém, vai em outra direção: quanto somos capazes de nos expor não só para
ter um serviço, mas para ter fama. Se por um lado as redes sociais nos pedem para compartilhar
nossos dados, por outros alguns aproveitam a possibilidade para subir no palco e gozar do seu
minuto de fama. A caro preço adquirem followers e likes.
Além do risco evidente de uma vida superexposta é importante avaliar as consequências disso
a nível moral e psicológico. Por vezes, esconde-se uma necessidade doentia de auto-afirmação,
como se a minha auto-estima dependesse dos comentários constantes dos meus followers.
E a questão se agrava quando se atinge o campo moral. Quando a exposição se torna sensual,
maliciosa, egolátrica e narcisista, se é capaz de tudo para não perder o lugar conquistado. O
corpo torna-se um objeto para atrair as pessoas, para garantir likes, para manter a fama. A
privacidade e a vida íntima não existem mais, já dadas em pagamento pelos novos followers.
O apelo constante - quase obrigação - de vender a própria privacidade a custo da fama pode
desenvolver uma geração de narcisistas, pouco capazes de relações sadias, de estima recíproca,
de amizades verdadeiras e duradouras. Trocam as amizades por popularidade, trocam a verdade
da amizade pela bajulação de fans.
A necessária confidencialidade e o espaço sagrado

Para quem deseja habitar as redes de forma sadia, é necessário criar novamente aquele
essencial e sagrado espaço da confidencialidade e da privacidade. Nem tudo precisa ser exposto
nas redes sociais. Algumas coisas da vida íntima são reservadas aos amigos, aos esposos ou a si
mesmo. Mesmo em uma relação conjugal, respeitar espaço de individualidade (não
individualismo) é importante para um sadio desenvolvimento da pessoa. Muito mais no ambiente
virtual, no qual uma infinidade de pessoas tem acesso aos conteúdos que postamos.
Jesus não fala da fama, mas chama atenção até à maneira como expomos as nossas boas obras:
“Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do
contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu.” (Mt 6,1). Ele nos mostra
que algumas coisas, nem mesmo aos mais íntimos, devem ser expostas, mas somente à Deus. É
aqui que a confidencialidade se torna sagrada, porque toca na relação íntima do homem com seu
Criador.
“Para encontrar algo escondido, é necessário que nos escondamos com ele” (São João da
Cruz). Se Deus se encontra em minha alma, é preciso entrar nela para encontrá-lo. E a grande
porta de entrada para o belíssimo Castelo Interior, que é a nossa alma, é a oração íntima, parada,
que só é alcançada quando não existem outras vozes para calar a voz de Deus em meu coração.
Para refletir

Certo dia fui acompanhar minha afilhada, de um ano e meio, ao parque. Ao chegarmos, um
pequeno anfiteatro já estava cheio de crianças esperando uma apresentação de Chapeuzinho
Vermelho e resolvemos assistir um pouco. Em um diálogo entre chapeuzinho e o lobo mau, que
no momento fingia ser um anjo bom da floresta, aparecendo somente a sua voz enquanto ele se
escondia atrás do cenário, ela disse:
- Seu anjo, é muito difícil falar com o senhor sem vê-lo, pois não sei nem em que direção
olhar. (Foi aí que o inimigo deu o bote!)
- Ah não se preocupe, menina, eu vou lhe ajudar me encarnando na forma de um lobo com
cara de mau, mas que é muito bonzinho.
Que surpresa a minha, o pequeno teatrinho se aplica perfeitamente a vida interior! Quantas
vezes, ao rezar, queremos tratar nossa relação com Deus como uma via natural, por isso, o
buscamos fora de nós. Nesse caminho há duas hipóteses comuns, ou nos frustramos e
desanimamos, ou, como chapeuzinho, atribuímos a voz de Deus a outras pessoas, caindo no bote
do “lobo mau”.
A grande chave está em entender que Deus habita dentro de nós! E lá está tão perfeitamente
quanto no céu24. A vida interior é como a floresta do conto, cheia de emboscadas, por isso é
preciso sempre vigiar e confiar na via segura que nos leva ao nosso destino tão esperado: a vida
de oração parada, silenciosa, guiada pela Palavra e sustentada pelo Espírito. Chapeuzinho não
sabia como “enxergar” a direção do anjo, mas nós sabemos!

VIGIAI PARA NÃO CAIRDES EM TENTAÇÃO


Depois de ter feitos muitos milagres e ensinado muitas coisas aos seus discípulos, Jesus os
envia dando instruções de como devem partir em missão e os alerta: “Eis que vos envio como
ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e sem malícia como as
pombas.” (Mt 10,16).
Deus é Luz25, por isso, quem está em união com Ele caminha na luz. Para isso é necessário
preservar-se do mundo, ou - com as palavras do Catecismo da Igreja Católica – lutar contra as
concupiscências. Assim diz São João: “Não ameis o mundo [...] porque tudo que há no mundo –
a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o orgulho da riqueza – não vem do
Pai, mas do mundo”.
O mundo aqui não é entendido como o mundo natural, criado e amado por Deus, muito menos
as pessoas às quais devemos amar. Em São João, como também em São Paulo, o “mundo” é
carregado de valor moral negativo, aquilo que é consequência do pecado, que vive sobre o poder
do Maligno (Cf. Jo 5,19).

Vigiar os olhos

Uma miríade de imagens chega a nós através das redes sociais, fotos, vídeos, conteúdo
interativo, não tem fim. Os nossos olhos são alimentados desde o prazer mais sadio da relação
com a família e com os amigos, passando pela curiosidade insaciável de bisbilhotar a vida dos
outros, da inveja à cobiça das coisas alheias, até aos prazeres mais pervertidos de caráter
pornográfico.
Então, o que fazer? Vigiar! Vigiar os olhos pois “a lâmpada do corpo é o teu olho” (Lc
11,34). Preservar os olhos do mal, fechar a página, passar adiante o filme, cancelar a inscrição!
Não preencher o tempo livre com o “nada”, para não correr a tentação, pois “do olhar nasce o
pensamento, e do pensamento a concupiscência.”26
Se, de uma parte, é necessário fechar os olhos, por outro lado, é necessário abri-los. Não se
alienar, mas alimentar em nós o desejo do bem, da Verdade e da beleza. Com a beleza, com a
arte, com a cultura que elevam o coração, com a leitura da Palavra de Deus ou de um bom livro,
com a contemplação da vida dos santos, com o estupor diante da arte sacra de uma igreja, com a
contemplação da cruz de Cristo, acercar-se daquilo que alimenta a alma.
Da “vã curiosidade” aos apelos da carne

Quantos pecados nascem por nos permitir ver o que não devíamos. Dessa forma, sujamos os
nossos olhos e a nossa alma e nos habituamos com o mal e assim nasce o vício. É desconfortável,
mas é necessário falar do lado escuro da internet, da “deep web”, dos crimes virtuais, tráficos de
drogas, da articulação mal e conteúdos ilegais de caráter pornográfico, racista etc.
Do apelo à curiosidade, da curiosidade ao pecado. A “vã curiosidade” é um tipo de orgulho,
como o do pecado original, que vê no fruto proibido algo de apetitoso e formoso à vista (Cf. Gn
3,6). Se permite de especular no coração se vale a pena ou não o pecado.
Porque não me aproximar? Porque não provar? Porque não clicar e ver no que vai dar? Esse
tipo de pensamento é doentio porque parte do pressuposto que podemos brincar com o pecado,
conhecê-lo para ver se é bom... infelizmente, as sugestões do mau são como uma armadilha da
qual nem sempre conseguimos sair. O pecado se enraíza nos tornando dependentes e viciados.
A facilidade de acesso e um aparente anonimato, unidos aos apelos da carne, podem alimentar
tipos de prazer descompromissados, finalizados em si mesmos, descartáveis e até doentios que,
se tornando vícios, comprometem as relações com os outros. O prazer fácil e centralizado
infantiliza as relações, não nos permite crescer no amor oblativo e sacrificial que suporta a
diversidade e se plenifica na caridade, no acolhimento do outro e no livre sacrifício por amor.
A carne precisa ser apaziguada no verdadeiro amor encarnado. Alimentar os olhos com o
sacrifício de Jesus na Eucaristia é um eficaz meio de purificar as más inclinações da nossa carne.
A adoração Eucarística purifica nosso olhar dos apelos do mundo e da nossa carne e nos ensina o
que é verdadeiro amor. Contemplar Jesus na Eucaristia educa o coração às coisas do alto,
alimenta o desejo do céu mais que as coisas dessa terra.
O narcisista na rede

O orgulho da riqueza também pode ser traduzido por “soberba da vida”. “Deus resiste aos
soberbos, mas concede Graça aos humildes” (Tg 4,6). A soberba é a estima excessiva de si até o
desprezo dos outros. O soberbo se considera melhor que os outros porque atribui a si aquilo que
pertence a Deus. É a tentação da serpente à Eva no paraíso: “sereis como deuses”.
Nas redes o soberbo é o tipo narcisista que pensa somente em si mesmo e como atrair as
pessoas para si. É fácil percebê-lo pelo tipo de foto que posta, expondo sensualmente o corpo,
esperando os elogios ou o reconhecimento de afirmação social; a ele agrada mostrar-se em
condições – sociais e econômicas - acima das suas para ser reconhecido como rico ou avantajado
socialmente; o vício se torna tenebroso quando é vinculado à mentira.
Com a mentira começa-se a desvincular a vida das relações virtuais até nos tornarmos inábeis
as relações da vida ordinária que não podem ser photoshopadas. A intenção principal é parecer
superior e provocar inveja nos outros. A postura está ligada ao mundanismo que é basicamente
deixar-se guiar pelo espírito deste mundo, querer receber nesta terra a nossa recompensa,
exatamente o contrário daquilo que Jesus nos diz (Cf. Mt 6).
Mais sutil é o orgulho em forma de vaidade que é muito estimulada a causa da própria
linguagem do meio: followers, curtidas, inscritos na página, comentários sobre mim... Não
significa que a esta linguagem somente gere o pecado, mas que esta pode transformar a alegria
do “obrigado” gratuito na dependência das curtidas dos meus seguidores.
O remédio para o orgulho é a humildade! E, de acordo com Santa Teresa d’Ávila, “Humildade
é andar na verdade diante da própria Verdade”27. Humildade não é fruto de um esforço humano,
o que seria presunção. A humildade é – na oração - reconhecer a verdade de quem somos e de
quem Deus é.
Não precisa de muito esforço, só de coragem. Uma verdadeira experiência com Deus (a
própria Verdade) nos faz perceber a Sua grandeza e a nossa fragilidade, os nossos numerosos
pecados e a Sua infinita misericórdia. Uma boa confissão mensal sincera nos ajudará muito a
encontrar o nosso lugar. Não nos custará renunciar aos prazeres mundanos da internet quando
descobrirmos que, o que renunciamos, comparado a grande missão que temos, não era mais que
esterco (Cf. Fil 3,8).
Até aqui conversamos um pouco sobre como habitar no mundo virtual, lhe apresentamos
alguns desafios e tentações presentes nas redes sociais digitais. Tendo como meta a santidade, e
sabendo que a humildade é a chave que abre os tesouros do céu e nos conduz às demais virtudes,
te convidamos a rezar conosco a Ladainha da Humildade. Para quem luta – como nós - contra o
orgulho, vale a pena meditar com essa maravilhosa oração antes de prosseguir para a segunda
parte deste livro.
Se for muito duro, pode começar com a meditação da vida de Jesus, que sendo Deus se abaixa,
se encarna e lava os pés dos seus discípulos. Se Ele fez assim, o que deveríamos fazer nós?
Ladainha da humildade

Senhor, tende piedade de nós


Cristo, tende piedade nós.
Senhor, tende piedade de nós
Jesus manso e humilde de coração: ouvi-nos.
Jesus manso e humilde de coração: atendei-nos.
Jesus manso e humilde de coração: fazei o nosso coração semelhante ao Vosso.

Do desejo de ser estimado, livrai-me, Jesus!


Do desejo de ser amado, livrai-me, Jesus!
Do desejo de ser procurado, livrai-me, Jesus!
Do desejo de ser louvado, livrai-me, Jesus!
Do desejo de ser honrado, livrai-me, Jesus!
Do desejo de ser preferido, livrai-me, Jesus!
Do desejo de ser consultado, livrai-me, Jesus!
Do desejo de ser aprovado, livrai-me, Jesus!
Do desejo de ser adulado, livrai-me, Jesus!

Do temor de ser humilhado, livrai-me, Jesus!


Do temor de ser desprezado, livrai-me, Jesus!
Do temor de ser rejeitado, livrai-me, Jesus!
Do temor de ser caluniado, livrai-me, Jesus!
Do temor de ser esquecido, livrai-me, Jesus!
Do temor de ser ridicularizado, livrai-me, Jesus!
Do temor de ser escarnecido, livrai-me, Jesus!
Do temor de ser injuriado, livrai-me, Jesus!

Que os outros sejam mais amados do que eu – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!
Que os outros sejam mais estimados do que eu – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!
Que os outros possam crescer na opinião do mundo e que eu possa diminuir – Ó Jesus,
concedei-me a graça de desejá-lo!
Que aos outros seja concedida mais confiança no seu trabalho e que eu seja deixado de lado –
Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!
Que os outros sejam louvados e eu esquecido – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!
Que os outros possam ser preferidos a mim em tudo – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-
lo!
Que os outros possam ser mais santos do que eu, contanto que eu pelo menos me torne santo
como puder – Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo!

