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Unidade 1 – Iniciação à atividade filosófica

Capítulo 2. A dimensão discursiva do trabalho filosófico.


Unidade 1 – Iniciação à atividade filosófica

São três os ingredientes principais da filosofia:

Problemas
Teorias
Argumentos
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Os problemas da filosofia são as perguntas a que


os filósofos querem responder.

As teorias são as propostas de solução para os


problemas da filosofia.

Os argumentos oferecem-nos as razões em que


os filósofos se basearam para concluir que as
suas teorias estão corretas.
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Estudar filosofia é em grande medida tentar perceber


se uma teoria é verdadeira ou falsa.

Para perceber se uma teoria é verdadeira ou falsa, é


necessário conhecer os argumentos ou razões em que
os filósofos se apoiaram para a defender.
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Só conhecendo os argumentos dos filósofos ficaremos


em condições de avaliar as suas teorias.

Estudar filosofia implica saber o que são os


argumentos e como se discutem.
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O que são os argumentos. Objetivos e elementos.


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Os argumentos servem para justificar a verdade


de uma afirmação.

Justificar uma afirmação consiste em apresentar


as razões em que nos podemos basear para
concluir que a afirmação é verdadeira.
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Exemplo 1

Maria: As pessoas são as únicas responsáveis


pelas decisões que tomam.
Joana: Por que razão dizes isso?
Maria: Se somos livres, podíamos ter decidido
agir de maneira diferente. E se podíamos ter
decidido agir de outra maneira mas não o
fizemos, a responsabilidade só pode ser nossa.
Portanto…
Joana: Sim. Se formos realmente livres.
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Exemplo 1

Maria: As pessoas são as únicas responsáveis


pelas decisões que tomam.
Joana: Por que razão dizes isso?
Maria: Se somos livres, podíamos ter decidido
agir de maneira diferente. E se podíamos ter
decidido agir de outra maneira mas não o
fizemos, a responsabilidade só pode ser nossa.
Portanto…
Joana: Sim. Se formos realmente livres.
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Exemplo 1

Maria: As pessoas são as únicas responsáveis


pelas decisões que tomam.
Joana: Por que razão dizes isso?
Maria: Se somos livres, podíamos ter decidido
agir de maneira diferente. E se podíamos ter
decidido agir de outra maneira mas não o
fizemos, a responsabilidade só pode ser nossa.
Portanto…
Joana: Sim. Se formos realmente livres.
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As razões que um argumento tem para oferecer


são as suas premissas.

A afirmação que as premissas pretendem


justificar é a conclusão do argumento.
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Premissas e conclusão

(1) Se somos livres, podíamos ter decidido agir


de maneira diferente.
(2) Se podíamos ter agido de outra maneira e não
o fizemos, a responsabilidade é nossa.

 As pessoas são as únicas responsáveis pelas


decisões que tomam.
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O primeiro passo que permitirá avaliar o mérito de


um argumento é identificá-lo.

É necessário saber qual das afirmações é a


conclusão e quais são as premissas.
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Identificar argumentos. Indicadores de premissas.

porque
dado que
como foi dito
visto que
devido a
a razão é que
admitindo que
sabendo-se que
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Identificar argumentos. Indicadores de conclusão.

por isso
por conseguinte
logo
portanto
daí que
segue-se que
pode-se inferir que
consequentemente
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Premissas e conclusão. Argumentos válidos e inválidos.


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Exemplo 2

(1) Todos os seres humanos são mortais.


(2) Platão é um ser humano.

 Platão é mortal.
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O argumento anterior tem uma característica


importante: se as premissas forem verdadeiras, a
conclusão é obrigatoriamente verdadeira.

A verdade das premissas dá-nos a garantia que a


conclusão é verdadeira.

Os argumentos que possuem esta característica


são chamados válidos.
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Homens

. Platão

Mortais
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Num argumento válido, a verdade da conclusão é a


consequência lógica da verdade das premissas.

Não é possível as premissas serem verdadeiras e a


conclusão falsa.
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No entanto, podem existir argumentos válidos com


premissas falsas.

As premissas não têm de ser verdadeiras para um


argumento ser válido.

