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Direito do Consumidor

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ


CEJURPS - Curso de DIREITO – Itajaí
Disciplina: Direito do Consumidor
Prof. Deymes Cachoeira de Oliveira
E-mail: cachoeira@cc.adv.br
47 3348-9888
47 9189-9199
Direito do Consumidor

Como disciplina jurídica e conjunto organizado de


normas, o direito do consumidor é obra do século
XX.

Apesar de surgir recentemente, é possível destacar a


presença do direito do consumidor na legislação,
doutrina e jurisprudência de diversos países em
diferentes épocas.
Lei n° 229 - Se um arquiteto constrói para
alguém e não o faz solidamente e a casa
Direito do Consumidor que ele construiu cai e fere de morte o
proprietário, esse arquiteto deverá ser
morto.
Lei n° 230 - Se fere de morte o filho do
CÓDIGO DE HAMURABI proprietário, deverá ser morto o filho do
arquiteto.
O Código de Hamurabi Lei n° 231 - Se mata um escravo do
proprietário ele deverá dar ao
obrigava o construtor de
proprietário da casa escravo por
barcos a refazê-lo em escravo.
caso de defeito Lei n° 232 - Se destrói bens, deverá
estrutural, dentro do indenizar tudo que destruiu e porque
prazo de até um ano. não executou solidamente a casa por
ele construída, assim que essa é
abatida, ele deverá refazer à sua custa
a casa abatida.
Lei n° 233 - Se um arquiteto constrói
para alguém uma casa e não a leva ao
fim, se as paredes são viciosas, o
arquiteto deverá à sua custa consolidar
as paredes.”
Direito do Consumidor

CÓDIGO DE MASSÚ

Na Mesopotâmia, por volta


do século XVIII a.C. o
Código de Massú previa
pena de multa e punição,
além de ressarcimento de
danos, aos que
adulterassem gêneros ou
entregassem coisa de
espécie inferior à acertada
ou, ainda, vendessem bens
de igual natureza por
preços diferentes.

Ao lado mapa da Mesopotâmia


Direito do Consumidor

DIREITO ROMANO

Inicialmente o vendedor
respondia pelo dano se
soubesse do vício,
posteriormente passou a
responder pelo vício
independentemente de
conhecer o vício do
produto,

Ao lado discurso de Cícero


no Senado Romano
Direito do Consumidor

LUÍS XI – REI DA
FRANÇA

Na França de Luiz XI
punia-se com banho
escaldante aquele que
vendesse manteiga com
pedra no interior para
aumentar o peso, ou
leite com água para
aumentar o volume.

Ao lado brasão da família


real francesa e pintura
sobre óleo de Luís XI
Direito do Consumidor

SUÉCIA - 1910

A Suécia é o primeiro
país a organizar uma
legislação de defesa do
consumidor

Ao lado mapa político da


Suécia
Direito do Consumidor

EUA - 1773

BOSTON TEA PARTY


(REVOLTA DO CHÁ)
colonos americanos se
revoltam contra a
Boston Tea Party
cobrança de impostos de
produtos pela Coroa
Britânica

Ao lado cena da revolta do


chá
Direito do Consumidor

EUA - 1776

REVOLUÇÃO
AMERICANA também
denominada por alguns
autores de uma
revolução do
consumidor

Ao lado cena da Guerra da


Independência norte
americana
A EXPERIÊNCIA NORTE-AMERICANA

1872 - Edição da SHERMAN ANTI TRUST ACT, conhecida como


Lei Sherman, cuja finalidade era reprimir as fraudes praticadas no
comércio, além de proibir comerciais desleais como, por exemplo,
a combinação de preços e os monopólios.

