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TESTE DE APERCEPÇÃO INFANTIL

FIGURAS DE ANIMAIS
(CAT-A)

Leopold Bellak & Sonya S. Bellak


(e David M. Abrams)

Adaptação para o Brasil: Adele de Miguel, Leila Tardivo,


Maria Cecília V. M. Silva, Silésia M. V. D. Tosi
APERCEPÇÃO
É O PROCESSO ATRAVÉS DO QUAL OS ELEMENTOS
MENTAIS SÃO ORGANIZADOS.
Wundt: “o processo de organização dos elementos
mentais, formando uma unidade, é uma síntese criativa, que
cria novas propriedades mediante a mistura ou combinação
dos elementos”.
Todo composto psíquico é dotado de características que
não são a mera soma das características dos elementos que o
formam.
 a totalidade não é igual a soma de suas partes. Isso
pode ser provado pela química, em que a combinação de
elementos químicos faz surgir compostos com propriedades
que não se encontram nos elementos separadamente.
 Uma experiência sensorial pode ter diferentes relatos
dos sujeitos envolvidos, não sendo nenhum deles
incorreto, uma vez que em toda experiência haverá
muito de atributos afetivos e ideacionais (aquilo que o
sujeito tem como ideal para si), e que a soma de seus
elementos componentes gera um novo composto
psíquico, diferente dos elementos isoladamente.

 A lei das resultantes psíquicas ou síntese criativa


encontra expressão nas funções aperceptivas e nas
atividades de imaginação e compreensão.
 É a capacidade de interpretação dos estímulos
sensoriais atribuindo-lhe significado, com base nas
experiências pessoais do sujeito, suas emoções e seu
conhecimento do mundo.
 A apercepção é responsável pela significação da coisa
ou do que é a coisa em si.
 Neste caso, se a essência das coisas é determinada mais
pelo pensamento e emoção que pela percepção
neurológica, esta (a essência das coisas) será sempre
pessoal e individual, então o significado essencial das
coisas será igualmente pessoal e individual.

Bibliografia:
Schultz, D. P. & Schultz, S. E. (2009). História da psicologia
moderna (9ª ed.). São Paulo: Cengage Learning.
TESTE DE APERCEPÇÃO INFANTIL
FIGURAS DE ANIMAIS – (CAT-A)
 

- OBJETIVO: investigar a dinâmica da personalidade da


criança em sua singularidade, de modo a compreender o
mundo vivencial da criança, sua estrutura afetiva, a
dinâmica de suas reações diante dos problemas que
enfrenta e a maneira como os enfrenta.

- POPULAÇÃO A QUE SE DESTINA: crianças entre 5 e 10


anos.

- TEMPO DE APLICAÇÃO: livre (as aplicações levam em média 45


minutos).
 
APRESENTAÇÃO:

 O CAT (sigla do inglês para Teste de Apercepção Infantil) é um dos


mais importantes instrumentos para diagnóstico psicológico e
psicoterapia, desde a sua publicação, em 1949, por Leopold
Bellak e Sonya Sorel Bellak.

 Trata-se de um método projetivo temático que tem como


objetivo revelar a estrutura de personalidade da criança e sua
maneira de reagir e lidar com as questões do crescimento.

 Em sua versão original, os estímulos apresentam figuras de


animais, partindo do pressuposto que as crianças se identificam
mais prontamente com personagens animais do que com
pessoas, como apresentados nos estímulos do Teste de
Apercepção Temática – TAT, de Henry Murray (1935).

 Posteriormente foi criado o CAT-H, uma adaptação com figuras


humanas.
 O material com figuras de animais apresentou uma série
de vantagens teóricas, tais como o fato de as imagens de
animais evocarem a fantasia com mais facilidade, o que
pode ser observado nos contos de fadas, nas fábulas e no
papel destacado dos animais nos jogos infantis e nos
desenhos animados da televisão e nas histórias em
quadrinhos.

 O CAT-A compreende dez gravuras, representando


animais em várias situações, as quais permitem
investigar:
o aspectos como o relacionamento da criança com figuras
importantes em sua vida,
o a dinâmica das relações interpessoais,
o a natureza e a força dos impulsos,
o as defesas mobilizadas,
o o estudo do desenvolvimento infantil,
o a compreensão da dinâmica familiar.
Cartão 1
Cartão 2
Cartão 3
Cartão 4
Cartão 5
Cartão 6
Cartão 7
Cartão 8
Cartão 9
Cartão 10
TÉCNICA DE APLICAÇÃO:
 A aplicação do CAT está sujeita às dificuldades
comuns em técnicas destinadas às crianças,
devendo levar em consideração o nível de
compreensão da faixa etária.

 É importante estabelecer um bom rapport,


evitando provocar ansiedades relacionadas com
as expectativas da criança diante da avaliação
do desempenho.

 Geralmente o CAT é indicado para ser aplicado


no final do processo psicodiagnóstico, quando o
contato com o aplicador já foi estabelecido.
 As instruções para a aplicação do CAT são recomendadas
por Bellak e Abrams (1998):

“Este é um jogo de histórias. São dez figuras ao


todo. Eu vou mostrar uma figura por vez, e você
deve tentar criar uma história de faz de conta para
ela. Diga o que está acontecendo na figura, o que
vai acontecer depois e como termina a história. Ou
você pode dizer o que acha que aconteceu antes; em
seguida, o que está acontecendo na figura e depois
qual é o fim da história. O que interessa é você
inventar uma história com começo, meio e fim, da
sua própria imaginação. Muito bem, esta é a
primeira figura”.
 As instruções podem ser retomadas sempre que necessário
de forma sucinta e adaptada à idade e aos recursos da
criança.

 É importante que o psicólogo mantenha uma atitude de


interesse diante do que a criança narra.

 Frequentemente é preciso encorajá-la a narrar histórias,


mas deve-se ter cuidado para não induzir sua resposta ao
incentivá-la.

 Diante de uma criança que apenas descreva a figura ou


pareça ter dificuldade em inventar uma sequência de ações,
pode-se perguntar, por exemplo: “o que aconteceu antes
disso?” ou “o que aconteceu depois disso?” É importante
assegurar-se de que a criança entenda o que seja “inventar
uma história”.
 As pranchas devem ser apresentadas uma por vez, na
sequência determinada pela numeração de 1 a 10,
enquanto as demais pranchas devem permanecer fora
do alcance de criança. Isso assegura que a criança
mantenha a atenção na figura apresentada.

 Todos os comentários e comportamentos da criança


devem ser observados e anotados durante a aplicação
(gestos, expressões faciais e posturas que acompanham
os relatos).

 Narrativas incompletas ou confusas podem ser


esclarecidas com a realização de um rápido inquérito,
imediatamente após a verbalização da história.
 É importante que o aplicador utilize
perguntas abertas, tomando, assim,
o cuidado para não sugerir ou
induzir as respostas da criança.

