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Atividade Laboratorial 3.

2 - Comprimento de onda e difração

Chama-se difração ao desvio na direção de propagação de uma onda quando um obstáculo surge na frente
de onda. Assim, há difração quando a fase ou a amplitude de parte da frente de onda se altera, após a interação
com obstáculos e fendas. O obstáculo é um objeto que bloqueia uma fração da frente de onda, e uma fenda
só permite a passagem de uma fração da frente de onda. Usualmente os efeitos da difração são diminutos,
todavia, em qualquer dos casos, o fenómeno é observável quando o obstáculo tiver dimensões que se
aproximem do comprimento de onda.
Os fenómenos da difração e da interferência são exclusivos das ondas e têm uma base conceptual comum,
pois abordam diferentes aspetos do mesmo processo. Geralmente, considera-se difração quando há
sobreposição de um número elevado de ondas num certo ponto do espaço e interferências para um número
reduzido de ondas num certo ponto do espaço. O seu estudo permite uma maior e melhor conceptualização
do conceito de onda, e permite compreender um conjunto vasto de fenómenos do dia a dia, pois para uma
onda haverá sempre parte da frente de onda que poderá ser alterada. Assim, considerando o princípio de
Huygens-Fresnel (de que cada ponto da frente de onda não obstruída constitui, em qualquer instante, uma
fonte de ondas esféricas secundárias -com igual frequência- e que a amplitude em qualquer ponto do espaço
é dada pela sobreposição de todas essas ondas) a difração pode ser entendida como resultado da interferência
das ondas que passam o obstáculo.
No estudo da difração, de acordo com as condições geométricas, é costume dividir-se em difração em dois
regimes, o geral de difração de Fresnel e o de difração de Fraunhofer.
A difração de Fraunhofer, conhecida como de campo longínquo, ocorre em condições particulares, tais que
se podem supor paralelos os raios de onda incidentes nos objetos, e que a observação dos padrões de difração
se faz a uma distância suficientemente grande que permita considerar os raios de onda, na superfície onde são
observados, também paralelos. Em condições mais gerais, quando os raios de onda incidentes no objeto ou na
superfície de observação não são paralelos, tem-se difração de Fresnel, conhecida como de campo próximo e
de tratamento matemático mais complexo.
O regime da difração de Fraunhofer é satisfeito quando se verificar a
𝑎2
relação 𝑅 > 𝜆 , com  o comprimento de onda, 𝒂 o raio da maior dimensão
da abertura (ou do obstáculo) e 𝑹 a menor das distâncias da fonte de ondas
ao obstáculo e do obstáculo ao ponto de observação.
Um feixe de luz que incide numa rede é difratado e os raios provenientes
das diversas fendas da rede de difração interferem formando uma figura
que apresenta máximos de intensidade em diversas posições sempre que a
diferença de caminho ótico (𝑑 sin 𝜃, em que 𝜃 é o ângulo entre a direção
do feixe incidente na rede e a do feixe difratado) entre os raios
provenientes de duas fendas adjacentes, distantes 𝑑 entre si, for igual a um
número inteiro de comprimentos de onda 𝜆.
Assim, ocorrem máximos de intensidade quando 𝑑 sin 𝜃 = 𝑛𝜆, onde 𝜃 é
o ângulo de difração para o máximo de ordem n (n = 0, 1, 2,...). Esta equação
é válida apenas quando os raios incidem perpendicularmente à rede e desde que os raios difratados possam
ser considerados paralelos (difração de Fraunhofer).
A posição dos máximos de intensidade depende do comprimento de onda, assim a utilização da rede de
difração com luz policromática (luz branca) permite evidenciar o uso do fenómeno da difração em
espetroscopia.
Questões Pré-Laboratoriais (respostas)
1. Quando uma onda é obstruída, podendo apenas continuar a propagar-se por uma fenda com dimensões
próximas do seu comprimento de onda, ocorre difração. Na difração ocorre espalhamento da onda, e a
zona iluminada, inicialmente um ponto luminoso quando a fenda era muito larga, alarga-se para cada um
dos lados do ponto inicial na direção do estreitamento da fenda. Poderão também aparecer zonas
iluminadas intercaladas com zonas sem qualquer luz.

2. A relação 𝑛𝜆 = 𝑑 sin 𝜃 permite calcular o comprimento de onda. Para o máximo de primeira ordem n= 1,
e como 𝑑 = 1,0 μm = 1,0 × 10−6 m, então
𝜆 = 1,0 × 10−6 m × sin 32,1° = 5,31 × 10−7 m.

