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PROCESSOS COGNITIVOS - AULA 3

Cada indivíduo aprende a ser homem


TRABALHO: atividade humana fundamental
Através do trabalho os humanos adquirem e transmitem conhecimentos às gerações
seguintes

Natureza modificada pelo homem


Conforme suas necessidades
Natureza Criam objetos
Constroem habitações

Mundo repleto de produtos materiais, intelectuais, ideais, cristalizam-se suas aptidões,


conhecimentos, saber fazer
Objetos e fenômenos das gerações anteriores

O homem da nova geração deve se inserir e se apropriar das riquezas deste


mundo participando no trabalho, nas atividades sociais, etc.
Ontogênese
No âmbito ontogênico, individual, esse é um processo diferente da filogênese.
O homem nasce desprovido de todo o conhecimento que foi desenvolvido e acumulado pela
humanidade, mas ao nascer traz consigo a potencialidade para se humanizar. Para tanto,
precisa se apropriar da cultura que foi produzida pela geração antecedente; caso contrário
seu nível de desenvolvimento se restringe ao dos animais, visto que com a evolução humana
o que a natureza lhe oferece ao nascer não é mais suficiente para viver em sociedade,
precisa, portanto, apropriar-se da cultura essencialmente humana por meio da educação.
A este respeito Leontiev (2004, p. 284) ressalta que:
Cada geração começa, portanto, a sua vida num mundo de objetos e de fenômenos criado
pelas gerações precedentes. Ela apropria-se das riquezas deste mundo participando no
trabalho, na produção e nas diversas formas de atividade social e desenvolvendo assim as
aptidões especificamente humanas que se cristalizaram, encarnaram nesse mundo.
Verificamos em Leontiev (2004) que o desenvolvimento humano depende da
apropriação das aptidões humanas que se cristalizaram neste mundo. A criança ao
nascer apresenta as funções elementares (reflexos involuntários), ao apropriar-se dos
elementos da cultura precedente ela desenvolve as funções psicológicas superiores,
fundamentais ao processo de humanização. Neste sentido, Leontiev (2004, p. 284)
não deixa dúvida ao afirmar que:
Está fora de questão que a experiência individual de um homem, por mais rica que
seja, baste para produzir a formação de um pensamento lógico ou matemático
abstrato e sistemas conceituais correspondentes. Seria preciso não uma vida, mas
mil. De fato, o mesmo pensamento e o saber de uma geração formam-se a partir da
apropriação dos resultados da atividade cognitiva das gerações precedentes.
Conforme verificamos em Leontiev, os conhecimentos não são dados à espécie
humana, mas todos os homens, ao nascer estão aptos a se apropriar deles, visto que,
“[...] possuem as disposições elaboradas no período de formação do homem e que
permitem, quando reunidas, as condições requeridas, a realização deste processo
desconhecido no mundo dos animais” (LEONTIEV, 2004, p. 287, grifo nosso).
Desenvolvimento do homem Desenvolvimento da cultura

atividade cognitiva das gerações precedentes

Base para a formação do pensamento e saber da geração seguinte(que deve se apropriar)

processo de apropriação dos


processo de formação das faculdades
indivíduos das aquisições do
específicas do homem
desenvolvimento histórico

Através da ATIVIDADE
Atividade
Leontiev (2004, p. 286) defende que a “apropriação” requer a reprodução do objeto ou do fenômeno,
o que compreende um processo ativo do indivíduo.
Para se apropriar dos objetos ou dos fenômenos que são o produto do desenvolvimento histórico, é
necessário desenvolver em relação a eles uma atividade que reproduza, pela sua forma, os traços
essenciais da atividade encarnada, acumulada no objeto.
Leontiev (2004, p. 287) esclarece que a apropriação do instrumento promove “[...] uma reorganização
dos movimentos naturais instintivos do homem e a formação de faculdades superiores”. A aquisição
de um instrumento consiste em se apropriar das operações motoras que nele estão agrupadas. Assim,
a qualidade da apropriação, do uso, de um instrumento é, ao mesmo tempo, um processo de
formação ativa de aptidões novas, de funções superiores. “[...]. Isto se aplica igualmente aos
fenômenos da cultura intelectual” (LEONTIEV, 2004, p. 288).
A principal característica do processo de apropriação ou de ‘aquisição’ que descrevemos é, portanto,
criar no homem aptidões novas, funções psíquicas novas. É nisto que se diferencia do processo de
aprendizagem dos animais. [...] a assimilação no homem é um processo de reprodução, nas
propriedades do indivíduo, das propriedades e aptidões historicamente formadas da espécie humana.
(LEONTIEV, 2004, p. 288, grifo do autor).
 
