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Análise de um texto no modo narrativo/descritivo

Conto de fadas do século XXI


“Era uma vez... numa terra muito distante...vivia uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima.

Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu
castelo era relaxante e ecológico...

Então, a rã pulou para o seu colo e disse: - linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito, uma bruxa má
lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar
de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe
poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos
e seríamos felizes para sempre... ´

Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e
de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma: - Eu, hein?... nem morta!”
Luís Fernando Veríssimo

I-Análise das estratégias linguístico-discursivas de semiotização do mundo ou a construção de sentidos no


texto por meio de operações de transformação e transação.

1- Análise do título e remissão ao contexto do conto de fadas- uso da intertextualidade - atualização


temática pelos adjetivos atributivos/axiológicos: “linda, independente e cheia de auto estima”.
Atuação do “ enunciador/narrador, sujeito comunicante” Luís Fernando Veríssimo e a imagem que
se faz dele em seus escritos já conhecidos.
2- Análise do interdiscurso, ou seja, - noções que perpassam por outros textos; relacionar o novo
comportamento desta princesa com as dos contos tradicionais: donzelas dependentes, da família, das
convenções ou do príncipe encantado.
3- Os dispositivos linguísticos iniciais da estruturação do modo narrativo: (situação de harmonia no
castelo), novidade: termos usados: lago relaxante e ecológico; fazer ligação com a época atual,
realçar o elemento inovador que trata de ecologia e um a”possível mensagem irônica” do autor...
4- A quebra da harmonia pelo encontro com a rã que pulou no colo da princesa e a interpelou.
(situação de complicação e novidade). A fala da rã é direcionada à invocação do modelo princesa,
pela adjetivação positiva: donzela à espera do príncipe, obediente, dedicada à vida doméstica e com
a promessa de felicidade para sempre... prometida depois do casamento. (Observar os elementos
citados em intertexto com outros contos)
5- As enumerações das tarefas de uma mulher casada – derivam de crença tradicional – observar como
ocorre a reação dela ao final e sua ligação com os dados do início do texto: princesa independente e
cheia de auto-estima ( a atitude dela é uma decorrência textual, que permite instaurar a coerência do
texto?).
6- Analisar a crítica à idéia de subserviência da princesa a um príncipe “inútil” e à condição de
simples doméstica, obrigada a cumprir todas as tarefas de casa, agravada pela presença da sogra.
Comparar essa situação com a dos tempos atuais e a independência da mulher e o novo papel do
homem face à visão tradicional, apresentada no texto por meio de ironia pelo autor.
7- Análise da composição linguística do texto: observe na estrutura um corte temporal - uso do
pretérito imperfeito e do perfeito- e o avanço da história, até o final com base em implícitos
textuais. O que se deduz do trecho: “saboreava pernas de rã sautée...”
8- A partir da descrição dos ingredientes do jantar: pernas de rã sautée, acompanhadas de um molho
acebolado e de um finíssimo vinho branco... pode-se falar em papel textual da descrição para o
conteúdo: “prato sofisticado”?; analisar a invocação de um contexto sócio cultural, que invoca o
modelo gastronômico francês. ( a situação a serviço da coerência do sentido)
9- O que a interjeição usada por ela nos permite deduzir? - “Eu, hein? Nem morta....” Pode-se dizer
que ela jamais aceitaria a proposta feita? Se respondeu “sim”, em que se baseia você para dizer
que ela teve certeza de sua escolha?
10- Uma moral possível para este conto/fábula: “Não se fazem mais princesas como antigamente...” Ou
“os tempos mudaram..”, apresente justificativa para o título: Conto de fadas do século XXI, e como
ele é mais um elemento de coerência.

II- Além do contexto situacional e discursivo, itens gramaticais analisados: - emprego de elementos
linguísticos próprios dos dispositivos dos modos narrativo e descritivo de organização do discurso:
aspectualização e identificação, ações dos personagens e encadeamento dos tempos de verbos e os efeitos
do uso de causa e conseqüência...

-correlação entre os tempos verbais- pretéritos imperfeito e perfeito- relacionados à situação e à


complicação; a construção do fato narrativo pelas ações de protagonistas e antagonistas; ver o uso da
conexão causa/consequência em várias partes do conto.

- sequenciação / progressão textual e veja como se faz a construção do “objeto discursivo”- ou da temática
- e como se pode defini-la? Afinal- o conto trata de quê?.....

- alguns exemplos de coesão referencial – a retomada dos elementos pelo processo de coesão referencial -
mudanças na imagem da personagem “princesa” e do “príncipe”. A análise neste modelo aqui evocado
permite uma visão mais ampla da noção de coerência textual, que utiliza os contextos culturais,
conhecimentos de mundo, saberes/valores de crença, evocação do discurso em gêneros de texto ficcional
(contos de fada); observação das estratégias do modo enunciativo ou do posicionamento do “narrador”,
colocadas em cena pelo sujeito comunicante/ enunciador.....Veríssimo - que ressalta o bom humor do texto,
sua ironia etc...

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