A definição de validade diz o que tem de acontecer


à conclusão na hipótese de as premissas serem
verdadeiras. Esta hipótese pode não se verificar.
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Exemplo 3

(1) Todos os portugueses são asiáticos.


(2) Barack Obama é português.

 Barack Obama é asiático.


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As premissas são falsas: nem Barack Obama é


português nem os portugueses são asiáticos. E a
conclusão também é falsa: Barack Obama não é
asiático.

Mas o argumento é válido. Se Barack Obama


fosse português e os portugueses fossem asiáticos,
a consequência lógica seria Barack Obama ser
asiático.
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Mas nem todos os argumentos são válidos. E nem sempre


é fácil perceber quando isso acontece.

Um argumento é inválido quando a conclusão pode ser


falsa mesmo que as premissas sejam verdadeiras.

Num argumento inválido, a verdade das premissas não


justifica ou garante a conclusão.
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Exemplo 4

(1) Alguns políticos são corruptos.


(2) Napoleão é político.

 Napoleão é corrupto.
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A premissa (1) afirma apenas que alguns políticos (e não


todos) são corruptos, o que é verdade.

A premissa (2) afirma que Napoleão é um político. Esta


premissa também é verdadeira.
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Políticos Corruptos

?
?

. Napoleão
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Embora ambas as premissas sejam verdadeiras, não se


pode concluir que Napoleão seja corrupto.

O argumento é inválido. A conclusão não é uma


consequência lógica das premissas.
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Como se discute um argumento válido. O caso do


aborto.
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Exemplo 5

Ana: O problema do aborto deixa-me insegura. Mas


penso que abortar é errado.
Pedro: Achas..? Porquê?
Ana: Se o feto tem o direito à vida, abortar é errado.
Ora, eu acho que o feto tem o direito à vida. Portanto…
Pedro: Se as premissas forem verdadeiras, então
abortar é errado. Onde está a dúvida?
Ana: O problema é: as pessoas têm o direito à vida, mas
o feto ainda não é uma pessoa.
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Premissas e conclusão

(1) Se o feto tem o direito à vida,


abortar é errado.
(2) O feto tem o direito à vida.

 Abortar é errado.
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O argumento da Ana é válido. Mas o que a deixa


insegura é não saber se é um BOM argumento.

Para ser bom, um argumento tem de ser válido. Mas,


além disso, é preciso ter premissas verdadeiras. Serão
as razões propostas pela Ana verdadeiras?

Um argumento pode ser mau se for inválido ou se


tiver premissas falsas.
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Apesar de o seu argumento ser válido,


podemos discordar da Ana.

A conclusão de um argumento válido pode ser


falsa. Um argumento ser válido não significa
que as premissas sejam verdadeiras.
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A conclusão de um argumento válido pode ser


falsa se uma das premissas for falsa.

Alguém que pense que abortar nem sempre é


errado, terá de mostrar que uma das premissas
em que a Ana se baseou está errada (ou ambas).

A própria Ana está insegura porque sabe que a


sua segunda premissa não reúne consenso: há
razões para pensar que possa ser falsa.
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Exemplo 6

Pedro: É consensual que as pessoas têm o direito à vida. O


problema é que o feto não é uma pessoa.
Ana: Que achas disso? Por vezes, fico sem saber o que
pensar.
Pedro: Julgo que o feto não possui o direito à vida. Para se
ter direito à vida é necessário ser uma pessoa.
Ana: Se ser uma pessoa implicar ter consciência de si e ser
racional, então tens razão. Mas ser uma pessoa em potência
não é suficiente? Se for, o feto tem o direito à vida.
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Exemplo 6

Pedro: É consensual que as pessoas têm o direito à vida. O


problema é que o feto não é uma pessoa.
Ana: Que achas disso? Por vezes, fico sem saber o que
pensar.
Pedro: Julgo que o feto não possui o direito à vida. Para se
ter direito à vida é necessário ser uma pessoa.
Ana: Se ser uma pessoa implicar ter consciência de si e ser
racional, então tens razão. Mas ser uma pessoa em potência
não é suficiente? Se for, o feto tem o direito à vida.
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Exemplo 6

