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PERÍCIA,

ARBITRAGEM E
ATUÁRIA

Professor Dr. José Renato Lamberti


Professora Me. Juliana Moraes da Silva
Professor Me. Paulo Pardo
Professor Robinson Pereira Santos

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Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Diretoria Executiva
Chrystiano Mincoff
James Prestes
Tiago Stachon
Diretoria de Graduação e Pós-graduação
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
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Head de Produção de Conteúdos
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Gerência de Produção de Conteúdo
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Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
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Supervisão de Produção de Conteúdo
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Coordenador de Conteúdo
Juliana Moraes da Silva
Designer Educacional
Nayara G. Valenciano
Projeto Gráfico
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação Jaime de Marchi Junior
a Distância; LAMBERTI, José Renato; SILVA, Juliana Moraes da; José Jhonny Coelho
PARDO, Paulo; SANTOS, Robinson Pereira.
Arte Capa
Perícia, Arbitragem e Atuária. José Renato Lamberti, Juliana Arthur Cantareli Silva
Moraes da Silva, Paulo Pardo, Robinson Pereira Santos. Ilustração Capa
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2019. Bruno Pardinho
232 p.
“Graduação - EaD”. Editoração
Robson Yuiti Saito
1. Perícia. 2. Arbitragem. 3. Atuária. 4. EaD. I. Título. Qualidade Textual
Eloisa Dias Lourenço
ISBN 978-85-459-1680-2
CDD - 22 ed. 657.45 Ilustração
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Marta Sayuri Kakitani

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário


João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade,
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
CURRÍCULO

Professor Dr. José Renato Lamberti


Doutor em Finanças pela Mackenzie (2018), possui Mestrado em
Administração/Finanças pela PUC-SP (2011), Pós-Graduação (Lato Sensu)
em MBA Executivo pela Unicesumar (2010), Graduação em Administração
de Empresas pela PUC-SP (2006), Graduação em Ciências Contábeis (2018).
Atualmente é Coordenador do curso Superior de Tecnologia em Gestão
Financeira e dos cursos de extensão da Saint Paul, além de professor de aulas
de finanças corporativas, análise do risco de crédito e avaliação de empresas,
teoria da contabilidade e contabilidade gerencial para Graduação em Gestão
e Pós-Graduação em Administração de Empresas e Ciências Contábeis. É
autor dos livros Orçamento Empresarial, Gestão Financeira e de Vendas e
Administração Financeira para o Mercado Imobiliário pela editora Cesumar.

Professor Me. Paulo Pardo


Mestrado em Administração pela Universidade Estadual de Londrina.
Doutorando em Engenharia da Produção pela Universidade Metodista de
Piracicaba. Atualmente é Diretor de Operações na Faculdade Católica Paulista,
responsável pelo planejamento, execução e gestão do projeto de EAD da IES.
Foi coordenador dos cursos de Gestão Pública, Negócios Imobiliários e Gestão
Hospitalar do Núcleo de Educação a Distância da Unicesumar. Trabalhou
na coordenação geral de polos de Educação a Distância da Unicesumar,
celebrando convênios de parceria entre polos e a IES, bem como na gestão de
relacionamento com os polos próprios e parceiros. Trabalhou na coordenação
do projeto de novos cursos de pós graduação na Unicesumar. Foi professor
no CHSA - Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da Unicesumar
- Centro Universitário Cesumar. Tem experiência na área de Administração,
com ênfase em Administração de Empresas, atuando principalmente nos
seguintes temas: sistema financeiro nacional, bolsa de valores, mercado de
ações, logística. É professor de pós-graduação na área de Administração
da Unicesumar, na cidade de Maringá, PR. É autor de livros didáticos para
Educação a Distância nas áreas de Logística, Mercado Financeiro e de Capitais,
Marketing e Gestão Ambiental, Teoria Geral da Administração. É consultor na
área de marketing com foco em pesquisa de mercado para rede de varejo de
eletrodomésticos.

Link: <http://lattes.cnpq.br/8141003354179820>.
CURRÍCULO
Professor Robinson Pereira Santos
Graduado em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Maringá
(1998), especialização em Gestão Estratégica de Negócios (2003) e
especializando em Planejamento Tributário (2011). Atua como executivo
de empresas na área de Administração, com ênfase em Administração
Financeira, Custos, Negócios e Contabilidade.

LInk: <http://lattes.cnpq.br/2920108110293172>.

Professora Me. Juliana Moraes da Silva


Juliana Moraes da Silva é Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade
Estadual de Maringá (2016). Especialista em Auditoria e Controladoria
pela Unicesumar. Possui graduação em Licenciado em Matemática pela
Universidade Estadual de Maringá (2001) e Bacharelado em Ciências
Contábeis pela Universidade Estadual de Maringá (2006). Atualmente é
coordenadora e professora do Curso de Ciências Contábeis - EAD e Tecnólogo
em Gestão Financeira - EAD da UNICESUMAR - Centro Universitário Cesumar. É
professora de pós-graduação presencial. professora formadora e conteudista
de Educação à Distância. Perita Contábil, escritora, com experiência em
consultoria de custo e financeira.

Link: <http://lattes.cnpq.br/0551257296562180>.
APRESENTAÇÃO

PERÍCIA, ARBITRAGEM E ATUÁRIA

SEJA BEM-VINDO(A)!
Seja bem-vindo(a) ao livro de Perícia, Arbitragem e Atuária. Será um grande prazer tra-
balhar junto com você estes assuntos tão importantes para a sua formação acadêmica.
Certamente, o próprio título já desperta curiosidade, pois não são palavras de uso co-
mum. Apesar do pouco conhecimento do público em geral sobre os conceitos de Arbi-
tragem e Atuária, eles estão presentes o tempo todo em nossas vidas.
Você perceberá que temos a influência da arbitragem nas situações de conflito e da
atuária no recolhimento das nossas contribuições para a Previdência Social, no seguro
de nosso carro ou de nossa casa, no seguro patrimonial de empresas, enfim, o campo
de atuação é enorme.
Evidentemente que não é nossa pretensão torná-lo(a) especialista nestas áreas, mas
proporcionar conhecimento suficiente para conhecer conceitos, normas e modelos.
Para você ter uma noção geral do que abordaremos, veja uma breve apresentação das
unidades:
Na Unidade I, faremos uma introdução ao assunto da Perícia, informando qual a sua
abrangência. Além da área contábil, conheceremos os tipos de perícia existentes ou pra-
ticados; entramos na regulamentação e normatização da prática da Perícia em nosso
país, verificando a legislação correspondente ao assunto.
Na Unidade II, serão expostas as aplicações da Perícia Contábil nos diversos assuntos
que envolvem a contabilidade.
O importante conhecimento sobre a operacionalização da Perícia Contábil, no âmbito
judicial, que, compulsoriamente, deve se ser uma burocracia que faz parte da boa con-
dução do trabalho. Citamos e comentos, nessa unidade, assuntos como os atos prepara-
tórios e de execução do trabalho pericial, os quesitos, diligências, parecer e o laudo, que
é o produto final da perícia.
Por fim, concluiremos o assunto falando de “dinheiro”, de como são fixados os honorá-
rios e como é a sua formalização no âmbito judicial.
Na Unidade III, iniciaremos o assunto de Arbitragem. Apesar de relevante e importante
para o desenvolvimento jurídico e econômico de nosso país, a Arbitragem é um tema
novo, não bem explorado no dia a dia e de pouco conteúdo bibliográfico, principalmen-
te, no âmbito da contabilidade, sendo mais encontrado nas publicações de Direito.
Mesmo assim, apresentaremos o assunto dedicando esta Unidade III, na introdução, à
Arbitragem, trazendo conceitos e definições gerais, citando outras formas de resolução
de conflitos (uma vez que o conflito é o cerne da Arbitragem) e comentando sobre a
Arbitragem institucional.
APRESENTAÇÃO

Por fim, dedicamos o final desta unidade à operacionalização e à prática da Arbitra-


gem e sua especificação contábil. Você perceberá que a Arbitragem não é da conta-
bilidade, mas que a contabilidade presta seus serviços e conhecimentos para a Arbi-
tragem quando o assunto discutido envolve o patrimônio das entidades. Portanto, é
um tema geral, mas que nossa profissão tem muito a colaborar, afinal, as discussões
geralmente envolvem dinheiro, posses e dívidas (em “contabilês”: Ativo e Passivo).
Bom, é isso, caro(a) acadêmico(a)! Esperamos que esta iniciação ao conhecimento
da Perícia e da Arbitragem seja de grande valia para seu conhecimento e sua vida
profissional.
Qualquer dúvida, estaremos à disposição!
11
SUMÁRIO

UNIDADE I

PERÍCIA

17 Introdução

18 Perícia

21 Perícia Contábil

24 Legislação Aplicada À Perícia e ao Perito Contábil

27 Normas da Perícia Contábil e do Perito Contábil

30 Considerações Finais

35 Referências

36 Gabarito

UNIDADE II

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA

39 Introdução

40 Norma da Perícia Contábil - NBC TP 01

56 Norma do Perito Contábil - NBC PP 01

66 Norma do Exame de Qualificação Técnica do Perito Contábil - NBC PP 02

72 Considerações Finais

77 Referências

78 Gabarito
12
SUMÁRIO

UNIDADE III

ARBITRAGEM CONTÁBIL

105 Introdução

106 Definição e Conceitos

111 Alternativas de Resolução de Conflitos

114 Elementos de Arbitragem 

124 Arbitragem e a Profissão Contábil

127 Arbitragem Institucional e Internacional

132 Considerações Finais

138 Referências

140 Gabarito

UNIDADE IV

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA

143 Introdução

144 Definição e Conceitos

150 Seguros no Brasil

153 Classificação de Seguros

158 Legislação de Seguros


13
SUMÁRIO

162 Classificação de Seguros

163 Seguros de Pessoas

176 Considerações Finais

182 Referências

184 Gabarito

UNIDADE V

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS

187 Introdução

188 Produtos Financeiros

193 Riscos do Investimento em Fundos 

199 Provisões Técnicas e Limites Operacionais

201 Exposição aos Riscos

206 A Gestão de Risco Atuarial

219 Considerações Finais

225 Referências

227 Gabarito

228 CONCLUSÃO
Professora Me. Juliana Moraes da Silva
Professor Esp. Robinson Pereira Santos

I
UNIDADE
PERÍCIA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar os conceitos relacionados à Perícia, bem como os
principais dispositivos reguladores vigentes.
■■ Desenvolver conhecimentos conceituais e fundamentais a serem
utilizados no campo da Perícia.
■■ Conhecer a estrutura das Normas Brasileiras de Contabilidade – NBCs.
■■ Compreender a estrutura da Perícia Contábil e do perito-contador de
acordo com as NBCs que tratam do assunto.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Perícia
■■ Perícia Contábil
■■ Legislação Aplicada à Perícia e ao Perito Contábil
■■ Normas da Perícia Contábil e do Perito Contábil
17

INTRODUÇÃO

A expressão perícia advém do latim, peritia, que, em seu sentido próprio, sig-
nifica conhecimento adquirido pela experiência. Segundo D’Áurea et al. (1953),
a perícia é o testemunho de uma ou mais pessoas técnicas, no sentido de fazer
conhecer um fato cuja existência não pode ser acertada ou juridicamente apre-
sentada se não apoiada em especiais conhecimentos científicos ou técnicos.
A perícia tem grande importância por examinar e trazer clareza, revelando
a verdade de fatos obscuros sobre determinado assunto. Ela está vinculada ao
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

conhecimento e à experiência de determinados objetos.


Aquele que exerce a execução da perícia é chamado de perito, possuindo
conhecimento e experiência no assunto determinado para emitir uma opinião
sobre a matéria examinada.
Para Sá (2005), a perícia contábil é a verificação de fatos ligados ao patrimô-
nio individualizado visando a oferecer opinião, mediante questão proposta. Para
tal opinião, realizam-se exames, vistorias, indagações, investigações, avaliações,
arbitramentos, em suma, todo e qualquer procedimento necessário à formação
da opinião sobre o objeto abordado.
Por isso, esta disciplina tem a finalidade de trazer conhecimentos da perí-
cia exercida pelos profissionais da contabilidade, apresentando os normativos
existentes, adentrando na questão processualística e na forma de apresentação
do trabalho realizado.
Nesta unidade, trataremos da perícia vinculada ao conhecimento contábil. Isto
é, quando um contador pode oferecer sua experiência e seu conhecimento para
realizar a perícia. Portanto, vamos estudar a perícia contábil propriamente dita.
Também trataremos da normatização da prática da perícia contábil, bem
como do profissional contábil responsável pela realização da perícia. Você obser-
vará que transcrevemos as normas de contabilidade que se referem ao assunto.
Isto se faz necessário para não cair em desvios, tendo em vista que a perícia deve,
obrigatoriamente, ser direcionada por normas de procedimentos para que atinja
o seu propósito.

Introdução
18 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PERÍCIA

Conforme definições encontradas em dicionários, perícia está relacionada à


habilidade e destreza, especificamente, definida como um exame feito por pes-
soa que possui estas características.
Não se tem indício de exatamente quando surgiu a perícia, mas há cons-
tatações da sua prática desde o início da civilização, quando os primitivos
desempenham o papel de liderança, legislador, executor e juiz. Não há registros
do surgimento, mas foi no Direito Romano primitivo que surge a figura do perito.
A perícia tem grande importância por examinar e trazer clareza, revelando a
verdade de fatos obscuros sobre determinado assunto, necessitando, assim, de pro-
fissionais habilitados, com capacidade técnica e científica aliada à consciência ética.
De acordo com Muller et al. (2017), a perícia é uma das formas de prova em
processos judiciais, exercida por profissionais portadores de diploma de curso
superior.
Por isso, quando falamos em “perícia”, não podemos nos limitar a uma deter-
minada área do conhecimento, como é o caso da Ciência Contábil. A perícia
está vinculada a conhecimento e experiência de determinados objetos. Aquele
que exerce a execução da perícia, chamado perito, é aquele que possui conhe-
cimento e experiência no assunto determinado para emitir uma opinião sobre
a matéria examinada.

PERÍCIA
19

Assim, temos peritos-engenheiros, peritos-médicos, peritos-psicólogos,


peritos-criminais, entre outras profissões. E entre elas, o perito-contador, que é
o profissional qualificado e habilitado para lidar com questões obscuras de fatos
ligados à Ciência Contábil.
Não há portanto, como ensinarmos um profissional a ser um perito, haja
vista que aquilo que o torna um perito é a sua própria experiência, o seu conheci-
mento e a sua vivência na especificidade da matéria. Assim, o que podemos fazer
é participar da formação de um profissional que será especializado e experimen-
tado em determinada matéria ou determinado assunto. Tendo esta qualificação,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

esta pessoa pode, então, ser requisitada a disponibilizar o seu conhecimento no


exame de fato relacionado à matéria que possui entendimento. Neste caso, ela
estará realizando uma perícia. Perito não é profissão, mas, sim, o exercício de
uma função com base nos seus conhecimentos para apurar determinado fato
no âmbito de domínio.
Por isso, esta disciplina tem a finalidade de trazer conhecimentos da perí-
cia exercida pelos profissionais da contabilidade, apresentando os normativos
existentes, adentrando na questão processualística e na forma de apresentação
do trabalho realizado.
Ser um perito depende dos seus conhecimentos e de sua experiência!

TIPOS DE PERÍCIA

A origem da palavra “perícia” é procedente


do latim peritia, que significa “habilidade” ou
”saber”. Do ponto de vista jurídico, significa
“diligência”, que é realizada por peritos, com o
propósito de evidenciar certos fatos por meio
de pesquisa, exame sobre a verdade de determi-
nado fato e que deve ser efetuado por pessoas
de reconhecida habilidade ou experiência na
matéria investigada, ou seja, é o trabalho reali-
zado por profissional conhecedor do assunto o

Perícia
20 UNIDADE I

qual reúne provas com dados ou informações que sirva para dar suporte a uma
“instância decisória”.
Sistemicamente, pode-se entender perícia como um trabalho de natureza
específica, executada por um expert, com conhecimentos profundos na área que
está executando, independentemente se na área contábil ou não.
A perícia, segundo o ambiente de atuação o qual ela é solicitada, é classificada
em quatro tipos detectáveis e, de acordo com cada tipo, serão determinados o modo
de execução e o objetivo final (laudo ou parecer). São estes os tipos:
a) Perícia Judicial

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Quando realizada por requerimento ou necessidade dos agentes do Poder
Judiciário e deve obedecer às regras legais específicas. Esse tipo, ainda, se
divide em duas formas, segundo a sua finalidade apontada pelo processo
judicial: a prova ou o arbitramento. A prova será quando sua finalidade
for trazer a verdade real, demonstrada científica ou tecnicamente, e que
subsidiará a decisão do juiz. O arbitramento se dá quando sua finalidade
é quantificar a obrigação segundo critério técnico.
b) Perícia Semijudicial
É aquela realizada dentro do aparato institucional do Estado, mas externa
ao Poder Judiciário. Sua finalidade é ser prova nos ordenamentos insti-
tucionais usuários, que podem ser policial, parlamentar (comissões de
inquérito), administração tributária ou conselhos de contribuintes. É
assim classificada porque esses usuários têm relativo poder jurisdicio-
nal, apenas assemelhados aos judiciais.
c) Perícia Extrajudicial
Realizada fora do âmbito do Estado e da esfera judicial, solicitada por par-
tes do ambiente privado (empresas ou pessoas físicas). É subdividida em:
■■ Demonstrativa: mostra a veracidade ou não do fato.
■■ Discriminativa: levanta os termos justos do fato em que duvida do
quantum.
■■ Comprobativa: comprova fraudes, desvios, simulações etc.
d) Perícia Arbitral
Quando for realizada no âmbito de instância decisória, criada pelas par-
tes envolvidas e não se enquadrar nos tipos anteriormente descritos. Pode
ser probante quando sua finalidade é ser prova na decisão, ou pode ser
decisória quando seu produto é a própria arbitragem da controvérsia.

PERÍCIA
21
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

PERÍCIA CONTÁBIL

O Estudo da Perícia Contábil no Brasil tem início com o Código de Processo Civil
(CPC) em 1939, o qual já estabelecia regras muito vagas sobre perícia. Em 1946,
por meio do Decreto-Lei n. 9.295, criou-se o Conselho Federal de Contabilidade
(CFC) em que definiu as atribuições do contador e, consequentemente, institu-
cionalizou-se a perícia contábil no Brasil.
Com o advento da Lei n. 13.105/2015 (Código de Processo Civil – CPC),
as perícias judiciais têm uma legislação ampla, clara e aplicável, tendo em vista
que foram inseridas todas as normas disciplinadoras, incluindo também a dis-
ciplina sobre a pessoa do perito e em relação à perícia.
Segundo Ornelas (2003, p. 19), “prova pericial contábil é um dos meios
que as pessoas naturais e jurídicas têm à sua disposição, garantido constitucio-
nalmente, de se defenderem ou exigirem direitos nas mais variadas situações
econômicas e sociais”.
A prova pericial pode ser requerida para “ganhar tempo” ou, para o objetivo rele-
vante de provar, pelos fatos contábeis, as questões submetidas pelo Poder Judiciário.
Relações empregatícias, operações de créditos e, aquisição de bens são alguns
exemplos de conflitos que buscam direitos no Judiciário.
Considerando que a contabilidade possui todos os dados e informações acerca
das transações financeiras, o contador é o profissional hábil para desenvolver um

Perícia Contábil
22 UNIDADE I

trabalho técnico científico sob a forma de Prova Pericial Contábil.


A perícia contábil está relacionada à construção de uma verdade sobre deter-
minada matéria, em certo aspecto ou situação, utilizando-se de procedimentos
normatizados, técnicos e científicos, executada de pelas responsabilidades de
profissionais formados em Ciências Contábeis. O produto dessa perícia tem o
objetivo de apresentar à instância decisória os elementos de prova necessários
para fundamentar uma solução da questão em discussão.
Para que possamos entender a utilização da perícia contábil, em determinada
situação ou determinando fato, é importante relembrar o objeto da contabilidade,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
isto é, o patrimônio. Por isso, quando se trata de trazer elucidação a respeito de
fatos que feriram ou influenciaram o patrimônio de uma pessoa jurídica ou física,
é necessária a opinião, ou laudo (como veremos adiante), de um perito-contador.
A perícia está diretamente relacionada a discussões judiciais, as quais aquele
izue exerce o juízo avalia informações e depoimentos apresentados pelas partes
envolvidas: o autor e o réu. Na busca pela verdade dos fatos, invariavelmente,
o juízo necessitará de um terceiro parecer, imparcial e técnico, para emitir seu
posicionamento e decisão. Entretanto, cabe salientar que a perícia é exercida
também fora do âmbito judicial, como veremos mais adiante.
A imagem seguinte, que foi reproduzida, se presta a esquematizar, numa
visão acadêmica, como os fatos e as verdades são apresentados ou sustentados, e o
necessário equilíbrio para uma justa solução do litígio estabelecido entre as partes.

Fatos do
Juiz

Perícia na
busca de
fatos e das
verdades
Fatos do Fatos do
Réu Autor

Figura 1 - Perícia busca a verdade dos fatos


Fonte: os autores.

PERÍCIA
23

Atualmente, com a evolução da sociedade e, consequentemente dos litígios,


o estudo da perícia contábil encontra-se em constante aprimoramento e vem
atraindo cada vez mais a atenção dos profissionais de contabilidade.

APLICAÇÕES DA PERÍCIA CONTÁBIL JUDICIAL, EXTRAJUDICIAL


E ARBITRAL

Segundo Muller et al. (2017), a perícia contábil judicial é aquela realizada de


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

acordo com os procedimentos processuais do Poder Judiciário, solicitada pelas


partes (autor e réu) ou por determinação do juiz.
Há várias aplicações no âmbito contábil e financeiro: revisional de contra-
tos, apuração de haveres, lucros cessantes, dissociação de sociedades, falência e
arbitragem etc.
A perícia contábil está presente em diversas esferas do Judiciário, conforme
se verifica a seguir.
Varas cíveis
Varas trabalhistas

PERÍCIA Varas de família


CONTÁBIL
Varas criminais
Falência e recuperação judicial
Fazenda pública e execução fiscal
Figura 2 - Esferas de atuação da perícia contábil
Fonte: os autores.

O doutrinamento da perícia contábil, assim como de outras prerrogativas que


são executadas pelos profissionais da contabilidade, está descrito nas Normas
Brasileiras de Contabilidade. Por isso, antes de iniciarmos aplicações da perí-
cia contábil, apresenta-se uma breve introdução às Normas Brasileiras de
Contabilidade e à legislação aplicada à perícia.

Perícia Contábil
24 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
LEGISLAÇÃO APLICADA À PERÍCIA E AO PERITO
CONTÁBIL

Como já mencionado, a perícia judicial começou a ser mencionada juridicamente


no Brasil, em 1939, por meio do Decreto-Lei n. 1.608. Em 1946, com o Decreto-
lei n. 9.295, foi oficialmente instituída a Perícia Contábil no Brasil.
Histórico judicial de regulamentação e disciplina da perícia judicial:
■■ 1939: Decreto-Lei n. 1.608: vagas regras sobre a perícia.
■■ 1946: Decreto-Lei n. 8.579: alterações nas normas periciais.
■■ 1946: Decreto-Lei n. 9.295: criação do CFC e regras para perícia contábil.
■■ 1973: Lei n. 5.869: legislação ampla para as perícias judiciais.
■■ 1992: Lei n. 8.455: observações à pessoa do perito.
■■ 1994: Lei n. 8.852: honorários periciais.
■■ 2001: Lei n. 10.358: entrega de pareceres e laudos (prazos).
■■ 2002: Lei n. 10.406: domínio da matéria pelo perito contábil.

PERÍCIA
25

NOMENCLATURA DOS DISPOSITIVOS REGULADORES

Princípios: fundamentos da ação da ciência sobre seu objeto e seu obje-


tivo. Dos princípios decorrem as normas e os padrões. Caracterizam-se
pela universalidade e generalidade.
Normas: são os indicativos comportamentais, envolvendo as técnicas e
a ética, obrigatórios na execução da ciência. Caracterizam-se pela gene-
ralidade e especificidade e são obedientes aos princípios. São mutáveis e
adaptáveis à realidade do ambiente.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Padrões: também são comportamentos técnicos e éticos, mas oriundos


do resultado das ações dos profissionais daquela ciência. Representam a
práxis adotada, habitualmente ou comumente.
E relação às disposições normativas da classe contábil, veremos poste-
riormente nos próximos tópicos abordados.

AUDITORIA X PERÍCIA

Apesar das semelhanças encontradas no


exercício da auditoria e da perícia, sendo a
principal delas a revisão de trabalhos reali-
zados por colegas de outras ramificações, a
diferenciação entre estas duas especializações
está centrada nos objetivos e nas finalidades.
O objetivo básico da perícia é o esclareci-
mento de determinados fatos ou circunstâncias,
seja de forma judicial ou extrajudicial, como
já vimos. Estes devem ser comprovados por
laudos ou pareceres.
Por sua vez, a auditoria busca se certificar
da veracidade de registros ou procedimen-
tos e expressa os seus resultados mediante
relatórios.

Legislação Aplicada À Perícia e ao Perito Contábil


26 UNIDADE I

A perícia está relacionada a uma época, a um questionamento ou a uma


necessidade, enquanto que a auditoria tende a ser constante, atendendo a um
maior número de interessados, e não é tão rigorosa na sua metodologia.
A auditoria também se preocupa com a amostragem, enquanto que a perí-
cia se volta a um determinado campo. A auditoria está relacionada à gestão, e a
perícia, à eventualidade e especificidade.
Por fim, a perícia tem como finalidade a produção de prova, e a auditoria,
a revisão de procedimentos.
O professor Wilson Alberto Zappa Hoog (2008, p. 115-116) afirma que:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
[...] a perícia é a prova elucidativa dos fatos, já a auditoria é mais re-
visão, verificação, tende a ser necessidade constante repetindo-se de
tempo em tempo, com menos rigores metodológicos pois utiliza-se da
amostragem. A perícia repudia a amostragem como critério e tem ca-
ráter de eventualidade e só trabalha com o universo completo, onde a
opinião é expressada com rigores de cem por cento de análise.
Quadro 1 - Diferenças entre perícia e auditoria

ITEM PERÍCIA AUDITORIA


Prevê o tempo de execução, Prevê tempo de execução, equipe
a metodologia a ser utilizada, técnica, metodologia extensão e
Planejamento
o valor financeiro e forma de profundidade, valor financeiro e forma
pagamento. de pagamento.
A totalidade dos fatos, dos Registros contábeis, financeiros e
Escopo do documentos, das informações, patrimoniais, normas de controles
trabalho todo e qualquer meio de prova internos, demonstrações contábeis,
pode ser utilizado. normalmente por amostragem.
Emissão do Parecer de Auditoria,
Objetivo do
Emissão do Laudo Pericial. Relatório de Auditoria e orientação
trabalho
preventiva e corretiva.
Sócios, acionistas, investidores, admi-
Usuários da As partes e o Poder Judiciário,
nistradores, credores, órgãos fiscaliza-
informação quando for o caso.
dores e público em geral.
Somente o perito, podendo
Equipe de Auditores, gerentes, sócios, sendo a
utilizar auxiliares, sem responsa-
trabalho responsabilidade de gerentes e sócios.
bilidade no processo.
Fonte: os autores.

Do exposto, tem-se que tanto a perícia como a auditoria são áreas distintas de
atuação do contador.

PERÍCIA
27
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL E DO PERITO


CONTÁBIL

No exercício da profissão contábil, devem ser observadas as Normas Brasileiras


de Contabilidade (NBC), que são um conjunto de regras e procedimentos de
conduta, as chamadas normas profissionais (NBC-Ps), bem como a doutrina
conceitual, os princípios, a estrutura técnica e os procedimentos, chamados de
normas técnicas (NBC-Ts), a serem aplicados na realização dos trabalhos pre-
vistos, e que são aprovadas por resolução emitida pelo Conselho Federal de
Contabilidade (CFC), que, inclusive, tiveram sua aprovação atualizada pela
Resolução CFC 1.328/2011.
As NBC classificam-se em Profissionais e Técnicas.As Normas Brasileiras
de Contabilidade Profissionais se estruturam em:
■■ Geral - NBC PG: normas aplicadas indistintamente a todos os profissio-
nais de Contabilidade.
■■ Auditor Independente - NBC PA: aplicadas especificamente aos conta-
dores que atuam como auditores independentes.
■■ Auditor Interno - NBC PI: aplicadas especificamente aos contadores que
atuam como auditores internos.
■■ Perito - NBC PP: aplicadas especificamente aos contadores que atuam
como peritos contábeis.

Normas da Perícia Contábil e do Perito Contábil


28 UNIDADE I

As Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas se estruturam em:


■■ Geral - NBC TG (segregadas em Normas Completas, Normas Simplificadas
para PMEs e Normas Específicas).
■■ Setor Público - NBC TSP.
■■ Auditoria Independente de Informação Contábil Histórica - NBC TA.
■■ Revisão de Informação Contábil Histórica - NBC TR.
■■ Asseguração de Informação Não Histórica - NBC TO.
■■ Serviço Correlato - NBC TSC.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Auditoria Interna - NBC TI.
■■ Perícia - NBC TP.
■■ Auditoria Governamental - NBC TAG.
Importante salientar que as NBCs, principalmente depois de aprovada a Lei n.
11.638/2007, estão em harmonização com as Normas Internacionais de Contabilidade
emitidas pelo IASB – Comitê Internacional de Normas de Contabilidade, as
Normas Internacionais de Auditoria e Asseguração, e as Normas Internacionais de
Contabilidade para o Setor Público emitidas pela IFAC – Federação Internacional
de Contadores.

É importante você saber, caro(a) aluno(a), que a perícia serve a uma época, a
um questionamento, a uma necessidade; a auditoria tende a ser necessidade
constante, atingindo um número muito maior de interessados, sem necessida-
de de rigores metodológicos tão severos; basta dizer que a auditoria consagra
a amostragem e a perícia a repele, como critério habitual.
Fonte: Sá (2013).

PERÍCIA
29

Vale destacar que a inobservância das Normas Brasileiras de Contabilidade


constitui infração disciplinar, sujeita às penalidades previstas no Art. 27 do
Decreto-Lei n. 9.295/1946, e, quando aplicável, ao Código de Ética Profissional
do Contabilista.
Em relação ao perito-contador, as próprias Normas Brasileiras de Contabilidade
também se preocuparam em definir seu papel e suas atribuições. As normas do
perito também estão regulamentadas desde 1992. A estrutura normativa da classe
contábil, aprovada pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) traz esclare-
cimento, abrangência e clareza para direcionar a atuação do perito-contador.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O CFC editou a NBC TP 01, a NBC PP 01 (DOU de 18/03/15) e a NBC PP


02 (DOU de 28/10/16), que dá redação às normas relativas à execução de perí-
cias contábeis e aos contadores que atuam como peritos contábeis.
Normativas da área pericial:
■■ NBC TP 01 – Perícia Contábil: estabelece regras e procedimentos téc-
nico-científicos a serem observados pelo perito, quando da realização
de perícia contábil, no âmbito judicial, extrajudicial, inclusive arbitral,
mediante o esclarecimento dos aspectos e dos fatos do litígio por meio
de exame, vistoria, indagação, investigação, arbitramento, mensuração,
avaliação e certificação.
■■ NBC PP 01 – Perito Contábil: estabelece critérios inerentes e procedi-
mentos inerentes à atuação do contador na condição de perito.
■■ NBC PP 02 – Exame de qualificação técnica para perito contábil: esta-
belece critérios para aferir o nível de conhecimento e a competência
técnico-profissional do contador que pretende ser perito contábil.

Normas da Perícia Contábil e do Perito Contábil


30 UNIDADE I

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta unidade teve como propósito mostrar pra você, aluno(a) de Ciências
Contábeis, uma importante área profissional em que o contador pode atuar. Além
de contador autônomo, analista financeiro, contabilista de empresas públicas e
privadas, controller ou auditor, você pode exercer a função de perito contábil.
No decorrer desta unidade, você foi apresentado(a) à matéria da Perícia
de forma geral e abrangente, conhecendo sua aplicação nas diversas áreas do
conhecimento, a legislação correspondente, os tipos de perícia e o que a difere

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da auditoria contábil.
Assim como em outras áreas contábeis, para atuar no ramo da Perícia, é
essencial conhecer a legislação contábil de forma geral, e a específica, de forma
detalhada. As normas brasileiras de contabilidade devem ser rigorosamente
observadas no exercício da função sob pena de multas, sanções e até perda do
registro profissional.
O que deve ser ressaltado é que perito contábil não é profissão, mas sim, uma
função, exercida pelo profissional formado em Ciências Contábeis. Enquanto
profissional de determinada área, quando necessário, este pode realizar apura-
ções e exames em determinada matéria ou determinado assunto que envolva sua
especialidade e, principalmente, sua experiência.
Nesta unidade, procuramos levar o conhecimento à existência das Normas
Brasileiras de Contabilidade aplicadas à perícia contábil, ao perito-contador e
ao Exame de Qualificação do Perito.
Na próxima unidade, traremos as normas de forma a relacionar o escrito
com a prática da função. Não há como se falar em Perícia expurgando as NBCs,
que não só parametrizam a sua execução, como delimitam seus objetivos e sua
aplicação.

PERÍCIA
31

Leia o texto a seguir e responda às questões 1 e 2.


A Perícia Contábil é Profissão?
Há registros, na Índia, do aparecimento do árbitro, eleito pelas partes, que de-
sempenhava o papel de perito e juiz simultaneamente, pois dele dependiam a
verificação dos fatos e a decisão do litígio. Também há vestígios de perícia em
registros no Egito e na Grécia, ao ter início a sistematização dos conhecimentos
jurídicos. Aí, já se observa a utilização de especialistas de diversas áreas para
auxiliar nos processos decisórios.
Entretanto, é no Direito Romano primitivo que se encontra com maior clareza
a figura do perito, ainda que associada a árbitro. No Sistema Romano, o magis-
trado recorria ao especialista, que, por seus conhecimentos técnicos, dispunha
de melhores condições de opinar sobre a questão e elaborar um laudo que se
constituía na própria sentença.
1. O texto fala sobre a função de árbitro e perito exercida pela mesma pessoa. Por
que você acha que isto ocorria naquela época?
2. A partir da evolução do Direito Romano, o papel do perito é solicitado pelos
magistrados. Qual o motivo desta iniciativa, de acordo com o texto?
3. A Perícia busca a verdade dos fatos a serem comprovados. Utilizando-se da li-
teratura que possui à sua disposição, descreva semelhanças e diferenças entre
Perícia x Auditoria x Arbitragem.
4. O conhecimento das normas possibilita exercer a função cometendo o menor
número de erros possíveis. Os termos “erro” e “fraude” são utilizados erronea-
mente como sinônimos. Diferencie os termos. Exemplifique.
5. As Normas Brasileiras de Contabilidade norteiam todo o trabalho do perito no
exercício de sua função, além de regulamentar, também abordam a forma de
executar. Leias as afirmações e assinale a alternativa correta quanto às NBCs
aplicadas à perícia e ao perito.
a) NBC TP 01, apenas.
b) NBC PP 01, apenas.
c) NBC TP 01 e NBC PP 01, apenas.
d) NBC TP 01, NBC PP 01 e 02.
e) Lei n. 6.404 de 1976.
32

Comparação entre Contabilidade Forense e Perícia Contábil


A Contabilidade Forense é o instrumento mais amplo e completo na investigação e le-
vantamento de fraudes quando comparada à atividade de Auditoria. Comparando-se à
Perícia Contábil, a mesma ascendência teórica da Contabilidade Forense, observada na
Auditoria, é também verificada (CARDOSO, 2008).
Sendo assim, não há que se falar que os termos “Contabilidade Forense” e “Perícia Con-
tábil” (ou “Perícia Contábil Criminal”) se confundem ou são sinônimos. Apesar de ser
verdade que “Contabilidade Forense” e “Perícia Contábil” têm uma natureza comum e
atuam de forma parecida, os institutos guardam sensíveis diferenças (CARDOSO, 2008).
O termo “Contabilidade Forense” pode ser considerado uma solução contábil-jurídica
contra a fraude. Ou seja, a “Contabilidade Forense” só é efetivamente vislumbrada diante
de um cenário de irregularidade, de um ato que fira a lei. A sua própria nomenclatura
convoca o interesse pela justiça, pois o termo “forense” se vincula com o direito e com a
aplicação da lei. Sendo assim, a matéria é parte e ferramenta de um processo legal, em
caráter assistencial de um juiz, em uma demanda, em um processo (SILVA, 2008).
Por sua vez, a expressão “Perícia Contábil” mantém sintonia com o termo “experiência”,
originário do latim peritia (SILVA, 2008).
Segundo Cardoso (2008, p. 13), conforme o NBC P13 (agora NBC TP01): os procedimen-
tos de perícia contábil (exame, vistoria, indagação, investigação, arbitramento, mensu-
ração, avaliação e certificação) visam as respostas às conclusões registradas no laudo
pericial contábil ou parecer pericial contábil, a saber:
33

1) O exame é a análise de livros, registros, registros das transações e do-


cumentos.

2) A vistoria é a diligência que objetiva a verificação e a constatação da


situação, coisa ou fato, de forma circunstancial.

3) A indagação é a busca de informações.

4) A investigação é a pesquisa que busca trazer ao laudo pericial contá-


bil, ao parecer pericial contábil, o que está oculto por quaisquer cir-
cunstâncias.

5) O arbitramento é a determinação de valores ou soluções de contro-


vérsia por critério técnico.

6) A mensuração é ato de quantificação física de coisas.

7) A avaliação é ato de estabelecer o valor das coisas, bens, direitos e


obrigações, despesas e receitas.

8) ) A certificação é o ato de atestar a informação trazida ao laudo peri-


cial contábil pelo perito contador.

As diferenças entre Auditoria, Perícia Contábil e Contabilidade Forense


orientam qual caminho tomar na análise de casos concretos. Sendo as-
sim, a forma de atuação e de investigação difere em todos os sentidos,
desde o profissional habilitado, passando pelo escopo, tempo, periodici-
dade de observações etc.

Fonte: Carneiro et al. (2016, p. 62).


MATERIAL COMPLEMENTAR

Prova Pericial Contábil: Teoria e Prática


Wilson Alberto Zappa Hoog
Editora: Juruá
Sinopse: Destina-se como livro-texto básico para a disciplina de Perícia
Contábil nos cursos de Graduação em Contabilidade e Pós-Graduação
em Perícia. É recomendado, também, como obra de consulta e referência
doutrinária para peritos em contabilidade, juízes e advogados, ao mesmo
tempo em que é indicado como fonte de lastro em trabalhos científicos
como pareceres, laudos, monografias, dissertações e teses. Esta edição
encontra-se atualizada com a inclusão dos seguintes itens: novas métricas
contábeis, princípios e axiomas da teoria pura da contabilidade, teorema
da teoria pura da contabilidade, fundamentação do laudo ou do parecer,
corruptologia e fraudologia, valor provável do lucro futuro em situações ou
hipóteses vinculadas à Lei do Inquilinato e outros itens mais.