1891 - Surge a NEW YORK CONSUMERS LEAGUE como


primeiro órgão de defesa do consumidor, fundado por Josephine
Lowell – ativista feminista e ligada ao movimento de trabalhadores.
Anos depois, Florence Kelly fundou a NATIONAL CONSUMERS
LEAGUE, a partir da reunião entre Nova Iorque, Boston e Chicago.
Tal organismo comprava e incentivava a compra de produtos
fabricados por empresas que respeitavam os direitos humanos,
ideal muito semelhante ao que hodiernamente é propugnado a
garantir o consumo sustentável no mundo inteiro, através do
incentivo à aquisição de produtos que respeitem o meio ambiente.
1906 - Upton Sinclair escreve THE JUNGLE (A
selva), obra que narra sua visita a uma fábrica de
alimentos à base de carne. A repercussão dessa
obra levou à edição da PURE FOOD AND DRUG
ACT, diante das surpreendentes e negativas
revelações do autor em relação ao processo de
produção daqueles alimentos.
1907 – Criação do MEAT INSPECT ACT, a fim de
inspecionar e controlar a comercialização de
carne. Essa lei foi reflexo do Pure Food and Drug
Act, anteriormente mencionado.
1914 - Criação do FEDERAL TRADE
COMISSION.
Direito do Consumidor

EUA - 1914

A FEDERAL TRADE
COMMISSION
(COMISSÃO FEDERAL DE
COMÉRCIO) é o órgão
governamental norte
americano encarregado
de proteger os
interesses dos
consumidores naquele
país.

Ao lado símbolo da Federal


Trade Commission
1927 – Nasce o PFDA (Pure Food Drug Insecticide
Administration). Nesse mesmo ano, Stuart Chase e
Frederick Schilink lançam a “Campanha da Prova”,
com o objetivo de comparar produtos, orientando os
consumidores a consumir conscientemente, com o
uso racional do dinheiro. Três anos mais tarde, o
PFDA daria origem à FDA (Food and Drug
Administration), considerada ainda a mais respeitada
autarquia no que diz respeito ao controle de gêneros
alimentícios e medicamentos.
1936 – Surgimento da CONSUMERS UNION,
tornando-se o maior órgão de proteção do
consumidor do mundo. Dentre suas atribuições
estava a de publicar revistas e material didático para
a orientação dos consumidores.
Direito do Consumidor

BRASIL- 1940

DURANTE AS DÉCADAS
DE 40-60 surgem as
primeiras leis brasileiras
de proteção e defesa do
consumidor

Ao lado publicidade da
década de 40
Direito do Consumidor

BRASIL- 1950

LEI DE ECONOMIA
POPULAR a Lei 1221/51
apresenta aos brasileiros
as primeiras normas de
proteção do consumidor

Ao lado torneira
desperdiçando dinheiro
Direito do Consumidor

O Estado Liberal tem como características o poder


limitado, os direitos individuais e políticos, a defesa da
livre iniciativa e livre concorrência e a não intervenção
do Estado na esfera privada.
Direito do Consumidor

A obra A Riqueza das Nações foi,


provavelmente, uma das obras
mais influentes no mundo
ocidental. Quando o livro, que se
tornaria um manifesto contra o
mercantilismo, foi publicado em
1776, havia um forte sentimento a
favor do livre comércio. Esse novo
sentimento teria nascido das
dificuldades econômicas e das
privações causadas pela guerra da
independência.
Direito do Consumidor

Sob a égide do Estado Liberal o Direito regia-se pelos


seguintes princípios:
• Princípio da Autonomia da Vontade;
• Princípio do Consensualismo;
• Princípio da Obrigatoriedade Contratual.
Direito do Consumidor

A Revolução
Industrial (século
XIX) modificou
profundamente as
relações de trabalho
– passou-se da
manufatura para a
maquinofatura.

Ao lado Charles
Chaplin em clássico
filme sobre a
indústria
Direito do Consumidor

O Estado Social surge no século XX como resposta à


miséria e a exploração de grande parte da população e
tem como características o poder limitado, a garantia
os direitos individuais e políticos, acrescentando a
estes os direitos sociais e econômicos
Direito do Consumidor

"Antes da era industrial, o produtor-fabricante era


simplesmente uma ou algumas pessoas que se
juntavam para confeccionar peças e depois trocar os
objetos (bartering). Com o crescimento da população
e o movimento do campo para as cidades, formam-se
grupos maiores, a produção aumentou e a
responsabilidade se concentrou no fabricante, que
passou a responder por todo o grupo"
Direito do Consumidor

O advento da Revolução Industrial foi responsável


pelo crescimento da chamada produção em massa.
Direito do Consumidor

Produção em
massa, uma das
conseqüências da
Revolução
Industrial.

