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Reflexões sobre a Linguística:

o lugar da variação,
da mudança e da
histórica

Américo Venâncio Lopes Machado Filho


Universidade Federal da Bahia/ALiB/NEHiLP/Grupo Nêmesis
“Human beings are unique in that, while doing

something, they generally also know what they

are doing”.

ITKONEN, 1991, p. 51
This ceases to be the case, however, when they engage in exceptionally

complex activities.

Science is a prime example of such an activity:

it is not at all uncommon to see 'ordinary practising scientists' go about

their work, while having only a vague, or downright false, idea of what it is,

exactly, that they are doing.


ITKONEN, 1991, p. 52-53
"Seria de se esperar que pesquisadores e estudiosos de uma disciplina soubessem

exatamente do que trata essa disciplina, isto é, qual é seu objeto de estudo".

"Se passássemos um questionário com essa pergunta a um grupo de linguistas,

talvez obtivéssemos uma "resposta" dominante: Ora, a linguística é o estudo

científico da linguagem humana".

"Certamente tal definição se encontra em vários tratados de linguística e nesses

textos, com essa resposta sumária considera-se encerrado o debate sobre a

natureza do objeto da investigação linguística".

DASCAL; BORGES NETO, 1991, p. 14.


Gnoseologia: o estudo das bases gerais do
conhecimento em função do sujeito cognoscente, ou
seja, o que se reconhece e a seu objeto.

Epistemologia: o estudo do conhecimento científico,


na dimensão de sua natureza, seu alcance e limites, as
relações que se estabeleçam entre o cientista e seu
objeto.
Teorias diferentes podem construir objetos teóricos

distintos sobre um objeto observacional que é

supostamente o mesmo, bastando para isso reconhecer

entidades básicas, predicados e relações diferentes no

objeto observacional.

DASCAL; BORGES NETO, 1991, p. 20.


Segundo Lyons (1982), são as ramificações da Linguística as dicotomias:
1a dicotomia:
Geral = estudar a linguagem X Descritiva = descrever determinadas línguas

2a dicotomia:
Histórica X não histórica
(veja-se que relacionava-as aos termos diacrônica e sincrônica, indistintamente)

3a dicotomia:
Teórica = estudar estrutura e funcões X Aplicada = aplicar conceitos a uma série
de tarefas práticas, incluindo o ensino de línguas
4a dicotomia:
Microlinguística = trata de sistemas linguísticos X
Macrolinguística = trata de aspectos teóricos
Testamento de Afonso II, 1214 (cópia de Toledo)
– Filhos, nõ vos queyrades cansar, ca sem vosso trabalho
nos trouve Deus ali hu desejavamos.
Entõ se erguerom e catarom. E quando se virom da outra
parte forom muyto espantados e maravilharom-se do que
lhis fezera Deus.
(Flos Sanctorum, séc. XIV, F16rC2)

Estes eram taaes a todolos daquel logar como é a madre aos


filhos quando os cria, ca nunca em al se trabalhavam senõ
em os castigar e ensinar os eyxempros de nostro senhor, per
que podessem viir aa vida perduravil. Er vimos o homem
de Deus de que vos ja falamos que deziam Amon (F18vC2).
Excerto da coluna 2 do fólio 11r dos Diálogos de São Gregório (testemunho D, séc. XIV)
MATTOS E SILVA, 2008, p.13
Método
descritivo-
comparativo

+ variação social

Linguística Tem por objeto


+ mudança Sociolinguística
Histórica teórico a
linguística
Linguística diversidade
Dialetologia linguística
Diacrônica

+ tempo + variação espacial


+ sistema funcional
Modelo de distribuição das correntes da linguística da
diversidade, segundo o objeto teórico e perspectiva
metodológica

Diversidade linguística

Variação Mudança

+ espacial + social + tempo + sistema funcional

Dialetologia Sociolinguística Linguística Histórica Linguística Diacrônica


MATTOS E SILVA, 2008, p.13
filologia
(fi.lo.lo.gi.a) Filol.
sf.
1. Estudo de uma língua em todos os seus aspectos e dos escritos que a
documentam.
2. Estudo científico da evolução de uma língua ou de famílias de línguas;
GRAMÁTICA HISTÓRICA
3. Estudo que tem por objetivo a restituição de um texto à sua forma
linguistica primitiva, retirando-se dele todos os acréscimos que sofreu no
decurso de sua transmissão; crítica textual.
4. Estudo de sociedades e culturas antigas por meio de textos por elas
legados, privilegiando-se para tanto a língua escrita e literária.
[F.: Do lat. philologîa,ae. Ideia de: fil(o)-.]

Fonte: AULETE Digital: www.aulete.com.br


Qual seu objeto teórico?

Que relação se pode estabelecer da


Filologia com as outras áreas do
conhecimento, sobretudo com a
Linguística Histórica, em função do
objeto e dos métodos?
Faz-se aplicação prática da filologia, quando se edita
criticamente, e se comenta, um texto.
VASCONCELLOS, José Leite de. Lições de filologia portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Livros de
Portugal, 1959

A necessidade de constituir textos autênticos se faz sentir quando um povo de alta

civilização toma consciência dessa civilização e deseja preservar dos estragos do

tempo as obras que lhe constituem o patrimônio espiritual; salvá-las não somente do

olvido como também das alterações, mutilações e adições que o uso popular ou o

desleixo dos copistas nelas introduzem necessariamente.

AUERBACH, Erich. Introdução aos estudos literários. 2. ed. São Paulo: Cultrix,
1972
As ciências do documento
Segundo o objeto (Ruiz, Elisa, 1988)

Caracteres
Caracteres
externos Codicologia Filologia
internos
do Paleografia Bibliografia
do documento
documento Biblioteconomia

Epigrafia
Papirologia
Diplomática
Ecdótica
Bibliologia
As ciências do documento
Segundo o suporte (Ruiz, Elisa, 1988)
Epigrafia (Numismática e Silografia)

Materiais resistentes

Pergaminho e papel papiro


Paleografia Papirologia
Mas seria o documento o objeto teórico da
Filologia?

Não é esse, segundo a autora, também o


objeto de outras ciências?

Está aberta a discussão...


Referências

Dascal Marcelo, Borges Neto José. De que trata a lingüística, afinal


?. In: Histoire Épistémologie Langage. Tome 13, fascicule 1, 1991.
pp. 13-50.

Itkonen Esa. What is methodology (and history) of linguistics good


for, epistemologically speaking?. In: Histoire Épistémologie
Langage. Tome 13, fascicule 1, 1991. pp. 51-75.

Mattos e Silva, R. V. Caminhos da linguística histórica: ouvir o


inaudível. São Paulo, Parábola, 2008, p.13.

RUIZ, Elisa (1985). Crítica textual. edición de textos. In: DIÉZ


BORQUE, J. M.
(coord.). Métodos de estudio de la obra literaria. Madrid: Taurus.
p. 67-120.

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