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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE


CURSO DE PSICOLOGIA

A SEXUALIDADE NOS TEMPOS DO VIAGRA

Professor:

Alunos:

Belo Horizonte
2016

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1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é analisar a sexualidade dos idosos a partir da inserção do


Viagra em suas relações. Será feito um estudo histórico sobre a sexualidade e quais as
pesquisas já realizadas para atingir essa camada da população, assim como explicações acerca
dos problemas sexuais e comportamentais que cercam o universo do idoso. Com o aumento
da expectativa de vida dos indivíduos, pretende-se verificar, ainda, quando surgiu o
medicamento, sua procura e as mudanças que ocorreram na vida dos idosos no contexto social
em que se inserem.
A principal abordagem será feita a partir das pesquisas realizadas por psicanalistas,
mas sem desprezar as contribuições de outros cientistas, tendo em vista que a sexualidade dos
idosos envolve aspectos relacionados à saúde de forma geral e, somente depois de descartados
diagnósticos biológicos, deve-se partir para tratamentos psicológicos que, na maioria das
vezes, são as causas dos problemas relatados pelos pacientes.
De acordo com Dráuzio Varela1, sexo não é uma característica da juventude, uma vez
que o papel da sexualidade após os 60 anos é muito importante para a saúde física e psíquica
para indivíduos nessa faixa etária. O médico ressalta que qualquer problema pode ser sinal de
outros problemas de saúde e que o desinteresse pode advir de problemas relacionados à
depressão, tanto em homens quanto em mulheres, casos em que se faz necessária a ajuda de
um profissional da psiquiatria ou psicologia.
É a partir dos 50 anos que os homens começam a sentir uma perda da capacidade de
ereção. O primeiro passo é procurar um médico para verificar suas condições de saúde, como
hipertensão, obesidade, colesterol alto e diabetes. Vale ressaltar que a dificuldade de ereção
está ligada aos mesmos fatores de risco de doenças cardíacas.
Com o surgimento do sildenafil, mais conhecido como Viagra, a procura por médicos
para avaliar se o individuo poderia ou não tomar o medicamento foi grande, fator muito
relevante, pois os médicos puderam solicitar vários exames e, em muitos casos, constatou-se a
presença de outras doenças, responsáveis pela dificuldade de ereção.

2. ENVELHECIMENTO E SEXUALIDADE

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Entrevista com Carmita Abdo, médica psiquiatra e coordenadora do grupo de sexualidade do Instituto de
Psiquiatria da Universidade São Paulo, publicada em 29/10/2012, no site do médico.
2
2.1. Um breve percurso histórico da sexualidade (Ana Paula)

Os estudos científicos sobre sexualidade humana tiveram grande impulso no final do século
XIX, início do século XX, época do nascimento da Psicanálise.

2.2 A sexualidade na velhice (Fernanda)/ A sexualidade do idoso

Para uma melhor compreensão sobre a sexualidade do idoso é preciso ir além de uma
análise do desenvolvimento humano. Uma visão mais profunda sobre seu psiquismo torna
possível o entendimento de que a sexualidade do sujeito transcende sua biologia e ultrapassa a
ideia de um desejo por prazer sem limites, conforme nos apresenta Mucida (2014) 2 em seu
livro “O sujeito não envelhece”.
Mucida (2014) traz contribuições importantes de Freud e Lacan a respeito da
sexualidade. Segundo a autora, Freud expõe uma concepção inédita a respeito da sexualidade
quando introduz o conceito de pulsão e afirma que ela está presente ao longo de toda vida do
sujeito, sendo a sexualidade adulta a mesma existente na infância. Na concepção de Lacan, a
sexualidade, portanto, ultrapassa as dimensões biológicas, pois se apresenta a partir da relação
que o sujeito estabelece com o objeto de seu desejo, definido por seu fantasma. Objeto este
que falta ao sujeito e que, ao mesmo tempo, vem no lugar desta falta sem que possa, de fato,
preenche-la.
Sendo assim, a realidade sexual é fundamentalmente determinada pelo fantasma
originário e ainda que haja significantes para algo da sexualidade, sempre restará uma lacuna
inominável que atravessará o sujeito no encontro com o real sexual. O fantasma que
determina sua relação com o objeto de desejo é o que o sustenta como um ser desejante, por
isso, não é a idade que determina a ausência do desejo ou de relações sexuais, e é justamente
o desejo que possibilitará vivências diferenciadas destas relações. (MUCIDA, 2014)
Para Mucida (2014), esses aportes de Freud e Lacan nos levam à reflexão de que
sempre haverá uma falta e que devido às marcas culturais do nosso tempo elas são, de alguma
forma, associadas à velhice, como se somente nesta fase da vida fosse possível existirem
falhas. A pulsão busca modos de satisfação diversos e que nada têm a ver com o prazer, e a
sexualidade por sua vez, tem sido associada ao prazer no sentido de que todos podem e devem