Ao lado:
trabalhadores no
início do século XX
Direito do Consumidor

O crescimento e contínuos avanços das tecnologias


fizeram com que fossem inseridas na mente do
consumidor as idéias de que ele estava precisando de
mais objetos que, até aquele momento, nunca sentira
necessidade de adquirir em sua vida cotidiana.
Direito do Consumidor

Conseqüência da Revolução Industrial surge a necessidade de


estimular o consumidor a um desejo, ainda que artificial,
para manter o processo produtivo em funcionamento. Criou-
se, desta forma, o que o professor Thierry Bourgoignie
denomina de NORMA SOCIAL DO CONSUMO, que "faz com
que o consumidor perca o controle individual das decisões de
consumo e passe a ser parte de uma classe, a ‘consumerista’,
conferindo claramente uma dimensão social ao consumidor e
ao ato de consumir”.
Direito do Consumidor

A guerra intensificou a produção industrial em massa, e


contribuiu para as grandes invenções e o
aprofundamento da produção em série. Todo o esforço da
guerra resultou, inevitavelmente, em aumento
substancial de produção no posterior tempo de paz. O
know-how gerado para a guerra provocou, então um
crescimento em vários segmentos industriais, gerando um
arsenal de produtos supérfluos e diversificados, em um
mercado antes restrito somente ao essencial
Direito do Consumidor

A partir das iniciativas do presidente americano JOHN


FITZGERALD KENNEDY, na década de 60, houve a
consolidação do Direito do Consumidor nos Estados
Unidos.
Direito do Consumidor
Mensagem ao Congresso (1962):

• Os bens e serviços colocados no mercado devem ser sadios e


seguros para os uso, promovidos e apresentados de uma maneira
que permita ao consumidor fazer uma escolha satisfatória;
• A voz do consumidor seja ouvida no processo de tomada de
decisão governamental que detenha o tipo, a qualidade e o preço
de bens e serviços colocados no mercado;
• O consumidor tem o direito de ser informado sobre as condições
e serviços;
• E ainda o direito a preços justos.
Direito do Consumidor

DIREITOS FUNDAMENTAIS DO CONSUMIDOR


ONU – Genebra – 1973

(1) proteção da saúde e da segurança;


(2) proteção dos interesses econômicos;
(3) reparação dos prejuízos;
(4) informação e educação;
(5) representação (ou direito de ser ouvido)
Direito do Consumidor

Revisão dos princípios:


• Princípio da Autonomia da Vontade;
• Princípio do Consensualismo;
• Princípio da Obrigatoriedade Contratual.
Direito do Consumidor

A Constituição da República de 1988 exigiu que o


Estado abandonasse a sua posição de mero
espectador da sorte do consumidor, para adotar um
modelo jurídico e uma política de consumo que
efetivamente protegesse o consumidor
artigo 5º, inciso XXXII: “O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
consumidor”
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e
na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme
os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: V - defesa
do consumidor;
Art. 48 - O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação
da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.

TÍTULO I (DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR)


Capítulo I ( DISPOSIÇÕES GERAIS)
Art. 1º - O presente Código estabelece normas de proteção e
defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos
termos do artigo 5º, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição
Federal e artigo 48 de suas Disposições Transitórias.
Direito do Consumidor
Diante do comando CF/88
enunciado pela CRFB/88, o
Congresso Nacional Art. 5º, XXXII,
elaborou a Lei 8.078/90 Art. 170, V

Art. 48 ADCT

Ao lado fotografia de um
consumidor exagerado
Código do Consumidor

O Código de Defesa e Proteção do Consumidor


estabelece normas de proteção e defesa do
consumidor, de ordem pública e interesse social
Código do Consumidor

Quando o CDC afirma que suas normas são de


Ordem Pública, quer significar a impossibilidade de
que seus comandos normativos sejam afastados
pela vontade dos particulares.
Código do Consumidor

Quando afirma o caráter de Interesse Social


representa que suas normas não protegem apenas
interesses individuais, mas toda a sociedade.
Código do Consumidor
RELAÇÃO DE CONSUMO

O CDC incide sobre toda relação que puder ser


caracterizada como de consumo.
Direito do Consumidor
Haverá relação jurídica de
consumo sempre que se
puder identificar em um
dos pólos da relação o
consumidor e, no outro, o
fornecedor, ambos
transacionando produtos
e/ou serviços
Direito do Consumidor