Um dos fatores que levam à abertura de processos éticos e disciplinares nos Conselhos
Regionais de Contabilidade é o desconhecimento das NBCs por parte dos profissionais.
O link a seguir apresenta todas as normas.
Disponível em: <https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de-contabilidade/>.
35
REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto-Lei n. 9.295 de 27 de maio de 1946. Cria o Conselho Federal de


Contabilidade, define as atribuições do Contador e do Guarda-livros, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCiViL_03/Decreto-Lei/
Del9295.htm>. Acesso em: 19 set. 2018.
__________. Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/
L13105.htm#art1046>. Acesso em: 19 set. 2018.
__________. Lei n. 11.638 de 28 de dezembro de 2017. Altera e revoga dispositi-
vos da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro
de 1976, e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração
e divulgação de demonstrações financeiras. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11638.htm>. Acesso em: 19 set. 2018.
CARNEIRO, Y. F. F. et al. Contabilidade Forense: a aplicação da atividade contábil in-
vestigativa e sua perspectiva futura no Brasil. Revista de Contabilidade do Mes-
trado em Ciências Contábeis da UERJ, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p. 62-73, set./dez.
2016. Disponível em: <http://www.atena.org.br/revista/ojs-2.2.3-06/index.php/
UERJ/article/view/2956/2388>. Acesso em: 19 set. 2018.
D’AUREA, F. Revisão e perícia contábil: parte teórica. 2. ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1953.
HOOG, W. A. Z. Perícia Contábil: em uma abordagem racional científica. Curitiba:
Juruá, 2008.
MULLER, A. N.; TIMI, S. R. R.; HEIMOSHI, V. T. M. Perícia contábil. São Paulo: Saraiva,
2017.
ORNELAS, M. M. G. Perícia Contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
SÁ, A. L. Perícia Contábil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
GABARITO

1. As funções de árbitro e perito são similares quanto ao conhecimento. O perito


produz prova, e o árbitro faz a mediação de conflito. Ambos buscam resolver o
litígio entre as partes.
2. Em razão do perito ter conhecimento técnico específico. Os magistrados com-
preendem a lei, mas não o conhecimento técnico contábil, por exemplo.
3. Perícia – Planejamento: prevê tempo de execução, metodologia a ser utilizada,
o valor financeiro e a forma de pagamento. N,o escopo do trabalho prevê a
totalidade dos fatos, dos documentos, das informações, qualquer meio de prova
pode ser utilizado. Objetivo do trabalho: emissão do laudo pericial. Usuários
da informação: as partes e o poder judiciário quando for o caso. Equipe de
trabalho: somente o perito, podendo utilizar auxiliares, sem responsabilidade
no processo.
Auditoria - Planejamento: prevê o tempo de execução, equipe técnica, meto-
dologia, extensão e profundidade, valor financeiro e forma de pagamento. Es-
copo do trabalho: registros contábeis, financeiros e patrimoniais, normas de
controles internos, demonstrações contábeis, normalmente por amostragem.
Objetivo do trabalho: emissão do parecer de auditoria, relatório de auditoria
e orientação preventiva e corretiva. Usuários da informação: sócios, acionistas,
investidores, administradores, credores, órgãos fiscalizadores e público em ge-
ral. Equipe de trabalho: auditores, gerentes, sócios, sendo a responsabilidade
de gerentes e sócios.
4. O termo fraude refere-se a ato intencional de omissão ou manipulação de tran-
sações, adulteração de documentos, registros e demonstrações contábeis. A
fraude pode ser caracterizada por:
a) Manipulação, falsificação ou alteração de registros ou documentos, de modo
a modificar os registros de ativos, passivos e resultados.
b) Apropriação indébita de ativos.
c) Supressão ou omissão de transações nos registros contábeis.
d) Registro de transações sem comprovação.
e) Aplicação de práticas contábeis indevidas.
O termo erro refere-se a ato não-intencional na elaboração de registros e de-
monstrações contábeis, que resulte em incorreções deles, consistente em:
a) erros aritméticos na escrituração contábil ou nas demonstrações contábeis.
b) aplicação incorreta das normas contábeis.
c) interpretação errada das variações patrimoniais.
5. E
Professora Me. Juliana Moraes da Silva
Professor Esp. Robinson Pereira Santos

NORMAS DA PERÍCIA

II
UNIDADE
CONTÁBIL APLICADA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer e compreender a norma contábil acerca da perícia e do
laudo pericial.
■■ Entender a função do perito contador, seus direitos e obrigações.
■■ Compreender o procedimento de exame de qualificação técnica do
perito contábil.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Norma da Perícia Contábil - NBC TP 01
■■ Norma do Perito Contábil - NBC PP 01
■■ Norma do Exame de Qualificação Técnica do Perito Contábil - NBC PP
02
39

INTRODUÇÃO

O Conselho Federal de Contabilidade, no cumprimento de sua atribuição priva-


tiva, edita as Normas Brasileiras de Contabilidade que devem ser adotadas por
todos os profissionais da contabilidade no Brasil.
Para assegurar a evolução das Ciências Contábeis e a aplicação do conheci-
mento atualizado e globalizado no exercício profissional, uma das prioridades do
CFC tem sido a busca da convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade
aos padrões internacionais. A elaboração e a revisão das Normas Brasileiras de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Contabilidade (NBCs) Técnicas e Profissionais fazem parte de um processo cons-


tante que congrega, em igual medida, o saber técnico e a aplicação prática, sem
descuidar da realidade atual da profissão contábil.
Nesta unidade, trataremos da perícia vinculada ao conhecimento contábil,
isto é, quando um contador pode oferecer sua experiência e conhecimento para
realizar a perícia. Portanto, vamos estudar a perícia contábil propriamente dita.
Também trataremos, nesta unidade, da normatização da prática da perícia
contábil, do profissional contábil responsável pela realização da perícia, bem
como do exame de qualificação técnica que o perito deve realizar para avaliar
seu conhecimento técnico.
Você observará que transcrevemos as normas de contabilidade que se refe-
rem ao assunto. Isto se faz necessário para não cair em desvios, tendo em vista
que a perícia deve, obrigatoriamente, ser direcionada por normas de procedi-
mentos para que atinja o seu propósito.
Utilizaremos a metodologia de comentários da norma contábil dentro do
próprio texto para facilitar a absorção do conhecimento e interpretação tempes-
tiva do tópico em questão.
Não vamos perder tempo, comecemos agora mesmo a compreender as nor-
mas aplicadas à perícia e ao perito contábil.

Introdução
40 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
NORMA DA PERÍCIA CONTÁBIL - NBC TP 01

Olá, caro(a) aluno(a), para atuar na área contábil, é necessário conhecer toda a
legislação e as normas brasileiras de contabilidade. Quando o objetivo é o ramo
pericial, a demanda de conhecimento é ainda maior, além das normas gerais, é
essencial compreender as normas técnicas e profissionais. O Conselho Federal
de Contabilidade, no exercício de suas atribuições legais e regimentais, aprova
a Norma Brasileira de Contabilidade (NBC) TP 01 em 27 de fevereiro de 2015,
que dispõe sobre a Perícia Contábil.
Segue a NBC TP 01 (CFC, 2015, p. 2):
Objetivo

1. Esta Norma estabelece regras e procedimentos técnico-científicos a


serem observados pelo perito, quando da realização de perícia contá-
bil, no âmbito judicial, extrajudicial, mediante o esclarecimento dos
aspectos e dos fatos do litígio por meio de exame, vistoria, indagação,
investigação, arbitramento, mensuração, avaliação e certificação.

Conceito

2. A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnico-


-científicos destinados a levar à instância decisória elementos de
prova necessários a subsidiar à justa solução do litígio ou constata-
ção de fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer técnico-
-contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais
e com a legislação específica no que for pertinente.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


41

Observe que seu conceito é baseado na aplicação dos conhecimentos es-


pecíficos para levantar a verdade de uma determinada matéria com a finali-
dade de demonstrar aquele que tem a responsabilidade de tomar a decisão
sobre um impasse.

O laudo pericial contábil e o parecer técnico-contábil têm por limite o próprio


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

objeto da perícia deferida ou contratada. O objetivo, ou o produto da perícia,


é o levantamento de um relatório pericial (seja laudo nas questões judiciais ou
parecer nas questões extrajudiciais), e este deve relatar exclusivamente aquilo
que se refere à matéria periciada.
A perícia contábil é de competência exclusiva de contador em situação regu-
lar perante o Conselho Regional de Contabilidade de sua jurisdição. A perícia
contábil, como a própria sequência do nome diz, é exclusiva do profissional de
formação na área contábil, especificamente daquele que possui curso superior
em contabilidade, ou seja, do Bacharel em Ciências Contábeis. Portanto, não
cabe ao técnico em contabilidade, ou mesmo aos graduados nas áreas de eco-
nomia, administração e outras afins.
A perícia judicial é exercida sob a tutela do Poder Judiciário. A perícia extra-
judicial é exercida no âmbito arbitral, estatal ou voluntária. A perícia arbitral é
exercida sob o controle da lei de arbitragem. Perícias oficial e estatal são executadas
sob o controle de órgãos de Estado. Perícia voluntária é contratada, espontane-
amente, pelo interessado ou de comum acordo entre as partes.
Obedecendo a este posicionamento do CFC, Alberto (1996, p. 48) conceitua
e define os objetivos da Perícia Contábil como: “um instrumento técnico-cien-
tífico de constatação, prova ou demonstração, quanto à veracidade de situações,
coisas ou fatos oriundos das relações, efeitos e haveres que fluem do patrimô-
nio de quaisquer entidades”.
Alberto (1996) elenca, ainda, de acordo com as experiências profissionais
vividas por ele e por um grupo de profissionais pesquisados pela PUC-MG, que
os objetivos e as finalidades da Perícia Contábil são, especificamente:

Norma da Perícia Contábil - NBC TP 01


42 UNIDADE II

■■ A informação fidedigna.
■■ A certificação, o exame e a análise do estado circunstancial do objeto.
■■ O esclarecimento e a eliminação de dúvidas suscitadas sobre o objeto.
■■ O fundamento científico da decisão.
■■ A formulação de opinião ou juízo técnicos.
■■ A mensuração, a análise, a avaliação ou o arbitramento sobre o quantum
monetário do objeto.
■■ Trazer à luz o que está oculto por inexatidão, erro, inverdade, má-fé, astú-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cia ou fraude.

EXECUÇÃO

Ao ser intimado para dar início aos trabalhos periciais, o perito do juízo deve
comunicar às partes e aos assistentes técnicos a data e o local de início da pro-
dução da prova pericial contábil, exceto se designados pelo juízo.
(a) Caso não haja, nos autos, dados suficientes para a localização dos assis-
tentes técnicos, a comunicação deve ser feita aos advogados das partes
e, caso estes também não tenham informado endereço nas suas peti-
ções, a comunicação deve ser feita diretamente às partes e/ou ao juízo.
(b) O perito-assistente pode, tão logo tenha conhecimento da perícia,
manter contato com o perito do juízo, colocando-se à disposição para
a execução da perícia em conjunto.
(c) Na impossibilidade da execução da perícia em conjunto, o perito do
juízo deve permitir aos peritos-assistentes o acesso aos autos e aos
elementos de prova arrecadados durante a perícia, indicando local e
hora para exame pelo perito-assistente.
(d) O perito-assistente pode entregar ao perito do juízo o cópia do seu
parecer técnico-contábil, previamente elaborado, planilhas ou memó-
rias de cálculo, informações e demonstrações que possam esclarecer
ou auxiliar o trabalho a ser desenvolvido pelo perito do juízo.

O perito-assistente pode, logo após sua contratação, manter contato com o


advogado da parte que o contratou, requerendo dossiê completo do processo

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


43

para conhecimento dos fatos e melhor acompanhamento dos atos processuais


no que for pertinente à perícia.
Nas perícias judiciais, geralmente, o juízo nomeia um perito judicial para
proceder ao exame da peça em questão.
As partes envolvidas na questão (autor e réu), por meio da indicação dos
seus advogados, contratam peritos para prestar assistência técnica a estes, no
sentido de avaliarem seus pedidos, bem como analisar o próprio laudo do perito
judicial. Observamos, nestes itens normativos, a importância do relacionamento
entre o perito-assistente, o perito-contador (judicial) e o advogado.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

8. O perito, enquanto estiver de posse do processo ou de documentos, deve


zelar por sua guarda e segurança e ser diligente.
9. Para a execução da perícia contábil, o perito deve ater-se ao objeto e ao
lapso temporal da perícia a ser realizada.
10. Mediante termo de diligência, o perito deve solicitar por escrito todos os
documentos e todas as informações relacionadas ao objeto da perícia, fixando o
prazo para entrega.
11. A eventual recusa no atendimento a diligências solicitadas ou qualquer
dificuldade na execução do trabalho pericial deve ser comunicada, com a devida
comprovação ou justificativa, ao juízo, em se tratando de perícia judicial; ou à
parte contratante, no caso de perícia extrajudicial.
12. O perito deve utilizar os meios que lhe são facultados pela legislação e
normas concernentes ao exercício de sua função, com vistas a instruir o laudo
pericial contábil ou parecer técnico-contábil com as peças que julgar necessárias.
13. O perito deve manter registro dos locais e das datas das diligências, nome
das pessoas que o atender, livros e documentos ou coisas vistoriadas, examina-
das ou arrecadadas, dados e particularidades de interesse da perícia, rubricando
a documentação examinada, quando julgar necessário e possível, juntando o ele-
mento de prova original, cópia ou certidão.
14. A execução da perícia, quando incluir a utilização de equipe técnica,
deve ser realizada sob a orientação e supervisão do perito do juízo, que assume
a responsabilidade pelos trabalhos, devendo assegurar-se de que as pessoas con-
tratadas sejam profissionais e legalmente capacitadas à execução.

Norma da Perícia Contábil - NBC TP 01


44 UNIDADE II

15. O perito deve documentar os elementos relevantes que serviram de


suporte à conclusão formalizada no laudo pericial contábil e no parecer técni-
co-contábil, quando não juntados aos autos, visando a fundamentar o laudo ou
parecer e comprovar que a perícia foi executada de acordo com os despachos,
as decisões judiciais e as Normas Brasileiras de Contabilidade.
Perceba a importância dada a detalhes que, quando falamos de perícia, são
imprescindíveis para a execução de um trabalho assertivo e que são muito bem
registrados nestas normas:
■■ Cuidado com os documentos e as informações, bem como a forma de

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
acesso a eles mesmos (itens 8, 10 e 13).
■■ Foco no objeto em questão e no tempo a ser respeitado (item 9).
■■ Observação da legislação e normas para o trabalho (item 12).
■■ Registro de todos os atos, fatos e a circunstância que envolvem o exame
(item 15).

PROCEDIMENTOS

Procedimento é a forma como deverá ser executado o trabalho. No item 16 e os


demais que se seguem, temos a citação e a definição de elementos que envolvem
os procedimentos e são imprescindíveis na realização de uma perícia. Esses pro-
cedimentos estão devidamente grifados:
16. Os procedimentos periciais contábeis visam a fundamentar o laudo peri-
cial contábil e o parecer técnico-contábil e abrangem, total ou parcialmente,
segundo a natureza e a complexidade da matéria, exame, vistoria, indagação,
investigação, arbitramento, mensuração, avaliação e certificação.
17. O exame é a análise de livros, registros de transações e de documentos.
18. A vistoria é a diligência que objetiva a verificação e a constatação de situ-
ação, coisa ou fato, de forma circunstancial.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


45

19. A indagação é a busca de informações mediante entrevista com conhe-


cedores do objeto ou o fato relacionado à perícia.
20. A investigação é a pesquisa que busca trazer ao laudo pericial contá-
bil ou parecer técnico-contábil o que está oculto por quaisquer circunstâncias.
21. O arbitramento é a determinação de valores e quantidades ou a solução
de controvérsia por critério técnico-científico.
22. A mensuração é o ato de qualificação e quantificação física de coisas,
bens, direitos e obrigações.
23. A avaliação é o ato de estabelecer o valor de coisas, bens, direitos, obri-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

gações, despesas e receitas.


24. A certificação é o ato de atestar a informação trazida ao laudo ou ao
parecer pelo perito.
25. Concluídos os trabalhos periciais, o perito do juízo apresentará laudo
pericial contábil e o perito-assistente oferecerá, querendo, seu parecer técnico-
-contábil, obedecendo aos respectivos prazos.
26. O perito do juízo, depois de concluído seu trabalho, deve fornecer, quando
solicitado, cópia do laudo ao perito-assistente, informando-lhe com antecedên-
cia a data em que o laudo pericial contábil será protocolado em cartório.
27. O perito-assistente não pode firmar o laudo pericial quando o documento
tiver sido elaborado por leigo ou profissional de outra área, devendo, neste caso,
oferecer um parecer técnico-contábil sobre a matéria periciada.
28. O perito-assistente, ao apor a assinatura em conjunto com o perito do
juízo, em laudo pericial contábil, não pode emitir parecer técnico-contábil con-
trário a esse laudo.
29. O perito-assistente pode entregar cópia do seu parecer, os planilhas e
os documentos ao perito do juízo antes do término da perícia, expondo as suas
convicções, fundamentações legais, doutrinárias, técnicas e científicas sem que
isto implique indução do perito do juízo a erro, por tratar-se da livre e necessá-
ria manifestação científica sobre os pontos controvertidos.

Norma da Perícia Contábil - NBC TP 01


46 UNIDADE II

PLANEJAMENTO

O trabalho de planejamento da perícia constitui-se o ponto inicial para o desen-


volvimento do trabalho a ser executado baseado na matéria pleiteada, e para a
expectativa de remuneração, ou seja, dos cálculos dos honorários (salvo quando
estes forem arbitrados pelo juiz).
É na fase de planejamento que o perito deve atentar para dois aspectos
fundamentais do processo: o que está sendo demandado e a época do aconteci-
mento dos fatos. Portanto, é fundamental a leitura da inicial, da contestação ou

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da impugnação, aos documentos juntados pelas partes e aos quesitos elabora-
dos pelo juízo pelas partes. Veja o que diz o item 30.
30. O planejamento da perícia é a etapa do trabalho pericial que antecede
diligências, pesquisas, cálculos e respostas aos quesitos, na qual o perito do juízo
estabelece a metodologia dos procedimentos periciais a serem aplicados, elabo-
rando-o a partir do conhecimento do objeto da perícia.
Objetivos: observe que a norma contábil é muito clara ao auxiliar o contador
na função de perito. Estes itens que se referem ao propósito do planejamento da
perícia auxiliam o profissional a manter o foco e o objetivo do trabalho.
31. Os objetivos do planejamento da perícia são:
(a) Conhecer o objeto e a finalidade da perícia, a fim de permitir a adoção de
procedimentos que conduzam à revelação da verdade, a qual subsidiará
o juízo, o árbitro ou o interessado a tomar a decisão a respeito da lide.
(b) Definir a natureza, a oportunidade e a extensão dos procedimentos a
serem aplicados, em consonância com o objeto da perícia.
(c) Estabelecer condições para que o trabalho seja cumprido no prazo esta-
belecido.
(d) Identificar potenciais problemas e riscos que possam vir a ocorrer no
andamento da perícia.
(e) Identificar fatos importantes para a solução da demanda, de forma que
não passem despercebidos ou não recebam a atenção necessária.
(f) Identificar a legislação aplicável ao objeto da perícia.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


47

(g) Estabelecer como ocorrerá a divisão das tarefas entre os membros da


equipe de trabalho, sempre que o perito necessitar de auxiliares.
(h) Facilitar a execução e a revisão dos trabalhos.

DESENVOLVIMENTO

32. Os documentos dos autos servem como suporte para obtenção das informa-
ções necessárias à elaboração do planejamento da perícia.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

33. Em caso de ser identificada a necessidade de realização de diligências, na


etapa de elaboração do planejamento, devem ser considerados, se não declarada
a preclusão de prova documental, a legislação aplicável, documentos, registros,
livros contábeis, fiscais e societários, laudos e pareceres já realizados e outras
informações que forem identificadas como pertinentes para determinar a natu-
reza do trabalho a ser executado.
34. Quando necessário, o planejamento deve ser realizado pelo perito do
juízo, ainda que o trabalho venha a ser realizado de forma conjunta.
35. Quando necessário, o planejamento da perícia deve ser mantido por qual-
quer meio de registro que facilite o entendimento dos procedimentos a serem
aplicados e sirva de orientação adequada à execução do trabalho.
36. Quando necessário, o planejamento deve ser revisado e atualizado sem-
pre que fatos novos surjirem no decorrer da perícia.

RISCOS E CUSTOS

Veja que a norma também visa a resguardar o profissional contábil. Na elaboração


dos honorários, o perito deve não só focar na complexidade da realização do traba-
lho, mas também nas responsabilidades e riscos que estão envolvidos nesse trabalho.
37. O perito, na fase do planejamento, com vistas a elaborar a proposta de
honorários, deve:
(a) Avaliar os riscos decorrentes das suas responsabilidades e todas as des-
pesas e custos inerentes.

Norma da Perícia Contábil - NBC TP 01


48 UNIDADE II

(b) Ressaltar que, na hipótese de apresentação de quesitos suplementares,


poderá estabelecer honorários complementares.

EQUIPE TÉCNICA

38. Quando a perícia exigir a necessidade de utilização de trabalho de tercei-


ros (equipe de apoio, trabalho de especialistas ou profissionais de outras áreas
de conhecimento), o planejamento deve prever a orientação e a supervisão do

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perito, que responderá pelos trabalhos executados, exclusivamente, por sua
equipe de apoio.
O item 14 da respectiva norma já previa a utilização de uma equipe téc-
nica. Não podemos esquecer que o trabalho da perícia é pessoal, não pode ser
responsabilidade de uma “empresa” de perícia, mas sim, do profissional (Pessoa
Física). Entretanto, não quer dizer que o esse professional não utilize de lau-
dos auxiliares de profissionais de outras áreas, bem como de outros contadores
como assistentes.
É elementar ressaltar que para os prazos serem cumpridos (e o trabalho
pericial envolvê-los, necessariamente) são necessarios a elaboração e o acom-
panhamento de um cronograma de atividades. A norma contábil não é omissa
neste sentido.
39. O perito do juízo deve levar em consideração que o planejamento da perí-
cia, quando for o caso, inicia-se antes da elaboração da proposta de honorários,
considerando-se que, para apresentá-la ao juízo ou aos contratantes, há neces-
sidade de se especificarem as etapas do trabalho a ser realizadas. Isto implica
que o perito deve ter conhecimento prévio de todas as etapas, salvo aquelas que
somente serão identificadas quando da execução da perícia.
40. No cronograma de trabalho, devem ficar evidenciados, quando aplicá-
veis, todos os itens necessários à execução da perícia, como: diligências a serem
realizadas, deslocamentos, necessidade de trabalho de terceiros, pesquisas que
serão feitas, elaboração de cálculos e planilhas, respostas aos quesitos, prazo para
apresentação do laudo e/ou oferecimento do parecer, de forma a assegurar que
todas as etapas necessárias à realização da perícia sejam cumpridas.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


49

TERMO DE DILIGÊNCIA

A diligência é um termo que está sendo empregado neste material de forma já


corriqueira. Nos itens 47 e 48 da norma, ela se preocupa em definir esse termo,
que nada mais é do que a correspondência que o perito emite solicitando docu-
mentos e outros dados. É a formalização do pedido.
Do item 49 ao 54, a norma se preocupa em orientar quando e como deve ser
utilizado o termo de diligência. Nos itens 55 e 56, ela trata da sua forma e estrutura.
41. Termo de diligência é o instrumento por meio do qual o perito solicita
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

documentos, coisas, dados e informações necessárias à elaboração do laudo peri-


cial contábil e do parecer técnico-contábil.
42. Serve também para determinar o local, a data e a hora do início da perícia,
e ainda para a execução de outros trabalhos que tenham sido a ele determinados
ou solicitados por quem de direito, desde que tenham a finalidade de orientar
ou colaborar nas decisões, judiciais ou extrajudiciais.
43. O termo de diligência deve ser redigido pelo perito, ser apresentado dire-
tamente ao perito-assistente, à parte, a seu procurador ou terceiro, por escrito
e juntado ao laudo.
44. O perito deve observar os prazos a que está obrigado por força de deter-
minação legal e, dessa forma, definir o prazo para o cumprimento da solicitação
pelo diligenciado.
45. Caso ocorra a negativa da entrega dos elementos de prova formalmente
requeridos, o perito deve se reportar diretamente a quem o nomeou, contratou
ou indicou, narrando os fatos e solicitando as providências cabíveis.

ESTRUTURA

46. O termo de diligência deve conter os seguintes itens:


(a) Identificação do diligenciado.
(b) Identificação das partes ou dos interessados, e em se tratando de perí-
cia judicial ou arbitral, o número do processo ou procedimento, o tipo
e o juízo em que tramita.

Norma da Perícia Contábil - NBC TP 01


50 UNIDADE II

(c) Identificação do perito com indicação do número do registro profissio-


nal no Conselho Regional de Contabilidade.
(d) Indicação de que está sendo elaborado nos termos desta norma.
(e) Indicação detalhada dos documentos, coisas, dados e informações, con-
signando as datas e/ou períodos abrangidos, podendo identificar o quesito
a que se refere.
(f) Indicação do prazo e do local para a exibição dos documentos, coisas,
dados e informações necessários à elaboração do laudo pericial contábil
ou parecer técnico-contábil, devendo o prazo ser compatível com aquele
concedido pelo juízo, contratante ou convencionado pelas partes, conside-
rada a quantidade de documentos, as informações necessárias, a estrutura

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
organizacional do diligenciado e o local de guarda dos documentos;
(g) A indicação da data e hora para sua efetivação, após atendidos os requi-
sitos da alínea (e) quando o exame dos livros, documentos, coisas e
elementos tiver de ser realizado perante a parte ou o terceiro que detém
em seu poder tais provas.
(h) Local, data e assinatura.

LAUDO PERICIAL CONTÁBIL E PARECER TÉCNICO-CONTÁBIL

O laudo e o parecer são fundamentais no trabalho pericial. É o produto final do


trabalho. É a formalização de tudo o que foi examinado e analisado. É a conclu-
são, por escrito, do profissional. Portanto, documento fundamental para o juízo.
Nos itens a seguir, a norma fala o que é o laudo/parecer, quem os elabora, o
que eles contêm, a forma de apresentação e os termos (vocábulos) utilizados
na sua confecção.

47. O Decreto-Lei n. 9.295/1946, na alínea “c” do Art. 25, determina que o laudo
pericial contábil e o parecer técnico-contábil somente sejam elaborados por
contador ou pessoa jurídica, se a lei assim permitir, que estejam devidamente
registrados e habilitados em Conselho Regional de Contabilidade. A habilita-
ção é comprovada mediante Certidão de Regularidade Profissional emitida pelos
Conselhos Regionais de Contabilidade.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


51

48. O laudo pericial contábil e o parecer técnico-contábil são documentos


escritos nos quais os peritos devem registrar, de forma abrangente, o conteúdo da
perícia e particularizar os aspectos e as minudências que envolvam o seu objeto
e as buscas de elementos de prova necessários para a conclusão do seu trabalho.
49. Os peritos devem consignar, no final do laudo pericial contábil ou do
parecer técnico-contábil, de forma clara e precisa, as suas conclusões.

APRESENTAÇÃO DO LAUDO PERICIAL CONTÁBIL E OFERTA DO


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

PARECER TÉCNICO-CONTÁBIL

50. O laudo e o parecer são, respectivamente, orientados e conduzidos pelo


perito do juízo e pelo perito-assistente, que adotarão padrão próprio, respeitada
a estrutura prevista nesta norma, devendo ser redigidos de forma circunstan-
ciada, clara, objetiva, sequencial e lógica.
51. A linguagem adotada pelo perito deve ser clara, concisa, evitando o prolixo
e a tergiversação, possibilitando aos julgadores e às partes o devido conhecimento
da prova técnica e interpretação dos resultados obtidos. As respostas devem ser
objetivas, completas e não lacônicas. Os termos técnicos devem ser inseridos no
laudo e no parecer, de modo a se obter uma redação que qualifique o trabalho
pericial, respeitadas as Normas Brasileiras de Contabilidade.
52. Tratando-se de termos técnicos atinentes à profissão contábil, devem,
quando necessário, ser acrescidos de esclarecimentos adicionais e recomendada
a utilização daqueles consagrados pela doutrina contábil.
53. O perito deve elaborar o laudo e o parecer, utilizando-se do vernáculo,
sendo admitidas apenas palavras ou expressões idiomáticas de outras línguas de
uso comum nos tribunais judiciais ou extrajudiciais.
54. O laudo e o parecer devem contemplar o resultado final alcançado por
meio de elementos de prova inclusos nos autos ou arrecadados em diligências que
o perito tenha efetuado, por intermédio de peças contábeis e quaisquer outros
documentos, tipos e formas.

Norma da Perícia Contábil - NBC TP 01


52 UNIDADE II

TERMINOLOGIA

55. Forma circunstanciada: a redação pormenorizada, minuciosa, efetuada com cautela


e detalhamento em relação aos procedimentos e aos resultados do laudo e do parecer.
56. Síntese do objeto da perícia e resumo dos autos: o relato ou a transcrição
sucinta, de forma que resulte em uma leitura compreensiva dos fatos relatados
sobre as questões básicas que resultaram na nomeação ou na contratação do perito.
57. Diligência: todos os atos adotados pelos peritos na busca de documentos,
coisas, dados e informações e outros elementos de prova necessários à elabora-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ção do laudo e do parecer, mediante termo de diligência, desde que tais provas
não estejam colacionadas aos autos. Ainda são consideradas diligências as comu-
nicações às partes, aos peritos-assistentes ou a terceiros, ou petições judiciais.
58. Critério: é a faculdade que tem o perito de distinguir como proceder em
torno dos fatos alegados para julgar ou decidir o caminho que deve seguir na
elaboração do laudo e do parecer.
59. Metodologia: conjunto dos meios dispostos convenientemente para
alcançar o resultado da perícia por meio do conhecimento técnico-científico,
de maneira que possa, ao final, inseri-lo no corpo técnico do laudo e parecer.
60. Conclusão: é a quantificação, quando possível, do valor da demanda,
podendo reportar-se a demonstrativos apresentados no corpo do laudo e do
parecer ou em documentos. É na conclusão que o perito registra outras infor-
mações que não constaram na quesitação, porém, encontrou-as na busca dos
elementos de prova inerentes ao objeto da perícia.
61. Apêndices: são documentos elaborados pelo perito contábil; e anexos
são documentos entregues a estes pela partes e por terceiros, com o intuito de
complementar a argumentação ou elementos de prova.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


53

62. Palavras e termos ofensivos: o perito que se sentir ofendido por expres-
sões injuriosas, de forma escrita ou verbal, no processo, poderá tomar as seguintes
providências:
(a) sendo a ofensa escrita ou verbal, por qualquer das partes, peritos ou
advogados, o perito ofendido pode requerer da autoridade competente
que mande riscar os termos ofensivos dos autos ou cassada a palavra.
(b) as providências adotadas, na forma prevista na alínea (a), não impedem
outras medidas de ordem civil ou criminal.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

63. Esclarecimentos: havendo determinação de esclarecimentos do laudo ou do


parecer sem a realização de audiência, o perito deve fazer por escrito, obser-
vando em suas respostas os mesmos procedimentos adotados quando da feitura
do esclarecimento em audiência, no que for aplicável.
64. Os peritos devem, na conclusão do laudo e do parecer, considerar as for-
mas explicitadas nos itens seguintes:
(a) Omissão de fatos: o perito do juízo não pode omitir nenhum fato rele-
vante encontrado no decorrer de suas pesquisas ou diligências, mesmo
que não tenha sido objeto de quesitação e desde que esteja relacionado
ao objeto da perícia.
(b) A conclusão com quantificação de valores é viável em casos de: apuração
de haveres; liquidação de sentença, inclusive em processos trabalhistas;
resolução de sociedade; avaliação patrimonial, entre outros.
(c) Pode ocorrer que, na conclusão, seja necessária a apresentação de alter-
nativas condicionadas às teses apresentadas pelas partes, casos em que
cada uma apresenta uma versão para a causa. O perito deve apresentar
as alternativas condicionadas às teses apresentadas, devendo, necessa-
riamente, ser identificados os critérios técnicos que lhes deem respaldo.
(d) A conclusão pode ainda reportar-se às respostas apresentadas nos que-
sitos.
(e) A conclusão pode ser, simplesmente, elucidativa quanto ao objeto da perí-
cia, não envolvendo, necessariamente, quantificação de valores.

Norma da Perícia Contábil - NBC TP 01


54 UNIDADE II

ESTRUTURA

65. O laudo deve conter, no mínimo, os seguintes itens:


(a) Identificação do processo e das partes.
(b) Síntese do objeto da perícia.
(c) Resumo dos autos.
(d) Metodologia adotada para os trabalhos periciais e esclarecimentos.
(e) Relato das diligências realizadas.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
(f) Transcrição dos quesitos e suas respectivas respostas para o laudo peri-
cial contábil.
(g) Transcrição dos quesitos e suas respectivas respostas para o parecer téc-
nico-contábil, onde houver divergência das respostas formuladas pelo
perito do juízo.
(h) Conclusão.
(i) Termo de encerramento, constando a relação de anexos e apêndices.
(j) Assinatura do perito: deve constar sua categoria profissional de contador,
seu número de registro em Conselho Regional de Contabilidade, com-
provado mediante Certidão de Regularidade Profissional (CRP) e sua
função: se laudo, perito do juízo e se parecer, perito-assistente da parte.
É permitida a utilização da certificação digital, em consonância com a
legislação vigente e as normas estabelecidas pela Infraestrutura de Cha-
ves Públicas Brasileiras - ICP-Brasil.
(k) Para elaboração de parecer, aplicam-se o disposto nas alíneas anterior-
mente, no que couber.

ASSINATURA EM CONJUNTO

66. Quando se tratar de laudo pericial contábil, assinado em conjunto pelos peri-
tos, há responsabilidade solidária sobre o referido documento.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


55

Laudo e parecer de leigo ou profissional não habilitado

67. Considera-se leigo ou profissional não habilitado para a elaboração de laudo e


parecer contábeis qualquer profissional que não seja contador habilitado perante
Conselho Regional de Contabilidade.

Esclarecimentos sobre laudo e parecer técnico-contábil em au-


diência
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A partir deste tópico, a norma irá se direcionar aos quesitos, que são as perguntas
levantadas pelas partes para entenderem e se posicionarem quanto aos laudos/
pareceres dos peritos envolvidos na matéria em exame.
68. Esclarecimentos são informações prestadas pelo perito aos pedidos de
esclarecimento sobre laudo e parecer, determinados pelas autoridades compe-
tentes, por motivos de obscuridade, incompletudes, contradições ou omissões.
Os esclarecimentos podem ser prestados de duas maneiras:
(a) De forma escrita: os pedidos de esclarecimentos deferidos e apresenta-
dos ao perito, no prazo legal, devem ser prestados por escrito.
(b) De forma oral: os pedidos de esclarecimentos deferidos e apresentados
no prazo legal ao perito, para serem prestados em audiência, podem ser
de forma oral ou escrita.

Quesitos e respostas

69. O perito deve observar as perguntas efetuadas pelo juízo e/ou pelas partes,
no momento próprio dos esclarecimentos, pois tal ato se limita às respostas aos
quesitos integrantes do laudo ou do parecer e às explicações sobre o conteúdo
da lide ou sobre a conclusão.

Norma da Perícia Contábil - NBC TP 01


56 UNIDADE II

Modelos

As normas brasileiras de contabilidade têm observância obrigatória para todos os


profissionais contábeis. A NBC TP 01 corresponde aos procedimentos técnicos e as
regras específicas e obrigatórias para planejamento e execução da perícia contábil.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
NORMA DO PERITO CONTÁBIL - NBC PP 01

Uma das funções que podem ser exercidas pelo profissional contábil é a de perito
contábil. No tópico anterior, você conheceu a norma dos procedimentos de rea-
lização de uma perícia. Mas quem pode ser um perito?
O objetivo deste tópico é identificar quem pode ser perito, quais são as obri-
gações deste profissional perante o CFC, bem como informar as penalidades que
está sujeito caso descumpra as normas.
O Conselho Federal de Contabilidade, no exercício de suas atribuições legais
e regimentais, aprovada a Norma Brasileira de Contabilidade (NBC) PP 01, em
27 de fevereiro de 2015, que dispõe sobre o perito contábil.
Segue a NBC PP 01(CFC, 2015):

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


57
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

OBJETIVO

1. Esta Norma estabelece critérios inerentes à atuação do contador na condi-


ção de perito.

CONCEITO

2. Perito é o contador, regularmente registrado em Conselho Regional de


Contabilidade, que exerce a atividade pericial de forma pessoal, devendo ser
profundo conhecedor, por suas qualidades e experiências, da matéria periciada.
3. Perito oficial é o investido na função por lei e pertencente a órgão especial
do Estado destinado, exclusivamente, a produzir perícias e que exerce a ativi-
dade por profissão.
4. Perito do juízo é nomeado pelo juiz, árbitro, autoridade pública ou pri-
vada para exercício da perícia contábil.
5. Perito-assistente é o contratado e indicado pela parte em perícias contábeis.

Norma do Perito Contábil - NBC PP 01


58 UNIDADE II

ALCANCE

6. Aplica-se ao perito o Código de Ética Profissional do Contador, a NBC PG


100 – Aplicação Geral aos Profissionais da Contabilidade e a NBC PG 200 –
Contadores que prestam Serviços (contadores externos) naqueles aspectos não
abordados por esta Norma.

HABILITAÇÃO PROFISSIONAL

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
7. O perito deve comprovar sua habilitação como perito em contabilidade por
intermédio de Certidão de Regularidade Profissional emitida pelos Conselhos
Regionais de Contabilidade. O perito deve anexá-la no primeiro ato de sua mani-
festação e na apresentação do laudo ou parecer para atender ao disposto no
Código de Processo Civil. É permitida a utilização da certificação digital, em con-
sonância com a legislação vigente e as normas estabelecidas pela Infraestrutura
de Chaves Públicas Brasileiras – ICP-Brasil.
8. A indicação ou a contratação de perito-assistente ocorre quando a parte
ou a contratante desejar ser assistida por contador, ou comprovar algo que
dependa de conhecimento técnico-científico, razão pela qual o profissional só
deve aceitar o encargo se reconhecer estar capacitado com conhecimento sufi-
ciente, discernimento, com irrestrita independência e liberdade científica para
a realização do trabalho.

IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO

9. Impedimento e suspeição são situações fáticas ou circunstanciais que impos-


sibilitam o perito de exercer, regularmente, suas funções ou realizar atividade
pericial em processo judicial ou extrajudicial, inclusive arbitral. Os itens previstos
nesta Norma explicitam os conflitos de interesse motivadores dos impedimen-
tos e das suspeições a que está sujeito o perito nos termos da legislação vigente
e do Código de Ética Profissional do Contador.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


59

10. Para que o perito possa exercer suas atividades com isenção, é fator
determinante que ele se declare impedido, após nomeado ou indicado, quando
ocorrerem as situações previstas nesta Norma, nos itens a seguir.
11. Quando nomeado, o perito do juízo deve dirigir petição, no prazo legal,
justificando a escusa ou o motivo do impedimento ou da suspeição.
12. Quando indicado pela parte e não aceitando o encargo, o perito-assis-
tente deve comunicar a ela sua recusa, devidamente justificada por escrito, com
cópia ao juízo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

SUSPEIÇÃO E IMPEDIMENTO LEGAL

13. O perito do juízo deve se declarar impedido quando não puder exercer suas
atividades, observados os termos do Código de Processo Civil.
14. O perito-assistente deve declarar-se suspeito quando, após contratado,
verificar a ocorrência de situações que venham suscitar suspeição em função da
sua imparcialidade ou independência e, dessa maneira, comprometer o resul-
tado do seu trabalho.
15. O perito do juízo ou assistente deve se declarar suspeito quando, após
nomeado ou contratado, verificar a ocorrência de situações que venham suscitar
suspeição em função da sua imparcialidade ou independência e, desta maneira,
comprometer o resultado do seu trabalho em relação à decisão.
16. Os casos de suspeição a que está sujeito o perito do juízo são os seguintes:
(a) ser amigo íntimo de qualquer das partes;
(b) ser inimigo capital de qualquer das partes;
(c) ser devedor ou credor em mora de qualquer das partes, dos seus cônju-
ges, de parentes destes em linha reta ou em linha colateral até o terceiro
grau ou entidades das quais esses façam parte de seu quadro societário
ou de direção;
(d) ser herdeiro presuntivo ou donatário de alguma das partes ou dos seus
cônjuges;

Norma do Perito Contábil - NBC PP 01


60 UNIDADE II

(e) ser parceiro, empregador ou empregado de alguma das partes;


(f) aconselhar, de alguma forma, parte envolvida no litígio acerca do objeto
da discussão;
(g) houver qualquer interesse no julgamento da causa em favor de alguma
das partes.

