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A ECONOMIA DA

REPÚBLICA VELHA
1889-1930
Gustavo Franco
Luiz Aranha Correa do Lago
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Visão Geral da Historiografia
 Repú blica Velha: “perda de tempo”:
 Brasil cresceu mais que no Império, mas menos que
no período pó s-1930
 Política liberal
 Expansão dos laços com o capitalismo
globalizado
 Conservadorismo monetário
 Predomínio dos interesses agrários
 Avanço muito restrito da industrialização
 Contraponto desfavorá vel com o período
posterior  PSI
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Transição, Legados e Desafios
 Ú ltimos anos do Império:
 Crise da escravidã o
 Expansã o do trabalho assalariado
 Aprofundamento dos laços do Brasil com a
economia internacional:
1) Imigraçã o europeia
2) Entrada de capital estrangeiro
3) Incorporaçã o de inovaçõ es tecnoló gicas
 Perspectivas favorá veis para o café
 Adesão ao Padrão-Ouro

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Padrão-Ouro
 Ortodoxia da época
 Meio circulante: ouro metá lico e papel moeda
conversível em determinado peso em metal
 Requisito fundamental: Reserva em Ouro
Metálico equivalente ao meio circulante ou o
equivalente em Libras Esterlinas
 Garantia de uma taxa de câ mbio equivalente
 Política monetá ria?
 Política cambial?
 Política fiscal?
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Padrão Ouro
 Vantagem: Estabilidade de Preços
 Desvantagem: Excessiva Rigidez
 Crise: Ajuste recessivo
 Acentuação do Ciclo Econômico
 Desempenho da economia fica extremamente

dependente do setor externo

 Problema para a economia mundial:


 Mineraçã o de ouro deveria ser compatível com as
necessidade de liquidez
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Padrão Ouro e Política Monetária
 Questã o fundamental: “Câmbio ao Par” ou
“Paridade”
 1846: fixaçã o da paridade legal do mil-réis
 27 pence de libra esterlina por mil réis
 Câ mbio flutuante:
Governo nã o interferia diretamente no mercado cambial
 Como influenciar a taxa de câ mbio?
Contraçã o da oferta de moeda
 Problema: “superabundâ ncia de papel”
Superá vit fiscal para “resgate” do papel moeda e
incineraçã o
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Paridade de 1846
 Por que nã o deixar o câ mbio flutuar?
 Por que a insistência com a paridade de 1846?
 Perguntas impertinentes para a época!
 Depreciaçã o X Desvalorização
 Reduçã o do teor de metal precioso  Confisco
 Padrã o-Ouro como um dos “pilares da
civilizaçã o do século XIX”
 Contestaçã o e padrã o fiduciá rio: processo demorado
 Decreto de 1933: Suspendeu a clá usula-ouro
 Revogaçã o definitiva só em 2001

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Papelistas
 Padrã o fiduciá rio
 “Homens prá ticos”, comerciantes, banqueiros
 Necessidade ó bvia de aumentar a oferta de
moeda
 Aumento da demanda de moeda em virtude da
expansã o do trabalho assalariado
 “Real Bills Doctrine”
 Aumento da oferta em resposta a um aumento da

demanda  nã o há impacto inflacioná rio


 Argumentaçã o intuitiva, pobre no plano doutriná rio

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Política Monetária do Império
 Política ortodoxa  Tentativa de chegar ao
padrã o-ouro na paridade de 1846
 Inconsistência:
 Necessidade de expandir a oferta de moeda
X
 Orientação conservadora dos ministros
 Meados de 1889:
 Moeda em circulaçã o: 200 mil contos de réis
 Semelhante ao montante de 1879
 Repetidas crises de liquidez
 Sistema bancá rio muito limitado