 Todo o relato dever ser anotado


(exatamente com as palavras da
criança), bem como as interferências
do aplicador que provocaram as
associações.
DESCRIÇÃO DAS
PRANCHAS
& TEMAS
FREQUENTEMENTE
EVOCADOS NO CAT-A:
CARTÃO 1: Três pintinhos sentados à mesa, um deles sem guardanapo, com
uma grande travessa de comida. No fundo, há uma figura sombreada, de forma
vaga, sugerindo uma galinha ou um galo.
• As respostas mais típicas envolvem
referências à figura materna, geralmente
percebida como objeto que nutre e
gratifica.
• Temas referentes ao ato de comer, de ser
ou não ser alimentado, e atitudes diante da
alimentação predominam nessa prancha.
• Eventualmente podem ser percebidas
referências à rivalidade fraterna (quem
recebe mais comida, quem se comporta
bem ou mal, quem não tem guardanapo).
• O papel da comida como recompensa ou
punição e problemas gerais de oralidade
podem se revelar nas narrativas.
CARTÃO 2: Três ursos puxam uma corda, um
pequeno e um médio de um lado, um grande do outro.
• A percepção do conflito edípico costuma se
manifestar nessa prancha.
• É interessante observar com quem o ursinho
coopera (pai ou mãe).
• O estímulo também sugere temas relacionados
à competitividade que podem revelar a
segurança ou insegurança da criança quanto à
própria capacidade.
• A situação pode ser vista como uma luta,
acompanhada de medo da agressividade ou
como uma brincadeira (cabo de guerra, por
exemplo).
• A ruptura da corda pode revelar preocupação
com castigo ou, simbolicamente, medo de
castração.
CARTÃO 3: Um leão está sentado numa poltrona, segurando um cachimbo;
uma bengala pode ser vista, apoiada na poltrona. Ao fundo há um ratinho,
dentro de um buraco na parede.
• O leão costuma ser associado à figura paterna,
dado o seu papel de “rei” e a posse de símbolos
de poder, como o cachimbo e a bengala.
• A bengala pode ser percebida como instrumento
de agressividade ou para depreciação, nesse caso
a figura do leão é vista como velha e/ou
impotente, alguém que não se precisa temer (o
que pode ser fruto de uma manobra defensiva).
• É importante observar se a figura é uma força
benigna ou ameaçadora.
• O ratinho é muitas vezes a figura de identificação
da criança, mas nem sempre é prejudicado pelo
leão, muitas vezes torna-se a personagem mais
poderosa da história, conseguindo ludibriar o
leão, sem ser apanhado pelo mesmo.
• A identificação que se revela, ora com um animal
ora com outro, costuma indicar conflito entre
submissão e autonomia.
CARTÃO 4: Um canguru com um chapéu e uma bolsa carrega uma cesta onde há
uma garrafa de leite. Na sua bolsa ventral está um bebê canguru com uma bexiga na
mão. Junto está um canguru um pouco maior numa bicicleta.
• O estímulo evoca situações de lazer e relação
com a figura materna.
• Questões de rivalidade fraterna ou
preocupações com a origem dos bebês podem
se revelar
• Em ambos os casos, a relação com a mãe é
um aspecto importante.
• Podem ser identificados desejos de
autonomia (ênfase no pequeno canguru que
vai de bicicleta) ou de regressão para ficar
mais perto da mãe (identificação com o bebê
na bolsa).
• A cesta pode sugerir temas relacionados à
alimentação ou amamentação.
• Eventualmente são sugeridos temas de fuga
do perigo.
CARTÃO 5: Um quarto escuro no qual se observa uma cama de
casal, com volumes sob as cobertas. No primeiro plano, há um berço
com dois ursinhos.
• São comuns temas relacionados com a
cena primária. Por exemplo, a criança está
inquieta com o que acontece com os pais
na cama.
• Essas histórias refletem a vivência
emocional da criança relacionada com a
dinâmica edipiana, bem como as
observações, conjecturas e confusões que
vivencia perante a percepção dos pais
como um casal.
• Outras vezes, os dois ursinhos na cama
estimulam temas de exploração e
manipulação mútua.
CARTÃO 6: Uma caverna escura, dois ursos grandes dormindo.
No primeiro plano, um ursinho está deitado, de olhos abertos.
• Essa prancha também elicia
histórias relacionadas à cena
primária.
• A prática tem demonstrado que
frequentemente a prancha 6
amplia o conteúdo que ficou
retido na prancha 5.
• Temas como ciúmes, castigos,
necessidades orais (o ursinho
está com fome ou é alimentado),
ameaças (fantasmas, lobos),
necessidade de proteção e medo
de perder a mãe.
CARTÃO 7: Numa floresta, um tigre com garras e dentes à
mostra avança em direção a um macaco.
• As respostas mais típicas se referem à figura
que ataca, geralmente percebida como
masculina, hostil, persecutória e
ameaçadora.
• A prancha favorece a expressão do medo da
agressividade e de modos de lidar com ela.
• O grau de ansiedade da criança diante do
tema da agressão pode ficar evidente,
inclusive provocando rejeição à prancha.
• Algumas vezes os mecanismos de defesa
transformam o tema numa história inócua (o
macaco podendo ganhar do tigre em
esperteza; o tigre e o macaco brincam ou
são amigos) ou ainda, as histórias são
irrealistas (o macaco é mais forte que o
tigre).
CARTÃO 8: Dois macacos adultos sentados num sofá, com xícaras
nas mãos. Outro macaco adulto está perto de um macaquinho. Na
parede há um quadro de uma macaca mais velha.
• Nessa situação costuma ser refletida a
experiência da criança na constelação
familiar.
• A maneira como interpreta o adulto que fala
com a criança (ou a repreende) também é
importante.
• O macaco adulto pode ser percebido como
figura paterna ou materna, sendo sempre
significativo o fato de ser uma percepção
benigna ou inibidora.
• Nessa prancha é possível obter dados acerca
de como a criança percebe o mundo dos
adultos e como se relaciona com ele.
• Aspectos da educação recebida podem ser
evidenciados, temas de oralidade também
podem surgir.
CARTÃO 9: Um quarto às escuras, com a porta aberta, onde se
observa um coelhinho acordado no berço.

• Surgem temas referentes a medo de


escuro, de ser deixado só ou de ser
abandonado pelos pais.
• Temas relacionados a pesadelos,
agressividade e castigo também
podem ser observados.
• Eventualmente as narrativas giram
em torno do que se passa no ambiente
ao lado.
• Desejos de independência e de
crescimento também podem ser
revelados nas histórias.
CARTÃO 10: Um cachorro grande e um cachorro pequeno estão em um
banheiro. O cachorro pequeno está deitado nos joelhos do cachorro maior.