Ó Maria, Mãe dos humildes, rogai por nós!


São José, protetor das almas humildes, rogai por nós!
São Miguel, que fostes o primeiro a lutar contra o orgulho e o primeiro a abatê-lo, rogai por
nós!
Ó justos todos, santificados a partir do espírito de humildade, rogai por nós!

ORAÇÃO: Ó Deus, que, por meio do ensinamento e do exemplo do Vosso Filho Jesus,
apresentastes a humildade como chave que abre os tesouros da graça (Cf. Tg 4,6) e como início
de todas as outras virtudes – caminho certo para o Céu – concedei-nos, por intercessão da Bem-
Aventurada Virgem Maria, a mais humilde e mais santa de todas as criaturas, aceitar
agradecendo todas as humilhações que a Vossa Divina Providência nos oferecer. Por N. S. J. C.
que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém.
Para refletir

Faça neste momento um exercício, dê uma pausa na leitura e responda em seu coração:
Quanto tempo gasto diariamente na internet? O que me motiva a estar nas redes sociais? Qual a
mensagem predominante no conteúdo que tenho postado? Seja sincero consigo mesmo e permita
que Deus, iluminando a sua consciência, lhe dê uma nova chance de viver a vida maravilhosa
que Ele planejou desde toda a eternidade para você. “Oxalá consigas identificar a palavra, a
mensagem de Jesus que Deus quer dizer ao mundo com a tua vida”.28
Como se
relacionar nas redes
Como se relacionar nas redes

“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” (Jo 13,35)
Após a criação do homem, no livro de Gênesis, Deus diz: “Não é bom que o homem esteja
só!” (Gn 2,18). O homem foi criado para a relação. Um ser criado à “imagem e semelhança” da
Trindade – que é relação de amor – não poderia ser ontologicamente relacional; nós não nos
realizamos em nós mesmos, mas no amor. O Deus que professamos é Trindade, é relação de
amor, um mesmo Deus em três pessoas que se doam e se acolhem reciprocamente.
Ser “pessoa” significa reconhecer-se “eu” - único e irrepetível - diante do Outro e dos outros.
Existencialmente percebemos que existe um “Tu” divino que, por amor, nos cria e que deseja se
relacionar conosco. No início de tudo, o Senhor se relaciona com Adão como quem é íntimo,
Adão escuta os passos de Deus no jardim ao cair da tarde. Deus dá a Adão mais que a natureza e
os animais, lhe dá um auxílio indispensável “ossos dos seus ossos e carne da sua carne”, lhe dá
um “tu” horizontal para a relação.
É na relação com o outro que Jesus nos chama a concretizar a vocação à vida cristã presente
no novo mandamento: “amai-vos uns aos outros”. Não pode existir um amor finalizado em si
mesmo, é nas relações que os outros reconhecerão os discípulos de Jesus (Cf. Jo 13,34-35). As
virtudes se manifestam nas relações!
Estar nas redes significa, de modo concreto, se relacionar. As redes são sociais, logo,
relacionais! Isso quer dizer que os meios de comunicação são instrumentos a serviço do homem
e do bem comum, meios e não fins29.
As relações horizontais, porém, não podem prescindir daquela vertical: a relação autêntica
com Deus, na qual O conhecemos e conhecemos a nós mesmos. Uma relação interpessoal sem
autoconhecimento – que nasce da relação com Deus - corre o risco de se tornar competição,
comparação, carência afetiva, apego, etc. E dificilmente resultará em uma sadia e bela amizade.
Na oração, lugar da relação com Aquele que nos quer seus amigos, é alimentada também a
certeza de sermos profundamente amados. O olhar amoroso de Jesus na oração nos livra do
narcisismo, de mendigar amor, de suplicar likes, de buscar a fama por si mesma... em síntese,
nos livra da escravidão do algoritmo das redes sociais, que nos estimula – e às vezes condiciona
– a fazer o que não queremos, mesmo as coisas mais ridículas, em busca do prazer e do “amor
egoísta”.

APRENDENDO A DISCUTIR NA INTERNET


O que fazer quando, no continente digital, me encontro com opiniões diferentes? Às vezes
vemos jovens que, na intenção de evangelizar, se põem em conflitos enormes, travam discussões
que não levam a nada e ainda se expõem a situações constrangedoras. Na intenção de levar a luz
para onde há treva (Cf. Mt 5,14), terminam esquecendo de manter a lâmpada acesa com o óleo
da caridade e, por causa da escuridão - na qual agora também se encontram - erram o alvo.
Em tempos de redes sociais, o direito a “liberdade de expressão” torna-se quase absoluto. Essa
sensação de liberdade é causada pelo “poder de fala”30, que nos é possibilitado e potencializado
através das redes. O que antes era exclusivamente papel do jornalista, formador de opinião ou do
crítico, se torna intercambiável pelo do leitor. Hoje qualquer pessoa, dentro das suas
possibilidades, pode ser um influenciador de grandes ou pequenos nichos, o que antes se
resumiam aos núcleos familiares e amigos mais próximos.
Nesta perspectiva encontramos dois problemas que se apresentam como mais relevantes: O
primeiro, não saber administrar essa liberdade. E o segundo, não termos consciência desse poder
de fala. Movidos de impulsividade, muitas vezes opinamos, fotografamos, damos enter antes de
colocar o filtro. Não o filtro do instagram, mas o de pensar no objetivo da nossa mensagem, pois
desde as coisas mais túpidas até as opiniões mais interessantes, tudo tem a mesma força em
nosso feed de notícias.
Querer que todos concordem com nossas ideias ou tenham nossa mesma interpretação sobre
aquilo que “despejamos” na internet seria incoerência de nossa parte. Por isso, diz o santo padre:
“Precisamos dos pensamentos e das perspectivas dos outros, especialmente se eles nos dizem
algo diferente, algo novo para nós”31. Devemos, assim, ter consciência do poder de difusão das
redes para saber administrar a liberdade e saber dialogar com o diferente, tarefa essencial para
quem quer evangelizar na internet.
As novas comunidades on-line complementam e ampliam a comunicação real. Estão
justapostas, e não em oposição. Não é possível ser um ministro e discípulo da paz no cotidiano e
fomentar discórdia e desunião na internet ao mesmo tempo. Não é por acaso que a coerência de
vida é uma das marcas do ministério de Cristo. A coesão entre o que vivia e pregava lhe dava
autoridade espiritual e moral em seus ensinamentos, o que era reconhecido até pelos fariseus que
o julgavam. A evangelização não é provar a Verdade a todo custo suscitando discussões
intermináveis, mas, antes, demonstrá-la com sua coerência de vida, dentro e fora das redes
sociais.
O Magistério da Igreja, em sua sabedoria, nos apresenta como uma das sete obras de
misericórdia espirituais “suportar com paciência as fraquezas do próximo”. Há sempre um irmão
muito caridoso que, em algum momento do nosso dia, nos dá a chance de praticá-la, não é
mesmo? E como nos é custoso aplicar essa obra, tendo em vista que ela é uma exigência tão
encarnada em nosso cotidiano, seja no núcleo familiar, no trabalho, ou na faculdade.
Normalmente, não somos educados para as contrariedades. Nossas relações desde a infância
são filtradas, escolhemos nossos amigos, grupos sociais e até nos aproximamos dos familiares
que mais se adequam ao nosso estilo. Escolhemos por proximidade de idade, de gostos, de
preferências, e é normal que seja assim! A própria Igreja cresce por atração. Porém, de todo
modo, logo encontraremos divergências e, se não formos capazes de superá-las, ficaremos
sozinhos.
Quando busco apenas pessoas que pensam exatamente como eu - e desse modo meu propósito
sou eu mesmo, reafirmar minhas próprias ideias e convicções - perco a oportunidade crescer ou
de, pelo menos, exercitar a caridade convivendo, em harmonia, com outros tipos de educação,
culturas e valores. Uma das características do amor é a paciência (Cf. 1 Cor,13), por isso, não há
como praticar misericórdia para com as diferenças e fraquezas do outro sem essa grande virtude.
A Sua graça me ensina a suportar até o insuportável!
Na internet, assim como em nossas relações presenciais, ninguém pode ser obrigado a
concordar com o que o outro pensa ou diz. Discordar é totalmente normal e até saudável, o
problema surge quando nos enrijecemos, nos fechamos, não escutamos, não queremos mais
acolher, não nos abrimos à possibilidade de mudar e perdemos a capacidade de dialogar.
Diálogo não é:
- Bancar o politicamente correto, que simplesmente concorda para não gerar conflitos;
- Ser indiferente, aquele que simplesmente ignora o ponto de vista da outra pessoa;
- Mostrar-se superior, buscando a palavras mais difíceis ou termos técnicos para colocar o
outro em situação de desconforto;
- Apelar contra o emissor, que é uma falácia na qual se ignora o conteúdo e se ataca a pessoa
para que, desmoralizando-a, se chegue a vitória no discurso.
Um sadio diálogo é rico em conteúdo e relação. Dialogar é reaprender a discutir no sentido
bom da palavra, é a capacidade de respeitar os vários pontos de vista. É aceitar a opinião
diferente sem querer mudá-la. A evangelização se utiliza do discurso racional, mas se dá,
sobretudo, com o testemunho.
Parece que a geração digital está perdendo a capacidade de dialogar. Verdade? Não podemos
afirmar. O que sabemos é que ela pode, influenciada pelo “prazer” do próprio feed, tornar-se
desacostumada ao encontro inevitável com o desagradável e o desprazeroso, e correr para a
idolatria da vida online como uma rota de fuga.
A internet e as redes sociais, em especial, foram inteligentemente projetadas para nos oferecer
somente o que nos dá prazer. O objetivo dos algoritmos, cada vez mais sofisticados, é aumentar
o nosso tempo online. Para isso, é matematicamente projetado para nos mostrar somente o que
gostamos, para nos sugerir novos amigos, produtos, comidas e até opiniões que são mais
parecidas com as nossas.
A vida off-line - graças a Deus! - não segue a mesma lógica. Por mais que tentemos uma vida
feita somente de momentos agradáveis, somos obrigados a viver também situações
desagradáveis, constrangedoras, estar com pessoas que não queremos estar... Por várias vezes,
nessas situações de desconforto social, corremos imediatamente para o nosso idolátrico feed.
Pegamos o celular e em um instante saímos daquela situação a uma outra, projetada
“especialmente para mim”.
O risco, aqui, é de nos tornarmos incapazes de nos relacionar com os outros, de nos tornarmos
quase socialmente inábeis, e de perdermos essa capacidade de caridosamente suportar os mais
difíceis. E de perdemos, também, a oportunidade de crescer que nos é dada nas adversidades.
A maior parte do processo comunicativo não é feito por palavras, mas sim pela entonação
vocal, expressões e linguagem corporal. Logo, com frases resumidas e pouca preocupação com
regras gramaticais, erros de interpretação na linguagem da internet tornaram-se comuns. Aí,
talvez, se explique a popularização dos emojis como ferramenta de expressão. A força do hábito
nos faz querer muitas vezes, ao escrever este livro, colocar alguns emojis para expressar o tom
com no qual escrevemos.
Mas, apesar de as mensagens instantâneas serem muito úteis em nosso cotidiano, elas nunca
substituirão o diálogo presencial. Conheço pessoas que, mesmo tendo a oportunidade de dialogar
pessoalmente, preferem fazê-lo por mensagem, como se tivessem medo do confronto e
exposição. Como cristãos, devemos nos apropriar do que a internet nos possibilita de melhor,
mas nos reeducarmos ao diálogo sincero e caridoso face a face, que pode parecer mais difícil,
mas é muito mais sadio, pois nos leva de encontro a Verdade sem filtros.

