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PSICOLOGIA E POBREZA NO BRASIL:

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E
ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO
MAPA DA NOVA POBREZA: ESTUDO REVELA QUE 29,6% DOS
BRASILEIROS TÊM RENDA FAMILIAR INFERIOR A R$ 497 MENSAIS

• O estado com menor taxa de pobreza em • De acordo com o estudo, o contingente


2021 foi Santa Catarina (10,16%). No de pessoas com renda domiciliar per
extremo oposto está o Maranhão, com a capita de até R$ 497 mensais atingiu 62,9
maior proporção de pobres (57,90%). milhões de brasileiros em 2021, o que
• A pobreza aumentou durante a pandemia no representa 29,6% da população total do
Brasil. A constatação é do estudo “Mapa da país.
Nova Pobreza”, desenvolvida pelo FGV • Em dois anos (2019 a 2021), 9,6 milhões
Social, a partir de dados disponibilizados de pessoas tiveram sua renda
pela Pesquisa Nacional por Amostra de comprometida e ingressaram no grupo de
Domicílios Contínua (PNADC), divulgada brasileiros que vivem em situação de
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e pobreza.
Estatística (IBGE).

FONTE: https://portal.fgv.br/noticias/mapa-nova-pobreza-estudo-revela-296-brasileiros-tem-renda-familiar-inferior-r-497-
mensais
POBREZA, EXTREMA POBREZA E DESIGUALDADE BATEM
RECORDES NAS METRÓPOLES EM 2021, DIZ ESTUDO

• Em relação à extrema pobreza, o grupo de • “Houve um salto muito grande da pobreza e


pessoas nessa situação chegou a 5,3 da extrema pobreza entre 2019 e 2021,
milhões em 2021, o que representa 6,3% passando por 2020, que é um período
dessa população. Mais da metade destas, interessante porque está no meio da crise.
3,1 milhões de pessoas entraram nesta Ainda assim, tem uma melhora de alguns
situação nos últimos 7 anos, sendo 1,6 indicadores, em função da Auxílio
milhões delas em 2021. Emergencial de R$ 600 para mais de 65
milhões de famílias durante a pandemia de
 a linha de pobreza considera uma renda per Covid-19”, afirmou um dos coordenadores
capita de até R$ 465, do estudo e professor da PUCRS, Andre
 e extrema pobreza abaixo de R$ 160. Salata.
https://www.cnnbrasil.com.br/business/pobreza-extrema-pobreza-e-desigualdade-batem-recordes-nas-
metropoles-em-2021-diz-estudo/
• Em um país marcado por uma profunda desigualdade social, a pobreza figura como um dos
seus traços mais pungentes.