Pedro: É consensual que as pessoas têm o direito à vida. O


problema é que o feto não é uma pessoa.
Ana: Que achas disso? Por vezes, fico sem saber o que
pensar.
Pedro: Julgo que o feto não possui o direito à vida. Para se
ter direito à vida é necessário ser uma pessoa.
Ana: Se ser uma pessoa implicar ter consciência de si e ser
racional, então tens razão. Mas ser uma pessoa em potência
não é suficiente? Se for, o feto tem o direito à vida.
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Exemplo 6

Pedro: É consensual que as pessoas têm o direito à vida. O


problema é que o feto não é uma pessoa.
Ana: Que achas disso? Por vezes, fico sem saber o que
pensar.
Pedro: Julgo que o feto não possui o direito à vida. Para se
ter direito à vida é necessário ser uma pessoa.
Ana: Se ser uma pessoa implicar ter consciência de si e ser
racional, então tens razão. Mas ser uma pessoa em potência
não é suficiente? Se for, o feto tem o direito à vida.
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Exemplo 6

Pedro: É consensual que as pessoas têm o direito à vida. O


problema é que o feto não é uma pessoa.
Ana: Que achas disso? Por vezes, fico sem saber o que
pensar.
Pedro: Julgo que o feto não possui o direito à vida. Para se
ter direito à vida é necessário ser uma pessoa.
Ana: Se ser uma pessoa implicar ter consciência de si e ser
racional, então tens razão. Mas ser uma pessoa em potência
não é suficiente? Se for, o feto tem o direito à vida.
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Premissas e conclusão

(1) Para possuir o direito à vida é necessário ser


uma pessoa.
(2) O feto não é uma pessoa.
 
 O feto não possui o direito à vida.
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O argumento do Pedro é válido. O problema consiste


em saber se é um bom argumento.

Para ser bom, um argumento tem de ser válido. Mas,


além disso, é preciso ter premissas verdadeiras. As
razões propostas pelo Pedro são verdadeiras? Será que
para possuir o direito à vida é necessário ser uma
pessoa?

Um argumento pode não ser bom se for inválido ou se


tiver premissas falsas.
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Exemplo 6

Pedro: É consensual que as pessoas têm o direito à vida. O


problema é que o feto não é uma pessoa.
Ana: Que achas disso? Por vezes, fico sem saber o que
pensar.
Pedro: Julgo que o feto não possui o direito à vida. Para se
ter direito à vida é necessário ser uma pessoa.
Ana: Se ser uma pessoa implicar ter consciência de si e ser
racional, então tens razão. Mas ser uma pessoa em potência
não é suficiente? Se for, o feto tem o direito à vida.
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Exemplo 6

Pedro: É consensual que as pessoas têm o direito à vida. O


problema é que o feto não é uma pessoa.
Ana: Que achas disso? Por vezes, fico sem saber o que
pensar.
Pedro: Julgo que o feto não possui o direito à vida. Para se
ter direito à vida é necessário ser uma pessoa.
Ana: Se ser uma pessoa implicar ter consciência de si e ser
racional, então tens razão. Mas ser uma pessoa em potência
não é suficiente? Se for, o feto tem o direito à vida.
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Exemplo 6

Pedro: É consensual que as pessoas têm o direito à vida. O


problema é que o feto não é uma pessoa.
Ana: Que achas disso? Por vezes, fico sem saber o que
pensar.
Pedro: Julgo que o feto não possui o direito à vida. Para se
ter direito à vida é necessário ser uma pessoa.
Ana: Se ser uma pessoa implicar ter consciência de si e ser
racional, então tens razão. Mas ser uma pessoa em potência
não é suficiente? Se for, o feto tem o direito à vida.
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Exemplo 6

Pedro: É consensual que as pessoas têm o direito à vida. O


problema é que o feto não é uma pessoa.
Ana: Que achas disso? Por vezes, fico sem saber o que
pensar.
Pedro: Julgo que o feto não possui o direito à vida. Para se
ter direito à vida é necessário ser uma pessoa.
Ana: Se ser uma pessoa implicar ter consciência de si e ser
racional, então tens razão. Mas ser uma pessoa em potência
não é suficiente? Se for, o feto tem o direito à vida.
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Exemplo 6

