Você está na página 1de 15

HISTÓRIA NAS REDES -UFES

Ciganos no Brasil

Daniela Simiqueli Durante

Doutoranda em História

Universidade Federal do Espírito Santo

danisimiqueli@gmail.com
CIGANOS: O OUTRO
• Processos de Exclusão e Inexistência.
DOS OUTROS
• Os primeiros registros dos ciganos no Ocidente ocorreram a partir do século XV.
Diversas pesquisas de cunho linguístico e antropológico apontam uma origem
proveniente do noroeste da Índia, atual Paquistão, contudo, por serem
tradicionalmente ágrafos, os relatos sobre as populações ciganas, em quase sua
totalidade, a partir deste período, foram narrados pelos não- ciganos de forma
folclorizada.

• Acredita-se que há mil anos, os ciganos iniciaram seu processo de imigração


partindo da península indiana para o continente europeu. Não se sabe os motivos
que ocasionaram a disseminação dos ciganos por várias partes do mundo.
CIGANOS: O OUTRO
DOS OUTROS

 A hipótese mais provável é que


ocorreram várias ondas
migratórias, em épocas bem
diferentes, talvez de áreas
geográficas diversas, e por motivos
dos mais variados
CIGANOS: O OUTRO
DOS OUTROS

 Cartaz anunciando um leilão de


escravos ciganos na Valáquia. “
Para venda um lote de categoria de
escravos ciganos a leiloar no
Mosteiro de Santo Elias, 8 de Maio
de 1852, consistindo de 18
homens, 10 rapazes, 7 mulheres e
3 raparigas: em perfeitas
condições” Fonte: FRASER,
Angus. História do Povo Cigano
CIGANOS: O OUTRO DOS OUTROS

 Os primeiros ciganos no Brasil eram oriundos de Portugal. Como relatado


anteriormente, este país recorreu à deportação por causa de seus limites
geográficos que impediam a expulsão dos ciganos do território português já que a
Espanha, único país que faz divisa territorial, também adotava severas políticas
anticiganas. O primeiro cigano deportado para o Brasil foi João de Torres com sua
mulher, Angeliana e seus filhos em 1574.
CIGANOS: O OUTRO DOS OUTROS
Entre os anos de 1685 e 1686, a deportação dos ciganos realmente aconteceu

de modo efetivo. As regiões do Maranhão, Pernambuco e Bahia foram as que

receberam inicialmente o maior fluxo de ciganos. O governo local realizou sanções e

normativas, entre as quais a proibição do uso da língua e de gírias e que não

fossem transmitidas para seus filhos com a intenção de que deixassem de ser

faladas.
CIGANOS: O OUTRO DOS OUTROS

 No século XVII, têm-se registros de ciganos em Minas Gerais e em São Paulo e,


consequentemente, tornam-se indesejáveis.

 A partir do século XIX com o advento do nacionalismo e do projeto de


modernização do país agravados pela Proclamação da República, transformam os
ciganos em uma espécie de ameaça aos ideais progressistas do período, apesar
de não serem os únicos,
A Imprensa como Fonte Documental

 Grande relevância enquanto documento histórico.


 A imprensa periódica relaciona-se diretamente com os espaços públicos em
constante transformação no fim do século XIX.
 Linguagem simples e um discurso constituído por diversos atores sociais.
 Apresentou um inegável peso na configuração da esfera pública através da
expressão de valores no âmbito cultural que se tornaram fundamentais para a
construção de uma identidade nacional no período republicano.
Intitulado “ Os Ciganos-história,
língua e costumes”, trata-se de
um texto com forte cunho literário,
encontrando-se inclusive na
seção de Literatura do impresso.
que aponta as diversas
designações dadas aos povos
ciganos, assim como origens e
comportamento.

 O artigo foi divulgado em três


edições do periódico:
03/02/1871,10/12/1871,
17/12/1871.
Trata-se de um ensaio francês
que foi traduzido para o noticiário
em questão.

 Percebemos ao longo do texto


as diversas classificações que
organizam o cigano no meio
social.
Além das diversas designações obtidas pelos ciganos ao longo dos séculos e enidencias no
impresso, as representações da figura errante, a sua origem incerta, a vadiagem e o caráter
duvidoso apresentam destaque na crônica.
O impresso analisado é consoante com as pesquisas que desenvolvemos sobre as
populações ciganas no Espírito Santo em que È considerável o aumento de notas
que tratam sobre a presença cigana nos jornais capixabas entre o final do século XIX
e início do século XX. A entrada destas comunidades representavam uma grande
preocupação para as autoridades do período
A criminalidade e a vadiagem eram
temas recorrentes nos impressos do
período referenciado. Em muitos
deles, há relatos de crimes e
detenções ocasionadas pelos
ciganos. Nestes casos, a repressão
das forças policiais baseava-se, em
grande parte, em pressupostos
higienistas, uma vez que a dinâmica
do Estado via os grupos ciganos
como perigosos e desnecessários,
como também eram responsáveis por
diversos roubos e por corromperem
os costumes calcados na moral
burguesa.

Vistos como incivilizados, seus valores


eram “[...] tidos como algo tão absurdo
que nem sequer eram percebidos como
sendo traços de outra cultura”
(TEIXEIRA, 2007, p. 69).
A trajetória dos ciganos demonstra que a imprensa contribuiu de modo
veemente para a construção de representações que promoveram a
desqualificação e a consequente exclusão desta minoria étnica no estado do
espírito Santo no final do século XIX. Faz-se necessário compreender,
entretanto, que o interesse da população por este tipo de reportagem
reforçou os veículos de comunicação do período a atender os diversos
setores sociais e consequentemente as suas demandas, o que lhes dava a
oportunidade de desenvolver temas de notícias que proporcionassem
interesse ao grande público leitor.
Referências
CHARTIER, Roger. A História Cultural em práticas e representações. Lisboa,
Bertrand, 1990.
DURANTE, Daniela. Ciganos nas terras do Espírito Santo: representações sócio-
políticas (1870-1936). Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Espírito
Santo. Programa de Pós-graduação em História, 2014.
MOONEN, Frans. Anticiganismo: os ciganos na Europa e no Brasil. Juiz de Fora,
Centro de Cultura Cigana, 2008. Documento disponível em HTTP:
www.dhnet.org/direitos/sos/ciganos. Acessado em 10 de Julho de 2009.
TEIXEIRA, Rodrigo. Ciganos em Minas Gerais: uma breve história. Belo Horizonte:
Crisálida, 2007.

Você também pode gostar