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OS CRITÉRIOS DE COMPOSIÇÃO
NO JORNALISMO DIGITAL1
Em busca de um modelo ideal2 de páginas noticiosas
São Paulo - SP
outubro de 2007
1
O presente trabalho foi realizado com o apoio do UOL (www.uol.com.br), através do Programa UOL Bolsa
Pesquisa, processo número 20080102180000.
2
Não se trata aqui do ideal de ego freudiano, no sentido narcisista (Freud, 1914, p.111). O ideal em nossa
proposta se refere ao ideal kantiano, ou seja, algo que a razão pura exige, mas que não é dado no campo da
experiência (Kant: 2005, p. 109-117). Ou ainda: que possui, em grau superlativo, as qualidades positivas de sua
espécie ou que se ajusta exatamente a um modelo, a uma lei, a um ideal; perfeito. In: Dicionário Houaiss.
Disponível em http://houaiss.uol.com.br. Acesso em 04 mai. 2008. Nesse sentido, esta pesquisa conceituará
como ideal as páginas noticiosas que atendem certas condições (estabelecidas pela teoria do jornalismo, mais
precisamente os critérios de noticiabilidade e de composição pensados desde os anos 1600) e enfatizará as
propriedades fundamentais da página noticiosa em oposição às suas representações particulares. Essa lógica
segue o conceito de ideal do matemático Richard Dedekind (1831-1916): um sistema de inteiros algébricos que
atendiam a certas condições.
Resumo do projeto
3
G1 (http://g1.globo.com), Folha Online (www.folha.uol.com.br), Terra Notícias (http://noticias.terra.com.br),
Último Segundo (http://ultimosegundo.ig.com.br), estadao.com.br (http://www.estadao.com.br), CNN
(www.cnn.com) , MSNBC (www.msnbc.com), The New York Times (www.nytimes.com), ABC News
(http://abcnews.go.com), CBS (www.cbsnews.com), Washington Post (http://www.washingtonpost.com) Le
Monde (www.lemonde.fr), Le Figaro (www.lefigaro.fr), La Repubblica (www.repubblica.it), Corriere Dela Sera
(www.corriere.it), El Pais (www.elpais.es), El Mundo (www.elmundo.es), BBC News (www.bbc.co.uk) e
Guardian Unlimited (www.guardian.co.uk).
4
A nomenclatura se justifica porque os sites noticiosos usados como corpus nesta pesquisa são diagramados em
uma página em branco (o browser) e, apesar de serem originários de veículos diferentes (como tevê e impresso),
apresentam mesmo formato: conteúdo próprio – agências de notícias + fotos + multimídia + links. Trata-se da
noção de remedição, ou seja, a representação de um meio em outro (BOLTER & GRUSIN: 1998).
2
“Nenhum conhecimento precede a
experiência, todos começam por ela”
Immanuel Kant
1. Introdução
2005; Mielniczuk, 2003; Machado, 2000), escrever a cronologia histórica, mapear fases de
2000; Bonnet, 2001; Machado, 2000a; Mielniczuk; 1998, 2001 e 2003a; Palacios, 1999 e
2002; Pavlik, 2001; Saad, 2003; Santos, 2002; Silva Júnior, 2000), propor narrativas
específicas (Salaverría, 2006, Paul, 2005, McAdams, 2005, Murray, 2003, Landow, 1995),
elaborar modelos de design (Cairo, 2007; Harrower, 2002; Bringhurst, 2004; García, 2005;
Nielsen, 2000; De Pablos, 1999; Carson, 1995), experimentar sistemas de publicação variados
(Schwingel, 2003 e 2004; Gilmor, 2004), analisar as funções que o usuário passa a ocupar
nesse novo formato de jornalismo (Machado, 2000b; Boczkowski 2004, Moherdaui, 2005),
webjornalismo, pois designa a produção de conteúdo exclusivamente para a web. Javier Díaz
se faz necessário o uso de métodos como entrevista ao vivo ou checagem de informação por
telefone, entre outros. Em nossa pesquisa, utilizaremos a denominação jornalismo digital, pois
grupos de comunicação: 1) sobre como os jornalistas fazem seu trabalho; 2) sobre o conteúdo
300 milhões, segundo dados da consultoria britânica Point Topic6 -, propiciaram um maior
acesso aos sites jornalísticos no Brasil e no mundo, e também possibilitaram apresentar novos
internet. Nos EUA, esse número chega a quase 100 milhões, seguido do Japão (33,8 milhões),
5
MOHERDAUI, Luciana. Guia de Estilo Web – Produção e Edição de Notícias On-line. São Paulo: SENAC, 3 ed.