• Essa prancha sugere narrativas


que podem revelar as
concepções morais da criança.
• Histórias sobre treinamento
esfincteriano e controle dos
impulsos podem ser
observadas.
• Eventualmente também podem
surgir temas de carinho e
cuidados de higiene entre os
personagens, bem como
situações de castigo ou punição.
EXEMPLO: J., menina, 9anos
Cartão 7: “Tem um tigre que quer pegar o macaco. O
macaco está pensando: ‘Será que esse tigre quer me
comer?’, sentindo medo. O tigre está nervoso,
pensando em pegar o macaco. (O que aconteceu
antes?) O macaco estava pirraçando ele e o tigre ficou
nervoso e foi pra cima. (O que aconteceu depois?) O
leão, rei, deixou o tigre um mês sem sair de casa”.

Cartão 8: “É a mãe, o pai, a filha e o filho. Estão


conversando felizes e pensando em mudar de casa. (O
que aconteceu antes?) O filho quebrou o vidro da casa,
e a mãe colocou ele de castigo. (O que aconteceu
depois?) O pai comprou uma casa grandona”.
CAT-A
Diretrizes para a
Interpretação
3 etapas:
TEMA PRINCIPAL ANÁLISE DE SÍNTESE
CONTEÚDO
Nível descritivo Autoimagem Aspectos intelectuais

Nível interpretativo Relações objetais Autoimagem

Nível diagnóstico Concepção do ambiente Concepção do ambiente


e relações objetais
Temática Necessidades e conflitos Principais necessidades,
frequentemente evocada conflitos e ansiedades

Percepção dos Ansiedades Defesas e elaboração


elementos do estímulo dos conflitos
Mecanismos de defesa Encaminhamento

Superego

Integração do ego

Total
TEMA PRINCIPAL: tem por objetivo
explicitar o conteúdo latente do relato.
Compreende os seguintes aspectos:
 Nível descritivo: descrição sucinta e objetiva do relato.

 Nível interpretativo: qual a mensagem central do relato.

 Nível diagnóstico: ampliação do conteúdo latente para o nível


de dinâmica do indivíduo.

 Temática frequentemente evocada: verificar a proximidade do


tema da narrativa à demanda da prancha.

 Percepção dos elementos do estímulo: verificar se os estímulos


da prancha são percebidos adequadamente, se há omissão de
elementos.
Voltando aos exemplos...

Cartão 7: “Tem um tigre que quer pegar o macaco. O macaco está pensando: ‘Será que esse tigre quer me
comer?’, sentindo medo. O tigre está nervoso, pensando em pegar o macaco. (O que aconteceu antes?) O
macaco estava pirraçando, ele e o tigre ficou nervoso e foi pra cima. (O que aconteceu depois?) O leão, rei,
deixou o tigre um mês sem sair de casa”

• Nível descritivo (descrição sucinta e objetiva do relato): o macaco provoca o tigre,


que fica nervoso e quer comê-lo; o leão deixa o tigre preso em casa.

• Nível interpretativo (qual a mensagem central do relato): se faço algo errado,


sofro consequências (sou ameaçado); se sou ameaçado, alguém me protege

• Nível diagnóstico (ampliação do conteúdo latente para o nível de dinâmica do


indivíduo): há indicações de superego frágil e dificuldade do controle dos
impulsos, associadas à expectativa de proteção por parte do ambiente,
possivelmente a figura paterna.

• Temática (proximidade do tema da narrativa à demanda da prancha):


frequentemente evocada (o tigre ameaça o macaquinho).

• Percepção dos elementos do estímulo (verificar se os estímulos da prancha são


percebidos adequadamente, se há omissão de elementos): adequada.
Cartão 8: “É a mãe, o pai, a filha e o filho. Estão conversando felizes e pensando em mudar de casa.
(O que aconteceu antes?) O filho quebrou o vidro da casa, e a mãe colocou ele de castigo. (O que
aconteceu depois?) O pai comprou uma casa grandona”.

• Nível descritivo (descrição sucinta e objetiva do relato): a família de macacos


quer mudar de casa, e o filho quebra o vidro; a mãe o pune e o pai compra
uma casa grande.

• Nível interpretativo (qual a mensagem central do relato): se faço algo


errado, sou punido; se sou punido, alguém resolve o problema para mim.

• Nível diagnóstico (ampliação do conteúdo latente para o nível de dinâmica


do indivíduo): há indicações de superego frágil e dificuldade do controle
dos impulsos, associadas à expectativa de proteção e reparação por parte do
ambiente, possivelmente a figura paterna.

• Temática (proximidade do tema da narrativa à demanda da prancha):


frequentemente evocada (a macaca repreende o macaquinho).

• Percepção dos elementos do estímulo (verificar se os estímulos da prancha


são percebidos adequadamente, se há omissão de elementos): adequada.
ANÁLISE DE CONTEÚDO
1) Autoimagem: baseia-se nas características do herói principal- a figura
central do relato, ao redor do qual gira a história. O herói é considerado a
figura de identificação, na qual o sujeito projeta suas características reais
ou ideais.
Nas duas narrativas: herói é o filho macaco – características (sexo
masculino, provocador, arteiro faz o que não deve)  projetadas no sexo
oposto: indica certa dificuldade em aceitar esses comportamentos.

2) Relações objetais: investiga-se como a criança percebe as outras figuras


e o tipo de relação que estabelece com elas – pais (figura materna, figura
paterna), irmãos, amigos, rivais. As relações podem se percebidas como de
apoio, rivalidade ou outras.
Nas duas narrativas: figura materna aparece como aquela que impõe
limites, enquanto a paterna atua como protetor e reparador.
3) Concepção do ambiente: considera-se como ambiente todo o contexto que
envolve o herói, incluindo as demais personagens mencionadas no relato.
Geralmente dois ou três termos descritivos são suficientes (ex: provedor, hostil,
ameaçador, indiferente, etc.)
Relacionado às pressões que o ambiente impõe. É o que o ambiente pode
fazer ao sujeito ou para o sujeito – poder que tem para afetar o bem-estar do
sujeito
Pressão – determinante do meio externo que são efetivos ou significativos
para o comportamento. Propriedade, ou atributo, de um objeto ou pessoa
do meio que facilita ou impede os esforços do individuo para alcançar seu
objetivo. A pressão está associada a pessoas ou objetos que se acham
envolvidos, diretamente, nos esforços que o individuo faz para satisfazer
suas necessidades

Nas duas narrativas: ambiente aparece como ameaçador ou punitivo (tigre;


mãe macaca), mas também fonte de proteção e possibilidade de reparação
(leão; pai macaco), assegurando que ao final os problemas serão resolvidos.
Lista de Pressões
Discórdia cultural
Discórdia familiar
Disciplina volúvel
Separação dos pais
Ausência de um dos pais
FALTA DE APOIO FAMILIAR
Doença de um dos pais
Morte dos pais
Inferioridade dos pais
Pobreza
Lar instável / desorientado

