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Universidade Federal de São Carlos

DOCUMENTÁRIO PERFORMATIVO E O PROCESSO DE SUBJETIVAÇÃO DA DOCÊNCIA


NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE ENSINO

Marcos Pires Leodoro


Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
leodoro.ufscar@uol.com.br

APOIO:

pibid
Docência como atividade performativa

A questão sobre o pensamento do professor não poder ser “dito” ou seu


conhecimento prático ser conceituado já foi levantada por alguns
pesquisadores (ATKINSON; ROSIEK, 2009).

Phelan (apud ELLSWORTH, 2005), interpreta o ensino como um acontecimento


performativo que não se reproduz ou deixa qualquer rastro visível. Nesse sentido, a
atividade do ensinar resiste à sua própria reprodução, à sua “metodologização”. Sua
performatividade prefigura, desse modo, uma força ontologicamente política. Para
Ellsworth (2005, p. 163), “como conseqüência, a única vida da pedagogia
performativa está relacionada ao seu contexto e momento”.
Para aquém e além da escrita da experiência

A noção de reflexividade associada à expressão escrita da


experiência nos parece bastante comprometida com o
logos moderno e a cisão cartesiana entre o ator e o
espectador ou, de outro modo, entre teoria e prática.

É necessário evitar que os registros de estágio como, por exemplo,


portfólios ou narrativas elaboradas individualmente pelos licenciandos
promovam o processo da subjetivação docente enquanto uma modalidade
cartesiana da reflexão “ensimesmada”, uma vez que, como sabemos, a
escrita costuma ser um ato “solitário”.

Contra a categorização excessivamente estrutural e/ou categorial da experiência.


As situações formativas são mais adequadamente concebidas como instâncias (per)formativas nas
quais os atores encarnam os diversos papeis sociais na relação com os demais atores, pautados em
contextos institucionalizados e socialmente reconhecidos. Conforme assinala Holzman (1999, p. 67):
“A performance puxa o tapete debaixo do referencial da verdade” gosta de dizer Newman (*).
Nem a performance nem o estudo da performance (em si mesmo uma performance) exige
explicação. Em vez disso, eles convidam a uma análise explicativa.

(*) Referência à Fred Newnan (1935-2011) fundador da terapia social e estudioso de Vygotsky.
Segundo Pineau (2010, p. 97):

A poética da performance educacional privilegia do mesmo modo as dimensões criativas e construídas


da prática pedagógica. Ela reconhece que educadores e educandos não estão engajados na busca por
verdades, mas sim em ficções colaborativas – continuamente criando e recriando visões de mundo e suas
posições contingentes dentro delas. Uma poética educacional privilegia as múltiplas histórias e os múltiplos
narradores no processo em que as narrativas da experiência humana são modeladas e compartilhadas por
todos os participantes em um coletivo de performance.
Enfoque interacionista-subjetivista da investigação
educacional

o enfoque “interacionista-subjetivista” da investigação em educação proposto por Gauthier (1998) aponta


para a importância de se contemplar a elaboração da subjetividade vinculada tanto à construção pessoal de
sentidos quanto ao papel da interação social nesse processo:

O interacionismo, no entanto [em contraponto ao funcionalismo em sociologia], vê a sociedade como


uma cena, o indivíduo como um ator social em situação de comunicação com seus semelhantes e a
educação como uma simulação de papéis aberta e em boa parte improvisada. Os atores praticam ações que,
para eles mesmos, são carregadas de sentido e, em suas vidas, devem levar em conta as ações de outros
atores e os significados que as acompanham (GAUTHIER, 1998, p.164).
A pesquisa também é uma obra aberta

Pensamos, portanto, paralelos entre a documentação audiovisual e a apreensão estética de uma obra
artística. Em ambos os casos, se trata de reconhecer os elementos referentes da situação, mas, sobretudo,
compreender que eles também se apresentam como signos, ou seja, há a necessidade de que sejam
interpretados por alguém: “o significado é a ‘outra’ face do signo, a face invisível, a ‘outra coisa’ pela qual
está o ‘algo’”. (EPSTEIN, 1991, p. 21). E mais, é no interior de um sistema de diversos outros signos que o
acontecimento referencial adquire significado próprio.
“O que, ainda, está por vir”: documentário
audiovisual performativo

Se trata de uma obra documental performativa (SALIS, 2007) em que o processo de pós-produção busca
preservar algumas marcas da edição dos discursos dos licenciandos e, portanto, convidando o expectador
a que problematize as concepções que são veiculadas sobre a docência e os contextos em que elas se
manifestam.

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