17. O perito pode ainda declarar-se suspeito por motivo íntimo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
RESPONSABILIDADE

18. O perito deve conhecer as responsabilidades sociais, éticas, profissionais e


legais às quais está sujeito no momento em que aceita o encargo para a execu-
ção de perícias contábeis judiciais e extrajudiciais, inclusive arbitral.
19. O termo “responsabilidade” refere-se à obrigação do perito em respeitar
os princípios da ética e do direito, atuando com lealdade, idoneidade e honesti-
dade no desempenho de suas atividades, sob pena de responder civil, criminal,
ética e profissionalmente por seus atos.
20. A responsabilidade do perito decorre da relevância que o resultado de
sua atuação pode produzir para a solução da lide.
21. Ciente do livre exercício profissional, deve o perito do juízo, sempre que
possível e não houver prejuízo aos seus compromissos profissionais e às suas
finanças pessoais, em colaboração com o Poder Judiciário, aceitar o encargo
confiado ou escusar-se do encargo, no prazo legal, apresentando suas razões.
22. O perito do juízo, no desempenho de suas funções, deve propugnar pela
imparcialidade, dispensando igualdade de tratamento às partes e, especialmente,
aos peritos-assistentes. Não se considera parcialidade, entre outros, os seguintes:
(a) atender às partes ou aos assistentes técnicos, desde que se assegure igual-
dade de oportunidades;
(b) fazer uso de trabalho técnico-científico anteriormente publicado pelo
perito do juízo.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


61

RESPONSABILIDADE CIVIL E PENAL

23. A legislação civil determina responsabilidades e penalidades para o profis-


sional que exerce a função de perito, as quais consistem em multa, indenização
e inabilitação.
24. A legislação penal estabelece penas de multa e reclusão para os profissio-
nais que exercem a atividade pericial que vierem a descumprir as normas legais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ZELO PROFISSIONAL

25. O termo “zelo”, para o perito, refere-se ao cuidado que ele deve dispensar
na execução de suas tarefas, em relação à sua conduta, aos documentos, prazos,
tratamento dispensado às autoridades, aos integrantes da lide e aos demais pro-
fissionais, de forma que sua pessoa seja respeitada, seu trabalho levado a bom
termo e, consequentemente, o laudo pericial contábil e o parecer técnico-con-
tábil dignos de fé pública.
26. O zelo profissional do perito na realização dos trabalhos periciais
compreende:
(a) cumprir os prazos fixados pelo juiz em perícia judicial e nos termos con-
tratados em perícia extrajudicial, inclusive arbitral;
(b) assumir a responsabilidade pessoal por todas as informações prestadas,
quesitos respondidos, procedimentos adotados, diligências realizadas,
valores apurados e conclusões apresentadas no laudo pericial contábil e
no parecer técnico-contábil;
(c) prestar os esclarecimentos determinados pela autoridade competente,
respeitados os prazos legais ou contratuais;
(d) propugnar pela celeridade processual, valendo-se dos meios que garan-
tam eficiência, segurança, publicidade dos atos periciais, economicidade,
o contraditório e a ampla defesa;
(e) ser prudente, no limite dos aspectos técnico-científicos, e atento às con-
sequências advindas dos seus atos;

Norma do Perito Contábil - NBC PP 01


62 UNIDADE II

(f) ser receptivo aos argumentos e críticas, podendo ratificar ou retificar o


posicionamento anterior.

27. A transparência e o respeito recíprocos entre o perito do juízo e o peri-


to-assistente pressupõem tratamento impessoal, restringindo os trabalhos,
exclusivamente, ao conteúdo técnico-científico.
28. O perito é responsável pelo trabalho de sua equipe técnica, a qual com-
preende os auxiliares para execução do trabalho complementar do laudo pericial
contábil e/ou parecer técnico-contábil.
29. Sempre que não for possível concluir o laudo pericial contábil no prazo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
fixado pelo juiz, deve o perito do juízo requerer a sua dilação antes de vencido
aquele, apresentando os motivos que ensejaram a solicitação.
30. Na perícia extrajudicial, o perito deve estipular os prazos necessários
para a execução dos trabalhos junto com a proposta de honorários e com a des-
crição dos serviços a executar.
31. A realização de diligências durante a elaboração do laudo pericial, para
a busca de provas, quando necessária, deve ser comunicada às partes para ciên-
cia de seus assistentes.

UTILIZAÇÃO DE TRABALHO DE ESPECIALISTA

32. O perito pode valer-se de especialistas de outras áreas para a realização do


trabalho, quando parte da matéria-objeto da perícia assim o requeira. Se o perito
utilizar informações de especialista, inclusive se anexar documento emitido por
especialista, o perito é responsável por todas as informações contidas em seu
laudo ou parecer.

Honorários

33. Na elaboração da proposta de honorários, o perito deve considerar os seguin-


tes fatores: a relevância, o vulto, o risco, a complexidade, a quantidade de horas, o
pessoal técnico, o prazo estabelecido e a forma de recebimento, entre outros fatores.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


63

ELABORAÇÃO DE PROPOSTA

34. O perito deve elaborar a proposta de honorários estimando, quando possível,


o número de horas para a realização do trabalho, por etapa e por qualificação
dos profissionais, considerando os trabalhos a seguir especificados:
(a) retirada e entrega do processo ou procedimento arbitral;
(b) leitura e interpretação do processo;
(c) elaboração de termos de diligências para arrecadação de provas e comu-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

nicações às partes, a terceiros e peritos-assistentes;


(d) realização de diligências;
(e) pesquisa documental e exame de livros contábeis, fiscais e societários;
(f) elaboração de planilhas de cálculo, quadros, gráficos, simulações e aná-
lises de resultados;
(g) elaboração do laudo;
(h) reuniões com peritos-assistentes, quando for o caso;
(i) revisão final;
(j) despesas com viagens, hospedagens, transporte, alimentação etc.;
(k) outros trabalhos com despesas supervenientes.

QUESITOS SUPLEMENTARES

35. O perito deve ressaltar, em sua proposta de honorários, que esta não contem-
pla os honorários relativos a quesitos suplementares e, se estes forem formulados
pelo juiz e/ou pelas partes, pode haver incidência de honorários complementares
a serem requeridos, observando os mesmos critérios adotados para elaboração
da proposta inicial.

Norma do Perito Contábil - NBC PP 01


64 UNIDADE II

APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DE HONORÁRIOS

36. O perito deve apresentar sua proposta de honorários devidamente


fundamentada.
37. O perito deve explicitar a sua proposta no contrato que, obrigatoriamente,
celebrará com o seu cliente, observando as normas estabelecidas pelo Conselho
Federal de Contabilidade. No final desta Norma, há um modelo de contrato que
pode ser utilizado (Modelo n 10).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
LEVANTAMENTO DOS HONORÁRIOS

38. O perito pode requerer a liberação parcial dos honorários quando julgar
necessário para o custeio de despesas durante a realização dos trabalhos.

EXECUÇÃO DE HONORÁRIOS PERICIAIS

39. Os honorários periciais fixados ou arbitrados e não quitados podem ser exe-
cutados, judicialmente, pelo perito em conformidade com os dispositivos do
Código de Processo Civil.

DESPESAS SUPERVENIENTES NA EXECUÇÃO DA PERÍCIA

40. Nos casos em que houver necessidade de desembolso para despesas superve-
nientes, como viagens e estadas, para a realização de outras diligências, o perito
deve requerer ao juízo ou solicitar ao contratante o pagamento das despesas,
apresentando a respectiva comprovação, desde que não estejam contempladas
ou quantificadas na proposta inicial de honorários.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


65

ESCLARECIMENTOS

41. O perito deve prestar esclarecimentos sobre o conteúdo do laudo pericial contábil
ou do parecer técnico-contábil, em atendimento à determinação do juiz ou árbitro
que preside o feito, os quais podem não ensejar novos honorários periciais, se forem
apresentados para obtenção de detalhes do trabalho realizado, uma vez que as par-
tes podem formulá-los com essa denominação, mas serem quesitos suplementares.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

MODELOS

Na NBC PP 01 também são apresentados os seguintes modelos exemplicativos:


são apresentados os seguintes modelos exemplificativos:
Modelo n. 1 – Escusa em perícia judicial.
Modelo n. 2 – Renúncia em perícia arbitral.
Modelo n. 3 – Renúncia em perícia extrajudicial.
Modelo n. 4 – Renúncia à indicação em perícia judicial.
Modelo n. 5 – Renúncia à indicação em perícia arbitral.
Modelo n. 6 – Renúncia em assistência em perícia extrajudicial.
Modelo n. 7 – Petição de honorários periciais contábeis.
Modelo n. 8 – Petição de juntada de laudo pericial contábil e pedido de
levantamento de honorários.
Modelo n. 9 – Petição de juntada de laudo trabalhista e pedido de arbi-
tramento de honorários; e
Modelo n. 10 – Contrato particular de prestação de serviços profissionais.

Caro(a) aluno(a), conforme você pode observar, para ser perito contábil, faz-
-se necessário o registro no Conselho Regional de Contabilidade, bem como ser
detentor de conhecimento técnico específico na esfera que pretende atuar. Além
do conhecimento, assim como em todos as funções exercidas pelo profissional
contábil, a conduta ética profissional do perito deve ser exigida constantemente.

Norma do Perito Contábil - NBC PP 01


66 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
NORMA DO EXAME DE QUALIFICAÇÃO TÉCNICA DO
PERITO CONTÁBIL - NBC PP 02

Olá pessoal, uma vez conhecida a norma de planejamento e execução da perícia,


bem como os deveres e obrigações do perito, agora veremos os procedimentos
que o perito deve adotar na busca de se manter capacitado, qualificado, atuali-
zado na execução da sua função.
O Conselho Federal de Contabilidade, no exercício de suas atribuições legais
e regimentais, aprova a Norma Brasileira de Contabilidade (NBC) PP 02, em 21
de outubro de 2016, que dispõe sobre o Exame de Qualificação Técnica para o
Perito Contábil.
Segue a NBC PP 02 (CFC, 2016):

CONCEITUAÇÃO E OBJETIVOS

1. O Exame de Qualificação Técnica (EQT) para perito contábil tem por objetivo
aferir o nível de conhecimento e a competência técnico-profissional necessários
ao contador que pretende atuar na atividade de perícia contábil.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


67

2. O EQT para perito contábil será implementado pela aplicação de prova


escrita, conforme definido nesta norma.
3. A aprovação na prova de Qualificação Técnica para perito contábil asse-
gura ao contador o registro no Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC)
do Conselho Federal de Contabilidade (CFC).

ADMINISTRAÇÃO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

4. O EQT para perito contábil é administrado pela Comissão Administradora


de Exame (CAE) formada por membros que sejam contadores, com experiên-
cia em Perícia Contábil, indicados pelo CFC.
5. Os membros da CAE, entre eles o coordenador, são nomeados pelo presi-
dente do CFC, pelo período de 2 (dois) anos, podendo ser reconduzidos.
6. A CAE deve se reunir, no mínimo, duas vezes ao ano, em data, hora e local
definidos pelo seu coordenador, sujeita à autorização do presidente do CFC.
7. São atribuições da CAE:
(a) estabelecer as condições, o formato e o conteúdo do EQT que será rea-
lizado;
(b) dirimir dúvidas a respeito do EQT para perito contábil e resolver situ-
ações não previstas nesta norma, submetendo-as à Vice-Presidência de
Desenvolvimento Profissional;
(c) zelar pela confidencialidade do Exame, pelos seus resultados e por outras
informações relacionadas;
(d) emitir relatório após a conclusão de cada Exame, a ser encaminhado
para a Vice-Presidência de Desenvolvimento Profissional, contendo, no
mínimo: relação dos inscritos, relação dos aprovados e notas obtidas
por cada participante;
(e) decidir, em primeira instância administrativa, sobre os recursos apre-
sentados pelos candidatos ao EQT.

Norma do Exame de Qualificação Técnica do Perito Contábil - NBC PP 02


68 UNIDADE II

Estrutura, controle e aplicação

8. Cabe à Vice-Presidência de Desenvolvimento Profissional, em conjunto com a CAE:


(a) elaborar o edital, administrar e coordenar a aplicação do Exame (EQT)
em todas as suas etapas;
(b) emitir e publicar, no Diário Oficial da União, relatório contendo o nome
e o registro no CRC dos candidatos aprovados no EQT para perito con-
tábil, até 75 (setenta e cinco) dias após a sua realização;

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
(c) encaminhar ao plenário os assuntos que dependam da sua deliberação
e/ou aprovação.

FORMA E CONTEÚDO DAS PROVAS

9. A prova será escrita, contemplando questões para respostas objetivas e ques-


tões para respostas dissertativas.
10. A prova será aplicada nas Unidades da Federação em que existirem ins-
critos, em locais a serem divulgados pelo CFC e pelos Conselhos Regionais de
Contabilidade (CRCs).
11. Na prova de Qualificação Técnica Geral para perito contábil, são exigi-
dos conhecimentos do contador nas seguintes áreas:
(a) Legislação Profissional;
(b) Ética Profissional;
(c) Normas Brasileiras de Contabilidade, Técnicas e Profissionais, editadas
pelo Conselho Federal de Contabilidade, inerentes à perícia;
(d) Legislação Processual Civil aplicada à perícia; e
(e) Língua Portuguesa e Redação;
(f) Direito Constitucional, Civil e Processual Civil afetos à legislação pro-
fissional, à prova pericial e ao perito.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


69

12. O CFC, por intermédio da Vice-Presidência de Desenvolvimento


Profissional, deve providenciar a divulgação em seu portal na Internet dos con-
teúdos programáticos que serão exigidos na prova, com a antecedência mínima
de 60 (sessenta) dias em relação à data da aplicação da prova.

Será que vale a pena levar a perícia contábil para seu escritório?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A perícia contábil pode ser uma boa para você, contador pessoa física. E tam-
bém para ser levada ao seu escritório, mas essa é uma decisão bastante parti-
cular, para a qual você deve analisar os pontos positivos e negativos, colocan-
do tudo na balança. Se, de um lado, você tem mais um trabalho para ofertar,
por outro, a remuneração, nem sempre condiz com o volume e dificuldade de
trabalho realizado.
Fonte: os autores.

APROVAÇÃO E PERIODICIDADE

13. O candidato será aprovado se obtiver, no mínimo, 60% (sessenta por cento)
dos pontos das questões objetivas e 60% (sessenta por cento) dos pontos das
questões dissertativas previstos na prova.
14. A prova deve ser aplicada, pelo menos, uma vez por ano, em data e hora
fixadas no edital.

CERTIDÃO DE APROVAÇÃO

15. O CFC disponibilizará, em seu portal na Internet, a Certidão de Aprovação


no Exame aos candidatos aprovados, a partir da data de publicação do resultado
final no Diário Oficial da União, que terá validade de um ano.

Norma do Exame de Qualificação Técnica do Perito Contábil - NBC PP 02


70 UNIDADE II

RECURSOS

16. O candidato inscrito no Exame pode interpor recurso sobre o teor das provas
e/ou sobre o resultado final publicado pelo CFC, sem efeito suspensivo, dentro
dos prazos e instâncias definidos em edital.

IMPEDIMENTOS: PREPARAÇÃO DE CANDIDATOS E


PARTICIPAÇÃO

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
17. O CFC e os CRCs, seus conselheiros efetivos e suplentes, seus funcionários,
seus delegados, seus representantes, os integrantes de suas Comissões e de Grupos
de Trabalho de Perícia e os integrantes da CAE não podem oferecer ou apoiar, a
qualquer título, cursos preparatórios para os candidatos ao EQT para perito con-
tábil ou deles participar, a qualquer título ou função, exceto na condição de aluno.
18. Os membros efetivos da CAE não podem se submeter ao EQT para perito
contábil de que trata esta norma, no período em que estiverem nessa condição.
19. O descumprimento do disposto no item anterior caracteriza infração de
natureza ética, sujeitando-se o infrator às penalidades previstas no Código de
Ética Profissional do Contador.

A perícia auxilia o juiz na busca da verdade sem interferência da vontade das


partes, ou seja, ajuda a fazer justiça. O perito busca elementos de prova que
garantam 100% a efetividade da decisão relatada no laudo, não trabalha com
probabilidades ou amostragens. O laudo pericial não é divulgado e interessa
somente às partes envolvidas e ao juiz.
Assim, considera-se que não existe qualquer semelhança entre os objetivos da
auditoria e da perícia. A perícia auxilia o juiz a tomar decisões; a auditoria, o
cumprimento de legislação comercial, por isso, as profissões de auditor contábil
e de perito contábil necessitam de profissionais à altura da complexidade que a
profissão exige, como atualização constante e muito estudo.
Fonte: Silva et. al. (2014).

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


71

DIVULGAÇÃO

20. O CFC desenvolverá campanha no sentido de esclarecer e divulgar o EQT


para perito contábil, com a colaboração dos CRCs nas suas jurisdições.

BANCO DE QUESTÕES

21. A CAE pode solicitar, por intermédio da Vice-Presidência de Desenvolvimento


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Profissional, a entidades de renomado conhecimento técnico, sugestões de ques-


tões para a composição do banco de questões a ser utilizado na elaboração das
provas do EQT para perito contábil.

DISPOSIÇÕES FINAIS

22. O CFC adotará as providências necessárias ao atendimento do disposto na pre-


sente norma, competindo ao seu Plenário interpretá-la quando se fizer necessário.
Caro(a) aluno(a), muito embora possa parecer cansativo compreender a
normativa, para o exercício da função de perito contábil, esta tarefa de se man-
ter atualizado quanto à normativa é um pressuposto básico.
Por outro lado, a norma é técnica e dispõe sobre os procedimento, auxi-
liando o perito no planejamento e na execução do laudo ou do parecer contábil.

Norma do Exame de Qualificação Técnica do Perito Contábil - NBC PP 02


72 UNIDADE II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, procuramos levar o conhecimento das Normas Brasileiras de


Contabilidade aplicadas à perícia contábil, ao perito-contador e ao Exame de
Qualificação Técnica para o Perito Contábil, de forma a relacionar o escrito com
a prática da função. Não há como se falar em Perícia expurgando as NBCs, que
não só parametrizam a sua execução como delimitam seus objetivos e aplicação.
O trabalho do perito contador é cada vez mais essencial para a solução de
conflitos. O juiz recorre ao perito quando necessita de um laudo profissional

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
especializado ou para atender o pedido de uma das partes.
De acordo com a NBC, a perícia contábil é o conjunto de procedimentos técni-
cos com o objetivo de emitir laudo ou parecer sobre questões contábeis, mediante
exame, vistoria, indagação, investigação, arbitramento, avaliação ou certificado.
O contador, na função de perito, deve manter adequado nível de compe-
tência profissional, ser atualizado sobre as Normas Brasileiras de Contabilidade
(NBC) e das técnicas contábeis, especialmente as aplicáveis à perícia.
Conforme abordado nesta unidade, o trabalho do perito contábil tem como
base a análise de livros, de registros de transações e documentos que envolvem
os fatos a serem investigados.
Vale ressaltar que o perito é indicado pelo juiz e possui sua confiança, devendo
realizar o trabalho e apresentar o laudo por escrito, respondendo aos quesitos
determinados pelo juiz ou pelas partes interessadas.
Por fim, o perito precisa estar imbuído de conhecimento técnico. O exame
de qualificação corresponde a uma forma de avaliar a competência do perito
para atuar na esfera da perícia judicial.

NORMAS DA PERÍCIA CONTÁBIL APLICADA


73

1. Os procedimentos de perícia contábil visam a fundamentar as conclusões que


serão levadas ao laudo pericial. Neste sentido, de acordo com as NBC TP 01
- Perícia Contábil, o ato de estabelecer o valor de coisas, bens, direitos, obriga-
ções, despesas e receitas é reconhecido como:
a) Vistoria.
b) Investigação.
c) Avaliação.
d) Arbitramento.
e) Indagação.
2. A NBC TP 01 – Perícia Contábil estabelece regras e procedimentos técnico-
científicos a serem observados pelo perito, quando da elaboração de perícia
contábil, mediante o esclarecimento dos aspectos e dos fatos do litígio. Neste
sentido, pode- se afirmar que a referida norma:
a) É de cumprimento facultativo por parte do profissional de contabilidade.
b) É de cumprimento obrigatório por parte do profissional de contabilidade.
c) Pode ser parcialmente cumprida, pois não abrange a perícia contábil no âm-
bito extrajudicial.
d) É de cumprimento obrigatório, exceto a perícia contábil no âmbito arbitral.
e) É de cumprimento obrigatório, exceto a perícia contábil no âmbito extraju-
dicial e arbitral.
3. De acordo com a NBC TP 01 – Perícia Contábil, o perito-contador assistente
pode, tão logo tenha conhecimento da perícia:
I. Informar ao perito-contador, que exercerá o seu direito quanto à execução
conjunta da perícia.
II. Colocar-se à disposição do perito-contador para o fornecimento de docu-
mentos em poder da parte que o contratou.
III. Solicitar ao perito-contador o acesso aos elementos e às provas a serem ar-
recadados durante a perícia.
É correto o que se afirma em:
a) I, II e III.
b) I, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I e III, apenas.
74

4. A execução da perícia, quando incluir a utilização de equipe técnica, de acordo


com a NBC TP 01 – Perícia Contábil, deve considerar que:
I. A orientação e supervisão da equipe técnica são de exclusiva responsabili-
dade do perito-contador encarregado do trabalho.
II. Cada membro da equipe técnica é responsável pelas conclusões de sua res-
ponsabilidade que foram incluídas no laudo pericial contábil.
III. De acordo com a NBC TP 01, todos os membros da equipe técnica são soli-
dários quanto às conclusões contidas na perícia.
É correto o que se afirma em:
a) I, II, e III.
b) I, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I e III, apenas.
5. Entende- se por papéis de trabalho, de acordo com a NBC TP 01 – Perícia Con-
tábil, a documentação preparada pelo perito para a execução da perícia. Entre
os meios de prova que podem ser considerados, incluem- se:
I. Depoimentos e documentos.
II. Desenhos e fotografias.
III. Correspondências e notificações.
É correto o que se afirma em:
a) I, II, e III.
b) I, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I e III, apenas.
75

A Importância dos Quesitos na Atividade Pericial Contábil no Brasil


Os quesitos elaborados num processo judicial são perguntas ou questionamentos a res-
peito de um determinado assunto que gerou dúvidas ou incertezas durante um proces-
so judicial, podendo os mesmos ser em feitos pelo juiz e/ou pelas partes envolvidas e
que devem ser respondidos pelo perito-contador de forma técnica e/ou científica.
Os quesitos, nao ser elaborados, devem obedecer, geralmente, a uma sequência lógica,
para que não fuja da matéria em questão e chegue a uma conclusão esperada. Para
alcançar esse resultado, deve haver um trabalho em conjunto entre o advogado e o
assistente-técnico na formulação dos mesmos.
Toda Perícia Judicial envolve um conflito entre as partes, e em razão dele é que algumas
vezes podem ocorrer quesitos defeituosos ou imperfeitos que podem prejudicar o en-
tendimento do juiz. Por este motivo é que a escolha de um perito-contador, por um juiz,
deve ser feita levando em consideração a sua confiança no mesmo, bem como a sua ca-
pacidade técnica e seu conhecimento sobre o assunto, tema do processo a ser julgado.
O perito-contador sabe distinguir quando um quesito é elaborado por um profissional
da mesma área ou não, graças aos termos técnicos utilizados. A atenção do perito-con-
tador é toda voltada aos quesitos, pois foi escolhido para respondê-los, e é geralmente
por meio deles que o perito poderá fazer o planejamento de seu trabalho, realizar dili-
gências e auxiliar na feitura da proposta de honorários.
Por sua vez, para os juízes, as respostas dos quesitos servirão para auxiliá-lo na sentença
judicial, em virtude dessa relevância é que os peritos devem obedecer às legislações e
normas estabelecidas, a fim de evitar erros em seus laudos periciais contábeis, não indu-
zindo o juiz a emitir uma sentença equivocada. No momento das respostas dos quesitos
,o perito-contador judicial deve apresentar a verdade dos fatos baseado em documen-
tos, livros e outras quaisquer provas, pois sua resposta poderá ter força probante e, para
isso, deverá utilizar-se da ética e da imparcialidade para responder tais quesitos.
Diante do exposto anteriormente, o presente estudo de observação direta e de nível
descritivo, por meio de fontes bibliográficas, explora de forma sucinta a importância dos
quesitos na atividade pericial em questões judiciais, mostrando a necessidade de formu-
lários, os tipos existentes, as suas finalidades e a importância para o desenvolvimento do
trabalho dos perito-contadores.
Fonte: Carneiro e Carneiro Neto (2017).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Manual do Perito Contábil


Silvio Aparecido Crepaldi e Guilherme Simões Crepaldi
Editora: Atlas
Sinopse: o livro visa a demonstrar com levantamento, estudo
e avaliação a sistemática da produção de provas para a Justiça
e também para as partes, de uma forma prática e de fácil
compreensão para sua aplicação no dia a dia do perito. Os autores
destacam a parte prática da Perícia, incluindo diversas rotinas
reais analisadas e interpretadas, acompanhadas dos respectivos
laudos periciais contábeis e pareceres técnicos-contábeis, além
de observações esclarecedoras. Mostra-se que a Perícia constitui
o conjunto de procedimentos técnicos e científicos destinados
a levar à instância decisória elementos de prova necessários
para subsidiar a justa solução do litígio ou constatação de um
fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial
técnico-contábil, em conformidade com as normas jurídicas e
profissionais e com a legislação específica no que for pertinente.

Antes de ser perito contábil, é preciso ser contador. Fique atento as Normas Brasileiras
de Contabilidade. Conhecê-las é pressuposto básico para iniciar sua carreira na área
de perícia contábil. Disponível em: <https://www.contabeis.com.br/noticias/37655/
conhecer-as-normas-brasileiras-de-contabilidade-pode-evitar-processos-eticos-e-
disciplinares/>.
77
REFERÊNCIAS

ALBERTO, V. L. P. Perícia Contábil. 1. ed. São Paulo: Atlas, 1996.


CARNEIRO, E. C. S.; CARNEIRO NETO, J. A. A Importância dos Quesitos na Atividade
Pericial Contábil no Brasil. Razón y Palabra, Argentina, v. 21, n. 4_99, p. 390-403,
out./dez. 2017. Disponível em: <http://www.revistarazonypalabra.org/index.php/
ryp/article/view/1015/pdf>. Acesso em: 20 set. 2018.
CFC. Conselho Federal de Contabilidade. NBC PP 01 de 27 de fevereiro de 2015.
Dá nova redação à NBC PP 01 – Perito Contábil. Disponível em: <http://www1.cfc.
org.br/sisweb/SRE/docs/NBCPP01.pdf>. Acesso em: 19 set. 2018.
______. NBC PP 02 de 21 de outubro de 2016. Aprova a NBC PP 02 que dispõe
sobre o exame de qualificação técnica para perito contábil. Disponível em: <http://
www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/NBCPP02&arqui-
vo=NBCPP02.doc>. Acesso em: 19 set. 2018.
______. NBC TP 01 de 27 de fevereiro de 2015. Dá nova redação à NBC TP 01 – Pe-
rícia Contábil. Disponível em: <http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTP01.
pdf>. Acesso em: 19 set. 2018.
SILVA, V. A.; OLIVEIRA, C. E.; CAMELO, P. G.; NUNES, E. S.; CARVALHO, A. G. A profissão
do auditor e o perito contábil na visão dos acadêmicos concluintes do curso de Ci-
ências Contábeis de Universidade Pública e Privada de Tangará da Serra/MT. Revista
Unemat de Contabilidade, v. 3, n. 6, p. 1-20, jul./dez. 2014.
GABARITO

1. C.

2. B.

3. D.

4. B.

5. A.
Professora Me. Juliana Moraes da Silva
Professor Esp. Robinson Pereira Santos

III
UNIDADE
ARBITRAGEM CONTÁBIL

Objetivos de Aprendizagem
■■ Proporcionar conceitos e procedimentos da arbitragem.
■■ Desenvolver conhecimentos conceituais e experimentais para que
sejam utilizados no campo da arbitragem.
■■ Diferenciar as formas de resolução de conflitos.
■■ Conhecer a legislação aplicada e compreender a atuação do
profissional contábil na arbitragem.
■■ Desenvolver conhecimentos técnicos para desmembrar arbitragem
institucional e internacional.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Definição e Conceitos
■■ Alternativas de Resolução de Conflitos
■■ Elementos de Arbitragem
■■ Arbitragem e a Profissão Contábil
■■ Arbitragem Institucional e Internacional
81

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), estamos iniciando mais uma unidade, com mais uma possibi-
lidade de atuação do contador. Veja como a carreira profissional do contabilista
é fantástica, tem um campo de trabalho muito amplo e diversificado.
Agora você já sabe, mas talvez, antes de iniciar a leitura deste material, você
nem sequer possuía conhecimento sobre a atuação do contador como perito.
As opções de trabalho para o contabilista não param aqui. Nesta Unidade III,
você irá conhecer a Arbitragem, um meio alternativo de solucionar conflitos,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

utilizando, para tanto, a figura de um profissional competente, idôneo, capaz de


facilitar a solução de problemas de direitos patrimoniais.
No decorrer desta unidades, abordaremos os conceitos e definições da arbi-
tragem, vamos explorar um pouco sobre as alternativas de resolução de conflitos.
Nos valendo da legislação específica da Lei n. 9307 de 1996 e da Lei n. 13.140
de 2015, serão apresentados os elementos da arbitragem, inclusive as figuras do
árbitro e do mediador, que correspondem aos profissionais habilitados a atuar
nestas áreas.
Vivemos num planeta globalizado, com conflitos nacionais e também inter-
nacionais. Finalizaremos esta unidade trazendo a aplicação da arbitragem nas
empresas e no campo internacional.
Estamos presenciando, nos dias atuais, a necessidade de resgate da arbitra-
gem e da mediação. Desta feita, estudaremos, de forma básica, o que vem a ser
a arbitragem, a mediação e as suas aplicações no campo empresarial.
O objetivo deste material não é explorar tudo o que se conhece de arbitragem
e mediação, mas fornecer informações suficientes para que você tenha conhe-
cimento para discorrer sobre o tema. Esperamos que nossa abordagem consiga
provocar em você o desejo de buscar mais informações sobre as áreas, e quem
sabe, num futuro próximo, você possa estar atuando como árbitro(a) ou media-
dor (a) nas resoluções de conflitos.

Introdução
82 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DEFINIÇÃO E CONCEITOS

Oriente Médio, ano 2000 a.C., deserto com sol escaldante, 650.000 pessoas
peregrinando com um propósito: conquistar e se estabelecer em um território
próspero, mas de habitantes inóspitos. No caminho, imprevistos. A viagem de
400 km que deveria durar aproximadamente três meses foi retardada por percal-
ços no caminho. Muita gente, muitos desgastes, muitos conflitos, reclamações,
indagações, perdas e ganhos.
Um homem sereno, manso, culto, vivido, com 82 anos de idade, forte como
um homem de meia-idade e que gozava respeito desta gente toda, era o líder
da multidão.
Início de um dia qualquer, ao romper da manhã, esse homem se assenta
numa pedra, num lugar estratégico, e atende a um considerável número de pes-
soas que demandam os mais variados conflitos negociais e pessoais. Ele então
lhes orienta, a cada um, com base no que diz a Lei e o bom senso.
Desgaste imenso, quem pode subsistir desta forma? Neste contexto, um
outro homem intervém. É o seu sogro que, observador, experiente e inconfor-
mado com o que vê, lhe dá o seguinte conselho:
Que é isto, que tu fazes ao povo? Não é bom o que fazes. Totalmente
desfalecerás, assim tu como este povo que está contigo; porque este ne-
gócio é mui difícil para ti; tu só não o podes fazer. Ouve agora minha
voz, eu te aconselharei. Declara-lhes os estatutos e as leis, e faze-lhes
saber o caminho em que devem andar, e a obra que devem fazer. E tu

ARBITRAGEM CONTÁBIL
83

dentre todo o povo procura homens capazes, homens de verdade, que


odeiem a avareza; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de
cem, maiorais de cinquenta, e maiorais de dez; para que julguem este
povo em todo o tempo; e seja que todo o negócio grave tragam a ti, mas
todo o negócio pequeno eles o julguem; assim a ti mesmo te aliviarás
da carga, e eles a levarão contigo.

Se isto fizeres, poderás então subsistir; assim também todo este povo
em paz irá ao seu lugar (ÊXODO 18, 14-26).

Esta história é baseada em fatos e está registrada na


Bíblia Sagrada, no livro do Êxodo, capítulo 18, versos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

14-26. Aí temos um dos primeiros relatos oficiais de


aplicação de uma espécie de arbitragem. O homem,
Moisés, era o árbitro dessa multidão, e Jetro, seu sogro,
o conselheiro que o fez aperfeiçoar o sistema de litígio
entre o povo, instituindo pequenas “câmaras” de aten-
dimento à demanda da população.
A comunidade judaica, até os dias hoje, em todo
o mundo, aplica os princípios contemplados nesta
história.
De lá para cá, na Idade Média, na Grécia, em
Roma, no mundo todo, os princípios da arbitragem
foram aplicados até o surgimento do Direito como
matéria e objeto regulamentador.
Estamos presenciando, nos dias atuais, a necessidade de resgate da arbitra-
gem, como aconteceu por meio da Lei n. 9.307/1996. O povo é grande, numeroso!
Quem (ou qual “órgão”) pode subsistir, ou seja, atingir plenamente seu propó-
sito diante de tão grandes e variadas questões?
Desta feita, estudaremos, de forma básica, o que vem a ser a arbitragem e as
suas aplicações no campo empresarial. Para definir e conceituar a arbitragem, é
necessário fazer o mesmo com o termo conflito, pois este é a causa daquela. Conflito
deriva do latim conflictu, que expressa as ações de luta, choque, embate ou peleja.
O conflito surge de posições ou opiniões que se contrapõem advindas de
duas ou mais partes sobre um mesmo objeto, que não pode ser adquirido entre
essas partes ao mesmo tempo.

Definição e Conceitos
84 UNIDADE III

Sendo uma situação normal e fundamental para o desenvolvimento de uma


sociedade, surge, então, a necessidade de ambientes que possam tratar, observar,
estudar e investigar os fatores que geraram o conflito e se chegar a uma decisão.
A arbitragem existe para atender a esta necessidade.
Holanda (2010) define arbitragem como sendo o ato de arbitrar, sendo este a
solução de um litígio (disputa, demanda ou pendência) ou uma sentença proferida.
Juridicamente, o termo arbitragem é definido como jurisdição ou poder con-
cedido a pessoas determinadas por lei, ou escolhidas pelas partes, para dirimir
questões entre elas suscitadas. É, portanto, uma forma alternativa de resolução

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de conflito, quando o Estado foi incapaz de conduzir o processo, quer por impos-
sibilidade ou por negligência.
A arbitragem foi regulamentada pela Lei n. 9.307, no Brasil, em 1996, pois,
apesar de existir desde 1824, não se oferecia quaisquer garantias jurídicas nas
suas sentenças. Essa lei, que a partir de agora, será a base principal de nossos
estudos neste trabalho, prevê a criação de ambientes propícios para o seu exer-
cício, chamados de Câmaras de Mediação e Arbitragem.
Vê-se que é relativamente novo o exercício da arbitragem em nosso país,
por isso, o conteúdo didático sobre o assunto ainda é escasso, limitando-se a
tomar uma “carona” na disciplina de perícia ou na generalidade do Direito para
permitir seu estudo. Além disso, a literatura disponível é baseada na legislação
legal sobre o assunto.
O secretário-geral da Comissão de Arbitragem da OAB/DF, advogado
Asdrubal Junior, sobre a prática da arbitragem, esclareceu que a lei da Arbitragem
regula a possibilidade do cidadão e também das empresas utilizarem um método
alternativo de solução de conflitos, permitindo que se utilize a arbitragem para
resolver conflitos que envolvem bens patrimoniais disponíveis ao invés de se
socorrer no Poder Judiciário, o qual é mais demorado, complexo e caro.
Em aspectos gerais, nas seguintes podemos entender que a arbitragem está
enquadrada nos seguintes aspectos e características:
■■ Surge quando as partes não conseguem resolver sua(s) demanda(s) de
forma amigável.
■■ É um procedimento de natureza contenciosa e informal.

ARBITRAGEM CONTÁBIL
85

■■ Pode ser exercida por qualquer pessoa de confiança entre as partes.


■■ Preza por aspectos como segredo, custo e celeridade.
■■ Forma privada de solução de conflitos (a encargo do perdedor).
■■ Não é solução para todos os conflitos.
■■ Ausência de interferência estatal.
■■ Aplicada somente a direitos disponíveis (há questões que dependem de
sentença judicial, como inventário, solvência, natureza alimentar etc.).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Martins (2008, p. 15) ressalta a importância da arbitragem, que cresceu em razão


da tendência da sociedade de valorizar a consensualidade e das vantagens que
as formas alternativas têm sobre os tradicionais meios imperativos (justiça esta-
tal) pelas seguintes razões:
■■ Contribuição para a governabilidade dos Estados, desonerando os magis-
trados e lhes possibilitando maior eficiência.
■■ Propicia novos meios de prevenção e controle contra o abuso estatal,
estando diretamente ligada à legalidade.
■■ Maior amplitude na atenção de todos os interessados envolvidos, assegu-
rando avanço no campo da justiça.
■■ Possibilita decisões mais aceitáveis e facilmente obedecidas, seja pelas par-
tes terem tido a disponibilidade de indicar o árbitro, as condições e o direito
a ser aplicado, seja pela mudança na cultura de recursos infindáveis, con-
tribuindo para a legitimidade e servindo como meio de pacificação social.
■■ Estimula a participação efetiva do indivíduo, que é parte integrante não
só do problema (litígio) como da solução (processo), criando uma noção
palpável de civismo.

Também não podemos deixar de citar as vantagens da aplicação da arbitragem


no Brasil, conforme exposto pela Comissão de Mediação e Arbitragem da OAB/
Guarujá, em sua Cartilha de Mediação e Arbitragem:
■■ Economia: os custos relacionados ao procedimento arbitral devem ser
analisados sob o aspecto do binômio tempo x benefício, o que o torna rela-
tivamente atrativo em razão da rapidez na solução da demanda. Processos

Definição e Conceitos
86 UNIDADE III

judiciais tendem a se arrastar por anos até a sentença definitiva, tornan-


do-se onerosos às partes, face aos inúmeros recursos judiciais permitidos,
contrariamente ao sistema arbitral, que não admite recurso de mérito.
■■ Rapidez: a lei de arbitragem estabelece o prazo máximo de 180 dias para
que a sentença arbitral seja proferida, caso as partes não tenham conven-
cionado prazo diferente, o que ocorre, geralmente, em demandas cujo
assunto necessite de mais tempo para ser resolvido. A experiência tem
demonstrado que os casos de maior complexidade são dirimidos, em
média, de seis meses a um ano e dois meses.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Especialidade: os árbitros são profissionais especializados nas demandas
que lhes são submetidas, o que torna as sentenças arbitrais mais objeti-
vas e precisas.
■■ Confidencialidade: a condução do procedimento arbitral, assim como o
resultado da sua decisão, são de conhecimento restrito das partes, árbitros
e Instituição Arbitral, exceto se as partes autorizarem a sua veiculação e
publicação. Esse princípio, de cunho universal, além de preservar a imagem
de cada parte envolvida na controvérsia, evita que documentos estratégi-
cos sejam expostos publicamente.
■■ Autonomia da Vontade: a lei de arbitragem faculta às partes a escolha
do árbitro, bem como a Instituição Arbitral encarregada de administrar
o procedimento, o que possibilita melhor qualidade e segurança para a
solução da demanda.
■■ Segurança Jurídica: a sentença arbitral possui a mesma eficácia de uma
sentença judicial, independe de homologação do Poder Judiciário e, sendo
condenatória, constitui título executivo.