Pedro: É consensual que as pessoas têm o direito à vida. O


problema é que o feto não é uma pessoa.
Ana: Que achas disso? Por vezes, fico sem saber o que
pensar.
Pedro: Julgo que o feto não possui o direito à vida. Para se
ter direito à vida é necessário ser uma pessoa.
Ana: Se ser uma pessoa implicar ter consciência de si e ser
racional, então tens razão. Mas ser uma pessoa em potência
não é suficiente? Se for, o feto tem o direito à vida.
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Exemplo 6

Pedro: É consensual que as pessoas têm o direito à vida. O


problema é que o feto não é uma pessoa.
Ana: Que achas disso? Por vezes, fico sem saber o que
pensar.
Pedro: Julgo que o feto não possui o direito à vida. Para se
ter direito à vida é necessário ser uma pessoa.
Ana: Se ser uma pessoa implicar ter consciência de si e ser
racional, então tens razão. O feto é uma pessoa em potência.
não é suficiente? Se for,
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Premissas e conclusão

(1) As pessoas possuem o


direito à vida.
(2) O feto é uma pessoa em
potência.
 
 O feto tem o direito à vida.
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Pedro: Se percebi o que disseste, o teu argumento é


o seguinte: o feto é uma pessoa em potência e, como
as pessoas possuem o direito à vida, podemos
concluir que o mesmo se passa com o feto. É isto
que queres dizer?
Ana: Julgo que sim. Que achas?
Pedro: Julgo que as tuas premissas são verdadeiras,
mas falta lógica ao argumento. Não se pode concluir
delas que o feto tem o direito à vida.
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Premissas e conclusão

(1) As pessoas possuem o direito à vida.


(2) O feto é uma pessoa potencial.
 
 O feto tem o direito à vida.
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Exemplo 7

Ana: Queres dizer que meu argumento é inválido? Será que


podes explicar porquê?
Pedro: Se ser uma pessoa em potência fosse suficiente para
ter o direito à vida, um candidato a presidente da república
poderia dissolver o parlamento: um candidato é um
presidente da república em potência. Mas só um presidente
da república em funções possui esse direito.
Ana: Julgo que percebi. Ter potencialmente um direito não
implica tê-lo de facto.
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Premissas e conclusão

(1) Um presidente da república possui o direito


de dissolver o parlamento.
(2) Um candidato à presidência da república é
um presidente da república potencial.
 
 Um candidato à presidência da república
possui o direito de dissolver o parlamento.
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Premissas e conclusão

(1) Se ser uma pessoa em potência fosse


suficiente para ter o direito à vida, ter
potencialmente um direito implicaria tê-lo de
facto.
(2) Mas ter potencialmente um direito não
implica tê-lo de facto.

 Ser uma pessoa em potência não implica ter o


direito à vida.
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Exemplo 8

Ana: Queres dizer, então, que abortar não é errado?


Consegues explicar porquê?
Pedro: Esse é um tema difícil que teremos discutir mais
tarde. Por agora, quis apenas dizer que nem todos os
argumentos são bons, a favor ou contra certas ideias. O facto
de os argumentos que vimos não serem bons não significa
que nenhum argumento sobre este tema seja bom.
Ana: Claro que não. Era nisso que eu estava a pensar.
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Conclusão geral:

Quando temos razões para pensar que uma ou mais premissas


de um argumento são falsas, devemos apresentá-las. Ao fazê-
lo, estamos a contra-argumentar.

Estaremos a criar uma oportunidade para que as nossas


razões sejam avaliadas e discutidas.

Não basta pensar que temos boas razões. É preciso que essas
razões resistam à crítica.
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O processo argumentativo. Um estudo de caso (II).