2007. p. 119-121.
6
BRASIL é 11º mercado mundial para internet de banda larga. BBC Brasil. São Paulo, 14 jun. 2007. Disponível
em http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/06/070614_internetbandalargarw.shtml. Acesso em
5 ago. 2007.
4
Alemanha (21,9 milhões), Reino Unido (16,6 milhões) França (16,5 milhões), Espanha (13,5
estruturação das páginas noticiosas. Hoje, é possível inserir variados elementos, além dos
(favoritos), escolher o melhor conteúdo, eleger critérios de credibilidade por meio de votação,
conteúdo via blog, fotolog e sistemas de open source, como Wikipedia, por exemplo, e
melhorar o desempenho da busca por meio de palavras-chave inseridas no texto, entre outros.
edição de áudio, vídeo, imagem, flash, slide show, permitem realizar todo o processo de
noticiosos redesenharam suas páginas a partir do layout horizontal, porque foi verificado que
a maioria dos internautas usa a resolução de tela 1024 x 768 pixels. A configuração anterior
(800 x 600 pixels), que era modelo de design na web, diminuiu seu uso em menos de 10%.
noticiosa. Outras mídias, como o celular, com recursos cada vez mais avançados de produção
7
Dados de audiência do Ibope NetRatings referentes a junho de 2007.
8
NOVEDADES en el rediseño de ELPAIS.com. EL PAIS. Espanha, 22 nov. 2006. Disponível em
http://www.elpais.com/graficos/sociedad/Novedades/rediseno/ELPAIS/com/elpgra/20061117elpepusoc_2/Ges/?
page=1. Acesso 5 ago. 2007.
9
ELPAIS DIGITAL (1996) - ELPAIS.com (2006). EL PAIS. Espanha, 22 nov. 2006. Disponível em:
http://www.elpais.com/graficos/sociedad/ELPAIS/DIGITAL/ ELPAIS/com/2006/elpgra/20061117. (Acesso em
5 de agosto de 2007).
5
máquinas fotográficas digitais de alta capacidade e os gravadores digitais facilitaram o
trabalho do profissional da web. O jornalista faz o texto e o complementa com imagens, vídeo
e áudio editados por ele, utilizando sistemas de edição gratuitos e disponíveis na rede.
pesquisa proposta está relacionada à linha de pesquisa Processos de Criação nas Mídias, do
como novo suporte para produção, publicação e circulação de conteúdos, e por integrar os
temas discutidos nos últimos anos por pesquisadores da universidade no Brasil e no Exterior.
2. Objeto e Justificativa
Desde que entraram no ar os primeiros sites noticiosos, foram testados diversos modelos de
edição de conteúdos até alcançar algumas das principais características do novo ambiente,
segundo defendem Palacios (1999), Moherdaui (2000), Pavlick (2001), Deuze (2003) e
classificados em quatro fases: (Silva Jr., 2002; Mielniczuck, 2003b; Boczkowski, 2004b;
Machado, 2004): primeira geração, sustentada pela reprodução dos conteúdos dos meios
desenvolvidos novos tipos de produtos; terceira geração, quando são lançadas iniciativas tanto
Boczkowski incluiu na terceira fase a produção de conteúdo pelo usuário; quarta geração,
trabalham com narrativas como: Machado (2007), Salaverría (2006), McAdams (2005), Paul
(2005), Díaz Noci (2005), Murray (2003b) e Landow (1995) propuseram variados formatos.