1 10−3
3. a) O espaçamento entre fendas é 𝑑 = 300 mm = 300
m = 3,33 × 10−6 m.

b) A relação que permite calcular o comprimento de onda é 𝑛𝜆 = 𝑑 sin 𝜃. Para o máximo de primeira
𝑎 𝑎
ordem tem-se n= 1. Da geometria da figura retira-se que sin 𝜃 = 2 2. Então, 𝜆 = 𝑑 2 2.
√𝑎 +𝐿 √𝑎 +𝐿
𝑎 10−3 2,4
c) 𝜆 = 𝑑 = m× = 6,54 × 10−7 m = 654 nm
√𝑎 2 +𝐿2 300 √2,4 2 +12,02
|654−650|
O erro percentual é × 100 = 0,62% (por excesso).
650
𝑎 10−3 𝑎
d) 𝜆 = 𝑑 ⟺ × = 6,50 × 10−7 m
√𝑎 2 +𝐿2 600 √𝑎2 +12,02

𝑎 600 × 6,50 × 10−7 𝑎2


= ⟺ = 0,392
√𝑎2 + 12,02 10−3 𝑎2 + 12,02

𝑎2 (1 − 0,392 ) = 0,392 × 12,02 ⟹ 𝑎2 = 25,8 cm2 ⟹ 𝑎 = 5,1 cm


e) Com a diminuição do espaçamento entre fendas os pontos luminosos (máximos de ordem n) ficam mais
afastados, então será de prever que a diminuição do número de fendas por milímetro aproxime os
pontos luminosos que se observam. A difração fica menos acentuada.

Trabalho Laboratorial
1. a) Apresenta-se a seguir uma sequência de imagens obtidas quando se foi estreitando uma fenda. Da
esquerda para a direita as imagens foram obtidas com fendas cada vez mais estreitas.

Observa-se inicialmente um ponto que depois vai alargando na horizontal; também começam a aparecer
zonas escuras intercaladas com zonas iluminadas e aumenta o espaçamento estre elas.
b) Apresenta-se a seguir uma sequência de imagens obtidas quando se foi aumentando o número de
fendas, mantendo a distância do alvo à fenda.
Observa-se que a parte iluminada vai alargando na horizontal e aumenta o espaçamento entre zonas
escuras e iluminadas.
c) Quando se coloca um cabelo em frente ao feixe laser observa-se um padrão semelhante ao obtido com
uma fenda.

2. a) Rede de difração com 300 linhas por milímetro. O espaçamento entre duas fendas consecutivas é 𝑑 =
1 10−3
300
mm = 300
m = 3,33 × 10−6 m.
b) As figuras seguintes mostram o que obteve quando o laser incidiu na rede de difração colocada,
respetivamente, a 14,0 cm e a 6,0 cm do alvo.

Quando a rede se afasta do alvo os pontos luminosos ficam mais afastados, e também se verifica que
quanto mais próximos do centro mais intensos eles se mostram. Para os das extremidades a
luminosidade fica mais ténue.
c) Quando a rede de difração estava a 14,0 cm do alvo, a distância entre os máximos de primeira ordem
era (12,8 -7,2) cm = 5,6 cm.
d) Para a rede de difração de 600 linhas por milímetro, quando colocada 14,0 cm do alvo, a distância entre
os máximos de primeira ordem era (18,8 -6,8) cm = 6,0 cm.

e) A seguir mostram-se fotografias de montagens e registos do padrão observado quando a rede de


difração de 600 linhas por milímetro se encontrava a 6,0 cm do alvo (figura menor) e a 8,0 cm do alvo
(figura mais escura).

3. Com o led branco observa-se uma zona central branca e em torna dessa zona, de cada um dos lados, o
espetro da luz branca. A figura seguinte mostra o registado.
Questões Pós-Laboratoriais (respostas)
1. Quando o feixe de luz passou pela fenda de abertura variável e se foi fechando a abertura, o ponto luminoso
foi ficando progressivamente alargado na horizontal. Também apareceram intercaladas zonas iluminadas
e zonas escuras.
Com a interposição do cabelo em frente do feixe laser também se observou um padrão semelhante ao de
uma fenda pouco aberta.
O que se observou esteve de acordo com o indicado no manual para o fenómeno da difração.

2. Como referido, quando se foi se foi fechando a abertura, o ponto luminoso foi ficando progressivamente
alargado na horizontal e também apareceram intercaladas zonas iluminadas e zonas escuras.
Com as fendas múltiplas observou-se que as zonas iluminadas e escuras ficavam mais afastadas quando se
aumentou o número de fendas.

3. Mediu-se a distância entre dois máximos de primeira ordem e não a distância entre o máximo central e um
máximo de primeira ordem para minimizar erros. Ao medir-se uma distância maior diminui-se a incerteza
relativa na medida.
Em alguns casos, por descuido na montagem, o alvo ou a rede não ficam bem perpendiculares ao feixe e,
quando isso acontece, um dos máximos da mesma ordem fica mais afastado do máximo central. Assim, ao
medir-se apenas a distância de um deles ao máximo central aumentaria os erros.