Desproteção, falta de apoio físico


Água
PERIGO OU INFORTÚNIO
(ADVERSIDADE) Abandono, solidão, escuridão
Intempéries (perturbação atmosférica), relâmpagos
Acidente, animal, fogo
De nutrição
De possessão
AUSÊNCIA OU PERDA
De companheirismo
De variedade, mudança
RETENÇÃO Objetos que retém
REJEIÇÃO Indiferença e escárnio, desprezo
CONTEMPORÂNEO Rival, competidor

NASCIMENTO DE IRMÃO  

Maus tratos por alguém mais velho (H ou M)


Maus tratos por parte de contemporâneo
AGRESSÃO
Contemporâneos brigões
Desavença
Disciplina
DOMINAÇÃO
Orientação, treinamento religioso

CARINHO,
INDULGENCIA Apoio, generosidade

SOCORRO,
NECESSIDADE DE Procura de afeto, apoio
TERNURA

DEFERÊNCIA,
ELOGIOS, Consideração
RECONHECIMENTO

AFILIAÇÃO,
AMIZADES  

Exposição
SEXO Sedução homo/heterossexual
Intercurso dos pais

ENGANO OU
TRAIÇÃO Decepção

Físico
INFERIORIDADE Social
Intelectual
4) Necessidades e conflitos: a identificação das necessidades
se dá a partir dos comportamentos do herói ou de afirmações
explícitas do que ele procura, deseja, busca. Os conflitos se
referem a desejos incompatíveis e concomitantes, revelados a
partir das necessidades do herói, ou a impulsos que se
opõem ao superego ou ao ambiente.
Nas duas narrativas: o herói transgride (provoca o tigre e
quebra o vidro da casa), indicando necessidade de
contestar, agredir, transgredir; há conflitos relativos à
necessidade de expressão de impulsos de natureza
agressiva que se opõem ao superego e às expectativas do
ambiente e à necessidade de expressão dos impulsos e de
proteção e reparação.
Necessidades e conflitos:
Buscas (necessidades) e impasses (conflitos) do herói
Necessidades: o que ele faz, o que busca, o que precisa, o que quer, o que procura
Lista de Necessidades
Submeter-se passivamente à força externa. Aceitar injúria, censura,
crítica, punição. Render-se. Resignar-se ante a sorte. Admitir
HUMILHAÇÃO inferioridade, erro fracasso, defeito. Confessar e reparar. Censurar-se,
diminuir-se ou mutilar-se. Desejar sofrimento, punição, doença.
Infortúnio.
Realizar algo difícil. Dirigir, manipular ou organizar objetos físicos, seres
humanos ou idéias. Fazer isso tão rápido e independentemente quanto
REALIZAÇÃO possível. Vencer obstáculos e atingir um alto padrão. Superar-se a si
mesmo. Rivalizar com outros e superá-los. Aumentar a auto-estima pelo
uso bem sucedido de seus talentos.
Tornar-se íntimo de outrem, associar-se a outrem em assuntos comuns.
AFILIAÇÃO Fazer amizade e mantê-las. Ligar-se afetivamente e permanecer leal a um
amigo.
Vencer a oposição pela força. Lutar. Revidar à injúria. Atacar, injuriar,
AGRESSÃO
matar. Opor-se pela força ou punir a outrem.
Libertar-se, remover restrição, romper o confinamento. Resistir à coerção e
à restrição. Não se sentir obrigado a cumprir ordens superiores. Ser
AUTONOMIA
independente e agir segundo impulso. Não estar comprometido. Desafiar
as convenções.
Dominar ou vencer o fracasso pelo esforço. Desfazer a humilhação pela
reação. Superar a fraqueza, reprimir o temor. Defender a honra através de
CONTRA-REAÇÃO
uma ação. Procurar obstáculos e dificuldades a vencer. Manter a auto-
estima e o orgulho em alto nível.
Defender-se do ataque, da critica, da censura. Ocultar ou justificar um mal
DEFESA
feito um fracasso, uma humilhação. Reivindicar o ego.
Admirar e apoiar um superior, louvar, honrar, elogiar. Sujeitar-
DEFERÊNCIA se, avidamente, à influencia de pessoa aliada. Imitar um modelo.
Conforma-se com os costumes.

Controlar o ambiente. Influenciar ou dirigir o comportamento


DOMÍNIO alheio, através da sugestão, sedução persuasão u ordem.
Dissuadir, restringir ou proibir.

Deixar uma impressão. Ser visto e ouvido. Provocar, fascinar,


EXIBIÇÃO
causar admiração, divertir, impressionar, intrigar seduzir
AUTODEFESA Evitar a dor, o dano físico, a doença, a morte. Escapar de uma
(FÍSICA) situação perigosa. Tomar medidas de precaução.

Evitar a humilhação. Fugir a situações embaraçosas ou


AUTODEFESA
depreciativas: escárnio, ridículo, indiferença dos outros. Reprimir
(PSÍQUICA)
a ação pelo medo do fracasso.

Prover as necessidades de pessoas desamparadas como crianças


ou pessoas fracas, incapazes, inexperientes, enfermas,
ALTRUISMO arruinadas, humilhadas, abandonadas, aflitas e mentalmente
perturbadas. Ajudar alguém em perigo. Alimentar, ajudar,
consolar, proteger, curar, confortar, cuidar.

Pôr as coisas em ordem. Promover a limpeza, o arranjo, a


ORDEM
organização. O equilíbrio, a precisão.
Agir por brincadeira, sem segundas intenções. Rir, contar
ENTRETENIMENTO anedotas. Procurar relaxar a tensão. Participar de jogos,
atividades desportivas, bailes, reuniões sociais.
Separar-se de uma influencia negativa. Excluir, abandonar um
REJEIÇÃO objeto inferior ou tornar-se indiferente a ele. Repelir ou
desprezar um objeto.
SENSITIVIDADE Procurar impressões sensuais e sentir prazer nelas.
SEXO Planejar e manter uma relação erótica. Intercurso sexual.

Ter suas necessidades satisfeitas pela ajuda simpática de uma


pessoa amiga, ser protegido, sustentado, cercado, amado,
APOIO
aconselhado, guiado, perdoado, consolado. Permanecer ao lado
de um devoto protetor. Ter um defensor permanente.

Perguntar e responder. Interessar-se por teorias. Especular,


COMPREENSÃO
formular, analisar, generalizar.