Esquema de relação de PRODUTO


consumo CONSUMID E/OU FORNECED
OR SERVIÇO OR

RELAÇÃO
DE
CONSUMO
Código do Consumidor
DEFINIÇÃO DAS CATEGORIAS

O CDC preferiu definir legalmente o alcance das


categorias que integram as relações de consumo, ao
invés de deixar esta tarefa para a doutrina ou para a
jurisprudência.
Código do Consumidor
CONCEITO DE CONSUMIDOR

O conceito de consumidor é formado pela


integração dos seguintes artigos (todos do CDC):
• Art. 2°
• Art. 2°§ único
• Art. 17
• Art. 29
Código do Consumidor
CONCEITO DE CONSUMIDOR

Art. 2° - Consumidor é TODA PESSOA FÍSICA OU


JURÍDICA que ADQUIRE ou UTILIZA produto ou
serviço como DESTINATÁRIO FINAL.
Código do Consumidor
DECODIFICANDO O CONCEITO DE CONSUMIDOR

O artigo diz que TODA pessoa pode ser definida


como consumidora, sem estabelecer qualquer
exceção. Assim, estrangeiros e nacionais, crianças,
adolescentes, adultos ou idosos, homens ou
mulheres, podem ser considerados consumidores.
Código do Consumidor
DECODIFICANDO O CONCEITO DE CONSUMIDOR

Pessoa física ou jurídica significa que mesmo as


empresas podem ser conceituadas como
consumidoras. Tanto a microempresa como grandes
empresas.
Código do Consumidor
DECODIFICANDO O CONCEITO DE CONSUMIDOR

O artigo 2° utiliza dois verbos para definir o


consumidor: ADQUIRIR ou UTILIZAR
ADQUIRIR, em sentido amplo, significa obter, ter
para si, seja a título gratuito ou oneroso.
UTILIZAR, aproveitar, fazer uso, tirar proveito.
Consumidor é também quem utiliza o produto ou
serviço, ainda que não o tenha adquirido.
Código do Consumidor
DECODIFICANDO O CONCEITO DE CONSUMIDOR

Então...

... consumidor é também quem utiliza o produto ou


serviço, ainda que não o tenha adquirido.
Código do Consumidor
DECODIFICANDO O CONCEITO DE CONSUMIDOR

Com a finalidade de delimitar o alcance conceitual


da categoria “consumidor”, a norma fala em
DESTINATÁRIO FINAL do produto ou serviço.
Consumidor – art. 2º, CDC (conceito) Dois
tipos de consumidores:

a. Consumidor propriamente dito – toda


pessoa física ou jurídica/pública ou privada,
que adquire produtos ou utiliza serviços como
destinatário final:
a.1. Os ADQUIRENTES: possuem o que de mais
genuíno se pode classificar como
característica do consumidor, naturalmente
quando a aquisição é para consumo final;
a.2. Os UTENTES que embora não tenham
adquirido o produto ou serviço, retiram dele a
efetiva utilidade como destinatários finais da
produção.
Ex: presente de aniversário - quem recebe não
adquiriu, mas é quem o usa ou utiliza.
 b. Consumidor por equiparação – aquele que
participa indiretamente da relação de consumo (arts.
2º, § único; 17 e 29, CDC).
 b.1. A COLETIVIDADE de pessoas, ainda que
indetermináveis, quando prejudicada por produto ou serviço
sem qualidade (§ único, do art. 2.º), quando o dano for fruto
de relação de consumo idêntica que atingiu um número
grande de pessoas.;.
b.2. A vítimas do evento (BYSTANDERS):
teoricamente, seriam terceiros, mas que foram
atingidos pelos efeitos da relação de consumo
que outros realizaram (art. 17 do CDC). Ex:
Pedestres atingidos desabamento de edifício
em construção.
Ex: Funcionário dos correios que sofre lesões
com explosão da encomenda que estava
entregando.
b.3. As pessoas que estejam EXPOSTAS À
PRÁTICA DE MERCADO (protegidas
conforme o art. 29, do CDC): estão na
condição de consumidores apenas em
potencial. Ex: formação de cartéis ou
publicidade enganosa ou abusiva.
 A jurisprudência atual do STJ reconhece
a existência da relação de consumo
apenas quando ocorre destinação final
do produto ou serviço, e não na
hipótese em que este é alocado na
prática de outra atividade produtiva.
(Conflito de Competência 64.524, Min.
Rel. Nancy Andrighi, p. 09/10/2006)
Resumindo