Um inimigo comum

Quando não é a linguagem o problema, mas a própria divergência, é necessária recordar a


nossa regra de ouro: “ama teu próximo como a ti mesmo”. A caridade precisa reinar nas relações
cristãs, ela é como uma lâmpada que deve iluminar tudo o que pensamos e fazemos. No escuro é
difícil acertar o alvo, mas sabemos bem quem é o nosso inimigo comum: o inimigo de Deus, o
demônio.
Quando temos clareza que o nosso inimigo é comum, não tem porque lutarmos uns contra os
outros. A regra vale até quando o assunto é a fé. O outro, por mais diferente que seja, busca o
mesmo que eu: a Verdade. E como diz Edith Stein: “Quem procura a verdade procura Deus,
ainda que não o saiba”.
No Evangelho, em forma de parábolas, Jesus nos ensina a nos relacionar com o diferente de
nós. Uma das mais conhecidas, a do bom samaritano (Lc 10,2937), é um ótimo exemplo. O
diferente de mim, aparentemente, o bêbado, ou o ladrão, é na verdade o alvo do amor de Deus e,
em consequência, do meu amor.
O próximo a mim, ensina-nos Jesus, não é aquele que pensa como eu penso ou vive como eu
vivo. O próximo é aquele de quem eu me aproximo para cuidar, fazer o curativo e lavar as suas
feridas; e torno-o meu próximo agindo com misericórdia. Esta talvez seja a resposta mais de
acordo com o Evangelho: o outro é alvo da (minha) misericórdia.
A evangelização pelas redes sociais deve ser propositiva e dialogal. O diálogo é o novo nome
da caridade32. Precisamos nos colocar em diálogo, sem medo, com aqueles que são diferentes de
nós. Quando me torno próximo, derrubo um muro que me separava e, com o mesmo tijolo,
construo uma ponte. Assim, mesmo virtualmente, o outro se sente em casa e se abre para
conhecer aquele que está conectado com ele, ou seja, construindo a ponte. Torno a minha vida
acessível e a evangelização mais fecunda, porque esta não se dá somente através das palavras,
mas acima de tudo, insistimos, pelo testemunho.
Então, quando for se relacionar no continente digital, não esqueça:

a. O nosso inimigo comum é o demônio, não nosso irmão.


b. O diferente, mesmo muito diferente, tem o mesmo desejo que eu, mesmo que não saiba: a
Verdade, que é Deus!
c. Se for discutir, não esqueça de manter a lâmpada da caridade acesa, assim, você não corre o
risco de ficar no escuro e errar o alvo.
d. Mais que criticar, proponha, crie pontes.
e. Seja sempre um sinal de Deus para os outros, sendo uma expressão da misericórdia.
Para refletir

Conheço uma jovem que ama aprender línguas e conhecer novas pessoas, tem o dom de fazer
amizades. Refletindo sobre como ela poderia partilhar sua fé com os outros, viu que poderia
fazê-lo unindo essa sua habilidade através da internet. Escolheu, então, alguns sites de
intercâmbio linguístico nos quais pode encontrar pessoas - sobretudo jovens – de todo o mundo
para praticar conversação em língua inglesa. Um dia atualizou o seu perfil com a seguinte frase:
“Christ is the best choice that I have ever made” (Cristo é a melhor escolha que eu já fiz). Essa
foi a sua desculpa para que vários “amigos online” lhe perguntassem o porquê, e essa foi a
oportunidade de explicar, com a sua vida, o motivo da escolha por Ele e por quê esta escolha foi
a melhor que já havia feito na sua vida.
Não há maior beleza do que Cristo, nem vida mais bela que uma vida cristã coerente. Por isso,
nada mais atrativo que propor uma vida que verdadeiramente completa, que preenche o vazio.
Em todos nós há uma atração por aquilo que é belo.

VALORIZAR O PRESENTE NA ERA DO MULTITASKING


A velocidade das conexões na internet quase nos obriga a viver na mesma velocidade, é como
se não conseguíssemos mais fazer uma coisa de cada vez. A invenção das abas nos browsers caiu
como uma luva. Não consigo imaginar como podíamos navegar na internet abrindo uma página
de cada vez, no máximo duas ou três. Essa capacidade de ser multitasking enlouquece as
gerações passadas que nunca conseguem entender como “esses jovens de hoje conseguem fazer
tudo ao mesmo tempo”.
Em uma aba o e-mail, na outra o facebook, na outra o twitter, na outra uma notícia que
comecei a ler e parei na metade para ver aquele link que apareceu, que me jogou nessa outra
página que estou lendo agora. Opa! Alguém me chama no whatsapp, respondo, volto para a
página que estava lendo mas, antes, vejo as atualizações no feed do Instagram, hum... vou ver
bem rapidinho esse link. E aí... Quando me dou conta, tenho pelo menos 10 abas no meu browser
e vários apps abertos ao mesmo tempo no celular.
Esses hábitos integram nosso dia a dia, ao ler este livro muito provavelmente você está
conectado a outros dispositivos. O multitasking nos faz viver em um ritmo super acelerado, mas,
ao mesmo tempo, aproveitar muito pouco de tudo o que vivemos. Esse ritmo de vida acelerado
traz consigo, muitas vezes, uma verdade que escondemos de nós mesmos: nos sentimos
perdendo tempo quando fazemos uma coisa só de cada vez. E aqui está um grande risco!
Para refletir

Certa vez, ao sair para jantar, reparei em duas jovens famílias que sentaram ao meu lado no
restaurante. A primeira era composta pelo pai, mãe e uma criança que parecia ter três anos, cada
um gastava seu “tempo em família” com seus aparelhos móveis. Estavam cansados e estressados,
a começar pela filha, que não conseguiu comer nada e chorou até os pais desistirem do “passeio”
e irem embora. A segunda família, muito semelhante à primeira, chegou logo depois e sentou-se
- por coincidência - no mesmo lugar. Ao contrário da primeira, conseguiam gozar do prazer de
estarem juntos. Eles conversavam olhando nos olhos e a pequena, muito sapeca, ficou super
orgulhosa ao poder fazer ela mesma o pedido ao garçom.
Essas duas famílias me fizeram lembrar de uma canção. Se você é brasileiro e nasceu antes
dos anos 2000, certamente conhece o Pe. Zezinho, um dos primeiros sacerdotes no País a adotar
a música e os meios de comunicação como instrumentos de evangelização. Suas composições
tocaram muitas pessoas por gerações, trazendo nelas episódios da vida cotidiana, muitos deles
frutos de sua infância simples no interior de Minas Gerais. Uma das mais famosas, Utopia, traz
uma estrofe comovente, referindo-se ao seu pai: “Faltava tudo, mas a gente nem ligava, o
importante não faltava, seu sorriso, seu olhar”.
Quantos belos momentos perdemos por não valorizar o momento presente, movidos pela
necessidade de produtividade herdado por nossa geração! Inconscientemente, trazemos o
ativismo como um valor: eu sou aquilo que eu produzo; o que produzo é (unicamente) o sustento
para mim e minha família; a melhor herança que posso deixar para os meus filhos é o máximo
conforto e o melhor colégio.
As novas tecnologias estão mudando não só o modo de comunicar, mas a própria
comunicação em si mesma33. Pais e filhos deixam de se comunicar pessoalmente e passam a
interagir mais por mensagens instantâneas do que pessoalmente. Facilmente trago à memória
situações em que escolhi, por falta de liberdade interior ou respeito humano, dizer um “te amo” à
minha mãe por mensagem ou rapidamente, antes de desligar o celular, mas dificilmente “olho a
olho”.
O que acontece aqui é que as relações nas redes sociais são intermediadas por equipamentos
eletrônicos, isso significa que algo é colocado no meio para facilitar a relação entre duas pessoas,
o que não seria necessário se fosse possível o contato visivo-corporal. Precisamos revalorizar a
capacidade de relação sem a mediação.
Cada vez temos também menos tempo para a reflexão. A velocidade da informação supera a
nossa capacidade de reflexão e discernimento, e não permite uma expressão equilibrada e correta
de si mesmo. Mesmo conectados com diversas pessoas, nos desconectamos de nós mesmos.
Uma solução que lhe apresentamos é: aprender a utilizar conscientemente as oportunidades
que a tecnologia nos dá. A troca de mensagens em texto, áudio, fotos e vídeos, compartilhamento
de arquivos e tantas outras funcionalidades é incrível porém, essa possibilidade pode tornar-se
um risco quando utilizo o recurso como uma fuga. Mantenho relação com pessoas pelo whatsapp
e desejo encontrá-las, mas quando as encontro, me esqueço de aproveitar aquilo que nenhum
sistema será capaz de me dar: a presença.
Reaprender a estar presente

Revalorizar o momento presente é uma tarefa urgente. Esforçar-se por fazer uma coisa a cada
momento pode ser um exercício mais difícil do que imaginamos, mas necessário para nos
relacionarmos sadiamente no ambiente virtual e com as novas tecnologias.
No processo de canonização do Papa São João XXIII, me impressionou que nos seus escritos
desde os 15 anos de idade escreve claramente os seus quatro propósitos de santidade: “Eu renovo
o propósito de me tornar santo, e assim o farei, por meio de quatro pontos que me proponho a
viver: espírito de união com Cristo, recolhimento do coração, recitação do rosário e estar
inteiramente presente em cada ação”.
Estar inteiramente presente em cada ação pode ser uma grande luz para nós, que vivemos
nessa geração do multitasking. Dar tudo de si em cada coisa que fazemos pode ser o caminho
mais inteligente e mais santo. Estar presente com os meus amigos quando os tenho por perto,
com minha família quando estou em casa, com Deus quando estou rezando.
Nós, jovens dessa geração, mesmo sobre o risco da “cultura do descartável”, trazemos no
coração uma grande sede pelo que é eterno. Esse paradoxo esconde a verdadeira sede: por trás da
utilização cada vez maior de meios de comunicação virtual está a contínua busca por relações
humanas.
Queremos registrar todos os melhores momentos, porque registrados, parecem que se tornam
eternos. Sabemos que é importante compartilhar os fatos marcantes em nossa vida, porém, só
estando presentes naquele momento podemos fazê-lo importante de verdade. A foto do lazer com
os amigos só vai ser importante para mim na medida em que a convivência com eles tiver sido
agradável e “inesquecível”, ou aquela foto pode não representar nada!
O desejo pelo eterno se potencializa também quando são apresentadas tantas “soluções” de
felicidade, mas que não nos saciam. Muitos de nós buscam na mídia a identificação ou a resposta
para certos desejos intangíveis. É como se, morrendo de sede, alguém oferecesse água salgada; é
água, mas não sacia nada, ao contrário, só aumenta a nossa sede. Assim, somos obrigados a
escolher o provisório, mesmo que desejemos o eterno.
Quantas vezes já ouvimos pessoas que diante de escolhas importantes, como a vida
consagrada ou o discernimento do próprio estado de vida, se sentem ameaçadas pela “cultura do
provisório”? O matrimônio fiel e duradouro desaparece do horizonte de possibilidades porque é
para sempre. Ludibriados pelas seguranças econômicas, transmitimos aos nossos filhos a sua
futura falência antes mesmo de tê-lo começado: só case quando tiver sua própria casa pois, se
não der certo, é ele(a) quem tem que sair!
Quem não sonha em chegar à idade adulta com esposa, filhos, amigos queridos perto de si, e
curtir a terceira idade com os netos e com uma família numerosa e cheia de amor? Mas que
escolhas fazemos para isso? Estamos desacreditados do eterno e, por isso, desacreditamos de
escolhas definitivas. Aos poucos, criamos nossos próprios esquemas mentais que nos aprisionam
e impossibilitam de escolher aquilo que desejamos. Pode-se escutar comumente diálogos desse
tipo:
- Esse relacionamento é sério mesmo, para sempre?
- Sim, quero que seja!
- E por que você não se casa?
- Sei lá, vai que não dá certo.
Ainda resta o desejo, mas a esperança parece que escapa das mãos como areia por entre os
dedos. Em tempos líquidos, é preciso combater essas tentações construindo o nosso presente
sobre a rocha, semeando no cotidiano para colher os frutos saborosos e sadios que servirão para a
eternidade. A eternidade se constrói em um presente edificado sobre a Vontade de Deus!

RELAÇÕES PHOTOSHOP
Sinto-me motivado pelo recém lançado filme dirigido por Steven Spielberg “Ready Player
One: Jogador nº 1” para falar sobre as relações no mundo virtual. O filme se desenrola do ano de
2045 em um mundo totalmente devastado, casas feitas por containers presos em andaimes, lixo
eletrônico por toda parte e pessoas que passam a maior parte do seu dia em um mundo paralelo,
o Oasis. As pessoas se apresentam praticamente decepcionadas com o mundo que vivem, por
isso, preferem se comunicar através dos seus avatars que ganham vida no ambiente virtual.
Não sei se podemos forçar a barra para dizer que o mesmo acontece atualmente nas redes
sociais. Acho que seria um pouco exagerado, mas uma coisa que podemos colher deste super
filme, para o nosso assunto tratado, é a forma como unimos nossos relacionamos on-line e off-
line.
Se você já assistiu o filme acima mencionado certamente percebeu a resistência de
Samantha(Olivia Cooke) - personagem principal - de ser conhecida como é fora do jogo, ou seja,
na vida real. Ela tem medo de se apresentar como realmente é, então prefere permanecer na
virtualidade. Nas redes sociais, para sadios relacionamentos, a melhor coisa a fazer é não
considerá-las como um mundo paralelo, pois não o são.
As redes devem ser consideradas em complementariedade com o mundo físico porque
mostram somente uma parte deste. Nas redes - normalmente - não se mente, simplesmente se
omite o que não é de nosso interesse que seja visto. Por isso, escolhemos a foto do nosso lado
fotogênico, dos momentos mais felizes, das roupas mais bonitas e dos lugares mais legais que
visitamos. A vida ordinária, porém, é bem diferente. É feita também de adversidades, de
contrariedade, de defeitos... nela não se pode usar o photoshop.
Alertamos, então, para as relações que se baseiam no padrão do photoshop que não existe. A
barriga da modelo, os cabelos da propaganda de shampoo, o sorriso perfeitamente simétrico no
cartaz da pasta de creme dental não existem! Eles foram editados no computador. Da mesma
forma, a vida aparentemente perfeita apresentada no feed dos seus amigos nas redes sociais pode
ser bem diferente daquilo que você vê.
Dizemos isso para evitar que entrem em depressão tantos jovens que, acostumados a se
relacionar pelas redes, tendem a fantasiar seja um modelo de beleza, seja um padrão de vida que
não existe. Se tem a impressão que todo mundo vive melhor que nós mesmos, que todos são
mais belos que nós mesmo, por isso estamos sempre insatisfeitos em busca de um ideal
inatingível. A verdade é que na vida concreta, precisaremos encarar as nossas fragilidades,
nossos limites, nossas fraquezas.
Por outra parte, queremos que fique claro que é necessário coragem para construir verdadeiras
e profundas amizades, duradouras que não se restringem aos momentos de alegria, que vão além
da imagem que criamos e compartilhamos de nós mesmos nas redes sociais. O verdadeiro amigo
está sempre disposto a acolher o outro como ele é, por isso favorece a liberdade e não aceita
máscaras. Porque ama, prefere sofrer pela verdade, trazer para a luz, do que construir uma
relação de açúcar.
A vida é composta também por momentos de dor, pela fadiga da caridade, pelo humilde
perdão dado e recebido, pela correção fraterna. Uma sadia conexão, então, é necessária para que
as redes não comprometam as nossas relações, mas as potencializem na caridade.
Para refletir

Dê uma pausa novamente na leitura e se avalie de acordo com o que leu até aqui. Como
dissemos anteriormente, as relações horizontais não podem prescindir da vertical: a relação
autêntica com Deus, na qual O conhecemos e conhecemos a nós mesmos. Sou coerente com
aquilo que vivo e prego? Tenho alimentado minha vida de oração antes de evangelizar? Uso as
redes sociais desordenadamente, como uma fuga para os problemas que enfrento? As minhas
relações virtuais tem suprimido ou acrescentado em minhas relações presenciais? Que pela
intercessão de São João Paulo II, e com o auxílio do Espírito Santo, possamos aprender a ser
amigos de Deus e dos homens.
Como comunicar:
Alegrai-vos e exultai!
Como comunicar: Alegrai-vos e exultai!

“Antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te
consagrei, Eu te constituí profeta entre as nações” (Jer 1, 5)
É impossível não comunicar!34 Comunicação não é somente linguagem verbal, por isso,
mesmo quando não falamos nada, comunicamos. Para comunicar a vida divina Deus se encarna.
Em Jesus – o Verbo Divino – tudo é comunicação do Deus Amor. Da mesma forma, Ele nos
chama a comunicar a Sua vida não somente em palavras, mas através da caridade: “nisto todos
conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,3.).
Assim, somos todos comunicadores, comunicamos o tempo todo. Cabe a nós usar do
privilégio de comunicar a Verdade, a verdade acerca de Deus, do homem e do destino do homem
revelado no Verbo que se fez carne e habita no meio de nós35. Graças à mensagem que temos a
comunicar e ao mandato recebido do nosso Senhor - Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a
toda criatura (Cf. Mt 6,15) - nos tornamos mais que comunicadores, nos tornamos
evangelizadores.
Grandes comunicadores são os santos que estampam no rosto o sorriso contagiante, próprio
daqueles que amam a Deus. Quantos santos – sobretudo os mais atuais – são recordados com o
sorriso constante no rosto. São deles os “belos pés do mensageiro que anunciam a paz” (Is
52,7). Certamente não pelos pés em si, mas pelo conteúdo do anúncio que eles carregam: A
felicidade, a paz!
Não é por acaso que o Papa Francisco, em sua exortação apostólica sobre o chamado à
santidade no mundo atual, começa com um apelo: Alegrai-vos e exultai36! “O mau humor não é
sinal de santidade”, nos diz o Pontífice, afirmando que a tristeza tem a ver com a ingratidão e
com o estar fechados em nós mesmos. Mas ao contrário disso, o “santo é capaz de viver com
alegria e senso de humor”.
Em uma entrevista a um jornalista italiano37, o Papa Francisco conta o seu segredo para estar
sempre cheio de alegria: rezar todos os dias uma prece escrita por São Tomás Morus, chamada a
Oração do bom humor. Se queremos ser bons comunicadores, vamos rezá-la também:

Senhor, dá-me uma boa digestão


e também alguma coisa para digerir.

Dá-me a saúde do corpo


e o bom humor necessário para mantê-la.

Dá-me, Senhor, uma alma santa,


que faça tesouro daquilo que é bom e puro,
a fim de que não se assuste pelo pecado,
mas encontre na Tua presença
um jeito de colocar as coisas no lugar.

Dá-me uma alma que não conheça o tédio,


os resmungos, os suspiros e os lamentos,
e não permitas que me crucifique demais
por essa coisa tão intrometida
que se chama “eu”.

Dá-me, Senhor, o senso do bom humor,


concede-me a graça de compreender uma brincadeira,
para descobrir na vida um pouco de alegria
e levá-la também aos outros.

Assim seja.

COMUNICAR A VERDADE EM TEMPOS DE FAKE NEWS


Fake news é um neologismo para “notícias falsas”. Mais que notícias “inocentemente
errôneas” as fake news são criadas com uma intenção muito específica de denegrir a imagem de
alguém ou de uma instituição, por isso vão na ordem inversa da verdade. É claro que esse
fenômeno não é recente, recente porém é a sua popularização que às vezes passa não pelos
grandes meios de comunicação, mas pela manipulação dos simples usuários que, nas redes
sociais, viralizam esse tipo de conteúdo.
Por parte de quem produz uma fake news, este incorre em pecado grave contra o oitavo
mandamento e contra o direito natural da boa reputação reconhecido pelo Código de Direito
Canônico (Cf. can. 220). Sendo um jornalista o pecado se agrava porque também vai contra o
juramento feito perante a sociedade de exercer a sua profissão se comprometendo com a verdade.
Esse também é um tipo de corrupção.
Da parte de quem as divulga, se é por ignorância, o conselho que damos é a prudência e os
outros mais que ainda falaremos a seguir; se é por malícia, partidarismo, interesse político ou
religioso, peca e deve buscar confessar o seu próprio pecado e emendar-se, buscando restituir à
pessoa a boa fama que lhe é devida.
Para refletir

Sobre o pecado da fofoca, São Felipe Néri é protagonista de uma história maravilhosa.
Ao atender confissões em sua paróquia, uma senhora o buscou dizendo que cometia o pecado
de falar mal do próximo e acrescentou que, após se confessar, voltava a cometer o mesmo
pecado. O padre lhe aplicou então uma penitência bastante inusitada: deveria depenar uma
galinha caminhando pelas ruas de Roma e, depois, retornar para falar com ele.
Tendo cumprido a penitência, a senhora retornou à igreja e foi surpreendida com a seguinte
orientação do sacerdote: Agora volta por todas as ruas pelas quais caminhaste e recolhe uma a
uma as penas da galinha, sem deixar uma pena sequer esquecida. A mulher, obviamente,
retrucou:
- Mas padre, isso é impossível! Tinha tanto vento que nunca poderei recolher as penas.
E aí são Felipe Neri lhe mostrou a gravidade de sua ação:
- Eu sei, minha filha. Espero que tenhas aprendido a lição. A tua maledicência parece com
essas penas, as palavras ditas sem compaixão se espalham e depois não há como recolhê-las.
Imagina se São Felipe vivesse nos tempos da internet?!
É importante não esquecer que a fofoca – geralmente usada “inocentemente” no diminutivo
“só uma fofoquinha”, uma “mentirinha”, etc – muitas vezes é a raiz do pecado da calúnia. É o
fofoqueiro quem mais se interessa pelas breaking news que tentam impressionar pelo absurdo e
trazem títulos escandalosos. Tão ruim quanto este é o orgulhoso-curioso que não quer saber da
verdade, mas se deleita, ainda que inconscientemente, com os “escândalos” da vida dos outros.
Um dia, ao unir-me aos anjos para rezar a oração do santo durante a Santa Missa, tive uma
visualização: uma casa enorme, cheia de janelas grandes que se encontravam abertas. Como era
noite, a luz do interior da casa estava acesa, mas a escuridão do lado de fora escondia alguns
demônios que estavam se escondendo por trás de cada uma dessas janelas. Prontamente me dei
conta dos pecados que abriam essas janelas para a ação do mal em minha vida, e da importância
do “vigiai e orai” para manter a lâmpada acesa.
Falar mal dos outros pode ser - às vezes - um costume tão encarnado em nossa cultura ou em
nosso círculo familiar, que talvez percamos a consciência das janelas maléficas que abrimos com
esse pecado. Esta pode ser a raiz de muitas ações do demônio para causar brigas nas famílias,
fomentar a discórdia, a falta de diálogo e as separações. Quantas “penas” esse “pequeno pecado”
pode soltar ao vento, disseminando o mal entre nós!
O Papa Francisco, em suas homilias diárias em Santa Marta, não cansa de denunciar a fofoca
como criminosa e compara o fofoqueiro a um terrorista que mata Deus e o próximo. Ele parece
interessar-se muito sobre o tema das fake news, não por acaso, pontuou-o no tema da Mensagem
para o dia das Comunicações Sociais de 2018: “Fake news e o jornalismo de paz”. Na
mensagem, coloca em evidência a distorção da comunicação que gera a primeira fake news que é
o conteúdo da tentação da serpente no diálogo com a Eva (Cf. Gn 3).
É necessário então, desmascarar a “lógica da serpente” que se aproxima como uma amiga e
distorce a Vontade de Deus deixando-nos confusos e nos fazendo cair na armadilha da lógica da
sua própria mentira. Nos diz o Santo Padre:
“As fake news tornam-se frequentemente virais, ou seja, propagam-se com grande rapidez e
de forma dificilmente controlável, não tanto pela lógica de partilha que caracteriza os meios de
comunicação social como sobretudo pelo fascínio que detêm sobre a avidez insaciável que
facilmente se acende no ser humano. As próprias motivações econômicas e oportunistas da
desinformação têm a sua raiz na sede de poder, ter e prazer, que, em última instância, nos torna
vítimas de um embuste muito mais trágico do que cada uma das suas manifestações: o embuste
do mal, que se move de falsidade em falsidade para nos roubar a liberdade do coração.”38
Libertar-se da serpente é deixar-se purificar pela
Verdade que é como Jesus mesmo se define (Cf. Jo 14,6), e só esta Verdade nos fará livres.
Uma comunicação comprometida com a verdade busca a comunhão e o bem comum e tem como
fruto a paz. Nenhuma comunicação comprometida com a verdade pode gerar guerra, divisões e
intrigas. Da mesma forma que o cristão não só deve evitar o pecado, mas fazer o bem (Cf. I Pd
3,11), o comunicador cristão tem o dever não só de evitar as fake news, mas de comunicar a
Verdade.
A possibilidade de um verdadeiro diálogo em busca da verdade pode ser sentido nas redes
sociais, diz o Papa Bento XVI:
“Os meios de comunicação social são uma ‘grande mesa redonda’ para o diálogo da
humanidade, mas algumas atitudes no seu interior podem gerar uma monocultura que ofusca o
gênio criativo, reduz a sutileza de um pensamento complexo e desvaloriza as peculiaridades das
práticas culturais e a individualidade do credo religioso.”39
Essa “mesa redonda” deve ser favorecida pelos cristãos neste ambiente. Sem medo e
“dispostos a dar as razões da fé”, colocamos em confronto com várias linhas de pensamento que
serão estímulo para questionar e fortalecer a nossa fé e certamente darão frutos de uma fecunda e
verdadeira evangelização, pois transmitiremos o que acreditamos não por imposição moral, mas
pela força do Espírito que nos convence acerca da verdade (Cf. Jo 16,13).
Para isso é necessário abertura, pois os muros que nos dividem só podem ser superados se
estivermos prontos a ouvir e a aprender uns dos outros40. Essa é a proposta da cultura do
encontro que se encarna no continente digital. Ao comunicar a verdade se faz necessária uma fé
renovada, que nos lance em uma experiência de Deus renovada e de um conhecimento cada vez
mais profundo da Palavra de Deus que se manifesta na Sagrada Escritura e no Magistério da
Igreja.
Os cristãos, nos diversos meios de comunicação, devem ser colaboradores da verdade, “é
preciso procurar difundir as verdades fundamentais e o significado profundo da existência
humana, pessoal e social41. Desta forma os meios de comunicação podem contribuir
construtivamente para a difusão de tudo o que é bom e verdadeiro.”42
As fakes news se apresentam de formas variadas, mas não podemos negar que um dos temas
em que mais elas aparecem é a Igreja Católica. Por que esse fenômeno é tão presente no
jornalismo em relação à Igreja? Os motivos são inumeráveis, de caráter político ao econômico,
entretanto, poderíamos elencar alguns que, ao nosso ver, podem iluminar também os
comunicadores cristãos:
1. A ignorância sobre os assuntos da fé

Talvez esse ponto seja uma raiz para quase todas a notícias erradas sobre a Igreja. Realmente,
alguns temas centrais da fé da Igreja só são compreendidos por quem faz uma experiência de fé
ou por quem, com muita sinceridade, está disposto a escutá-los – de pessoas competentes - e faz
o esforço de entendê-los.
Por parte dos comunicadores católicos, é necessário um enorme esforço para atualizar a
linguagem. Sem esvaziar o conteúdo, é necessário enriquecê-lo com uma forma compreensível
para o leitor totalmente “leigo”. E quando possível, oferecer esclarecimentos, aprofundamentos e
base teórica sobre os fatos.
A parte mais difícil é que muitas pessoas – sobretudo em países de tradição católica - pensam
entender bem o posicionamento da Igreja, mas na prática têm por “posição da igreja” o que é
senso comum.
2. Má compreensão da Igreja Católica

