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Tecnologia da Usinagem

Avarias e Desgastes das


Ferramentas de Usinagem

Capítulo 8
LIVRO: Machado et al.. Teoria da Usinagem dos Materiais. 2ª ed. Blucher : São Paulo.
2012.
Engenharia Mecânica UPF Prof. Luiz Airton Consalter Cap. 8 – Avarias e Desgastes
Formas de Destruição das
Ferramentas de Corte
1. Ocorrência de avaria (trinca, lasca ou quebra)
2. Ocorrência de desgaste
3. Ocorrência de deformação plástica

 Os três promovem a mudança na geometria da ferramenta;

 Os dois primeiros, geralmente, promovem a perda de massa;

 O último promove o deslocamento de massa na ferramenta.

Engenharia Mecânica UPF Cap. 8 – Avarias e Desgastes


Avaria
Processo de destruição da ferramenta de corte
que ocorre de maneira repentina e inesperada,
causado pela quebra, lasca ou trinca da ferramenta
de corte. A quebra e a lasca levam à perda de uma
quantidade considerável de material da ferramenta
de corte instantaneamente, enquanto a trinca
promove a abertura de uma fenda no corpo da
ferramenta de corte, sem perda de material. Mas ela
pode se transformar em sulco (no caso de trincas de
origem térmica), lasca ou quebra.
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Desgaste

Desgaste é a mudança da geometria da


ferramenta de corte por perda de massa. No
desgaste, ao contrário da avaria, esta perda
acontece de maneira contínua e progressiva, e
em proporções pequenas, às vezes em nível
atômico, às vezes em nível granular.

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Deformação Plástica

Mudança da geometria da ferramenta


de corte pelo deslocamento de massa. Ela
ocorre por cisalhamento devido às altas
tensões atuantes nas superfícies das
ferramentas de corte. Em casos extremos
leva à total destruição da cunha cortante da
ferramenta, podendo até perder massa.

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Motivos para Substituir Ferramenta
(i) - Ocorrência de uma avaria (trinca, lasca ou
quebra).
Mais comum em:
 Cortes interrompidos
 Ferramentas de metal duro, cermets, cerâmicas e
ultraduras
(ii) - O desgaste ou a deformação atinge proporções
elevadas que pode comprometer o bom
andamento do processo.
O desgaste pode ocorrer:
 Em cortes interrompidos ou contínuos
 Qualquer ferramenta de corte
A deformação plástica pode ocorrer:
 Em cortes interrompidos e contínuos
 Em ferramentas de aço-rápido e metal duro
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Desgaste no Corte Interrompido

“No corte interrompido (fresamento),


o desenvolvimento do desgaste uniforme
na superfície de folga ou saída, será
dominante apenas se a ferramenta de
corte possuir tenacidade suficiente para
resistir aos choques mecânicos e
térmicos inerentes a tais processos”.

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Avarias no Corte Contínuo

São muito raras ...


... a não ser que:

 As condições de corte sejam abusivas;


 Geometria da ferramenta inapropriada;
 Defeito de fabricação da ferramenta.

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Avarias no Corte Interrompido

No corte interrompido as
avarias podem ocorrer devido aos
choques mecânicos na entrada e
na saída da ferramenta da peça, ou
ainda por choques térmicos (ou
fadiga térmica), em consequência da
flutuação cíclica da temperatura.

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Avarias de Origem Térmica

Fase inativa
Fase ativa
Peça

Fresa

Fases ativa e inativa no fresamento

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Variação Cíclica da Temperatura
no Corte Interrompido
t ín u o
ec o n
c o rt
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m e
es f ria rte
-R - Aquecimento em corte contínuo c o
em
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Temperatura e Tensões em
Ferramentas de Metal Duro no
Corte Interrompido

FASE ATIVA FASE INATIVA

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Trincas Térmicas em
Ferramentas de Metal Duro

Sulcos desenvolvidos em forma de pentes

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Influência da Velocidade de Corte na
Formação de Sulcos no Fresamento

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Influência do Avanço na Formação
de Sulcos no Fresamento

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Influência do Material da Ferramenta
na Formação de Sulcos no Fresamento

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Densidade de Trincas Térmicas em
Função da Penetração de Trabalho (ae)
Densidade média de trincas térmicas

2,5

2
(mm )
-1

1,5

0,5

0
30 55 80
Penetração de trabalho (mm)
vc = 240 m/min; fz = 0,15 mm/dente; ap = 2,0 mm.

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Influência do Aquecimento da
Ferramenta na Formação de Sulcos

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Avarias de Origem Mecânica
As trincas de origem mecânicas
podem ocorrer devido aos “choques
mecânicos” ocorridos durante a entrada
da aresta de corte na peça (promovendo
trinca, lasca ou quebra) ou durante a
saída dela da peça (ocasionando
quebra).

