Curso de Bacharelado em Teologia Claretiano Pentateuco e Historicos2

Você também pode gostar

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 32

EAD

Organização e Legislação
do Povo de Israel

3
1. OBJETIVOS
• Reconhecer e interpretar chaves de leitura dos principais
preceitos, normas e leis do povo de Israel.
• Identificar e analisar a vivência da esperança diante de
dilemas, conflitos e problemas cotidianos e históricos.

2. CONTEÚDOS
• Tradição do Sinai.
• “Decálogo” e “Código da Aliança”.
• “Código da Santidade”.
• “Código Deuteronômio”.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
98 © Pentateuco e Históricos

1) Ao iniciar seus estudos, procure ter à mão todos os re-


cursos de que irá necessitar, tais como: dicionário, ca-
derno para anotações, canetas, lápis, obras etc. Desse
modo, você poderá evitar as interrupções e aproveitar
seu tempo para ampliar sua compreensão. Pense nisso.
2) Há estudos recentes sobre duas categorias de sentenças
do “Código da Aliança”: as sentenças dos deveres para
com o inimigo (GRENZER, 2007, p. 149-163) e a senten-
ça contra a mulher feiticeira (BRANCHER, 2005, p. 31-
50). E também sobre o jubileu e as tradições jubilares:
REIMER; REIMER (1999). Sugerimos que você consulte!
Você encontrará as referências completas no tópico Re-
ferências Bibliográficas.
3) Veja também as obras: CERESKO (1996, p. 90-95); CRÜ-
SEMANN (1995); PURY (2002, p. 183-205; 217-239); LÓ-
PEZ (2004, p. 149-203; 229-270). Ou escolha artigos dos
periódicos científicos: Estudos Bíblicos (n. 16, 51, 57); RI-
BLA (n. 33); UNICLAR (n. 6 e 7). Você encontrará as refe-
rências completas no tópico Referências Bibliográficas.
4) Sabemos que pesquisar e estudar são hábitos que preci-
sam ser criados. Assim, como qualquer outra habilidade,
no início, ler e estudar precisam ser atividades realizadas
com dedicação e esforço, até que se adquira gosto e se
essas ações se tornem tarefas cotidianas comuns. Pes-
quise! Assuma esse compromisso e policie-se!
5) Amplie seus conhecimentos lendo os textos bíblicos
indicados: Ex 20,22–23,19. Para facilitar a leitura, leia
conforme sugere A bíblia de Jerusalém: a lei do altar (Ex
20,22–26); leis acerca dos escravos (Ex 21,1–11); homi-
cídio (Ex 21,12–17); golpes e ferimentos (Ex 21,18–36);
roubos de animais (Ex 21,37–22,3); delitos que implicam
indenização (Ex 4–14 22,414); violação de uma virgem
(Ex 22,15–16); leis morais e religiosas (Ex 22,17–27); pri-
mícias e primogênitos (Ex 22,28–30); deveres para com
os inimigos (Ex 23,1–9); "Ano Sabático" e sábado (Ex
23,10–13); as festas de Israel (Ex 23,14–19).

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Organização e Legislação do Povo de Israel 99

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta unidade 3, concluiremos o estudo do Pentateuco e ve-
remos a legislação de Israel: do Êxodo ao Deuteronômio.
Como você pode constatar, o Pentateuco é um conjunto de
livros que aborda temas relevantes para o povo de Israel e para a
humanidade em geral.
Na Unidade 1, você estudou o livro de Gênesis, com ênfase
em temas sobre:
• origens da humanidade: Gn 1,1–11,26;
• matriarcas e patriarcas: Gn 11,27ss.
Na Unidade 2, você estudou:
• Êxodo (saída do Egito): Ex 1,1–15,21.
• Tradição do deserto: Ex 15,22–19,2; Nm 10,11–14,45;
20,1–22,1; 33,1–49.
Agora vamos conhecer um pouco as coleções de textos le-
gais que foram surgindo ao longo da história de Israel. Nesses có-
digos de leis, como são chamados, acham-se incluídos preceitos
muito relevantes para a vida da sociedade antiga, alguns dos quais
podem ser reinterpretados nos dias de hoje.
Entre esses códigos, podemos citar o “Decálogo”, “Código da
Aliança”, “Código da Santidade” e “Código Deuteronômico” Sur-
gidos em épocas diferentes, foram incluídos na redação final do
Pentateuco, acrescidos de introduções e conclusões que os trans-
portaram para a época mosaica, mais precisamente na tradição do
Sinai. Com isso, os códigos foram legitimados.
Hoje, não é simples para o leitor refazer a história da legis-
lação de Israel e até mesmo os estudiosos do assunto divergem
quanto a várias questões, a exemplo da datação dos códigos de
leis. Algumas suposições podem ser feitas, mas resta ainda muito
trabalho para a pesquisa bíblica.
100 © Pentateuco e Históricos

Você está preparado para percorrer mais uma unidade?


Bom estudo!

5. TRADIÇÃO DO SINAI
A tradição do Sinai atravessa uma grande seção do livro do
Êxodo, interligando os eventos: chegada ao Sinai (Ex 19,1–2); pro-
messa e preparação do “Pacto de Aliança" (Ex 19,3–15); teofania
(Ex 19,16–25); “Decálogo” (Ex 20,1–21); “Código da Aliança” (Ex
20,22–23,19); conclusão da "Aliança" (Ex 24,1ss) e assim por dian-
te, até o fim do livro. Dentro da mesma tradição, textos similares,
mas com pequenas variações, estão no livro do Deuteronômio (cf.
referência ao Horeb em Dt 5,1–5; “Decálogo” em Dt 5,6–22). Há
também prescrições do “Decálogo” e do “Código da Aliança” dis-
seminadas no livro do Levítico e de Números.
É necessário comentar, ainda que rapidamente, a respeito
do Sinai: é um dos nomes que os israelitas deram ao monte ou
montanha de Deus (o outro nome é Horeb , Dt 5,2).
O nome (Sinai) é derivado do hebraico seneh (sarça, Ex 3,1–
12); também pode ser uma referência ao culto do deus Sin realiza-
do naquele lugar (BORN, 1977, p. 1441).
É difícil precisar a localização do Sinai. A tradição cristã o co-
loca ao sul da península que leva o seu nome, mas há opinião de
que o Sinai podia se situar na Arábia. Outra tese diz que o Sinai
podia estar entre o Egito e o sul da Palestina, o que vários mapas
bíblicos indicam essa posição (confira naquele presente em sua Bí-
blia).
Seja como for, o mais importante é reter o significado do Si-
nai para a fé dos israelitas: trata-se do lugar onde Deus (Iahweh)
apareceu a Moisés e celebrou a "Aliança" com o povo de Israel,
selando a sua eleição e as promessas feitas em Ex 6,6–8.

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Organização e Legislação do Povo de Israel 101

Vós mesmos vistes o que eu fiz aos egípcios, e como vos carreguei
sobre asas de águia e vos trouxe a mim (Ex 19,4).
Tomar-vos-ei por meu povo, e serei o vosso Deus (Ex 6,7a).

Em síntese, as memórias orais e escritas dessa tradição,


oriundas de pequenos e diversos fragmentos que passaram por
um longo e complexo processo de organização e composição para
serem editados nos livros do Pentateuco (cf. conceito de BÍBLIA
HEBRAICA STUTTGARTENSIA), dizem que, em meio à caminhada
pelo deserto, Moisés recebe a Lei da parte de Deus para transmiti-
-la ao povo no monte Sinai.
Lendo os textos, você pode pensar que há uma única Lei,
recebida e transmitida no Sinai. Mas os livros do Êxodo ao Deute-
ronômio reúnem diversas coleções de leis, algumas muito antigas
e outras preservadas e escritas no decorrer da história do povo de
Israel.
Temos, portanto, um conjunto diverso de instruções varia-
das para a vida cotidiana, litúrgica, comunitária e social do povo
de Israel.
Para nosso estudo, selecionamos preceitos legislativos que
abordam questões relevantes do povo de Israel e que podem ser-
vir de parâmetro ético para a vida atual.