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Política Monetária do Império
 Impasse entre metalistas e papelistas
 “Resolvido” em out/1888: taxa de câ mbio chegou
aos “má gicos” 27 pence por mil réis
 Ausência de restriçã o ao aumento da oferta de
moeda
 06/julho/1889: Banco Nacional do Brasil
 Associado ao Banque de Paris et des Pays Bas
 Definir a adesã o ao padrã o ouro
 Banco de emissã o
 Repú blica “atropela” o projeto de Ouro Preto
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República

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Encilhamento
 Rui Barbosa
 Papelista convicto
 17/01/1890:“Pacote Econô mico”
 “Salto para a modernidade”
1) Bancos de Emissã o
2) Nova Lei das Sociedade Anô nimas
 Clima de euforia econô mica
 Início de 1888: 90 companhias
 Meados de 1891: 450 companhias

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Lei Bancária
 Emissõ es bancá rias com lastro de títulos da
dívida pú blica (sistema norte-americano)
  Moeda fiduciá ria pura
  Câ mbio flutuante sem compromisso com a
paridade de 1846
 3 Regiõ es Bancá rias: Norte, Sul e Centro
 Emissõ es inconversíveis
 Total autorizado: 450 mil contos
 2,5 vezes o total do papel-moeda existente
 BEUB: Conselheiro Mayrink: metade do valor
 Revoluçã o no campo monetá rio
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Ampliação das Emissões
 31/01/1890: Nova regiã o bancá ria e Banco
Emissor: Sã o Paulo
 Março/1890: BNB e BB:
 Permissã o para emissã o de até 50 mil contos (com
25 mil em metal)
 Agosto/1890: Extensã o ao BEUB e aos outros
bancos emissores regionais
 Dezembro/1890: Fusã o do BEUB e BN  BREUB
 Permissã o para emitir até 500 mil contos

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Bolha Especulativa
 José Murilo Carvalho:
 “uma vitó ria do espírito do capitalismo
desacompanhado da ética protestante”
 Lançamento de centenas de empresas
 “O Encilhamento”: Visconde de Taunay
 Algumas viá veis e que se consolidaram
 Empresas “fantasmas”, fraudes (p. 116-7)
 Conselhos fiscais inoperantes e corruptos
 Processo especulativo possível em virtude da
forte expansã o monetá ria (p. 183)

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O Início do Fim
 Fim de 1890: “Tempestade perfeita”
 Crise política
 Especulaçã o violenta na bolsa
 Crise do Baring Brothers na Argentina
 Socorro do Banco da Inglaterra
 Brusca reduçã o das entradas de capital no Brasil
 Dú vida pertinente sobre a causa principal:

 Contá gio da crise internacional ou


 Problemas internos
 Jan/1891: Demissã o de Rui Barbosa
 Alencar Araripe e Barã o de Lucena
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Floriano Peixoto
 Nov/1891: Renú ncia de Deodoro
 Floriano Peixoto: dissoluçã o do Congresso
 Oferta total de moeda: 535 mil contos
 Aumento de 148% em relaçã o a 1889
 Crise cambial  Câ mbio: 12 pence por mil réis
 Derrocada do Encilhamento
 Fragilizaçã o dos bancos e das finanças pú blicas
 Limiar de uma grave crise bancá ria
 Rodrigues Alves: Ministro da Fazenda

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Floriano Peixoto
 Proposta de Rodrigues Alves
 Política deflacionista de “encampaçã o” do papel moeda
bancá rio
 Falta de apoio político do Congresso e de Floriano
 Renuncia em agosto/1892
 Serzedello Correia
 Fusã o do BREUB e do BB (BRB) e fim do poder de
emissã o
 Apoio ao setor industrial: “auxílios à indú stria”
 Bô nus ao portador (100 mil contos, cédulas de pequeno valor)
 Na prá tica: papel-moeda
 Elogio dos industriais e críticas dos metalistas

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Floriano Peixoto

 Questõ es imediatas para Serzedello:


1) Preservar empresas legítimas que surgiram
durante o Encilhamento
2) Evitar os custos de uma “crise sistêmica”
 1893: Levantes armados
 Revoluçã o Federalista
 Revolta da Armada
 Grande aumento do déficit pú blico