Nos principais meios de comunicação, confia-se aos cientistas políticos as notícias sobre o
Vaticano e àquilo que se acontece na Igreja, de modo geral. São pessoas altamente capacitadas,
entendedores do mundo político e econômico, mas bastante limitados na compreensão de
religião.
A Igreja Católica não pode ser compreendida só como uma instituição política, pois não o é.
Infelizmente, reduzir a Igreja a uma monarquia e a sua hierarquia a cargos de poder contradizem
a sua própria vocação e a verdadeira intenção hierárquica, que é o serviço, apascentar o rebanho
confiado pelo seu Fundador.
Às vezes, mesmo para quem se considera um “vaticanista” a interpretação dos fatos mais
importantes da Igreja como um conclave, por exemplo, é pura especulação estatística-política: o
cardeal papável é aquele de mais influência ou de maior poder. Ao contrário, aquilo que a Igreja
e seus membros acreditam é que nesses momentos se vive um “kairós” no qual o Espírito Santo
manifesta quem deve suceder o Apóstolo Pedro que deve presidir na caridade, que é servo dos
servos.
Aos comunicadores cristãos faz-se um dever conhecer bem a própria Igreja que é um
sacramento, sinal visível de Cristo no mundo, ou seja, o meio pelo qual Ele quis permanecer
realizando sua obra de salvação. Um bom documento para quem quer entender o que a Igreja diz
sobre si mesma: Constituição Dogmática sobre a Igreja (Lumen Gentium) do Concílio Vaticano
II.
3. Pouca reflexão e argumentos simplificados

Uma característica da forma de comunicação atual é a velocidade e consequentemente a pouca


profundidade. Um meio de comunicação eficaz precisa cobrir tudo o que está acontecendo, para
acompanhar o ritmo do leitor. Porém, ao mesmo tempo que se sabe de tudo, sabemos
superficialmente: 280 caracteres, 30 segundos, abre o artigo lê-se os títulos e as partes em
negrito... “ok, tá pago!” Normalmente, passa-se de uma notícia para outra gastando não mais que
15 segundos. Resultado: acreditamos que estamos informados, quando muitas vezes é o
contrário, nos apropriamos apenas daquilo que julgamos o certo, ou do que determinado veículo
tem como posição.
Esses três pontos acima se tornam uma mina de fake news sobre a Igreja Católica, os títulos
extravagantes e a ignorância encontram no inconsciente das pessoas o espaço adequado para
serem acolhidas como verdade, mesmo que sem nenhum fundamento. Alguns fundamentam uma
“influência seletiva”, uma espécie de corrupção que não se importa com a verdade como ela é,
mas que sente prazer em influenciar multiplicando aquela “verdade” que já possuía dentro de si
uma certa “convicção”.
Um remédio para isso pode ser desenvolver uma cultura de um jornalismo mais “slow”. Da
parte do jornalista, na medida do possível, apurar bem os fatos, aceder às fontes seguras e nunca
faltar com seu compromisso ético e cristão com a verdade. Por parte do consumidor, evitar
compartilhar aquilo que não é fruto de reflexão, que não foi confirmado por fontes oficiais, que
foi produzido às pressas ou que ainda está “quente” demais para ser compartilhado.
Algumas dicas para se defender e não ser promotor das fake news:

- Não se concentrar nos títulos. Títulos sensacionalistas são uma característica muito clara de
uma notícia falsa.43
- Se vai compartilhar, leia até o fim. Veja se o site é sério, quais os tipos de matéria, etc.
Jamais compartilhe com seus amigos uma notícia na qual não está seguro.
- Não se contentar com uma só fonte. Se o assunto não está sendo comentado por outros meios
de comunicação, desconfie. Busque fontes oficiais!
- Perceba se o autor não está fazendo uma sátira, ou seja, inverteu os fatos para ser irônico.

Para sermos promotores da verdade e da paz, rezemos com a oração sugerida pelo Papa
Francisco em sua mensagem pelo 52º Dia Mundial das Comunicações, de 2018, baseada na
oração de São Francisco de Assis:
Senhor, fazei de nós instrumentos da vossa paz.
Fazei-nos reconhecer o mal que se insinua em uma comunicação que não cria comunhão.
Tornai-nos capazes de tirar o veneno dos nossos juízos.
Ajudai-nos a falar dos outros como de irmãos e irmãs.
Vós sois fiel e digno de confiança;
fazei que as nossas palavras sejam sementes de bem para o mundo:
onde houver rumor, fazei que pratiquemos a escuta;
onde houver confusão, fazei que inspiremos harmonia;
onde houver ambiguidade, fazei que levemos clareza;
onde houver exclusão, fazei que levemos partilha;
onde houver sensacionalismo, fazei que usemos sobriedade;
onde houver superficialidade, fazei que ponhamos interrogativos verdadeiros;
onde houver preconceitos, fazei que despertemos confiança;
onde houver agressividade, fazei que levemos respeito;
onde houver falsidade, fazei que levemos verdade.
Amém.

COMUNICAR PARA O OUTRO


O rápido fluxo de informações, muitas vezes, nos faz menos sensíveis a realidade daquele que
Jesus diz ser o meu próximo.

Para refletir

Quando cursava Jornalismo e consegui meu primeiro estágio em uma redação, trabalhei no
portal de notícias, no qual a editora nos dava como meta subir matérias a cada inimagináveis 10
minutos. Logo me acostumei a escrever e apurar os fatos (a maioria trágicos) de modo rápido e
automático.
Era um sábado, por volta das 9h da manhã, e eu me encontrava, como de costume no plantão,
sozinha na redação. Ao fazer a “ronda” policial caçando uma notícia, soube de mais um acidente
próximo a Reta Tabajara, um dos acessos à cidade do Natal (RN) onde é comum ter acidentes.
Rapidamente apurei, escrevi e subi a notícia no site, sem pensar no ocorrido.
Antes de sair do plantão, recebi uma ligação da minha mãe contando que uma grande amiga
sua, que eu conhecia desde criança, sofreu um grave acidente mais cedo. E, para a minha
surpresa, descreveu a mesma cena que eu havia noticiado tão friamente mais cedo. Desde então,
fiz uma promessa de, seja no Jornalismo ou na vida pessoal, nunca tratar as pessoas como
números, nem um acidente como “mais um”.
No dia em que escrevo esse texto, recebi a notificação no Twitter de um grave acidente
próximo de onde eu estava, que havia bloqueado a principal avenida da cidade em ambos os
sentidos. Pela proximidade, pude escutar o barulho da ambulância chegando ao local e rezei uma
Ave Maria. Ao sair para tomar um ônibus, o local ainda estava bloqueado e um corpo
“embrulhado” no canteiro aguardava a chegada da Polícia.
Olhei para a cena e pensei em um possível nome, Yuri, e pedi a Deus que acolhesse um
simples sacrifício meu (passar o dia sem tomar um remédio e aguentar a pequena dor que sentia)
pela salvação de sua alma. Horas depois, recebi a notificação no celular da notícia de um jornal
local evidenciando, como de costume (assim como eu fazia), o trânsito gerado pelo acidente.
Hoje, a Providência Divina me permitiu humanizar esse fato, não murmurar pelo trânsito e me
unir ao “Yuri”, o momento de sua páscoa, a dor de sua família ao perder um ente querido que
saiu para trabalhar como o habitual. Mas, e nos demais dias, a dor do outro presente nas notícias
me gera compaixão ou indiferença?
Escritores ou leitores, que o bom Deus nos permita sempre enxergar a vida do outro sob a
lógica da caridade e as notícias que chegam à nós como instrumentos da Providência Divina para
a nossa missão.
O destinatário é mais importante que o emissor

Deus é o grande comunicador, que pronuncia o seu “faça-se” e toda a criação corresponde. A
sua Palavra é ato! “Assim acontece a palavra que minha boca profere: não volta sem ter
produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade, cumprido sua missão” (Is 55,11). Os
profetas do antigo testamento anunciam com propriedade porque beberam de uma fonte segura.
Sua atenção está voltada ao destinatário, pois sabem que a mensagem divina divulgada por eles
carrega o cumprimento dos desígnios de Deus.
Com o uso da internet e sua rápida disseminação, todos podemos ser promotores de notícias e
temos a responsabilidade com a verdade em todo conteúdo que postamos ou compartilhamos.
Em nossas relações, somos causa segunda na vida do outro, assim como os profetas. Carregamos
em nossa mensagem o cumprimento dos desígnios de Deus, cuja palavra sempre comunica vida.
Devemos combater todo tipo de mensagem que não está em comunhão com esse princípio.
Como disse enfaticamente o Padre Gabriele Amorth44 em sua última entrevista, “ou estamos
com Cristo ou com o demônio, não existe meio termo”.
Especialmente os profissionais de comunicação têm o dever de lembrar que, no centro da
notícia, estão as pessoas. Informar é formar, é lidar com a vida das pessoas45. A exigência de
respostas imediatas nos trouxe um sério risco: uma parcela da própria imprensa parece ter
esquecido de buscar fontes seguras e, até, de fazer perguntas. E quando não há tempo para
investigação, não há compromisso com a verdade.
Com a possibilidade de alcançar com seu dons uma massa tão grande de pessoas, o exercício
de seu dever é uma verdadeira missão. Se souberem promover a informação serena e imparcial,
promover o mútuo entendimento e o diálogo, reforçar a compreensão e a solidariedade, os
comunicadores sociais terão dado uma magnífica contribuição para a causa da paz46.
Aos comunicadores cristãos, João Paulo II reforça que cabe a esses profissionais transmitirem
uma esperança crível, sendo eles os primeiros a vivê-la pessoalmente, o que se verifica se forem
homens e mulheres de oração: “A oração nos permitirá estar sempre prontos a dar razão a
esperança a todo aquele que nos interpelar”47. É o testemunho contido na mensagem que faz dela
crível, por isso não haverá novo se não houver uma profunda vida de oração!48
Nós, comunicadores, temos por vocação o serviço ao bem comum universal, e a paz e a
felicidade do mundo dependem em grande medida disto49. Tenhamos em nosso coração o
destinatário, e ainda que o conteúdo da mensagem fale de morte, a sua consequência será sempre
vida. Que o Espírito nos ajude a sermos causa segunda no Reino de Deus para anunciar,
eternamente, as misericórdias do Senhor50.
A mídia como chamado à missão

É maravilhoso que Deus tenha dado a nós as mídias como um Dom51 para nos colocar em
missão! Santa Teresinha de Liseux conta um episódio marcante para sua espiritualidade
missionária, o que ela depois reconhece como seu primeiro filho espiritual. A santa tomou
conhecimento, através dos meios de comunicação da época, a história de Henrique Pranzini, que
cometeu um triplo assassinato a duas mulheres e uma criança em Paris, e foi condenado a pena
de morte. Em suas palavras: “Ouvi falar de um grande criminoso que acabava de ser condenado
à morte por crimes horríveis. Tudo fazia crer que morreria impenitente. Quis, a qualquer custo,
impedi-lo de cair no inferno”.
Após rezar insistentemente e oferecer missas pedindo sua conversão (costume que continuou
mesmo dentro do Carmelo), pediu a Deus uma prova de que ele havia se convertido, a fim de ter
coragem de continuar rezando pelos pecadores. Mais tarde, Deus lhe deu a resposta através de
um jornal: “No dia seguinte à sua execução, cai-me às mãos o jornal La Croix. Abro-o apressada
e o que vejo? Ah! Minhas lágrimas traíram minha emoção e fui obrigada a me esconder…
Pranzini não se confessou, subiu ao cadafalso e preparava-se para colocar a cabeça no buraco
lúgubre quando, numa inspiração repentina, virou-se, apanhou um Crucifixo que lhe apresentava
o sacerdote e beijou por três vezes suas chagas sagradas! Sua alma foi receber a sentença
misericordiosa Daquele que declarou que no Céu haverá mais alegria por um só pecador
arrependido do que por 99 justos que não precisam de arrependimento!.”52
Para refletir

Em 2016, durante o Jubileu Extraordinário da Misericórdia53 declarado pelo Papa Francisco,


Deus me deu a alegria de viver uma experiência semelhante. Estava em missão na cidade de
Lima (Peru) quando, na manhã de oração, Deus me lembrou a vida de um jovem que anos atrás
eu conheci pelos telejornais. “Rivotril”, como ficou conhecido, era um adolescente tido como um
dos principais responsáveis pelo tráfico de drogas no Bairro de Mãe Luíza, em Natal/ RN, e que
foi morto em um confronto com a polícia.
Estranhei tê-lo presente em minha memória e quis voltar ao meu estudo bíblico, mas a
lembrança persistiu. Na época, uma das penitências que eu havia escolhido graças ao ano jubilar
era oferecer indulgências plenárias pelas almas do purgatório, já que a igreja onde íamos
diariamente à missa era o Santuário de La Divina Misericordia, onde havia uma Porta Santa.
Logo me toquei do que Deus me pedia: Rivotril seria meu Pranzini? Que loucura!
Me concentrei na oração e pedi a Deus uma palavra que me respondesse e, ao abrir a bíblia, li
uma passagem que falava sobre o templo de Jerusalém sendo reconstruído. Logo me veio o
discernimento: Deus está preparando seu lugar no céu e necessita da minha colaboração para
reencontrar este filho amado! No dia seguinte, me preparei para realizar tudo e conquistar a
indulgência: confissão, rezar pelas intenções do Papa e passar pela porta santa.
Cheguei na casa comunitária quase correndo e, ao sentar no chão da capela, pedi como
Teresinha uma prova de que o “Rivotril” havia recebido aquela graça. Mais uma vez, Deus me
surpreendeu. Ao abrir a bíblia, em outro livro, a passagem falava sobre o templo de Jerusalém
reconstruído e o povo novamente se reunindo para prestar culto ao Senhor. Toda aquela manhã
rendi graças a Deus que, de maneira tão simples e fecunda, se utilizou da minha vida para
conquistar o céu para este meu primeiro filho espiritual, que conheci somente através da mídia,
mas sei que, um dia, me acolherá no céu!