6. “DECÁLOGO” E “CÓDIGO DA ALIANÇA”


A divisão literária do bloco do Ex 19,1–40,38 mostra um con-
junto de prescrições e instruções diversificadas.
1) Chegada ao Sinai, “Aliança” e teofania: Ex 19,1–25.
2) “Decálogo”: Ex 20,1–21.
3) “Código da Aliança”: Ex 20,22–23,19.
4) Instruções para entrada em Canaã: Ex 23,20–33.
5) Conclusão da “Aliança”: Ex 24,1–18.
6) Prescrições litúrgicas e administrativas: Ex 25,1–31,18.
102 © Pentateuco e Históricos

7) Bezerro de ouro e renovação da “Aliança”: Ex 31,1–34,35.


8) Prescrições litúrgicas e administrativas: Ex 35,1–40,38.
Dessas prescrições, estudaremos o “Decálogo” e o “Código
da Aliança”, que reúnem leis reguladoras da vida ética e moral, so-
cial e religiosa do povo de Israel. O conjunto dessas prescrições é
apresentado como uma carta da aliança com Iahweh. Essa “Alian-
ça” do Sinai compromete todo o povo que recebe as leis.
A promulgação das leis está vinculada às narrativas da tra-
jetória pelo deserto, onde a aliança com Iahweh é concluída.
É importante salientar que convencionalmente a própria
Bíblia cristã e alguns estudiosos empregam o termo aliança para
traduzir a palavra hebraica berith, que exprime um sentido de
acordo, arranjo, pacto, compromisso, tratado, obrigação, liame e
relacionamento. Desse modo, onde se lê aliança, entenda-se:
[...] acordo formal, solene e vinculador entre partidos nos quais
existem obrigações de executar determinados atos ou abster-se
de executá-los, e existem promessa ou ameaças de consequên-
cias que se seguirão ao cumprimento ou ruptura das obrigações.
(GOTTWALD, 1988, p. 198).

Em outras palavras, aliança, no caso da legislação de Israel, é


relacionamento ordenado entre Deus e as pessoas/ comunidades;
é bilateral e não necessariamente equitativo nos envolvimentos e
obrigações das duas partes.

Decálogo
O “Decálogo”, ou as “dez palavras” – conforme são denomi-
nadas em Dt 4,13 e 10,4, – traduzidas como “dez mandamentos”
e inscritas nas Tábuas do Sinai, é apresentado duas vezes: Ex 20,1–
21 e Dt 5,6–22.
No livro do Êxodo, o “Decálogo” antecede o “Código da
Aliança”; no livro do Deuteronômio, faz parte da introdução ao
“Código Deuteronômico”.

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Organização e Legislação do Povo de Israel 103

Há outra lista de mandamentos ou proibições em Ex 34,11–


26, que os estudiosos chamam de decálogo ritual (Ex 20,1–21 é
chamado "Decálogo Ético”). Esse texto também é denominado do-
decálogo porque contém doze mandamentos. Outros decálogos
foram propostos em Lv 18,6–18 e 20,2–16.
Alguns fragmentos do “Decálogo” são bem antigos, pro-
vavelmente dos primórdios da formação das tribos de Israel (por
volta de 1200 a.C.). Talvez esses conservassem uma forma mais
primitiva, que devia consistir numa sequência de fórmulas breves,
fáceis de memorizar, transmitidas oralmente até serem registradas
por escrito. Exemplos:
• honrar pai e mãe;
• não matar;
• não cometer adultério;
• não roubar.
É provável que as tribos de Israel tenham pautado sua vivên-
cia na observância dos mandamentos de Deus. É fácil entender essa
relação entre as tribos e alguns preceitos jurídicos do “Decálogo”.
Para viver em pequenos grupos e em pequenas comuni-
dades, as tribos precisavam de uma Constituição que lhes asse-
gurasse a preservação do projeto tribal. Por isso, necessitavam de
preceitos baseados nos princípios de:
1) plantar, colher e comer;
2) trocar e partilhar o excedente;
3) não deixar sobrar nem acumular (para evitar riqueza);
4) não saquear e não guardar os despojos de guerras.
Ex 20,1–21 traduz parte desse pensamento e ideal das tri-
bos: resistência e negação de ações exercidas especialmente por
reis das cidades-estado e outros membros do palácio da época.
Nesse tempo, os reis agiam em nome dos deuses e come-
tiam arbitrariedades, atitude que era comum em outras épocas
de realeza. Outra prática comum era a apropriação de mulheres,
especialmente após as guerras.
104 © Pentateuco e Históricos

Contudo, em Ex 20,1–21, o Deus que sustenta o projeto trib-


al é Iahweh, aquele que fez o povo hebreu sair das terras do Egito.
Portanto, trata-se de um Deus que libertou os filhos de Israel da
casa da escravidão do faraó (Ex 20,2).
Em nome desse Deus, não se pode agir com arbitrariedade e
nem se apropriar de bens alheios, muito menos de pessoas.
Esse é apenas um dos aspectos do “Decálogo”. Vejamos out-
ros acentos desta legislação, por meio da qual as tribos dizem:
1) Não aos deuses dos opressores e às religiões deles (Ex
20, 3-6).
2) Não ao uso indevido do nome de Deus (Ex 20,7).
3) Não ao trabalho ininterrupto que não deixa repousar e
nem santificar o sábado (Ex 20,8–11).
4) Não ao desrespeito às lideranças tribais/ mães e pais das
tribos (Ex 20,12).
5) Não ao ato de matar (Ex 20,13).
6) Não ao adultério (Ex 20,14).
7) Não ao roubo e saque que geram acúmulo (Ex 20,15).
8) Não à falsidade contra o próximo (Ex 20,16).
9) Não à exploração e apropriação de pessoas e objetos via
tributo e via guerra (Ex 20,17).
Ao dizer não a essas práticas divergentes do projeto de
Iahweh, as tribos firmam um compromisso de cultuar esse Deus e
de assumir seus preceitos que asseguram basicamente a vivência
ética entre pessoas, famílias, membros da tribo, tribos entre si e
dessas com a sociedade.
O “Decálogo” também pode ser lido na perspectiva apresen-
tada por Gottwald, transcrita a seguir (1988, p. 205):
“Proibições do Decálogo Ético”.
1) Proibição do culto a qualquer outro deus fora Iahweh, quer no
sentido de que nenhum outro deus deve ser adorado em lugar
cultual consagrado a Iahweh, quer no sentido de que não deve
haver aceitação de qualquer outro deus como tendo pretensão
sobre israelitas (Ex 20,3; Dt 5,7).

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Organização e Legislação do Povo de Israel 105

2) Proibição de fabricar imagens de deuses/Deus, seja para repre-


sentar Iahweh, seja para representar qualquer outro deus, ou
em ambos os sentidos (Ex 20,4; Dt 5,8; cf. Ex 20,23).
3) Proibição do emprego incorreto do nome de Iahweh, quer no
sentido de juramentos feitos levianamente, desnecessaria-
mente ou desonestamente, ou no sentido de uso mágico do
nome para amaldiçoar ou evocar espíritos maus para causar
dano a outros injustamente (Ex 20, t; Dt 5,11).
4) Proibição de trabalho no dia sétimo ou sábado (Ex 20, 8; Dt
5,12).
5) Proibição de amaldiçoar os próprios pais, quer no sentido de
jovens que desonram pais que ainda possuem governo sobre
eles, quer no sentido de adultos amadurecidos que desonram
ou deixam de cuidar de seus pais mais velhos (Ex 20,12; Dt
5,16).
6) Proibição de assassínio de outro israelita, seja homicídio com
dolo, seja no sentido de que o assassino ou perpetrador de cri-
me capital não possa ser executado sem processo legal ade-
quado, ou ambos (Ex 20,13; Dt 5,17).
7) Proibição do adultério, seja abrangendo uma variedade de liga-
ções sexuais com mulher casada ou comprometida (Ex 20,14;
Dt 5,18).
8) Proibição de roubar propriedade/pessoal (?) quer no sentido
de furtar todas as espécies de possessões pessoais, quer no
sentido de roubar, ou seja, sequestrar pessoa, o que era fonte
comum para o tráfico de escravos na antiguidade (Ex 20,15; Dt
5,19; cf. Ex 21,16).
9) Proibição de acusar falsamente outro israelita, quer como
queixoso em processo, quer como testemunha, ou ambos (Ex
20,16; Dt 5,20).
10) Proibição de cobiçar/apossar-se da casa de outro israelita/
membros da casa, quer no sentido de condenar o desejo ínti-
mo ou cobiça de tomar propriedade ou pessoas pertencentes
a outro, quer no sentido de apossar-se intencionalmente de
propriedade, que deve ser diferenciado da captura de pessoas
em n. 8 (Ex 20,17; Dt 5,21).