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Avarias Mecânicas na ENTRADA
da Ferramenta na Peça

AlCrN-Alcrona

Avarias em ferramentas de metal duro revestidas, usadas no


fresamento de ferro fundido vermicular
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Avarias Mecânicas na ENTRADA
da Ferramenta na Peça

Quebra de origem mecânica em ferramentas cerâmica e Cermet

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Avarias Mecânicas na SAÍDA da
Ferramenta na Peça

Distribuição de tensão na ponta da


ferramenta de corte no instante em que a
trinca é aberta para a formação do “pé”.
Formação do “pé” Cap. 8 – Avarias e Desgastes
Avarias Mecânicas na SAÍDA da
Ferramenta na Peça

Formação do “pé”
com ruptura da
cunha de corte

Cap. 8 – Avarias e Desgastes


Engenharia Mecânica UPF
Avarias Mecânicas na SAÍDA da
Ferramenta na Peça
 = -45°  = +20°

Ângulo de
direção de saída

e efeito da
formação do pé na
vida da ferramenta

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Identificação da Origem das Trincas
As trincas de origem térmica são, geralmente, perpendiculares à aresta de corte e prevalecem quando se usina a altas velocidades.

As trincas de origem mecânica são, geralmente,


paralelas à aresta de corte e prevalecem quanto se usina a
baixas velocidades.

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Desgastes

D C

TRÊS FORMAS: (A) Desgaste de cratera;


(B) Desgaste de flanco ;
(C e D) Desgaste de entalhe.
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Parâmetros para Medir Desgastes
das Ferramentas de Corte (ISO 3685)

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Comportamento do Desgaste com o
Tempo de Corte em Três Regimes
quebra
Desgaste
*
I II III

Tempo

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Mecanismos de Desgaste
Desgaste Total

Difusão

Adesão
Abrasão

Oxidação

Temperatura de Corte
(Velocidade de Corte; Avanço e outros fatores)

Diagrama de distribuição dos mecanismos de desgaste das


ferramentas de corte (Vieregge, 1970).
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Mecanismos de Desgaste (cont.)

Adesão e arrastamento

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1. Deformação plástica superficial
por cisalhamento a altas
temperaturas
Ocorre mais provavelmente na usinagem
de metais com alto ponto de fusão, em
ferramentas de aço-rápido e metal duro. As
tensões cisalhantes na interface cavaco-
ferramenta são suficientes para causar
deformação plástica superficial. Devido às altas
temperaturas ali desenvolvidas, a resistência ao
escoamento do material da ferramenta, próximo
à interface, é reduzida. Como consequência,
material é arrancado da superfície da
ferramenta, formando-se assim uma cratera.
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1. Deformação plástica superficial por
cisalhamento a altas temperaturas (cont.)
Peça

Cavaco

vc

Ferramenta

Deformação plástica superficial por cisalhamento a altas temperaturas


em uma ferramenta de aço-rápido, após usinar aço inoxidável austenítico
(Trent e Wright, 2000).
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1. Deformação plástica superficial por
cisalhamento a altas temperaturas (cont.)
Perfis das superfícies de
saída de ferramentas de
metal duro, após 16 min
de usinagem de aço
endurecido (Ávila, 2003):
(a)
(a) sem revestimento
(b) revestida com TiNAl

(b)
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2. Deformação Plástica da Aresta
sob Altas Tensões de Compressão
Ocorre na usinagem dos materiais de alta
dureza. A combinação de altas tensões de
compressão, com altas temperaturas na superfície
de saída, pode causar a deformação plástica da
aresta de corte das ferramentas de aço-rápido ou
metal duro. Geralmente, ocorre, a altas
velocidades de corte e avanço e leva a uma falha
catastrófica.

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2. Deformação Plástica da Aresta sob
Altas Tensões de Compressão (cont.)

Ferramenta de Aço-Carbono

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2. Deformação Plástica da Aresta sob
Altas Tensões de Compressão (cont.)

Ferramenta de Metal Duro

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3. Desgaste Difusivo
Este mecanismo envolve a transferência de
átomos de um material para outro e é fortemente
dependente da temperatura, do tempo e da
solubilidade dos elementos envolvidos na zona
de fluxo (zona de cisalhamento secundário).
Como se processa em nível atômico, no
microscópio as áreas desgastadas por difusão
tem uma aparência muito lisa.