Em caso de problema no produto (art. 18) Vício: Art. 2° Consumidor é


toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

Fato: SEÇÃO II - Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço


(art. 12 ao 14) Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos
consumidores todas as vítimas do evento. Bystanders

Práticas comerciais: todas as pessoas expostas


Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores
todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.
CAPÍTULO V Das Práticas Comerciais (Oferta, Publicidade, Práticas Abusivas,
Cobrança de Dívidas, Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores
CAPÍTULO VI Da Proteção Contratual (Interpretação, Direito de
Arrependimento, Garantia, Cláusulas Abusivas, Contratos de Adesão)
Relação de Consumo
Esquema de relação de
consumo:

No esquema ao lado,
imagine que uma pessoa se CDC
dirige a uma
concessionária para
adquirir um veículo.

No exemplo, estamos Consumidor Concessionária


diante de uma relação de
consumo, sob a qual
incidirá o CDC.
Relação de Consumo
Esquema de relação de
consumo

Neste segundo exemplo,


vemos a sequência do
Direito
anterior, em que aparece a CDC
Comum
relação entre a
Concessionária e a
Montadora.
Consumidor Concessionária Montadora
Neste segundo exemplo,
não se aplica o CDC, mas
sim o Direito Comum
(Direito Civil, Direito
Empresarial etc.), pois não
se trata de uma relação de
consumo.
E agora? Analisando cada relação
isoladamente, podemos ver quais são de
consumo

Consumid
or
Código do Consumidor
CONCEITO DE FORNECEDOR

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica,


pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.
Código do Consumidor
CONCEITO DE FORNECEDOR

Não há exclusão de qualquer tipo em relação às


pessoas jurídicas.
Multinacionais, S.A., Associações, Sociedades Civis,
Fundações, Sociedades de Economia Mista,
Empresas Públicas, Autarquias, Órgãos da
Administração Direta.
Código do Consumidor
CONCEITO DE FORNECEDOR

A noção de fornecedor centra-se na categoria


ATIVIDADE, que poderá ser típica ou eventual.
A noção de fornecedor centra-se na análise da
habitualidade com que o produto é vendido ou o
serviço é prestado.
Código do Consumidor
CONCEITO DE FORNECEDOR

EXEMPLO: uma empresa que coloca seus


computadores usados à venda, não sendo este seu
objeto normal de comércio.
Neste caso, a empresa não é considerada
fornecedora.
Código do Consumidor
CONCEITO DE FORNECEDOR

ENTE DESPERSONALIZADO: pode ser a massa falida


(pois uma empresa que entra em processo de falência,
ainda deixa produtos no mercado de consumo. Como
a empresa deixou de existir, quem vai responder
perante os consumidores é a massa falida).
Outra possibilidade são as “pessoas jurídicas de fato”:
camelôs, vendedores Avon, Natura etc.
Código do Consumidor
CONCEITO DE FORNECEDOR

PROFISSIONAL LIBERAL: o profissional liberal é


tratado pelo CDC como fornecedor, mas para que
sejam responsabilizados, é necessário demonstrar a
sua culpa (negligência, imprudência e imperícia).
Código do Consumidor
CONCEITO DE PRODUTO

Art. 3°, § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou


imóvel, material ou imaterial.
Código do Consumidor
CONCEITO DE PRODUTO

BEM: substitui a terminologia empregada pela


legislação civil (coisa), atendendo aos modernos
interesses da sociedade de consumo, além de
adequar a terminologia já empregada em outras
áreas (economia, comunicações, finanças etc.).
Código do Consumidor
CONCEITO DE PRODUTO

BEM MÓVEL OU IMÓVEL: aqui o CDC vale-se dos


tradicionais significados que estão previstos no
Direito Civil.
Código do Consumidor
De acordo com o Código Civil (Lei 10.406/02)
Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais: I - os direitos reais sobre imóveis e as ações
que os asseguram; II - o direito à sucessão aberta.
Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis: I - as edificações que, separadas do solo, mas
conservando a sua unidade, forem removidas para outro local; II - os materiais provisoriamente
separados de um prédio, para nele se reempregarem.
Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia,
sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.
Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais: I - as energias que tenham valor econômico;
II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; III - os direitos pessoais de
caráter patrimonial e respectivas ações.
Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados,
conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de
algum prédio.
Código do Consumidor
CONCEITO DE PRODUTO

BEM MATERIAL OU IMATERIAL: a tecnologia


moderna, especialmente na área da informática,
produz bens que não se confundem com o meio
através do qual são vendidos (softwares).
Código do Consumidor
CONCEITO DE PRODUTO

BEM DURÁVEL: art. 26, II.