Em suma, as orientações do “Decálogo” ajudam as comu-


nidades a continuar no caminho da liberdade e da justiça. É a ne-
gação de qualquer tipo de servidão e exploração. Por essa razão,
o “Decálogo” é relido ao longo da história de Israel. Ele é pista e
ferramenta para se viver o projeto de Iahweh.
106 © Pentateuco e Históricos

O “Decálogo” foi preservado para servir de ensinamento


às comunidades de Israel, uma espécie de bússola para iluminar
as vivências humanas, sociais e religiosas daquele tempo e lugar.
Posteriormente, as comunidades cristãs também se pautaram em
seus princípios e fizeram uma revisão à luz dos ensinamentos de
Jesus de Nazaré. De lá para cá, os mandamentos têm sido objeto
de observância das comunidades cristãs, mas seus preceitos em
sentido amplo podem contribuir com a vivência de novos valores,
práticas e atitudes na sociedade contemporânea.

“Código da Aliança”
Para começar, vejamos o conceito de “Código da Aliança” (Ex
20,22–23,19).
Em linhas gerais, o código é uma composição de sentenças
jurídicas resultante de um processo de elaboração complexo. Data
dos primeiros séculos da monarquia de Davi. Sua incorporação no
contexto narrativo do Êxodo pode ser vista como um ato de auto-
rização canônica.
O “Código da Aliança” é considerado a legislação mais antiga
de Israel.
Com outras palavras:
Israel ligou seu direito, elaborado posteriormente (séculos X-VIII
a.C.), àquelas experiências que marcaram seu nascimento como
sociedade, em especial, à experiência da libertação da escravidão
no Egito (o êxodo histórico, em geral, é datado no fim do século XIII
a.C.) .
Manifesta-se, dessa forma, a convicção de que as leis aqui reunidas
são condizentes com o projeto do êxodo. Na realidade, a intenção
é transformar a experiência histórico-religiosa da libertação em um
projeto jurídico que, por sua vez, quer servir à construção de uma
sociedade alternativa, sendo esta última resultado e destino do
êxodo (GRENZER, 2007, p. 154-155).

Nesse sentido, temos muitas sentenças alinhadas com o pro-


grama do êxodo fundamentado na prática da justiça e do direito.
Em uma palavra, há preceitos na linha da libertação de tudo aquilo
que oprime os pobres e inviabiliza a vivência fraterna e igualitária.
Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
© Organização e Legislação do Povo de Israel 107

Uma novidade do “Código da Aliança” é que ele reúne


Pela primeira vez na história do Antigo Israel, leis cultual-religiosas
e normas de um amplo direito penal e civil. Comparando-o com as
legislações mais antigas da Mesopotâmia, pode-se observar, como
fato inédito até então, a preocupação do legislador israelita com o
"pobre".
[...] Os economicamente necessitados começam a fazer parte das
leis e recebem uma certa proteção. Quer dizer, por tudo o que se
conseguiu pesquisar até hoje, as leis israelitas não marcam o início
do "direito" na história do homem, mas iniciam a história do "direi-
to social" (GRENZER, 2007, p. 154).

Você pode confirmar essa premissa com base nos conteúdos


do “Código da Aliança”, pois há muitas sentenças voltadas para
os pobres de Israel: escravos, estrangeiros, viúvas, órfãos, endivi-
dados, julgados injustamente (Ex 21,1–11; 21,20–21–26–27–32;
22,20–26; 23,1-3–6–9; 23,11–12).
Há sentenças que se referem à vida de uma sociedade tipi-
camente agrícola: Ex 21,28–22,5; 22,28–30; 23,4–5–10–19. Por-
tanto, uma sociedade sedentária e organizada com uma legislação
própria, a partir de 1200 a.C.
Uma sociedade que devia cuidar bem de seus servos, pois há
sentenças que abordam o direto dos escravos ou dos estrangeiros.
Essas sentenças são de um período mais tardio, provavelmente
da monarquia dos reis Saul e Davi (final do século 11 e início do
10 a.C.). Nesse momento, já há um Estado se formando e consoli-
dando uma nova estrutura sociopolítica e econômica diferente do
período das tribos (período estatal).
Provavelmente o povo de Israel assimilou esse costume de
ter escravos do povo de Canaã. Aceitou o direito de ter escravos,
mas tentou dar o trato mais humano possível para os seus escra-
vos. Isso porque o escravo estava agregado à família e era conside-
rado membro dela. Pertencia à família e era protegido por ela. Em
Gn 24, por exemplo, o servo de Abraão procurou noiva para Isaac,
pois ele era de confiança da família. O escravo também participava
das festas de Israel (Dt 16,13–14). Contudo, o limite parece estar
108 © Pentateuco e Históricos

no fato de Israel compartilhar a ideia de que os escravos faziam


parte de seus bens (Gn 12,16; 20,14; 24,35).
Vejamos, então, um sumário de conteúdos abordados por
essa lei:
1) Altar (Ex 20,22–26).
2) Escravos (Ex 21,1–11).
3) Homicídio (Ex 21,12–17).
4) Golpes e ferimentos em humanos e animais (Ex 21,18–
36):
a) Pessoas: v.18–19.
b) Escravo e escrava: v.20–21.
c) Mulher grávida: v.22–24.
d) Olhos e dentes de escravos: v.26–27.
e) Chifrada de boi em homem, mulher, filho e filha:
v.28–31.
f) Chifrada de boi em escravo e escrava: v.32.
g) Boi e jumento: v.33–36.
5) Roubo de animais: Ex 21,37–22,3.
6) Indenização de delitos (Ex 22,4–14):
a) Uso do campo alheio: v.4.
b) Queimada do campo alheio: v.5.
c) Dinheiro ou objetos guardados na casa de alguém e
que são roubados: v.6–7.
d) Animais: v.8–14.
7) Violação de mulher virgem: Ex 22,15–16.
8) Sentenças éticas e religiosas (Ex 22,17–27):
a) Feiticeira: v.17.
b) Coito com animal: v.18.
c) Sacrifício aos deuses: v.19.
d) Estrangeiro, oprimido, viúva, órfão: v.20–23.
e) Empréstimo e juros: v.24–26.
f) Blasfêmia e maldição: v.27.

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Organização e Legislação do Povo de Israel 109

9) Oferta das primícias: Ex 22,28–30.