A publicação da Justiça em termos de números, do Conselho Nacional de Justiça


(CNJ), publicada em 2014, mostrou que, no final de 2013, havia 95 milhões de
processos protocolados na Justiça. E a cada ano, o acervo processual cresce 3,4%.
Como desafogar o Judiciário?
Do exposto neste item, tem-se que a arbitragem corresponde a uma alter-
nativa para solucionar litígios antes de eles se tornarem processos no Judiciário.
E quais são as formas de conflitos? No tópico seguinte serão apresentados três
modelos de conflitos.

ARBITRAGEM CONTÁBIL
87
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ALTERNATIVAS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

É importante destacar que existem alternativas para encontrar soluções nos


diversos conflitos, sem necessidade de iniciar um processo judiciário. São elas:

NEGOCIAÇÃO

É o processo de resolução de conflitos, o qual as partes envolvidas procuram


decidir por si mesmas sobre suas diferenças. Neste âmbito, não há a interferên-
cia de um terceiro, pois as partes discutem suas diferenças e procuram chegar a
um acordo que venha a trazer benefícios a ambas, com o mínimo de prejuízo.

MEDIAÇÃO

O termo deriva da palavra mediato (latim) e está relacionado à intercessão ou


intervenção. Neste caso, ocorre a participação de uma pessoa neutra que ajuda
as partes envolvidas a tomarem sua decisão. Este “mediador” age como um faci-
litador, usando de habilidade para levar as partes a encontrarem a solução de
suas demandas. Ele não decide, mas leva as partes a decidir.

Alternativas de Resolução de Conflitos


88 UNIDADE III

Principais características:
■■ É um processo: – porque tem um desenvolvimento lógico e organizado.
■■ Terceiro imparcial: – é aquela pessoa ou aquelas pessoas que, de maneira
neutra, auxiliam as partes em conflito a buscar uma solução que seja do
interesse de ambas.
■■ Comunicação produtiva: – o mediador deve levar as partes a se expressa-
rem de forma clara e a explicitarem o conflito. O mediador abre o canal
de comunicação entre as pessoas envolvidas.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) estimula a mediação. De acordo com
o Código de Processo Civil (CPC) de 2016, a mediação tem que respeitar os
princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da
confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada, tudo
conforme dispõe o Art. 166.
A Lei n. 13.140/2015 dispõe sobre mediação no Brasil e a define como uma
“atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que esco-
lhido ou aceito pelas partes, auxilia-as e estimula a identificar ou desenvolver
soluções consensuais para a controvérsia” (BRASIL, 2015, on-line), logo a media-
ção é uma alternativa legal na resolução de um conflito. Nesta modalidade, as
partes envolvidas podem escolher um terceiro, que não possua interferência no
caso, para ajudar as partes a chegarem a um senso comum.
O mediador não atua com juiz, não é necessária nem uma formação especí-
fica, pois a decisão não caberá a ele, e sim, às próprias partes envolvidas. Para ser
mediador judicial, é preciso realizar um curso de formação de mediadores ofere-
cido pelos tribunais ou por instituições credenciadas pelos Núcleos Permanentes
de Métodos Consensuais de Soluções de Conflitos (Nupemec).
De acordo com a Lei de Mediação e com o Código de Processo Civil, cabe
aos tribunais fixar os valores a serem pagos pelas partes aos mediadores.
Atualmente, a mediação e a conciliação podem ser feitas tanto pela Justiça
quanto por câmaras privadas, se o conciliador não precisa ser necessariamente
uma pessoa formada em Direito, mas deve ser capacitada.

ARBITRAGEM CONTÁBIL
89

O uso dos meios alternativos não partirá apenas de uma parcela da sociedade. A
busca pela resolução de conflitos no âmbito extrajudicial deverá ocorrer não só
pelas vantagens apresentadas, mas também pela necessidade de alcançar no-
vos caminhos que não apenas levem ao Poder Judiciário. Para o Ministro Ricardo
Lewandowski, devemos estimular formas alternativas de solução de conflitos,
compartilhando essas técnicas com a sociedade, afinal, somos todos responsá-
veis pela recomposição da ordem jurídica que se apresenta rompida.
Fonte: Silva (2017, p. 18).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

CONCILIAÇÃO

O termo conciliação, também derivada do latim, conciliatione, significa conciliar, ajus-


tar, acordar ou harmonizar pessoas. Como na mediação, uma pessoa neutra ajuda as
partes, mas, nesta alternativa, espera-se que o “conciliador” proponha soluções para a
resolução da demanda. Dependendo da instância jurídica, esse conciliador pode ser o
próprio juiz, ou formado em Direito, ou mesmo em outras formações, sindicatos etc.

Destacamos que a conciliação é um instrumento efetivo de pacificação social,


tanto judicial como extrajudicial, que serve de auxílio para que as partes en-
volvidas em um litígio cheguem a um consenso para encontrar a solução para
as suas desavenças.

As principais vantagens e características dessa alternativa de resolução de con-


flitos são as seguintes:
■■ Atuação conjunta das partes (colaboração).
■■ Poder de decisão pelas partes.
■■ Fim do conflito como resultado de um consenso entre as partes.
■■ Solução do tipo “ganha-ganha”.
■■ Solução com benefícios mútuos.
■■ Orientação para o futuro.

Alternativas de Resolução de Conflitos


90 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ELEMENTOS DE ARBITRAGEM

A legislação Lei da Arbitragem, Lei n. 9.307 de 1996, limita quais são os assuntos
que podem ser julgados pelos árbitros. Esses assuntos são aqueles que se enqua-
dram nos direitos patrimoniais disponíveis, ou seja, que podem ser avaliados e
quantificados, economicamente, bem como as partes podem se transigir, dis-
por, desistir, abrir mão ou contratar.

OBJETO DA ARBITRAGEM

O Art. 1º da Lei 9.307 de 1996, estabelece que as pessoas capazes de contratar


poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patri-
moniais disponíveis.
Como citado, essa limitação imposta pela legislação nos permite discorrer
sobre dois fundamentos, sendo eles:
1. Patrimonial: como já amplamente conhecido por aqueles familiarizados
com a matéria contábil, compreende o conjunto de bens, direitos e obri-
gações de uma determinada pessoa ou entidade.

ARBITRAGEM CONTÁBIL
91

2. Disponível: aqui não se trata do conhecido grupo do Ativo Circulante,


que compreende o numerário em espécie (caixa) e saldos bancários dis-
poníveis. Segundo comentário de Carmona (2004, p. 56), “são disponíveis
aqueles bens que podem ser livremente negociados ou alienados, ou seja,
encontram-se desembaraçados de quaisquer ônus”.

Assim, entende-se que podem ser decididos por meio de arbitragem os litígios
relativos aos direitos patrimoniais disponíveis que envolvam bens e/ou direitos
que, segundo Marcondes (2004), envolvem:
■■ Títulos de crédito, comerciais e industriais (compra, venda, troca, alu-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

guéis, condomínios e taxas).


■■ De consumo em geral (compra, venda, consórcio de veículos, eletrodo-
mésticos e imóveis), conflitos educacionais (escola, mensalidades).
■■ Planos de saúde (médico e hospitalar).
■■ Dissolução de sociedade comercial, industrial e outros.
■■ Restituição de quantias pagas (telefone, luz, água, bancos), prestação de
serviços em geral.
■■ Bancários.
■■ Trabalhistas.
■■ Litígios internacionais (marcas/patentes, pirataria, importação e
exportação).

Diante desses argumentos, e somados ao que diz o Art. 852 do Código Civil,
questões de direito pessoal de família e outros que não tenham caráter estrita-
mente patrimonial não podem ser objeto de solução pela arbitragem.
Quando diz em respeito às questões trabalhistas e questões de consumo,
ambas, ainda, não têm um entendimento pacífico do pleno direito do uso da
arbitragem para dirimir pendências. Por isso, nosso estudo será sempre focali-
zado na matéria patrimonial e, logicamente, nos bens disponíveis.

Elementos de Arbitragem
92 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
AS PARTES NA ARBITRAGEM

Da mesma forma do fundamento do qual pode ser o objeto da arbitragem, o Art.


1º da Lei n. 9.307/1996 limita e identifica quem pode se beneficiar da arbitragem.
Art. 1º - As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem
para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
O dispositivo nos dá a ideia de que as partes devem se enquadrar nos seguin-
tes aspectos:
1. Capacidade jurídica: toda pessoa considerada capaz e que não se enqua-
dre nas disposições do Art. 3º do Código Civil (Lei n. 10406/2002). Ou
seja, aquelas que podem exercer atos da vida civil.
2. Personalidade jurídica: aqui, obviamente, não é somente o que o CC diz
sobre a pessoa humana, mas também aquelas entidades despersonaliza-
das que constituem as organizações empresariais, associativas, religiosas
e afins, ou seja, tanto a Pessoa Física quanto a Pessoa Jurídica.
3. Capacidade e poder de disposição: complementando ao objeto discor-
rido anteriormente, as pessoas capazes devem ter esta condição de serem
capazes de dispor de direitos patrimoniais.

As partes devem ser pessoas capazes civilmente, de natureza física ou jurídica


e disposição de bens. Este último limita pessoas com poderes de administração
de bens (ex.: inventariante, administrador de massa falida, síndicos, gerentes
etc.). Estas, por sua vez, devem possuir autorizações conforme exigência legal
de cada caso.

ARBITRAGEM CONTÁBIL
93

Outro quesito importantíssimo é no que se refere à autonomia da vontade


da parte envolvida. Ou seja, somente com a livre manifestação e vontade é que
uma parte pode se submeter ao processo de arbitragem. Esta expressão de von-
tade é chamada de “cláusula compromissória” e o “compromisso arbitral”, os
quais veremos mais adiante.

CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Conforme comentado no item anterior, em relação à vontade das partes, o Art.


3º da Lei 9.307/1996 chama de Convenção de Arbitragem, que, segundo Alvim
(2007, p. 171), é a “expressão da vontade das partes interessadas, manifestadas numa
mesma direção, de se socorrerem da arbitragem para a solução dos seus litígios”.
Os Art. 4º e 9º da referida lei são objetivos na definição dessas chamadas
Convenções de Arbitragem.
Art. 4º da Lei n. 9307/1996 estabelece que a cláusula compromissória é a
convenção pela qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à
terem arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.
Ainda, de acordo com o Art. 9º da mesma Lei, o compromisso arbitral é a
convenção por meio da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma
ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.
A expressão pelas partes pode ocorrer das seguintes maneiras:
1. Cláusula compromissória: é uma cláusula prevista em contrato firmado
entre as partes, por ocasião do compromisso da venda do produto/serviço
(ou qualquer que seja a negociação) em que essas concordam que qual-
quer demanda futura poderá ser submetida ao processo de arbitragem.
2. Compromisso arbitral: surgido o litígio posteriormente ao contrato, as
partes concordam em submetê-lo à arbitragem, esse pode inclusive cons-
tar no próprio termo de objeto da arbitragem.

Dentre as características que a Convenção de Arbitragem exige, é importante


destacar que se exige, pela Lei da Arbitragem n. 9.307/1996 (Art. 10):
■■ Celebração em documento por escrito (podendo ser no mesmo docu-
mento contratual ou um anexo).

Elementos de Arbitragem
94 UNIDADE III

■■ Qualificação das partes e dos árbitros.


■■ Indicação da matéria objeto da arbitragem.
■■ Lugar do proferimento da sentença arbitral.

Os pontos anteriores são obrigatórios para tal convenção, enquanto que, facul-
tativamente, os elementos a seguir podem ainda constar da referida:
■■ Local do desenvolvimento da arbitragem.
■■ Autorização para que o árbitro ou os árbitros julguem por equidade.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Prazo para apresentação da sentença arbitral.
■■ Indicação da lei nacional ou das regras corporativas aplicáveis à arbitragem.
■■ Declaração da responsabilidade pelo pagamento dos honorários e das
despesas com a arbitragem.
■■ Fixação dos honorários do(s) árbitro(s).

O que acontece quando, no caso de estabelecimento de cláusula compromis-


sória, e esta constar do contrato, uma das partes se recusar a se submeter ao
arbitramento?
Antes da publicação da Lei 9.307/1996, nada poderia ser feito, pois o STF
– Supremo Tribunal Federal, entendia que a arbitragem era de natureza volun-
tária. Com o advento da Lei da Arbitragem, o tratamento ao fato foi alterado.
Neste caso, há duas vertentes:
1. Cláusula cheia: aquela que já prevê todos os elementos essenciais para a
instituição da arbitragem (vide itens anteriores). Diante disso, a arbitra-
gem deverá ser instaurada, sem necessidade de intervenção judiciária.
2. Cláusula vazia: são aquelas que se limitam a afirmar que qualquer demanda
será solucionada por meio da arbitragem. Neste caso, a parte interessada
deverá requerer em juízo o lavramento do compromisso arbitral em audi-
ência especial, e o arbitramento poderá ser instaurado.

Na Convenção de Arbitragem, as partes devem expressar suas versões e propor suas


soluções. Mas propor pra quem? A terceira pessoa presente na arbitragem corres-
ponde ao árbitro. No próximo tópico, você compreenderá quem pode ser árbitro.

ARBITRAGEM CONTÁBIL
95

O ÁRBITRO

A Lei 9.307/1996 dedica um capítulo à figura do árbitro (vide Art. 13 a 18).


O Art. 13 estabelece que o árbitro pode ser qualquer pessoa capaz de con-
fiança das partes e, ainda, no Art. 18, diz que o árbitro é o juiz de fato e de direito,
tendo sua sentença os mesmos efeitos de uma proferida no ambiente estatal do
judiciário. Veja que não é necessário que o árbitro tenha formação em Direito.
Isso decorre do argumento de que muitas demandas surgem ou envolvem
questões de natureza técnica, que fogem do conhecimento de um bacharel da
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

área do Direito, sendo mais salutar que o árbitro goze do conhecimento especí-
fico da matéria do que o conhecimento da legislação.
O parágrafo 6º do Art. 13, também ressalta que o árbitro deve exercer sua
função com os seguintes atributos:
■■ Imparcialidade: não privilegiar uma parte em detrimento da outra.
■■ Independência: dissociação em relação a qualquer das partes.
■■ Competência: capacidade técnica e ética para dirimir as questões.
■■ Diligência: zelo no planejamento e na execução da tarefa.
■■ Descrição: guarda das informações que envolvem a matéria e as partes.

Quanto às situações impeditivas de uma pessoa atuar como árbitro, o Art. 14


da referida lei destaca, principalmente, aquelas que tenham relações que carac-
terizam os casos de impedimento ou suspeição de juízes, seja com as partes ou
com a matéria litigiosa.

PROCEDIMENTO ARBITRAL

Uma vez compreendido os conceitos e a arbitragem, as partes envolvidas e o árbi-


tro, é possível compreender como ocorre o procedimento de arbitral.
Neste subtópico, vemos a parte prática da arbitragem.

Elementos de Arbitragem
96 UNIDADE III

Instauração Arbitral

Como já visto anteriormente, a forma como se iniciará um processo arbitral


dependerá de qual Convenção de Arbitragem foi estipulada entre as partes.
No caso do Compromisso Arbitral, a questão torna-se mais simples, visto
que as partes já decidiram levar o caso à instância arbitrária, eliminando, assim,
a intervenção do juízo estatal.
Assim, com a assinatura do Compromisso, será iniciado o procedimento de
acordo com o que as partes estabeleceram no documento.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Na situação da Cláusula Compromissória, o processo já promove certo grau
de complexidade.
Lembremo-nos dos tipos de cláusulas (cheia e vazia). Em casos de cláusula
vazia, há dois direcionamentos:
Ambas as partes concordam em submeter a matéria à arbitragem (neste caso,
assina-se um compromisso arbitral e iniciar-se-á a arbitragem).
Discordância das partes: neste caso, uma das partes recorrerá ao Judiciário,
solicitando a instauração da arbitragem.

Escolha e nomeação dos árbitros

A nomeação dos árbitros provém da liberdade concedida às partes no estabele-


cimento das regras que nortearão a arbitragem. Por isso, o árbitro é de sua livre
escolha. Isso está previsto no Art. 13.
Para resguardar uma garantia mínima para a arbitragem, a lei estabelece
algumas exigências na nomeação:
■■ Nomeação em número ímpar de árbitros.
■■ Em caso de nomeação par, os árbitros têm autorização para a nomeação
de mais um árbitro.
■■ Sendo nomeados vários árbitros, estes, por maioria, elegerão o presidente
do tribunal arbitral.
■■ O árbitro ou o presidente do tribunal designará, se julgar conveniente,
um secretário, que poderá ser um dos árbitros.

ARBITRAGEM CONTÁBIL
97

■■ Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral determinar às partes o adianta-


mento de verbas para despesas e diligências que julgar necessárias.

Procedimento Arbitral

Após a instauração da arbitragem e a nomeação dos árbitros, iniciam-se os procedi-


mentos para o andamento do processo. Para tanto, o artigo 21 da citada Lei permite
que os procedimentos sejam estabelecidos por uma das três possibilidades a seguir:
■■ Procedimento próprio previsto na convenção arbitral.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ Reportar-se às regras de algum órgão arbitral ou entidade especializada.


■■ Delegar aos seus próprios árbitros o regulamento do procedimento.

Qualquer que seja o procedimento adotado, este deverá obedecer aos princípios
do Direito, que visam a assegurar um justo julgamento e respeito ao processo
legal. São eles:
1. Princípio do Contraditório: que institui a cada uma das partes a defesa
plena de seus interesses e concede ao juiz os elementos necessários ao
alcance da verdade real.
2. Princípio da Igualdade das Partes: às partes devem ser asseguradas as
mesmas oportunidades de alegação e de prova, cabendo-lhes iguais direi-
tos, ônus, obrigações e faculdades.
3. Princípio da Imparcialidade do Árbitro: não se exibir de forma tenden-
ciosa para qualquer das partes.
4. Princípio do Livre Convencimento: o árbitro tem liberdade para decidir
acerca de seu conteúdo da forma que considerar mais adequada, dentro
dos limites impostos pela lei e pela Constituição.

Um quesito importante é que a parte que pretender arguir questões que se referem
aos atributos do árbitro deverá se manifestar na primeira oportunidade, depois
de instituída a arbitragem. Essas questões devem estar amparadas pelo Art. 20,
que se refere a questões relativas à competência, suspeição ou impedimento do
árbitro, ou nulidade, invalidade e ineficácia da convenção de arbitragem.

Elementos de Arbitragem
98 UNIDADE III

Também devemos ressaltar as prerrogativas do árbitro que estão mencio-


nadas no Art. 22, a saber:
■■ Ser o destinatário das provas.
■■ Determinar as provas necessárias.
■■ Determinar produção de provas não requeridas pelas partes.
■■ Requerer de pessoas que não estão submetidas à arbitragem a apresen-
tação de documento.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Sentença Arbitral

Segundo Cavalcanti (2010, p.137), a sentença é o “ato por meio do qual o árbitro ou
tribunal põe fim ao procedimento, seja por meio do julgamento do mérito ou não”.
O Art. 18 da Lei da Arbitragem equiparou as sentenças arbitrais às judiciais,
assim, estas possuem as mesmas características e efeitos daquelas e não estão sujei-
tas à homologação do Judiciário, bem como o Art. 31 confirma este dispositivo.
É imposto que as sentenças arbitrais atendam às seguintes exigências:
■■ Devem ser escritas.
■■ Proferidas no prazo estipulado, sendo este:
a) Estipulado pelas partes.
b) Em seis meses da instituição da arbitragem, ou da substituição do
árbitro.
■■ Contenham um relatório com informações:
a) Qualificação das partes.
b) Histórico do litígio.
c) Fundamentos da decisão.
d) Dispositivo que baseou as decisões.

ARBITRAGEM CONTÁBIL
99

e) Data e local em que for proferida.

A parte poderá se manifestar no prazo de cinco dias, comunicando à outra parte


a correção de erro material, o esclarecimento, a dúvida, a contradição ou omissão.
É importante afirmar que o laudo arbitral é irrecorrível, ao contrário do que
ocorre com a sentença judicial. O que é passível de ocorrer é o Judiciário dar
nulidade ao laudo arbitral, o que, segundo o Art. 32 da Lei. 9.307/1996, pode
acontecer nas seguintes situações:
I. For nulo o compromisso.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

II. Emanou de quem não podia ser árbitro.


III. Não contiver os seguintes requisitos:
■■ Relatório.
■■ Fundamentos da decisão.
■■ Dispositivo base.
■■ Data e lugar do proferimento.
IV. For proferida fora dos limites da convenção de arbitragem.
V. Não decidir todo o litígio submetido à arbitragem.
VI. Comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrup-
ção passiva.
VII. Proferida fora do prazo.
VIII.Forem desrespeitados os princípios citados no Procedimento Arbitral.

Embora pareça complexo, o procedimento arbitral é simples, pois segue uma


estrutura de trabalho que viabiliza a discussão das partes e a elaboração da sen-
tença arbitral. A legislação específica exige a confiabilidade e garante a efetividade
do procedimento. No próximo tópico, vamos conhecer a atuação do contador
na arbitragem.

Elementos de Arbitragem
100 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ARBITRAGEM E A PROFISSÃO CONTÁBIL

A arbitragem ainda representa uma fatia tímida na solução de conflitos, princi-


palmente no meio empresarial. Por isso, as diversas áreas do conhecimento ainda
estão “engatinhando” no processo de formação de profissionais que atuam neste
âmbito. A contabilidade é uma delas.
Em termos de legislação, não há menção da figura do contabilista como
árbitro na lei que rege a profissão, nem mesmo no Decreto-Lei n. 9.295/1946
ou nas Normas Brasileiras de Contabilidade, pois, como vimos na Unidade II,
sobre o assunto de perícia contábil, não há normas específicas para o contador
que atua como árbitro.
O professor José Rojo Alonso (2014 on-line)7, em seu trabalho intitulado
“A Arbitragem e a Profissão Contábil” dedicou um capítulo para tratar de forma
legal e normativa o papel do contador no cenário da arbitragem. Contudo a ques-
tão continua pendente de regulamentação normativa pelo Conselho Federal de
Contabilidade, apesar de o citado professor mencionar que os Conselhos de
Administração e Engenharia não se calaram sobre o assunto.
Em detrimento da indefinição normativa do órgão contábil, uma coisa é
certa: em questões de arbitragem que envolvem o patrimônio de uma entidade,
é indiscutível que a participação de um contador é fundamento para a correta
apuração de informações que levem a uma decisão arbitral.
Invariavelmente, na atividade de arbitragem, está inserido o contador que se
dedica à perícia contábil, uma vez que o trabalho de um perito-contador é muito

ARBITRAGEM CONTÁBIL
101

semelhante com aquele desenvolvido no âmbito da arbitragem.


Atuando como perito indicado pelo juízo ou por indicação das partes, como
assistente técnico, o contador deve buscar a solução do conflito por meio da prova
pericial. Na arbitragem, o objetivo é o mesmo, o que muda é a forma de atingir
a finalidade. Portanto, os peritos contábeis estão aptos a atuar na arbitragem.
Conforme estudamos na conceituação da Perícia Contábil na NBC-TP 01,
item 2, a perícia contábil possui todas as condições técnicas de atuação signifi-
cativa em processos de arbitragem.
A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnico-cien-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tíficos destinados a levar à instância decisória elementos de prova ne-


cessários a subsidiar à justa solução do litígio ou constatação de um
fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em
conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação
específica no que for pertinente (CFC, 2015, p. 2).

Além disso, o próprio Decreto-Lei 9.295/1946 diz, no seu Art. 26: “a perícia arbi-
tral é aquela exercida sob o controle da lei de arbitragem”.
O fato da constante nomeação de profissionais da contabilidade pelo juiz para
atuarem como peritos, auxiliando-os em processos judiciais, principalmente, na
fase de liquidação de sentença, mostra como este profissional está preparado e
capacitado para atuar em processos de arbitragem, tanto para auxiliar na solu-
ção de conflito quanto na própria formação do árbitro.
O que é importante destacar é que o contador pode atuar como perito na
arbitragem ou mesmo como juiz arbitral. Esta afirmativa se baseia nos seguin-
tes argumentos:
■■ Jurídico: enquadrado no Art. 13 da Lei 9.307/1996.
■■ Área de conhecimento: o objeto de estudo da contabilidade é o patrimô-
nio das entidades, exatamente aquilo que a lei prevê como sendo o objeto
da arbitragem.
■■ Técnico-vivencial: nos conhecimentos e nas habilidades que o contador
possui como perito-contador.

A formação profissional e a experiência adquirida pelos contadores que atuam


no segmento do Judiciário como peritos ou assistentes técnicos são fundamen-
tais para a formação de um árbitro.

Arbitragem e a Profissão Contábil


102 UNIDADE III

Não estamos dizendo que a arbitragem é uma prerrogativa do contador, e


sim, que o contador é um dos profissionais mais capacitados para exercer
esta função, tendo em vista que árbitro deve ser de confiança das partes e
especialista na matéria do litígio.

Para ocupar esta demanda, que será cada vez mais crescente em nossa sociedade,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
recomendamos que o profissional da contabilidade tenha:
■■ Profundo conhecimento na área contábil e demais assuntos, tanto nacio-
nais como internacionais.
■■ Independência profissional.
■■ Adequado nível cultural.
■■ Boa conduta e moral.
■■ Tradição profissional.
■■ Capacidade legal.
■■ Habilidade relacional.
■■ Atenção às mudanças.

Estas citações são reforçadas no comentário de Palombo (1996, p. 37):


O Contador deve assumir por suas funções enobrecidas na solução de
conflitos, expressas na perícia e na arbitragem, mas, para tanto, deve
trabalhar a si mesmo, seu horizonte mental, mediante uma abertura
cultural apropriadora de parte do conhecimento de outras áreas [...],
para, com as especificidades de sua ciência, formar um todo harmonio-
so e capaz de redundar em soluções para a sociedade.

O conhecimento e a experiência do profissional da área contábil o capacitam a


atuar nas câmaras de arbitragem e mediação. No próximo tópico, vamos com-
preender a arbitragem no âmbito empresarial.

ARBITRAGEM CONTÁBIL
103
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ARBITRAGEM INSTITUCIONAL E INTERNACIONAL

A Lei 9.307/1996 dá liberdade às partes para o estabelecimento da nomeação


de uma instituição especializada para regular os procedimentos operacionais,
técnicos e administrativos. São as chamadas Instituições Arbitrais, que são os
conselhos, as câmaras e os centros de arbitragem.
Essas instituições possuem regulamentos próprios, que se responsabilizam
pela organização das audiências, bem como a conservação dos documentos e
a comunicação entre as partes e os árbitros, objetivando a solução rápida e efe-
tiva, que é o propósito da arbitragem.
Essas instituições devem ser escolhidas, quando for o caso, pelas suas carac-
terísticas de seriedade, idoneidade, experiência e credibilidade. Além disso,
deve-se atentar para:
■■ A reputação da Instituição que prestará o serviço, por meio de consultas
e visitas pessoais, assim como os profissionais que a administram.
■■ A localização e as instalações físicas de sua sede.
■■ Disponibilização de lista indicativa de árbitros para escolha e indicação
pelas partes envolvidas no conflito.
■■ A possibilidade de indicação de profissional que não integre a referida lista.

Arbitragem Institucional e Internacional


104 UNIDADE III

■■ As peculiaridades do regulamento da Instituição quanto à forma de indi-


car árbitros, prazos, tabela de custas e honorários do árbitro.
■■ Excluir aquelas que tragam a imagem de ser ente público, como tribunal,
corte, alçada, ou utilização de brasões oficiais, que trazem falsa ideia de
ligação ao Poder Judiciário.

As principais Câmaras de Mediação e Arbitragem do Brasil estão congregadas


no CONIMA – Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem,
que disponibiliza, em seu site, uma série de informações sobre as principais
Instituições em pleno funcionamento.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ARBITRAGEM INTERNACIONAL

Nos países desenvolvidos, a arbitragem corresponde a 80% das demandas con-


tratuais, em especial no que se refere a assuntos internacionais.
No Art. 34. da Lei n. 9.307/1996, a sentença arbitral estrangeira será reco-
nhecida ou executada no Brasil em conformidade com os tratados internacionais
com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo
com os termos desta Lei.
O propósito da arbitragem internacional é a solução de litígios entre as par-
tes que têm seus domicílios em países diversos. Numa era globalizada, é uma
jurisdição comum para o exercício do Direito, principalmente nestas relações
econômicas internacionais.
Os principais pontos que levam as entidades internacionais a recorrerem à
arbitragem são:
■■ Alternativa para as justiças estatais inaptas e morosas.
■■ Realização da arbitragem em país neutro.
■■ Escolha de quem decidirá a causa.
■■ Resolução do conflito com base nas regras internacionais de comércio.
■■ Distanciamento da publicidade.

ARBITRAGEM CONTÁBIL
105

Os pontos negativos, entretanto, ainda existem, que são:


■■ A complexidade do objeto do conflito.
■■ A determinação extremamente detalhista no contrato.

Principalmente devido a não exigibilidade de aplicação jurídica dos países envol-


vidos, no próprio contrato internacional residem as condições necessárias para
que sejam resolvidos os litígios, pois a arbitragem está calcada na autonomia da
vontade das partes e, apesar de prevista nos ordenamentos nacionais, o que lhe
garante legitimidade, não está presa a esses, como acontece com a jurisdição.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A arbitragem possui a liberdade necessária para proferir decisões conforme os


parâmetros criados pela comunidade mercantil internacional, consolidando
a autonomia da vontade do coletivo.
As condições para formação da arbitragem internacional, praticamente, não
fogem aos procedimentos previstos na legislação brasileira.
Assim como no Brasil, a arbitragem internacional também se vale das ins-
tituições arbitrais, como, por exemplo, a famosa CCI – Câmara de Comércio
Internacional, existente desde 1923 em Paris, França.
O principal objetivo destas instituições é a gestão da arbitragem, assegu-
rando o bom andamento do processo. A função de julgar é exclusiva do árbitro
ou tribunal a ela pertencente. Essas instituições não podem interferir no mérito,
mesmo quando não esteja de acordo com a solução dada ao litígio.
Conforme o citado Art. 34 da nossa Lei da Arbitragem, o Brasil reconhece
a sentença arbitral internacional como um título executivo, obrigando as partes
a atender à decisão do árbitro, embora não seja ele responsável pela atenção das
partes à sentença. Caso não seja voluntariamente executada, a parte prejudicada
pode exigir na Justiça a execução forçada, por meio de um processo de execução.
Devemos lembrar que, da mesma forma de um laudo arbitral brasileiro, a sen-
tença arbitral internacional também é irrecorrível. O que pode ocorrer, em casos
previstos na lei, é a nulidade do laudo arbitral, mas nunca recorrer para altera-lo.

Arbitragem Institucional e Internacional


106 UNIDADE III

Quanto ao laudo arbitral internacional, cabe informar que lhe foi retirado
o requisito do duplo grau de homologação para a produção de efeitos, ou seja,
que fosse homologado pelo Judiciário em ambos os países dos envolvidos. Isto
estava previsto na Constituição Federal de 1988, em seu Art. 105. Anteriormente
à Lei 9.307/1996, somente eram reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal as
sentenças arbitrais estrangeiras homologadas pelo Judiciário do país de origem.
Esta questão foi suprida pela orientação jurisprudencial baseada na homologa-
ção de sentenças judiciais estrangeiras.
A parte interessada é que deve solicitar a homologação do laudo estrangeiro

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
em nosso Judiciário, atentando que as causas que podem levar à rejeição da homo-
logação estão descritas nos Art. 38 e 39 da nossa Lei da Arbitragem, a saber:
■■ As partes na convenção de arbitragem eram incapazes.
■■ A convenção de arbitragem não era válida segundo a lei à qual as partes
a submeteram, ou, na falta de indicação, em virtude da lei do país onde
a sentença arbitral foi proferida.
■■ Não foi notificado da designação do árbitro ou do procedimento de arbitra-
gem, ou tenha sido violado o princípio do contraditório, impossibilitando
a ampla defesa.
■■ A sentença arbitral foi proferida fora dos limites da convenção de arbi-
tragem, e não foi possível separar a parte excedente daquela submetida
à arbitragem.
■■ A instituição da arbitragem não está de acordo com o compromisso arbi-
tral ou cláusula compromissória.
■■ A sentença arbitral não se tenha, ainda, tornado obrigatória para as par-
tes, tenha sido anulada, ou, ainda, tenha sido suspensa por órgão judicial
do país em que a sentença arbitral for prolatada.
■■ Segundo a lei brasileira, o objeto do litígio não é suscetível de ser resol-
vido por arbitragem.
■■ A decisão ofende a ordem pública nacional.

ARBITRAGEM CONTÁBIL
107

Para finalizar este tópico, a título de conhecimento adicional e curiosidade, veja


a seguir os principais acordos internacionais sobre Arbitragem:
■■ Protocolo de Genebra sobre cláusulas arbitrais de 1923: conferir validade
à convenção de arbitragem realizada entre as partes dos países signatários.
■■ Convenção de Genebra para execução de sentenças arbitrais estrangeiras
de 1927: determina o reconhecimento de sentenças arbitrais estrangeiras
advindas de processos iniciados pelas convenções arbitrais referidas no
Protocolo de Genebra de 1923.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ Convenção para o reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais


estrangeiras – Convenção de Nova York de 1958: promovida pelas Nações
Unidas, é, até hoje, o grande pilar da arbitragem internacional privada.
O Brasil não aderiu.
■■ Convenção Interamericana sobre Arbitragem Comercial Internacional –
Convenção do Panamá de 1975: visa a garantir a utilização da arbitragem
para solução de conflitos nascidos em relações mercantis.
■■ Convenção Interamericana sobre eficácia extraterritorial de sentenças e
laudos arbitrais estrangeiros – Convenção de Montevidéu de 1979: tem
como objeto a cooperação judiciária entre os países signatários, garan-
tindo a execução de sentenças judiciais e laudos arbitrais estrangeiros.

É irreversível o crescimento da arbitragem internacional, principalmente no que


tange a institucional, que já prevê existência de regulamento com procedimen-
tos que facilitem e transmitem maior segurança às partes. Por isso, o desafio dos
contadores, bem como sua participação na redação de contratos, é se aprofun-
dar no tema, no intuito de oferecer melhor assessoria a quem procura primeiro
evitar, depois resolver seus conflitos da melhor forma possível.

Arbitragem Institucional e Internacional


108 UNIDADE III

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Olá aluno(a), trabalhamos muitos conceitos e muitas possibilidade de resolu-


ção de conflito. Com a leitura da unidade, foi possível verificar que a Arbitragem
surgiu como alternativa de resolução de conflitos. Muito embora esteja em expan-
são, seu uso cotidiano ainda é limitado, em partes pela legislação que limita o
seu objeto, em parte pelas quantidades de câmaras de arbitragem existentes, e
em parte pela falta de informação ao cidadão.
A tendência da sua utilização é crescente, principalmente pelo quesito custo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
versus benefícios que ela produz. Não há como retroceder, é um movimento uni-
versal no qual o Brasil está inserido e a demanda de profissionais para atender
a esse momento é crescente.
É importante ressaltar, nesta unidade, que a arbitragem é tão abrangente
quanto a existência de conflitos que existem ou que possam vir a existir. Também
é um instrumento de estabelecimento de justiça e, principalmente, de bom senso.
Os profissionais da contabilidade têm muito a contribuir, e a comunidade
internacional já clama por esta forma de resolução de conflitos. Assim, ques-
tões como a Convenção de Arbitragem, o árbitro e o assunto no nível contábil
e internacional devem ser aprofundados pelos acadêmicos que vislumbram um
mercado a ser explorado nesta área (como de fato o é).
Finalizamos esta unidade em que a Arbitragem foi explanada de forma geral,
mas com a finalidade de levantar bases do conhecimento deste assunto ainda
pouco explorado em nosso país.
Na próxima unidade, será abordada uma área pouco conhecida pelos aca-
dêmicos, mas com uma demanda enorme de trabalho, tendo em vista o baixo
número de profissionais gabaritados para atuar com atuária, especificamente no
segmento de seguros.

ARBITRAGEM CONTÁBIL
109

1. Certo dia, Ronaldo descobre que tem um aneurisma cerebral e que necessita
de tratamento sério. Ciente disso, ele entra em contato com seu plano de saú-
de para que este arque com todos os custos iniciais do referido tratamento,
que custaria R$ 1.500,00 para os exames iniciais. Acionado, o plano se posicio-
na no sentido de não pagar o tratamento. Ronaldo, então, resolve ajuizar uma
ação judicial contra seu segurador.
Iniciada a ação, o réu requer a produção de perícia médica, que custará R$
2.000,00 para analisar se o tratamento é realmente necessário.
Percebe-se, por meio do exposto, que o valor para instituir o processo e dar
seguimento a ele (custa + R$ 2.000,00) é maior do que o valor da causa.
Em uma situação como esta, em que o custo do processo se torna maior do
que o valor da causa, o Judiciário deve desestimular a instauração desses pro-
cessos. Será que esta é uma saída viável?
2. Pedro e Joana casaram-se em 1973. Após 35 anos de casados, Pedro decidiu
separar-se. Ao longo de todos esses anos, Joana dedicou-se apenas a cuidar
do marido, dos filhos e da casa, sem exercer qualquer profissão. Aos 60 anos
de idade, não se sente ela apta a iniciar vida profissional que possa provê-la
devido sustento e, em razão disso, pretende pleitear do marido o pagamento
de pensão.
Pedro, tentando evitar um litígio que poderia trazer maiores desgastes à rela-
ção do casal em processo de separação, com reflexo nos filhos, concorda em
pagar alimentos a Joana. Entretanto, os dois não conseguem chegar a um acor-
do a respeito do montante dos alimentos que deverão ser pagos mensalmente
à Joana.
Diante dessa lide, os dois decidem submeter a questão referente ao valor dos
alimentos devidos à arbitragem, escolhendo, para árbitro, Antônio, padre que
celebrou o casamento deles e acompanhou o casal ao longo de toda a vida
conjunta.
Pergunta pode a questão relativa à estipulação do valor dos alimentos a serem
pagos a Joana ser submetida à arbitragem?
110

3. As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbi-


tral mediante Convenção de Arbitragem.
Leia as afirmações.
I. A cláusula compromissória é a convenção por meio da qual as partes com-
prometem-se a submeterem à arbitragem os litígios que possam surgir em
um contrato.
II. A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, devendo estar
inserta no próprio contrato.
III. Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória somente terá eficácia
se o aderente concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito
em documento anexo ou em negrito, com a assinatura.
É correto o que se afirma em:
a) II, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
4. O compromisso arbitral é a convenção por meio da qual as partes submetem
um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas.
Leia as afirmações.
I. O compromisso arbitral judicial celebrar-se-á por termo nos autos, perante
o juízo ou tribunal.
II. O compromisso arbitral extrajudicial será celebrado por escrito particular,
assinado por duas testemunhas.
III. Constará, obrigatoriamente, do compromisso arbitral: o nome, profissão,
estado civil e domicílio das partes; o nome, profissão e domicílio do árbitro;
a matéria que será objeto da arbitragem; e o lugar em que será proferida a
sentença arbitral.
111

É correto o que se afirma em:


a) I, apenas.
b) II, apenas
c) II e III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) I, II e III.
5. A mediação judicial, além de auxiliar as partes a resolverem suas disputas com
elevado grau de satisfação, proporciona aos litigantes um aprendizado não
verificado no tradicional processo heterocompositivo (AZEVEDO et al., 2013).
Quanto ao excerto do procedimento de mediação judicial, avalie as afirmações
a seguir como V (verdadeiras) e F (falsas):
(( ) Os mediadores estarão sujeitos à prévia aceitação das partes, observado o
disposto na lei.
(( ) As partes deverão ser assistidas por advogados ou defensores públicos.
(( ) O procedimento de mediação judicial deverá ser concluído em até 90 dias,
contados da primeira sessão, salvo quando as partes, de comum acordo,
requererem sua prorrogação.
(( ) Solucionado o conflito pela mediação antes da citação do réu, não serão
devidas custas judiciais finais.
​A sequência correta para a resposta da questão é:
a) V, F, F, V.
b) V, F, V, F.
c) F, F, V, V.
d) F, V, F, V.
e) F, F, F, F.
112

Servidor do Judiciário não pode atuar como mediador extrajudicial, diz CNJ
O servidores públicos do Poder Judiciário não podem atuar como mediadores extraju-
diciais. A determinação é do Conselho Nacional de Justiça, que julgou duas consultas
nesta terça-feira (19/6/18) sobre essa questão.
Em uma delas, o servidor do tribunal paraibano alegou que desejava atuar como media-
dor extrajudicial, com remuneração pelo serviço prestado, em comarca diversa daquela
em que desempenha suas atribuições públicas. O servidor disse, ainda, dispor de tempo
livre após o término de sua jornada e que não haveria impedimento ao desempenho
conjunto das atividades, pois a mediação seria atividade eminentemente privada, o que
não implicaria acumulação de funções públicas.
Já na outra, um servidor do TJ-ES expôs não haver norma legal que expressamente vede
o exercício conjunto das atividades e que a Constituição Federal estabelece ser “livre o
exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissio-
nais prevista em lei”.
Para o conselheiro relator Márcio Schiefler, a mera presença, em procedimento privado de
mediação extrajudicial, de servidor dos quadros do Poder Judiciário na condição de me-
diador, acaba por ensejar nos participantes uma injusta expectativa de benefício ou des-
vantagem na hipótese de a demanda ser levada à Justiça, em caso de um acordo frustrado.
“Em outras palavras, inevitável as empresas e consumidores que hoje participam de pro-
cedimento de mediação em determinada região se encontram algum tempo depois, em
comarca distinta, no polo ativo ou passivo de ações judiciais”, disse.
De acordo com o voto, seguido pelos demais conselheiros do CNJ, embora a Lei
13.140/2015 e o Código de Processo Civil não estabeleçam vedação expressa à atuação
de servidor público do Judiciário em atividade particular de mediação, o código cuidou
de evitar a influência de interesse particular na atuação pública ao vedar a atuação de
advogados no juízo em que atuam como conciliadores e mediadores judiciais.
Ao responder negativamente às consultas, no sentido de não ser possível a atuação de
servidores do Poder Judiciário como mediadores extrajudiciais, o conselheiro destacou
o intuito de resguardar o interesse público, manter a confiança dos jurisdicionados nas
atividades do Poder Judiciário e observar os princípios constitucionais da isonomia, da
impessoalidade e da moralidade administrativa. Com informações da Assessoria de Im-
prensa do STJ.
Consultas 0005301-30.2015.2.00.0000 e 0009881-35.2017.2.00.0000
Fonte: Conjur (2018, on-line)2.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Manual de arbitragem, Mediação e Conciliação


Luiz Antonio Scavone Junior
Editora: Forense
Sinopse: a arbitragem é um dos mais antigos meios de composição
de conflitos pela heterocomposição, ou seja, a solução do conflito
por um terceiro imparcial. Em um texto didático e claro são
analisados diversos aspectos do Instituto, como convenção de
arbitragem, árbitros, procedimento e sentença arbitral, sentença
arbitral estrangeira, bem como a sociedade da informação e
arbitragem e, também, as possibilidades de utilização das novas
tecnologias no procedimento. Cada capítulo é acompanhado
de esquemas que sintetizam os temas tratados, com legislação
pertinente reproduzida no anexo e em material suplementar.