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3. Desgaste Difusivo (cont.)
A difusão na usinagem de aço com ferramenta de
metal duro:
 O C se satura na fase Co com apenas 0,7%.
 O Fe do aço tende a se difundir para a fase Co da

ferramenta, fragilizando-a e aumentando a solubilidade do


C para 2,1%.
 Esta maior solubilidade do C na fase Fe-Co, promove a

dissociação de WC, formando um carboneto complexo do


tipo (FeW)23C6, liberando C.
 Este carboneto complexo de ferro e tungstênio tem uma

resistência à abrasão muito menor que o carboneto de


tungstênio original, fragilizando, portanto, a ferramenta de
corte. Cap. 8 – Avarias e Desgastes
3. Desgaste Difusivo (cont.)

Aparência do desgaste predominantemente difusivo


Usinagem de Ti6Al4V com ferramenta de metal duro K20
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4. Desgaste por Aderência e
Arrastamento – Attrition
Este mecanismo ocorre, geralmente, a baixas
velocidades de corte, onde o fluxo de material sobre a
superfície de saída da ferramenta se torna irregular.
Sob estas condições, fragmentos microscópicos são
arrancados da superfície da ferramenta e arrastados
junto ao fluxo de material adjacente à interface. Como
este mecanismo se processa em nível de grãos, no
microscópio, as áreas desgastadas por attrition tem
uma aparência áspera.

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4. Desgaste por Aderência e
Arrastamento – Attrition (cont.)

Presença da APC,
promovendo attrition na
superfície de saída e folga
da ferramenta de corte
(Trent e Wright, 2000).

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4. Desgaste por Aderência e
Arrastamento – Attrition (cont.)

Attrition

Difusão

Diferença da aspereza por difusão e por attrition em ferramenta


de metal duro K20 após usinar Ti6Al4V a 75 m/min.
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5. Desgaste Abrasivo
O desgaste abrasivo envolve a perda de
material por micro-sulcamento, micro-corte ou micro-
lascamento, causados por partículas de elevada
dureza relativa. Estas partículas podem estar contidas
no material da peça (e.g., carbonetos, nitretos,
carbonitretos e óxidos), ou podem, principalmente, ser
partículas da própria ferramenta que são arrancadas
por attrition, por exemplo. Este mecanismo de
desgaste é muito importante na usinagem com
ferramentas de aço-rápido, ferramentas revestidas,
cerâmicas puras e mistas e ultraduras.

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5. Desgaste Abrasivo (cont.)

Desgaste abrasivo em ferramentas de PCBN após usinar


aço ABNT 5140
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5. Desgaste Abrasivo (cont.)

Sulcos característicos da região desgastada por abrasão


em ferramentas de corte.
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6. Desgaste de Entalhe
O desgaste de entalhe não é propriamente um
mecanismo, mas sim uma forma de desgaste. Por
falta de consenso para explicar o processo de
desenvolvimento deste desgaste, é comum tratá-lo
como um mecanismo.

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6. Desgaste de Entalhe (cont.)
 Ocorre, principalmente, na usinagem de materiais
resistentes a altas temperaturas (tais como: ligas de níquel,
cobalto e aço inoxidável). Geralmente, nas regiões onde
ocorrem este tipo de desgaste, as condições de
escorregamento prevalecem e o mecanismo de desgaste,
provavelmente, envolve abrasão e attrition e possivelmente
difusão em altas velocidades de corte e eles são bastante
influenciados pelas interações com a atmosfera.
 Existem evidências para sugerir que óxidos se
formam continuamente e se aderem na ferramenta naquelas
regiões, e a quebra das junções de aderência entre os
óxidos e a ferramenta pode, ocasionalmente, remover
material da superfície desta última .

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6. Desgaste de Entalhe (cont.)

Material aderido no entalhe de ferramenta de metal duro


utilizada para tornear Inconel 901
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6. Desgaste de Entalhe (cont.)
CAUSAS PRINCIPAIS:
 Presença de uma camada encruada de material na superfície da
peça usinada previamente.
 Concentração de tensão devido à um gradiente de tensão na
superfície livre.
 Formação de trincas térmicas devido a um alto gradiente de
temperatura na superfície livre.
 Presença de alguma rebarba na aresta da superfície previamente
usinada.
 Presença de uma camada de óxido abrasiva na superfície
previamente usinada.
 Fadiga da ferramenta devido à flutuação de força na superfície livre
que acompanha os pequenos movimentos laterais das arestas dos
cavacos.
 Partículas da ferramenta depositadas na superfície da peça
previamente usinada, que agem como pequenas ferramentas de
corte para induzir o desgaste.
Cap. 8 – Avarias e Desgastes
Mecanismos Predominantes em
ALTAS Temperaturas de Corte

Os três primeiros mecanismos são mais importantes a


altas taxas de remoção de material, onde há o
desenvolvimento de altas temperaturas

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Mecanismos Predominantes em
BAIXAS Temperaturas de Corte

Os três últimos mecanismos são mais importantes à


baixas velocidades, onde a temperatura de corte é
baixa o suficiente para prevenir os três primeiros.

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