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DIREITOS HUMANOS E

POLÍTICA NO MUNDO
CONTEMPORÂNEO
José Miguel Arias Neto
Departamento de História
PPGHS/ NEE/ LEI
Cidadania e liberdade na
Antiguidade Clássica Ocidental
 Grécia e Roma

Público x Privado

Privação animal
X
Liberdade Pública
Pólis
 Aristóteles: animal político

 Superação das necessidades animais


/propriedade: condição da liberdade

 Violência: pré-política, legitima (privado)/


Patriarcalismo/escravidão

 Politica/pólis: locus da liberdade/ igualdade e a


desigualdade (particularidade individual)
Cidadania e Liberdade no
Mundo Moderno
 Liberalismo

John Locke: iguais (natureza)


desiguais na apropriação
essencialmente proprietário
não proprietário: culpa do indivíduo –
não pertence à esfera da humanidade (
pobres/excluidos)

Immanuel Kant: liberdade/ esfera política


A Revolução Americana
 Colonização
Servidão temporária
Escravidão
Separação brancos/negros
Autonomia branca
(Mayflower compact)
A República Americana

 Liberdade e
Escravidão

 República

 Solidariedade:
Antilhas/Brasil
Constituição dos EUA
 Nós, o povo dos Estados Unidos, a fim de formar uma União mais perfeita, estabelecer a
justiça, assegurar a tranqüilidade interna, prover a defesa comum, promover o bem-estar
geral, e garantir para nós e para os nossos descendentes os benefícios da Liberdade,
promulgamos e estabelecemos esta Constituição para os Estados Unidos da América.

 ARTIGO I

Seção 1
 Todos os poderes legislativos conferidos por esta Constituição serão confiados a um
Congresso dos Estados Unidos, composto de um Senado e de uma Câmara de
Representantes.

 Seção 2
 A Câmara dos Representantes será composta de membros eleitos bianualmente pelo povo
dos diversos Estados, devendo os eleitores em cada Estado possuir as mesmas qualificações
exigidas dos eleitores da Assembléia Legislativa mais numerosa do respectivo Estado.

.
 Não será eleito Representante quem não tiver atingido a idade de vinte e cinco anos,
não for há sete anos cidadão dos Estados Unidos, e não for, por ocasião da eleição,
habitante do Estado que o eleger.
 O número de Representantes, assim como os impostos diretos, serão fixados, para
os diversos Estados que fizerem parte da União (segundo o número de habitantes,
assim determinado: o número total de pessoas livres, incluídas as pessoas em estado
de servidão por tempo determinado, e excluídos os índios não taxados, somar-se-ão
três quintos da população restante. (...)
 Seção 9
 A migração ou a admissão de indivíduos, que qualquer dos Estados ora existentes
julgar conveniente permitir, não será proibida pelo Congresso antes de 1808; mas
sobre essa admissão poder-se-á lançar um imposto ou direito não superior a dez
dólares por pessoa.
 Não poderá ser suspenso o remédio do habeas corpus, exceto quando, em caso de
rebelião ou de invasão, a segurança pública o exigir.
 Não serão aprovados atos legislativos condenatórios sem o competente julgamento,
assim como as leis penais com efeito retroativo.
 Não será lançada capitação ou outra forma de imposto direto, a não ser na
proporção do recenseamento da população segundo as regras anteriormente
estabelecidas.
 ARTIGO IV

Seção 1
 Em cada Estado se dará inteira fé e crédito aos atos públicos, registros e processos
judiciários de todos os outros Estados. E o Congresso poderá, por leis gerais,
prescrever a maneira pela qual esses atos, registros e processos devam ser provados,
e os efeitos que possam produzir.

 Seção 2
 Os cidadãos de cada Estado terão direito nos demais Estados a todos os privilégios e
imunidades que estes concederem aos seus próprios cidadãos.
A pessoa acusada em qualquer Estado por crime de traição, ou outro delito, que se
evadir à justiça e for encontrada em outro Estado, será, a pedido da autoridade
executiva do Estado de onde tiver fugido, presa e entregue ao Estado que tenha
jurisdição sobre o crime.
 Nenhuma pessoa sujeita a regime servil sob as leis de um Estado que se evadir para
outro Estado poderá, em virtude de lei ou normas deste, ser libertada de sua
condição, mas será devolvida, mediante pedido, à pessoa a que estiver submetida.
Escravidão e República
Escravidão = defensiva moral ideológica e política
Líderes do sul reconheciam que era um “problema” sério para a nação recém
fundada. Thomas Jefferson é o exemplo mais emblemático. Em 1785, afirmou em
suas Notas sobre o Estado da Virgínia: “todo o comércio entre o senhor e escravo é
um exercício perpétuo das paixões mais violentas, do despotismo contínuo de uma
parte e da submissão degradante da outra. Nossas crianças vêem isso , e
aprendem a imitá-lo”.