Exemplo: aquisição de um instrumento

INSTRUMENTO
• produto da cultura material ( possui traços característicos da criação humana,
• também é objeto social ( nele se incorporam e fixam as operações de trabalho historicamente
elaboradas)
 
Cristaliza-se nos instrumentos humanos um conteúdo social e ideal

Os animais usam os instrumentos, mas não os guardam nem transmitem, não desenvolvem
novas operações motoras

O homem – se apropria dos instrumentos – reorganiza seus movimentos – forma faculdades


motoras superiores
Este processo é possível graças ao cérebro humano, que funciona da
mesma maneira que os outros órgãos habituais, de morfologia
constante “[...] mas distinguem-se por serem neoformações que
aparecem no decurso do desenvolvimento individual (ontogênese)”.
Eles constituem o “[...] substrato material das aptidões e funções
específicas que se formam no decurso da apropriação pelo homem do
mundo dos objetos e fenômenos criados pela humanidade”
(LEONTIEV, 2004, p. 289).
Comunicação
Podemos entender que a apropriação do conteúdo social deixa marcas no indivíduo, permitindo que o
mesmo o reproduza e contribuindo para que ele desenvolva aptidões humanas que o humanizam.
A apropriação que implica a reprodução e, ao mesmo tempo, cria aptidões novas requer a
“comunicação”.
Em Leontiev, identificamos a importância fundamental desta condição. Ele afirma que a apropriação da
atividade adequada não ocorre na criança ou no homem por influência dos próprios objetos e
fenômenos, é preciso mais. Em sua visão, é preciso que haja comunicação. Independente da forma, a
comunicação é, portanto, a condição necessária e específica para que o desenvolvimento humano
aconteça.
A comunicação, quer esta se efetue sob a sua forma exterior, inicial, de atividade em comum, que sob a
forma de comunicação verbal ou mesmo apenas mental, é a condição necessária e específica do
desenvolvimento do homem na sociedade (LEONTIEV, 2004, p.290).
Evidencia-se, assim, que as riquezas produzidas pela humanidade não são dadas aos homens nos
fenômenos objetivos da cultural material e espiritual, elas são apenas postas, esse processo de
apropriação requer comunicação.
Leontiev (2004, p. 290) esclarece que:
Para se apropriar destes resultados, para fazer deles as suas aptidões, ‘os órgãos da sua individualidade’, a
criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenômenos do mundo circundante através doutros
homens, isto é, num processo de comunicação com eles. Assim, a criança aprende a atividade adequada.
Pela sua função, este processo é, portanto, um processo de educação.
Exemplo : fenômenos da cultura intelectual
Aquisição da linguagem – processo de apropriação das operações das palavras fixadas
historicamente nas suas significações
 
•Animal se contenta com o desenvolvimento da natureza
•Homem a constrói

Características do processo de apropriação


-         cria no homem aptidões novas, funções psíquicas novas
-         processo de reprodução no indivíduo das propriedades e aptidões historicamente
formadas na espécie humana
 
Educação
A educação pode ter e tem formas muito diversas, inicialmente uma simples imitação dos atos do
meio que ocorre sobre sua influência, depois pode vir a se especializar tomando formas como o
ensino e a educação escolar, até a formação autodidata.
Contudo, para que a potencialidade e a essencialidade da educação venham a se concretizar, Leontiev
(2004, p. 291) sublinha que “ [...] este processo deve sempre ocorrer sem que a transmissão dos
resultados do desenvolvimento sócio-histórico da humanidade nas gerações seguintes seria
impossível, e impossível, consequentemente, a continuidade do processo histórico”
A “atividade adequada” ao desenvolvimento da criança, defendida por Leontiev, compreende a
educação, é ela que potencializa a formação humana.
Nesta perspectiva, a educação escolar assume uma dimensão nova frente às outras formas de
educação.
Observação: Esta questão foi analisada por Vigotski, no texto Aprendizagem e desenvolvimento na
idade escolar. O autor parte do princípio que a educação da criança começa antes do ingresso à
escola. Contudo, a educação escolar se diferencia das demais formas educativas, não apenas pela
sistematização, mas porque “[...] a aprendizagem escolar dá algo de completamente novo ao curso do
desenvolvimento da criança” (VIGOTSKI, 2005, p. 34).
A criança aprende a atividade mais adequada
Processo de educação

Várias formas
Transmissão dos resultados do desenvolvimento sócio-histórico da humanidade para as
gerações seguintes

É a RELAÇÃO COM OS OUTROS, e não somente o objeto ou fenômeno que permite


que a criança se aproprie de traços da cultura acumulada.