10) Deveres para com inimigos (Ex 23,1–9):
a) Ser testemunha justa, não torcer o direito e nem ser
parcial com o desvalido: v.1–3.
b) Cuidar do animal do inimigo: v.4–5.
c) Cumprir o direito do pobre em seu processo de jul-
gamento: v.6–8.
d) Não oprimir o estrangeiro: v.9.
11) “Ano Sabático" e sábado (Ex 23,10–13):
a) Semear a terra e recolher os frutos durante seis
anos: v.10.
b) Parar de colher no sétimo ano para que pobres
achem o que comer: v.11.
c) Descansar e deixar descansar no sétimo dia: filho da
serva, estrangeiro e animais: v.12.
d) Não fazer menção aos deuses: v.13.
12) Festas israelitas: Ex 23,14–19.
De todos esses temas, vamos olhar mais de perto Ex 22,17:
"Não deixarás viver a feiticeira". Por que a feiticeira não pode viv-
er? Por que merece pena de morte?
Brancher compreende essa sentença na perspectiva de uma
violência contra as mulheres feiticeiras. Na contramão, a autora
propõe o resgate do papel social das feiticeiras no cuidado com a
saúde e a vida do povo, na luta para se apropriar ou criar espaços
sagrados geralmente em suas próprias casas e tendas (BRANCHER,
2004).
O tema da violência contra as mulheres é atual e emergente,
afirma a autora. Mas a tese também evoca à memória o valorativo
trabalho das parteiras, prática frequente no interior do Brasil, so-
bretudo na primeira metade do século 20.
[...] a escolha deste sujeito social, a feiticeira, se deve ao fato de
uma parteira, conhecida como feiticeira, me receber em suas mãos
na hora do parto de minha mãe. A minha experiência existencial,
em relação à feiticeira, é motivo de questionamento à dureza da
sentença bíblica (BRANCHER, 2005, p. 33).
110 © Pentateuco e Históricos

Da vasta pesquisa de Brancher, vamos extrair aquilo que diz


respeito especificamente à feiticeira.
No Antigo Testamento, a feitiçaria é considerada uma práti-
ca de magia com todos os sinônimos de:
1) encantamento,
2) adivinhações,
3) astrologia,
4) necromancia.
Embora fosse prática popular de todo o Antigo Oriente, rece-
beu condenação dos profetas porque era associada com sistemas
estrangeiros ou pagãos de crença (Is 2,6; 8,19; 47,9–15; Ez 21,26–
28; Mq 5,11).
De qualquer forma, a feitiçaria era praticada pela população
em geral, tanto por homens como por mulheres.
Os feiticeiros atuavam junto à corte e aos palácios: ao lado
do faraó do Egito (Ex 7,11), com Manasses (2 Rs 21,6; 2 Cr 33,6) e
Nabucodonosor (Dn 2,2). Mas as feiticeiras recebiam as pessoas
em sua casa ou em sua tenda (Jz 17,1–6).
Alguns personagens masculinos eram reconhecidos positiva-
mente: magos estrangeiros como Balaão (Nm 23–24); sacerdotes
filisteus (1Sm 6). Outros agiam pelas propriedades mágicas advin-
das da inspiração de Iahweh: é o caso de Moisés e Aarão, que uti-
lizaram uma vara mágica nos episódios das pragas do Egito.
Entretanto, as feiticeiras eram destinadas à pena de morte!
Mas nem sempre foi assim na história de Israel.
Na época final do período dos juízes/ tribos, quando as mul-
heres ocupavam um lugar importante na sobrevivência dos clãs e
na organização da economia tribal,
as feiticeiras representavam um grupo dotado de um grande pres-
tígio social. Tinham seu brilho próprio. Junto ao povo eram tidas
como mulheres corajosas, sábias, possuidoras de divindades. Deti-
nham poderes mágicos (BRANCHER, 2005, p. 48).

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Organização e Legislação do Povo de Israel 111

Em síntese, as feiticeiras conheciam e manejavam ervas me-


dicinais, preparavam remédios, faziam partos e oravam pela pro-
teção divina. Trabalhavam no coletivo e faziam aprendizes. Enfim,
elas controlavam um conhecimento amplo e diversificado e o co-
locavam a serviço da comunidade.
Mas, com a apropriação da economia clânica-familiar pe-
los santuários, especialmente a partir da monarquia de Salomão,
que centralizou o culto a Iahweh em Jerusalém e instituiu pesados
tributos à população, criou-se também uma nova estrutura social.
Nela, vigorava o princípio patriarcal de hierarquização do poder
entre as pessoas, em especial, afirmando a primazia do homem
sobre a mulher.
No desvio desse movimento, estavam as feiticeiras que atu-
avam no espaço da casa, e, portanto, longe do controle da estru-
tura patriarcal dos santuários.
Sua autonomia e a irreverência representava um perigo para os es-
cribas do santuário. A severa punição atribuída às mulheres feiticei-
ras tem sua origem no santuário (Ex 23,19). Neste contexto é que se
deve compreender o significado da expressão "não deixes viver". Ela
é uma expressão técnica para designar a eliminação do sujeito social
(Nm 31,15; Dt 26,16). A determinação da sentença não é contra as
práticas de feitiçaria, mas é contra as mulheres que controlam estes
poderes mágicos. [...] Sua força está em controlar um poder que é
pessoal e não institucionalizado. [...] Usa-se o código jurídico como
mecanismo para enquadrar, submeter, dominar as mulheres que
praticam a religião da casa (BRANCHER, 2005, p. 49).

7. CÓDIGO DA SANTIDADE
O livro do Levítico está organizado em quatro partes, acresci-
das de um apêndice, como podemos ver no Quadro 1:

Quadro 1 As divisões do Levítico


1ª PARTE 2ª PARTE 3ª PARTE 4ª PARTE APÊNDICE
Lei sobre os Lei dos Lei da “Lei da Santidade” ou Tarifas e
sacrifícios sacerdotes pureza “Código da Santidade” avaliações
Lv 1–7 Lv 8–10 Lv 11–16 Lv 17–26 Lv 27
112 © Pentateuco e Históricos

O nome Levítico tem o sentido de “sacerdotal” ou de “lei


para sacerdotes”. Historicamente, segundo a tradição israelita
mais antiga, a tribo de Levi é descendente de Levi, terceiro filho
de Jacó e Lia (Gn 29,34; 35,2–26). Tradição posterior identificou a
tribo de Levi como levitas, os quais então exerciam funções sacer-
dotais em Israel. Todos os levitas seriam descendentes de Levi. E
exerceriam funções litúrgicas e apostólicas (BORN, 1977).
O livro do Levítico teve sua redação concluída por volta de
550 a 450 a.C., no fim do exílio da Babilônia e início da restauração
de Judá. Nessa época, o poder político dos sacerdotes aumentava
progressivamente, enquanto desapareciam os profetas e faltava
um rei em Israel.
Possivelmente, seus autores principais são os sacerdotes
de Jerusalém, pois há muitas referências ao sacerdócio e ao culto
nessa obra.
Eles provavelmente retomaram diversas coleções de leis e
rituais provenientes de tradições antigas do tempo da monarquia
ou até mesmo da época pré-monárquica (GASS, 1998). Reuniram
e completaram esse material, dando forma final ao livro e acres-
centando a fórmula "Iahweh falou a Moisés e disse".
Essa fórmula se repete 16 vezes no texto: 17,1; 18,1; 19,1;
20,1; 21,1.16; 22,1.17.26; 23,26.33; 24,1; 25,1 (SICRE, 1999, p.
128-129). Ela dá legitimidade às leis que vêm a seguir, como se
transportasse o conteúdo do livro para a época de Moisés (STOR-
NIOLO, 1995).
É dentro desse livro que temos o “Código da Santidade” (Lv
17–26):
1) Boa parte desse código já estava escrita no final da mo-
narquia sob a forma de pequenas coleções.
2) Sua linguagem tem diferenças em relação ao resto do
livro do Levítico e muitas semelhanças com o Deutero-
nômio, por seu caráter mais exortativo.

