Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Revista Galileu - Fev 24
Revista Galileu - Fev 24
O QUE EXPLICA
A RECENTE
ONDA DE
CENSURA A
LIVROS NO
BRASIL E NO
MUNDO
PRAZER
QUE VICIA
A CIÊNCIA TEM SE
DEBRUÇADO SOBRE
O COMPORTAMENTO
SEXUAL COMPULSIVO.
ENTENDA O
TRANSTORNO E
CONHEÇA SEUS
SINTOMAS
COMPOSIÇÃO
FEVEREIRO DE 2024
03
CAPA
QUANDO A
COMPULSÃO POR
SEXO PODE SER UM
PROBLEMA DE SAÚDE?
50
36
QUER
QUE EU
DESENHE?
CULTURA
EM DIVERSOS PAÍSES,
LIVROS ENTRAM NA MIRA
DA CENSURA
COMPORTAMENTO
TEXTO André Bernardo EDIÇÃO Luiza Monteiro ILUSTRAÇÃO Ilê Machado DESIGN Flavia Hashimoto
Do abuso à compulsão
Um mistério que intriga os cientistas que estudam a sexualidade
humana é: por que vítimas de abuso sexual na infância tendem
a se transformar em compulsivos sexuais na vida adulta? “Não é
possível apontar um nexo de causalidade”, explica o psiquiatra
Danilo Baltieri, coordenador do Ambulatório de Transtornos da
Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex), em Santo
André (SP). “Existem fatores psicossociais, geralmente traumáti-
cos e perniciosos, que colaboram para a formatação de determi-
nados comportamentos de natureza compulsiva ou impulsiva.”
Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, intitulado
Violência Sexual Infantil, revela que, só em 2021, o Brasil regis-
trou 45.994 estupros de crianças e adolescentes. O dado mais
estarrecedor é que 82,5% dos abusadores eram conhecidos das
vítimas: 40,8% deles eram pais ou padrastos, 37,2% irmãos ou
primos e 8,7%, avós.
9
a um clique De Distância
Nunca é demais repetir: não é a frequência ou a quantidade que de-
fine uma compulsão, e sim o sofrimento e o prejuízo que ela causa
11
compulsão ou apetite?
O Transtorno do Comportamento Sexual Compulsivo (TCSC) é um
nome novo para um problema antigo. Mas não há como saber se
figuras históricas famosas, como a imperatriz Valéria Messalina
(22-48) e o escritor Giacomo Casanova (1725-1798), entre outros
tantos, sofriam de compulsão ou tinham apenas um apetite sexual
insaciável. Entre outras proezas, Messalina, que virou sinônimo de
“libertina” e “devassa” no dicionário Houaiss, teria desafiado uma
famosa prostituta romana a uma disputa pouco convencional: com
quantos homens cada uma delas transaria em 24 horas? Messalina
levou a melhor: foram 25 parceiros, ou seja, mais de um por hora.
14
Fonte: PRO-AMITI.
15
EntrEvista
“Cada vez
menos a ONU
tem condições
de fazer valer
sua vontade”
O
O mundo está em guerra. Além da situação na
Ucrânia, que completa dois anos no próximo dia
24 de fevereiro, há pelo menos outros 110 confli-
tos armados acontecendo no mundo, segundo o monitor da
Academia de Direito Internacional Humanitário e Direitos
Humanos de Genebra. Alguns são internos; outros, têm im-
pacto global e ganham a atenção da mídia.
“O desenvolvimento da
inteligência artificial, em
especial a generativa, tem
grande impacto sobre a
possibilidade de uso para
manipulação das sociedades”
Calmona analisa fatores que contribuem para conflitos atuais no mundo
27
LIVROS NA FOGUEIRA
15
nhos Vingadores: Cruzada das Crianças (2012), que
contém uma cena de beijo gay. A decisão foi derru-
bada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Prefei- banimentos
turas sequer têm poder jurídico para isso. Repre-
sentantes de Gayer e Crivella não responderam ao
pedido de GALILEU por um posicionamento.
