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O Gótico e as Poéticas

Realistas

O caso de Os Sertões, de Euclides da Cunha


As duas linhagens góticas

Horace Walpole – Ann Radcliffe


(horror sobrenatural) x (horror natural)

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(i)O Locus Horribilis;
(ii) O Passado Fantasmagórico;
(iii) As personagens monstruosas;
(iv) Os enredos que exploram efeitos de
recepção emocionais;
(v) Os campos semânticos relacionados à
morte, à morbidez e à degeneração física e
mental.
3
As “paragens menos
estéreis”

“um aspecto lúgubre: localizados em


depressões, entre colinas nuas,
envoltas pelos mandacarus despidos e
tristes, como espectros de árvores”.

4
“Há, ali, toda a melancolia dos
invernos, com um sol ardente e os
ardores do verão!”

***
“Naquelas paragens o meio-dia
é mais silencioso e lúgubre que a
meia-noite.”
5
“(...) os jagunços reuniram os cadáveres que jaziam esparsos em vários
pontos. Decapitaram-nos. Queimaram os corpos. Alinharam depois,
nas duas bordas da estrada, as cabeças, regularmente espaçadas,
fronteando-se, faces volvidas para o caminho. (...)
A caatinga, mirrada e nua, apareceu repentinamente desabrochando
numa florescência extravagantemente colorida no vermelho forte das
divisas, no azul desmaiado dos dólmãs e nos brilhos vivos das
chapas dos talins e estribos oscilantes...
Um pormenor doloroso completou esta encenação cruel: a uma banda
avultava, empalado, erguido num galho seco, de angico, o corpo do
coronel Tamarindo.
Era assombroso... Como um manequim terrivelmente lúgubre, o
cadáver desaprumado, braços e pernas pendidos, oscilando à feição do
vento no galho flexível e vergado, aparecia nos ermos feito uma visão
demoníaca.”

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(...) a ruína da fazenda: bois espectrais, vivos não se sabe
como, caídos sob as árvores mortas, mal soerguendo o
arcabouço murcho sobre as pernas secas, marchando
vagarosamente, cambaleantes; bois mortos há dias e intactos,
que os próprios urubus rejeitam, porque não rompem a
bicadas as suas peles esturradas; bois jururus, em roda da
clareira de chão entorroado onde foi a aguada predileta; e, o
que mais lhe dói, os que ainda não de todo exaustos o
procuram, e o circundam, confiantes, urrando em longo
apelo triste que parece um choro.”

“A serra do Cambaio, cujos morros são comparadas a


“necrópoles vastas”: Porque o Cambaio é uma montanha em
ruínas. Surge, disforme, rachando sob o periódico embate de
tormentas súbitas e insolações intensas, disjungida e estalada
– num desmoronamento secular e lento.” 7
“Queimadas, povoado desde o começo deste século, mas em
plena decadência, fez-me um acampamento ruidoso. O casario
pobre, desajeitadamente arrumado aos lados da praça irregular,
fundamente arada pelos enxurros – um claro no matagal bravio
que o rodeia – e, principalmente, a monotonia das chapadas que
se desatam em volta, entre os morros desnudos, dão-lhe um ar
tristonho completando-lhe o aspecto de vilarejo morto, em
franco descambar para tapera em ruínas.”

[Canudos] “Estava, porém, em plena decadência quando


[Antônio Conselheiro] lá chegou aquele em 1893; tijupares em
abandono; vazios os pousos; e, no alto de um esporão da Favela,
destelhada, reduzida às paredes exteriores, a antiga vivenda
senhoril, em ruínas...”

“A urbs monstruosa, de barro, definia bem a civitas sinistra do


erro. O povoado novo surgia, dentro de algumas semanas, já feito
ruínas. Nascia velho.”
8
“(...) pobreza repugnante,
traduzindo de certo modo,
mais do que a miséria do
homem, a decrepitude da
raça”.

9
“(...) o templo monstruoso dos jagunços (...)”

“(...) arx monstruosa, erigida como se fosse o


molde monumental da seita combatente (...)”

“Defrontando o antigo, o novo templo erguia-se no


outro extremo da praça. Era retangular, e vasto, e
pesado. As paredes mestras, espessas, recordavam
muralhas de reduto. Durante muito tempo teria
esta feição anômala, antes que as duas torres muito
altas, com ousadias de um gótico rude e
imperfeito, o transfigurassem.”

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Delineara-a o próprio Conselheiro. Velho arquiteto
de igrejas, requintara no monumento que lhe
cerraria a carreira. Levantava, volvida para o
levante, aquela fachada estupenda, sem módulos,
sem proporções, sem regras; de estilo
indecifrável; mascarada de frisos grosseiros e
volutas impossíveis cabriolando num delírio de
curvas incorretas; rasgada de ogivas horrorosas,
esburacada de troneiras; informe e brutal, feito a
testada de um hipogeu desenterrado; como se
tentasse objetivar, a pedra e cal, a própria
desordem do espírito delirante. (CUNHA, 2002,
p. 307)
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