2
MUCIDA, Ângela. O sujeito não envelhece (p.156-161)
3
gozar, não importando como. A cultura procura implantar um ideal de sexualidade perfeita
formulando, inclusive, a ideia do que é ser homem ou ser mulher. Assim, o sujeito acaba por
ceder o seu desejo para submeter-se aos ideais do gozo pleno e incessante, produzidos e
alimentados pela cultura.
Nos tempos modernos, muitos são os meios produzidos e utilizados para tamponar
essa falta, dentre eles os medicamentos, o sexo virtual, cursos inusitados, e outros meios que
se dispõem aos corpos prontos para gozar. O que se faz notar como uma liberdade neste
sentido traduz, na realidade, um mestre oculto que impõe a possibilidade desse gozo sem
limites alienando o sujeito a ela e o impedindo de reconhecer ou admitir qualquer falha.
(MUCIDA, 2014)
No que diz respeito à sexualidade do idoso, a autora diz que ela está cercada por tabus,
na medida em que é vista como símbolo do que não funciona mais, e que se tem como critério
para uma vida sexual satisfatória o bom desempenho e as conquistas fálicas. E o tabu,
segundo Freud, se apresenta sempre quando há um perigo, sendo neste caso, a exposição do
real da castração e do limite, temas com os quais o sujeito não quer se deparar. Sendo assim, é
mais fácil atribuir essa condição ao idoso e fazer desta questão motivo de piadas.
Para melhor compreender as dificuldades enfrentadas pelos idosos no âmbito da
sexualidade, Mucida (2014) retoma a idéia de Freud sobre uma impotência psíquica
oferecendo argumentos importantes. O encontro com a sexualidade dos pais marca de forma
considerável a constituição psíquica do sujeito e em seu inconsciente que é sempre infantil, os
velhos são sempre os pais. Portanto, fatores relacionados à sua vivência edípica e aos seus
objetos de desejo, influenciam sua sexualidade especialmente neste momento da vida, quando
se depara com o real do sexo e este o remete aos primórdios inconscientes de sua formação
psíquica conforme sua passagem pelos complexos de édipo e de castração. A falta com a qual
o neurótico não quer se haver é justificada pela ação inevitável do tempo e do declínio de sua
condição biológica, tirando de si qualquer responsabilidade por ela e o conduzindo a
encontrar meios artificiais de se manter ativo sexualmente.

2.3 O surgimento do Viagra (André)

A milagrosa pílula azul surgiu por acaso, quando a empresa americana Pfizer
pesquisava um novo medicamento para tratar a angina, uma doença cardíaca. Durante os
testes da droga, em 1994, os pesquisadores Nicholas Terrett e Peter Ellis, funcionários da
empresa, descobriam que um de seus efeitos colaterais era o aumento da irrigação sanguínea
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no pênis, a partir da potencialização do óxido nítrico. Os ingleses Peter Dunn e Albert Wood
conseguiram sintetizar o composto numa pílula, aprovada pelo FDA (o órgão que regulamenta
medicação nos EUA), em 1998, como o primeiro remédio contra a impotência. No mesmo
ano, os americanos Robert Furchgott, Louis Ignarro e Ferid Murad dividiram o Nobel de
medicina por seu trabalho com o óxido nítrico, sem o qual seria impossível a criação do
Viagra. O surgimento dessa droga teve impacto alarmante no tratamento e conseguinte reflexo
no panorama social. Esse contexto foi batizado pela mídia de “efeito Viagra”.
Segundo, Pereira (2004), o Pan Pacific Urology, San Francisco, Califórnia, considera
esse panorama dramático e pernicioso, uma vez que se transformou em fenômeno cultural,
criando um repertório inédito de piadas e configurando-se como novo objeto de discurso entre
as pessoas nas suas relações sociais corriqueiras
Sendo este um medicamento que tem como objetivo ajudar homens com disfunção
erétil, ou seja, não conseguem ter ereções de forma natural, e que se tornou o maior sucesso
da história na indústria farmacêutica.

2.3.1. A Sildenafila

O Viagra é o nome popular da Sildenafila, um vasodilatador, inibidor


da fosfodiesterase-5 (PDE-5). O mecanismo fisiológico responsável pela ereção do pênis
envolve a liberação de óxido nítrico nos corpos cavernosos durante a estimulação sexual, que
por uma série de processos biológicos e com a estimulação sexual, resulta no influxo do
sangue no pênis. Portanto, a estimulação sexual é necessária para que a Sildenafila possa
produzir a ereção, que começa a agir em 30 minutos e sua ação dura aproximadamente 4
horas.

