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O INDIVIDUAL E O SOCIAL: NELSON DE PAULA

NETO E O CORONELISMO

RODRIGO MOTTA - PUCSP


LUCIANO ANTÔNIO PRATES JUNQUEIRA - PUCSP
INTRODUÇÃO
Coronelismo:
- Em 1831 é criada a guarda nacional. Patentes de coronel são outorgadas a
lideranças políticas regionais;
- Mesmo com o fim do Império o termo continua a ser utilizado;
- Estes coronéis comandavam de acordo com os seus interesses a política
regional;
- O modelo só entra em decadência com a consolidação da República, a
expansão das cidades e a industrialização;
- Ainda que decadente, o modelo ainda existe até os dias de hoje em regiões
mais remotas do Brasil.
INTRODUÇÃO
Segundo Leal (2012):
- Defende a tese de que o Coronelismo se relacionava diretamente com os
municípios;
- “O Coronelismo é sobretudo um compromisso, uma troca de proveitos entre
o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes
locais, notadamente senhores de terras”;
- Para se manter, o Coronelismo necessita que as classes mais humildes
tenham escassez de recursos e de cultura, assim como a utilização de violência sempre
que necessário;
- O autor reafirma que o modelo, ainda que tenha sobrevivido ao longo do
século XX, passa por processo de contínua decadência em função dos fatores já
mencionados.
PROCEDIMENTOS
- Para apresentar o impacto do Coronelismo na vida dos que interagiram com
o mesmo na segunda metade do século XX, foi apresentada a história de
vida de Nelson de Paula Neto;
- Influente cidadão, se opôs ao Coronelismo no município de Monte Azul,
região violenta situada no norte de Minas Gerais
- Foram realizadas 10 entrevistas: com a viúva de Nelson, com seus cinco
filhos, três parentes e um amigo próximo.
RESULTADOS
- Nelson nasceu em 1942, filho caçula de uma tradicional família de Monte
Azul;
- Sua família se opunha ao mando dos coronéis da região. Por conta disso, sua
família durante alguns anos mora em São Paulo;
- Retornam para Monte Azul. Nelson estuda na cidade e também em Belo
Horizonte;
- Ingressa em tradicional empresa da região, a Sociedade Oliveira e
Figueiredo;
RESULTADOS
Nelson e Laura
- A expansão da empresa (comercial e industrial)
que Nelson trabalhava exemplifica a decadência
do Coronelismo na região;
- Casa-se com Laura, também de tradicional família
norte-mineira e tem cinco filhos: Fabrícia, Soraya,
Wanderley, Sintya e Joverley;
- Com sua formação acadêmica e profissional,
aliada a história familiar, repetidas vezes se
coloca em confronto com os coronéis locais;
Documento público,
RESULTADOS redigido por Nelson

- Nelson assume a secretaria municipal de educação;


- O chefe da câmara municipal, analfabeto, recruta
Nelson para assessorá-lo;
- Filia-se a UDN, que fazia oposição aos coronéis, ligados
ao PSD;
- Forma junto com outras lideranças emergentes o grupo
“Os Aroeiras”, para se opor ao mando dos decadentes
coronéis.
RESULTADOS
- Nelson retorna a iniciativa privada;
- Em 1976, contrata um advogado, J., para auxiliá-lo em uma pendência que tinha com a prefeitura, que não lhe
havia pago os salários integralmente;
- J. por ser uma pessoa que prestava serviços e portanto era insuspeita, é recrutado pelos coronéis para “resolver a
situação” e eliminar o líder dos Aroeiras;
- Aos 33 anos, Nelson é surpreendido em um bar por J., que lhe desfere 5 tiros pelas costas. Segundo um amigo:

- “Nelson perdia muito sangue. Era incrível que alguém que perdesse tanto sangue ainda estivesse vivo. Mas este
era ele, o mais forte dos fortes. Sua única preocupação era com sua esposa e com os filhos. Pedia que não
avisássemos para eles, para não os alarmar, até que ele estivesse restabelecido. Ao chegarmos na casa, um rádio
tocava a música “Pavão Misterioso”. Como não conseguimos estancar a hemorragia decidimos levá-lo até o
hospital mais próximo, que ficava na vizinha Espinosa. Quando passamos pela linha do trem, Nersão faleceu. Não
chegou ao hospital”.
RESULTADOS
- A família, sem Nelson e sem recursos, é apoiada por parentes. Para evitar que
vinganças e discórdias acontecessem, a viúva Laura se muda com os filhos para
Montes Claros;
- Laura os sustenta com seu salário de professora. Mesmo com todas as dificuldades,
todos se estabelecem como empresários. Justamente como integrantes da classe
média urbana que termina por tomar o poder dos coronéis por meio das vias
democráticas;
- J. é condenado, foge do presídio, e permanece foragido até a prescrição do crime;
- O repúdio popular pelo bárbaro crime contribui decisivamente para a redução da
força dos coronéis da região.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
- A partir da história de Nelson de Paula Neto podem ser encontrados elementos que
definem o Coronelismo, tal como pensado por Victor Nunes Leal, como por exemplo seu
caráter de fonte de poder municipal, que servia de sustentação para os governos
estaduais, a necessidade para sua preservação da falta de cultura e recursos da classe
mais humilde, dedicada principalmente a produção rural, o uso frequente da violência
para se resolver disputas de poder, assim como a consistente decadência do modelo ao
longo do século XX, em função da industrialização, do surgimento da classe média e da
maior cultura e acesso a informação da população;
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
- Uma limitação de um estudo com estas características é que a história de vida pesquisada pode não
refletir a realidade do restante da população. Desta forma, para validar esta interpretação do papel do
Coronelismo nas últimas décadas do século XX e deste início de século XXI, são necessárias outras
pesquisas narrativas, somadas a outras formas de estudo, qualitativas e também quantitativas, onde
através de ferramentas de pesquisa e bases de dados mais amplas se possa apurar a dimensão ao
longo do tempo e atual do Coronelismo, onde e como ele se encerrou e onde ele ainda efetivamente
ocorre no Brasil. É relevante demonstrar quais os impactos que essa prática acarretou na população a
partir da segunda metade do século XX e o que ainda acarreta a vida pública e privada brasileira.
Apesar de não ser uma temática que esteja entre as mais prestigiadas na academia nos dias de hoje,
sua atualidade e relevância não pode ser descartada.
SUGESTÕES DE BIBLIOGRAFIA

• CARVALHO, José Murilo de. Mandonismo, Coronelismo, Clientelismo: Uma Discussão Conceitual. Dados, Rio de Janeiro, v. 40, n.
2, 1997. CUNHA, Euclides. Os Sertões – campanha de Canudos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2009.

• FAORO, Raymundo. Os donos do poder – formação do patronato político brasileiro. São Paulo: Globo, 2014.

• FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. São Paulo: Global, 2006.

• HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Cia das Letras: 2008.

• LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto – o município e o regime representativo no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
2012.

• MOTTA, Rodrigo Guimarães. Antônio Conselheiro e João Abade: a teoria do estado e Canudos. Revista Sodebras [on line]. v. 12, n. 133.
Jan./2017, p.18-23, ISSN 1809-3957. Disponível em: <http://www.sodebras.com.br/edições/N133.pdf>.

• RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro – a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
OBRIGADO!

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