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Organização e Legislação do Povo de Israel 113

3) Suas leis sociais têm grande afinidade com os códigos


mais antigos de leis (Ex 20–23 e Dt 12–26).
4) Possivelmente é um programa que visa a reconstruir a
comunidade depois do exílio – que era liderada pelos sa-
cerdotes ao redor do templo reconstruído (GASS, 1998).
Em síntese, o “Código da Santidade” reúne:
• as preocupações dos sacerdotes com a administração do
culto litúrgico;
• as preocupações dos camponeses com a questão da terra
e dos empobrecidos.
O código é assim chamado por causa de um refrão repetido
várias vezes: "Sede santos porque eu, Iahweh vosso Deus, sou san-
to” (Lv 19,2; 20,7.26; 21,8; 22,32s).
Ser santo significa ser separado, ser distinto (Lv 20,26) para
não aderir aos costumes e à religião do Egito ou de Canaã (Lv
18,3.30).
A santidade de Deus também se estende a tudo o que se
aproxima de Deus ou lhe é consagrado:
1) os lugares (Ex 19,22);
2) as épocas (Ex 16,23; Lv 23,4; 25,4.10);
3) as pessoas, especialmente os sacerdotes (Ex 19,6; Lv
21,6);
4) os objetos do culto (Ex 20,29; Nm 18,9).
No “Código da Santidade”, há outros refrões:
1) Eu sou Iahweh (Lv 18,5. 6.21; 19,12. 14.16.18.27.30.32.37;
21,12.15; 22,2.3.8.30.33).
2) Eu sou Iahweh, vosso Deus (Lv 18,2. 4.30; 19,3.
4.10.25.30.34; 20,7; 22,23).
3) Eu sou Iahweh, vosso Deus, que vos fez sair da terra do
Egito (Lv 19,36).
4) Eu Iahweh vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito
para vos dar a terra de Canaã para ser para vós vosso
Deus (Lv 25,38).
114 © Pentateuco e Históricos

Essas fórmulas são típicas da memória do êxodo e, inseridas


nos textos da lei, reforçam a necessidade de seu cumprimento e
justificam a santidade do povo pela evocação da santidade de Iah-
weh.
Uma possível e sintética descrição da organização para o
“Código da Santidade” (Lv 17–26), com base na proposta de Ger-
stenberger:
1) Sangue do sacrifício (Lv 17).
2) Tabus sexuais (Lv 18).
3) Comunidade e vida cotidiana (Lv 19).
4) Atos puníveis (Lv 20).
5) Qualificações sacerdotais (Lv 21).
6) Uso próprio do sacrifício (Lv 22).
7) Calendário de festas (Lv 23).
8) Problemas sobre o culto (Lv 24).
9) Anos de liberdade – jubileu (Lv 25).
10) Bênção e maldição (Lv 26).
De todos esses capítulos do “Código da Santidade”, destaca-
mos dois temas por considerá-los relevantes para o antigo Israel e
para a atualidade, extraídos de Lv 19,9–18:
• justiça social;
• relacionamentos interpessoais.
O texto de Lv 19,9–18 está inserido em um capítulo que
aborda diversas prescrições morais e cultuais. Elas estão conec-
tadas entre si pela referência repetida a Iahweh e sua santidade,
vinculadas ao “Decálogo” (Ex 20,1–21).
Você pode analisar Lv 19,9–18 prestando atenção em seus
conteúdos básicos:
• Justiça social:
1) Repartir o excedente da produção agrícola com po-
bres e estrangeiros (v.9–10).

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Organização e Legislação do Povo de Israel 115

2) Não oprimir o próximo nem roubá-lo: "o salário do


operário não ficará contigo até a manhã seguinte"
(v.13).
3) Tratar bem as pessoas portadoras de deficiência física
(v.14).
4) Praticar a justiça: "não farás acepção de pessoas com
relação ao pobre" (v.15).
• Relacionamentos interpessoais:
1) Não roubar, não ser falso nem mentir, não jurar falsa-
mente o nome de Deus (v.11–12).
2) Não fazer acusação injustificada nem falar mal das
pessoas (v.16).
3) Não odiar o próximo, mas repreendê-lo se necessário
(v.17).
4) Não se vingar nem guardar rancor. Mas amar o próxi-
mo como a si mesmo (v.18).
Como você pode verificar, as prescrições do direito e da jus-
tiça são essenciais para as comunidades do antigo Israel.
Por essa razão, essas prescrições configuram um projeto de
vida pessoal, comunitária e social voltada para a justiça e para o
amor universal. Aliás, Jesus pauta seu projeto de vida e sua pre-
gação com base nessas premissas, especialmente a do amor (Jo
13,34–35; 15,17).
Vejamos, então, prescrições mais detalhadas para a prática
da justiça e do direito, condensadas nos anos santos, respectiva-
mente “Ano sabático" apresentados em Lv 25,1–55.
Para começar, podemos dizer que é possível organizar Lv
25,1–55 com a seguinte proposta:
1) Introdução e ano de repouso: “Sabático” (v.1–7).
2) Prescrições do “Ano Jubilar”: normas, advertências, pro-
messas (v.8–22).
3) Resgate da terra e dos empobrecidos (v.23–38).
4) Tratamento dos escravos (v.39–55).
116 © Pentateuco e Históricos

Provavelmente, esse capítulo 25 tem uma origem antiga, li-


gada à tradição do Norte, e outra ainda mais antiga, do tempo da
transição entre o tribalismo e a monarquia. É uma releitura da lei
do "Ano Sabático" contida nos textos mais antigos do “Código da
Aliança” (Ex 23,10–11) e do “Código Deuteronômico” (Dt 15,1–18).
Como o sábado, o “Ano Sabático” teve origem no descanso
da terra. A terra também é criatura de Deus, com semelhante di-
reito ao descanso.
Mas o “Ano Sabático” não existe só para o descanso da terra,
os pobres devem ser beneficiários, pois poderão respigar; e, de-
pois dos pobres, os animais do campo podem comer o que restar
(Ex 23,11).
Em Lv 25,1–7, o “Ano Sabático” é visto como um sábado
que deve ser santificado. É o ano do descanso da terra, que é de
Iahweh, seu dono absoluto.
O produto espontâneo da terra nesse ano alimentará a to-
dos, proprietário e servos, empregados e hóspedes, seres huma-
nos e animais.
Observe que a lei dos versos 1 a 7 não faz referência a pobres
e necessitados, nem a problemas sociais que levam ao empobre-
cimento e à servidão. Essas questões são transferidas para o “Ano
do Jubileu”, que deve ser proclamado a cada sete anos sabáticos.
Em Lv 25, a novidade introduzida é a legislação sobre o “Ano
Jubilar” (versos 8 a 17) e sobre os bens (versos 23 a 38), principal-
mente sobre a compra e venda de propriedades (SICRE, 1999, p.
129).
Jubileu: é o nome que se costuma dar, nas línguas moder-
nas, à lei de Lv 25 (versos 8 a 17; 23 a 55). O nome deriva do he-
braico yôbel, que significa "carneiro" e, por extensão, "chifre de
carneiro"(Lv 25,9–10), utilizado como instrumento sonoro (ber-
rante) para proclamar o início do ano novo, por exemplo. A lei do
jubileu prescreve que, depois de 49 anos, cada qual retome a pro-

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Organização e Legislação do Povo de Israel 117

priedade de sua terra; nesse ano, o terreno não deve ser cultiva-
do; as dívidas devem ser perdoadas; os devedores não devem ser
escravizados; enfim, as pessoas em situação de debilidade devem
ser resgatadas.
Desse capítulo, vamos aprofundar a perícope dos versos 23
a 38, que tratam do resgate da terra e dos empobrecidos, um dos
quesitos do “Ano Jubilar” (CUSTÓDIO, 2004, p. 89-105).

8. ANÁLISE DE UMA PERÍCOPE: LEVÍTICO 25,23–38


A organização dessa perícope é uma vitrine de seus conteúdos:
1) A terra pertence a Deus (v.23).
2) Resgate da terra (v.24–28).
3) Resgate da habitação (v.29–31).
4) Resgate dos levitas (v.32–34).
5) Resgate do irmão (v.35–37).
6) Deus tira da terra do Egito e dá a terra de Canaã (v.38).
O versículo 23 abre o texto, pois traz a fundamentação para
o resgate da terra, da moradia e do empobrecido: a terra é de
Iahweh. A seguir, veja uma tradução mais literal desse verso (cf.
BÍBLIA HEBRAICA STUTTGARTENSIA). “E a terra não será vendida
para sempre, eis que para mim a terra, eis que vocês são estrangei-
ros e residentes comigo”.
Em uma palavra, a terra é dom de Deus e deve ser partilhada
com todos. O princípio básico subjacente a essa lei é que toda pro-
priedade pertence à Iahweh e, portanto, não pode ser comprada
ou vendida a bel-prazer (CLEMENTS, 1995).