13
também por legisladores estaduais republicanos
de estados como Louisiana, Iowa, Indiana e Ten-
nessee, por exemplo. Segundo reportagem do site BANIMENTOS
Vox, os parlamentares começam tentando banir
livros e, quando não conseguem, boicotam os re-
passes de verbas. As ameaças tendem a acontecer
nos estados em que legisladores também buscam
restringir direitos de pessoas trans à saúde, per-
formances de drag queens e discussões sobre gê-
nero, sexualidade, raça e história nas escolas — os Tricks, de Ellen
Hopkins
mesmos temas dos títulos perseguidos.
GUERRA CULTURAL
Durante a Reforma Protestante, na Europa do século 16, a dispu-
ta entre o catolicismo e o protestantismo causou, na Inglaterra e
na Escócia, ataques a centenas de bibliotecas e a destruição de
dezenas de milhares de livros. No Holocausto do século 20, foram
destruídos mais de 100 milhões de volumes, e bibliotecas inteiras
foram confiscadas e queimadas. São dois exemplos notórios den-
tre vários outros episódios históricos.
10
Margaret Atwood; Maus (1986), de Art Spiegel-
man; Amada (1987), de Toni Morrison; 1984 (1949),
de George Orwell; Gênero Queer: Memórias (2019), banimentos
de Maia Kobabe; Este Livro É Gay (2014), de Juno
Dawson; O Sol É para Todos (1960), de Harper Lee;
e, claro, Fahrenheit 451.
A lei ainda proíbe que seja dito que indivíduos são 30%
luto e morte;
“privilegiados” ou “oprimidos” por causa de sua
raça ou sexo. Um dos alvos da Stop WOKE Act é a 30%
personagens não
critical race theory (“teoria crítica da raça”), cam- brancos ou raça e
racismo;
po acadêmico que estuda os impactos da raça e
da etnia na sociedade — não necessariamente 26%
personagens ou
culpando indivíduos, tendo-se em vista o aspecto temas LGBTQIA+;
sistêmico do racismo. O Moms for Liberty (Mães
pela Liberdade), fundado na Flórida, é um exem- 24%
experiências
plo de grupo que tem atuado para extinguir títulos sexuais entre
personagens;
literários — com apoio declarado de legisladores.
17%
gravidez na
De acordo com Sabrina Baêta, coordenadora do adolescência,
programa Liberdade para Ler da PEN, trata-se de aborto ou violência
sexual.
uma crise. Tudo começa, segundo ela, com pessoas
— que podem ser pais, responsáveis ou simplesmen- Fonte: PEN America
*entre julho e dezembro
te indivíduos da vizinhança — gritando em reuniões de 2022
reescrevendo a história
Se tem quem queira banir livros, tem quem queira reescrevê-los.
Com o objetivo de remover trechos que possam soar ofensivos
para minorias, a prática da leitura sensível, que tem sido recor-
rente no mercado editorial nos últimos anos, também rendeu
acusações de censura. Agatha Christie, Ian Fleming e Roald Dahl
são exemplos de autores consagrados e já mortos cujas obras
têm sido editadas após recomendações feitas por “profissionais
da leitura sensível”. Basicamente, a prática consiste em identificar
esses trechos e recomendar mudanças ao editor e ao autor, que
podem ou não aceitá-las.
para as crianças serem alertadas sobre isso não ser algo bom e até
dar oportunidade, no ambiente protegido que a escola deveria ser,
aos alunos que sofram violência sexual de conversar sobre isso”,
observa. “Não conversar sobre o tema não faz com que a realidade
deixe de existir.” Da mesma forma, banir obras literárias — com
fogo ou com a lei — não é a solução para impor certos pontos de
vista e extinguir outros. Já aprendemos isso nos livros de história.
Quer Que eu desenhe?
Por Bernardo frança