7 Anos (2016)
Sinopse: conta uma história que explora os dilemas dos
relacionamentos e da própria existência humana. O filme começa
com quatro sócios de uma empresa da área de tecnologia que se
descobrem investigados pela Receita Federal espanhola. Como
de fato eles cometeram crimes contra o fisco, terão que tomar
uma decisão crucial: qual deles deve assumir a culpa, livrando
os outros três da prisão e assegurando a sobrevivência de sua
companhia? O título do filme se refere ao tempo de cárcere que
o responsável irá cumprir. Para tomar o que julgam ser a decisão
mais justa, convocam um mediador.

A conciliação é uma das formas de solução de conflitos. O vídeo expõe como os


procedimentos de mediação são muito simples. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=lMMucI4yHnc>.

A legislação estabelece que a arbitragem é uma forma de resolução de conflitos que


envolvam direitos patrimoniais disponíveis. O vídeo sugerido aborda o procedimento
de arbitragem. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ktslg197VOk>.

A mediação propõe às partes tomarem decisão sobre um conflito comum. Amparada


pela Lei n. 13.140 de 2015, tem sido muito difundida no Brasil. Veja no vídeo indicado
como é simples o processo de mediação. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=SDi-Zw_gFQY>.

Material Complementar
114
REFERÊNCIAS

ALVIM, J. E. C. Direito Arbitral. Rio de Janeiro: Forense, 2007.


AZEVEDO, A. G. et al. Manual de Mediação Judicial. Brasília: FUB, CEAD, 2013. Dis-
ponível em: <http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/destaques/arquivo/2015/05/ae-
51d86edffc31f52527d7b66d825460.pdf>. Acesso em: 21 set. 2018.
BRASIL. Decreto-Lei n. 9.295, de 27 de maio de 1946. Cria o Conselho Federal de
Contabilidade, define as atribuições do Contador e do Guarda-livros, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCiViL_03/Decreto-Lei/
Del9295.htm>. Acesso em: 20 set. 2018.
______. Lei n. 9.307, de 23 setembro de 1996. Dispõe sobre arbitragem. Disponí-
vel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9307.htm>. Acesso em: 20 set.
2018.
______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 20
set. 2018.
______. Lei n. 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre a mediação entre
particulares como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de
conflitos no âmbito da administração pública; altera a Lei no 9.469, de 10 de julho
de 1997, e o Decreto no 70.235, de 6 de março de 1972; e revoga o § 2o do art. 6o da
Lei no 9.469, de 10 de julho de 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/L13140.htm>. Acesso em: 21 set. 2018.
CARMONA, C. A. Arbitragem e processo: um comentário à Lei nº 9.307-96. São Pau-
lo: Atlas, 2004.
CAVALCANTI, F. R. Arbitragem e Mediação. Rio de Janeiro: FGV, 2010.
115
REFERÊNCIAS

CFC. Conselho Federal de Contabilidade. NBC TP 01 de 27 de fevereiro de 2015.


Dá nova redação à NBC TP 01 – Perícia Contábil. Disponível em: < http://www1.cfc.
org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTP01.pdf>. Acesso em: 19 set. 2018.
HOLANDA, A. B. Arbitragem. In: ______. Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Positivo,
2010.
JÚNIOR, L. A. N.; SILVA, M. P. Relatório do Projeto “Práticas Investigativas”. Linha de
pesquisa: eleições e sistemas partidários. Revista Projeção, Direito e Sociedade,
v. 2, n. 2, p. 40-99, 2011.
MARCONDES, F. Arbitragem comercial: guia prático para o cidadão. São Paulo: Có-
dez, 2004.
MARTINS, P. A. B. Apontamentos sobre a Lei da Arbitragem. Rio de Janeiro: Foren-
se, 2008.
PALOMBO, V. L. Perícia Contábil. São Paulo: Atlas, 1996.
SILVA, K. V. Nível de conhecimento sobre os meios alternativos de resolução de
conflitos: uma análise dos alunos do curso de ciências contábeis de Natal-RN. 2017.
42 f. Monografia (Graduação em Ciências Contábeis) - Centro de Ciências Sociais
Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.

Referência On-line
1
Em: <https://www.yumpu.com/pt/document/view/20579270/1-a-arbitragem-e-
-a-profissao-contabil-alonso>. Acesso em: 21 set. 2018.
2
Em: <https://www.conjur.com.br/2018-jun-21/servidor-judiciario-nao-atuar-me-
diador-extrajudicial>. Acesso em: 21 set. 2018.
GABARITO

1. Não. Há possibilidade de buscar solução ao litígio de forma menos onerosa nas


câmaras de conciliação.
2. Não, pois trata-se de questões familiares e não patrimoniais.
3. C (II é falsa pois a cláusula compromissória não é obrigatória).
4. E.
5. D. Na primeira afirmação, os mediadores não estarão sujeitos à prévia aceitação
das partes, observado o disposto na lei. Na terceira afirmação, o procedimento
de mediação judicial deverá ser concluído em até 60 dias e não 90.
Professor Me. José Renato Lamberti
Professora Me. Juliana Moraes da Silva

IV
UNIDADE
INTRODUÇÃO À ATUÁRIA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Conceituar e contextualizar a origem da atuária.
■■ Verificar o desenvolvimento dos seguros.
■■ Conhecer a legislação de seguros.
■■ Compreender a classificação dos seguros.
■■ Identificar os seguros que estão presentes na rotina das pessoas
físicas.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Definição e Conceitos
■■ Seguros no Brasil
■■ Legislação de Seguros
■■ Classificação de Seguros
■■ Seguros de Pessoas
119

INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), peço que você olhe à sua volta. Muitas coisas que você está
vendo neste exato momento só estão aí por conta de uma ferramenta muito
importante: o seguro. Pense, por exemplo, no computador que você utiliza para
assistir às aulas do EAD. Por trás desta máquina, pode existir uma indústria
muito grande, em que enormes investimentos foram feitos.
Você imagina um empresário fazendo um investimento de milhões de reais
em máquinas, equipamentos e estrutura se não tivesse como assegurar que este
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

patrimônio estivesse seguro? Sem dúvida, o mecanismo do seguro é uma impor-


tante contribuição para o mundo econômico, e nós nos valemos dele para diversos
campos de nossas vidas.
Agora pense por mais um minuto a respeito deste mecanismo que é o seguro.
Quando adquirimos um seguro, pagamos um determinado valor – que, às vezes,
achamos muito alto – mas esse valor foi estabelecido de alguma forma. De que
forma esse valor foi calculado?
Pois bem, já estamos nos primeiros passos de uma das profissões hoje mais
cobiçadas do mercado de trabalho: a atuária. Você já tinha ouvido falar sobre
esta profissão? Na verdade, apesar de toda sua importância, esta área do conheci-
mento, a atuária, e o profissional formado nela, o atuário, são poucos conhecidos.
Nosso objetivo, nesta unidade, é resgatar os conceitos e a importância desta
ciência e do profissional representante desta formação. Ao final desta unidade,
você, com certeza, estará capacitado(a) para falar com segurança sobre esta ciên-
cia e de sua área de atuação.
Em primeiro lugar, vamos voltar no tempo para vermos onde tudo começou.

Introdução
120 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DEFINIÇÃO E CONCEITOS

Quando falamos de atuária, estamos falando de uma ciência relativamente nova.


No entanto seus fundamentos se originaram há muito tempo. Por exemplo, no
Império Romano (que dominou o mundo por quase 1.000 anos), havia a preo-
cupação de se conhecer o número de nascimentos e mortes de maneira oficial.
Estes registros são os primórdios do que hoje conhecemos como tábuas de mor-
talidade (assunto que veremos mais para frente). Esta incumbência foi designada
aos atuários, oficiais que também faziam os registros das atas do Senado Romano.
Apesar de não terem ideia dos conceitos de probabilidade, os romanos já
possuíam a noção de que seria uma renda vitalícia (válida para a vida toda), dife-
rindo-a da renda perpétua (válida para sempre).
Entre o anos de 150 a 223 d.C., viveu Domitius Ulpianos, prefeito preto-
riano e reconhecido como um dos maiores economistas de todos os tempos.
Entre outras contribuições, ele publicou a Tabela de Ulpiano (por volta do ano
200 d.C.), em que formalizava um estudo de nascimentos e mortes, o que lhe
valeu o título de primeiro atuário da História.

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
121

Avançando um pouco mais no tempo, chegamos ao século XVII, na Inglaterra


e na Holanda. Os governos desses países buscavam vender aos súditos de seus
reinos títulos que assegurariam o recebimento de uma renda vitalícia. Os melho-
res matemáticos foram convocados, então, para precificar estes serviços, pois os
governos tinham a clara noção que um erro nesta precificação poderia colocar
em risco a riqueza da coroa desses países.
O trabalho desses matemáticos contribuiu para a criação das bases para o sur-
gimento do que hoje conhecemos como Matemática Atuarial, sendo que os cálculos
de probabilidade de Pascal e Fermat, na França, foram fundamentais para isso.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Também foram extremamente importantes os estudos de Graunt e Edmond Halley,


na Inglaterra, e De Witt, na Holanda, que levaram em conta as leis da probabilidade
e da expectativa de vida humana a partir dos registros de nascimentos e óbitos.
Um fato interessante dessa época é que De Witt, por meio de seus estudos, reco-
mendou que os preços dos títulos públicos sofressem uma elevação, porém ,isso
não agradou nada o governo da Holanda que, por conta disso, suprimiu o relatório
de De Witt por quase 200 anos. Já o relatório de Halley (que além de matemático
era astrônomo,e descreveu o cometa que leva o seu nome), publicado em 1693,
foi a peça que recebeu o reconhecimento e a aceitação e se tornou o fundamento
desta nova ciência, chamada posteriormente de “matemática atuarial”.
Oficialmente, a ciência atuarial nasce no final da primeira metade do século
XIX, na Inglaterra. Os primeiros estudos se destinavam para entidades da área
de pensão e aposentadoria, basicamente com o objetivo de estudar a mortali-
dade da população.
Foi no século XX, com o aumento da participação dos seguros na econo-
mia e a consolidação dos sistemas de pensão e benefícios que a ciência atuarial
se especializou mais intensamente nos campos econômicos e financeiros.
Para fins didáticos, podemos definir Ciências Atuariais como o ramo do
conhecimento que trata da matemática de seguro, que inclui probabilidades,
sendo utilizada para garantir uma cuidadosa avaliação dos riscos, para que o valor
dos prêmios seja corretamente estabelecido e para que as provisões destinados a
pagamentos futuros de benefícios sejam estabelecidas de forma exata. Conforme
Souza (2007, p. 132), a atuária “utiliza-se de conhecimentos de Matemática e
Estatística para estudar as bases técnicas dos seguros em uma coletividade”.

Definição e Conceitos
122 UNIDADE IV

O profissional formado em ciências atuariais, o atuário, é um dos mais requi-


sitados no mercado, devido à escassez de especialistas neste setor. É comum esses
profissionais serem captados ainda durante sua graduação, já no segundo ou ter-
ceiro ano da faculdade.
Outra área pouco explorada no Brasil é o mercado de capitais. Para não serem
penalizadas pelos investidores da bolsa de valores, as companhias que negociam
ações devem avaliar com a maior precisão possível os riscos que determinados
investimentos representam para o negócio, como a ampliação de uma fábrica.
Este já é um nicho para os atuários em países como Estados Unidos, Argentina

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e Japão. Segundo o IBA, no Brasil, hoje, não há mais do que dez atuários traba-
lhando com isso. E o número de empresas na bolsa de valores já passa de 300.
Principais áreas de atividade do atuário:
■■ Empresas Seguradoras: nas atividades de cálculo de prêmios, acompa-
nhamento de contratos de apólices, planejamento de produtos, avaliação
atuarial dos planos, assessoria técnica.
■■ Entidades Fechadas de Previdência Privada ou Fundos de Pensão: nas
atividades de avaliação e acompanhamento atuarial, estudos de novos
planos de benefícios, avaliação de desempenho de carteira de aplicações.
■■ Entidades Abertas de Previdência Privada e Bancos: nas atividades de
avaliação e acompanhamento atuarial, desenvolvimento de produtos (pla-
nos de benefícios), avaliação de desempenho de carteira de aplicações.
■■ Órgãos Governamentais do ramo de seguro (tais como IRB - Instituto de
Resseguros do Brasil, SUSEP - Superintendência de Seguros Privados e
Secretaria de Previdência Complementar): que aprovam planos previden-
ciários e de seguros em geral e acompanham e normatizam essas áreas.
■■ Empresas de Capitalização: desenvolvendo produtos e elaborando notas
técnicas.
■■ Mercado Financeiro: na avaliação dos riscos financeiros, rating de empre-
sas financeiras, estratégia de investimentos.

A formação do atuário é bastante complexa e completa. Ele precisa ser especia-


lista em vários campos do conhecimento, que vai das ciências sociais às ciências
exatas. Isto porque o objeto de estudo desse profissional são fatos sociais: fatos
demográficos, fatos econômicos e fatos biológicos. Sem estes conhecimentos, é
impossível que seu trabalho seja executado de forma eficaz.

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
123

Uma curiosidade: o atuário tem o seu dia no calendário: é o dia 03 de abril.


No Brasil, a profissão de atuário foi regulamentada pelo Decreto-Lei n.
806/1969, Decreto 66.408/1970 e algumas normas complementares. Além de
ser formado em Ciências Atuariais (conforme Art. 2º do D-L n. 806/1969 e Art.
9º do D 66.408/1970), para exercer a profissão, é necessário estar inscrito no
Ministério do Trabalho e Emprego.
Assim como em outras profissões, o atuário deve passar por uma certificação
que, desde 2005, é aplicada pelo Instituto Brasileiro de Atuária (IBA), sociedade
civil sem fins lucrativos, que também é o órgão que encaminha o processo de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

registro ao Ministério do Trabalho e Emprego, cabendo a decisão final de regis-


tro ao Ministério.
Agora que você conhece um pouco mais a respeito desse profissional, vamos
compreender um pouco mais sobre seu objeto de estudo. Um dos principais é
o mundo dos seguros.

SEGUROS - CONCEITOS BÁSICOS

A história das ciências atuariais é baseada em outra história igualmente fasci-


nante. Trata-se da história dos seguros.
Como dissemos no início desta unidade, à nossa volta estão as evidências
concretas da importância dos seguros em nossas vidas. A sua vida, a vida dos
seus entes queridos e o seu patrimônio têm um valor que somente você mes-
mo(a) e aqueles que fazem parte do seu círculo de contatos sabem.
Vamos, então, revisitar também a história dos seguros, até chegarmos aos
dias atuais.
O ser humano sempre teve o senso de sobrevivência apurado. Sendo frágil
e morando em regiões perigosas, o trabalho coletivo foi fundamental para resis-
tir a este ambiente hostil. Com a civilização mais amadurecida, esta ajuda mútua
(o princípio do mutualismo) também progrediu, abrangendo o comércio que era
realizado entre os povos antigos.

Definição e Conceitos
124 UNIDADE IV

Talvez os relatos mais difundidos sejam os da Babilônia, com suas caravanas


de mercadores sobre camelos atravessando o deserto. Estes comerciantes primi-
tivos já procuravam assegurar-se de que quaisquer perdas devido às intempéries
das viagens ou aos ataques de salteadores, fossem minimizadas. Esta garantia con-
sistia em acordos firmados entre os próprios mercadores que, em caso de perda
de um camelo por parte de um deles, os demais cobririam sua perda. Podemos
ver alguns elementos relativos a seguros nesta atitude, não é verdade?
Quando o ser humano começou a cruzar os mares, esta mesma ideia foi
implantada entre os navegadores, da mesma forma que os babilônios com os

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
camelos, no caso da perda de um barco, os demais navegadores se juntariam e
construiriam outro para reduzir as perdas mútuas.
Na História, consta que no século XII d.C. surgiu uma modalidade de seguro
chamada de Contrato de Dinheiro e Risco Marítimo, firmado em contrato entre duas
pessoas, sendo que uma das partes adiantava ao navegador o valor referente ao barco
e às mercadorias transportadas que, em caso de perda destes bens, não era devolvido.
Caso contrário, na volta da viagem, o dinheiro seria restituído acrescido de juros.
Apesar de prático, esta ação não era bem vista pela Igreja Católica e, em razão
disso, em 1234, o papa Gregório IX proibiu este tipo de transação na Europa.
Para driblar esta proibição, foi dada uma nova roupagem ao que já vinha sendo
praticado no antigo Contrato de Dinheiro e Risco Marítimo. Agora uma das
partes, geralmente um banqueiro, “comprava” o navio e a carga, repassando o
recurso ao navegador. Caso houvesse naufrágio, o banqueiro perderia esses recur-
sos. Caso o navio voltasse intacto, a venda era “desfeita”, e o dinheiro, devolvido
acrescido de juros.
Claramente percebemos que é a segurança econômica que mantinha esse
tipo de contrato e que se tornou a base para os seguros da forma como hoje os

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
125

conhecemos. O aprimoramento aconteceu na forma de formatação, precificação e


contratação dos seguros. No entanto a segurança econômica ainda é a mola mes-
tra deste ramo.
O formato de seguro com emissão de apólice é registrado em Gênova, em
1347, também para transporte marítimo e, desde então, com o advento das Grandes
Navegações, especialmente a partir de século XVI, o seguro toma um impulso
extraordinário. Os cálculos de probabilidade desenvolvidos por Pascal e as leis de
estatísticas passaram a ser aplicados à precificação, o que tornou os valores cobra-
dos a título de seguro mais justos. Ainda no século XVI, temos a fundação de uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

das primeiras sociedades de socorro mútuo chamada Tontinas, fundada em 1653


por Lorenzo Tonti, mas que não sobreviveu ao tempo. Entretanto, contemporanea-
mente à fundação das Tontinas, temos a fundação da Lloyd’s, na cidade de Londres,
por Edward Lloyd (que nada tem a ver com o Lloyd’s Bank) e que se tornou uma
das maiores e principais seguradoras do mundo. Conta a história que Edward Lloyd
era proprietário de um bar em que se realizavam os encontros dos navegadores, os
quais se aproveitavam deste ambiente para formalizar seus seguros. De forma natural,
Lloyd viu nisso uma oportunidade para o início de um negócio que existe até hoje.
A História registra a fundação da primeira seguradora de casas no ano de
1684, decorrente de um incêndio de grandes proporções ocorrido em Londres
e que destruiu 13 mil casas e a Catedral Saint Paul.
No ano de 1789, houve a publicação do primeiro Código Uniforme de Seguros,
que confere um caráter universal às regras de seguro no mundo. A Revolução
Industrial e o surgimento das máquinas de produção em massa no século XIX
exigiram o surgimento de outros tipos de seguros, como o de transportes por
terra, o de incêndio e o de vida. Esta expansão acelerada da atividade industrial
fez desaparecer o segurador individual e favoreceu o surgimento das sociedades
seguradoras de grande porte, como temos nos dias atuais.

Definição e Conceitos
126 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
SEGUROS NO BRASIL

Você deve se lembrar de suas aulas de História no ensino fundamental e médio


que contavam a respeito da chegada da família real portuguesa ao Brasil. Poucas
pessoas se dão conta da importância desse fato, mas a realidade é que D. João VI
mudou o Brasil durante o tempo em que aqui esteve.
No livro 1808, de Laurentino Gomes, temos um relato muito interessante
sobre a vinda, estadia e partida da família real no Brasil. Entre as diversas rea-
lizações promovidas por D. João VI, está a abertura dos portos do Brasil para o
comércio internacional – leia-se Inglaterra, parceira de primeira hora de Portugal
–, a fundação do Banco do Brasil (que, aliás, já quebrou pelo menos três vezes)
e da nossa primeira empresa de seguros, a Companhia de Seguros Boa-Fé, que
nasce na Bahia (o primeiro local onde D. João VI e sua comitiva aportaram e o
centro da navegação brasileira na época).

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
127

Até nossa independência, em 1822, as seguradoras que surgiram no Brasil,


obrigatoriamente, deveriam estar subordinadas às normas da coroa portuguesa
por meio da Casa de Seguros de Lisboa. Com a independência decretada por D.
Pedro I, no ano de 1850, foi criado, pela Lei 556, o Código Comercial Brasileiro,
que passa a regulamentar e disciplinar o seguro marítimo, favorecendo o surgi-
mento de novas companhias seguradoras.
Além dos seguros marítimos, temos, também, a regulamentação e implantação
das modalidades de seguros de vida, incêndio e de mortalidade de escravos. Somente
uma companhia, a Argos Fluminense, fundada em 1845, contratava seguros terrestres
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

(essa companhia foi adquirida em 1973 pela americana Chubb e passa a chamar-
-se, a partir de 1992, de Chubb do Brasil Companhia de Seguros). Sobre seguro de
vida, é interessante que até a segunda metade do século XIX essa modalidade era
proibida, sendo permitida apenas para os escravos que eram tratados pela lei como
“objetos passíveis de propriedade”, já dizia o código da escravatura que: “desde que o
homem é reduzido à condição de cousa, sujeito ao poder e domínio ou propriedade
de um outro, é havido por morto, privado de todos os direitos, e não tem representa-
ção alguma, como já havia decidido o Direito Romano” (MALHEIROS, 1866, p. 1).
Assim, o ano de 1855 marca a fundação da Companhia de Seguros
Tranquilidade no Rio de Janeiro, comercializando, pela primeira vez, o seguro
de vida. Os anos seguintes marcam a chegada de companhias seguradoras estran-
geiras que trazem sua experiência ao Brasil.
Com o crescimento acentuado do comércio, temos, no início do século
XX, a presença de mais de 60 empresas seguradoras, focando, principalmente,
o ramo de seguros marítimos. Devido a este elevado número de empresas atu-
ando no país, em 1901, houve a criação da Superintendência Geral de Seguros,
com subordinação ao Ministério da Fazenda, que, entre suas atribuições, pos-
suía a prerrogativa de fiscalização das operações de seguro.
A regulamentação oficial dos seguros no país só ocorre em janeiro de 1917,
com a promulgação do Código Civil Brasileiro, que estabelecia, entre outras obri-
gações e outros direitos, as do segurador e do segurado. Com isso, os seguros
terrestres passam a ter uma regulamentação específica. Em 1930, o nacionalista

Seguros no Brasil
128 UNIDADE IV

governo de Getúlio Vargas restringe o fluxo de capitais para o exterior, o que


ocasiona a saída do país de diversas seguradoras. Em 1935, temos a criação do
seguro de acidente do trabalho. A veia nacionalista de Vargas é demonstrada, mais
uma vez, no Estado Novo, exatamente no ano de 1937, quando se cria uma tarifa
mínima oficial para os seguros terrestres e marítimos. Com essa medida, as segu-
radoras passam a ser obrigadas a submeter suas tarifas à aprovação do governo.
Outro ano importante é 1939, que marca a inauguração do Instituto de
Resseguro do Brasil (IRB), que tem como função principal as atividades de res-
seguros no país com o exercício de monopólio nesta atividade. Até então, todo o

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
resseguro no Brasil (o tema de resseguros será abordado mais adiante) era contra-
tado em companhias estrangeiras. Em 1966, temos a publicação do Decreto-Lei n.
73, que institui o Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP), que tem o obje-
tivo de coordenar a política de seguros e preservar a liquidez das seguradoras.
A criação do SNSP gera a criação de um órgão normativo, o Conselho Nacional
de Seguros Privados (CNSP) e dois órgãos executivos: o IRB (reformulado) e a
Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), que passa a exercer as funções
do agora extinto Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização
(DNSPC).
Outros avanços são elencados por Souza (2007, p. 9):
Nos anos 1970, o Brasil passou a adotar uma política de reciprocidade
de negócios e a promover o intercâmbio internacional do seguro bra-
sileiro. Como resultados, tivemos o superávit na conta de Seguros do
Balanço de Pagamentos, a aceitação de negócios do exterior em volume
correspondente a 60% dos resseguros cedidos, a criação de uma empre-
sa especializada em segurança de crédito, a regulamentação do seguro
saúde, dos fundos de pensão e a expansão do seguro rural.

Um ano importantíssimo para a história recente dos seguros no Brasil é 1996,


quando a Advocacia Geral da União conclui que o veto à participação do capi-
tal estrangeiro (veto este instituído em 1986 por uma resolução do CNSP) não
se aplicava às seguradoras, entidades de previdência privada aberta e capitaliza-
ção, na medida em que não se tratam de instituições financeiras (SOUZA, 2007,
p. 9). Essa medida abre novamente para grandes empresas seguradoras mundiais
operarem livremente no território nacional.

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
129

A mecânica do mercado segurador pode ser visto na figura seguinte:

IRB
Indenização

Indenização
Prêmios

Prêmios
Riscos

Riscos
Prêmios
SEGURADORAS CO-SEGURADORA
Indenização
Indenização
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Comissão
Prêmios

Riscos

CORRETORES

SEGURADOS
Figura 1 - A mecânica do mercado segurador
Fonte: Souza (2007).

Um ponto importante a partir de agora é considerar os principais seguros comer-


cializados no mercado e os conceitos relacionados a seguros.

CLASSIFICAÇÃO DE SEGUROS

O primeiro e principal conceito que veremos, e que é um dos principais objetos


da ciência atuarial é o de seguro.
De acordo com o portal da SUSEP, seguro é um “contrato mediante o qual
uma pessoa denominada Segurador, se obriga, mediante o recebimento de um
prêmio, a indenizar outra pessoa, denominada Segurado, do prejuízo resultante
de riscos futuros, previstos no contrato” (SUSEP, 2006, p. 7).

Classificação de Seguros
130 UNIDADE IV

Essa definição abre um leque de outras definições que precisamos entender.


Antes, vamos pensar na definição de seguro. Nela, você percebe que está presente
o elemento do formalismo, ou seja, existe um documento legal, um contrato que
consolida a relação entre os participantes do seguro.
O contrato é expresso mediante uma apólice, definida como “o instru-
mento do contrato de seguro pelo qual o segurado repassa à seguradora
as responsabilidades sobre os riscos estabelecidos, que possam advir. A
apólice contém as cláusulas e condições gerais, especiais e particulares
dos contratos e as coberturas especiais e anexos” (SUSEP, 2006)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Interessante que a palavra apólice tem origem no vocábulo francês police e do
italiano polizza, termos que por sua vez têm origem no latim pollicitatio que sig-
nifica basicamente “promessa” que, no nosso caso, é a promessa de pagar uma
indenização pela perda que o segurado pode sofrer e que foi contratada mediante
o pagamento de um determinado valor. Geralmente, a apólice tem prazo de vali-
dade de um ano, e em vários casos, é automaticamente renovada, caso não haja
manifestação em contrário pelas partes.
Antes da emissão da apólice, as condições para contratação são acertadas
entre as partes por meio de uma proposta, um documento em que o proponente
(pessoa física ou jurídica) manifesta o interesse da contratação das coberturas de
risco mediante o pagamento de um valor nas condições acordadas.
Quando falamos sobre o seguro de vida, existe, ainda, outro elemento que
faz parte da contratação. Trata-se da Declaração Pessoal de Saúde (DPS). Este
documento serve para que o proponente declare sua condição pessoal de saúde
e alguns hábitos que poderiam ensejar na não aceitação do seguro por parte da
seguradora.
Como você pode perceber, isso é um dos fundamentos da atuária, as condi-
ções sociais dos participantes influenciam as condições do risco. É evidente que
as seguradoras têm interesse na contratação dos seguros. No entanto elas não
querem assumir um risco maior do que as boas regras estatísticas recomendam.
Assim, em algumas circunstâncias, o risco não é aceitável ou, caso seja, seu custo
será calculado de forma não massificada.
Vamos ver mais alguns elementos que estão contidos na frase definidora de
seguros que vimos anteriormente?

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
131

Outro conceito é o de segurador. Segurador é, de acordo com Souza (2007, p. 23),


“a entidade jurídica legalmente constituída para assumir e gerir os ris-
cos especificados no contrato de seguro. É ele quem emite a apólice e,
no caso da ocorrência de sinistro e de posse do pagamento do prêmio,
será o responsável por indenizar o segurado ou seus beneficiários de
acordo com as coberturas contidas na apólice”.

Como afirmamos anteriormente, a seguradora pode, em certas circunstâncias,


recusar-se a aceitar o seguro. Veja o texto do Decreto-Lei n. 73/1966 (que ainda
está em vigor) a respeito deste assunto:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Será lícito à Sociedade Seguradora arguir a existência de circunstância


relativa ao objeto ou interesse segurado cujo conhecimento prévio in-
fluiria na sua aceitação ou na taxa de seguro, para exonerar-se da res-
ponsabilidade assumida, até no caso de sinistro. Nessa hipótese, com-
petirá ao segurado ou beneficiário provar que a Sociedade Seguradora
teve ciência prévia da circunstância arguida” (1966, Capítulo III, Art.
11 Inc.1º § 2) (BRASIL, 1966).

Isso significa dizer que a seguradora pode e deve se cercar de cuidados para con-
tratação do seguro, pois o objetivo não é enriquecer o segurado no caso de um
sinistro, mas restabelecer o equilíbrio econômico em caso de um infortúnio. Faz
parte dessa arguição mencionada no texto do Decreto-Lei a própria Declaração
Pessoal de Saúde, mas não precisa, necessariamente, ficar restrita a esta. Outros
documentos ou declarações podem ser solicitados, dependendo das circunstâncias.
Para a recusa da proposta de seguro, a seguradora dispõe de 15 dias após o
recebimento desse documento e, após este prazo, caso não se manifeste em con-
trário, é entendida legalmente sua aceitação.
Lembra-se que na definição de seguros, falamos de outro personagem? É
o segurado. A SUSEP define “segurado” como a “pessoa física ou jurídica que,
tendo interesse segurável, contrata o seguro em seu benefício pessoal ou de ter-
ceiro” (SUSEP, 2006, p. 7). Souza (2007, p. 24) amplia este conceito por dizer que:
O segurado é a pessoa física ou jurídica, em nome de quem se faz o se-
guro. Ele transfere para a seguradora, mediante pagamento do prêmio,
o risco de um evento aleatório atingir o bem de seu interesse. Caso o se-
gurado não pague o prêmio previsto, ele perde os direitos à indenização
prevista no contrato. A pessoa que contrata o seguro com a seguradora
é também conhecida como estipulante.

Classificação de Seguros
132 UNIDADE IV

É importante fazer um esclarecimento fundamental neste ponto. segurado


não é o mesmo que beneficiário.
No caso de seguros, beneficiário é aquela pessoa física ou jurídica que tem
o direito à indenização em caso de sinistro. Esse direito pode ser integral ou
parcial, dependendo da forma como foi estipulado na apólice de seguros. Por
exemplo, um pai ou uma mãe de família contrata um seguro de vida e declara
como beneficiários seus filhos, em partes iguais. Se o segurado tiver, por exem-
plo, dois filhos, os dois dividirão a indenização. O percentual a destinar a cada
beneficiário é estabelecido pelo segurado.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Vamos considerar mais alguns elementos? Já vimos, anteriormente, o termo
indenização e, como você pôde ter concluído corretamente, a indenização é o
valor que é pago ao segurado ou beneficiários pelos prejuízos decorrentes do
sinistro. Observação importante: a indenização em nenhuma circunstância é
superior à importância segurada.
O segurado, para adquirir o direito à indenização, paga por este serviço um
valor chamado de prêmio que, ao contrário do que é senso comum, não reverte
para o segurado, ou seja, no caso de seguros, o prêmio é direcionado para a segu-
radora, portanto, é um custo para o segurado. O valor do prêmio pago depende
de algumas variáveis, por exemplo, o prazo do seguro, a exposição ao risco, qual
a importância a ser segurada e, ainda, faz parte do prêmio total as despesas admi-
nistrativas e de produção, como a comissão e o agenciamento, além dos impostos
e da remuneração do capital dos acionistas.
Se você tem um automóvel com seguro, sem dúvida já ouviu falar de outro
termo bastante comum, que é a franquia. O conceito de franquia tem a ver com o
limite de participação do segurado em eventual prejuízo que resulta de um sinis-
tro. Utilizando o exemplo do seguro de automóveis, na contratação, o proponente
pode escolher uma modalidade que tenha uma franquia reduzida. Neste caso, é evi-
dente que o prêmio do seguro será maior. No caso inverso, quanto maior a franquia
menor o valor do prêmio a ser pago. A franquia tem algumas finalidades impor-
tantes. Uma delas é conscientizar o segurado sobre a necessidade de cuidados na
preservação do bem. Algumas pessoas parecem descuidar-se na condução e na
segurança de um automóvel, por exemplo, por saber que o bem está segurado. A

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
133

franquia serve para “lembrar” que o segurado, também, é responsável pela inte-
gridade do bem. Também em casos de pequenos danos, se o valor de reparo for
menor do que a franquia, não compensaria para o segurado acionar o seguro.
Outra palavra que já usamos ao longo desta unidade é sinistro. Essa palavra
tem sua raiz na palavra latina sinistra que significa esquerda, e que antigamente,
sempre era associada a coisas negativas, danosas. No mundo dos seguros, sinis-
tro é o fato concretizado do risco que foi previsto no contrato de seguro, e que
resulta em perdas para o segurado e/ou seus beneficiários. O sinistro pode ser
total quando ocorre a perda total do bem segurado ou parcial quando somente
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

uma fração do bem é atingido.


Outro termo que já utilizamos algumas vezes é o risco. Para fins de seguro,
risco é:
[...] um evento ou condição incerta, isto é, que pode ou não ocorrer no
futuro, e cuja ocorrência tem um efeito negativo e que pode ser expresso
em termos monetários. Esse evento pode ser totalmente incerto, como
a queda de um raio, ou certo, mas acontecendo em data incerta, como a
morte. O impacto financeiro de um sinistro pode atingir milhões de reais
e levar a empresa que não se precaveu à falência, ou o indivíduo a perder
parte substancial de um patrimônio que lhe exigiu anos para acumular.
É nesse momento que o seguro se torna importante (TUDO SOBRE SE-
GUROS, [2018], on-line)1.

Veja, então, que o risco é uma possibilidade (não uma certeza) de que um evento
inesperado aconteça, e que por consequência, trará algum tipo de prejuízo ou
desequilíbrio econômico, danos materiais ou pessoais. Esse evento, por ser incerto,
com data incerta, não depende da vontade do segurado ou do segurador. Por isso,
dizemos que o risco é incerto, aleatório, possível, real, lícito e fortuito (SOUZA,
2007, p. 30). Mesmo no caso de seguros de vida em que a morte é certa, já dizia
o filósofo que as únicas coisas certas na vida são a morte e os impostos, esse
evento é em data ou circunstância incerta, por isso, pode ser objeto de seguro.
De acordo com Souza (2007), são também características de um seguro o
mutualismo, a incerteza e previdência. Sobre mutualismo, nos referimos a um
grupo de pessoas (que muitas vezes nem se conhecem), mas que têm interes-
ses comuns e que são seguráveis e que, por conta disso, constituem uma reserva
financeira para suprir as necessidades dos componentes desse grupo que, por-
ventura, sejam afetados por um acontecimento possível, porém incerto.

Classificação de Seguros
134 UNIDADE IV

Esta, aliás, é a outra definição, a de incerteza, que, conforme Souza (2007),


contempla dois elementos: a possibilidade de ocorrência do evento e o momento.
A previdência está “relacionada diretamente à proteção às pessoas, relativamente
a si próprias ou a seus bens” (SOUZA, 2007, p. 27).
Dois conceitos a que nos referimos ao longo de nossas unidades são os de Tábua
de Mortalidade e Tábua de Comutação. De acordo com Azevedo (2008, p. 17):
Tábua de Mortalidade – é uma tabela que indica anualmente a quan-
tidade de pessoas vivas da mesma idade. Essas tábuas são utilizadas
pelas empresas de seguros e é de vital importância por representarem
as probabilidades de uma determinada população.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Tábua de Comutação – é um dos principais instrumentos utilizados
pelos atuários para o cálculo dos prêmios. É mais poderosa que a tábua
de mortalidade, pois contempla determinada taxa de juros. Assim, po-
demos ter diversas tábuas de comutação apenas mantendo-se a tábua
de mortalidade e variando-se a taxa de juros.

LEGISLAÇÃO DE SEGUROS

Apesar de a maioria de nós não ter formação legal, alguns conceitos de legisla-
ção são importantes para que tenhamos segurança ao lidar com contratos sobre
ela. Veremos, a partir de agora, as leis e decretos mais pertinentes que regula-
mentam as operações de seguros.
Uma das principais leis sobre o setor de seguro já é bastante antiga. Os segu-
ros obrigatórios, por exemplo, são regulados pelo Decreto-Lei n. 73/1966 e pelo
Decreto 61.867/1967. Nessa legislação, impõe-se a contratação de alguns tipos
de seguros, chamados seguros obrigatórios.
De acordo com Souza (2007, p. 27-28), esses seguros obrigatórios
[...] compreendem uma vasta gama de eventos, como danos pessoais
causados por veículos de via terrestre ou de carga, a pessoas transpor-
tadas ou não, e a passageiros de aeronaves comerciais; responsabilidade
civil do construtor de imóveis em zonas urbanas por danos a pessoas
ou coisas; bens dados em garantia de empréstimo ou financiamento de
instituições financeiras públicas; garantia de pagamento a cargo do mu-
tuário da construção civil; incêndio e transporte de bens pertencentes às

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
135

pessoas jurídicas, situadas no país, ou nele transportados e crédito rural


e à exportação, quando concedido por instituições financeiras públicas.