Terra e propriedade (moradia), para Lv 25, exigem justiça e cla-


mam distribuição igualitária. O direito, nesse código, aponta a
legitimidade da luta de todos os “sem-terra” e “sem-teto” que a
história da humanidade já conheceu, especialmente em terras
cananeias e latino-americanas.
118 © Pentateuco e Históricos

Desde os tempos mais antigos, conforme Von Rad (1973),


há indícios de que havia reivindicações das tribos sobre certos ter-
ritórios ocupados por cananeus. De fato, as tribos compreendiam
que essa era a vontade de Iahweh, já que a terra lhe pertencia e
somente Ele podia dispor dela.
Nos tempos remotos essa ideia era sagrada. A razão era que
Israel identificava a terra que ocupava com o domínio cultual de
Deus (Iahweh). "Como Javé era o verdadeiro proprietário da terra,
tiravam a tal respeito conseqüências bem concretas para a legis-
lação humana em matéria de propriedade” (VON RAD, 1973, p.
292).
Lv 25,23 pode ser considerado como o fundamento teológi-
co do direito imobiliário no antigo Israel. Ao mesmo tempo que
introduz a motivação para o resgate da terra no “Ano Jubilar”, esse
versículo se liga ao verso 38, que diz literalmente (cf. BÍBLIA HE-
BRAICA STUTTGARTENSIA): “Eu Iahweh, vosso Deus que vos tirou
da terra do Egito para vos dar a terra de Canaã, para ser para vós
Deus”.
Sendo a terra de Deus, compete a Ele dá-la também, pois
Deus é o verdadeiro dono da terra, e o povo é seu hóspede, es-
trangeiro ou residente (verso 23). É o Deus da “Aliança”, da liberta-
ção, do êxodo (verso 38).
Estrangeiro: na sociedade israelita primitiva, o estrangeiro
não era membro da tribo. A partir da monarquia, foi concebido
como “não nativo”. No antigo Israel, o estrangeiro era teoricamente
um inimigo, tratado com hostilidade (Dt 7,1–7; 9,1–5; 12,1–3) ou
até mesmo amaldiçoado enquanto nação (Is 13–23; Jr 46–51; Ez
29,32). O estrangeiro podia morar em Israel, seja como hóspede
temporário ou como residente permanente (ger ou tôshab). Algu-
mas passagens sugerem que nos primeiros tempos de Israel e da
monarquia o ger podia ser proprietário de terras (Gn 23, 4ss), out-
ras mostram que ele se sustentava apenas pelo seu próprio trabal-
ho (Dt 24,14). Outras passagens consideram o ger como habitante

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Organização e Legislação do Povo de Israel 119

(Lv 25,35; Sl 78,55; 105,11s). Os códigos da lei israelita não dão


um catálogo explícito dos direitos e deveres dos estrangeiros, mas
o recomendam como objeto de caridade e proíbem sua opressão
(Dt 10,18; 14,29; Ex 22,20; 23,9).
Os versículos 24 a 28 tratam do resgate da terra e os 35–37,
do resgate do irmão. A palavra resgate aparece cinco vezes na for-
ma de resgate, resgatador, próximo, resgatar. Traz o compromisso
ético e solidário de se resgatar a propriedade para o empobrecido
no “Ano do Jubileu”.
A legislação israelita prevê vários meios pelos quais o em-
pobrecido, dono de terras, que fora obrigado a entregar sua terra,
pudesse reobter sua propriedade.
As provisões referentes à redenção da terra pelo parente e
o “Jubileu” visam aliviar os que, por falta de sorte, são reduzidos à
pobreza e ainda prevenir a acumulação de riqueza imoderada nas
mãos de poucos.
Nesse sentido, a lei decreta que, se uma pessoa se visse for-
çada pela pobreza a vender seu patrimônio, o parente mais próx-
imo tinha o direito de resgatar o que seu parente tinha vendido.
Em uma situação na qual o dono de terra empobrecido não tivesse
nenhum parente para agir em seu favor, a lei o encorajava a com-
prar de volta a terra, caso conseguisse adquirir meios para isso.
Em último caso, se o empobrecido não tivesse parente para
ajudá-lo nem encontrasse recursos para fazer o resgate de sua ter-
ra, sua propriedade vendida permaneceria com o comprador até o
“Ano do Jubileu”, quando o comprador a devolveria.
Em síntese, essas leis do “Ano Jubilar” conservam a terra
com seus proprietários originais e facilitam sua recuperação quan-
do perdida e, ainda, restauram a posição social do empobrecido
(CLEMENTS, 1995).
Mas continuemos o aprofundamento dessa perícope.
120 © Pentateuco e Históricos

Os versículos 35–37 apontam práticas para tirar o empobre-


cido de sua debilidade econômica. Sugerem que ele seja tratado
com respeito, sem desonestidade nem exploração.
Agora não se trata de resgatar a terra, mas, sim, a dignidade
do irmão, deixando de lado os juros, usuras e lucros.
Você pode verificar essa sentença no verso 35:
Caso teu irmão empobrecer
E a mão dele decair (economicamente) junto a ti,
Tu o sustentarás,
(sendo ele) estrangeiro (imigrante) ou morador
Para que (seja) vivo contigo (GRENZER, 2007, p. 178).

Conforme o versículo 35, a mão de quem ajuda deve ser for-


te para segurar nas mãos do debilitado, pois ajudar alguém é refor-
çar suas mãos (MACKENZIE, 1984).
Melhor: as mãos solidárias do resgatador não explorarão as
mãos debilitadas do resgatado. Conforme tradução literal dos ver-
sículos 36–37 (cf. BÍBLIA HEBRAICA STUTTGARTENSIA):
Não tomarás dele juros nem usura, e temerás teu Deus, e a vida de
teu irmão contigo.
Teu dinheiro não darás para ele com juros, e em lucro abundante
não darás teu alimento.

Solidariedade para com os pobres identifica a prática liber-


tadora do “Ano do Jubileu”, quase um retorno à solidariedade da
época tribal (Lv 25,14. 25.35.39.46.47.48).
A legislação jubilar prescreve, também, o direito à moradia
(versículos 29–31), favorecendo especialmente os levitas (versos
32–34), que eram considerados pastores queridos pelo povo, pró-
ximos e presentes na cidade, nas aldeias e nos campos.
Vale ressaltar que a expressão levita, do hebraico lewí , tem
significado e etimologia incertos. Significados atribuídos aos levi-
tas: é um dos doze filhos de Jacó e/ ou uma das doze tribos de
Israel.
Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
© Organização e Legislação do Povo de Israel 121

No livro do Êxodo e em todas as referências posteriores, Levi


aparece como uma tribo sacerdotal ou associada ao sacerdócio,
mas com membros que constituíam ministros inferiores do santu-
ário e que serviam em diversos setores do templo (Dt 18,1; 21,5;
24,8; 27,9; 31,9.25; Js 3,3; 8,33; Ez 43,19–44; Jr 33,18–21; Ml 2,4).
No livro do Deuteronômio, o levita aparece como um ger
(estrangeiro), sem lar e desempregado, por isso mencionado jun-
tamente com as viúvas e os órfãos (Dt 12,12.18–19; 14,28; 16,11;
26,12–13).
Em geral, os levitas não possuíam quinhão específico nem
propriedade. Ao contrário das outras tribos, eles não recebiam ne-
nhum dote na partilha, nenhuma retribuição.
Em razão desse contexto no qual viviam os levitas, os isra-
elitas deviam demonstrar caridade para com eles (Dt 8,1–5; Js
13,14–33). Daí a designação de cidades e de seus arredores para
os levitas (Lv 25,32–34).
Retornemos, então, aos versos 29 a 34. Esses apresentam
vários tipos de propriedade:
1) casa de habitação na cidade;
2) casas dos povoados;
3) casas dos levitas;
4) campo de terra;
5) campos nos arredores (dos levitas).
Há uma distinção entre a propriedade situada dentro dos
muros de uma cidade e as casas das aldeias.
Como o Antigo Testamento apresenta a cidade? A cidade era
por definição contornada por muralhas e fortificada. Uma parte
grande da população vivia em aldeias (na Idade do Ferro) situadas
fora das muralhas, cultivando os campos. Em época de guerra, os
habitantes das aldeias se aglomeravam dentro dos muros da ci-
dade. Era no muro da cidade que se fazia o comércio e o tribunal
dos anciãos, que julgava diversas questões. A Idade do Ferro oca-
122 © Pentateuco e Históricos