2.4 A sexualidade nos tempos do Viagra (Rita e Rhubia)

Atualmente é amplamente pregado o discurso que a sexualidade deve ser vivida


plenamente. Estamos na cultura do gozo que deve ser adquirido a qualquer preço. Várias
formas de propaganda contribuem para essa ditadura de que não se pode falhar na relação
sexual. O advento de novos medicamentos para disfunção erétil significou uma mudança
impactante na vida sexual de homens e mulheres idosos. De acordo com Mucida (2012),

5
diante do imperativo todos devem gozar, a sexualidade do idoso marca um limite ao gozo
pretendido sem fronteiras, desacomodando várias insígnias da potência fálica.
Conforme mostrado por Couto 2011, a ideia de uma masculinidade em forma de
ereção peniana se transforma em um discurso capitalista, isso porque vivemos diante de uma
economia libidinal, onde os eletrônicos entre outros aparelhos são oferecidos nos lugares de
objetos de desejo.
O próprio Lacan em 1974 elabora um discurso capitalista dizendo basicamente que o
mercado sobrepõe à sociedade no qual não a lei, mas há somente o imperativo de gozo. O que
ele queria dizer é foi se criada uma necessidade de consumo para alimentar e manter
funcionando o próprio mercado e assim o discurso capitalista fora clui a castração e o laço
social. (Couto, 2011).
E assim surge o Viagra, para integrar um grupo de medicamentos destinados a
melhorar o desempenho individual no meio social. O que se mostra é uma visão médica que
reduz a sexualidade apenas à genitalidade, enquanto os psicanalistas consideram a
sexualidade não sendo apenas biológica, mas um corpo erógeno inserido no âmbito da cultura
em que a sexualidade é considerada uma linha mestra do oficio do sujeito, um enigma, onde
cada um possui a sua singularidade. Mesmo estando em uma sociedade de consumo a
psicanálise vem para contrapor o desejo, que advém da falta, mostrando que somos seres
incompletos e que nosso capital é a libido (COUTO, 2011).
A abordagem da sexualidade pela psicanálise se diferencia da estratégia
médica pela visão particular que cada um desses dois saberes adota acerca
dessa condição do ser humano. A medicina trata o corpo biológico e age
sobre um sintoma corporal. Busca curar ou atenuar o que considera uma
desordem na genitalidade, por meio de uma ação direta no corpo biológico
para possibilitar o gozo fálico. (COUTO, 2011).

Assim sendo, diante dos fatos apresentados, percebe-se que por meio do Viagra existe
a promessa de uma potência sexual tanto feminina como masculina que cria consumidores
cada vez mais jovens, levando ao discurso capitalista se apropriar do discurso da ciência,
fazendo que o discurso se torne real e, como causa disso, percebe-se a ilusão da relação sexual
como possibilidade do gozo pleno de sentido (COUTO, 2011).
A sexualidade do idoso sempre foi vista como algo inexistente e coberto de tabus,
principalmente pelos filhos. Ao readquirir a potência é dada ao idoso a possibilidade de
expressar sua sexualidade sem culpa. Cabe ressaltar que a motivação para o sexo depende
mais da saúde mental, da disposição para o ato, da qualidade de vida dos idosos do que da
própria ereção.

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Percebe-se que o sexo na terceira idade não é muito pela sociedade. Manifestações de
afeto entre idosos não são bem vistas sendo, algumas vezes, até motivo de piada pelos mais
jovens, o que é bem traduzido na frase "Diante da angústia que descortina o limite da potência
fálica, a qual a velhice escancara, resta a pilhéria como tratamento possível." (MUCIDA,
2012).

REFERÊNCIAS

COUTO, Olimpia. Tudo azul com o sexual? Viagra e sexualidade. Disponivel em


<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/reverso/v33n61/v33n61a10.pdf > Acesso em 12 Jun 2016 .

MARTINS, Paulo César Ribeiro. O percurso histórico da sexualidade humana. Disponível


em < http://bandeirantesnews.blogspot.com.br/2010/05/o-percurso-historico-da-
sexualidade.html > acesso em 17 jun 2016.

MUCIDA, Ângela. O sujeito não envelhece: psicanálise e velhice. 2ª ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2014.

PEREIRA, M. E. C. (2004). In Grassi, M. V. F. C. Psicopatologia e disfunção erétil: a


clínica psicanalítica do impotente. São Paulo: Editora Escuta. Livro II

VARELLA, Drauzio. Sexualidade depois dos 60 anos. Entrevista com a psiquiatra Carmita
Abdo, publicada no site do médico em 29/10/2012. Disponível em <
http://drauziovarella.com.br/envelhecimento/sexualidade-depois-dos-60-anos > acesso em 17
jun 2016.

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