Alguns fatores são fundamentais para a construção da defesa da escravidão:

1789 – Radicalismo da Revolução Francesa

1791 – Independência do Haiti


 Revolução Industrial Inglesa – estímulo à produção de algodão

 1793 – Invenção do descaroçador de Eli Whitney/ expansão da cultura algodoeira


Guerra Civil e a Reconstrução

Norte x Sul
Tarifas protecionistas

Expansão para oeste: escravidão x trabalho livre / México

Quebra do compromisso do Missouri de 1820 – Equilibrio

Incorporação da Califórnia: desiquilíbrio ( não escravista)


 E MENDA XIII (1865)
  
 Seção 1
 Não haverá, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito a sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos
forçados, salvo como punição de um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado.
 Seção 2
 O Congresso terá competência para fazer executar este artigo por meio das leis necessárias.

 E MENDA XIV (1868)


 
 Seção 1
 Todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos e sujeitas a sua jurisdição são cidadãos dos
Estados Unidos e do Estado onde tiver residência, Nenhum Estado poderá fazer ou executar leis restringindo os
privilégios ou as imunidades dos cidadãos dos Estados Unidos; nem poderá privar qualquer pessoa de sua vida,
liberdade, ou bens sem processo legal, ou negar a qualquer pessoa sob sua jurisdição a igual proteção das leis.
  
 Seção 2
 O número de representantes dos diferentes Estados será proporcional às suas respectivas populações,
contando-se o número total dos habitantes de cada Estado, com exceção dos índios não taxados; quando,
porém, o direito de voto em qualquer eleição para a escolha dos eleitores, do Presidente e do Vice-Presidente
dos Estados Unidos, ou dos membros de sua legislatura, for recusado a qualquer habitante desse Estado, do
sexo masculino, maior de 21 anos e cidadão dos Estados Unidos, ou quando esse seu direito for de qualquer
modo cerceado, salvo o caso de participação em rebelião ou outro crime, será a respectiva representação
estadual reduzida na mesma proporção que a representada por esses indivíduos em relação à totalidade dos
cidadãos de sexo masculino, maiores de 21 anos, no Estado.
 EMENDA XV (1870)
  
 Seção 1
 direito de voto dos cidadãos dos Estados Unidos não poderá ser negado ou cerceado
pelos Estados Unidos, nem por qualquer Estado, por motivo de raça, cor ou de
prévio estado de servidão.
 Seção 2
 Congresso terá competência para executar este artigo, com legislação apropriada.

 Reconstrução ( 1866-1877)
 KU, KLUX, KLAN
Expressão vem do grego Kuklos (circulo, bando) e do escocês Klan ( clã,
ancestralidade). Fundada em 1865, em Pulasky, Tenessee, por um grupo de oficiais
do exército confederado.

1877 – Estados do Sul: retomam autonomia/ administração Lily White ( branca como
a flor de lis).
Recuo: limitação dos direitos dos negros/ reorganização branca/
 1883 – Lim Crow – aprovadas pela Suprema Corte

 EMENDA XXIV (1964)


  
 Seção 1
 Não pode ser negado ou cerceado pelos Estados Unidos ou qualquer dos
Estados o direito dos cidadãos dos Estados Unidos de votar em qualquer
eleição primária para Presidente ou Vice-Presidente, para os eleitores do
colégio eleitoral do Presidente ou Vice-Presidente, ou para Senador ou
Representante no Congresso, em razão de não haver pago qualquer
imposto eleitoral, ou algum outro imposto.
  