Vamos falar um pouco mais do instrumento jurídico que formaliza o seguro: o con-
trato de seguro. Juridicamente, contrato, conforme o Direito Romano, é o mútuo
consenso de duas ou mais pessoas sobre o mesmo objeto. Um contrato tem por
objetivo criar, modificar, transferir, conservar ou extinguir direitos e obrigações.
Nesse documento, as partes envolvidas (seguradora e segurado) estabelecem
as condições mútuas das obrigações e dos direitos. Por esse contrato, a seguradora
obriga-se perante o segurado, a indenizá-lo se o fato futuro previsto no contrato
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ocorrer, mediante, é claro, um pagamento chamado de prêmio.


Um princípio importantíssimo e que deve nortear as relações de seguro, previsto
no Código Civil, é o da boa-fé, isto é, as duas partes, segurado e seguradora, obri-
gam-se a ser verídicas nas informações prestadas. Por exemplo, o contrato de seguro
poderá ser contestado se o segurado, no preenchimento da Declaração Pessoal de
Saúde, omitir ou mentir sobre sua real condição de saúde ou seus hábitos sociais. Por
outro lado, a seguradora tem a obrigação em ser transparente em relação às condi-
ções de exclusão de pagamentos de indenização previstas nas cláusulas contratuais.
Algumas características de um contrato de seguro, conforme Souza (2007),
são: Bilateral; Oneroso; Aleatório; Formal; Nominal; de Adesão; de Boa-fé.
CARACTERÍSTICA DESCRIÇÃO
Sempre estão presentes, no mínimo, duas partes: segurado e segura-
Bilateral
dora. Essas duas partes presentes têm direitos e obrigações.
Há dispêndio previsto para ambas as partes. No caso do segurado, o
dispêndio é o valor do prêmio a ser pago à seguradora. No caso da
Oneroso seguradora, o dispêndio encontra-se no fato de que, caso o evento
objeto do seguro ocorra, o valor da indenização deverá ser pago ao
segurado.
O elemento da aleatoriedade está presente, pois o próprio risco é
Aleatório
um evento aleatório, ou seja, pode ou não ocorrer.
O formalismo está presente no instrumento de contrato: a apólice.
Formal Nesse documento, estão as condições, as obrigações os e deveres
contratados.

É explícita a nominação dos envolvidos no contrato, ou seja, constará


Nominal claramente no contrato a razão social, o CNPJ e outras informações
pertinentes da empresa seguradora e do segurado.

Legislação de Seguros
136 UNIDADE IV

Ser de adesão significa que as condições da apólice são padroniza-


de Adesão
das e aprovadas por órgãos governamentais.
O conhecimento do risco pela seguradora depende da fidedignida-
de Boa-fé de das informações prestadas pelo segurado, de modo a não induzir
a outra parte a engano ou erro.
Fonte: adaptado de Souza (2007).

OS INSTRUMENTOS DO CONTRATO DE SEGUROS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Um contrato de seguro é um documento composto, geralmente, por mais de um
elemento. Podemos elencar os instrumentos que são a composição de um con-
trato de seguro, como: a proposta, a apólice, o endosso, os aditivos e as averbações.
Alguns desses elementos já tratamos nesta unidade. Por exemplo, já vimos a
respeito da proposta e da apólice. Complementando as informações que vimos
sobre apólice, este documento deve conter “nome, endereço e CPF/RG do segu-
rado; especificação do risco; bem segurado; valor da importância segurada;
valor do prêmio e as condições da cobertura. Ela pode ser coletiva ou indivi-
dual” (SOUZA, 2007, p. 29).
Algumas cláusulas contratuais, conforme Souza (2007, p. 29), podem ser
subdivididas em:
■■ Condições gerais: cláusulas que têm aplicação geral aos riscos de mesma
natureza.
■■ Condições especiais: disposições que modificam as condições gerais,
ampliando ou restringindo sua extensão.
■■ Condições particulares: específica para cada contrato. Particularizam
determinados tópicos ou coberturas.
■■ Cláusula limitativa: limita a obrigação do segurador.
■■ Cláusula abusiva: restringe ou elimina a responsabilidade do segura-
dor, decorrente de uma obrigação que por ele foi regularmente assumida.

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
137

As condições contratuais podem ser alteradas mediante a emissão de endossos,


aditivos ou averbações. Um exemplo claro da necessidade constante de alterações
é o caso das apólices abertas de transporte, em que há modificações constantes
de veículos e motoristas e, portanto, não seria prático a emissão de uma nova
apólice a cada viagem (SOUZA, 2007).
No caso do endosso, é um documento que atualiza o contrato de seguro e
é utilizado:
[...] quando é necessário fazer alguma modificação na apólice, tais como
alterações do risco e cobrança adicional ou restituição do prêmio. Assim,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ele pode ser de três tipos: de cobrança, de restituição ou sem movimento.


O endosso de cobrança tem como finalidade cobrar eventuais diferen-
ças de prêmios. Já o endosso de restituição é usado para eventuais devo-
luções de prêmios, como alterações de taxas - modificações dos riscos
ou extinção de garantias. Por fim, utiliza-se o endosso sem movimento
quando a modificação não resulta em qualquer alteração de prêmio ou
taxa. A averbação é um documento emitido pelo segurado para informar
à seguradora sobre bens e verbas a garantir (SOUZA, 2007, p. 30).

O Código Civil, nos seus artigos de 1449 a 1457, prevê que o segurado tem a
obrigação de pagar o prêmio do seguro, evitar tudo que possa aumentar os ris-
cos durante o período de vigência do contrato, além de comunicar à seguradora
qualquer incidente que possa agravar o risco e comunicar a ocorrência do sinistro
tão logo este ocorra. No caso do segurador, este é obrigado a pagar em dinheiro
o prejuízo resultante do risco assumido e, conforme as circunstâncias, o valor
total da coisa segura (SOUZA, 2007).
A legislação também prevê as condições de rescisão contratual. Conforme
Souza (2007, p. 31):
O contrato de seguro pode ser rescindido total ou parcialmente, a qual-
quer momento, mediante acordo entre as partes ou com o pagamento
do valor da apólice ao segurado. Quando esse cancelamento é decidido
unilateralmente, só pelo segurado ou só pelo segurador, ocorre a resci-
são do contrato de seguro. Sempre que a rescisão ocorrer por iniciativa
do segurado, a seguradora deterá o prêmio de acordo com a tabela de
prazo curto. Já quando a rescisão ocorrer por parte da seguradora, esta
reterá, do prêmio recebido, a parte proporcional ao tempo decorrido.
Entretanto, para que o contrato possa ser rescindido é necessária uma
cláusula prevendo esta possibilidade.

Legislação de Seguros
138 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CLASSIFICAÇÃO DE SEGUROS

Para iniciarmos nossa consideração sobre os tipos de seguros, é importante


entendermos que existe um rol enorme de classificações de seguros. No Brasil,
por exemplo, são classificados 89 ramos de seguros oficialmente, cada qual apre-
sentando grande variedade de detalhes. Só para você ter uma ideia, somente o
seguro de responsabilidade civil apresenta oito ramos diferentes. Já os seguros
voltados à agricultura possuem 13 ramos distintos. A Circular 295, emitida em
2005 pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), trabalha com 12 gru-
pos, o que facilita um pouco mais a compreensão dos tipos de seguros existentes.
Além desses 12 grupos, existe um décimo terceiro, relativo aos seguros de saúde,
regulados pela ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar.
No exterior, é comum uma classificação global em dois grandes grupos, os
seguros do ramo vida e os seguros do ramo não vida. No quadro abaixo, vemos
exemplificados esses grupos.
Quadro 1 - Tipos de Seguros

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
139
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: Tudo sobre Seguros ([2018], on-line)1.

SEGUROS DE PESSOAS

No seguro de pessoas, temos o objetivo de assegurar uma indenização a ser paga


ao segurado e/ou aos beneficiários nos casos estipulados no contrato.
Entre os seguros de pessoas, destacam-se: seguro de vida, seguro funeral,
seguro educacional, seguro prestamista, seguro de acidentes pessoais, seguro de
diária por internação hospitalar, seguro de diária de incapacidade temporária,
seguro viagem, seguro perda de renda.
A contratação desses seguros pode ser feita de forma individual ou coletiva.
Como o próprio nome já sugere, os seguros individuais são contratados direta-
mente entre o segurado e a seguradora. Os seguros coletivos são contratados pela
adesão feita a uma apólice contratada por um estipulante, na maioria das vezes,
um empregador que faz a intermediação para seus empregados. Entretanto, o
estipulante também pode ser uma pessoa física. Há algumas vedações para esti-
pulantes. Por exemplo, não podem ser estipulantes:

Seguros de Pessoas
140 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
1. Corretoras de seguros, seus sócios, dirigentes, administradores, empre-
gados, prepostos ou representantes.
2. Corretores.
3. Sociedades seguradoras, seus dirigentes, administradores, empregados,
prepostos ou representantes.

As coberturas usualmente comercializadas no ramo vida abrangem as seguintes


situações, conforme informadas no portal da SUSEP (2006, p. 28):
1. Morte natural.

2. Morte acidental.

3. Invalidez Permanente Total ou Parcial por Acidente. Esta cobertu-


ra prevê o pagamento de indenização em caso de perda, redução ou
impotência funcional definitiva, total ou parcial, de membro ou órgão
decorrente de acidente pessoal. Deverá ser observada atentamente a
tabela para o cálculo da indenização prevista no plano de seguro.
4. Invalidez Laborativa Permanente Total por Doença: pagamento
de indenização em caso de invalidez para a qual não se pode espe-
rar recuperação ou reabilitação, com os recursos terapêuticos dispo-
níveis no momento de sua constatação, para a atividade laborativa
principal do segurado.

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
141

5. Invalidez Funcional Permanente Total por Doença: pagamento de


indenização em caso de invalidez consequente de doença que cause a
perda da existência independente do segurado, na forma estabelecida
no plano de seguro.

6. Diárias por Incapacidade: pagamento de diárias em caso de im-


possibilidade contínua e ininterrupta do segurado exercer a sua
profissão ou ocupação, durante o período em que se encontrar sob
tratamento médico.

7. Despesas Médicas, Hospitalares e Odontológicas em Caso De


Acidente Pessoal: garante o reembolso, limitado ao capital segu-
rado, de despesas médicas, hospitalares e odontológicas efetuadas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

pelo segurado para seu tratamento, sob orientação médica, iniciado


nos 30 primeiros dias contados da data do acidente pessoal coberto.

8. Diária por Internação Hospitalar: pagamento de indenização pro-


porcional ao período de internação do segurado, observados o perí-
odo de franquia e o limite contratual máximo por evento fixado no
plano de seguro.

9. Doenças Graves: pagamento de indenização em decorrência de


diagnóstico de doenças devidamente especificadas e caracterizadas
no plano de seguro.

10. Perda de Renda: pagamento de indenização em caso de perda de


emprego. Deverão ser observados os critérios estabelecidos no pla-
no de seguro, como tempo mínimo de carteira profissional assina-
da, tempo mínimo no último emprego, motivos de demissão, entre
outros.

11. Auxílio Funeral: reembolso das despesas com o funeral até o limite
do capital segurado. Ainda que a seguradora ofereça a alternativa de
prestação de serviços, é garantida a livre escolha dos prestadores de
serviço pelos beneficiários, com o respectivo reembolso das despe-
sas efetuadas.

12. Cobertura para segurados dependentes (cônjuges, companheiros,


filhos).

13. Sobrevivência: pagamento de indenização, sob a forma de paga-


mento único ou de renda, caso o segurado sobreviva ao período
estipulado no plano de seguro.

14. Outras coberturas relacionadas a seguros de pessoas.

Seguros de Pessoas
142 UNIDADE IV

Vamos falar um pouco mais sobre seguros coletivos. O mais conhecido, sem
dúvida, é o Seguro de Vida em Grupo. Esta modalidade de seguro difere, essen-
cialmente, do seguro individual por ter um grande número de pessoas que
dividem a mesma apólice, sendo, dessa forma, válido para mais de uma pessoa.
Neste caso, conforme falamos anteriormente, temos a figura de um intermedia-
dor entre a seguradora e o segurado e, na forma mais comum, temos as empresas
intermediando para seus funcionários. Então, nesse caso, a empresa serve como esti-
pulante. Conforme Azevedo (2008, p. 35), estipulante é a “pessoa física ou jurídica
que contrata apólice coletiva de seguro, ficando investida dos poderes de represen-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tação dos segurados perante a seguradora nos termos da regulamentação em vigor”.
Uma característica muito interessante no caso de Seguros de Vida em Grupo
é que, justamente por ter vários participantes, seu custo mensal para o segurado,
geralmente, é menor do que seria na contratação de um seguro individual. Além
disso, não é necessária a emissão de nova apólice na admissão ou no desliga-
mento de participantes. Basta a comunicação formal à seguradora.
Uma advertência para o segurado quanto a esse tipo de seguro é o fato de não
ser possível manter o seguro quando há o desligamento do participante do seu
vínculo com o estipulante. Quando o empregado desliga-se da empresa, então
encerra-se o seguro. Isto pode causar algum transtorno se o desligamento ocorrer
quando o participante já tiver adquirido certa idade, o que dificultaria a contratação
de um novo seguro – individual, neste caso – pois o custo do prêmio seria elevado.
Temos, ainda, outros seguros comercializados no mercado, conforme tabela
seguinte:
Quadro 2 - Coberturas dos Seguros

TIPOS DE
COBERTURAS
SEGUROS
Tem por objetivo garantir aos segurados, durante período de viagem
previamente determinado, o pagamento de indenização quando da ocor-
rência de riscos previstos e cobertos, nos termos das condições gerais e
Seguro especiais contratadas. Este seguro deve oferecer, no mínimo, as cobertu-
viagem ras básicas de morte acidental e/ou invalidez permanente, total ou parcial
por acidente, podendo ser oferecidas outras coberturas, desde que estas
estejam relacionadas com viagem, como, por exemplo, cobertura por
perda ou roubo de bagagem.

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
143

Visa a auxiliar o custeio das despesas com educação do beneficiário,


em razão da ocorrência dos eventos cobertos. Considerando que existe
a possibilidade de diferenciação nos critérios de atualização das men-
salidades escolares e do capital segurado, deverá ser observado que o
Seguro edu-
capital segurado pode não ser suficiente para quitar integralmente as
cacional
mensalidades. Não se incluem na modalidade educacional os seguros de
acidentes pessoais que visem, exclusivamente, a cobertura de acidentes
dos educandos durante a permanência no estabelecimento de ensino ou
em seu trajeto.
Os segurados convencionam pagar prestações ao estipulante para
amortizar dívida contraída ou para atender o compromisso assumido.
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Seguro pres- O primeiro beneficiário é o próprio estipulante, pelo valor do saldo da


tamista dívida ou do compromisso. A diferença que ultrapassar o saldo será paga
ao segundo beneficiário, indicado pelo segurado. O seguro prestamista,
geralmente, apresenta as coberturas de morte, invalidez e desemprego.
Fonte: adaptado de Azevedo (2008).

Uma questão que, invariavelmente, surge, e você já deve ter se questionado,


depois de considerada a Unidade I, é se existe restituição dos prêmios pagos
para a seguradora.
Sobre este assunto, a resposta é sim e não. Tudo depende da forma como o
montante foi acumulado. Basicamente, existem duas formas de acumulação: o
regime financeiro de repartição ou de capitalização.
O regime financeiro de repartição não prevê a devolução de valores pagos.
É o caso dos seguros com cobertura de risco por morte, invalidez, doenças gra-
ves, entre outros. Isto porque os valores pagos destinam-se ao custeio de despesas
administrativas e das indenizações previstas em contrato. O direito do segurado,
nestes casos, é equivalente à indenização estipulada.
Por sua vez, para os seguros formatados pelo regime financeiro de capitali-
zação, existe a constituição de provisões matemáticas de benefícios a conceder
(baseados no prêmio pago) e que são capitalizados segundo regras atuariais e

Seguros de Pessoas
144 UNIDADE IV

após terem descontado os desembolsos por conta de corretagem, administração


e colocação do produto, além de parcela destinada à cobertura do risco objeto
do seguro, preveem resgate. Esse resgate, evidentemente, corresponde à parte do
prêmio pago, já deduzidos os desembolsos mencionados anteriormente e não
ao somatório da totalidade dos prêmios pagos.
No caso dos seguros de pessoas, não há objeção à contratação de mais de
uma apólice para o mesmo segurado. Na verdade, o segurado pode contratar
quantas apólices quiser, e cada seguradora se obriga a indenizar sobre o valor
contratado. No entanto as seguradoras podem solicitar do segurado informa-

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ções quanto à existência de outras apólices contratadas.
Embora sejam raros os casos em que isso ocorra, a legislação prevê que, na
falta de indicação de beneficiário, ou na impossibilidade de prevalecer a indi-
cação feita, metade do capital segurado será devida ao cônjuge que não esteja
separado judicialmente, sendo o restante pago aos herdeiros do segurado, sem-
pre obedecendo a ordem da vocação hereditária.
Se não existirem esses beneficiários, poderão ser constituídos beneficiá-
rios os que provarem que a morte do segurado os privou dos meios necessários
à subsistência. Sempre que houver a intenção de substituição de beneficiário, a
seguradora deve formalmente ser notificada e um endosso deverá ser realizado.
Caso contrário, a seguradora não reconhecerá essa substituição, pagando a inde-
nização ao indicado originalmente na apólice.
Um dos principais trabalhos do atuário em relação ao seguro está relacio-
nado com a precificação. Levando em consideração diversos fatores, entre eles a
expectativa de vida, o atuário elaborará uma tabela de comercialização que será
utilizada pelos corretores. Esses valores são corrigidos, periodicamente, utilizan-
do-se, para isso, de algum índice de correção pactuado e estipulado em contrato.
Entre os fatores que contribuem para os reajustes dos valores, além do índice
de correção, evidentemente, são fatos de natureza social, como o aumento da
idade do segurado. As tabelas de seguros, geralmente, estabelecem faixas de idade
em que os prêmios permanecem inalterados pelo critério idade. Com o segu-
rado avançando de uma faixa para outra, esses valores reajustados.
Veja o exemplo a seguir:

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
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Quadro 3 - Coberturas e Capitais Segurados de 14 a 55 anos


Coberturas e Capitais Segurados de 14 a 55 anos
Segurado Principal Cônjuge CUSTO MENSAL P/ FAIXA ETÁRIA
Invalide
permanente
Auxílio
Morte por Seguro
Planos Morte Cesta Morte 14 a 35 36 a 40 41 a 45 46 a 50 51 a 55
Acidental Acidente Funeral
Básica
Total ou
Parcial
A 30.824,77 61.649,53 30.824,77 3.000,00 500 15.412,38 33,71 35,85 52,41 58,32 70,60
B 61.649,55 123.299,09 61.649,55 3.000,00 500 30.824,77 54,33 60,39 91,74 103,57 128,12
C 92.474,31 184.948,62 92.474,31 3.000,00 500 46.237,16 74,98 84,02 131,07 148,81 185,63
D 123.299,23 246.598,16 123.299,08 3.000,00 500 61.649,54 95,58 107,67 170,39 194,05 231,71
E 169.536,23 339.072,47 169.536,23 3.000,00 500 84.768,12 122,29 138,14 220,43 251,49 315,90
Assistência Viagem 24h para o Segurado Principal
Fonte: Santiago Seguros, ([2018], on-line)2.

Seguros de Pessoas
145
146 UNIDADE IV

Observe que o custo mensal, ou seja, os prêmios pagos, vão sendo majora-
dos à medida que a faixa etária do participante aumenta.
Outra questão importante e que deve ser mencionada, é que não existe auto-
mática relação entre a concessão de aposentadoria por invalidez, por meio da
previdência social, com o pagamento de indenização por invalidez por parte da
seguradora. São processos distintos e a seguradora solicitará a documentação
constante na apólice para essa concessão, o que, via de regra, envolve a compro-
vação médica da condição de inválido. Em alguns casos, a seguradora pode até
solicitar a constituição de uma junta médica para avaliar a condição. Essa exi-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
gência deverá ser comunicada ao segurado.
Um tipo de seguro não muito conhecido do ramo vida, mas que é muito
interessante é o seguro dotal. Este é um tipo de seguro por sobrevivência, que
constitui uma renda ao segurado. Vamos conhecer um pouco mais sobre esse
tipo de seguro.
A palavra dotal vem de dote, que, geralmente, era o preço pago por uma
noiva, ou seja, um valor a que se tinha o direito por um determinado ato (no
caso da noiva, o casamento era esse ato).
No caso do seguro dotal, a ideia é a mesma, só que, neste caso, o “dote” a ser
pago é pelo fato do segurado sobreviver após uma idade estipulada. Pelo seguro
dotal, o participante constituirá uma reserva, que será atualizada atuarialmente, e
a que terá direito a partir de sua sobrevivência após a idade constante no contrato.
O seguro dotal tem algumas variações. Uma delas é o seguro dotal misto.
Nesse tipo de seguro dotal, são previstos tanto a sobrevivência como a morte do
participante. No caso de morte, permite que seus beneficiários recebam a impor-
tância segurada prevista para este evento e, em caso de sobrevivência ao período
estipulado, é o segurado quem receberá a importância segurada. A precificação do
seguro dotal misto é diferente do seguro dotal convencional, pois, no caso deste
último, se ocorrer a morte do participante antes da data estipulada, não existem
valores a ser pagos pela seguradora. No caso do seguro dotal misto, sempre haverá
uma situação de pagamento, o que deve influenciar no seu custo ao participante.
Novamente, aqui vemos o trabalho do atuário. Veja só o que acontece: o atu-
ário, para precificar um seguro, utiliza-se de uma tábua de mortalidade. Para
preservar a solvência da seguradora, é preciso ser conservador nos seus cálculos.

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
147

No caso de seguros por sobrevivência, se a tábua prevê um índice de mortali-


dade baixo numa determinada idade, o atuário precificará o valor dos prêmios
levando em conta esse fato, o que acarretará valores mais elevados de prêmios a
serem pagos. Isso porque o pagamento da renda vitalícia ao sobrevivente pode
ser por um período extenso, que deve ser considerado. Caso isso não for feito, os
valores constituídos como reserva para pagamento dessa renda não serão suficien-
tes, implicando em prejuízos para a seguradora. No caso de seguros por morte,
o raciocínio é inverso, ou seja, caso haja uma elevada taxa de mortalidade em
determinada faixa etária, os prêmios serão estabelecidos levando isso em conta.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Outro dado interessante é que, no caso de seguro por morte, usualmente, os


prêmios pagos por homens são maiores do que os das mulheres, uma vez que,
estatisticamente, os homens morrem mais cedo. Já no caso de seguros por sobre-
vivência, os prêmios das mulheres são geralmente mais elevados, justamente pelo
mesmo motivo: as mulheres vivem mais do que os homens.

SEGUROS SOBRE PATRIMÔNIO

Diversos infortúnios podem ocorrer no


nosso patrimônio. Muitas vezes, esses ris-
cos, caso concretizados, podem inviabilizar
uma atividade econômica. Imagine uma
fábrica que emprega centenas de pessoas.
Caso um sinistro, como um incêndio, por
exemplo, ocorra na fábrica, destruindo sua
capacidade produtiva, o resultado pode ser
desastroso não só para os proprietários do
negócio, mas também para milhares de pes-
soas (os empregados e as suas famílias) que
dependem economicamente deste negócio.
Assim, o seguro sobre o patrimônio
pode ajudar a superar um momento de tra-
gédia e restabelecer o equilíbrio financeiro

Seguros de Pessoas
148 UNIDADE IV

da empresa afetada até que ela possa retomar suas atividades.


Vamos considerar alguns seguros disponíveis para certos eventos que podem
afetar o patrimônio pessoal ou empresarial.

SEGURO INCÊNDIO

Embora não ocorram com frequência, os incêndios são uma realidade que
devem preocupar principalmente possuidores de imóveis e empresas. O seguro

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
por incêndio visa a indenizar o segurado na eventualidade de danos que decor-
ram pela propagação do fogo.
A forma mais comum de contratação do seguro para incêndio é a compre-
ensiva, na qual essa cobertura é contratada juntamente com outras, como raio,
explosão, vendaval, entre outras. Estas são as chamadas coberturas básicas.
Dependendo da cidade e do tipo de imóvel, trata-se de um seguro relativa-
mente acessível e, portanto, é altamente recomendável a sua contratação. Esse
custo sofre um aumento significativo quando se incorpora a cláusula de roubos,
devido ao seu elevado risco.
Os seguros multirriscos patrimoniais, também chamados de compreensivos,
por serem produtos massificados e amplamente comercializados, facilitam a ade-
são de empresas de diversos segmentos, destes pequenos negócios até empresas de
grande porte. A facilidade é oferecida à empresa pelo fato de poder contratar, numa
única apólice, as coberturas para a maioria dos riscos a que está sujeito. As apólices

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
149

começam por contratar obrigatoriamente algumas coberturas básicas, como incên-


dio, explosão de qualquer natureza e queda de raio e, pelo menos, uma cobertura
facultativa, que pode ser, por exemplo, cobertura contra roubo, lucros cessantes,
pagamento de aluguel, chegando a incluir cobertura por responsabilidade civil.

SEGURO DPVAT

Pagamos todos os anos, obrigatoriamente,


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

o chamado seguro DPVAT. Muitas pessoas


nem sequer sabem o significado desta sigla.
Para fins de esclarecimento, DPVAT quer
dizer: Danos Pessoais Causados por Veículos
Automotores de Via Terrestre. Não é uma
sigla perfeita, não é? Mas se fôssemos colo-
car todas as letras desta frase imensa, ficaria
uma sigla quase impronunciável.
Esse seguro foi criado pela Lei 6.194/1974,
e visa a amparar as vítimas de acidentes de
trânsito causados por veículos automotores
e/ou por suas cargas, em todo o território
nacional. Sua cobertura independe de quem
seja a culpa desses acidentes.
A evolução no sistema do DPVAT mais significativa ocorreu em 2006, ano
em que o Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP, constituiu um novo
modelo de gestão, com a criação de dois consórcios a serem administrados por
uma seguradora especializada. Essa seguradora inicia suas atividades em 2007,
com o nome de Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT, contando
com moderníssimos mecanismos de Governança Corporativa adotados pelo setor.
Estão cobertas pelo DPVAT todas as pessoas, em qualquer parte do Brasil,
sejam elas motoristas, passageiros ou pedestres. As coberturas do DPVAT são
basicamente de três tipos: morte, invalidez permanente e reembolso de despe-
sas médico-hospitalares comprovadas (DAMS).

Seguros de Pessoas
150 UNIDADE IV

A função social do DPVAT é relevante. Esse seguro contribui com a saúde


pública e a política nacional de trânsito por destinar 45% dos recursos arrecadados
ao Fundo Nacional de Saúde - FNS, para custeio da assistência médico-hospitalar
dos segurados vítimas de acidentes de trânsito e 5% ao Departamento Nacional
de Trânsito - DENATRAN, que são aplicados em programas destinados à pre-
venção de acidentes de trânsito.
Algumas informações importantes sobre o DPVAT:

• As indenizações do Seguro DPVAT são pagas em até 30 dias, após a


entrega completa da documentação.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
• Se o pagamento do Seguro DPVAT não estiver em dia, o veículo não
será considerado devidamente licenciado e o proprietário deixa de ter
direito à cobertura. Mas as vítimas estarão cobertas.

• Um pedestre atropelado por um veículo não identificado terá cobertura,


pois o direito ao Seguro DPVAT independe da identificação do veículo.

• O DPVAT é a única modalidade de seguro que cobre toda a popula-


ção, abrangendo todo o território nacional. (SIMULADOR FINAN-
CEIRO, 2013, on-line)3.

É importante frisar que o DPVAT somente cobre danos pessoais causados por
acidentes de trânsito. Não é coberto nenhum tipo de danos materiais.
Em, os valores estabelecidos para indenização pelo DPVAT, por vítima, são
os seguintes:
• Morte R$ 13.500,00
• Invalidez Permanente até R$ 13.500,00
• DAMS (Despesas Médicas e Hospitalares) até R$ 2.700,00

Outras informações importantes é que a vigência do DPVAT vai do dia 01 de


janeiro a 31 de dezembro do ano, e a indenização, geralmente, ocorre 30 dias
após o recebimento da documentação na seguradora (e desde que a documen-
tação esteja correta).

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
151

Para contratar um seguro, é preciso levar algumas coisas em consideração.


Por exemplo, para contratar um seguro de automóvel, é necessário verificar
a idade do(s) condutor(es), estado civil, profissão, entre outros.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Você sabia que ao pagar o DPVAT (seguro), não garante apenas o pagamen-
to de indenização para si, mas também para os passageiros e pedestres, em
caso de acidente envolvendo o seu veículo? Você também contribui com a
saúde brasileira e com campanhas de prevenção de acidentes de trânsito.
Pagar o Seguro DPVAT é mais do que estar em dia com a lei. É estar em dia
com a cidadania.
Para saber mais, acesse: <https://www.seguradoralider.com.br/Pages/infor-
macoes-gerais-sobre-o-pagamento.aspx>.
fonte: os autores.

Seguros de Pessoas
152 UNIDADE IV

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), esta unidade te levou a conceitos que, tenho certeza, foram
novos. Afinal, não é muito comum falar sobre atuária e seguro.
O mundo dos seguros é fascinante, mas também é um pouco mais complexo
do que você tinha imaginado! É perfeitamente possível entendermos as bases da
arquitetura desses seguros, dessas rendas e suas vantagens.
Nesta unidade, você obteve o conceito de seguro dotal. Na verdade, trata-se, a
grosso modo, de uma aposta do segurado contra a seguradora. O segurado “aposta”

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que vai sobreviver até uma idade x e, neste caso, receber em vida a importância segu-
rada. A seguradora “aposta” que isso não vai acontecer e, portanto, não terá que pagar
esta importância segurada. É um seguro de pagamento único e com data estipu-
lada para recebimento da indenização, caso o segurado sobreviva, evidentemente.
Há diversos outros tipos de seguros que são comercializados. Cada qual leva
em conta as necessidades e expectativas dos segurados. Alguns, como o próprio
seguro dotal, também abre para a possibilidade de que a indenização seja paga
para beneficiários indicados em caso de morte do segurado. O seguro no caso
de morte é o mais conhecido no mercado do ramo vida.
Para os empregados de algumas empresas, abre-se a possibilidade da con-
tratação de um seguro de vida em grupo, o que é muito interessante, pois os
prêmios pagos pelos segurados costumam ser menores do que seguros indivi-
duais, pela força de negociação que um grupo tem com a seguradora. Mas um
alerta: caso o empregado se desligue da empresa, não há como manter o vínculo
ao seguro, pois ele tem como estipulante a empresa a cujo quadro funcional a
pessoa não pertence mais.
Esperamos que você tenha percebido que todos os cálculos demonstrados na
unidade têm uma lógica simples, embora sejam cálculos financeiros que exigem
atenção: a questão de fluxo de caixa, ou seja, as rendas obtidas em relação aos
desembolsos programados. Tudo isso, é claro, acrescido da devida taxa de juros.
Na próxima unidade, veremos produtos financeiros, que têm grande ade-
são por investidores de todos os tipos e, sim, utilizam também a atuária para
sua comercialização.
Bons estudos!

INTRODUÇÃO À ATUÁRIA
153

1. Hamilton concluiu sua entrevista de emprego, na qual o recrutador lhe infor-


mou os benefícios oferecidos pela empresa para seus colaboradores. Entre os
benefícios elencados, o recrutador mencionou que a empresa oferece o be-
nefício de um seguro de vida em grupo. Hamilton quis saber mais sobre este
benefício e, por isso, o recrutador detalhou informando que:
a) Quando se desliga da empresa, o funcionário pode continuar vinculado ao
seguro de vida em grupo.
b) O seguro de vida em grupo guarda a ideia de renda vitalícia aos participan-
tes, funcionários da empresa.
c) Por serem em grupo, os prêmios dos seguros são iguais a todos os funcioná-
rios da empresa, sem distinção.
d) No seguro de vida em grupo, um conjunto de pessoas divide a mesma apóli-
ce, válido para mais de uma pessoa. E No caso de falecimento, a indenização
é dividida entre todos os colaboradores do setor onde Hamilton trabalhará.
e) Nenhum das alternativas anteriores está correta.
2. Victor quer empreender por conta própria, após ficar desempregado recente-
mente. Buscou um banco para financiar uma máquina para produzir chocola-
tes caseiros. O gerente do banco lhe informou que, além da garantia da própria
máquina, seria necessário que Victor contratasse um seguro prestamista. Anali-
sando essa informação, pode-se dizer que:
a) É adequada, pois o seguro amortizará a dívida contraída junto ao banco em
caso de morte, invalidez e perda de renda.
b) É inadequada, pois o ideal seria um seguro de responsabilidades, que cobri-
rá a dívida assumida junto ao banco.
c) É inadequada, pois o seguro prestamista é destinado à cobertura de presta-
ções educacionais.
d) É adequada, pois o seguro indenizará a família de Victor, que então poderá
pagar o banco.
e) É inadequada, pois o seguro prestamista não se destina ao pagamento de
dívidas.
3. Um desejo claro para quem faz um sacrifício de reservar todos os meses valores
para constituir uma reserva é, no futuro, receber uma renda para sua subsistên-
cia e a manutenção da qualidade de vida. Vários produtos foram constituídos
para dar esta tranquilidade. Entre esses, se encontra o seguro dotal. Sobre o
seguro dotal, relate a principal característica desse produto de renda.
154

4. As pessoas começam a conhecer algumas alternativas ao formato tradicional


de seguros, que normalmente oferece uma indenização em caso de morte ou
invalidez do participante. Entre essas alternativas, encontra-se o seguro dotal.
Sobre esse tema, relate o diferencial do seguro dotal em relação aos seguros
tradicionais.
5. A ideia de uma tábua de mortalidade é bastante antiga, sendo seus fundamen-
tos utilizados por Domitius Ulpianos, prefeito na antiga Roma, considerado o
primeiro atuário da História com seus estudos sobre nascimentos e mortes.
Considerando esse fato, argumente como a tábua de mortalidade impac-
ta sobre o trabalho do atuário na precificação de seguros por sobrevivência,
quando o segurado terá direito a uma renda após o prazo contratado com a
seguradora.
155

Seguros facultativos e obrigatórios


Os seguros podem ser ainda facultativos ou obrigatórios. A maioria dos seguros vendidos
no Brasil tem contratação facultativa, mas a lei determina a contratação de uma série de
seguros que passam a ser obrigatórios. Muita gente não sabe disso! Veja a lista a seguir:
• Seguros Obrigatórios de Responsabilidade Civil dos Proprietários de Veículos
Automotores de Via Terrestre.
• Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil dos Proprietários de Veículos Au-
tomotores Hidroviários.
• Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil dos Transportadores em Geral.
• Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil do Construtor de Imóveis em Zo-
nas Urbanas por Danos a Pessoas ou Coisas.
• Seguro Obrigatório de Transporte de Bens Pertencentes a Pessoas Jurídicas.
• Seguro Obrigatório de Danos Pessoais a Passageiros de Aeronaves Comerciais e de
Responsabilidade Civil do Transportador Aeronáutico.
• Seguro Rural Obrigatório.
• Seguro Obrigatório Contra Riscos de Incêndio de Bens Pertencentes a Pessoas
Jurídicas.
• Seguro Obrigatório de Garantia do Cumprimento das Obrigações do Incorpora-
dor e Construtor de Imóveis e de Garantia do Pagamento à Cargo do Mutuário.
• Seguro Obrigatório de Bens Dados em Garantia de Empréstimos ou Financia-
mentos de Instituições Financeiras Públicas.
• Seguro Obrigatório de Edifícios Divididos em Unidades Autônomas.
• Seguro Obrigatório de Crédito à Exportação.
• Seguro Habitacional Obrigatório de Morte e Invalidez Permanente (MIP) e de
Danos Físicos aos Imóveis (DFI), para os imóveis financiados aos mutuários do
Sistema Financeiro da Habitação. Os seguros anteriores estão listados no Art.
20 do Decreto-Lei 73/1966, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Seguros
Privados, e estão vigentes.
A eles juntaram-se, com o tempo, outros seguros obrigatórios por lei. São eles:
Seguro de Danos Pessoais de Embarcações ou suas Cargas (DPEM) foi instituído pela Lei
8.374/1991, e tem por finalidade dar cobertura de vida e acidentes pessoais a pessoas,
transportadas ou não, inclusive aos proprietários, tripulantes e condutores das embar-
cações, e a seus respectivos beneficiários ou dependentes, sem importar que a embar-
cação esteja ou não em operação.
156

Seguro de Acidentes de Trabalho (SAT): É um seguro antigo, instituído na época do pre-


sidente Getúlio Vargas, mas assumiu maior relevância jurídica a partir da Lei 5.316/1967.
O objetivo é garantir ao empregado segurado do regime de previdência social um se-
guro contra acidente do trabalho, às expensas do empregador, mediante pagamento
de um adicional sobre a folha de salários, garantido atualmente pela Previdência Social.
Seguro Habitacional do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Este seguro foi estabele-
cido em 1964, junto com a Lei 4.380, que criou o Banco Nacional da Habitação (BNH). Ele
cobre morte e invalidez do mutuário e danos físicos ao imóvel financiado no âmbito do
SFH. Foi extinto pela Medida Provisória 478, de 28 de dezembro de 2009.
Seguro de Responsabilidade Civil dos Transportadores. Relativo aos danos pessoais
provocados aos usuários dos serviços de transporte rodoviário interestadual e interna-
cional. Este seguro foi instituído pelo Decreto 2.521, de 20 de março de 1998, e visa a
indenizar as vítimas de acidentes no transporte coletivo interestadual e internacional de
passageiros, sem prejuízo da cobertura do seguro obrigatório de danos pessoais (DP-
VAT).
Seguro Carta Verde. É o seguro obrigatório para automóveis quando em viagem para
países do Mercosul e cobre responsabilidade civil por danos pessoais e materiais causa-
dos a terceiros não transportados pelo veículo segurado. Foi criado pela Resolução 120,
de 1994, do Grupo Mercado Comum, do Mercosul.
Agora, atenção! Durante muitos anos, as dificuldades de fiscalização do pagamento dessas
apólices fizeram com que a maioria fosse deixada de lado pela população, quase esque-
cida de que são de contratação obrigatória. Enquanto a lei não impunha sanção contra o
inadimplemento da obrigação, o esquecimento teve pouca ou nenhuma consequência.
Isso mudou em 2007! De fato, com a edição da Lei Complementar 126, de 2007, o governo
impôs multas pesadas para quem não contratar os seguros legalmente obrigatórios.
A Lei alterou o Art. 112 do Decreto-Lei 73/1966, que passou a ter o seguinte teor: “às
pessoas que deixarem de contratar os seguros legalmente obrigatórios, sem prejuízo
de outras sanções legais, será aplicada multa de: I - o dobro do valor do prêmio, quando
este for definido na legislação aplicável; e II - nos demais casos, o que for maior entre
10% da importância segurável ou R$ 1.000,00”.
Fonte: Tudo sobre Seguros ([2018], on-line)4.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Contabilidade Atuarial
Silney Souza
Editora: Intersaberes
Sinopse: atualmente, no Brasil, percebemos que o mercado
para profissionais que atuam com contabilidade atuarial vem
se expandindo consideravelmente. Trata-se, no entanto, de
uma área que ainda suscita muitos questionamentos, os quais
carecem de explicações objetivas e simples. Esclareça aqui suas
dúvidas sobre diversos aspectos relacionados ao segmento
atuarial, conhecendo sua origem e evolução histórica, e saiba
como funciona a previdência social brasileira e os benefícios
disponibilizados ao contribuinte. Com base nisso, você poderá
compreender melhor as atribuições e responsabilidades do
atuário.