A COMUNICAÇÃO PESSOA A PESSOA


Uma mensagem. A história da coautoria deste livro aconteceu por meio de uma mensagem.
Um de nós – autores - teve um sonho no qual o outro pedia sua ajuda através de uma conversa
via Whatsapp. Sabendo que, tantas vezes, Deus nos fala através de sonhos - a Bíblia está cheia de
belos exemplos, como o de São José -, trocamos de fato mensagens pelo aplicativo e vimos ser
esta a “ajuda” que Deus nos pedia.
A temática estava no coração de alguns irmãos há um bom tempo, e já havia se tornado um
projeto, mas precisava de um “empurrãozinho” de Deus que, sempre de bom humor, soube bem
usar as redes sociais para nos revelar Sua vontade. E foi desse simples diálogo, a partir de uma
iniciativa do próprio Espírito, que nasceu esta obra literária, vencendo em nós e conosco toda
dificuldade ao longo de três meses de pesquisa, produção, oração e - por vivermos até então em
países diferentes - muitas partilhas pela internet.
O bom Deus não pode inspirar desejos irrealizáveis54. O Espírito Santo COMUNICA a todo
momento, move o nosso coração a perceber os desígnios amorosos de Deus em prol da
realização da Sua vontade, que é a nossa salvação e nossa felicidade. Mas abafamos esses sonhos
por ter um olhar humano daquilo que é sobrenatural, tentando corresponder com nossas próprias
forças e fraquezas.
Ao aproximar-se da janela em sua primeira aparição pública para a multidão que o esperava na
Praça de São Pedro, após o conclave, o Papa Bento XVI disse-lhes humildemente: “Consola-me
o fato de que o Senhor sabe trabalhar até mesmo com instrumentos insuficientes”. A consciência
de sermos nós apenas instrumentos é essencial para a nossa evangelização. É a graça de Deus
que, em nossa vida, em nosso corpo e em nossas atitudes, tudo realiza.
Este Espírito tem soprado e inspirado no meio de nós diversas novas iniciativas, que podem e
devem ser imitadas ou reinventadas, de acordo com cada tempo, realidade ou cultura de cada um.
Na conclusão queremos estimular um tipo simples de comunicação que não exige um curso de
jornalismo ou grandes habilidades de computação. Essa é a comunicação pessoa a pessoa que
parte do coração do evangelizador que, movido de compaixão por aqueles que padecem pelo
desconhecimento de Deus, pensa em formas múltiplas do dia a dia de comunicar criativamente o
mesmo e único Evangelho de Jesus. A começar da página pessoal na rede social.
Uma simples mensagem no whatsapp, o começo de uma conversa no facebook podem ser já o
início de uma evangelização. Outras formas mais criativas como a de uma jovem professora de
matemática que, tendo suscitado o desejo da vida oração nos seus alunos, fez uma lista de
transmissão no whatsapp pela qual envia breves motivações diárias de oração pessoal e de estudo
bíblico. Foram os próprios alunos que pediram. Alguns não podem participar de um grupo de
oração, mas assim podem ter momentos de oração pessoal todos os dias.
Dessa maneira, surgem – sempre com a intenção de evangelizar - blogs que selecionam
públicos por assuntos de interesse; páginas e grupos de facebook, alguns internacionais nos quais
os jovens trocam suas experiências de vivência da própria fé em diferentes países; canais no
Youtube de ensinamento sobre a fé, ou de conteúdos kerigmáticos; grupos de oração online; sites
que agrupam a opinião cristã sobre assuntos de interesse publico; artigos dobre os temas atuais
etc.
Seja nas grandes e bem articuladas ações de evangelização, seja naquelas mais simples ou
ainda em nascimento, o mais importante é que o evangelizador não deve pensar nunca somente
na multidão, mas deve interessar-se em cada pessoa. Por isso será capaz de dedicar seu tempo a
quem o busca para pedir auxílio, acompanhamento, oração... só assim poderá experimentar da
alegria do céu, ou seja, por um só pecador que se arrepende mais que por 99 justos (Cf. Lc 15).
As redes sociais são ainda um fenômeno bastante novo, mais novo ainda é o que Deus está
fazendo no coração de tantos jovens, despertando-os para a missão no continente digital. Vejo
uma geração de jovens apaixonados, de corações inflamados que foram despertados para não
somente contemplar o novo de Deus, mas abraçá-lo, encarná-lo em suas vidas, anunciá-lo na
rede.
É este o novo que Deus deseja para cada um de nós! Como diz Moysés Azevedo: “Esse novo
deve brilhar em todos os aspectos do nosso ser, do nosso viver, do nosso trabalho, no nosso
trabalho, nos nossos relacionamentos, no nosso vestir, no nosso comer, no nosso falar, nas nossas
posturas, no nosso silêncio, na nossa alegria, na nossa educação, no nosso estado de vida, nos
nossos relacionamentos afetivos, no caminho para eles, nas nossas posses, na Obra, em tudo deve
brilhar o novo de Deus.”55 - e, acrescentamos, em nossas redes sociais!
Anexos*
Anexos

O VAZIO DAS CURTIDAS


Precisamos ser muito cautelosos quando falamos de qualquer coisa que toque o nosso orgulho.
É impressionante como nos sentimos “satisfeitos” em cada curtida que recebemos. Se não
alimentamos uma sadia experiência com Deus, acabaremos por cair em uma paranoia em busca
de curtidas, comentários, e compartilhamentos.
Parece mesmo que estamos em um palco com uma plateia enorme que nos assiste e, à medida
que ela bate palma, somos condicionados a repetir os mesmos gestos e fazê-los cada vez de
forma mais exagerada, cômica e até chegar ao ridículo.
Interessante como temos necessidade de nos sentirmos aceitos pelos outros. Valorizamos
menos os amigos do que as curtidas na foto que tiramos com eles. Na ânsia de não perder
nenhum momento, terminamos por não viver nenhum deles. A foto foi gravada, mas o momento
já passou sem que eu o notasse. O lugar que estou pode ser muito especial, mas preciso que todos
saibam que estou ali, a opinião deles é mais importante para mim do que o próprio local. Nisso
se esconde uma necessidade enorme de auto-afirmação.
Todas as redes sociais descobriram como o número de likes nos influenciam. O facebook não
para de nos avisar quantas pessoas me curtiram e nós o alimentamos, conferindo, uma, duas, três
ou incontáveis vezes ao dia. E a sensação de bem estar é enorme quando vemos os números
crescendo, parece que voltamos à adolescência.
Um dia desses vi um comentário que dizia o seguinte: “troco likes” e outro “me segue que eu
sigo de volta”. Para mim isso não expressa nada mais que um profundo vazio. Que like mais
vazio do que aquele que é fruto de nada?
O medo de ser mais um

Estamos em um momento da história em que a humanidade se orgulha por ter encontrado o


valor do indivíduo - fruto dos ideais iluministas -, mas paradoxalmente nunca buscamos tanto
nos afirmar, como se estivéssemos constantemente com medo de ser mais um e desaparecer no
meio da multidão. Os jovens têm medo de se sentirem contados como mais um de sua “tribo”,
por isso querem se diferenciar, mesmo que já sejam... É necessário ser único! O patinho feio,
agora, se torna o modelo do que queremos ser: diferentes!
Para isso corremos o risco de produzirmos a nós mesmos, foto, eu; vídeo, eu; selfie, eu; status,
eu, eu e eu. Há uma auto-produção de si mesmo que chega a ser doentia, uma espécie de
narcisismo insaciável. Por trás de tudo isto está o desejo de ser único, de não ser mais um, de ser
visto, de ser tocado, de ser amado. A insaciabilidade narcisista do ego humano não encontra aqui
nesta terra uma realização plena, sempre vai faltar algo para me satisfazer plenamente.
A experiência autêntica com Jesus Cristo é o que nos faz sentir amados de forma única.
Mesmo fazendo parte de um “povo de Deus” sou único, insubstituível, amado de forma pessoal.
O amor de Deus nos preenche mais todo amor humano, qualquer curtida, mesmo que tenham seu
valor e nos deem alegria – afinal, é bom saber que meus amigos gostam de mim - não me fazem
escravo da necessidade de me auto afirmar. Sou olhado por Ele, sou precioso aos seus olhos.

O selfie

Poucos smartphones possuem somente uma câmera. Geralmente, eles vêm com duas câmeras,
uma traseira e uma frontal para o selfie. Quem nunca fez um selfie? Ou seja, uma fotografia de si
mesmo, sozinho ou acompanhado.
Vamos fazer um teste. Pense em uma pessoa que você faria tudo para conhecer, uma pessoa
famosa, ou alguém que você admira muito. Em hipótese, pensemos no Papa Francisco. Agora te
dou duas opções, a primeira é de passar 30 minutos com o Papa Francisco, conversar, se
confessar, ter uma audiência privada com ele - nesse caso seria proibido qualquer registro
fotográfico, nada de foto nem selfie nem registro. A segunda é 2 minutos com o Papa Francisco,
mas com direito a fotos, selfie, filmagem etc. Qual você escolheria?
Talvez de primeiro você diga, “claro que o primeiro”. Mas quando lembra que nada ficará
registrado, nada! Talvez nunca mais você tenha aquela oportunidade...
O selfie representa a necessidade da personalidade. Mesmo que eu tenha mil fotos DE alguém
ou DE algum lugar, preciso da minha foto COM alguém ou EM algum lugar naquele momento.
Quando falamos do relacionamento entre as pessoas não podemos nos esquecer que melhor
que o selfie é me encontrar com aquela pessoa e me relacionar com ela. Interessante como,
algumas vezes, almejamos nos encontrar com pessoa famosa, seja um padre, um cantor de uma
banda, um pregador etc. Fazemos de tudo para encontrá-lo, mas quando o encontramos, tiramos
um selfie e o ignoramos – o tempo depende da velocidade da internet – e nem sabemos o que
falar. O que realmente queríamos?
O selfie não é algo condenável, muito pelo contrário, nós evangelizadores precisamos mesmo
mostrar para o mundo a beleza de nossa vida. Mas, sem dúvida, precisamos aprender a
redescobrir as pessoas mais que a quantidade de selfies que posso tirar com elas.
Dica: Cuidado para não fazer do selfie uma autopromoção de si, isso não reflete o Evangelho.

“DIZE-ME QUEM TU SEGUES E EU TE DIREI QUEM TU


ÉS”
É muito bem conhecido o ditado: “dize-me com quem andas e eu te direi quem tu és”. Apesar
de seus limites o ditado, no senso comum é tido como verdadeiro. É normal pensar que “quem
anda com ‘gente ruim’ não pode ser pessoa boa”. Nesse caso, os fariseus tinha razão de falar que
Jesus não poderia ser um profeta de verdade, pois se soubesse não deixaria aquela mulher
pecadora ficar beijando os seus pés (Cf. Lc 7, 4s) e muito menos fazer uma refeição na casa de
um coletor de impostos...
“Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, que estava sentado no posto do
pagamento das taxas. Disse-lhe: Segue-me. O homem levantou-se e o seguiu. Como Jesus
estivesse à mesa na casa desse homem, numerosos publicanos e pecadores vieram e sentaram-se
com ele e seus discípulos. Vendo isto, os fariseus disseram aos discípulos: “Por que come vosso
mestre com os publicanos e com os pecadores?” (Mt 9,9-11).
Jesus nos ensina que esse ditado aí não tá com nada! Primeiro que não devemos excluir os
pecadores, mas ajudá-los, pois “não são os sãos que precisam de médico, mas sim os doentes”.
Segundo que nós também somos pecadores, alcançados por Deus por pura misericórdia, ou seja,
ele senta na nossa mesa para nos salvar e nos envia para fazer o mesmo.
Na vida de Jesus o ditado encontra essa enorme falha! Ele também nos diz que devemos ser
simples como as pombas e espertos como as serpentes (Cf. Mt 10,16) para não deixar que o lobo
disfarçado de cordeiro nos leve ao caminho da perdição, ao invés do contrário.
É muito simples, fazemos quase sem querer, mas é muito comum que, antes de baixar um
aplicativo para nosso celular leiamos o que os outros usuários dizem sobre ele, se as estrelas
forem poucas e se houver muitas críticas, pensaremos duas vezes antes de baixá-lo. Muitas vezes
nem lemos o que o criador escreveu, ou a empresa está falando sobre o aplicativo, “se as pessoas
que o utilizam não gostam, é porque é ruim”, esse é o nosso raciocínio imediato.
Lembro-me da primeira vez que fiz uma compra pela internet de um produto, não me lembro
exatamente o que era, mas me lembro que só tive confiança de efetuar o pagamento depois que li
vários comentários que diziam que o vendedor era de confiança, havia entregado no prazo certo
etc. Para mim, valia mais o que os usuários diziam do que o vendedor ou a empresa.
Esse mesmo raciocínio me leva a crer que é importante ter muita atenção a quem seguimos, o
que curtimos, compartilhamos, comentamos nas redes sociais, pois isso fala muito sobre nós.
Podem dizer mais sobre nós do que aquele último post belíssimo sobre o Evangelho.
Um bom exercício é lembrar-se das últimas coisas que você viu e gostou, coisas sérias e
também as coisas engraçadas. Elas vão contra de alguma forma aquilo que tenho aprendido na
Palavra de Deus? São conteúdos ofensivos a Deus ou ao próximo?
Determinados artistas que promovem a ira, o sensualismo, a libertinagem, parecem, a meu ver,
não convir a um cristão de verdade. Piadas que portam mensagem de preconceito racial ou
religioso, mesmo engraçadas, mas que degradam a imagem do ser humano ou de Deus, da
mesma forma. Algumas vezes, piadas desse tipo causaram conflitos entre pessoas e povos. Será
que convêm aos “discípulos e ministros da paz”? Esses tipos de mensagem não são dignas nem
da nossa atenção, muito menos da nossa valorização nas redes sociais.
Cada curtida que dou nas redes sociais expresso aquilo que acredito ser bom, justo e
verdadeiro. Quando compartilho sou como um microfone que espalha a mensagem para muitas
pessoas, para todos aqueles que me seguem e acreditam na minha índole. Quando sigo alguém
dou a ele a importância da minha atenção e minha credibilidade, logo o torno digno. Por isso, nas
redes, quem Tu segues, pode dizer muito quem tu és!