Conflitos: desejos incompatíveis e concomitantes às necessidades; impulsos


que se opõem ao superego ou ao ambiente; duas forças de igual intensidade,
com caminhos opostos. Ex.: autoridade/submissão;
dependência/independência; proteção/abandono; força/fragilidade;
agressão/impotência; atividade/passividade; id/ego; ego/superego; id/superego
5) Ansiedades: as ansiedades referem-se ao que está por trás
dos conflitos, àquilo que realmente a criança de defende,
seus principais medos.
As ansiedades mais importantes, segundo Bellak, são:
 de danos físicos
 de castigos
 de desaprovação
 de falta ou perda de amor
 de ser abandonado (solidão, falta de apoio)
 de carência
 de desaprovação
 de ser dominado e estar indefeso
 de causar um dano físico ou castração

Nas duas narrativas: ansiedades relativas à expressão da agressividade


(provocar o tigre; quebrar o vidro da casa), punição (ser comido pelo
tigre; ficar de castigo), medo de falta de apoio e de perda do objeto de
amor (perda de proteção e da casa). Sua intensidade, porém, é
suportável para a criança que mantém um discurso organizado.
6) Mecanismos de defesa: os mecanismos destacados por Haworth
(1963) são destacados a seguir. [ver “Esquema de mecanismos
adaptativos...”]

a) Descrição dos mecanismos de defesa adaptativos:


 Formação reativa: um impulso é mantido inconsciente por meio
da adoção do seu oposto (ex: amor x ódio).
 Anulação: uma ação visa ao cancelamento ou à negação do que
foi expresso anteriormente.
 Ambivalência: expressão de atitudes ou sentimentos
contraditórios em relação a um objeto, pessoa ou ato.
 Isolamento: consiste na ruptura das conexões associativas de um
comportamento ou pensamento, de forma que essa associação
seja quebrada. Alguns processos de isolamento podem ser
identificados por pausas no decurso do pensamento, rituais,
outras estratégias que levem ao estabelecimento de um hiato na
sucessão temporal dos pensamentos e dos atos.
 Repressão: é a operação psíquica que visa fazer desaparecer da
consciência um conteúdo indesejável ou intolerável (ideia,
pensamento, afeto).
 Negação: mecanismo utilizado quando outros mecanismos de
defesa não foram suficientes para barrar o desejo reprimido. Pode-
se negar a realidade ou parte dela.
 Falseamento: trata-se de uma distorção da realidade decorrente
da dificuldade em aceita-la conforme se apresenta.
 Simbolização: uso de símbolos que representam um grupo
complexo de objetos e atos associados a desejos reprimidos que
podem envolver aspectos inaceitáveis para o indivíduo.
 Projeção: o impulso inaceitável ou intolerável à consciência é
atribuído à outra pessoa, objeto ou realidade externa. O indivíduo
expulsa de si qualidades, sentimentos, pensamentos ou desejos
que não aceita em si mesmo e os localiza no outro.
 Introjeção: visa a resolver as dificuldades emocionais do
indivíduo por meio da atribuição a si mesmo, de determinadas
características de outras pessoas ou objetos.
b) Descrição dos mecanismos fóbicos, imaturos ou desorganizados:
- Referem-se essencialmente ao fracasso da proteção ao ego. Os
conteúdos se manifestam acompanhados de afetos intensos e de
natureza desagradável. Evidenciam comprometimento progressivo
dos Processos Secundários.

 Medo e ansiedade: os conteúdos ansiógenos se expressam


explicitamente. O discurso permanece relativamente organizado,
mas não há possibilidade de enfrentamento ou solução do conflito
proposto pela prancha.
 Regressão: trata-se de um retorno a estágios anteriores do
desenvolvimento. Indica a adoção de modos de expressão e de
comportamento de nível inferior em termos de estruturação egóica.
 Controles frágeis ou ausentes: indicam comprometimento dos
Processos Secundários, o que dá origem à expressão de conteúdos
primitivos e intensos, com perda de qualidade do discurso (falhas
de lógica e articulação).
Esquema de mecanismos adaptativos nas respostas ao CAT (Haworth,
    Mecanismos de defesa
  A. 1963)
Formação reativa (apenas 1 ponto por história)
.................   1. Bondade exagerada
(A + B = 5)   2. Atitudes de oposição, rebeldia, teimosia
    3. Tom da história oposto ao conteúdo da figura
     
  B. Anulação e ambivalência (somente 1 ponto por história)
    1. Anulação
    2. Apresenta alternativas: expressões opostas (dormir-acordar; quente-frio etc)
    3. Indecisão do narrador ou do personagem da história
    4. Restrição (por ex: “aquilo..., não, isso...”; “ele ia fazer, mas...”)
     
.................. C. Isolamento
(6)   1. Atitude desapegada (“não pode acontecer”; “é um desenho animado”)
    2. Literal (“não aparece, não posso dizer”)
    3. Comentários sobre a história ou a figura (“Essa é difícil”; “Contei uma boa”)
    4. Ri do estímulo, exclamações
    5. Temas ou personagens de contos de fada, quadrinhos ou “de antigamente”
    6. Descrição detalhada, lógica; “fim”; dá um título à história
    7. Detalhes específicos, nomes ou falas (“quatro horas”; “então ela falou...”)
    8. O personagem se perde
    9. O personagem foge por causa da raiva
    10. O narrador compactua com os pais contra o personagem infantil “malcriado”; reprova as ações do personagem infantil

     
................... D. Repressão e negação
(5)   1. O personagem infantil aguarda, controla-se, conforma-se, é bom, aprendeu a lição
    2. Aceita o destino, não queria mesmo
    3. Castigos prolongados ou remotos
    4. “Foi só um sonho”
    5. Esquece ou perde alguma coisa
    6. Omite figuras ou objetos da história (c.10: deve omitir menção ao banheiro e à banheira ou banho)

    7. Omite conteúdo habitual da história


    8. Sem enredo ou história (descreve o estímulo)
    9. Rejeita o estímulo
     
................... E. Falseamento
(3)   1. A criança é superior ao adulto, ri do adulto, é mais esperta, engana o adulto, é sorrateira, finge, esconde-se do adulto, espia o
adulto (somente 1 ponto por história)

(ou 2, se ambos   2. O adulto engana a criança, não é o que parece ser (somente 1 ponto por história)
forem E-2)

     
................... F. Simbolização
(4)   1. As crianças brincam na cama
    2. Vê pais na cama
    3. Abre a janela (c. 5, c. 9); cava ou cai em um buraco
    4. Nascem bebês
    5. A corda se parte (c. 2); cadeira ou bengala quebram (c. 3); balão estoura (c. 4); cauda puxada ou mordida (c. 4, c. 7); berço
quebrado (c. 9)

    6. Chuva, rio, água, tempestades, frio


    7. Fogo, explosões, destruição
    8. Varas, facas, armas
    9. Corta, perfura, machuca, mata (não para comer)
    10. Privação oral
     
................... G. Projeção e introjeção
(4)   1. Agressor é agredido, “devore e seja devorado”
    2. O inocente é atacado ou devorado
    3. A criança é o agressor ativo (morde, golpeia, lança; não inclui ataques verbais ou de provocação