• as linhas de pobreza e indigência definem como pobres aqueles que não dispõem dos meios
para atender às necessidades de alimentação, nem às demais necessidades de vestuário,
educação, despesas pessoais, habitação, etc
• Aqueles incapazes de atender às necessidades alimentares básicas, que gastam a maior parte
de seu tempo e energias em busca da satisfação de necessidades vitais são considerados
indigentes (Rocha, 1995).
• Considerando a Psicologia como uma • De caráter estritamente elitista os
profissão situada no campo do bem-estar psicólogos passam gradativamente a ocupar
social, emerge a indagação de partida do espaços no setor do bem-estar público.
presente estudo: quais são as respostas • Esse movimento ganha expressão,
que têm sido dadas pelos psicólogos em sobretudo a partir dos anos 1980, no
sua prática profissional no trato da contexto do reordenamento institucional
questão da pobreza? após o período autocrático-burguês, dando
espaço para a elaboração de políticas
sociais de cunho menos conservador e com
tendências redistributivas.
• A despeito da permanência das práticas • Tal busca é reflexo da mudança nos
tradicionalmente consagradas na Psicologia contextos de intervenção e das pressões por
(Yamamoto, 2003), é inegável que a inserção uma atuação socialmente comprometida.
profissional ampliada tem obrigado o psicólogo • a prática em espaços de trabalho que
a buscar novas fontes de conhecimento para implicam uma ação com a população pobre
fundamentar a sua prática, assim como a não significa, necessariamente, uma
diversificação das suas formas de atuação, atuação socialmente comprometida.
procurando superar a intervenção individual em
direção daquela que exige a inserção em
equipes multiprofissionais • É preciso qualificar tal atuação, ter a
percepção clara dos limites dessa prática,
considerando seu contexto sociopolítico.
• a necessidade de caminhar para que a Psicologia pudesse, de fato, oferecer uma prática
socialmente transformadora das condições materiais de existência da população, e o
caminho, além da criação de novas formas de atuar, seria a produção de um conhecimento
ainda não utilizado pela profissão, um conhecimento que subsidiasse técnicas, mas que
pudesse ser maleável a ponto de adequar-se à pluralidade da população brasileira
(Bock,1999a, 1999b, 2003; Botomé,1979; Coimbra, 1995; Ferreira Neto, 2004; Mello, 1975;
Yamamoto,1987).
• as respostas que a Psicologia tem dado a esse quadro têm sido questionadas, tanto no que
concerne à produção do conhecimento sobre a questão quanto no que se refere à intervenção
na realidade social.
• há ações profissionais do psicólogo que têm
ultrapassado os limites do assistencialismo
na busca de um compromisso de mudanças
significativas na vida das populações
consideradas pobres?
RESULTADOS DA PESQUISA
• 14,83% foram publicados nos Cadernos de • revista Psicologia e Sociedade (9,6), da
Pesquisa da Fundação Carlos Chagas, Associação Brasileira de Psicologia Social
periódico que divulga estudos e pesquisas (ABRAPSO), que se constituiu, desde
na área da Educação. meados da década de 1980, importante
• ( parte do que é produzido na Psicologia veículo de divulgação do conhecimento
não se encontra, necessariamente, em produzido pela vertente crítica da
veículos da área) Psicologia Social Brasileira, que busca a
aproximação da profissão das demandas
reais da população nacional.
RESULTADOS DA PESQUISA
• Crise – desemprego – os profissionais • destaca-se o setor público de saúde, no qual
buscaram a inserção em novos campos de o psicólogo encontra uma população
atuação, principalmente no campo do bem- predominante pobre que não se enquadrava
estar social nos conhecimentos psicológicos produzidos
até aquele momento.
• Dessa forma, seja pelo estranhamento das
condições vida da população, seja pela
necessidade de um conhecimento mais
próximo à realidade dessa população, era
necessário produzir ou, na maioria das
vezes, adequar teorias e técnicas que
atendessem a essa nova realidade.
RESULTADOS DA PESQUISA
• A vinculação da pobreza a uma temática
mais ampla ou central revela que o tema é
estudado pela Psicologia em suas
consequências, e não como categoria
central.
• Ou seja, é estudada nas tentativas de
minimizar seus efeitos por meio das
políticas sociais, cuja intervenção se situa
sempre no nível das consequências,
podendo refletir em práticas de caráter
pontual e paliativo.
O “LUGAR” DA POBREZA NO CONHECIMENTO
PSICOLÓGICO BRASILEIRO
• predominância das áreas da Psicologia • Os demais chamam atenção por representarem
Social (44,0%), Psicologia Escolar e da historicamente as influências da Psicologia, ao
Educação (14,8%) e Psicologia do estudarem as consequências da situação de
pobreza para os indivíduos, tanto em relação ao
Desenvolvimento (13,9%) nos estudos
seu desenvolvimento como às possíveis
sobre a pobreza. dificuldades de aprendizagem decorrentes de
“condições sociais desfavoráveis”.
• A Psicologia Social, por ter se constituído • A Psicologia Clínica e da Personalidade aparece
em terceiro lugar com 8,6%. Aqui reside a
no Brasil principalmente a partir da década discussão da clínica como possibilidade de
de 1980 como um dos principais campos de atenção em qualquer espaço, em quaisquer
crítica ao “caráter elitista” da Psicologia situações, necessitando, quando muito, de
Brasileira, tem destaque nesses estudos. adaptações em virtude da diferenciação da
clientela, mas sem perder sua essência.
• Atuação profissional do psicólogo com • dificuldades encontradas pelos psicólogos
populações pobres, ao participarem de trabalhos
• Os trabalhos, de uma forma geral, se tradicionalmente diferentes dos que
propõem a relatar experiências de atuação estavam acostumados a fazer
profissional, geralmente vinculados à
academia e, em sua maioria, denominados
de Psicologia Comunitária ou Psicologia na
Comunidade.
• Essas experiências resultam em
questionamentos acerca da prática
profissional, principalmente, no que se
refere à sua adequação à população atendida.
• Em outros artigos, a tônica das discussões revela tendências presentes principalmente na
Psicologia Comunitária, que priorizam a tomada de consciência dos membros de
determinada comunidade em busca de uma transformação. Fica mais claro, nesses trabalhos,
um objetivo político de atuação em direção a uma almejada “transformação social”.
• Em busca do conhecimento acerca das condições de vida das populações pobres, outros
estudos (23,4% do total) caracterizam determinados segmentos dessa população, em especial
a vida de crianças e adolescentes e o modo de organização familiar.

• as condições de vida dos sujeitos são analisadas de forma a se constituir em um material que
ofereça à Psicologia um conhecimento necessário a uma possível atuação ou simplesmente a
aproxime dessa realidade. Esses estudos geralmente são marcados pela condição de pobreza
como fator que influencia um determinado padrão de desenvolvimento ou a ocorrência de
um fenômeno.
• De uma forma geral, a maioria das discussões aponta para a necessidade de uma atuação da
Psicologia com a população pobre, a partir do questionamento da forma tradicional do
modelo de atenção psicológica.
• Não foi encontrada, no entanto, produção alguma que proponha efetivamente a construção
de novos conhecimentos que embasem as práticas desenvolvidas com populações pobres.
• Apesar da ausência de uma produção nova da Psicologia, isso não deve ser considerado um
atraso, mas reflexo das próprias características da evolução da ciência psicológica e pode
representar um de seus limites.
• percebe-se um avanço na tentativa de
aproximar a Psicologia às populações
pobres, de ampliar as possibilidades de
atuação para além dos campos tradicionais
de trabalho, de construir um discurso de
compromisso social da profissão.
• No entanto, ainda é presente a dificuldade
de construção de modelos teórico-
metodológicos que ofereçam ao
profissional novas possibilidades de
atuação
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS
POSSIBILIDADES E LIMITES DA PSICOLOGIA
NO
ENFRENTAMENTO DA POBREZA NO BRASIL
• A pobreza não aparece como uma • Apesar disso, não se pode desconsiderar o
preocupação explícita da Psicologia e, volume de trabalhos encontrados que se
dessa forma, não se pode afirmar que exista conectam com a questão da pobreza,
uma literatura brasileira psicológica acerca eventualmente indicando uma tendência de
do tema. aproximação da profissão à realidade social
• Há estudos dispersos, de natureza variada, brasileira. Isso propiciou a produção de
pontuais na produção geral dos autores e trabalhos em que a pobreza aparece como
que possuem interseção com outros campos uma questão a ser considerada na atuação
de conhecimento. do psicólogo.
• É notório que os psicólogos estão atuando
com populações pobres e produzindo sobre
elas. No entanto, é necessário caminhar
para a construção e aplicação de um
conhecimento condizente com as
necessidades dessa população e que
considere os marcos estruturais aos quais
estão submetidos esses profissionais.

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