A link sugerido traz a investigação e a sustentabilidade financeira do sistema proposto


de reforma previdenciária e a sua justiça atuarial. Consideramos as regras contidas
na proposta original do governo. Disponpivel em: <https://bibliotecadigital.fgv.br/
dspace/handle/10438/23891>.

Material Complementar
158
REFERÊNCIAS

AZEVEDO, G. H. W. Seguros, Matemática Atuarial e Financeira. São Paulo: Saraiva,


2008.
BRASIL. Decreto n. 61.867, de 11 de dezembro de 1967. Regulamenta os segu-
ros obrigatórios previstos no artigo 20 do Decreto-lei nº 73, de 21 de novembro
de 1966, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/decreto/1950-1969/D61867.htm>. Acesso em: 22 set. 2018.
______. Decreto n. 66.408, de 3 de abril de 1970. Dispõe sobre a regulamentação
do exercício da profissão de Atuário, de acordo com o Decreto-lei nº 806, de 4 de
setembro de 1969. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decre-
to/1970-1979/D66408.htm>. Acesso em: 22 set. 2018.
______. Decreto-Lei n. 73, de 21 de novembro de 1966. Dispõe sôbre o Sistema
Nacional de Seguros Privados, regula as operações de seguros e resseguros e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decre-
to-Lei/Del0073.htm>. Acesso em: 22 set. 2018.
______. Decreto-Lei n. 806, de 4 de setembro de 1969. Dispõe sôbre a profissão
de Atuário e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/Del0806.htm>. Acesso em: 22 set. 2018.
______. Lei n. 6.194, de 19 de dezembro de 1974. Dispõe sobre Seguro Obriga-
tório de Danos Pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por
sua carga, a pessoas transportadas ou não. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/LEIS/L6194.htm>. Acesso em: 22 set. 2018.
______. CNSP. Resolução n. 295 de 25 de outubro de 2013. Dispõe sobre a ativi-
dade de Preposto de Corretor de Seguros e de Previdência Complementar Aberta,
e requisitos básicos para sua nomeação e registro. Disponível em: <http://www2.
susep.gov.br/bibliotecaweb/docOriginal.aspx?tipo=1&codigo=31577>. Acesso em:
22 set. 2018.
MALHEIRO, A. M. P. A Escravidão no Brasil: ensaio histórico-jurídico-social. Rio de
Janeiro: Typografia Nacional, 1866.
SOUZA, S. Seguros: contabilidade, atuária e auditoria. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
SUSEP. Superintendência de Seguros Privados. Guia de Orientação e Defesa do
Segurado. 2. ed. Rio de Janeiro: SUSEP, 2006. Disponível em: <http://www2.susep.
gov.br/download/cartilha/cartilha_susep2e.pdf>. Acesso em: 22 set. 2018.
159
REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <http://www.tudosobreseguros.org.br/>. Acesso em: 22 set. 2018.
2
Em: <http://www.santiagoseguros.com.br/ansef/tabela.php>. Acesso em: 24 set.
2018.
3
Em: <https://simuladorfinanciamento.info/seguro-dpvat/>. Acesso em: 22 set.
2018.
4
Em: <http://www.tudosobreseguros.org.br/tss-tipos-de-seguros/>. Acesso em: 22
set. 2018.
GABARITO

1. D.
2. A.
3. Pelo seguro dotal, o participante constituirá uma reserva, que será atualizada
atuarialmente, e a que terá direito a partir de sua sobrevivência após a idade
constante no contrato.
4. Pelo seguro dotal, o participante constituirá uma reserva, que será atualizada
atuarialmente, e a que terá direito a partir de sua sobrevivência após a idade
constante no contrato.
5. No caso de seguros por sobrevivência, se a tábua prevê um índice de mortali-
dade baixo numa determinada idade, o atuário precificará o valor dos prêmios
levando em conta esse fato, o que acarretará valores mais elevados de prêmios a
serem pagos. Isso porque o pagamento da renda vitalícia ao sobrevivente pode
ser por um período extenso, que deve ser considerado. Caso isso não seja feito,
os valores constituídos como reserva para pagamento dessa renda não serão
suficientes, implicando em prejuízos para a seguradora.
Professora Me. Juliana Moraes da Silva
Professor Me. Paulo Pardo

V
PRODUTOS FINANCEIROS

UNIDADE
E GERENCIAMENTO DE
RISCOS ATUARIAIS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer os principais produtos financeiros disponíveis no mercado.
■■ Entender os riscos associados a produtos financeiros.
■■ Conceituar e contextualizar o risco atuarial.
■■ Compreender os tipos de riscos envolvidos em seguridade.
■■ Estabelecer a importância da gestão de risco atuarial.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Produtos Financeiros
■■ Riscos do Investimento em Fundos
■■ Provisões Técnicas e Limites Operacionais
■■ Exposição aos Riscos
■■ A Gestão de Risco Atuarial
163

INTRODUÇÃO

Um campo em que a Atuária está presente de forma fundamental é o dos pro-


dutos financeiros. Quando imaginamos uma instituição financeira, de maneira
quase automática já pensamos em seus inúmeros produtos que são comercia-
lizados aos clientes. Na verdade, podemos afirmar que o sistema bancário no
Brasil é uma grande feira, um supermercado, com produtos para cada gosto e
para cada bolso.
Alguns produtos podem interessar mais a uma determinada faixa de clientes
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

do que outra. Pode ser que um cliente tenha interesse em aplicar seus recursos
em um fundo de investimento qualquer. Quem determinará a rentabilidade desse
fundo? Quem irá calcular os riscos envolvidos na carteira desse fundo de inves-
timento? Isso mesmo: é o atuário.
Outro objeto importante das ciências atuariais tem a ver com o equilíbrio
econômico-financeiro das empresas seguradoras e das empresas de previdência.
Pense na importância disso. São contratos firmados por pessoas ou empresas
com seguradoras que preveem um horizonte de tempo bastante extenso. Alguns
casos podem chegar a 30, 40 anos ou mais de vinculação a um seguro ou plano
de previdência.
Já pensou se no momento de exercer o direito a uma indenização ou benefí-
cio, a empresa seguradora não tiver condições de arcar com esse compromisso?
IsTo seria desastroso! O sistema cairia em descrédito. As pessoas se sentiriam
inseguras e desesperadas. Um caos!
Bem, pensando sobre isso, os atuários calculam níveis de risco a que suas
empresas estarão expostas e procuram precificar os produtos comercializados
de forma que seja possível remunerar as empresas pelos seus serviços, ao mesmo
tempo em que constituem as reservas destinadas aos pagamentos dos riscos.
Nesta última unidade, vamos conhecer alguns produtos financeiros e consi-
derar como são constituídas as reservas pelas empresas, que ferramentas existem
para mitigar os riscos de seguros e alguns conceitos importantes sobre riscos.
Bons estudos!

Introdução
164 UNIDADE V

PRODUTOS FINANCEIROS

Os produtos financeiros podem ser enten-


didos como os produtos que as instituições
financeiras oferecem no mercado financeiro,
desenvolvendo e vendendo produtos voltados
para aplicações e financiamentos.
Vamos conhecer alguns desses produtos?

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CERTIFICADO DE DEPÓSITO
BANCÁRIO (CDB)

Quando se fala de tradição, temos que, obrigatoriamente, falar de Certificado de


Depósito Bancário (CDB) e Recibo de Depósito Bancário (RDB). Estes papéis são
conhecidos como depósitos a prazo e são os mais tradicionais títulos de renda
fixa emitidos por instituições financeiras para captação de recursos. Esses pro-
dutos permitem que o banco e o cliente saibam, com antecedência, as condições
de remuneração para o prazo e os valores negociados.
Que diferença existe entre CDB e RDB? A diferença básica entre os dois títu-
los é que os CDBs podem ser transferidos por meio de endosso, sendo, portanto,
negociados no mercado. Por sua vez, os RDBs são, obrigatoriamente, nominativos
e intransferíveis, determinando, muitas vezes, variações nas taxas de juros pagas
aos aplicadores. Vamos entender como funciona a remuneração dos CDB/RDBs:
CDB/RDB prefixado: o investidor recebe, no vencimento, a remunera-
ção negociada, conhecida antecipadamente e constante no contrato. Nesta
modalidade, não existe exigência legal de prazo mínimo. Esta definição
fica a cargo de cada instituição financeira.
CDB/RDB pós-fixado: os índices de remuneração do CDB são obtidos
pela variação do indexador escolhido na contratação. Existe, atualmente,
uma exigência legal quanto ao prazo mínimo de contratação de CDB,
conforme o indexador utilizado.

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


165

No quadro seguinte, observamos os prazos de acordo com os indexadores:


Quadro 1 - Prazos De indexadores

INDEXADORES PRAZO MÍNIMO


Taxa Referencial (TR) 1 mês
Taxa de Juros de Longo Prazo (LP) 1 mês
Taxa Básica Financeira (TBF) 2 meses
Certificado de Depósitos Interfinanceiros (CDI) Não exigido
Taxa Média Selic (TMS) Não exigido
Fonte: os autores.
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POUPANÇA

Desde criancinha, você ouve falar em caderneta de poupança. Me lembro que,


aqui, no Paraná, tínhamos o Banestado, o Banco do Estado do Paraná, que dis-
tribuía uns porquinhos de plástico que minha mãe nos dava para colocarmos
nossas moedinhas. Quando o porco estava bem pesadinho, minha mãe ia comigo
e meus irmãos ao banco e dava um dó ver o coitado do porco “estripado” para con-
tar as moedas. Depois, o funcionário do banco anotava o valor numa caderneta,
isso mesmo, uma caderneta de papel com uma capa de plástico com o símbolo
do banco, o total depositado e o saldo da poupança. Eu achava aquilo o máximo!
A caderneta de poupança, ou simplesmente, poupança, é a aplicação mais
simples e tradicional, sendo uma das poucas, senão a única, em que se podem
aplicar pequenos valores e ter liquidez, apesar da perda de rentabilidade para
saques fora da data de aniversário da aplicação, segundo Fortuna (2011, p. 371).
A caderneta de poupança tradicional (depósito de poupança nas entida-
des integrantes do SBPE – Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) é um
produto exclusivo das SCI (Sociedades de Crédito Imobiliário), das carteiras
imobiliárias dos bancos múltiplos, das associações de poupança e empréstimo
e das caixas econômicas.
Os recursos das cadernetas de poupança devem ser aplicados de acordo com
as regras preestabelecidas pelo Banco Central, regras que, conforme as variáveis
econômicas do momento, podem ser alteradas.

Produtos Financeiros
166 UNIDADE V

Atualmente, o direcionamento dos recursos captados em depósitos de pou-


pança pelas instituições integrantes do SBPE está determinado pelo regulamento
da Resolução e deve ser distribuído da seguinte forma:
■■ No mínimo 65% em operações de financiamento imobiliário.
■■ No mínimo 80% do percentual acima (cerca de 52%) em operações de
financiamento habitacional no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação
– SFH.
■■ O restante (cerca de 13%) em operações de financiamento imobiliário

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
contratadas a taxas de mercado.
■■ 20% em encaixe obrigatório do Banco Central.
■■ Os recursos remanescentes em disponibilidades financeiras e em outras
operações admitidas nos termos da legislação e da regulamentação em
vigor.

Qual é o rendimento da poupança? Bem, primeiramente, devemos saber que a


poupança é considerada um investimento bastante conservador e, por isso, sua
rentabilidade é baixa se comparada a investimentos de perfil mais agressivo.
A Lei n. 12.703 de 2012 estabelece que a remuneração da poupança passa a
seguir a esta regra básica:
a) Para os saldos de depósitos de poupanças efetuados até 8 de agosto de 2012:
■■ em cada período de rendimento, o rendimento será pela Taxa Referencial
- TR, relativa à data de seu aniversário, acrescida de juros de 0,5% (cinco
décimos por cento) ao mês.
b) Para os saldos de depósitos de poupança efetuados após 8 de agosto de
2012:
■■ 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, enquanto a meta da taxa Selic
ao ano, definida pelo Banco Central do Brasil, for superior a 8,5% (oito
inteiros e cinco décimos por cento); ou
■■ 70% (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano, definida pelo
Banco Central do Brasil, mensalizada, vigente na data de início do perí-
odo de rendimento, nos demais casos.

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


167

Quadro 2 - Remuneração atual da poupança

Selic acima de 8,5% aa Selic igual ou abaixo de 8,5% aa


0,5% am + TR 70% da Selic + TR
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: os autores.

A vantagem da poupança é a isenção do IOF, presente nos primeiros 30 dias de


um fundo de investimento, por exemplo.
Uma observação interessante é que não há qualquer diferença de remune-
ração de poupança entre uma instituição financeira e outra. A remuneração é
exatamente igual, independentemente de que instituição você escolhe para aplicar.

FUNDOS DE INVESTIMENTO

Um Fundo de Investimento é uma forma de aplicação financeira formada pela


união de vários investidores que se juntam para a realização de um investimento
financeiro, organizada sob a forma de pessoa jurídica, tal qual um condomínio,
visando um determinado objetivo ou retorno esperado, dividindo as receitas
geradas e as despesas necessárias para o empreendimento.
A CVM – Comissão de Valores Mobiliários, por meio das instruções CVM
409 de 18 de agosto de 2004, com alterações até 2014, define assim um fundo de
investimento: “o fundo de investimento é uma comunhão de recursos, consti-
tuída sob a forma de condomínio, destinado à aplicação em ativos financeiros,
observadas as disposições desta Instrução” (BRASIL, 2004, p. 2).

Produtos Financeiros
168 UNIDADE V

Com o objetivo de dar maior transparência ao investidor ao comparar fun-


dos em instituições diferentes, algumas regras foram estabelecidas em respeito,
por exemplo, à nomenclatura do fundo. A denominação do fundo deverá con-
ter a expressão “Fundo de Investimento”, com o acréscimo da referência à classe
do fundo, podendo ter, ainda, expressões que indiquem o tratamento tributário
específico a que estejam sujeitos o fundo ou seus cotistas.
A administração e a gestão do fundo são realizadas por especialistas contratados.
Os administradores tratam dos aspectos jurídicos e legais do fundo, os gestores, da
estratégia de montagem da carteira de ativos do fundo, visando o maior lucro possível

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
com o menor nível de risco. Dependendo do tipo de fundo, as carteiras, geralmente,
podem ser mais diversificadas ou menos diversificadas, podendo conter ativos de
diversos tipos, tais como ações, títulos de renda fixa, títulos cambiais, derivativos ou
commodities negociadas em bolsas de mercadorias e futuros, dentre outros.
Todo o dinheiro aplicado nos fundos é convertido em cotas, que são distribuídas
entre os aplicadores ou cotistas, que passam a ser proprietários de partes da carteira,
proporcionais ao capital investido. O valor da cota é atualizado diariamente, e o cál-
culo do saldo do cotista é feito multiplicando o número de cotas adquiridas pelo
valor da cota no dia. O dinheiro aplicado nos fundos é utilizado para a compra de
títulos diversos, por exemplo, ações, títulos públicos, certificados de depósitos ban-
cários (CDB) etc., conforme a política de investimento de cada fundo.
Uma das principais vantagens de se investir em fundos é a comodidade para
o investidor, que prefere deixar sob os cuidados de especialistas a gestão de seus
recursos. Uma equipe de gestores acompanha e analisa o mercado diariamente
em busca de boas oportunidades de investimento, o que, muitas vezes, o investi-
dor não tem tempo e nem condições de fazer. Em virtude do volume de dinheiro
que capta, o fundo consegue taxas mais vantajosas em várias operações do que
um pequeno e médio investidor individualmente conseguiria.
Os fundos são investimentos com alta liquidez, o que permite, na grande
maioria dos casos, saques a qualquer momento sem nenhum tipo de carência. A
exceção mais importante é no caso dos fundos fechados, os quais não admitem
resgate de cotas, apenas a venda das cotas no mercado secundário. A rentabili-
dade de cada fundo é determinada pela estratégia de investimento adotada pelo
gestor, que deve respeitar as características definidas no seu estatuto. Existem

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


169

fundos conservadores e fundos mais agressivos com diferentes graus de risco


definidos de acordo com seu objetivo.
Se um fundo conseguir rentabilidade de 3% em um mês, todos os cotistas terão
a mesma valorização, independentemente do valor aplicado. As taxas e os impos-
tos têm grande importância na rentabilidade do fundo, portanto, vale a pena ficar
atento às taxas cobradas, que variam de acordo com o fundo e com a instituição.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

RISCOS DO INVESTIMENTO EM FUNDOS

A carteira de ativos de um fundo de investimento é, geralmente, formada por


ativos de diversos tipos, com diferentes graus de risco. O risco total da carteira
do fundo é repassado ao aplicador ou cotista do fundo. O risco de um fundo de
investimento pode ser definido como o grau de incerteza na obtenção do retorno
esperado investindo em um determinado fundo. Dessa forma, os fundos podem
ser classificados como de baixo, médio e alto risco. Geralmente, fundos de baixo
risco apresentam um maior nível de segurança ao investidor, mas em contra-
partida, costumam ter um retorno menor. Fundos de alto risco, por outro lado,
podem trazer um retorno mais alto, mas com um grau muito maior de incer-
teza, podendo, até mesmo, trazer prejuízos aos investidores.
Identificamos, a seguir, quais são os principais riscos que incorrem ao apli-
cador (investidor) em fundos financeiros:
■■ Risco de mercado: risco inerente a oscilações dos mercados em que os ati-
vos financeiros, que fazem parte da carteira do fundo, foram adquiridos.
■■ Risco de crédito: risco de crédito se refere a uma possível incapacidade das
instituições financeiras, responsáveis pela emissão dos ativos financeiros
componentes da carteira, de honrarem seus compromissos financeiros
assumidos com os investidores. Esta situação pode ser causada por proble-
mas financeiros oriundos de uma má administração ou gestão, dificuldades
com planos econômicos etc. Esta problema também pode ocorrer com a
própria entidade administradora do fundo de investimento.

Riscos do Investimento em Fundos


170 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Retorno e risco são duas variáveis que andam juntas no mundo dos investi-
mentos. Quanto maior a possibilidade de retorno maior o risco envolvido. Por
exemplo, fundos que investem mais do que seu patrimônio no mercado futuro
e que podem ter alta rentabilidade em certos períodos, trazem consigo um alto
risco e a possibilidade de rendimentos negativos durante algum período. Os fun-
dos mais conservadores procuram garantir mais segurança aos seus investidores
e, portanto, rentabilidades menores.

ADMINISTRADORES DOS FUNDOS DE INVESTIMENTO

Os administradores de fundos são as instituições financeiras responsáveis legais


perante os órgãos normativos e reguladores, a Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) e o Banco Central, além de determinar a política e o regulamento de
cada fundo. Existe também a figura do gestor de fundos, que é responsável pela
escolha dos papéis, avaliação dos cenários e montagem das carteiras. No Brasil,

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


171

existem administradores que realizam a gestão de seus fundos e que também


terceirizam esta gestão para gestores independentes. São profissionais especiali-
zados que acompanham o mercado e procuram definir os melhores momentos
de compra e venda e quais ativos comporão a carteira do fundo.
O administrador será o responsável pela representação do fundo perante
os órgãos de fiscalização do governo federal – Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) ou o Banco Central do Brasil. Necessariamente, o administrador deverá
ser de uma instituição financeira aprovada pelo Banco Central do Brasil. Uma
das funções do administrador é a determinação do valor da cota do fundo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Cada fundo de investimento se constitui como pessoa jurídica própria, não


se confundindo com a instituição gestora. O que significa que o dinheiro apli-
cado num fundo está resguardado de qualquer eventual problema financeiro que
a administradora ou a gestora venham a ter.
É obrigação dos administradores de recursos fornecerem todo o tipo de
informação relevante para o cotista sobre a política de investimento do fundos,
os riscos envolvidos e os principais direitos e responsabilidades dos investido-
res e dos gestores. O prospecto e o regulamento do Fundo são os instrumentos
básicos de informação no momento inicial do investimento. No entanto durante
o período de permanência do investidor no fundo, ele deve ser informado sobre
todas as mudanças importantes, seja na equipe de gestores ou no estatuto do
fundo. A utilização do correio eletrônico (e-mail) como meio de comunicação
entre o administrador de fundos e os cotistas é uma das principais inovações
nas regras do fundo.
Embora rentabilidade passada não seja garantia de rentabilidade futura, a
evolução do valor das cotas do fundo é um bom parâmetro para se tomar como
base a escolha de um fundo de investimento e seus administradores. Entretanto,
é importante saber se a política de gestão praticada, o gestor e os procedimentos
de análises atuais são os mesmos que garantiram aquela rentabilidade passada.
O administrador deverá, ainda, contratar os serviços de uma empresa de
auditoria, pois o balanço social do fundo deve ser auditado por uma empresa
independente.

Riscos do Investimento em Fundos


172 UNIDADE V

GESTÃO DOS RECURSOS EM FUNDOS DE INVESTIMENTO

Sem dúvida, uma regra que confere uma transparência maior ao investidor, tem
a ver com a gestão dos recursos em fundos de investimento. Você sabia, por
exemplo, que os fundos de investimento têm que ter uma escrituração contábil
própria, para evitar conflito de interesses e também para assegurar a segrega-
ção entre a gestão dos recursos da instituição administradora e os recursos de
terceiros, ou seja, o patrimônio do fundo? Essa regra é conhecida no mercado
financeiro como Chinese Wall, ou Muralha da China.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A instituição administradora do fundo de investimento é a responsável pela
contabilização e pelo controle do ativo e passivo do fundo. No caso do passivo,
representa as fontes de recursos do fundo, o qual é constituído dos valores devidos
aos cotistas mais as taxas e demais encargos a pagar. No caso do ativo, repre-
sentam-se as aplicações financeiras do fundo em títulos e valores mobiliários.

TIPOS DE FUNDOS EXISTENTES NO MERCADO

É a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que classifica os fundos de investi-


mento. O processo de classificação de fundos se completa com a classificação da
Associação Nacional dos Bancos de Investimento (ANBID, agora incorporada pela
ANBIMA). A classificação, com a composição das diferentes carteiras, é a seguinte:
1. Fundo de Curto Prazo: pode aplicar exclusivamente em títulos públi-
cos federais pré-fixados ou indexados à taxa SELIC, ou título indexados
a índices de preços, com prazo máximo no decorrer de 375 dias, e prazo
médio da carteira do fundo inferior a 60 dias, sendo permitida a utili-
zação de derivativos somente para a proteção da carteira e a realização
de operações compromissadas lastreadas em títulos públicos federais.
2. Fundo Referenciado: deve identificar, na denominação, a referência do
seu indicador de desempenho, que deve estar expressamente definido na
denominação do fundo em função da estrutura dos ativos financeiros
integrantes da respectiva carteira, desde que atendidas, cumulativamente,
as seguintes condições:

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


173

a. Tenha 80%, no mínimo, de seu patrimônio líquido representado, iso-


lada ou cumulativamente, por títulos públicos federais, títulos e valores
mobiliários de renda fixa cujo emissor esteja classificado na categoria
baixo risco de crédito ou equivalente, com certificação por agência de
classificação de risco localizada no país, exceto em relação aos fundos
referenciados em índices do mercado de ações.
b. Estipule que 95%, no mínimo, da carteira seja composta por ativos
financeiros de forma a acompanhar, direta ou indiretamente, a varia-
ção do indicador de desempenho (benchmark) escolhido.
c. Restrinja a respectiva atuação nos mercados de derivativos à realiza-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ção de operações com o objetivo de proteger posições detidas à vista,


até o limite destas.
3. Fundo de Renda Fixa: deve possuir, no mínimo, 80% da carteira em ati-
vos relacionados diretamente, ou sintetizados via derivativos, ao fator de
risco que dá nome à classe (variação da taxa de juros doméstica ou de
índice de inflação ou ambos).
4. Fundo de Ações: deve possuir, no mínimo, 80% da carteira em ativos rela-
cionados diretamente, ou sintetizados via derivativos, ao fator de risco
que dá nome à classe (variação de preços de ações admitidas à negocia-
ção no mercado à vista de bolsa de valores ou entidade do mercado de
balcão organizado).
a. Deve possuir, no mínimo, 67% da carteira em ações admitidas à nego-
ciação no mercado à vista de bolsa de valores ou entidade do mercado
de balcão organizado.
5. Fundo Cambial: deve possuir, no mínimo, 80% da carteira em ativos rela-
cionados diretamente, ou sintetizados via derivativos, ao fator de risco
que dá nome à classe (variação de preços de moeda estrangeira).
6. Fundo de Dívida Externa: deve aplicar, no mínimo, 80% de seu patrimônio
em títulos representativos da dívida externa de responsabilidade da União,
sendo permitida a aplicação de até 20% do patrimônio líquido em outros
títulos de crédito transacionados no mercado internacional. Para o inves-
tidor brasileiro, esse fundo é a única forma de aplicar nos papéis emitidos
pelo governo brasileiro negociados no exterior. Os títulos representativos
da dívida externa de responsabilidade da União devem ser mantidos, no
exterior, em conta de custódia em nome do fundo, no Sistema Euroclear
ou na LuxClear - Central Securities Depositary of Luxembourg (CEDEL).

Riscos do Investimento em Fundos


174 UNIDADE V

7. Fundo Multimercado: deve possuir políticas de investimento que envolvam


vários fatores de risco, sem o compromisso de concentração em nenhum
fator em especial ou em fatores diferentes das demais classes previstas.
8. Fundos de Previdência: são fundos de investimento destinados a acolher
os recursos captados pelo plano gerador de benefícios livres (PGBLs).
9. Direitos Creditórios: a carteira de investimento desses fundos é composta,
em sua totalidade, por títulos que representam operações realizadas nos
segmentos financeiro, comercial, industrial, imobiliário, de arrendamento
mercantil e de prestação de serviços. Esses títulos são conhecidos como

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
recebíveis, e esses fundos possuem uma regulamentação própria (Instru-
ção CVM 356/2001 e 399/2003 e suas modificações).

Além dos fundos mencionados anteriormente, ainda existe o chamado Fundo


Exclusivo, que são fundos cujas cotas pertencem a um único cotista, destinado
a atender especialmente clientes de grande porte, e que são classificados como
investidores qualificados.
Investidor qualificado? O que é isso? São considerados investidores
qualificados:
■■ Instituições financeiras.
■■ Companhias e sociedades de capitalização.
■■ Entidades abertas e fechadas de previdência complementar.
■■ Pessoas físicas ou jurídicas que possuam investimentos financeiros em
valor superior R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) a e que, ainda,
atestem por escrito sua condição de investidor qualificado mediante
um termo próprio.
■■ Administradores de carteiras e consultores de valores mobiliários auto-
rizados pela CVM, em relação aos seus próprios recursos.

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


175
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

PROVISÕES TÉCNICAS E LIMITES OPERACIONAIS

Em um mercado tão dinâmico como o de seguros, é preciso estabelecer alguns


critérios para a gestão correta das seguradoras, com o objetivo de manter a saúde
financeira destas entidades.
Todos nós temos interesse que a saúde das seguradoras seja a melhor pos-
sível. É o nosso futuro (e dos nossos entes queridos) que está em jogo. Pode ser
também o patrimônio de uma vida. Não é um assunto banal falar sobre estas
regras. Vamos conhecer, então, algumas provisões que, obrigatoriamente, deve-
rão ser constituídas pelas sociedades seguradoras.
Provisões técnicas: a garantia de que a companhia seguradora terá condições
de arcar com seus compromissos são as provisões técnicas que, obrigatoriamente,
essas empresas devem constituir. A Resolução n. 120 do CNSP, de 24, de dezem-
bro de 2004, estabeleceu que as provisões técnicas serão divididas em provisões
técnicas comprometidas e provisões técnicas não comprometidas.

Provisões Técnicas e Limites Operacionais


176 UNIDADE V

Conforme Souza (2007), essa classificação pode ser descrita da seguinte forma:
Provisões Técnicas Comprometidas: englobam os prêmios não ga-
nhos e os sinistros ocorridos, mas ainda não pagos. A provisão de sinis-
tros a liquidar é constituída com base em estimativas do valor provável
dos pagamentos, baseada nos avisos recebidos até a data do balanço.

A provisão de sinistros a liquidar do ramo vida corresponde ao respec-


tivo capital segurado. No seguro saúde, a reserva de sinistro é consti-
tuída pelo valor do reembolso pleiteado pelo segurado, tomando como
base a documentação apresentada, após o atendimento.

A provisão de sinistros a liquidar deve ser constituída mensalmente e

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corresponder, na data de sua avaliação, à quantia total das indeniza-
ções a pagar por sinistros ocorridos, relativos aos seguros, cosseguros,
resseguros e retrocessões aceitos pela sociedade, deduzidas as parcelas
correspondentes às recuperações de resseguros cedidas.

Provisões Técnicas Não Comprometidas: constituída da provisão de


prêmios não ganhos, tarifa referencial, provisão de riscos decorridos,
provisão matemática, fundo de garantia de retrocessão.

Provisão de prêmios não ganhos: a provisão de prêmios não ganhos


representa a parcela do prêmio correspondente ao período do risco
ainda não decorrido.

Provisão de riscos decorridos: a constituição da provisão de riscos


decorridos objetiva dar cobertura aos sinistros ocorridos e ainda não
avisados, relativos aos ramos de seguro de riscos decorridos, nos quais
o prêmio é pago mensalmente, e a receita é ganha no período de vi-
gência da fatura mensal. É calculada mensalmente na base de 50% da
receita de prêmios correspondentes ao mês de constituição da provisão
(SOUZA, 2007, p. 68-69).

Uma informação interessante é que a Resolução 2.286, de 5 de junho de 1996, do


Banco Central, estabeleceu que as chamadas reservas não comprometidas podem
ser aplicadas, na sua totalidade, em títulos emitidos pelo Tesouro Nacional ou
pelo Banco Central. Essa Resolução também reduziu o limite de aplicação em
imóveis, de 100% para 80%, no caso das reservas não comprometidas, e de 50%
para 30% nas reservas comprometidas. Em relação às aplicações em ativos de
renda variável, é permitida a compra de ações, bônus de subscrição de ações e
certificados de depósitos emitidos por companhias abertas com sede nos países
do Mercosul (SOUZA, 2007).

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Além das provisões mencionadas anteriormente, temos, ainda, a obriga-


ção, por parte das seguradoras, da constituição da Provisão matemática, que
deve ser constituída a cada trimestre e deve compreender todos os compromis-
sos relativos aos contratos de seguro de vida individual vigentes, em todas as
suas várias modalidades.
Faz parte, ainda, dos mecanismos de garantia de solvência, o Fundo de
garantia de retrocessão. Esses recursos correspondem a 15% do lucro que as
operações de retrocessões do IRB proporcionarem à companhia.
Dentro desta mesma lógica, constitui-se também o Fundo de Garantia
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Operacional. A Circular n. 2, de 19 de março de 1976, obriga a constituição deste


fundo destinado a possibilitar financiamento para neutralizar desequilíbrios even-
tuais e vultosos, que possam comprometer a estabilidade das retrocessões efetuadas
pelo IRB. As seguradoras contribuem para a constituição deste fundo de garantia
operacional num percentual de 3% dos prêmios líquidos que lhe forem retrocedidos,
excedentes únicos ou consórcios com liquidação mensal dos saldos (SOUZA, 2007).

EXPOSIÇÃO AOS RISCOS

O assunto que trata de exposição aos riscos é extremamente relevante no mundo


dos seguros e no trabalho do atuário. A apuração de um risco sobre determi-
nado evento envolve técnicas complexas de cálculo, levando em consideração
fatos estatísticos e sociais. Por exemplo, veja o caso dos seguros de automóveis.
Como você deve saber, dependendo do gênero (se masculino ou feminino), da
idade (se mais jovem ou mais idoso), do estado civil (se casado ou solteiro), os
custos de contratação podem variar muito.
Algumas seguradoras, por exemplo, consideram que o risco para contrata-
ção de seguro de automóvel para um jovem ou uma jovem entre 18 a 25 anos é
elevado demais para assumir a contratação de uma apólice. Por isso, conside-
ram esta situação como risco excluído.

Exposição aos Riscos


178 UNIDADE V

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Outra situação é a diferença entre o preço de seguros para homens e mulhe-
res. Geralmente, o custo para as mulheres é menor, pois elas são consideradas
mais prudentes, envolvem-se menos em colisões, e quando estas acontecem,
geralmente são danos de menor monta do que para os homens, além do que as
mulheres costumam não dirigir após beber.
Essa diferença de preços é a filosofia atual das seguradoras, que contratam seguros
com base no perfil do contratante. Esta é uma atitude prudente das segurado-
ras, que se resguardam em se expor a riscos elevados demais, os quais poderiam
comprometer sua capacidade econômico-financeira.
De acordo com Souza (2007), podemos identificar dois elementos essenciais
quando falamos de riscos em seguros. São esses:
[...] os riscos ordinários – os riscos que podem ser segurados – e riscos
extraordinários – os riscos não seguráveis, ou seja, que não se subme-
tem a uma regularidade estatística, por serem tão incontroláveis e im-
previsíveis, reduzindo sobremaneira ou, mesmo, anulando as chances
de se encaixarem nos planos de seguro.

De forma geral, os riscos extraordinários são associados às intempéries


da natureza e às guerras. Em princípio, ambos não podem ser segura-
dos e, se o forem, precisam de condições especiais.

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


179

Na prática, as apólices refletem esta classificação, contendo uma cláu-


sula com os riscos cobertos seguida de outra em que se mencionam as
exclusões (SOUZA, 2007, p. 71).

Como saber a exposição máxima ao risco que uma seguradora pode assumir?
Algumas considerações devem ser feitas; uma delas é considerar sua capacidade
operacional. Souza (2007, p. 71) menciona que o grau máximo de responsabi-
lidade que uma seguradora pode assumir “está diretamente relacionado ao seu
patrimônio líquido ajustado (PLA) (Resolução CNSP 82/02), isto é, capital
social e reservas, livres de quaisquer ônus”.
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Este valor é que determinará, na verdade, qual será seu limite operacional.
Esse limite é calculado a cada trimestre, baseando-se nos ativos de 30 de junho
a 31 de dezembro de cada ano e vigora de 01 de outubro do mesmo ano ao dia
01 de abril do ano seguinte (SOUZA, 2007).
Sobre limite operacional, temos ainda outra classificação:
O Limite Técnico: são limites fixados por ramo de seguros e que variam entre
10% a 100% do limite operacional. O IRB estabelece um limite técnico mínimo
por ramo de seguro e as seguradoras não podem estabelecer seus limites técni-
cos em valores inferiores a essa referência. Conforme Souza (2007), a companhia
seguradora deve requerer semestralmente à SUSEP a aprovação do limite opera-
cional, e para o IRB, o limite técnico que pretende operar em cada ramo de seguro.
Algumas situações de seguro podem ser encaradas pela seguradora como
acima de sua capacidade ou com risco elevado demais para sua política de segu-
ros. No entanto, negocialmente falando, pode ser um bom negócio.
Imagine quanto custaria o seguro de uma plataforma de petróleo, de um
navio de cargas, de uma planta industrial, por exemplo. Sem dúvida, analisando
pelo aspecto negocial, o retorno para a seguradora pode ser muito interessante.
No entanto assumir sozinha este risco, e caso o sinistro ocorra, as consequên-
cias poderiam ser catastróficas. Como lidar com situações assim? Na verdade, as
seguradoras valem-se de alguns mecanismo que elencamos na Quadro 2 seguinte:

Exposição aos Riscos


180 UNIDADE V

Quadro 2 - Mecanismos de mitigação de riscos

MECANISMOS
DE MITIGAÇÃO CARACTERÍSTICAS OPERACIONALIZAÇÃO
DE RISCO
Operação na qual se reparte O segurador oferece participação a uma
um determinado risco de um ou mais congêneres. Esta aceitando,
determinado segurado entre o segurador torna-se líder e emite a
duas ou mais seguradoras. apólice cobrindo totalmente o risco e
No cosseguro, são emitidas mencionando expressamente no seu
tantas apólices quantas contexto, em folha separada, os nomes
forem as seguradoras envol- e percentuais de cada participante. As

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vidas, ou apenas uma apólice responsabilidades das seguradoras
para uma das companhias, vigoram, dessa forma, simultaneamen-
denominada líder. te, sobre os mesmos bens e cobrindo os
Assim, no cosseguro, há sem- mesmos riscos proporcionalmente.
pre mais de um segurador. O procedimento de repasse do valor
Cosseguro Cada um deles será responsá- do prêmio arrecadado pela empre-
vel por uma parte do total se- sa líder (segurador) é efetuado por
gurado e do total do prêmio intermédio do banco recebedor dos
(dividido de acordo com a prêmios de seguro e repassado para as
quota de cada segurador). companhias seguradoras participantes
dos prêmios de acordo com posição
informada pela seguradora líder.
O segurado não necessariamente toma
ciência dessa operação, já que é a ope-
radora líder que fará o pagamento.
Em caso de não ser honrado por uma
das seguradoras, as demais se respon-
sabilizam pela cota de indenização.

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


181

O seguro do seguro, a ope-


ração na qual um segurador Resseguro de excedente de responsabili-
tem determinado risco dade: o segurador repassa ao resse-
diminuído pela atribuição gurador a importância segurada que
a outro segurador de parte ultrapassa o seu limite técnico em cada
da responsabilidade e do risco isolado, inclusive o prêmio do
prêmio recebido. seguro proporcionalmente é transferi-
Pode-se dizer, então, que o do e, em contrapartida, recebe a quota
segurador efetua um “segun- que lhe cabe na indenização total,
Resseguros
do seguro” relativo ao exce- quando ocorrer.
dente do seu limite de risco. Resseguro de excesso de dano: o
O segurador presta contas segurador paga ao ressegurador certa
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com o ressegurador por meio percentagem do total da produção


de contas correntes, pagando aceita; em contrapartida, havendo
a parte do prêmio corres- sinistro, recebe do ressegurador parte
pondente ou recuperado e do prejuízo que ultrapasse o seu limite
a parte da indenização que técnico.
pagou no caso de sinistro.
Quando a capacidade do Para aceitar um resseguro, o ressegu-
ressegurador atingir seu rador deve estar numa das situações a
limite, os excessos de respon- seguir:
sabilidades são transferidos - Montante da responsabilidade en-
por meio de uma operação quadra-se dentro de seu limite técnico.
chamada retrocessão, que - Montante da responsabilidade
o ressegurador faz das res- excede o seu limite técnico, porém,
ponsabilidades que excedem esse excesso enquadra-se dentro da
seus limites, pulverizando o soma dos limites técnicos de todas as
Retrocessão risco. seguradoras, que é a capacidade de
Os resseguradores do resse- retenção do mercado interno.
gurador são as próprias segu- - Montante da responsabilidade
radoras, dentro de um limite ressegurada excede a capacidade de
de capacidade econômica de retenção do mercado interno, que é
indenizar o mercado interno, o limite de retenção do ressegurador
e os resseguradores estran- mais os limites de retenção das segura-
geiros, se após a operação doras, optando em dividir responsabili-
de retrocessão ainda houver dades com resseguradora do mercado
excessos. externo.
Fonte: adaptado de Souza (2007).

Souza (2007) informa que a seguradora não é obrigada a aceitar toda a retro-
cessão, porém é obrigada a aceitar, no mínimo, 50% do que lhe foi oferecido.