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Argumento 10

A oposição atacou o caso TVI com uma avalanche de críticas


ao Governo e a José Sócrates. O PS, último a falar num
debate peculiar, sem direito a réplica, na comissão
permanente do Parlamento, respondeu com uma "arma"
pesada: Cavaco Silva. Se a "asfixia democrática" fosse como
o PSD a tem descrito, "estaria em causa o regular
funcionamento das instituições democráticas" e o Presidente
da República teria de intervir. "O Presidente, ao não agir,
desmente-o", atirou Alberto Martins, líder parlamentar do PS,
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1. Identificar um argumento, mesmo numa notícia de


jornal, pode ser uma tarefa difícil.

2. Lendo o texto da notícia com atenção,


apercebemo-nos de que ele contém duas partes: uma
parte descritiva e uma parte que contém o argumento.
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A parte descritiva é:

A oposição atacou o caso TVI com uma avalanche de críticas


ao Governo e a José Sócrates. O PS, último a falar num
debate peculiar, sem direito a réplica, na comissão
permanente do Parlamento, respondeu com uma "arma"
pesada: Cavaco Silva.

Nesta passagem fala-se apenas do que aconteceu no


Parlamento. Não estão a ser dadas razões nem se pretende
justificar o que quer que seja. Não há aqui qualquer
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A parte descritiva é:

A oposição atacou o caso TVI com uma avalanche de críticas


ao Governo e a José Sócrates. O PS, último a falar num
debate peculiar, sem direito a réplica, na comissão
permanente do Parlamento, respondeu com uma "arma"
pesada: Cavaco Silva.

O leitor apenas é informado de que o caso TVI gerou


bastantes críticas ao governo e que o governo, para responder
às críticas, socorreu-se da figura do Presidente da República.
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A parte que contém o argumento é:


Se a "asfixia democrática" fosse como o PSD a tem descrito,
"estaria em causa o regular funcionamento das instituições
democráticas" e o Presidente da República teria de intervir.
"O Presidente, ao não agir, desmente-o", atirou Alberto
Martins, líder parlamentar do PS, em resposta a Montalvão
Machado, do PSD.
Esta passagem, além do argumento, ainda contém uma breve
descrição: o texto diz-nos que o argumento foi apresentado
por Alberto Martins, líder parlamentar do PS, em resposta a
uma crítica de Montalvão Machado, do PSD. Esta
informação não pertence ao argumento: descreve o contexto
Unidade 1 – Iniciação à atividade filosófica

O que é dito no argumento (1):

Se a "asfixia democrática" fosse como o PSD a tem descrito,


"estaria em causa o regular funcionamento das instituições
democráticas" e o Presidente da República teria de intervir.

Simplificando:

Se a democracia estivesse em perigo, como diz o PSD, o


Estado democrático estaria a ser atacado e o Presidente da
República já teria sido obrigado a agir em sua defesa.
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O que é dito no argumento (2):


«O Presidente, ao não agir, desmente-o.»

Nesta passagem faz-se um desmentido: i. e., diz-se ser falso


que a democracia está em perigo.
Diz-se que a democracia não está em perigo porque o
Presidente da República não teve de agir em sua defesa.
O argumento tem como objetivo fazer o desmentido e
justificar a primeira destas afirmações.
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O argumento. Premissas e conclusão.

(1) Se a democracia estivesse em perigo, o Estado


democrático estaria a ser posto em causa e o Presidente da
República já teria sido obrigado a agir em sua defesa.

(2) O Presidente da República ainda não teve de agir em


defesa do Estado democrático.

 A democracia não está em perigo.


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Argumentos. Exercícios.
Unidade 1 – Iniciação à atividade filosófica

Identifique o(s) argumento(s):

1. No Irão, as pessoas que cometem adultério são punidas com a


pena de morte por lapidação. Os homens são enterrados até à
cintura e as mulheres até aos sovacos; depois, são apedrejados
publicamente até à morte. Quem conseguir libertar-se é ilibado.

2. O adultério é errado porque quem o pratica está a violar uma


obrigação. Ora, violar uma obrigação é sempre errado.
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1. No Irão, as pessoas que cometem adultério são punidas com a


pena de morte por lapidação. Os homens são enterrados até à
cintura e as mulheres até aos sovacos; depois, são apedrejados
publicamente até à morte. Se conseguirem libertar-se são
ilibados.

