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Etapa Ensino Médio Língua

Portuguesa

ROMANCE I

3ª série
Aula 9 – 2º bimestre
Conteúdos Objetivos

● Gênero textual romance; ● Conhecer o romance


Macunaíma (1928), de
● Modernismo;
Mário de Andrade,
● Variação linguística. compreendendo as
condições de produção da
obra;
● Reconhecer características
do romance modernista pela
análise da linguagem.
Para começar
 Você já sabe que o romance é um
gênero textual longo, composto
por acontecimentos ficcionais e
pelos elementos essenciais da
narrativa: personagem, tempo,
espaço, enredo e foco narrativo.
 Que tal conhecer um romance um
pouco diferente?! Uma obra com
características da rapsódia, da
fábula etc.

Vamos lá?!
Foco no conteúdo
MACUNAÍMA
Mário de Andrade
I – Macunaíma
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de
nossa gente. [...] Houve um momento em que o silêncio
foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que
a índia Tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança
é que chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez
coisas de sarapantar. De primeiro: passou mais de seis
anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:
Foco no conteúdo

— Ai! que preguiça!... e não dizia mais nada. Ficava no canto da


maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos
outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já
velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era
decepar cabeça de saúva. Vivia deitado, mas si punha os olhos
em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém.
E também espertava quando a família ia tomar banho no rio,
todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho,
e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns
diz-que habitando a água-doce por lá.
Foco no conteúdo

[...] Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos, e


frequentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a
cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.
[...] Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio
uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-
gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do
frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era
encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do
Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus
pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco
louro e de olhos azuizinhos [...].
Na prática
Releia o trecho e responda:
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente.
[...] Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando
o murmurejo do Uraricoera, que a índia Tapanhumas pariu uma
criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.

a. Qual é o tipo de narrador desse trecho?


b. Quem é o protagonista?
Na prática Correção
Releia o trecho e responda:
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente.
[...] Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando
o murmurejo do Uraricoera, que a índia Tapanhumas pariu uma
criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.

a. Qual é o tipo de narrador desse trecho?


No trecho, encontramos um narrador-observador, pois
está em terceira e não participa da história.
b. Quem é o protagonista?
Macunaíma, apresentado como herói de nossa gente.
Foco no conteúdo
O narrador teria ouvido a história fantástica de Macunaíma de um
papagaio, enquanto tocava viola. Mas, seguindo a tradição, o narrador,
que é músico, resolve contar essa história em uma rapsódia.
Mas o que é rapsódia?

Rapsódia é a compilação de vários textos folclóricos, histórias orais,


tradições, falares, hábitos, mitos e lendas, transformadas em uma
narrativa única, formando um retrato da miscigenação e da cultura
de um povo. Além disso, é uma composição que se aproxima do
épico, uma vez que narra a vida de um personagem que simboliza
uma nação.
Na prática
Considerando que a rapsódia se origina da
compilação de textos orais, façam duplas com
seu colega ao lado, leiam o fragmento em
destaque e identifiquem um traço da oralidade
que é marcante em toda a obra.

“Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro:


passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a
falar exclamava: — Ai! que preguiça!... e não dizia mais
nada.”
Na prática Correção
Considerando que a rapsódia se origina da compilação de textos
orais, façam duplas com seu colega ao lado, leiam o fragmento em
destaque e identifiquem um traço da oralidade que é marcante em
toda a obra.

“Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro:


passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a
falar exclamava: — Ai! que preguiça!... e não dizia mais
nada.”
O traço marcante da oralidade, em toda a obra, é a
palavra “si”.
Foco no conteúdo
A oralidade no texto
Durante muito tempo, acreditou-se que a literatura representava o
verdadeiro emprego da norma padrão. Macunaíma prova que não.
Por toda a obra, encontramos uma estilização e uma experimentação
com a linguagem, que não corresponde ao padrão. Na verdade, a
língua é uma convenção que pode variar de acordo com o espaço e
mudar com o passar do tempo. No fragmento, temos “ido-se” e
“siquer”, cujo processo semelhante se repete em nível sintático e
fonético por toda a obra.
[...] “Os manos tinham ido-se embora transformados na cabeça
esquerda do urubu-ruxama e nem siquer a gente encontrava
cunhas por ali.” [...]
Foco no conteúdo
Além da oralidade, há outro traço marcante que podemos destacar na
prosa de Mário de Andrade, o indianismo. Aqui, ele se impõe como
uma das matrizes linguísticas, culturais e étnicas do Brasil.
Fragmento: “Porém respeitava os velhos, e frequentava com
aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas
essas danças religiosas da tribo.”
O herói da nossa gente é um indígena, que no meio do livro fica loiro
(ou louro).
“E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante. Abicaram. O herói
depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e
se lavou inteirinho. Mas a água era encantada [...] Quando o herói
saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, [...].”
Foco no conteúdo
Importante: a referência ao folclore
brasileiro e à linguagem oral são
manifestações típicas da primeira fase
modernista, quando os escritores
estavam preocupados em descobrir a
identidade do país e do brasileiro.
A assimilação da oralidade na escrita
modernista reflete um projeto literário e
de país. O propósito dessa investida era
aproximar a cultura erudita da cultura
popular.
Na prática
Releia: “Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro:
passou mais de seis anos não falando.”.

No trecho, a palavra em destaque tem sentido de:

a. Assustar.
b. Animar.
c. Sussurrar.
d. Sapatear.
Na prática Correção
Releia: “Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro:
passou mais de seis anos não falando.”

No trecho, a palavra em destaque tem sentido de:

a. Assustar.
b. Animar.
c. Sussurrar.
d. Sapatear.
Aplicando

★ Após observar variações linguísticas na obra de Mário


de Andrade, retomem o texto e, em duplas, explorem
outras marcas de oralidade encontradas em
Macunaíma, apresentando-as para a turma.
O que aprendemos hoje?
● Conhecemos o romance Macunaíma, de Mário
de Andrade;
● Compreendemos as condições de produção da
obra e reconhecemos características do
romance pela análise da linguagem;
● Estudamos algumas características do
Modernismo e aprendemos sobre as variações
linguísticas.
Referências
BUENO, F. S. Gramática de Silveira Bueno. 20. ed. atualizada.
São Paulo: Global, 2014.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Currículo Paulista
do Ensino Médio. São Paulo: SEE, 2020.
Slides 4 a 6 –ANDRADE, Mário de. Macunaíma. O herói sem
nenhum caráter. Belo Horizonte: Itatiaia, 1987. Disponível em:
https://cutt.ly/ULIlvGC. Acesso em: 5 abr. 2023.
Referências
Lista de imagens e vídeos
Slides 3 e 10 – Pixabay. Disponível em: https://pixabay.com/pt/.
Acesso em: 6 abr. 2023.
Slide 14 – Freepik. Disponível: https://br.freepik.com/. Acesso
em: 6 abr. 2023.
Slide 4 – CAPUTO, G. Macunaíma em diálogo com os games é tema
de seminário. Jornal da USP. Disponível em:
https://cutt.ly/N7gBLPz. Acesso em: 6 abr. 2023.
Material
Digital

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