    4. Os personagens culpam outros


    5. Outros têm segredos e zombam de alguém
    6. O narrador acrescenta detalhes, objetos ou personagens ou temas orais
    7. Magia ou poderes mágicos
    Mecanismos fóbicos, imaturos ou desorganizados
................. H. Medo e ansiedade
(3)   1. A criança se esconde do perigo; foge porque tem medo
    2. Medo de forças externas (vento, fantasmas, caçadores, animais selvagens, monstros)
    3. Sonha com o perigo
    4. Pai ou mãe estão mortos, vão embora ou não querem a criança
    5. Lapso verbal da criança
     
.................. I. Regressão
(2)   1. Muito afeto ao narrar a história
    2. Referências pessoais
    3. Comida derramada
    4. Cama ou calça molhada, água espirrada
    5. Sujo, desorganizado, malcheiroso; pessoa ou objeto cai no banheiro
    6. Fantasmas, bruxas, casa mal-assombrada
     
................. J. Controles frágeis ou ausentes
(1)   1. Ossos, sangue
    2. Veneno
    3. Ruídos ou palavras sem sentido
    4. Perseveração de conteúdo atípico de uma história anterior
    5. Pensamento tangencial, associações frouxas
    6. Conteúdo bizarro
     
    Identificação
................. L. Adequada, mesmo sexo
(L = K ou   1. O narrador se identifica com genitor ou personagem infantil do mesmo sexo
L > K)

    2. A criança tem ciúmes do genitor do mesmo sexo ou é por ele repreendida ou castigada
    3. A criança ama o genitor do sexo oposto ou é por ele ajudada
     
  K. Confusa ou sexo oposto
    1. O narrador se identifica com o genitor ou personagem infantil do sexo oposto
    2. A criança teme o genitor do sexo oposto ou é por ele repreendida ou castigada
     
    3. Identificação incorreta do sexo ou espécie pelo narrador
    4. Lapso verbal quanto ao sexo das figuras
Nos exemplos:

Cartão 7
Formação reativa: 2. Atitudes de oposição, rebeldia: “O macaco estava pirraçando ele”
Isolamento: 7. Detalhes específicos, nomes ou falas: “O macaco está pensando: ‘será que esse tigre quer
me comer?’”
Projeção e introjeção: 2. o inocente é atacado ou devorado: “O tigre ficou nervoso e foi pra cima”
(compatível com a temática); 6. O narrador acrescenta detalhes, objetos ou temas orais: “O leão, rei,
deixou o tigre um mês sem sair de casa” (+ figura do leão)

Cartão 8
Formação reativa: 2. Atitudes de oposição, rebeldia: “O filho quebrou o vidro da casa”
Introjeção e projeção: 3. A criança é o agressor ativo: “O filho quebrou o vidro da casa”

Em nenhum dos cartões se observa um uso exagerado de defesas (não são atingidas as notas de
corte). Pode-se supor defesas suficientes para manter o discurso organizado, mas que não
impedem a expressão e conscientização dos conflitos.
7) Superego:
 verifica-se se existe alguma punição pelos comportamentos
inadequados do herói e, se houver, se é proporcional à gravidade
do deslize cometido (o que indica a presença de um superego
atuante), exagerado em relação à gravidade da falha (o que indica
a interferência de um superego rígido) ou leve demais ou
inexistente (o que indica um superego frágil).
 Nem todos os relatos permitem verificar diretamente o superego.
Portanto...
No item: Superego:
 Avaliar o grau de severidade do superego
 Verificar se na história houve castigo ou punição pelos comportamentos
inadequados do herói e se é ou não proporcional à gravidade do deslize
cometido
 Superego
 Frágil
 Rígido / muito rígido (severo)
 Atuante
 Suave / discreto
 Apropriado / inapropriado
 Indulgente (o herói fere ou mata sem punição)

Há consciência de “certo e errado”, na medida em que os personagens


que apresentam comportamento agressivo ou inadequado são
punidos. Pode-se supor que seja um superego frágil: herói do cartão 8
é punido mas as consequências de seus atos são reparadas ou
resolvidas pela ação do ambiente (fig. paterna). Cartão 7: punição é
aplicada a um personagem secundário (tigre).
8) Integração do ego: indica o nível geral de funcionamento psíquico da criança.
Basicamente indica se a criança conseguiu resolver ou não o conflito.
 O grau de adequação do herói para lidar com os conflitos presentes na
trama são uma boa indicação disso.
 Uma boa integração do ego é indicada por desenlaces realistas, que
apresentam soluções adequadas, coerência e boa qualidade do relato.
 Desenlaces negativos, omitidos ou irrealistas indicam baixa integração do
ego.
 Uma integração de ego fraca é observada em relatos impessoais e
meramente descritivos, sem a elaboração de uma história ou em narrativas
desorganizadas. No relato descritivo, o uso das defesas impede a
emergência de conteúdos pessoais. No relato desorganizado, a ineficiência
das defesas dá lugar a um maior nível de ansiedade, que compromete o uso
adequado dos recursos egoicos.
 A percepção adequada dos diferentes elementos do estímulo ajuda a
verificar se a criança mantém a capacidade de adaptação.
 A consulta aos temas mais frequentemente evocados em cada prancha
permite identificar as narrativas mais pessoais de cada criança.
Lista de Desfecho
SOLUÇÃO
Herói favorecido em suas necessidades respeitando regras sociais
ADAPTADA
COMPROMISSO Entreaberto, finge que resolve, mas na verdade a questão fica
VIÁVEL pendente
DEPENDENTE DE
Arruma-se uma saída
AJUDA EXTERIOR
HIPOTÉTICO Coloca-se uma condicional, o desfecho depende de uma hipótese
MÚLTIPLAS Varias soluções
PLACADA OU
Moral da historia
MORALIZADA
SOLUÇÃO
AUTOPUNITIVA A solução pune o herói – normalmente ligada a superego rígido
OU DE FRACASSO
DESVIOS Fantasias, devaneios, fica imaginando como ficaria bem em tal
NARCISISTAS situação
SOLUÇÃO POR
SATISFAÇÃO DOS A solução que encontra para satisfazer seus desejos / necessidades
IMPULSOS
DISCORDANTE
EM RELAÇÃO AO A solução não tem nada a ver com o tema
TEMA
AUSÊNCIA DE
 
SOLUÇÃO
Nos exemplos...
Observa-se uma integração apenas parcial dos conteúdos próprios.

Relatos apresentam sensibilidade aos temas que costumam ser eliciados pelos
estímulos, associada a conteúdos pessoais, dado que as histórias apresentam
um desenvolvimento completo.

As defesas não são excessivas, pois permitem a expressão dos conflitos, sendo
suficientes para manter o discurso organizado.