6
Para Murray, (2003c), o ponto de partida é levar em conta que o computador é um meio
expressivo capaz de ampliar a nossa capacidade de relatar fatos e como tal torna possível a
A autora sugere inventar múltiplas formas para os textos lineares que forçam as
fronteiras de um meio pré-digital como uma figura bidimensional tentando escapar de sua
multisequenciais, e afirma que o formato do conteúdo deve levar em conta seu propósito.
Planejamos notícias, ficção, games? “Os jogos precisam mesmo de um vocabulário crítico
Nora Paul (2005) afirma em The elements of digital storytelling10 que a narrativa na
web é composta por cinco elementos: media (refere-se à mídia utilizada para criar narrativas
digitais), action (narrativas digitais têm dois movimentos: conteúdo dinâmico e ação do
usuário), relationship (interação entre a narrativa digital e o usuário), context (elementos que
conteúdo e o usuário). Os espanhóis Díaz Noci e Salaverría vão além e apresentam modos de
compor as narrativas. Para Salaverría, à produção do texto na web devem ser considerados
dois elementos-chave: a extensão e a estrutura. “El redactor debe aprender a dosificar con
10
Proposta de narrativa digital da pesquisadora Nora Paul publicada em 2005, disponível em
http://www.inms.umn.edu/elements. (Acesso em 28 de agosto de 2007).
7
cuidado la cantidad de texto que pone a disposicíon del lector em cada pantalla o nodo.” O
autor divide a estrutura hipertextual em axial (linear) e reticular (que envolve um número
indeterminado de links). Uma estrutura é considerada reticular quando possui, no mínimo, três
links. Se houver apenas dois links, ela é axial. As estruturas axiais são divididas em: 1)
Díaz Noci propõe que o lead seja substituído em, alguns casos, por infográficos
animados.
slideshow com fotos e sons e infrográficos animados, baseados na tecnologia flash13. Partindo
dados.
11
SALAVERRÍA, Ramón. Redacción periodística en internet. 2ª ed. Espanha: EUNSA, 2006, p. 102-105.
12
MOHERDAUI, Luciana. Pesquisador afirma que infografia pode substituir o lead. In: A Tarde On Line.
Salvador: 10 nov. 2005.
13
MCADAMS, Mindy. Flash journalism: how to create multimedia news packages. USA: Focal Press, 2005, p.1-
16.
8
de produtos jornalísticos, permite desvincular a forma do conteúdo (...) (MACHADO,
2007: 60).
páginas noticiosas, objeto deste trabalho. A narrativa aparece sempre em primeiro plano ao se
planejar uma página na web. O mesmo é notado em autores da área de design, como Jakob
Nielsen (2000) e Tim Harrower (2002), considerados clássicos (o primeiro sobre mídia
digital, e o segundo sobre papel): não contemplam a composição em seus trabalhos. Oferecem
um guia sobre como estruturar um site a partir a lógica da usabilidade, dos browsers, das
Tal problematização foi levantada por Ted Nelson14, o pai do hipertexto, ao afirmar
em 2001 que na web repetimos convenções estabelecidas e, por isso, o computador ainda
simula duas coisas: hierarquia e papel. Em O Livro depois do livro, Giselle Beiguelman
(2003, p. 37, 67) também faz críticas ao uso de práticas sociais estabelecidas que restringem à
De modo geral, a composição está sendo estruturada (e tem evoluído) ao longo dos
últimos anos levando em conta principalmente: a) aumento do uso da banda larga no mundo;
b) baixo custo de acesso à internet; c) crescimento do interesse dos usuários por sites
seu computador. Itens, sem dúvida, essenciais ao planejamento on-line, mas se perdem ao
3. Referencial teórico
14
NELSON, Ted. Deeper Cosmology, Deeper Documents, 2001. In:
http://www.sigweb.org/ht01/tech.html#ted. Acesso em 21 abr. 2008.