4. Para a rede de 300 linhas por milímetro:


10−3 2,8
𝜆= m× = 6,54 × 10−7 m = 654 nm
300 √2,82 + 14,02
|654−650|
o erro percentual é 650
× 100 = 0,62% (por excesso).

Para a rede de 600 linhas por milímetro:


10−3 6,0
𝜆= m× = 6,57 × 10−7 m = 657 nm
600 √6,0 + 14,02
2

|657−650|
o erro percentual é = 650
× 100 = 1,1% (por excesso).

Ambas as medidas apresentam uma elevada exatidão em relação ao valor indicado pelo fabricante, sendo
a primeira, obtida com a rede de 300 linhas por milímetro, um pouco mais exata.
Acrescenta-se que no valor indicado pelo fabricante deveria existir a indicação de uma incerteza no valor.

5. A distância entre os máximos de primeira ordem é:


3,7 cm
Para a distância de 6,0 cm: (14,7 -11,0) cm = 3,7 cm⇒ 𝑎 = 2
= 1,85 cm.

10−3 1,85
𝜆= × = 4,91 × 10−7 m = 491 nm
600 √1,852 + 6,02
4,7 cm
Para a distância de 8,0 cm: (17,7 -13,0) cm = 4,7 cm ⇒ 𝑎 = 2
= 2,35 cm.

10−3 2,35
𝜆= × = 4,70 × 10−7 m = 470 nm
600 √2,352 + 8,02
A indicação do fabricante para o led azul é 470 nm.
6. Com o led azul observavam-se duas zonas azuis de cada lado da zona central iluminada também com azul.
Com o led branco observavam-se três zonas coloridas, uma azul, uma mais verde e amarelada e outra mais
avermelhada. O led branco emite num intervalo de frequências muito maior do que o do led azul.

7. Quando excitados, os elementos químicos podem emitir luz com fotões de diferentes energias, a que
correspondem diferentes comprimentos de onda.
Como os ângulos de difração dependem dos comprimentos de onda, ao fazer-se incidir a luz emitida pelos
elementos químicos na rede de difração os fotões de frequências diferentes serão enviados para diferentes
ângulos. Ao observar-se essa luz observa-se a discriminação que ocorre para as diferentes frequências, as
quais se podem medir e assim calcular a energia dos diferentes fotões emitidos pelos átomos.

8. Num cristal os átomos estão dispostos regularmente e esse cristal pode funcionar como rede de difração.
No cristal os átomos dispõem-se segundo camadas, numa rede cristalina, e a ordem de grandeza do
espaçamento entre átomos é 10−10 m, ora um comprimento de onda desta ordem de grandeza situa-se na
região dos raios X do espectro eletromagnético (𝜆 do raios X situa-se de 10−12 m a 10−9 m).

Exercícios Suplementares
1. Um feixe laser incide sobre um conjunto de aberturas de reduzida dimensão, e num alvo a uma certa
distância é observado um padrão de luz resultante da sobreposição das múltiplas ondas provenientes das
aberturas.
A lei que relaciona o conjunto de aberturas (rede) com a localização, no alvo, das manchas de luz
correspondentes à soma construtiva das ondas é dada por:
𝑎
𝑛𝜆 = 𝑑 sin 𝜃 ⇔ 𝑛𝜆 = 𝑑
√𝑎2 + 𝐿2
onde 𝑑 corresponde ao espaçamento entre as fendas, 𝜆 é o comprimento de onda da luz laser, 𝑛 =
0, 1, 2, … identifica a mancha de luz observada no alvo relativamente ao ponto central, 𝑎 é a distância da
mancha de luz no alvo relativamente ao ponto central (𝑛 = 0), 𝜃 é o ângulo de desvio correspondente à
posição da mancha de luz em relação à direção inicial do feixe, e 𝐿 a distância entre a rede e o alvo.
Pretende medir-se o comprimento de onda emitido pelo apontador laser, utilizando para tal uma rede de
difração 400 linhas por milímetro. Montou-se o sistema de acordo com o esquema da figura:

a) Para 5 distâncias, 𝐿, rede-alvo diferentes, determinou-se a distância 2𝑎 entre os máximos de adjacentes


ao máximo central (𝑛 = 1).
𝜆2
Para estes máximos mostra-se que 𝑎2 = 𝐿2.
𝑑 2 −𝜆2

Os valores medidos de 𝐿 e de 2𝑎 foram registados numa tabela, assim como os de 𝐿2 e de 𝑎2 .


