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DITADURA MILITAR E RESISTÊNCIA

NA LITERATURA INFANTIL DE RUTH


ROCHA

Doutorando: Josiel Lima


UNIANDRADE - Curitiba
ALERTA!

Qualquer semelhança
com a atualidade será
mera coincidência...
Ou não
O MOMENTO HISTÓRICO

► Entre 1964 e 1985 o Brasil passou por uma Ditadura


Militar
► Muitas obras de artistas de diversas áreas foram
censuradas
► Vários artistas deixaram o país
► Por meio da arte, os artistas conseguiam driblar a
censura e fazer críticas ao governo
Análise dos livros

1978 - há um rei que morre e no seu lugar assume o filho que era “mandão, teimoso,
implicante, xereta”! (ROCHA, 2013, p. 10). Os moradores daquele reino deviam se calar e
“(...) de tanto ficarem caladas, as pessoas foram esquecendo como é que se falava”
A incapacidade de assumir o trono

► Imagem de Walter Ono na 1ª


edição de 1978 demonstra o
caráter autoritário
► O papagaio proveniente de
nossa fauna e as cores da
nossa bandeira indicam de
onde pode ser o Reizinho.

► O Reizinho pisa no
continente americano, outra
referência ao nosso país.
“cala a boca já morre
quem manda na minh
boca sou eu!”
Sensibilidade da artista

►Não só na época da ditadura, mas também


hoje caberia esse tipo de alegoria.
Observando o contexto e “partindo da
realidade vivenciada, Ruth Rocha cria uma
narrativa análoga que ‘denuncia’ o abuso
da autoridade e o governo dos militares no
país . É a sensibilidade do artista que
capta os sentimentos de sua época e o
descreve e critica através de sua arte.
1980 -Um rei
despreocupado
com seu povo e com
preguiça de cumprir
sua função, é
convencido
por seus ministros a
comprar uma
Máquina que passou a
Governar o reino por ele
► Quando decide visitar
um povoado descobre
que a máquina deu
problema, fica
apavorado, perde suas
roupas e acaba sendo
ajudado por seus
próprios súditos que
resolvem o problema
de forma coletiva.
►A ilustração de
Carlos Brito
mostra um rei
despreocupado
com seu povo
►O rei é
ridicularizado por
perder seus trajes
e se parecer com
um cidadão
comum
►A garota Cecília,
responsável pelas
transformações no
reino ilustrada por
Carlos Brito
1981 - Um rei que só consegue enxergar os seus súditos que
estavam próximos e passa essa doença para os próprios
funcionários reais
►Homens grandes
de intelecto
pequeno
(O que os olhos não
vêem)
►“O povo estava espantado pois nunca
tinha pensado em causar tal confusão,
só queriam ser ouvidos, ser vistos e
recebidos sem maior complicação”
(ROCHA, 1994, p. 29).
1982 – Ao beijar o sapo, surge um
reizinho que proíbe as pessoas de falar,
cantar, manda prender as verdades... Até
encher o sótão imperial.
► O povo preso começa a cantar e acaba rachando as estruturas do castelo
até se libertarem e expulsarem o Rei-Sapo
Mas a história se repete
como se fosse um gracejo
Lá vai o sapo na estrada
procurando seu desejo:
encontrar uma princesa
que queira lhe dar um beijo
►Como herdeira de algumas características
lobatianas, ela apresenta questionamentos e
propõe soluções em que as crianças são
protagonistas, dotadas de inteligência e de um
poder transformador.
Protagonismo Infantil
A Democracia e o Poder do
Povo
Governantes Ridicularizados
CONSIDERAÇÕES FINAIS

► as obras da escritora brasileira, ► Publicar a tetralogia dos reis


aproximam os reinos ao foi um risco que a autora
regime militar brasileiro, mas assumiu, mas com certa
não há uma relação com algum moderação, pois eram
militar em especial, podendo histórias infantis que
apenas dizer que os monarcas tratavam de temas como a
presentes em O reizinho democracia, mas por saber
mandão e Sapo-vira-rei-vira- que era considerada uma
sapo, aproximam-se de Geisel literatura menor, escaparia da
e Médici e o de O rei que não perseguição do governo.
sabia de nada e O que os olhos
não veem, de João Figueiredo
(MARIANO, 2012, pp 91-92).
► Esse engajamento político ► a criança se sente valorizada
ligado à sua criatividade e por ver personagens infantis
capacidade artística como protagonistas e agentes
contribuiu para que de transformação e o adulto é
tivéssemos obras com um convidado a refletir sobre o
caráter contestador e muito autoritarismo e a importância
divertidas sem se utilizar de da democracia.
um tom panfletário que
poderia tornar suas histórias
enfadonhas.
► Para o teórico Hans Ulrich Gumbrecht a arte é capaz de
nos transportar para uma época em que não vivemos e
despertar o sentimento que as pessoas tinham naquele
momento.
► Segundo ele “os textos afetam os ‘estados de espírito’ da
mesma maneira que o clima atmosférico e a música”
(GUMBRECHT, 2014, p. 14).
► Nesse sentido, Ruth Rocha de uma forma irreverente faz
um leitor adulto sentir o que foi aquele período de
repressão.
►Eu vou parar por aqui a história que estou
contando. O que se seguiu depois cada um
vá inventando. Se apareceu novo rei ou se o
povo está mandando, na verdade não faz
mal. Que todos naquele reino guardem muito
bem guardadas as suas pernas de pau. Pois
temem que seu governo possa cegar de
repente. E eles sabem muito bem que
quando os olhos não vêem nosso coração
não sente (ROCHA, 1994, p. 30-31).
Referências bibliográficas:
► MARIANO, J. C. A literatura infantil e o autoritarismo no século XX: um estudo comparativo entre Ruth Rocha e
José Cardoso Pires. São Paulo: USP, 2012.

► MIGUEL, M. A. F. Ruth Rocha, página a página: bibliografia de e sobre a autora. Dissertação de mestrado, São Paulo:
UNESP, 2006

► PINTO, M. S. O reizinho mandão, seu retorno e a ditadura militar brasileira Linha Mestra, N.36, p..791-795,
Campinas: UNICAMP, 2018

► REIMÃO, S. Repressão e resistência: Censura a livros na Ditadura Militar. São Paulo: Edusp, Fapesp, 2011.

► RICHE, R. M. C. As histórias de reis e o questionamento Ideológico de Ruth Rocha. v. 2 n.4, pp 113-118. Perspectiva,
UFSC: 1985

► ROCHA, R. O reizinho mandão. 27. ed. São Paulo: Salamandra, 2013.


► ROCHA, R.O que os olhos não vêem. Ilustrações de José Carlos Brito. 2. ed. São Paulo: Salamandra, 2003b.

► ______.O rei que não sabia de nada. Ilustrações de José Carlos Brito.2. ed.São Paulo: Cultura, 2003a.

► ______. Sapo vira rei vira sapo ou “A volta do reizinho mandão”. São Paulo: Moderna, 2012.

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