sionou uma revolução na agricultura e as pessoas circulavam mais,


tornando as cidades mais movimentadas (BORN, 1977; MACKEN-
ZIE, 1984).
A propriedade localizada dentro dos muros da cidade deve-
ria ser resgatada até o final do ano que seguia à sua venda, dado
que o seu direito de resgate duraria um ano.
Se não fosse resgatada até essa data, passaria a ser proprie-
dade definitiva de seu comprador e de seus descendentes, pois
não seria liberada no “Jubileu” (cf. versos 29 e 30).
Já as casas situadas fora dos muros da cidade, nas aldeias, no
“Ano Jubilar” deveriam retornar ao proprietário primitivo, uma vez
que eram consideradas propriedades campesinas (cf. verso 31).
As propriedades dos levitas teriam resgate perpétuo e sua
posse passaria em definitivo para eles (verso 32–34).
Para concluir, podemos dizer que provavelmente o fio con-
dutor de Lv 25,23–38 é a celebração do “Ano Jubilar”. Ele sustenta
e estimula uma nova ética em Israel: devolução da propriedade ao
empobrecido e tratamento humanitário para o debilitado.

9. “CÓDIGO DEUTERONÔMICO”
O livro do Deuteronômio, ou “segunda lei”, apresenta discur-
sos de Moisés ao povo de Israel, contendo advertências, conselhos
e orientações à luz do êxodo.
O livro está organizado em quatro partes, como podemos
ver no Quadro 2:

Quadro 2 As divisões do Deuteronômio


1ª PARTE 2ª PARTE 3ª PARTE 4ª PARTE
3º discurso de
1º discurso de Moisés 2º discurso de Moisés Parte final
Moisés
Dt 1,6-4,40 Dt 4,44–28,68 Dt 29,1–30,20 Dt 31,1–34,12

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Organização e Legislação do Povo de Israel 123

Vejamos, agora, cada uma dessas partes, em especial os con-


teúdos dos discursos de Moisés.
O primeiro discurso de Moisés (Dt 1,6–4,40) trata dos se-
guintes assuntos:
1) introdução: tempo e lugar (Dt 1,1–5);
2) instruções no Horeb (Dt 1,6–18);
3) incredulidade do povo em Cades (Dt 1,19–33);
4) instruções em Cades (Dt 1,34–46);
5) saída de Cades para o deserto (Dt 2,1–25);
6) conquistas de territórios (Dt 2,26–3,17);
7) instruções e advertências (Dt 3,18–4,40);
8) conclusão (Dt 4,41–43).
Em síntese, nesse discurso temos um resumo da história de
Israel entre sua estada no Sinai e sua chegada ao outro lado do rio
Jordão, com destaque para a “Aliança” com Iahweh e suas exigên-
cias. Enfatiza também o dom da terra prometida, decorrente da
ação da providência divina e de sua preferência por Israel, escol-
hido para ser o povo eleito de Iahweh.
Outro aspecto desse discurso é que ele anuncia eventos tar-
dios: o exílio da Babilônia como castigo pela infidelidade do povo
de Israel e o retorno do cativeiro a partir da conversão de Israel,
certamente acréscimo posterior aos conteúdos que tratam de fa-
tos históricos mais antigos.
Podemos dizer que esse discurso pertence à segunda edição
do Deuteronômio, provavelmente feita durante o exílio (587 a.C.).
O segundo discurso de Moisés (Dt 4,44–28,68) é composto
por:
1) introdução: indicação de tempo e de lugar (Dt 4,44–49);
2) discurso de Moisés (Dt 5,1–11,32);
3) “Código Deuteronômico” (Dt 12,1–26,15);
4) fim do discurso de Moisés (Dt 26,16–28,68).
124 © Pentateuco e Históricos

Em linhas gerais, esse discurso retoma o passado histórico


de Israel, em especial a “Aliança” com Iahweh no Horeb e o “Decá-
logo”. Parece "ter existido à parte, sob diversas formas, combina-
das aqui, e ter sido utilizado para fins catequéticos e cultuais antes
de servir de introdução ao Código Deuteronômico" (A BÍBLIA DE
JERUSALÉM, 2000, p. 282).
A parte final desse segundo discurso é interrompida pelo ca-
pítulo 27, que trata da inscrição da lei e das cerimônias cultuais.
Provavelmente esse capítulo é uma inserção (anexo).
O capítulo 28 é um compósito de vários temas: bênçãos,
maldições, perspectivas de guerra e exílio. De novo temos acrés-
cimos e adições de eventos históricos tardios, mais precisamente
da época do exílio.
O terceiro discurso de Moisés (Dt 29,1–30,20) apresenta:
1) recordação histórica dos acontecimentos do êxodo (Dt
29,1–8);
2) aliança com Iahweh (Dt 29,9–20);
3) perspectiva de exílio (Dt 29,21–28);
4) perspectiva de volta do exílio e conversão (Dt 30,1–14);
5) os dois caminhos: vida ou morte (Dt 30,15–20).
A parte final de Deuteronômio (Dt 31,1–34,12) forma uma
espécie de conclusão geral ao conjunto do Pentateuco. Reúne as-
pectos de origens e épocas diversas que, provavelmente, foram
incorporados por ocasião de sua redação final (A BÍBLIA DE JERU-
SALÉM, 2000, p. 318).
Ela abre com a missão de Josué (Dt 31,1–8) e fecha com a
morte de Moisés (Dt 34,1–12). Talvez o início e a conclusão do
bloco estejam relacionados com a ideia de que Josué continua a
missão de Moisés (Js 1,1–5). No meio temos textos poéticos atri-
buídos a Moisés: cântico (Dt 32,1–43) e bênçãos (Dt 33).
Como você pode verificar, o livro do Deuteronômio aborda
temas recorrentes das tradições do êxodo, do deserto e do Sinai.
Também agrupa elementos diversos de épocas distintas, certa-
mente introduzidos pelos redatores da linha deuteronomista.

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Organização e Legislação do Povo de Israel 125

A linha deuteronomista é uma abordagem teológica que faz


uma interpretação dos eventos históricos com base nos princípios
do livro do Deuteronômio, em especial a “Aliança” com Javé. A fi-
delidade a essa “Aliança” garante bênçãos e abundância. Mas a in-
fidelidade atrai maldição e castigo. Essa visão teológica influencia
a interpretação do exílio da Babilônia como castigo decorrente da
infidelidade do povo de Israel que cultuou outras divindades. Para
haver mudança do castigo (libertação do cativeiro), o povo precisa
se converter, ou seja, voltar a cultuar somente Iahweh.
Até aqui fizemos uma introdução ao livro do Deuteronômio.
Vejamos, agora, os temas principais do código legal desse livro,
chamado “Código Deuteronômico” (Dt 12,1–26,15).
O “Código Deuteronômico” formula o direito de Israel pela
segunda vez, pois conserva as decisões básicas e grande parte do
material jurídico do “Código da Aliança” (Ex 20,22–23,19).
Vale dizer que o “Código Deuteronômico” (Dt 12,1–26,15),
provavelmente material mais antigo do livro do Deuteronômio e
oriundo de atas de assembleias de tribos do Norte, apresenta pre-
ceitos relevantes para a fé de Israel e para a prática da justiça e do
direito.
Do “Código Deuteronômico”, destacamos:
1) “Ano Sabático” (Dt 15,1–18): trata-se do direito dos po-
bres, pois a ênfase é o perdão das dívidas para corrigir a
desigualdade social.
2) Abordamos o “Ano Sabático” no tópico “Código da San-
tidade” (Lv 17–26), quando estudamos alguns aspectos
de Lv 25. Aliás, Lv 25, ao abordar o “Ano Jubilar”, faz uma
releitura do “Ano Sabático” do “Código Deuteronômico”
(Dt 15,1–18) e do “Código da Aliança” (Ex 23,10–11).
3) “Lei do Levirato” (Dt 25,5–10): as histórias de Tamar
(Gn 38) e de Rute (Rt 4) mostram como deve funcionar
essa lei que prescreve o dever do cunhado casar com a
cunhada viúva e sem filho homem para que ela tenha
direito à posse da terra do marido falecido.
126 © Pentateuco e Históricos