𝑳 / dm 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00
𝟐𝒂 / dm 0,56 0,85 1,16 1,38 1,70
𝑳𝟐 / dm𝟐 1,00 2,25 4,00 6,25 9,00
𝟐 𝟐 0,0784 0,181 0,336 0,476 0,723
𝒂 / dm

Determine o comprimento de onda do laser, 𝜆, a partir do gráfico de 𝑎2 = 𝑓(𝐿2 ).


b) Qual é a vantagem de determinar 𝜆 a partir do gráfico, por comparação com o cálculo de 𝜆 com uma
única medida?
c) O valor do comprimento de onda do laser indicado pelo fabricante é 670 nm.
i) O valor experimental do comprimento de onda obtido por um outro grupo de alunos foi
6,84 × 10−7 m. O erro absoluto na determinação do comprimento de onda foi…
(A) 663 nm. (B) 1,4 × 10−7 m. (C) 2,1%. (D) 97,9%.
ii) Determine o ângulo que se prevê existir entre a direção dos máximos de 1.a e de 2.a ordem
d) Os alunos observaram diretamente a luz transmitida pela rede de difração quando iluminada por um led
«branco» (disponível no apontador laser).
Preveja, justificando, o que se observa em diferentes ângulos.
e) Numa outra experiência os alunos utilizaram uma rede de difração com o dobro das linhas por milímetro,
mantendo o mesmo laser assim como a distância da rede ao alvo.
Verificaram que os máximos…
(A) de 1.a e de 2.a ordens ficaram mais distantes do máximo central.
(B) de 1.a e de 2.a ordens ficaram mais próximos do máximo central.
(C) de 1.a ordem se aproximaram do máximo central, mas os de 2.a ordem se afastaram.
(D) de 1.a ordem se afastaram do máximo central, mas os de 2.a ordem se aproximaram.

Respostas aos Exercícios Suplementares


1. a) A equação da reta de ajuste ao gráfico de dispersão de 𝑎2 (quadrado da distância, medida no alvo, entre o
máximo de ordem 1 e o de ordem 0) em função de 𝐿2 (quadrado da distância entre a rede e o alvo) é 𝑎2 =
7,919 × 10−2 𝐿2 + 2,5 × 10−2 (com as ordenadas e as abcissas em dm2).
𝜆2
O declive da reta é 𝑚 = 𝑑2 −𝜆2 em que 𝑑 é o espaçamento entre as fendas e 𝜆 o comprimento de onda;
resolvendo esta equação em ordem a 𝜆 obtém-se
𝑚 7,919×10−2 10−3 m
𝜆 = √1+𝑚 𝑑 = √ 1,07919
× 400
= 6,77 × 10−3 m = 677 nm .

b) Com uma só medição é provável que o resultado obtido venha afetado de um maio erro. Quanto maior
for o número de medições maior a probabilidade de os erros aleatórios se cancelarem, aproximando-se
o resultado obtido do valor verdadeiro.
c)
i) (B)
O erro absoluto é o desvio do valor experimental em relação ao valor verdadeiro, logo o erro absoluto
é (6,84 × 10−7 − 670 × 10−9 ) m = 1,4 × 10−7 m .
1,4×10−7 m
O erro percentual seria 670×10−9 m × 100% = 2,1% .

ii) A posição angular dos máximos de 1.ae de 2.a ordem pode calcular-se a partir da relação
𝑛𝜆
𝑛𝜆 = 𝑑 sin 𝜃 ⇒ sin 𝜃 = 𝑑
, para 𝑛 = 1 e 𝑛 = 2, respetivamente.
Assim, para os máximos de 1.a ordem obtém-se
𝜆 670×10−9 m
sin 𝜃1 = = = 0,268 ⇒ 𝜃1 = 15,5°,
𝑑 2,5×10−6 m
2𝜆 2×670×10−9 m
e para os de 2.a ordem sin 𝜃1 = 𝑑
= 2,5×10−6 m
= 0,536 ⇒ 𝜃1 = 32,4° .

Assim, o ângulo entre a direção dos máximos de 1.a e de 2.a ordem é


(32,4° − 15,5°) = 16,9°.
b) Prevê-se que ocorra dispersão da luz, observando-se, assim, o espetro da luz branca.
Os ângulos 𝜃 de difração dependem do comprimento de onda da luz. Portanto, os máximos
correspondentes à difração da luz de diferentes cores apresentarão desvios diferentes, o que origina a
separação da luz branca nas diferentes cores.
c) (A)
Aumentando o número de linhas por milímetro, diminui a distância 𝑑 entre as fendas, daí aumentar as
𝑛𝜆
distâncias entre máximos consecutivos: sin 𝜃 = 𝑑
.

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