9
Na tentativa de propor um modelo ideal de páginas noticiosas, uma vez que internet é uma
nova forma social que produz uma nova prática social e, por isso, possibilita ações especificas
(Echeverría, 1999; Castels, 1999), esta pesquisa irá analisar os elementos de composição que
Johan Galtung e Johan Ruge (1965), Herbert Gans (1979), Philip Elliott (1972, 1977, 1978),
Mauro Wolf (1995) e Nelson Traquina (2003). Michael Schudson (1972, 1978, 1989), sem ter
a narrativa como objetivo primeiro. Mas antes, porém, se faz necessária uma ampliação da
teoria por conta das mudanças provocadas pelo surgimento do jornalismo digital.
jornalismo cívico ou a relação dos jornalistas e empresas de comunicação, e afirma que faltam
Nesse sentido, ele divide o conceito de jornalismo em três partes: 1) Jornalismo como
multiculturalismo18.
15
O conjunto de critérios e operações que fornecem a aptidão de merecer um tratamento jornalístico, isto é,
possuir valor como notícia. Assim, os critérios de noticiabilidade são o conjunto de valores-notícia que
determinam se um acontecimento, ou assunto, é susceptível de se tornar notícia, isto é, de ser julgado como
merecedor de ser transformado em matéria noticiável e, por isso, possuindo valor-notícia (newsworthiness). In:
TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. Volume 2. . Santa Catarina: Insular, 2005. p.63.
16
DEUZE, Mark. What is journalism? Professional identity and ideology of journalists reconsidered. London,
Sage Publications, 2005.
17
Jornalistas oferecem um serviço público, são neutros, objetivos, imparciais e credíveis, têm autonomia
editorial, liberdade e independência, senso de imediatismo, ética e legitimidade.
18
Contato entre as diferenças formas de culturas nacionais e locais - que entende a cultura não está restrita à
etnia, à nação ou à nacionalidade, mas como um lugar de direitos coletivos para a determinação própria de
grupos.
10
A partir dessa lógica, a aplicação dos critérios de noticiabilidade em nosso objeto de estudo
19
Para Hall, não há identidades fixas, estáveis, unificadas nas sociedades modernas: "é precisamente porque as
identidades são construídas dentro e não fora do discurso que nós precisamos compreendê-las como produzidas
em lugares históricos e institucionais específicos, no interior de formações e práticas discursivas específicas, por
estratégias e iniciativas específicas. a identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma
fantasia. Ao invés disso, à medida que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos
confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das
quais poderíamos nos identificar — ao menos temporariamente."
20
Para Steven Johnson, em seu sentido mais simples, a palavra interface se refere a softwares que dão forma à
interação entre usuário e computador. A interface atua como uma espécie de tradutor, mediando entre as duas
partes, tornando uma sensível para a outra. Em outras palavras, a relação governada pela interface é uma relação
de semântica, caracterizada pelo significado e expressão, não por força física. In:, JOHNSON, Steven. A cultura
da interface. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 17.
21
Meadows identifica três pares opostos como princípios básicos na interação: 1) Ingresso/Saída, 2)
Dentro/Fora e 3) Aberto/Fechado. O primeiro destes princípios preceitua que todo ingresso ou saída de
informação no sistema deve gerar mais informação. É a habilidade do ciclo de interação para acrescentar
informação ao sistema, pontua Meadows, que define a qualidade desta interação (Meadows:2003, 39). O
segundo princípio, Dentro/Fora, estabelece que deve existir um diálogo entre os mundos interno e
externo. A interação dentro da cabeça articula o mundo da imaginação do teleator enquanto que a interação de
fora da cabeça está baseada no que o teleator percebe no nível empírico ou experencial. O terceiro princípio,
Aberto/Fechado, postula que um sistema quanto mais usado funciona melhor. Sistemas abertos são mais
complicados, menos previsíveis e mais interessantes do que sistemas fechados. Além destes três princípios da
interação, Meadows (2003:44) identifica quatro passos porque passa o processo interativo: 1) Observação; 2)
Exploração; 3) Modificação e 4) Mudança Recíproca. Os princípios são, para o autor, guias para o
desenvolvimento da interação enquanto que os passos são meios para avaliar o resultado deste desenvolvimento.
No primeiro passo, o usuário avalia a narrativa como espaço navegável; no segundo desenvolve alguma ação; no
terceiro muda o sistema e, no quarto, o sistema tenta mudar o usuário. Tomando estes princípios e passos como
orientadores da interação, Meadows define narrativa interativa como: “... An interactive narrative is a time-based
representation of character and action in which a reader can affect, choose, or change the plot. The first, second
or third person characters may actually be the reader. Opinion and perspective are inherent. Image is not
necessary, but likely…(Meadows:2003:62).