AS HASHTAGS NA EVANGELIZAÇÃO
Nossos avós, ou até nossos pais, podem já nos ter perguntado. “Porque esse monte de jogo da
velha em tudo que você escreve menino?” Para um músico mais tradicional – desconectado,
“off-line” - nos diria que, no tempo dele, isso aí era um sustenido.
O hashtag surgiu com o twitter como uma forma de encontrar em um amontoado de pequenos
textos de 140 caracteres informações que se ligavam ou ainda o que estava mais se falando. Por
exemplo, se queremos encontrar todos os usuários que escreveram algo sobre o amor basta
pesquisar a hashtag #amor e serão apresentadas uma lista de twittes nos quais as pessoas falaram
sobre isso, desde amor a Deus, relacionamentos, amor aos filhos e assim vai.
Há também o uso do hashtag com expressões, algumas que já se firmaram e outras que são
criadas a cada dia. Por exemplo se procuramos dicas diversas, não devemos procurar por #dica
ou #váriasdicas #medáumadica, mas é comum ao final de uma dica a hashtag #FicaaDica ou
#Ficadika.
Para medir o assunto mais falado agora no twitter basta conferir os TTs (Trend Topics), ou
seja, as hashtags mais usadas agora. Podem ser eventos, assuntos, pessoas etc.
Depois do Twitter, as outras redes sociais incorporaram na mesma lógica, Instagram,
Google+, Pinterest, LinkedIn e Facebook.
Do neologismo à tradução: hash-tag

Hashtag é um neologismo proveniente da língua inglesa composto pelas palavras hash e tag.
Vejamos o que significa cada uma delas.
Tag traduzindo significa, literalmente: etiqueta, rótulo. Diríamos que é um identificador, um
marcador. Foi usado amplamente em sites na web como “palavra-chave”, hoje é muito usado em
blogs que, para facilitar a localização de conteúdos, apresentam “nuvem de tags”.
Hash significa, hum... e agora? Não tem tradução ao pé da letra. Em alguns dicionários hash é
isso: #. Na matemática computacional, a função hash serviria para facilitar a busca por valores,
mas isso não nos importa agora. Vamos ficar então com facilitador (melhor do que traduzir por
jogo da velha - lol).
Entendemos então hashtag como uma etiqueta que facilita encontrar as coisas mais
importantes.
Ser, nas redes, hashtags de Deus

Depois de tanta explicação, onde é que queremos chegar? Aqui: devemos ser, nas redes
sociais, hashtags de Deus. Gostou né?
Qual o nosso papel nas redes sociais senão, em meio a um turbilhão de mensagens, vídeos e
fotos, sermos uma espécie de hashtag para as pessoas encontrarem o que realmente é
importante?
É interessante comparar com o que são os santos para nós. Quando vemos a vida de um santo,
não somente nos enchemos de admiração, mas tomamos suas atitudes principais como
ensinamentos importantes para nós e setas que nos apontam o céu. Na vida de cada santo
poderíamos enumerar as hastags. São Francisco, por exemplo #pobreza #amoraDeus
#caridade. Na vida de Santa Teresa de Jesus #oração #determinadaDeterminação. Na vida de
Santa Teresinha #pequenez. Em todos, #Deus está presente. É claro, quando os vemos, vemos
na verdade Deus.
Pensamos que evangelizar no continente digital é encher a nossa página de versículos bíblicos.
Mas eu pergunto: que hashtags estamos comunicando, ou testemunhando quando fazemos isso?
Quando olharem para nós, da mesma forma como olhamos para São Francisco a pouco, qual será
a hashtag que nos darão?
Mais importante que colocar versículos bíblicos (apesar de também serem importantes) é
testemunhar a sua vida, que deve sempre transparecer Deus. Quando me refiro à vida, refiro-me
também as coisas fortes que Deus fala na oração, o grupo de oração, passagens bíblicas que para
você são fortes, mas também as outras coisas: comer uma pizza com os amigos, jogar vôlei,
surfar, ajudar a mãe a lavar as louças, namorar, ir para a faculdade, conviver com sua família etc.
Em tudo deve transparecer a beleza de Cristo e isso deve ser anunciado sobre os tetos.
Não devemos ter medo de mostrar aquilo de precioso que temos na vida. A esperança precisa
ser renovada nas pessoas quando nos virem. Enquanto tanta gente tenta destruir o valor da
família, nosso papel não é o de ir contra as pessoas que o fazem, ao contrário, em favor delas,
testemunhar que a família ainda é possível dando o nosso testemunho. Nesse caso, uma foto com
sua família, irmãos e filhos, vale mais que muitos discursos moralistas.
Cuidado para não expor demais a sua vida pessoal. Na rede convém o testemunho que não
elimina o bom senso e a discrição. #FicaaDica
A regra é: Isso é realmente importante para mim? Vai fazer a diferença se as pessoas
souberem? Às vezes vamos ao outro extremo compartilhando tudo o que nos vem à cabeça, tanta
bobagem que só contribuímos a aumentar a avalanche de “palavras vazias” que não colaboram
em nada para o encontro com Deus, nem conosco.
Se a resposta da pergunta acima for não, talvez seja melhor deixar a foto arquivada só no seu
celular mesmo. Se for uma ideia, melhor que ela não saia da sua cabeça. #ProntoFalei

INTERFACES DE DEUS NA REDE


O que é uma interface? De acordo com o dicionário, um dos significados pode ser:
“dispositivo (físico ou lógico) que estabelece a adaptação entre dois sistemas independentes”. No
campo da informática a interface, simplificando, é o que torna possível a interação do homem
com a máquina.
Para tornar bem simples, quando você liga um computador, uma miríade de processos se
realizam, mas a graças ao desenvolvimento de softwares (interfaces gráficas) você só vê uma tela
linda, cheia de imagens, na qual você pode realizar diversas tarefas como, abrir suas fotos, ler
seus e-mails, escrever textos etc. Seria impossível fazer isso se tudo isso aparecesse para nós em
códigos de computador. Para os mais inexperientes com computadores, as interfaces tornam
mais claro ainda o uso do sistema, com caixas de diálogo e advertência, setas etc.
Então, a interface em simples palavras é o que traduz, o que torna compreensível visível e
possível de acessar ao que seria impossível de ser acessado.
A experiência de Deus através de Suas interfaces

A nossa experiência pessoal com Jesus Cristo, apesar de pessoal foi gradativamente sendo
preparada e crescendo com a ajuda de pessoas que - no mínimo - nos fizeram nos perguntar: “O
que ele tem de tão diferente?”. Às vezes um padre piedoso e caridoso, ou pessoas que dedicam
suas vidas aos pobres ou pelo bem comum, ou ainda alguém que fez algo muito importante por
nós e pelo qual somos profundamente gratos.
Pessoas como essas são como interfaces de Deus. Tornam visível a forma de Deus de ser
amor, compaixão, misericórdia etc. Jesus dizia mesmo que os seus discípulos seriam
reconhecidos se “eles se amassem uns aos outros” (Cf. Jo 13,35), ou seja, se fossem capazes de
amar como Ele amou e serem assim, interfaces dEle para as pessoas ao seu redor.
Essas pessoas traduzem para nós o próprio Deus, tornam visível o Deus que não podemos ver.
Como gostamos de dizer: Deus nos enviou um anjo. Como não dizer que os anjos também não
são interfaces de Deus? A mensagem de que Maria daria a luz ao Emanuel foi dada pelo anjo,
segundo a Vontade de Deus.
Na vida dos santos não foi diferente. São Paulo quando tem seu Encontro no caminho para
Damasco já tinha visto Deus em algumas interfaces de cristãos. Sempre me chama muito atenção
no relato do livro dos Atos dos Apóstolos o momento do martírio de Santo Estevão:
Repleto do Espírito Santo, Estêvão olhou para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus, de pé, à a
direita de Deus. Então disse: “Estou vendo o céu aberto e o Filho do Homem, de pé à direita de
Deus.” Então eles deram fortes gritos, taparam os ouvidos e avançaram todos juntos contra
Estêvão. Arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas
deixaram seus mantos aos pés de um jovem chamado Saulo. Atiravam pedras em Estêvão, que
repetia esta invocação: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito.” Depois dobrou os joelhos e
gritou forte: “Senhor, não os condenes por este pecado.” E, ao dizer isso, adormeceu. (At
6,35ss)
Neste relato vemos a influência de Estevão na vida de São Paulo (antes conhecido por Saulo).
O então jovem Saulo viu naquele homem a glória de Deus, Estevão foi para Saulo, uma interface
para que ele tivesse acesso a Deus. Da mesma forma que Ananias (Cf. At 9,10s) foi instrumento
para que São Paulo retomasse a visão.
A história do povo de Deus no Antigo Testamento é repleta de interfaces para que o povo
pudesse escutar a sua voz. Quem seriam? Os profetas! Eles falavam inspirados pelo Espírito
Santo para conduzir o povo Deus nos caminhos certos.
As interfaces de Jesus

Jesus, para que sua mensagem seja entendida, utiliza-se de parábolas que na verdade são
interfaces para expressar o que passa em seu coração. Como passar para os seus discípulos o que
passa em seu coração? Como dizer para a multidão que Pai é bom e compassivo?
Jesus se identifica como o Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas (Cf. Jo 10). O mesmo
que deixa as 99 para ir ao encontro daquela que se perdeu. Aquele que se alegra mais por um
pecador que se converte do que por 99 justos que não precisam de conversão. Tudo isso para
transmitir uma mensagem quase impossível de ser comunicada - a não ser por uma interface
divina – entre dois lugares tão diferentes: o seu coração misericordioso e o coração duro dos
fariseus.
Impressionante o que tem feito o Papa Francisco no mundo atual: tem sido uma interface de
Deus. Como não dizer isso? O que as pessoas veem neste homem? O que há nele de tão
especial? Difícil encontrar outra resposta, senão essa: ele transparece Deus.
O Papa Francisco, como homem deste tempo e ao mesmo tempo vocacionado à eternidade –
como nós também - serve para nós como uma tradução da mensagem evangélica para os dias
atuais. Seja aos pobres, seja aos ricos, seja aos crentes ou os não crentes, nos apresenta aquilo
que o coração do homem é atraído, à Lei de Deus na sua pureza, ou seja, a Lei do amor.
Francisco não faz marketing, Francisco se faz interface de Deus para o homem de hoje, e isso
ele faz porque é configurado à Cristo, transparece-o em suas palavras (como um profeta) e em
suas ações que tocam profundamente o coração do homem.
Quando diz “Deus não se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir perdão”,
não está querendo expressar exatamente o que passa no coração de Deus do qual ele experimenta
todos os dias?
DICA: Evangelizar exige união com o Senhor. É um enganado quem pensa que pode fazer
algo para Deus, sem Deus!

PECADO VIRTUAL? ISSO EXISTE?