“Quanto mais progride a humanidade, mais rica é a prática sócio-histórica acumulada


por ela, mais cresce o papel específico da educação e mais complexa é a sua tarefa”
(p.291)
Etapa nova do desenvolvimento da humanidade implica em etapa nova no
desenvolvimento da educação
A Desigualdade
Estas ideias são cruciais à reflexão quanto às intervenções pedagógicas nos dias atuais.
O progresso atingido pela humanidade, saldo das elaborações históricas mais
desenvolvidas pelos homens, requer esforço contínuo e racional no que tange aos
conteúdos e aos métodos adequados à transmissão destes às novas gerações.
Aeste desafio temos o desafio maior, que historicamente se constituiu entre os
homens, a desigualdade, que implica obstáculos imensos quanto à formação humana.
A desigualdade entre os homens é tamanha que parece que somos de espécies
distintas, não por características biológicas, mas, conforme Leontiev (2004, p. 293)
pontua, pelas “[...] enormes diferenças nas condições e modo de vida, da riqueza da
atividade material e mental, do nível de desenvolvimento das formas e aptidões
intelectuais”.
As desigualdades entre os homens não provêm das diferenças
biológicas, como comumente se justificam. Elas são:
[...] produto da desigualdade econômica, da desigualdade de classes e
da diversidade consecutiva das suas relações com as aquisições que
encarnam todas as aptidões e faculdades da natureza humana,
formadas no decurso de um processo sócio- histórico.
(LEONTIEV, 2004, p. 293).
Homem

Tem aptidão para formar novas aptidões

Nem todos tem acesso a esta possibilidade

Desigualdade entre os homens

Não são fruto de diferenças biológicas São produto da desigualdade


naturais econômica de classes
Divisão social do Trabalho
Uma vez que a formação humana é produto da evolução da espécie, que por meio do
trabalho se libertou da sujeição às leis da evolução. Temos em contrapartida, pela
especificidade da sua formação, passou a sofrer os efeitos nefastos da contradição instituída
pelos homens com a divisão social do trabalho.
Com esta organização social, o produto oriundo da atividade humana se separa do
produtor e é transformado em objeto de troca, passa a ter vida própria independente do
homem.
Igualmente como decorrência da divisão social do trabalho, as demais atividades se separam
do homem:
[...] a atividade material e intelectual, o prazer e o trabalho, a produção e o consumo se
separem e pertençam a homens diferentes. Assim, enquanto globalmente a atividade do
homem se enriquece e se diversifica, a de cada indivíduo tomado à parte estreita-se e
empobrece.
A concentração das riquezas materiais nas mãos de uma classe dominante é acompanhada
de uma concentração da cultura intelectual nas mesmas mãos. Se bem que as suas criações
pareçam existir para todos, só uma ínfima minoria, tem o vagar e as possibilidades materiais
de receber a formação requerida, de enriquecer sistematicamente os seus conhecimentos e
de se entregar à arte; durante este tempo, os homens que constituem a massa da
população, [...] têm de contentar-se com o mínimo de desenvolvimento cultural necessário à
produção de riquezas materiais nos limites das funções que lhes são destinadas. (LEONTIEV,
2004, p. 295).
Divisão social do trabalho

Produto do trabalho – transforma-se – objeto de troca

Classes dominantes: Concentração de riquezas e cultura intelectual

Concentração e alienação da cultura

Provoca

•Desigualdade de desenvolvimento
•Desigualdade de condições e circunstâncias de progresso econômico e social
•Povos privados de meios materiais para seu progresso cultural
DESENVOLVIMENTO FUTURO DO HOMEM
Conforme a concepção da NATUREZA do homem
Puramente biológica
Considera a questão da reprodução entre raças superiores
Pressupõe a diferença entre indivíduos mais aptos e menos aptos
Entretanto todas as raças humanas tem as características biológicas do homem
contemporâneo ( cérebro desenvolvido, particularidades do esqueleto, posição
vertical etc)

Homem como ser social que se apropria das aquisições históricas da humanidade

Criar condições para que todos possam se desenvolver

EDUCAÇÃO que garanta o desenvolvimento multilateral

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