Durável é aquele bem que não se extingue pelo uso.
Entretanto, é válido observar que nenhum bem é
eterno, todos os bens tendem a um fim material.
Código do Consumidor
CONCEITO DE PRODUTO

BEM NÃO DURÁVEL: art. 26, I.


Não durável é aquele bem que se acaba com o seu
uso. Assim acontece com os alimentos, remédios,
cosméticos (principalmente no dia seguinte) etc.
Código do Consumidor
CONCEITO DE PRODUTO

AMOSTRA GRÁTIS: art. 39, parágrafo único.


Desonera o consumidor de qualquer pagamento,
mas submete os produtos a todas as exigências
legais.
Código do Consumidor
CONCEITO DE SERVIÇO

Art. 3°, § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida


no mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista.
Código do Consumidor
CONCEITO DE SERVIÇO

SERVIÇO NÃO DURÁVEL: aqueles que se exercem


uma vez prestados.
Exemplos: transporte público, hospedagem etc.
Código do Consumidor
CONCEITO DE SERVIÇO

SERVIÇO DURÁVEL: aqueles que, por sua própria


natureza, possuem uma continuidade temporal.
Exemplos: serviços escolares, pintura, instalação de
aparelhos, assistência técnica etc.
Código do Consumidor
CONCEITO DE SERVIÇO

Interessante destacar que não se vende produto sem


serviço. Ou seja, quem vende um produto também
está prestando um serviço, que é o serviço de
orientar o consumidor.
Código do Consumidor
CONCEITO DE SERVIÇO

SERVIÇO SEM REMUNERAÇÃO: o CDC define que o


serviço é atividade prestada mediante remuneração,
excluindo as relações de caráter trabalhista.
Código do Consumidor
CONCEITO DE SERVIÇO

SERVIÇO SEM REMUNERAÇÃO: na atualidade


NADA é gratuito no mercado de consumo, sendo os
custos do serviço repassados ao consumidor. O
cafezinho está embutido no valor da refeição.
Código do Consumidor
CONCEITO DE SERVIÇO

SERVIÇO SEM REMUNERAÇÃO: veja os seguintes


exemplos:
1. Um médico que atende alguém passando mal na
rua e nada cobra por isto (sem remuneração);
2. O estacionamento de um Shopping que não
cobra pela guarda dos veículos (sem preço mas é
pago indiretamente).
Código do Consumidor
CONCEITO DE SERVIÇO

SERVIÇO PÚBLICO: o CDC inclui entre os serviços


aqueles prestados pelo próprio Estado, seja direta
ou indiretamente.
Código do Consumidor
CONCEITO DE SERVIÇO

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,


concessionárias, permissionárias ou sob qualquer
outra forma de empreendimento, são obrigados a
fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e,
quanto aos essenciais, contínuos.
CONCEITO DE SERVIÇO

LEI 8.987/95
Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço
adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido
nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. § 1 o
Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade,
continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia
na sua prestação e modicidade das tarifas. § 2 o A atualidade
compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das
instalações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do
serviço. § 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua
interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das
instalações; e, II - por inadimplemento do usuário, considerado o
interesse da coletividade.
Código do Consumidor
CONCEITO DE SERVIÇO

A eficiência é um plus necessário da adequação. O


serviço é adequado quando supre concretamente a
necessidade para a qual foi criado.
Código do Consumidor
CONCEITO DE SERVIÇO