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Resumo do Período Deodoro/Floriano

 1889-1894:
 Crescimento da oferta de moeda: 3,5 vezes
 Inflaçã o: 20% ao ano
 Forte depreciaçã o cambial
 27,44 pences por mil-réis  11,57 pences por mil-
réis
 Clima de perplexidade e desalento
 Floriano “aceita” sair ao final do mandato

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Governo Prudente de Morais
 Min. da Fazenda: Rodrigues Alves
 Símbolo da hegemonia da oligarquia
cafeeira e da ortodoxia metalista
 Busca de recursos no exterior para
financiar o déficit pú blico e externo
 Reorganizaçã o financeira dos bancos
e do Estado
 “Encampaçã o” das emissõ es
 Ponto de partida essencial: empréstimo junto aos
Rothschild  julho/1895: £ 7,5 milhões

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Governo Prudente de Morais
 Ministro da Fazenda: Rodrigues Alves
 Plano de saneamento bancá rio e operaçã o de
“encampaçã o”
 Aprovaçã o pelo Congresso em dez/1896
 Substituiçã o das emissõ es bancá rias por papel
moeda do Tesouro
 Emissã o passa a ser monopó lio do Governo
 Papel moeda em circulaçã o nesse momento:
 712 mil contos
 372 mil do Tesouro
 340 mil dos bancos emissores

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Governo Prudente de Morais
 Ministro da Fazenda: Rodrigues Alves
 Objetivo: unificaçã o da moeda e plena
conversibilidade  Nã o alcançado – Problemas:
 Bancos com “sérias deficiências patrimoniais”
 Socializaçã o das perdas
 Grande aumento de despesas com Canudos (1896/97)
 Queda do preço do café no mercado internacional
 Grandes dificuldades no mercado cambial
 Taxa de câ mbio cai abaixo de 10 pence/mil-réis
 Bernardino de Campos e Campos Salles
 Início das negociaçõ es para o Funding Loan
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Taxa de câmbio - Pence/Mil-réis - RJ: 1871-1930
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Governo Campos Salles: 1898-1902
 Ministro da Fazenda: Joaquim Murtinho
 Funding Loan
 Reestruturaçã o da dívida pú blica brasileira
 Amortizaçã o suspensa por 13 anos (1911)
 Pagamento total em 50 anos (1961)
 Juros suspensos por 3 anos (1901)
 Taxa de juros de 5% ao ano
 Contrapartidas:
 Hipoteca sobre as receitas da Alfâ ndega do Rio de Janeiro
 Severo programa de ajuste fiscal e monetá rio

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Governo Campos Salles: 1898-1902
 Saneamento Fiscal
 “Nã o posso obrigar ninguém a ser patriota, mas
posso obrigar a pagar impostos”
 Aumento de arrecadaçã o:
 Imposto de consumo e do selo
 Primeiro imposto sobre circulaçã o de produtos nacionais
no Brasil (10%)
 Modernizaçã o administrativa
 Reduçã o de despesas:
 Consumo: 44%
 Investimento: 2/3
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 Em 1898, o preclaro Ministro Murtinho dizia desses impostos
(...) como a melhor prova do valor deles no equilíbrio
orçamentá rio: “É sabido que a decretaçã o desses impostos (de
consumo) foi inspirada ao poder legislativo pela imperiosa
necessidade de compensar a insuficiência das fontes de renda da
Uniã o e a consequente depressã o de sua receita originadas pela
partilha constitucional que transferiu para os Estados entre
outros, o imposto de exportaçã o. Era indispensá vel dotar a
Uniã o com o numerá rio preciso para equilibrar o seu orçamento
e principalmente para habilitá -la a satisfazer os encargos das
dívidas externa e interna sob sua exclusiva responsabilidade e o
ú nico meio de conseguir esse escopo nã o podia ser senã o o de
pedir ao patriotismo dos contribuintes mais esse sacrifício
em prol da comunhão nacional e dos bons créditos da
República”. (MACHADO, Carlos Vieira. O imposto de consumo no
Brasil (1772-1922). Rio de Janeiro, 1922, p. 65)