4) Estudaremos melhor a “Lei do Levirato” na unidade 6,


quando veremos a história de Rute.
5) “Credo” (Dt 26,5–9): é uma profissão de fé provavelmen-
te recitada por ocasião da colheita dos primeiros frutos
do campo (Dt 26,2).
6) O “Credo” apresenta um resumo dos acontecimentos
salvíficos experimentados por Israel, em especial a liber-
tação da servidão no Egito. Esse “Credo” também abor-
da temas recorrentes no Pentateuco: dádiva da terra e
tradição dos patriarcas (DREHER, 1988, p. 53-54).
7) Dt 6,21–23 é outro credo antigo, provavelmente utiliza-
do na catequese familiar. É um resumo de fé que visa a
instruir os filhos a respeito da história da salvação, cen-
trada no Egito (DREHER, 1988).

10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS


Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Quais são as principais características do “Decálogo”?

2) Quais aspectos são recorrentes entre os textos que tratam do “Decálogo


Ético” (Ex 20,1–21; Dt 5,6–22)?

3) Por que as várias coleções de leis israelitas (“Decálogo”, “Código da Aliança”


etc.) foram situadas na tradição mosaica? O que pretenderam os redatores
finais desses textos?

4) Quais são as novidades do “Código da Aliança”? Em quais textos bíblicos elas


aparecem? Quais preceitos são válidos para a sociedade contemporânea?

5) Como você define o que é viver a santidade para o povo de Israel com base
no “Código de Santidade”?

6) Quais são as exigências do “Ano Sabático” e do “Ano Jubilar” traçadas em Lv


25? Em que aspectos elas interferiam na vida social do antigo Israel?

7) Quais tradições e experiências são resgatadas na confissão de fé (“Credo”)


de Dt 26,5–9? Qual é o acento principal?

8) Entre os códigos legais de Israel, quais preceitos poderiam contribuir com a


construção de uma sociedade mais justa, igualitária e solidária?

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Organização e Legislação do Povo de Israel 127

9) Entre as variadas sentenças e temas das leis de Israel, quais servem de es-
tímulo pessoal para uma vivência cristã e cidadã?

10) O que você pensa a respeito de Lev 25? Há alguns preceitos que podem
servir de parâmetro para vivência ética hoje?

11) Você viu que o povo de Israel elaborou um “Credo Histórico” a fim de reto-
mar sempre a história de libertação da servidão e a promessa de terra? E
você, qual credo alimenta sua trajetória de vida?

11. CONSIDERAÇÕES
Ao finalizar esta unidade, centrada na legislação de Israel,
chegamos ao final de nosso estudo sobre o Pentateuco. Possivel-
mente, você fez uma travessia pelos temas, destacando em espe-
cial aqueles que lhe servem como estímulo para uma vivência mais
esperançosa e justa!
É nessa perspectiva que podemos abordar a legislação do
antigo Israel. Em outras palavras, a lei tem sentido à medida que
espelha o projeto do êxodo.
Sem êxodo, não há travessia pelo deserto nem chegada à
terra prometida, como também a legislação não é fonte de vida
nem liberta os oprimidos.
É o que testemunhou Jesus. Ele passou pelo deserto para
iniciar um projeto de missão libertadora inspirada no espírito de
misericórdia e solidariedade do direito de Israel (Mt 12,7s).
Essa é uma proposta e um apelo para as comunidades que
sonham e militam na construção da justiça e do direito.
Bom estudo e até a próxima unidade!

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2000.
A FORMAÇÃO DO POVO DE DEUS. São Paulo: Loyola/CRB, 1990. (Coleção Tua Palavra é
Vida, 2).
128 © Pentateuco e Históricos

BÍBLIA HEBRAICA STUTTGARTENSIA. Elliger, K.; Rudolph, W. (Org.). Stuttgart: Deutsche


Bibelgesellschaft, 1967/77.
BORN, A. D. Dicionário Enciclopédico da Bíblia. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1977.
BRANCHER, M. A violência contra as mulheres na vida cotidiana: um estudo do Livro
da Aliança a partir de Êxodo 20,22–23,19. Tese (Doutorado em Ciências da Religião) –
UMESP, São Bernardo do Campo, 2004.
______. A violência contra as mulheres feiticeiras. Revista UNICLAR, ano 7, n. 1, p. 31-
50, 2005 Revista de Interpretação Bíblica latino-Amerciana/Ribla, n. 50, p. 86-90, 2005.
BRENNER, A. (Org.) De Êxodo a Deuteronômio − a partir de uma leitura de gênero (A
Bíblia: uma leitura de gênero.São Paulo: Paulinas, 2000.
CERESKO, A. R. Introdução ao Antigo testamento numa perspectiva libertadora. São
Paulo: Paulus, 1996.
CLEMENTS, R. E. (Org.) O mundo do Antigo Israel. Perspectivas sociológicas, antropológicas
e políticas. São Paulo: Paulus, 1995.
CRÜSEMANN, F. Preservação da liberdade: o Decálogo numa perspectiva histórico-social.
São Leopoldo: Sinodal, 1995.
DREHER, C. A. As tradições do Êxodo e do Sinai. Revista Estudos Bíblicos, n. 16, p. 52-68,
1988.
GASS, I. B. O ano do jubileu, um ano de libertação: Lv 25. Revista Estudos Bíblicos,
Petrópolis/São Leopoldo, Vozes/Sinodal, n. 57, 1998.
GERSTENBERGER, E. A lei. Revista Estudos Bíblicos, n. 51, 1996.
______. Leviticus: a commentary. Louisville: Westminster John Knox Press, 1996.
GOTTWALD, N. K. Introdução socioliterária à Bíblia hebraica. São Paulo: Paulinas, 1988.
GRENZER, M. O projeto do Êxodo. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2007.
JENNI, E.; WESTERMANN, C. Diccionario teologico manual del Antiguo testamento. V. 1.
Madrid: Ediciones Cristiandad, 1971.
Jubileu. Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana, n. 33, 1999.
LÓPEZ, F. G. O Pentateuco: introdução à leitura dos cinco primeiros livros da Bíblia. São
Paulo: Ave Maria, 2004. (Coleção Introdução ao estudo da Bíblia, 3a).
MACKENZIE, J. L. Dicionário bíblico. São Paulo: Paulus, 1984.
MESTERS, C. Os Dez Mandamentos: ferramenta da comunidade. 11. ed. São Paulo:
Paulus, 2003.
PURY, A. (Org.). O Pentateuco em questão: as origens e a composição dos cinco primeiros
livros da Bíblia à luz das pesquisas recentes. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
REIMER, H.; REIMER, I. R. Tempos de graça: o Jubileu e as tradições jubilares na Bíblia.
São Leopoldo/São Paulo: Sinodal/CEBI/Paulus, 1999.
SICRE, J. L. Introdução ao Antigo testamento. Petrópolis: Vozes, 1999.
STORNIOLO, I. Como ler o livro do Levítico: formação de um povo santo. São Paulo:
Paulus, 1995.
______. Como ler o livro do Deuteronômio: escolher a vida ou a morte. São Paulo:
Paulinas, 1992. (Coleção Como ler a Bíblia)
VON RAD, G. Teologia do Antigo testamento. V. 1. São Paulo: Aste, 1973.

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO

Você também pode gostar