O serviço é seguro quando não oferece riscos para


seus usuários.
CONCEITO DE SERVIÇO

Artigo 10 - São considerados serviços ou atividades essenciais: I - tratamento e


abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e
combustíveis; II - assistência médica e hospitalar; III - distribuição e comercialização
de medicamentos e alimentos; IV - funerários; V - transporte coletivo; VI - captação
e tratamento de esgoto e lixo; VII - telecomunicações; VIII - guarda, uso e controle
de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; IX -
processamento de dados ligados a serviços essenciais; X - controle de tráfego
aéreo; XI - compensação bancária. Artigo 11 - Nos serviços ou atividades essenciais,
os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum
acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Parágrafo único - São
necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em
perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população. Artigo 12 -
No caso de inobservância do disposto no artigo anterior, o Poder Público
assegurará a prestação dos serviços indispensáveis. Artigo 13 - Na greve, em
serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades sindicais ou os trabalhadores,
conforme o caso, obrigados a comunicar a decisão aos empregadores e aos
usuários com antecedência mínima de 72 (setenta e duas) horas da paralisação.
Vulnerabilidade do Consumidor (art.4º CDC)

Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo


tem por objetivo o atendimento das necessidades
dos consumidores, o respeito à sua dignidade,
saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida,
bem como a transparência e harmonia das relações
de consumo, atendidos os seguintes princípios:
I - reconhecimento da vulnerabilidade do
consumidor no mercado de consumo;
Vulnerabilidade
Consumidor vulnerável e carente de
proteção é a pessoa que, individualmente,
não está em condições de fazer valer as
suas exigências em relação aos produtos e
serviços que adquire, pois tem como
característica carecer de meios adequados
para se relacionar com quem contrata.  
 Vulnerabilidade, literalmente, significa o
estado daquele que é vulnerável, daquele que
está suscetível, por sua natureza, a sofrer
ataques.
 Para o Direito é o princípio segundo o qual o
sistema jurídico brasileiro reconhece a
qualidade do agente(s) mais fraco(s) na(s)
relação (ões) de consumo.
Espécies de vulnerabilidade
 Técnica
 Jurídica
 Política ou Legislativa
 Biológica ou Psíquica
 Ambiental
 Econômica ou fática
 Social
Para Cláudia Lima Marques, existem apenas três tipos de vulnerabilidade: a
técnica, a jurídica e a fática ou sócio-econômica. (Contratos no código de
defesa do consumidor)
Vulnerabilidade Técnica

 decorre do fato de o consumidor não possuir


conhecimentos específicos sobre os produtos
e/ou serviços que está adquirindo, ficando
sujeito aos imperativos do mercado, tendo
como único aparato a confiança na boa-fé da
outra parte.
 A Boa-fé gera os deveres de:

 lealdade,
 confiança,
 eqüidade,
 razoabilidade,
 cooperação, 
 colaboração. 
Vulnerabilidade Técnica

 decorre do fato de o consumidor não possuir


conhecimentos específicos sobre os produtos
e/ou serviços que está adquirindo, ficando
sujeito aos imperativos do mercado, tendo
como único aparato a confiança de que a
outra parte agirá dentro das regras da ética e
da razão.
 A Vulnerabilidade Técnica impossibilita o
consumidor de conhecer as propriedades,
malefícios, e benefícios dos produtos e/ou
serviços adquiridos.
Ex: Transgênicos, Leite, Adoçante
Vulnerabilidade jurídica

 Se manifesta nas dificuldades que o


consumidor enfrenta na luta para a defesa de
seus direitos, quer na esfera administrativa
ou judicial.
 "é a falta de conhecimentos jurídicos
específicos, conhecimentos de contabilidade
ou de economia". (Marques, Cláudia Lima. Contratos no
código de defesa do consumidor).
Vulnerabilidade política ou legislativa:

 Baixo número/qualidade de entidades de


defesa do consumidor.
 Monstrengos Jurídicos.
 Procons x Sindicatos.
Vulnerabilidade Psíquica ou Biológica

 infinidade de estímulos (visuais, olfativos,


químicos, auditivos, etc.) que devido a sua
própria constituição orgânica influenciam na
tomada da decisão de comprar determinado
produto.
Vulnerabilidade Ambiental

 é decorrência direta do consumo em massa.