A presença de punições indica interferência do superego, mas os desenlaces,


positivos pela ação de outra figura, apontam dificuldade de conter os impulsos
e em lidar efetivamente com os conteúdos expressos, o que sugere uma
integração de ego razoável.
Formulário para Análise de Conteúdo
CAT-A: Análise de conteúdo
  1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total
  P N P N P N P N P N P N P N P N P N P N P N
Autoimagem                                            
 
Relações                                            
Objetais

Concepção do                                            
ambiente

Necessidades e                                            
conflitos
Ansiedades                                            
 
Defesas                                            
 
Superego                                            
 
Integração do ego                                            

                                             
Total 2                                            
 

Predominantemente negativas: cartões ........................


Predominantemente positivas: cartões ........................
Desvia-se do tema frequentemente evocado: cartões ........................
Distorção aperceptiva: cartões ........................
Omissão de elementos comumente percebidos: cartões ........................
SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS:
- Na ficha CAT-A: Análise de conteúdo, as histórias recebem um ponto
positivo ou negativo, de acordo com os elementos identificados no
esquema de interpretação. Os critérios para atribuição desses pontos são:
 Autoimagem: ponto positivo quando o herói apresenta características
como: bom, corajoso, capaz, adequado. Ponto negativo quando o herói é
visto como incapaz, mau, inferior, quando apresente sentimentos de
desaprovação ou rejeição.
 Relações objetais: ponto positivo quando as figuras parentais ou outras
figuras (irmãos, amigos) denotam aceitação, compreensão, proteção e
afeto. Ponto negativo quando essas figuras provocam sentimentos de
insegurança, rejeição, desvalorização.
 Concepção de ambiente: ponto positivo quando o ambiente da narrativa
indica que o herói se sente valorizado, acolhido, seguro. Ponto negativo
quando o ambiente sugere relações ou situações de insegurança,
inadequação ou falta de apoio.
 Necessidades e conflitos: ponto positivo quando as
necessidades e os conflitos são explicitados com discurso
organizado. Ponto negativo quando as necessidades ou os
conflitos não são expressos (conteúdo pobre) ou estão
presentes de modo intenso (repetição de palavras ou ideias,
neologismos ou frases sem sentido).
 Ansiedades: ponto positivo quando associadas a crescimento,
aprovação e busca de solução adequada. Ponto negativo
quando as ansiedades refletem medo de perda do amor,
sentimentos de desaprovação, abandono ou falta de apoio.
 Mecanismos de defesa: ponto positivo quando indicam
habilidade para lidar com estímulos internos e externos
(mecanismos adaptativos). Ponto negativo quando indicam
inadequação ou insegurança para lidar com estímulos
internos e externos (mecanismos fóbicos, imaturos ou
desorganizados).
 Superego: ponto positivo quando se mostra adequado, ou seja,
quando a punição (castigo) é proporcional ao delito. Ponto
negativo quando a atuação do superego mostra-se ausente
(não há qualquer punição) ou rígido (a punição é severa
demais diante da gravidade do delito).
 Integração do ego: esse item inclui a qualidade do discurso e o
desenlace da narrativa. Ponto positivo é atribuído quando o
relato se mostra organizado, levando a uma solução adequada
dos conflitos (desenlace realista). Ponto negativo quando o
relato se mostra descritivo (pobre) ou revela dificuldade em
solucionar os conflitos (desenlaces insatisfatórios, irrealistas
ou omitidos).
 Total: ao final, é obtido um total de pontos positivos e um
total de pontos negativos para o protocolo, indicando o
predomínio de aspectos favoráveis ou desfavoráveis,
associados à autoestima da criança, às suas concepções de
mundo e a sua capacidade de lidar com ansiedades e conflitos
mobilizados.
1) Autoimagem: baseia-se nas características do Autoimagem: ponto positivo quando o
herói principal- a figura central do relato, ao herói apresenta características como:
redor do qual gira a história. O herói é
bom, corajoso, capaz, adequado. Ponto
considerado a figura de identificação, na qual o
sujeito projeta suas características reais ou negativo quando o herói é visto como
ideais. incapaz, mau, inferior, quando apresente
sentimentos de desaprovação ou rejeição.
Nas duas narrativas: herói é o filho macaco –
características (sexo masculino, provocador, C.7, C.8: P = 0; N = 1
arteiro faz o que não deve)  projetadas no
sexo oposto: indica certa dificuldade em
aceitar esses comportamentos.
Relações objetais: ponto positivo quando
as figuras parentais ou outras figuras
2) Relações objetais: investiga-se como a (irmãos, amigos) denotam aceitação,
criança percebe as outras figuras e o tipo de
relação que estabelece com elas – pais (figura
compreensão, proteção e afeto. Ponto
materna, figura paterna), irmãos, amigos, rivais. negativo quando essas figuras provocam
As relações podem se percebidas como de apoio, sentimentos de insegurança, rejeição,
rivalidade ou outras. desvalorização
Nas duas narrativas: figura materna aparece
C.7, C.8: P = 1; N = 0
como aquela que impõe limites, enquanto a
paterna atua como protetor e reparador.
3) Concepção do ambiente: considera-se Concepção de ambiente: ponto positivo
como ambiente todo o contexto que quando o ambiente da narrativa indica
envolve o herói, incluindo as demais que o herói se sente valorizado, acolhido,
personagens mencionadas no relato. seguro. Ponto negativo quando o
Geralmente dois ou três termos ambiente sugere relações ou situações de
descritivos são suficientes (ex: provedor, insegurança, inadequação ou falta de
hostil, ameaçador, indiferente, etc.) apoio.
Nas duas narrativas: ambiente
aparece como ameaçador ou punitivo C.7, C.8: P = 1; N = 0
(tigre; mãe macaca), mas também
fonte de proteção e possibilidade de
reparação (leão; pai macaco),
assegurando que ao final os problemas
serão resolvidos.
4) Necessidades e conflitos: a identificação das necessidades Necessidades e conflitos: ponto positivo
se dá a partir dos comportamentos do herói ou de afirmações
explícitas do que ele procura, deseja, busca. Os conflitos se quando as necessidades e os conflitos são
referem a desejos incompatíveis e concomitantes, revelados a explicitados com discurso organizado.
partir das necessidades do herói, ou a impulsos que se opõem
ao superego ou ao ambiente. Ponto negativo quando as necessidades ou
os conflitos não são expressos (conteúdo
Nas duas narrativas: o herói transgride (provoca o tigre e
quebra o vidro da casa), indicando necessidade de pobre) ou estão presentes de modo intenso
contestar, agredir, transgredir; há conflitos relativos à (repetição de palavras ou ideias,
necessidade de expressão de impulsos de natureza
agressiva que se opõem ao superego e às expectativas do
neologismos ou frases sem sentido).
ambiente e à necessidade de expressão dos impulsos e de C.7, C.8: P = 0; N = 1
proteção e reparação.