Exposição aos Riscos


182 UNIDADE V

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A GESTÃO DE RISCO ATUARIAL

Como dissemos ao longo deste livro, um dos principais trabalhos do atuário é a


apuração de risco. Esse trabalho envolve complexos cálculos matemáticos, fór-
mulas e modelos que são aplicados e refinados periodicamente.
Isto porque o risco é um componente presente em investimentos, em pre-
vidência, seguros, enfim, onde há recursos transitando, o elemento risco estará
presente.
Entender esta dimensão e efetuar a apuração dos riscos é o que chamamos
em Ciências Atuariais como Gestão do Risco Atuarial.
Conforme Rodrigues (2008, p. 93), risco pode ser entendido como “a métrica
relativa a possíveis perdas imputadas a entes econômicos frente às incertezas
relativas a suas atividades. São denominados entes econômicos por estarem sub-
metidos a danos ou perdas de valor econômico mensurável”.
Assim, podemos definir gestão de risco como:
[...] o conjunto de pessoas, métricas de controle e sistemas direcionados
a dimensionar e controlar os riscos identificados e associados ao ente
econômico e risco atuarial como um fenômeno que tem consequências
econômicas e que está sujeito a incertezas com respeito a uma ou mais
causas das variáveis do risco atuarial: ocorrência, prazo e severidade
(RODRIGUES, 2008, p. 93).

O risco atuarial preocupa-se em identificar se uma pessoa ou um bem é um

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


183

objeto de risco para fins de cálculo de risco atuarial. Sempre se considera no


risco atuarial ambiente ou campo de atuação, o tempo de ocorrência e a medida
do potencial de dano possível.
Conforme Rodrigues (2008), costuma-se classificar a Gestão de Risco Atuarial
em riscos pessoais, que envolvem os seguros de pessoas (incluindo previdên-
cia), e riscos elementares, os quais teremos uma gama enorme de possibilidades.
Os atuários, para gerir os riscos atuariais, valem-se de três abordagens, expos-
tas por Rodrigues (2008):
a) Princípios: posições fundadas na observação e na experiência.
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Princípios só serão alterados se mudanças fundamentais ocorrerem


em nossa compreensão do mundo observado.

b) Metodologias: descrições de aplicações de Princípios para áreas de-


finidas de prática. Considerando que Metodologias representam o
estado da arte, é provável que elas mudem conforme novas técnicas
sejam desenvolvidas em várias áreas de prática.

c) Padrões: regras de comportamento, incluindo, em particular, dire-


tivas sobre quando e como o julgamento profissional deve ser em-
pregado. Alguns padrões são prescrições de conduta profissional
e, normalmente, não estão sujeitos a mudanças. Outros envolvem
julgamentos necessários para serem aplicados em Princípios e Me-
todologias, a circunstâncias de prática, podendo mudar conforme
mudem essas circunstâncias (RODRIGUES, 2008, p. 94).

O objetivo da Gestão de Risco Atuarial é reduzir o impacto de uma ou mais


variáveis do risco atuarial, sempre visando a preservar a solvência das empresas
envolvidas nas coberturas. Para isso, o atuário vale-se da Matemática Atuarial, que,
por sua vez, divide-se em dois segmentos: o Cálculo Atuarial e a Teoria do Risco.
O Cálculo Atuarial, de acordo com Rodrigues (2008), está ligado ao seg-
mento vida, fornecendo meios para apuração de prêmios de seguros ligados à
vida e aos custos previdenciários. A base para os cálculos atuariais, conforme
vimos em unidades anteriores, é a tábua de mortalidade.
A Teoria do Risco também é subdividida em três segmentos:
a) Teoria do Risco (modo individual).
b) Teoria do Risco (modo coletivo).
c) Teoria da Ruína.

A Gestão de Risco Atuarial


184 UNIDADE V

Rodrigues (2008) mostra que o modelo de risco individual está baseado


no fato de que a apuração do valor total das indenizações é feita de forma indi-
vidual, fundamentada na distribuição do valor do sinistro e suas ocorrências,
sendo que o modelo coletivo segue a mesma lógica, porém levando em conta
um conjunto de indivíduos de uma dada população.
A Teoria da Ruína, conforme Rodrigues (2008, p. 99), “investiga as condi-
ções de risco do segurador em relação ao capital investido, os créditos advindos
dos prêmios ganhos, as perdas por decorrência dos sinistros pagos e o tempo
em que tais eventos ocorrem”.

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A dificuldade do trabalho do atuário justamente está nos fenômenos sociais
mutáveis e num componente sobre o qual ele consegue apenas fazer previsões:
o futuro. Infelizmente, não temos ainda uma máquina do tempo que nos possa
dizer exatamente que eventos ocorrerão no futuro. É preciso estimá-los. Esta
estimativa é tão mais difícil quanto maior o horizonte de tempo considerado.
Se dizer se haverá chuva ou sol
nos próximos sete dias é teme-
rário, imagine prever como será
a perspectiva da população num
futuro de 30, 50 ou 100 anos.
É exatamente esta falta de
precisão que dá ao trabalho
do atuário uma responsabili-
dade enorme, pois lida com a
saúde financeira da empresa que
está vinculado e com a vida e
o patrimônio de todos os que
confiaram na companhia segu-
radora ou de previdência para
lhes dar tranquilidade.

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


185

COMPREENDENDO OS TIPOS DE RISCO

Especificamente falando de riscos para empresas seguradoras, de previdência e


capitalização, Rodrigues (2008) elenca as seguintes categorias de riscos:
a) Econômico: Divide-se em riscos puros e especulativos. Os puros são
aqueles que envolvem a possibilidade de haver ou não uma perda
para o segurado, nunca um ganho. São os riscos seguráveis. Os espe-
culativos são aqueles em que o segurado tem chances de perder ou
ganhar. São considerados riscos não seguráveis e devem ser tratados
sob técnicas comerciais ou financeiras.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

b) Comportamental: Divide-se em riscos ordinários e extraordinários.


Os ordinários caracterizam-se pela previsibilidade de seu compor-
tamento estatístico, ou seja, podem ser tratados por técnicas estatís-
tico-atuariais, em que se aplicarão regras de distribuição de proba-
bilidades. Os extraordinários não se submetem a nenhuma regra de
distribuição conhecida, caracterizando-se por propiciar resultados
estatístico-atuariais de pouca ou nula credibilidade, inviabilizando o
segurador pela imponderabilidade dos resultados. Embora os riscos
ordinários e extraordinários estejam subordinados ao risco puro, ape-
nas os ordinários submetem-se a tratamento securitário, uma vez que
suas características de previsibilidade o permitem. Riscos extraordiná-
rios, por suas características catastróficas, impessoais e de imensura-
bilidade de danos, tornam-se riscos excluídos pelo segurador.
c) Responsabilidade: Dividem-se em riscos particulares e fundamen-
tais. Os particulares caracterizam-se pela identificação do objeto,
valor e agente afetado relativo ao dano ocorrido. São considerados
riscos pessoais – amplo conceito – e podem ser tratados pelo segu-
rador. Os riscos fundamentais originam-se de eventos que fogem
à capacidade interventiva do homem, caracterizando-se por fatos
decorrentes de mutações sociais, econômicas ou de origem natural.
São riscos impessoais na origem e na conseqüência. Riscos particula-
res subordinam-se aos riscos ordinários e, como tal, podem ser trata-
dos pelo ente segurador. Riscos fundamentais estão ligados aos riscos
extraordinários e não apresentam características de segurabilidade.

d) Técnico: Cada abordagem securitária requererá uma técnica distin-


ta para suportar o risco que se quer operar. Mesmo para aqueles
riscos não suportados pelo segurador, haverá uma técnica que o mi-
tigue. Mesmo para os riscos fundamentais, que, de modo geral, são
tratados pelo Estado, poderá haver alguma forma de contenção, ain-
da que de previsibilidade precária e não-segurável (RODRIGUES,
2008, p. 105-106).

A Gestão de Risco Atuarial


186 UNIDADE V

Na Figura seguinte, conseguimos visualizar a inter-relação entre os tipos de


risco:

Econômico Comportamental Responsabilidade Técnico

Ordinários Particulares Atuarial


Puros Cálculo Atuarial
Extraordinários Fundamentais Teoria do Risco

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Especulativos Comercial
Financeiro

Figura 1 - Relação entre tipos de risco


Fonte: Rodrigues (2008).

Usualmente encontramos, na literatura sobre o assunto, um sistema de classifi-


cação de riscos que é universalmente utilizada. Essa classificação parte de quatro
pilares básicos, que consideram as origens das incertezas associadas a cada um
deles. Vamos conhecê-los: Riscos de mercado; Riscos Operacionais; Riscos de
Crédito; Riscos Legais.

RISCOS DE MERCADO

Basicamente, o risco de mercado está associado às possibilidades de ganhos ou


perdas em ativos devido às oscilações de fatores de mercado, como taxas de juros,
taxas de câmbio, preços de ações e commodities, entre outros.

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


187

No caso específico de empresas de seguros, previdência e capitalização,


Rodrigues (2008, p. 112) menciona que esses riscos envolvem:
[...] a possibilidade de ganhos ou perdas quando se transacionam ati-
vos ou por decorrência da volatilidade de preços em mercados especí-
ficos, mesmo para aqueles bens e direitos não operados pela entidade,
gerando flutuações contábeis. Implica a capacidade de acumulação de
poupança dos participantes.
Quadro 3 - Terminologias de mercado

RISCO DEFINIÇÃO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Perdas potenciais devido a variações inesperadas nas taxas de


Taxas de juros
juros.
Perdas potenciais devido a variações inesperadas nas taxas de
Taxas de câmbio
câmbio.
Perdas potenciais devido a variações inesperadas no preço
Ações
das ações.
Perdas potenciais devido a variações inesperadas no preço
Commodities
das commodities.
Perdas potenciais devido à impossibilidade de realização de
Liquidez
posições (venda ou financiamento) no mercado.
Perdas potenciais devido ao uso de derivativos (para hedge
Derivativos
ou especulação).
Perdas potenciais devido ao mau uso de derivativos para
Hedge
proteção.
Perdas potenciais devido a não diversificação de investimen-
Concentração
tos.
Fonte: adaptado de Duarte Júnior (2008).

Para as entidades que lidam com seguros, previdência e capitalização, Rodrigues


(2008, p. 108) menciona que:
[...] este risco tem forte pressão sobre esses planos. Não atingir as metas
financeiras deve levar à revisão do contrato previdenciário, devendo
o déficit apurado ser equacionado por patrocinadores, participantes e
assistidos. A forma de garantir a solvência dos Planos de Benefícios de-
finidos passa por observar permanentemente a relação entre os ganhos
de investimentos em face da manutenção do estoque de capital (neces-
sário a fazer frente às Reservas Matemáticas) e dos fluxos previdenciais
(fundamentais ao pagamento dos benefícios em curso).

A Gestão de Risco Atuarial


188 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
RISCOS OPERACIONAIS

Este tipo de risco está associado a possíveis perdas decorrentes de falhas em


sistemas, erros humanos, falhas em controles que pudessem evitar ocorrências
indesejáveis.
Podemos exemplificar esse tipo de risco numa situação em que um cadastro
fosse registrado nos sistemas computacionais da empresa, porém o número do CNPJ
fosse registrado com erro. O transtorno causado por esse erro seria importante. O
erro originou-se de uma falha humana (erro de digitação) e foi consolidado por
uma falha de sistema, pois o programa de computador não tinha nenhum meca-
nismo de checagem da exatidão da informação no momento da gravação dos dados.
A seguir, veja algumas subáreas dos riscos operacionais:
Quadro 4 - Terminologias de riscos operacionais

RISCO DEFINIÇÃO
Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos de
Equipamento terceiros devido a falhas nos seus sistemas (telefônicos, elétricos, com-
putacionais etc.).
Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos de
Obsolescência terceiros devido à obsolescência de seus sistemas (de software, de
hardware, telefônicos, elétricos etc.).

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


189

Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos


Confiabilidade e de terceiros devido ao fato de as informações não serem recebidas,
presteza processadas, armazenadas e transmitidas com rapidez e de forma
confiável.
Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos de
Erro não inten- terceiros devido a erros não intencionais (negligência, falta de con-
cional centração no trabalho, falta de informação sobre os controles internos
etc.).
Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos de
Fraudes, furtos terceiros devido a fraudes, furtos ou roubos (negligência de controles
ou roubos internos, divulgação intencional de informações erradas aos clientes,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

manipulação de resultados, aceitação de incentivos de clientes etc.).


Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos de
Qualificação
terceiros devido a funcionários sem qualificação apropriada.
Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos de
Produtos e terceiros devido ao não atendimento, por produtos e serviços, das
serviços expectativas e necessidades de seus clientes, seja em produtos, seja em
serviços.
Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos de
Regulamenta-
terceiros devido ao fato de a regulamentação externa ser alterada e
ção
não poder ser atendida pela firma.
Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos de
Liquidação
terceiros devido a falhas nos procedimentos internos para liquidar
financeira
transações.
Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos de
Modelagem terceiros devido ao fato de os modelos matemáticos não serem ade-
quadamente desenvolvidos e utilizados, e seus resultados, entendidos.
Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos de
Imagem
terceiros devido à diminuição de reputação no mercado.
Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos de
Concentração terceiros devido a negócios (fundos de investimento, clientes e servi-
ços) não adequadamente diversificados.
Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos de
Sistêmico
terceiros devido a alterações substanciais no ambiente operacional.
Perdas potenciais de uma empresa de administração de recursos de
Catástrofe terceiros que não pode operar devido à ocorrência de catástrofes (fura-
cões, enchentes, terremotos etc.).
Fonte: Duarte Júnior (2008).

A Gestão de Risco Atuarial


190 UNIDADE V

RISCOS DE CRÉDITO

Este tipo de risco está associado à possibilidade do não pagamento de um valor


previamente acordado.
Esse valor pode ser apenas o capital, somente dos juros, ou o capital mais ju-
ros associados (montante). Poderia incluir também o não pagamento de qual-
quer outra obrigação assumida contratualmente.
Um exemplo claro desse tipo de risco poderia ser no caso de uma institui-
ção financeira que concedeu um empréstimo a um cliente, e que chegado o dia

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do pagamento, não honra o compromisso assumido.
No Brasil, as elevadas taxas de inadimplência verificadas pelas instituições
bancárias são uma prova de que este é um risco bem real e frequente.
Veja algumas subáreas do risco de crédito:
Quadro 5 - Terminologia de risco de crédito

RISCO DEFINIÇÃO
Perdas potenciais decorrentes de uma contraparte não
INADIMPLÊNCIA poder fazer os pagamentos devidos de juros ou principal no
vencimento destes.
Perdas potenciais devido ao rebaixamento do rating de uma
DEGRADAÇÃO
contraparte.
Perdas potenciais devido à redução do valor de mercado das
GARANTIA
garantias de um empréstimo.
Perdas potenciais decorrentes de uma mudança na política
SOBERANO nacional de um país que afete sua capacidade de honrar
compromissos.
Perdas potenciais diante da concentração da exposição de
CONCENTRAÇÃO
crédito em poucas contrapartes.
Fonte: Duarte Júnior (2008).

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


191

Nos casos das empresas de seguros, previdência e capitalização, Rodrigues (2008)


observa que o Risco de Crédito:
[...] decorre da impossibilidade ou incapacidade de uma das partes do
contrato não ser capaz de honrar sua obrigação contratual com a ou-
tra parte, levando a que esta tenha custo de reposição em seu fluxo de
caixa. Nos Fundos de Pensão, esse tipo de risco pode ser dividido em
dois tipos:
a) Internos: Caracterizam-se pela impossibilidade de um dos intervenien-
tes (patrocinador ou participante) honrar compromissos assumidos.
A patrocinadora poderá não honrar os créditos devidos sob forma de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

contribuições normais ou extraordinárias pactuadas ou pelo não-reco-


nhecimento de dívidas previdenciárias. O participante pode se tornar
inadimplente pela ausência de contribuições ou por não poder honrar
operações de crédito junto ao Plano de Benefícios, como empréstimos
financeiros ou imobiliários (operações com participantes).
b) Externos: Referem-se às dificuldades de os devedores do Fundo de
Pensão não poderem honrar compromissos. Representa a possi-
bilidade de o emissor de um instrumento financeiro não adimplir
pagamentos previamente contratados (RODRIGUES, 2008, p. 115).

RISCOS LEGAIS

Este tipo de risco está associado à possibilidade de que os contratos assumidos


entre partes não se realizem. Os motivos podem ser diversos, por exemplo, uma
situação de insolvência ou de quebra estrutural. Outras situações que poderiam
constituir este tipo de risco seriam, por exemplo, a violação da legislação vigente
ou a redação ambígua de um contrato, que poderia ensejar contestações judiciais.

A Gestão de Risco Atuarial


192 UNIDADE V

O risco – definição atuarial – É o evento ou condição incerta, cuja ocorrência se


dá em qualquer momento futuro, independentemente de vontade das partes,
que causam consequências financeiras.
Os atuários devem saber o porquê do risco se manifestar, quais são as probabilida-
des de ocorrência do risco e quais serão as possíveis perdas envolvidas. Segundo
Zambitte (2010), “a Atuária, ciência do seguro, irá cotejar o risco protegido e os re-
cursos disponíveis para sua cobertura, vislumbrando sua viabilidade em diversos
cenários, especialmente dentro das expectativas futuras em relação ao envelheci-
mento da população e às tendências da natalidade populacional”.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Com a finalidade de entender a análise e o cálculo do risco pelo atuário, veja-
mos: uma pessoa de 40 anos pretende receber por cinco anos uma quantia de-
terminada em contrato, para isso, está previsto nas cláusulas do contrato que o
segurado pagará por 20 anos para a seguradora o valor do prêmio, após o tér-
mino do período de diferimento, o segurado receberá o valor (anual) estipulado
em contrato. No prêmio que a pessoa pagará, será acrescido o valor das despe-
sas e custos envolvidos na operação. O atuário irá adicionar valores ao prêmio
sobre alguns riscos que a seguradora está exposta, tais como: risco biométrico;
risco de mercado; risco operacional; risco atuarial.
Fonte: Weintraub, et. al. (2015, on-line).

Numa instituição financeira, por exemplo, poderia ocorrer uma situação em que
os clientes perdessem recursos num fundo de investimentos e entrassem com
uma ação na Justiça contestando as condições do Termo de Adesão ao fundo.
Veja algumas subáreas do risco legal:
Quadro 6 - Terminologia de risco legal

RISCO DEFINIÇÃO
Perdas potenciais devido a penalidades impostas por regulamen-
LEGISLAÇÃO tação ou processos de clientes contra a empresa de administra-
ção de recursos de terceiros.
Perdas potenciais decorrentes da criação de novos tributos ou da
TRIBUTÁRIO
mudança na interpretação dos tributos existentes.
Perdas potenciais decorrentes de contratos omissos ou mal redi-
CONTRATO
gidos (sem o devido amparo legal).
Fonte: Duarte Júnior (2008).

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


193

Como risco legal em empresas de previdência, capitalização e seguros,


Rodrigues (2008) complementa por afirmar que este tipo de risco:
é que os contratos não se realizem. Reflete a incerteza legal ou a inca-
pacidade de uma contraparte adimplir um contrato devido à insolvên-
cia ou quebra estrutural. Nos Fundos de Pensão, pode-se caracterizar
como risco legal a possibilidade de os órgãos reguladores promoverem
mudanças estruturais na legislação que reflitam em aumento de com-
promissos ou promovam a ruptura de direitos que acarretem recursos
(judiciais) contra o próprio Fundo de Pensão. São também chamados
de riscos de conformidade ou de regulação, que dizem respeito a ativi-
dades que podem violar regulamentações governamentais, como ma-
nipulação de mercados e transações realizadas por pessoas com acesso
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

a informações privilegiadas (RODRIGUES, 2008, p. 115).

Embora tenhamos mencionado o risco de liquidez de forma genérica, Rodrigues


(2008) foca este risco no caso de planos de benefício e menciona que esse risco
está mais presente na etapa em que o plano está em sua fase de maturação e
não de acumulação. Assim, o risco de liquidez acontecerá quando a entidade
for forçada a honrar pagamentos com a venda de ativos com prejuízo, afetando
diretamente a poupança acumulada.
Podemos verificar alguns fatos que contribuíram de forma mais intensiva
no risco de liquidez de planos de benefícios:
a) Desligamentos Massivos: prática significativa de desligamentos
massivos de empregados com arranjos financeiros, quando couber
ao Fundo de Pensão fazer pagamentos à vista das reservas pessoais
com pagamentos diferidos das contribuições patronais por meio de
renda certa sob forma de incentivo à demissão (planos de demissões
voluntárias, planos de adequação de quadros etc.).
b) Portabilidade de Direitos Previdenciários: institucionalização da
portabilidade de direitos previdenciários, em que o participante
pode transferir para outra instituição um considerável volume de
recursos (contribuições pessoais e patronais).
c) Resgate de Contribuições: resgate da totalidade das contribuições
vertidas ao plano pelo participante, frustrando uma expectativa de
desembolso de longo prazo por pagamentos imediatos.
d) Desaquecimento do Mercado Financeiro: baixo volume de transa-
ções no mercado de renda variável, afetando significativamente os
Fundos de Pensão em plena maturidade com alta necessidade de li-
quidez (principalmente os Fundos de Pensão com elevados volumes
de recursos aplicados em renda variável).

A Gestão de Risco Atuarial


194 UNIDADE V

e) Alongamento de Prazos de Resgate de Títulos: possibilidade de


haver, por parte do emissor, o alongamento dos prazos para resgate
de Títulos Públicos etc. (RODRIGUES, 2008, p. 114-115).

Os outros dois tipos de riscos para planos de benefício que destacamos são:
Quadro 7 - Tipos de riscos

TIPO DE RISCO DESCRIÇÃO


Refere-se às ações do patrocinador e do Fundo de Pensão, que contri-
buem para criar volatilidade nos ativos destes.
Estas ações podem afetar de forma significativa tanto o agente dessa ação

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
quanto a outra parte, que terá o ônus decorrente das ações da contraparte.
São riscos de correlação entre entes econômicos, no caso, coligados:
a) Fundo de Pensão: a má administração de ativos em um Fundo
de Pensão pode fazer com que o patrocinador tenha de arcar com
aportes ou novos fluxos de capital em direção ao seu Fundo de Pen-
Risco Institu- são, fazendo com que haja perda de eficiência em seus resultados.
cional A consequência direta será a perda de valor da empresa patrocina-
dora.
b) Patrocinador: a incapacidade de o patrocinador honrar compro-
missos com o seu Fundo de Pensão ou retrair seu interesse em man-
tê-lo como estímulo à qualificação e manutenção de mão-de-obra,
pode levar o Fundo de Pensão a perder valor (credibilidade) frente a
seus participantes. Estes tenderão a não mais investir seus recursos
em contribuições, podendo retirar seu direito acumulado pela via
da portabilidade ou não aderir ao Plano de Benefícios.
Corresponde à possibilidade de as premissas assumidas pelo atuário
Risco Biomé-
para eventos como mortalidade, invalidez e morbidez dos participan-
trico
tes não se realizarem como previsto.
Fonte: adaptado de Rodrigues (2008).

Conforme reportagem veiculada no site Reuters (2017), há um enorme dé-


ficit atuarial de mais de 7 trilhões de reais, apenas para o Regime Próprio
de Previdência Social dos servidores públicos. O déficit atuarial indica a in-
suficiência de recursos garantidores da cobertura dos benefícios. Apenas
alteração no sistema de capitalização resolverá o problema da previdência?

PRODUTOS FINANCEIROS E GERENCIAMENTO DE RISCOS ATUARIAIS


195

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Prezado(a) aluno(a)! Tenho certeza que ao final desta unidade, você relembrou
suas visitas ao seu banco, das conversas que talvez tenha tido com seu gerente
sobre investimentos. Mesmo que você não tenha uma conta em banco, os pro-
dutos que tratamos nesta unidade não são desconhecidos. Na verdade, muitos
são bastante populares.
Tome o caso do CDB. O CDB é um produto muito popular entre investi-
dores que têm perfil conservador. Ele é bastante tradicional e oferece ganhos,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

geralmente, um pouco acima da caderneta de poupança. Trata-se, na verdade,


de um título de dívida do banco para com o cliente. Por esse título, a institui-
ção financeira se compromete a pagar uma determinada remuneração, que pode
ser conhecida previamente – pré-fixada, ou após decorrido o tempo de aplica-
ção – pós-fixada.
A poupança, no entanto, não oferece uma rentabilidade elevada se compa-
rada a outros tipos de investimento. Além disso, há um detalhe muito importante:
o rendimento tem uma data certa para ser creditado. Ou seja, saques fora do
dia do “aniversário” da poupança, fazem com que esse rendimento – da parte
sacada – se perca.
A unidade também trouxe mais alguns detalhes sobre títulos de capitaliza-
ção, fundos de investimento, bem como os planos de previdência privada PGBL
e VGBL. A renda gerada por esses planos pode ser de diversas modalidades. É
sempre bom analisar o que se pretende, por exemplo, dar uma segurança maior
para o cônjuge e para os filhos para quem tem família, ou apenas uma renda em
forma de benefício numa eventual aposentadoria. Cada escolha, é claro, tem um
custo diferenciado.
Bons estudos!

Considerações Finais
196

1. A área atuarial não é nova, mas o mercado é carente de profissionais. Utilize


meios de comunicação, como jornais, revistas, internet, canais do Youtube e
destaque notícias sobre a atuária no cenário econômico.
2. Entre as opções consideradas seguras e de perfil conservador, estão os CDBs
(Certificados de Depósito Bancário), títulos emitidos para captação de recursos
por parte das Instituições Financeiras autorizadas. Esses títulos podem ter sua
remuneração pré ou pós-fixada. ​Considerando a alternativa de remuneração
pré-fixada, explique como é estabelecida essa remuneração.
3. Juliana pretende fazer uma aplicação de R$ 100.000,00 em um FIF aberto. Ela
lhe procurou para que você explicasse como se dá, de fato, a correção do valor
aplicado no Fundo escolhido por ela. Você verificou que o patrimônio líquido do
Fundo, no dia escolhido para a aplicação de Juliana, estava em R$ 20.000.000,00
e que esse Fundo possui 300.000 cotas.
Fazendo uma simulação para Juliana e imaginando que houve uma variação
de 10% positiva neste período (apenas uma projeção, pois a rentabilidade real
só se será conhecida efetivamente na data), pode-se concluir que:
a) Juliana vai adquirir, com o valor que pretende aplicar, 1500 cotas do FIF, que,
ao final do período, estarão valendo R$ 173,33 cada cota.
b) Juliana vai adquirir, com o valor que pretende aplicar, 66,67 cotas do FIF,
que, ao final do período, estarão valendo R$ 110,00 cada cota.
c) Juliana vai adquirir, com o valor que pretende aplicar, 1500 cotas do FIF, que
,ao final do período, estarão valendo R$ 73,33 cada cota.
d) Juliana vai adquirir, com o valor que pretende aplicar, 1500 cotas do FIF, que,
ao final do período, estarão valendo R$ 66,67 cada cota.
e) Juliana vai adquirir, com o valor que pretende aplicar, 1500 cotas do FIF, que,
ao final do período, estarão valendo R$ 87,33 cada cota.
4. Ao comentar com seu gerente no banco sobre o prêmio da Mega Sena acu-
mulada na semana, Manoel disse que até gosta de jogar na loteria, mas que já
perdeu tanto dinheiro em apostas que não se sente muito animado para conti-
nuar jogando. O gerente, então, lhe informou que possui, no portfólio de pro-
dutos do banco, um produto que vai bem ao encontro do que Manoel deseja:
jogar, mas não perder o valor que jogou. Isso, de acordo com o gerente, seria
possível por meio de um título de capitalização. Para alinhar essa informação
do gerente dada ao Manoel, você poderia esclarecer que:
I. Os recursos para os sorteios dos títulos de capitalização vêm do patrimônio
das Sociedades de Capitalização.
II. Um título de capitalização jamais poderia ser comparado a uma caderneta
de poupança em razão de sua rentabilidade ser inferior à deste investimen-
to.
197

III. O valor do investimento do título de capitalização, seja PM ou PU, é conver-


tido integralmente em Reserva Matemática a ser resgatada no prazo esta-
belecido no título.​
IV. O grande atrativo dos títulos de capitalização são realmente os sorteios,
uma vez que, como investimento, perde em rentabilidade se comparado às
outras opções disponíveis no mercado.
É correto apenas o que se afirma em:
a) I e II.
b) II e IIl.
c) II e IV.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.
5. Laura é mãe de dois filhos e, após sua separação, preocupa-se muito com o
futuro das crianças. Na venda de um dos imóveis do casal, a parte de Laura foi
de R$ 200.000,00, e, como ela nunca teve que gerenciar uma quantia assim,
ficou em dúvida sobre o que fazer com o recurso, pois tem receio de perder o
seu patrimônio. Ao procurar seu gerente no banco, uma das opções oferecida a
ela foi a de um Fundo de Investimento Financeiro (FIF). Laura prestou atenção à
explicação do gerente, mas ficou em dúvida sobre alguns itens, especialmente
em relação ao rendimento.
Se você fosse esclarecer as dúvidas de Laura sobre FIFs, entre outros pontos,
você esclareceria que:
I. Os cotistas de um mesmo fundo de investimento têm rentabilidades per-
centuais idênticas, independentemente do valor aplicado.
II. A grande maioria dos FIFs tem ótima liquidez, permitindo que o investidor
faça saques a qualquer momento, sem carência.
III. Se Laura fizer a opção pelo FIF, sua aplicação será transformada em cotas
que sofrerão reajustes diários.
IV. Pelo perfil Laura, seria altamente recomendável um FIFs de estratégia con-
servadora.​
É correto o que se afirma em:
a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I, II e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
198

DISCUSSÃO ACERCA DOS PRINCIPAIS DISPOSITIVOS LEGAIS E REGULATÓRIOS DA


PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR DO BRASIL RELACIONADOS COM A CIÊNCIA ATU-
ARIAL
A previdência complementar surgiu da grande necessidade de manter o patamar finan-
ceiro dos trabalhadores (RITTER, 2007). No Brasil, a ideia surgiu no momento em que as
pessoas que trabalhavam não podiam parar de trabalhar, mesmo com a idade avançada,
pois caso cessassem o trabalhar, não teriam como manter financeiramente suas famílias,
quando ficavam doentes, não tinham auxílio, e muitas outras situações que a população
ativa tinha de enfrentar (MEIRELLES, 2009).
A estruturação da previdência complementar por meio da legislação que era necessária
a cada criação de uma instituição de caridade e sociedades privadas de ingresso volun-
tário, caixa de montepios, idealizou a previdência social oficial, que, atualmente, asse-
gura as necessidades básicas de todos os trabalhadores que contribuíam para ela. No
entanto, a previdência social tem um limite para o pagamento de benefícios, portanto,
ela segue um teto que alguns trabalhadores ainda ficariam no prejuízo caso não existis-
se um modelo que conseguisse manter esse patamar financeiro (CHEDEAK, 2009).
Desta maneira, quando se fala em previdência, imaginamos prever, nesse caso espe-
cífico, supõe-se a previsão com o objetivo de que sejam evitadas de maneira prévia as
perdas financeiras. Logo pode-se entender a necessidade do profissional que atua de
maneira intensiva nas entidades de previdência complementar, o atuário.
Este profissional é responsável por manter o equilíbrio entre presente e futuro, fazendo
uso de projeções que obedecem a hipóteses e premissas que asseguram o futuro financei-
ro do público, que adere, de maneira facultativa, à previdência complementar. Portanto,
necessitamos que haja uma regulamentação que não permita que aconteçam desequilí-
brios causados por premissas adotadas de maneira incorreta (RODRIGUES, 2008).
Devido à necessidade do atuário que atua nas entidades de previdência de desenvolver
estudos alinhados à regulamentação do setor, foi elaborado esse trabalha do com a fi-
nalidade de analisar a relação entre os principais dispositivos legais em vigor e a ciência
atuarial.
Por ser um setor com legislação ampla, este trabalho foi limitado ao setor fechado de
previdência complementar, com a finalidade de apresentar maior qualidade nos resul-
tados que, posteriormente, serão discutidos. Não prejudicando o embasamento do tra-
balho, foram vistas a história, a organização e a conceituação de todo o setor, aberto e
fechado.
Com o intuito de manter o equilíbrio e patamar financeiro dos trabalhadores deste país,
a previdência complementar desempenha um importante papel social de grande valia
para a economia, ao se analisar os dados do PIB, viu-se que a previdência complementar
fechada representa 12,7% do PIB nacional. Destarte, fica nítido o crescimento do conhe-
199

cimento da população sobre o setor e o seu importante papel (ABRAPP, 2017).


Portanto, é importante que as Leis Complementares e Resoluções relativas ao setor se-
jam obedecidas pelos atuários em todos os aspectos, do custeio até a concessão dos
benefícios aos participantes e assistidos. Destarte em que desempenham esse papel e
seguem os dispositivos, devem ser observadas as características de cada plano de bene-
fícios individualmente.
A má gestão dos planos de benefícios e a falta de conhecimento da legislação podem levar
um fundo de pensão ao desequilíbrio, tanto a maior quanto a menor. Partindo da neces-
sidade de minimizar estes desequilíbrios, que, em caso de déficit técnico e o plano entre
em equacionamento, ou tenha necessidade de ser extinto, poderá ser gerado um grande
problema social, levando consideração que já ocorreram casos (RODRIGUES, 2008).
Fonte: Melo (2017).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Seguros, Matemática Atuarial e Financeira


Gustavo Henrique W. de Azevedo
Editora: Saraiva
Sinopse: este livro se diferencia por integrar os temas seguros,
matemática financeira e matemática atuarial em um único
volume, propiciando ao leitor uma ampla compreensão desse
mercado, cuja bibliografia é tão escassa. Dividida em três
módulos, a obra compreende o instrumental financeiro básico
(como juros simples e compostos, taxas de juros, séries de
pagamentos, sistemas de amortização, taxa interna de retorno,
entre outros); os conceitos de seguros (história e tipos de
seguros, resseguro e fraude); e os aspectos atuariais e produtos
financeiros (como PGBL e VGBL), além de risco e retorno. Há, na
obra, apêndices com exercícios sobre matemática financeira e
atuarial que auxiliam na fixação do conteúdo.

Para você conhecer esse “mundo atuarial” completo, assista a este documentário.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NhYZtOQOmcg>.
201
REFERÊNCIAS

BRASIL. CVM. Instrução n. 356, de 17 de dezembro de 2001. Regulamenta a cons-


tituição e o funcionamento de fundos de investimento em direitos creditórios e de
fundos de investimento em cotas de fundos de investimento em direitos creditó-
rios. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/inst356.html>.
Acesso em: 24 set. 2018.
______. CVM. Instrução n. 399, de 21 de novembro de 2003. Regulamenta a consti-
tuição e o funcionamento de fundos de investimento em direitos creditórios no âmbi-
to do Programa de Incentivo à Implementação de Projetos de Interesse Social – FIDC-
-PIPS, nos termos da Lei nº 10.735, de 11 de setembro de 2003. Disponível em: <http://
www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/inst399.html>. Acesso em: 24 set. 2018.
______. CVM. Instrução n. 409, de 18 de agosto de 2004. Dispõe sobre a constitui-
ção, a administração, o funcionamento e a divulgação de informações dos fundos
de investimento. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/
inst409.html>. Acesso em: 24 set. 2018.
______. Lei n. 12.703, de 7 de agosto de 2012. Altera o art. 12 da Lei no 8.177, de
1o de março de 1991, que estabelece regras para a desindexação da economia e dá
outras providências, o art. 25 da Lei no 9.514, de 20 de novembro de 1997, que dis-
põe sobre o Sistema de Financiamento Imobiliário, institui a alienação fiduciária de
coisa imóvel e dá outras providências, e o inciso II do art. 167 da Lei no 6.015, de 31
de dezembro de 1973, que dispõe sobre os registros públicos e dá outras providên-
cias. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/
Lei/L12703.htm>. Acesso em: 24 set. 2018.
______. CNSP. Resolução n. 82 de 19 de agosto de 2002. Altera dispositivos da Re-
solução CNSP nº 56, de 2001, que aprova as Normas Disciplinadoras do Seguro DP-
VAT. Disponível em: <https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=98588>. Acesso
em: 24 set. 2018.
______. CNSP. Resolução n. 120, de 24 de dezembro de 2004. Aprova as normas
para constituição das provisões técnicas das sociedades seguradoras, entidades
abertas de previdência complementar e sociedades de capitalização. Disponível em:
<https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=101016>. Acesso em: 24 set. 2018.
______. BACEN. Resolução n. 3347, de 8 de fevereiro de 2006. Dispõe sobre o
direcionamento dos recursos captados em depósitos de poupança pelas entidades
integrantes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Disponível em:
<https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/normativo.asp?tipo=Resolu%-
C3%A7%C3%A3o&data=2006&numero=3347>. Acesso em: 24 set. 2018.
DUARTE JUNIOR, A. M. Gestão de Riscos para fundos de Investimentos. São Pau-
lo, Prentice Hall, 2005.
FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e serviços. 18. ed. Rio de Janeiro: Qua-
litymark, 2011.
REFERÊNCIAS

MELO, G. G. Discussão acerca dos principais dispositivos legais e regulatórios


da previdência complementar do Brasil relacionados com a ciência atuarial.
2017. 44 f. Monografia (Bacharel em Ciências Atuariais) - Departamento de Estatísti-
ca e Ciências Atuariais, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2017.
RODRIGUES, J. A. Gestão de Risco Atuarial. São Paulo: Saraiva, 2008.
SOUZA, S. Seguros: contabilidade, atuária e auditoria. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
WEINTRAUB, A. B. V.; VARGA, G. A.; SIMÕES, I. L.; ALBUQUERQUE, J. P. O risco e a incer-
teza na esfera do direito atuarial. Revista Brasileira de Previdência, v. 4, nov. 2015.
Disponível em: <http://www.prev.unifesp.br/index.php/24-quatro/50-risco-e-incer-
teza>. Acesso em: 24 set. 2018.
203
GABARITO

1. O aluno deverá pesquisar sobre a área atuarial, que não é nova, mas o mercado
é carente de profissionais.
2. O investidor recebe, no vencimento, a remuneração negociada, conhecida ante-
cipadamente e constante no contrato. Nesta modalidade, não existe exigência
legal de prazo mínimo. Esta definição fica a cargo de cada instituição financeira.
3. C.
4. C.
5. E.
CONCLUSÃO

Bem, caro(a) aluno(a), espero que você tenha de fato aproveitado o conteúdo des-
tas unidades. A pesquisa que procuramos fazer é apenas um recorte do imenso
campo de estudos que são as ciências atuariais, a perícia contábil e a arbitragem.
Focamos mais nos conceitos, na legislação e nas normativas, não consideramos,
propositalmente, os cálculos periciais nem os atuariais. Vamos lembrar um pouco
do que vimos nessas unidades?
Na Unidade I, você foi apresentado(a) à perícia contábil, área fascinante e de gran-
de expansão no mercado nacional. Abordamos conceitos e formas de perícia, bem
como a evolução da legislação acerca da área.
Por sua vez, na Unidade II, continuamos a tratar sob perícia contábil, mas direciona-
mos os nossos estudos para as normas brasileiras de contabilidade técnicas, apre-
sentando você como devem ser adotados os procedimentos de planejamento e
execução da perícia contábil.
A arbitragem, mediação e negociação, são modelos de resolução de conflitos abor-
dados na unidade III. A arbitragem, enquanto função regulamentada, corresponde
a uma grande possibilidade profissional para pessoas dotadas de grande conheci-
mento técnico.
Na unidade IV, demos um giro de 360°, vimos o desenvolvimento das ciências atu-
ariais e do conceito de seguros como o conhecemos atualmente. Foi importante
considerar que a origem dos seguros tem a ver com o desejo natural humano da
preservação pessoal e dos seus bens ou patrimônio.
Na unidade V consideramos os produtos financeiros em cuja formatação está pre-
sente os estudos atuariais. Muitos desses produtos você já certamente conhecia.
No entanto, saber que a precificação dos serviços e a rentabilidade são fruto do
trabalho do atuário pode ter sido novidade para muitos de nós. Estudamos também
a importância do papel do atuário para mensuração dos riscos e as principais estra-
tégias utilizadas para gerenciar os riscos.
Assim, concluímos esta disciplina cientes de que não exploramos totalmentes as
funções de perito, árbitro e atuário, mas com a certeza de que ela lhe será útil na sua
vida profissional. O trabalho do perito, árbitro ou atuário, somente estará completo
quando entender a multidisciplinaridade em que está mergulhado.
É assim, que você vai crescer profissionalmente.
Muito sucesso!
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ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
207
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES

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