 Seção 2
 O Congresso terá competência para, mediante legislação adequada,
executar este artigo
A Revolução Francesa
 Violência

 Pobreza/ esfera
política

 Necessidade/
liberdade

 Libertação não
liberdade
Os Direitos do Homem
 Política: direitos civis
e políticos

 Igualdade: lei

 Propriedade

 Distinções sociais:
utilidade comum
 A enunciação dos direitos civis e políticos, sociais e econômicos
provoca uma mutação na natureza do poder na medida em que o
direito é separado de uma instância divina - corporificada no rei - e
fixado no homem em virtude de um contrato escrito: as
Constituições. Com o direito estabelecido no homem, em uma
natureza presente em cada indivíduo, emerge a representação de
uma sociedade soberana e ao mesmo tempo dividida, posto que há
o reconhecimento dos diversos modos de existência, de atividades,
de comunicação, cujos efeitos são indeterminados, bem como há a
descoberta da transversalidade das relações sociais, o que em
última instância significa a instituição de uma esfera pública - a
sociedade civil - espaço do desenrolar da trama dos negócios
humanos. Na medida em que o homem não possui uma natureza
estática e imutável, também isto ocorre com a sociedade civil, o que
significa dizer que os direitos não são imutáveis e permanentes. Ao
contrário, a efetivação de direitos conquistados conduziu a
reivindicação de novos direitos. LEFORT, Claude. A invenção
democrática: os limites da dominação totalitária. São Paulo:
Brasiliense, 1983.
 Entender a Revolução como início não como fim, acabamento de um
processo.

 1870 – 1914 : Contra- revolução – permanência do Ancién Regime


 Valores aristocráticos
 História: nacionalismo conservador

 Concepção de História: França é o ápice da evolução da civilização. Ao


contrário do Renascimento, a Antiguidade deixa de ser um modelo e passa
ser uma “Introdução” à história européia e francesa.
 Surgimento da concepção linear de História na França e na Prússia com a
emergência da Escola Metódica ( Ranke/ Charles Langlois):

Antiguidade – I. Média – I. Moderna – I. Contemporânea


Nacionalismo e Imperialismo
 Território – Nação: imperialismo / expansionismo

 Língua – Raça: anti-semitismo

 História/educação: cidadão soldado

 Memória Nacional: Patrimônio Nacional


 A partir desta consciência histórica romântica, a Primeira Comissão
de Monumentos Históricos, em 1837, define patrimônio, como
herança da nação composto por:

 Bens remanescentes da antiguidade


 Edifícios religiosos da Idade Média
 Castelos
 Obras primas das belas artes e das artes aplicadas

 Modernismo: arte degenerada – revela doenças da sociedade


moderna – lutas de classes, miséria, industrialização, neuroses

 Clássico/ Neoclássico: ênfase nos valores greco-romanos: modelo


de império
Viena: Ringstrasse
HOFBURG: 1860 – expansão e
integração à Ringstrasse
RINGSTRASSE: Historicismo

Reichsrat: ( Parlamento)1874-1883
Reichsrat: ( Parlamento)1874-1883
PARIS IMPERIAL: HAUSMANN 1853-1870
Champs-Elyseé: 1899

Torre Eiffel ao fundo. Construída para a Exposição


Mundial em comemoração ao centenário da Revolução
Champs-Elyseé
Gare D’Orsay: 1898
ITÁLIA

Monumento à Unificação: Vitor Emanuel II – 1911-1935


SÉCULO XX: OS REGIMES TOTALITÁRIOS
Nazismo

 Anti-comunista

 Anti-liberal

 Supremacia ariana
Decadentismo/Degeneração
 Anos 20 – Filósofos da arte:

 “A imagem helênica da beleza é absolutamente nórdica (...)


poder-se-ia demonstrar a história da Grécia como o conflito entre
o espírito do estrato superior nórdico e o espírito do estrato
inferior das raças estrangeiras”

 1928 – Paul Naumberg: publicou Arte e Raça


 1930 – Alfred Rosemberg :O mito do século XX
– Expressionismo alemão: sifilítico, infantil e mestiço
– Raça ariana produziu a escultura grega e as obras primas da
Renascença Italiana
 Ideal nazista: produzir novo homem

 Arquitetura da destruição

 Shoa: Holocausto

 9 milhões de mortos campos de extermínio


Judeus, ciganos, eslavos, homossexuais
Organização das Nações Unidas
 Direitos Universais

 Nascidos da guerra

 Aprofundam direitos
civis e políticos

 Direitos Econômicos,
sociais e culturais
Direitos Humanos x Globalização

 Expansão direitos = sistema internacional

redução da soberania
Invenção democrática

 Etnias, meio-ambiente, gênero, sexualidades


Fragmentação do Universal?
 Fragmentação da
universalidade? Ações
afirmativas remetem
para particularidades
mas a finalidade é
efetivar a universalidade
dos direitos, em outras
palavras, superar as
desigualdades
decorrentes da não
extensão prática dos
direitos aos vários grupos
sociais humanos
BIBLIOGRAFIA
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