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Arrecadação do Imposto de Consumo: 1892-1920
Ano Rendimento Cá lculo per
capita
1892 264:836$850 $017
1893 864:174$500 $056
1894 812:973$188 $052
1895 841:119$566 $053
1896 1.570:435$095 $097
1897 1.978:439$091 $129
1898 13.076:092$880 $784
1899 25.475:388$594 1$499
1900 36.693:479$895 2$118
1901 31.566:439$326 1$165
1902 33.959:712$532 1$839
1903 35.374:129$101 1$855
1904 35.367:867$557 1$795
1905 35.232:666$447 1$731
1906 43.496:296$271 1$795
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Imposto de Consumo: 1891-1919
1891: Fumo
1895: Bebidas
1897: Fó sforos e sal
1898: Calçados, velas, perfumaria, especialidades farmacêuticas,
conservas, cartas de jogar e vinagre
1899: Chapéus, bengalas e tecidos
1904: Vinhos estrangeiros
1906: Café torrado, artificial
1910: Manteiga e banha, nacionais e artificiais
1914: Espartilhos, papel para forrar casas, discos para gramofones,
louças e vidros
1915: Ferragens
1916: Café torrado ou moído e manteiga
1918: Pilhas elétricas secas, nacionais
1919: Açú car refinado, obras de joalherias, obras de adorno,
ornamentos e outros fins, mó veis, artefatos de tecidos, armas de fogo
e suas muniçõ es e lâ mpadas elétricas
(MACHADO, Carlos Vieira. O imposto de consumo no Brasil (1772-
1922). Rio de Janeiro, 1922, pp. 66-67) 34
Governo Campos Salles: 1898-1902
 Política monetá ria deflacionista
 Papel-moeda: 1898 a maio/1903
 Reduçã o de 113 mil contos = 13%
 Deflaçã o: 30%
 Valorizaçã o cambial:
 Reduçã o da demanda interna
 Reduçã o do serviço da dívida externa
 Aumento do saldo da BC
 Revitalizaçã o da entrada de capital externo
 Taxa de câ mbio em 11 pence por mil réis
 Abandono das ilusõ es da paridade de 1846
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Governo Campos Salles: 1898-1902
 Consequências das políticas:
 Profunda Recessã o
 PIB per capita em 1900 inferior em 20% ao de 1890
 1900: Grande crise bancá ria
 Impacto positivo sobre as contas pú blicas e reduçã o
do custo de vida
 “Darwinismo econô mico:
Diagnó stico: Excesso de emissã o  “Pseudo-
abundâ ncia de capitais”  Indú stria artificiais e
aumento exagerado na oferta de café
 “Seleçã o dos mais fortes”

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Governo Rodrigues Alves: 1902-1906
 Continuidade da política ortodoxa de Campos
Salles num contexto muito mais favorá vel
 Ministro da Fazenda: Leopoldo de Bulhõ es
 Estabilidade econô mica e obras pú blicas:
 Melhoria da situaçã o externa:
 Exportaçõ es: borracha
 Empréstimos e investimentos externos
 Remodelamento do Rio de Janeiro
 Expansã o e melhorias dos portos e ferrovias
 Compra do Acre: Barã o do Rio Branco
 Revolta da Vacina
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Governo Rodrigues Alves (1902-1906)
 Melhora da posiçã o externa
 Exportaçõ es de borracha/Investimentos externos
 Taxa de câ mbio:
 1898-1902: Valorizaçã o de 40%
 1902-1905: Mais 46% de valorizaçã o
 1906: Perspectiva de grande safra de café e
continuidade da apreciaçã o cambial
 Final de mandato: articulaçõ es para a política
de valorizaçã o do café  Convênio de Taubaté
 Rodrigues Alves nã o apoia, mas também nã o se opõ e

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