22
A má arquitetura da informação levará sempre à má usabilidade. A maioria dos sites tem estrutura hierárquica
com níveis cada vez mais detalhados de informações. Outros sites têm uma estrutura tabular na qual as páginas
são classificadas com relação a um número de atributos ou parâmetros. As duas regras mais importantes sobre a
estrutura do site são ter uma estrutura e fazer com que ela reflita a visão dos usuários do site e suas informações
ou serviços. Pode parecer óbvio, mas muitos sites evoluíram sem ter qualquer estrutura planejada e acabaram
num caos total. In: Websites que funcionam. NIELSEN, Jakob.. São Paulo: Campus, 2000, p. 198-229.
23
Lev Manovich afirma que o usuário de uma narrativa está atravessando uma base de dados, seguindo links
entre seus registros as estabelecidos pelo criador da base de dados. “Uma narrativa interativa pode ser entendida
como a soma de múltiplas trajetórias através de uma base de dados" In: The language of new media, de Lev
Manovich. Cambridge: MIT, 2001.p. 227.
24
David Bolter e Richard Grusin definem como remediação a representação de um meio no outro (pp.45) e
argumentam que ela é uma característica específica da nova mídia digital. Eles argumentam que a lógica da
remediação descrita no livro é similar ao que Derrida considerou ‘mimesis’. E citam “mimesis aqui não é a
11
7) os conceitos de semelhança e similitude, em Michel Foucault25;
representação de uma coisa por outra, a relação de semelhança ou identificação entre dois seres, a reprodução de
um produto da natureza por um produto da arte. Não é a relação de dois produtos, mas de duas produções. E de
duas liberdades. (...) A verdadeira ‘mimesis’ é entre duas matérias em produção e não entre duas coisas
produzidas (9)”. (pp.52) Ao argumentar que toda mediação é remediação, Bolter e Grusin esclarecem que não
estão querendo dizer que a remediação é a essência nem da mídia digital, nem da mediação de forma genérica,
mas, sim, que no momento histórico atual a remediação é a convenção predominante que está em funcionamento
para estabelecer a identidade da nova mídia digital. O conceito de meio, para os autores, está relacionado à
lógica da remediação: o meio é aquilo de remedia. (pp. 65). Para eles, na nossa cultura, um meio nunca pode
operar de forma isolada. Precisa estar envolvido em relações de respeito e rivalidade com outros meios.
25
Movido por uma hipótese de trabalho - ou seja, a de uma possível (re)afirmação (de ordem puramente sígnica
e não ilustrativa) do texto pela imagem e vice-versa - Foucault empenhou-se em elaborar uma teoria geral da
representação pictórica (constituída em torno das questões da semelhança e da similitude), centrada na dualidade
entre ícone e símbolo, no entre-deux típico das formulações discursivo-pictóricas magrittianas. O que nos
interessa aqui é a noção de nomeações como forma de impor denominações.
26
Cláudia Giannetti conceitua Endoestética a partir da Endofísica, em seu livro Estética Digital – Sintopia da
arte, a ciência e a tecnologia. A Endofísica (e também a Endoestética, como veremos à seguir) está sempre
discutindo a relação entre o endo (dentro) e o exo (fora). O sujeito é, ao mesmo tempo, um observador da
realidade (como já vimos, um observador parcial na medida que incorpora elementos de sua subjetividade na
observação), e alguém que está nela, mais ainda, alguém que influência ativamente nela, a modificando
constantemente. A Endoestética trata dos mundos artificiais baseados na interface, nos quais podemos participar
(endo) e observar (exo) ao mesmo tempo. Com essa dupla atuação do interator num universo simulado se podem
explorar as propriedades de nosso mundo. ´Uma nova tecnologia que, ao contrário de todas as outras conhecidas,
não só muda algo no mundo, mas o próprio mundo, se revela como uma possibilidade cognitiva (p. 197-201).