O texto 1. não é um argumento. É uma descrição do que passa no


Irão a respeito do adultério.
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2. O adultério é errado porque quem o pratica está a violar uma


obrigação. Ora, violar uma obrigação é sempre errado.

O texto 2. é um argumento. O seu objectivo é justificar a ideia de


que o adultério é errado.

Oferece-nos, para isso, duas razões:

(1) Quem pratica adultério viola uma obrigação; (2) Violar uma
obrigação é sempre errado.
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Identifique premissas e conclusão

3. Se Deus existir, a vida tem um sentido que já está definido


por Deus. Mas, se Deus não existir, a vida tem o sentido que
cada pessoa decidir dar-lhe. Portanto, ou a vida tem um sentido
que já está definido por Deus ou terá o sentido que cada um
quiser dar-lhe.

4. Todos os estudantes aplicados têm bons resultados. Acontece,


no entanto, que há estudantes que não são aplicados.
Consequentemente, há estudantes que têm maus resultados.
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Argumento 3

(1) Se Deus existir, a vida tem um sentido que já está


definido por Deus.
(2) Se Deus não existir, a vida tem o sentido que cada
pessoa decidir dar-lhe.

A vida tem um sentido definido por Deus ou o


sentido que cada pessoa quiser dar-lhe.
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Argumento 4

(1) Todos os estudantes aplicados têm bons


resultados.
(2) Alguns estudantes não são aplicados.

 Alguns estudantes não têm bons resultados.


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Identifique premissas e conclusão

5. Se os seres humanos são livres, faz sentido censurá-los pelos


maus atos que praticam. Isto porque se são livres, devem de ser
responsabilizados pelos seus atos. E se são responsáveis pelos
seus atos, faz sentido serem censurados ao agirem mal.

6. Não foi o mordomo que cometeu o crime. As razões são as


seguintes. Se tivesse sido o mordomo, ninguém o teria visto na
cidade a fazer compras. Mas são várias as testemunhas que o
confirmam.
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Argumento 5

(1) Se os seres humanos são livres, devem de ser


responsabilizados pelos seus actos.
(2) Se os seres humanos são responsáveis, faz sentido censurá-los
pelos maus actos que pratiquem.

 Se os seres humanos são livres, faz sentido censurá-los pelos


maus actos que praticam.
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Argumento 6

(1) Se o mordomo tivesse cometido o crime, ninguém o podia ter


visto na cidade a fazer compras.

(2) Há várias testemunhas que viram o mordomo a fazer compras


na cidade.

 Não foi o mordomo que cometeu o crime.


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Identifique premissas e conclusão

7. Não há muitos alunos inscritos para o exame de filosofia.


Portanto, ou a filosofia é difícil ou não é preciso fazer o exame
para entrar na faculdade. Pois, se o exame fosse fácil ou
necessário para a admissão à faculdade, haveria um maior
número de inscrições.

8. Se Deus é omnipotente, omnisciente e bom, o mal não existe.


Logo, ou Deus não é omnipotente, ou não é omnisciente ou não é
bom. O mal, infelizmente, está em todo o lado.
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Argumento 7

(1) Se o exame de filosofia fosse fácil ou necessário para a


admissão à faculdade, haveria muitas inscrições.
(2) Não há muitas inscrições para o exame de filosofia.

 O exame de filosofia é difícil ou não é necessário para a


admissão na faculdade.
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Argumento 8

(1) Se Deus é omnipotente, omnisciente e bom, o mal não existe.


(2) O mal existe.

 Deus não é omnipotente, ou não é omnisciente ou não é bom.


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Identifique premissas e conclusão

9. Há estudantes de lógica preguiçosos porque há pessoas


preguiçosas que são estudantes de lógica.

10. Se Deus é perfeito, tudo o que criou é perfeito. Assim, ou


Deus não é perfeito ou não criou o mundo, dado que o mundo é
imperfeito.
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Argumento 9

(1) Há pessoas preguiçosas que estudam lógica.

 Há estudantes de lógica preguiçosos.


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Argumento 10

(1) Se Deus é perfeito, tudo o que criou é perfeito.


(2) O mundo é imperfeito.

 Deus não é perfeito ou não criou o mundo.

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