Estamos diante de uma profunda mudança de paradigma. Alguns conceitos clássicos como
tempo e espaço são desafiados pela expansão da internet. No ciberespaço, é difícil até imaginar o
que seria “espaço”; poderíamos até pensar no espaço disponível no meu pendrive, mas qual o
limite da internet? O tempo dá lugar à velocidade; não se pergunta mais quanto tempo precisa
para pagar uma conta ou fazer uma pesquisa sobre as muralhas da China. Depende da velocidade
disponível pelo meu servidor de internet. Posso pagar uma conta sem precisar ir ao banco, ir até
a China sem sair de casa. Tudo é instantâneo, bem diferente do ônibus que tenho que pegar para
a faculdade, do engarrafamento que me faz chegar atrasado ao meu compromisso ou do avião
que precisaria cruzar a metade do globo para chegar ao meu objetivo.
A este momento, poderíamos nos perguntar se devemos considerar esse ambiente como real
ou virtual. Chegamos ao ponto principal da questão: a ideia de que a internet não passa de um
mundo da imaginação ou, ainda, de qualquer coisa que não seja real – só porque não é material –
pode nos causar dúvidas do que podemos ou devemos fazer neste ambiente.
A má compreensão do que seja esse ambiente, ou do que seja o pecado, pode fazer com aquele
que navega na internet se permita a coisas que não se permitiria quando as pensa na “vida real”.
Invadir um computador e ver os dados, descobrir a senha da rede social do seu amigo, mentir,
adulterar, e até coisas piores, no ambiente virtual, parece não ser pecado, mas o é. A tela do
computador parece ser uma proteção: “as pessoas não estão me vendo” – pode pensar aquele
navega.
Quanto ao que seja o pecado, Jesus nos ensina que aquilo que nasce dentro, nasce no coração,
o pensamento impuro, já é pecado (Cf. Mt 5,28). Logo, não é necessário externalizá-lo para ser
ofensivo a Deus. Entretanto, na internet, pecados são externalizados e ofensivos não só a Deus
como aos outros. Não é difícil ouvir falar de pessoas que sofrem com o bulling, muitas vezes
virtual!
Quanto ao ambiente, é necessário dizer que tudo o que se faz “on-line” tem consequências na
sua vida “off-line”. Logo, pegar a senha do seu amigo para descobrir os seus segredos é tão feio
quanto entrar no quarto dele escondido e vasculhar todas as suas coisas. Manipular um banco de
dados para lucrar algo para si é tão errado quanto subornar o funcionário para ganhar um
aumento no salário.
Devemos estar atentos, porque a internet, apesar de ser um poderoso meio de evangelização
em potencial, como já temos falado nos artigos anteriores, pode ser – para quem quer ser santo –
um arriscado meio de perdição. Com isso, não estamos sugerindo que não utilizem a internet. Ao
contrário, devemos “estar no mundo, mas sem sermos mundanos” (Cf. Jo 17,11).
Temos o dever cristão de estar neste ambiente para ser sal e luz, para levar a luz, e não nos
deixarmos imergir nas trevas. O pecado virtual existe e nos faz tão mal quanto os não virtuais.
Do mesmo modo, a evangelização por meio da internet pode ser tão frutuosa quanto uma
evangelização fora da internet.
Neste ambiente podemos encontrar pessoas que talvez nunca fossemos encontrar ou que talvez
nunca nos escutassem. É possível não só cometer verdadeiros pecados, mas, sobretudo, fazer o
bem de verdade, ajudar as pessoas, ser caridoso, exercitar-se nas virtudes, unir-se por uma causa
solidária etc.
O desafio do evangelizador neste ambiente é o mesmo: sair de si para ir ao encontro do outro.
Esse é o mandamento: “Amai-vos uns aos outros” (Cf. Jo 15,12), e o convite para segui-lo é:
“Esquece-se de si mesmo” (Cf. Mc 8,34). A conversão é necessária para qualquer evangelizador;
o testemunho autêntico pode e deve ser dado também neste ambiente ou estaremos fadados a
palavras estéreis que não ajudam ninguém, e que, ao contrário de aproximar, afastam.
Em resumo: vale a pena evangelizar pela internet. Há pessoas sedentas que esperam por
alguém que se aproxime e ajude com palavras confortantes, com testemunho de fé e com o
convite para uma vida verdadeiramente cristã. Pessoas REAIS esperam por nós neste ambiente e
evidentemente fora dele.
Referências Bibliográficas

Annunciare Cristo nell’era digitale. Libreria Editrice Vaticana: Città del Vaticano, 2015.
AZEVEDO, Moysés. Escritos. Aquiraz: Edições Shalom, 2012.
BENTO XVI. Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. A mídia: rede de
comunicação, comunhão e cooperação. 2006.
BENTO XVI. Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. Os meios de comunicação
social: na encruzilhada entre protagonismo e serviço. Buscar a verdade para partilhá-la. 2008.
BENTO XVI. Mensagem para o dia das Comunicações Sociais. Novas tecnologias, novas
relações. Promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade. 2009.
BENTO XVI. Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. Verdade, anúncio e
autenticidade de vida, na era digital. 2011.
BENTO XVI. Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. Redes sociais: portais de
verdade e de fé; novos espaços de evangelização. 2013.
CIACCARDI, Chiara. La comunicazione interculturale nell’era digitale. Il Mulino, 2012.
SAINT-EXUPÉRY, Antoine. O Pequeno Príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 1999.
MASTROIANNI, Bruno. La disputa felice. Dissentire senza litigare sui social network, sui
media e in pubblico. Franco Casati Editore, 2017.
PUNTEL, Joana. A Comunicação nos passos de João Paulo II: Dia Mundial das
Comunicações. São Paulo: Paulinas, 2012.
PAPA FRANCISCO. Deus é jovem. São Paulo: Planeta, 2018.
PAPA FRANCISCO. Evangelii Gaudium.
PAPA FRANCISCO. Gaudete et Exsultate.
PAPA FRANCISCO. Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. Comunicação ao
serviço de uma autêntica cultura do encontro. 2014.
PAPA FRANCISCO. Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. “A verdade vos
tornará livres” (Jo 8, 32). Fake news e jornalismo de paz. 2018.
Papa nas redes sociais, “ampliar o ministério petrino”.
PAULO VI. Evangelii Nuntiandi.
SANTA TERESA D´ÁVILA. Castelo Interior ou Moradas. São Paulo: Paulus, 2016.
SANTA TERESINHA. História de uma alma: manuscritos autobiográficos. São Paulo:
Paulus, 2017.
SÃO JOÃO PAULO II. Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais.
Comunicações Sociais e promoção da paz. 1983.
SÃO JOÃO PAULO II. Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. As
comunicações sociais e a promoção cristã da juventude. 1985.
SÃO JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita Consecrata. 1996.
SÃO JOÃO PAULO II. Fides et ratio. 1998.
SÃO JOÃO PAULO II. Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais.
Sustentados pelo Espírito, comunicar a esperança. 1998.
SÃO JOÃO PAULO II. Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais.
Anunciai-o do cimo dos telhados: o Evangelho na era da comunicação global. 2001.
SÃO JOÃO PAULO II. Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Os
meios de comunicação social ao serviço da paz autêntica, à luz da Pacem in terris. 2003.
Outros livros das Edições Shalom

• Amor Esponsal
• Anjos Nossos de Cada Dia
• Ao Amor da Minha Vida I
• Ao Amor da Minha Vida II
• As Alegrias de Maria
• Belo é o amor humano
• Deus é a felicidade
• Enchei-vos
• Escolhi a Santidade
• És precioso - 10 dias de oração para a cura da autoimagem
• Filho de Deus, Menino Meu
• Joaquim e sua padiola
• Leve a sério sua Vida Espiritual
• Louvor Brasa Vida
• Luz para os meus passos Vol. 01
• Luz para os meus passos Vol. 02
• Mãe da nossa fé
• Na fenda da Rocha
• O Segredo da Providência Divina
• O Segredo de Madalena
• Obra Nova: Caminho de e para a felicidade
• Tecendo o Fio de Ouro
Notas
[1]. Cf. Mc 4,26-29.
[2]. PAPA FRANCISCO. Evangelii Gaudium(EG), n. 22.
[3]. O que pode ou não pode fazer na evangelização pela internet.
[4]. Bento XVI. Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. Novas tecnologias, novas
relações. Promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade. 2009.
[5]. PAULO VI. Evangelii Nuntiandi (EN), 41.
[6]. Cf. 1 Pr 3,15.
[7]. PAPA FRANCISCO. Gaudete et Exsultate (GE).
[8]. Cf. EG, 259.
[9]. GE, 132.
[10]. Idem, 138.
[11]. PAPA FRANCISCO. Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. Comunicação
ao serviço de uma autêntica cultura do encontro. 2014.
[12]. Bento XVI. Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. Redes sociais: portais de
verdade e de fé; novos espaços de evangelização. 2013.
[13]. GE, 37.
[14]. Bento XVI. Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Verdade,
anúncio e autenticidade de vida, na era digital. 2011.
[15]. EG, 127.
[16]. Lucio Adrian Ruiz, segretario della Segreteria per la Comunicazione della Santa Sede, no
workshop Twitter Diplomacy at the Holy See. Março de 2017. No mesmo encontro diz: “O Papa
escolheu de estar ainda mais presente e, depois do Twitter, abrir um perfil no Instagram para unir
a imagem a palavra. É uma maneira de prolongar o ministério petrino através das novas mídias
sociais, acompanhando as pessoas. Também a quantos não poderão nunca vir ao Vaticano por
doença ou impossibilidade de se movimentar. A palavra da misericórdia chega assim também a
eles.”
[17]. Discurso do Papa Francisco aos membros da Comunidade Católica Shalom, 4 de
setembro de 2017.
[18]. GE, 27.
[19]. SAINT-EXUPÉRY, Antonie. O Pequeno Príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 1999.
[20]. Conceito construído pelo sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, em seu livro de mesmo
nome.
[21]. SANTA TERESA D´ÁVILA. Castelo Interior, cap. 1,6.
[22]. PAPA FRANCISCO. Deus é jovem. São Paulo: Planeta. p. 102.
[23]. Santa Teresa de Calcutá.
[24]. Santa Teresa D’Ávila.
[25]. Cf. 1 Jo 1.
[26]. Frase atribuída a Santo Agostinho no Tratado sobre a Castidade de Santo Afonso Maria
de Ligório.
[27]. Santa Teresa d’Ávila em Castelo Interior, Sextas Moradas, Capítulo 10, parágrafo 7.
[28]. GE, 24.
[29]. SÃO JOÃO PAULO II. Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. As
comunicações sociais e a promoção cristã da juventude. 1985.<>.
[30]. Expressão do filósofo francês Michel Foucault, que defende o discurso como um lugar
onde se exerce o poder.
[31]. PAPA FRANCISCO. Deus é jovem. São Paulo: Planeta, 2018.
[32]. SÃO JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita Consecrata, 74.
[33]. BENTO XVI. Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. Verdade, anúncio e
autenticidade de vida, na era digital. 2011.
[34]. Paul Watzlawick, importante teórico da Comunicação.
[35]. SÃO JOÃO PAULO II. Mensagem pelo Dia Mundial das Comunicações. Anunciai-o do
cimo dos telhados: o Evangelho na era da comunicação global. 2001.
[36]. Gaudete et Exsultate. Publicada em 19 de março de 2018, solenidade de São José.
[37]. Thomas Leoncini, publicada no livro Deus é Jovem, pág. 155.
[38]. PAPA FRANCISCO. Mensagem para o dia das Comunicações Sociais. “A verdade vos
tornará livres” (Jo 8, 32). Fake news e jornalismo de paz. 2018.
[39]. BENTO XVI. Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. A mídia: rede de
comunicação, comunhão e cooperação. 2006.
[40]. PAPA FRANCISCO. Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. Comunicação ao
serviço de uma autêntica cultura do encontro. 2014.
[41]. SÃO JOÃO PAULO II. Fides et ratio. 1998.
[42]. PAPA FRANCISCO. Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. Comunicação ao
serviço de uma autêntica cultura do encontro. 2014.
[43]. É sobre o Papa? www.vaticannews.va. O site oficial do Vaticano é a melhor forma de
saber se o Papa disse mesmo ou não aquilo que a notícia está dizendo que ele disse. Se não está
no site do vaticano, tem uma imensa probabilidade de ser uma mentira.
[44]. Conhecido mundialmente como o exorcista do vaticano, falecido em 2016 aos 91 anos.
[45]. PAPA FRANCISCO. Mensagem para Dia das Comunicações Sociais. “A verdade vos
tornará livres” (Jo 8, 32). Fake news e jornalismo de paz. 2018.
[46]. SÃO JOÃO PAULO II. Mensagem para Dia Mundial das Comunicações. Comunicações
Sociais e promoção da paz. 1983.
[47]. SÃO JOÃO PAULO II. Dia Mundial das Comunicações. Sustentados pelo Espírito,
comunicar a esperança 1998.
[48]. AZEVEDO, Moysés. Escritos. Aquiraz: Edições Shalom, 2012.
[49]. SÃO JOÃO PAULO II. Dia Mundial das Comunicações Sociais. Os meios de
comunicação social ao serviço da paz autêntica, à luz da Pacem in terris. 2003.
[50]. Salmo 88.
[51]. Há muito tempo que a Igreja considera que os meios de comunicação devem ser
considerados como “dons de Deus”. (PIO XII)
[52]. SANTA TERESINHA. História de uma alma: manuscritos autobiográficos. São Paulo:
Paulus, 2017.
[53]. O Jubileu ocorreu de 8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016.
[54]. SANTA TERESINHA. História de uma alma: manuscritos autobiográficos. São Paulo:
Paulus, 2017.
[55]. AZEVEDO, Moysés. Escritos. Aquiraz: Edições Shalom, 2012.
[**]. Artigos de Franco Galdino publicados na revista Shalom Maná e no portal ComShalom.
Table of Contents
Expediente
Apresentação
Apresentação
Introdução
Como habitar as redes
Habitar com Parresia
Saber administrar o tempo
Sem perder o sabor
Prezar pela privacidade
Vigiai para não cairdes em tentação
Como se relacionar nas redes
Aprendendo a discutir na Internet
Valorizar o presente na era do multitasking
Relações Photoshop
Como comunicar: Alegrai-vos e exultai!
Comunicar a verdade em tempos de fake news
Comunicar para o outro
A comunicação pessoa a pessoa
Anexos
O vazio das curtidas
“Dize-me quem tu segues e eu te direi quem tu és”
As hashtags na evangelização
Interfaces de Deus na rede
Pecado virtual? Isso existe?
Referências Bibliográficas
Outros livros das Edições Shalom
Notas

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