27
Em O Livro depois do livro, Giselle Beilguelman aposta na possibilidade de uma cultura cíbrida, pautada pela
interpenetração de Redes on line e off line, que incorpore e recicle os mecanismos de leitura já instituídos,
apontando para novas formas de significar, ver e memorizar. São as zonas de fricção entre as culturas impressas
e digitais o que interessa, as operações combinatórias capazes de engendrar uma outra constelação
epistemológica e um outro universo de leitura correspondentes às transformações que se processam hoje nas
formas de produção e transmissão dos textos, dos sons e das imagens(p. 12-13).
28
A partir da seguinte divisão das narrativas no ciberespaço: [acesso hipertextual à informação], b) reportagem
multiforme [compreende novos formatos narrativos] e c) pacote multimídia [reúne todos os elementos
multimídia em um template em formato flash].28 Esses formatos podem ser estáticos ou de atualização contínua.
29
O termo arquitetura da informação refere-se ao entendimento dos autores López, Gago e Pereira (2003, p. 198):
segundo o qual trata-se do planejamento estrutural do mapa de conteúdo: a definição de seus itens de conteúdo,
das relações que operam entre eles e, em geral, de toda a organização de fundo que sustenta o sistema. A
arquitetura da informação envolve, portanto, o estabelecimento de alicerces, os espaços internos e o aspecto
externo de um cibermeio. Não interessa nesta pesquisa usar o conceito de arquitetura da informação como 1)
sistema de orientação para se chegar a determinadas informações (62 a 90), 2) sistema que orienta o usuário na
busca, possibilita a recuperação das informações (90) e 3) roteiro para a criação de narrativas multimidiáticas
(2000). O conceito foi criado em 1962 por Richard Wurman e com a crescente utilização das tecnologias em
rede tem sido modificado, sobretudo após a atualização feita por Rosenfeld e Morville (1998) para a wolrd wide
web.
30
José Marques de Melo é autor da obra sobre gêneros jornalísticos mais utilizada no Brasil. Por meio
de dois critérios que reforçam a diferença de propósito entre informar e opinar, Marques de Melo
classificou os gêneros a partir da sistematização de Luiz Beltrão.
12
Nesse sentido, examina-se a estrutura nos sites jornalísticos do Brasil e do exterior
4. Objetivos
4.1. Principal
• Propor um modelo ideal de página noticiosa para sites jornalísticos a partir da lógica
de valor-notícia de composição.
4.2. Secundários
outros.
diferencie.
5. Hipóteses
propostas para escrever para suportes digitais não dão conta de apontar critérios estabelecidos
página.
6. Metodologia
estadao.com.br, CNN, MSNBC, The New York Times, ABC News, CBS,
14
Washington Post Le Monde, Le Figaro, La Repubblica, Corriere Dela Sera, El
7. Bibliografia de base
15
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18
8. Bibliografia a consultar
21
8. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO 2008 2009
Mar Abr Mai Jun Julh Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun
Período 08 08 08 08 08 08 08 08 08 08 09 09 09 09 09 09
Atividades
Cumprimento das X X X X X X X X X X
disciplinas revisão da
bibliografia
Análise sobre o estado da
arte do jornalismo digital e
construção do referencial X X
teórico
Definição da metodologia
adotada na pesquisa e
justificativas para escolha
do método qualitativo X X X X
Elaboração dos capítulos e
redação da entrega do
primeiro relatório X X
Mapeamento as estruturas
noticiosas dos dezenove
sites noticiosos X X X X X
Organização e
sistematização das
informações recolhidas e
redação da entrevista aos
profissionais dos sites X X
Organização das respostas
obtidas nas entrevistas
(transcrição e tabulação X
dos questionários)
22
2010
2009
Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul
Período 09 09 09 09 09 09 10 10 10 10 10 10 10
Atividades
Elaboração da entrega do X
primeiro relatório
Redação de análises gerais X X X
e conclusões
Qualificação, construção
dos capítulos X X X X
Elaboração do segundo X
relatório
Conclusão da pesquisa X
Redação X X X X
Revisão X
Defesa da tese X
23