5) Ansiedades: as ansiedades referem-se ao que está por trás Ansiedades: ponto positivo quando
dos conflitos, àquilo que realmente a criança de defende, seus
principais medos. De acordo com Bellak e Abrams (1998), as associadas a crescimento, aprovação e busca
ansiedades mais importantes são relacionadas a: danos físicos, de solução adequada. Ponto negativo
abandono (solidão falta de apoio), castigo e falta ou perda
de amor (desaprovação).
quando as ansiedades refletem medo de
perda do amor, sentimentos de
Nas duas narrativas: ansiedades relativas à expressão da
agressividade (provocar o tigre; quebrar o vidro da casa),
desaprovação, abandono ou falta de apoio.
punição (ser comido pelo tigre; ficar de castigo), medo de C.7, C.8: P = 1; N = 0
falta de apoio e de perda do objeto de amor (perda de
proteção e da casa). Sua intensidade, porém, é suportável
para a criança que mantém um discurso organizado.
6) Mecanismos de defesa: os mecanismos destacados por Mecanismos de defesa: ponto positivo quando
Haworth (1963) são destacados a seguir. [ver “Esquema
de mecanismos adaptativos...”]
indicam habilidade para lidar com estímulos
internos e externos (mecanismos adaptativos).
Cartão 7
Formação reativa: 2. Atitudes de oposição, rebeldia: “O
Ponto negativo quando indicam inadequação
macaco estava pirraçanco ele” ou insegurança para lidar com estímulos
Isolamento: 7. Detalhes específicos, nomes ou falas: “O internos e externos (mecanismos fóbicos,
macaco está pensando: ‘será que esse tigre quer me imaturos ou desorganizados).
comer?’”
Projeção e introjeção: 2. o inocente é atacado ou devorado: C.7: P = 1; N = 0
“O tigre ficou nervoso e foi pra cima” (compatível com a
temática); 6. O narrador acrescenta detalhes, objetos ou
temas orais: “O leão, rei, deixou o tigre um mês sem sair de
casa” (+ figura do leão)

Cartão 8
Formação reativa: 2. Atitudes de oposição, rebeldia: “O
filho quebrou o vidro da casa”
Introjeção e projeção: 3. A criança é o agressor ativo: “O C.8: P = 1; N = 0
filho quebrou o vidro da casa”

Em nenhum dos cartões se observa um uso exagerado de


defesas (não são atingidas as notas de corte). Pode-se
supor defesas suficientes para manter o discurso
organizado, mas que não impedem a expressão e
conscientização dos conflitos.
7) Superego: Superego: ponto positivo quando se
 verifica-se se existe alguma punição pelos mostra adequado, ou seja, quando a
comportamentos inadequados do herói e, se punição (castigo) é proporcional ao
houver, se é proporcional à gravidade do delito.
deslize cometido (o que indica a presença de
Ponto negativo quando a atuação do
um superego atuante), exagerado em relação à
gravidade da falha (o que indica a interferência superego mostra-se ausente (não há
de um superego rígido) ou leve demais ou qualquer punição) ou rígido (a punição é
inexistente (o que indica um superego frágil). severa demais diante da gravidade do
 Nem todos os relatos permitem verificar delito).
diretamente o superego.

• Há consciência de “certo e errado”, na


medida em que os personagens que
apresentam comportamento agressivo ou C.7, C.8: P = 1; N = 0
inadequado são punidos. Pode-se supor que
seja um superego frágil: herói do cartão 8 é
punido mas as consequências de seus atos
são reparadas ou resolvidas pela ação do
ambiente (fig. paterna). Cartão 7: punição é
aplicada a um personagem secundário
(tigre).
8) Integração do ego: indica o nível geral de Integração do ego: esse item inclui a qualidade
funcionamento psíquico da criança. Basicamente do discurso e o desenlace da narrativa. Ponto
indica se a criança conseguiu resolver ou não o positivo é atribuído quando o relato se mostra
conflito. organizado, levando a uma solução adequada
dos conflitos (desenlace realista). Ponto
Observa-se uma integração apenas parcial dos negativo quando o relato se mostra descritivo
conteúdos próprios. (pobre) ou revela dificuldade em solucionar os
conflitos (desenlaces insatisfatórios, irrealistas
Relatos apresentam sensibilidade aos temas ou omitidos).
que costumam ser eliciados pelos estímulos,
associada a conteúdos pessoais, dado que as C.7, C.8: P = 0; N = 1
histórias apresentam um desenvolvimento
completo.

As defesas não são excessivas, pois permitem a


expressão dos conflitos, sendo suficientes para
manter o discurso organizado.

A presença de punições indica interferência do


superego, mas os desenlaces, positivos pela
ação de outra figura, apontam dificuldade de
conter os impulsos e em lidar efetivamente
com os conteúdos expressos, o que sugere uma
integração de ego razoável.
CAT-A: Análise de conteúdo
  7 8 Total
  P N P N P N
Autoimagem 0  1 0 1 0 2
 
Relações Objetais 1 0 1 0 2 0
 
Concepção do ambiente 1 0 1 0 2 0
 
Necessidades e conflitos 0 1 0 1 0 2
 
Ansiedades 1 0 1 0 2 0
 
Defesas 1 0 1 0 2 0
 
Superego 1 0 1 0 2 0
 
Integração do ego 0 1 0 1 0 2
 
             
Total 2  5 3 5 3
  10 6
ELABORAÇÃO DA SÍNTESE
 No contexto clínico, o objetivo último da análise é chegar a uma
compreensão global do funcionamento da criança. Deve destacar:
 Aspectos intelectuais: considerar a amplitude do vocabulário, a
riqueza do discurso, a diversidade dos temas abordados, levando
em conta a idade e o nível sociocultural da criança.
 Autoimagem: abordar como a criança se percebe e o quanto confia
em sua própria capacidade de resolver as dificuldades que
enfrenta (adequação e participação do herói nos desenlaces; tipo
de desenlace).
 Concepção do ambiente e relações objetais: indicar como a criança
percebe o ambiente e as pressões; bem como suas inter-relações.
Particular atenção deve ser dada às representações das figuras
parentais.
 Principais necessidades, conflitos e ansiedades: apontar quais são
as necessidades e os conflitos mais recorrentes.
 Defesas e elaboração dos conflitos: identificar quais são as defesas
mais usadas e suas consequências em termos de facilitar ou dificultar
a elaboração dos conflitos expressos nos relatos. Considerar aqui
dados referentes ao superego e ao grau de integração do ego.
 Encaminhamento: considerar a necessidade ou não de intervenções e
possíveis alternativas que ajudem a criança no enfrentamento de suas
dificuldades, seja em relação à família ou ao ambiente em geral.
 
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
BELLAK, L. & ABRAMS, D. V. CAT-A: Teste de apercepção infantil – figuras de animais.
Adaptado à população brasileira por Adele de Miguel (et. al.). São Paulo: Vetor, 2010.
CAROTENUTO, C. O pesadelo infantil e o teste CAT: uma análise psicodinâmica. São
Paulo: Vetor, 2003.
CUNHA, J. A. Psicodiagnóstico- V. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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