 Alterações no meio ambiente ocasionado
pelo uso irracional dos recursos naturais.
 Ex. óleo de cozinha, bateria de celular,
sacolas plásticas.
Vulnerabilidade Econômica e Social

 é resultado das disparidades de força entre os


agentes econômicos e os consumidores. Ex:
Contratos de adesão
Princípios Gerais:
Artigo 4º. Podem ser citados como:
1- Vulnerabilidade,
2- Dever do Estado
3- Harmonia
4- Educação
5- Qualidade
6- Abuso
7- Serviço Público
8- Mercado.
2 – Dever do Estado CRFB/88
artigo 5º, inciso XXXII: “O Estado promoverá, na forma
da lei, a defesa do consumidor”
artigo 24, compete: “à União, aos Estados e ao Distrito
Federal legislar concorrentemente sobre: VIII -
responsabilidade por dano (...), ao consumidor...”
artigo 150, § 5º: “A lei determinará medidas para que os
consumidores sejam esclarecidos acerca dos
impostos que incidam sobre mercadorias e serviços”
artigo 175, § único, inciso II: A lei disporá sobre: II - os
direitos dos usuários; (serviços públicos)
3 – Harmonia: há necessidade de nivelar os interesses dos
participantes da relação de consumo

a redução das desigualdades é condição


obrigatória para a harmonização e
equiparação entre consumidor e
produtor.
4 – Educação

 John Kennedy: o consumidor tem o


Direito de Informação.
 Informações sobre: produto ou serviço,
quanto aos direitos e deveres, como
buscá-los.
5 – Qualidade

 é o princípio que manda incentivar o


desenvolvimento de meios eficientes de
controle de qualidade e segurança de
produtos e serviços.
 Produtos, serviços e atendimento:
mecanismos alternativos (viáveis e
rápidos) na solução de conflitos
6 – Abuso

 Código do Consumidor criou o Sistema


Nacional de Defesa do Consumidor
(SNDC), art.105 e Decreto nº 2.181, de
20 de março de 1997 e instituiu a
Convenção Coletiva de Consumo, para
regular, por escrito, as relações de
consumo, art. 107.
 Art. 105. Integram o Sistema Nacional de
Defesa ao Consumidor - SNDC os órgãos
federais, estaduais, do Distrito Federal e
municipais e as entidades privadas de defesa
do consumidor.
 Art. 107. As entidades civis de consumidores e
as associações de fornecedores ou sindicatos
de categoria econômica podem regular, por
convenção escrita, relações de consumo que
tenham por objeto estabelecer condições
relativas ao preço, à qualidade, à quantidade, à
garantia e características de produtos e
serviços, bem como à reclamação e
composição do conflito de consumo.
7- Serviço Público

 Racionalização e melhoria dos serviços


públicos. A isonomia dos usuários é a mais
absoluta possível.
 ADMINISTRATIVO – SERVIÇO DE DITRIBUIÇÃO
DE ENERGIA ELÉTRICA – CALL CENTERS –
POSTOS DE SERVIÇOS E LOJAS DE
ATENDIMENTO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA –
DIREITO COLETIVO STRICTO SENSU –
LEGITIMIDADE ATIVA DO PARQUET – Mesmo
que se marginalizassem as vantagens do
atendimento pessoal em face do eletro-
eletrônico, é evidente que não se pode fechar os
olhos ao avanço tecnológico e pretender
conservar obsolecências por mera reação à
modernidade.
Contudo, enquanto a instalação moderna não se
ajusta plenamente à sua finalidade,
eliminando ou minimizando os inevitáveis
defeitos de implantação, não é razoável que
se desative totalmente a instalação antiga, à
qual os usuários estão habituados. Para
assegurar-se a continuidade dos serviços com
adequado padrão de qualidade, faz-se
necessária a justaposição de ambas as
instalações pelo tempo necessário à natural
sucessão de uma pela outra. Negado
provimento ao recurso. (TRF 4ª R. – AG
2005.71.10.003588-9 – 4ª T. – Rel. Des. Fed.
Edgard Antônio Lippmann Júnior – DJe
05.11.2007)
 III - O corte no fornecimento de energia violou o direito
que tem o apelado de ver prestado o serviço público de
energia elétrica de modo adequado, eficiente, seguro e
contínuo, porque essencial (Código do Consumidor -
Art. 22), a par de submetê-lo a constrangimentos e
desconfortos que soam óbvios, motivo pelo qual tem o
dever de reparar os danos resultantes da interrupção.
IV - Recurso conhecido e provido parcialmente. (TJSE –
AC 0878/2006 – (Proc. 2006202571) – (20077337) – 2ª
C.Cív. – Rel. Des. Cezário Siqueira Neto – J. 15.10.2007)

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