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NÃO GOSTO DE PLÁGIO

UM BLOG DE UTILIDADE PÚBLICA CONTRA PLÁGIOS DE TRADUÇÃO. ALGUMAS VÍTIMAS: MONTEIRO


LOBATO, GODOFREDO RANGEL, LÍVIO XAVIER, LIGIA JUNQUEIRA, OSCAR MENDES, ODORICO
MENDES, MÁRIO QUINTANA, GALEÃO COUTINHO, JAMIL ALMANSUR HADDAD, BORIS
SCHNAIDERMAN, CARLOS PORTO CARREIRO, PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS, WILSON
LOUSADA, CASIMIRO FERNANDES, HERNÂNI DONATO, LEONIDAS HEGENBERG, LEONEL VALLANDRO,
ARAÚJO NABUCO, OCTAVIO MENDES CAJADO, MODESTO CARONE, BRENNO SILVEIRA, JACÓ
GUINSBURG, BENTO PRADO JR.
02/05/2009
a ciranda dos autores
se você passear com o mouse sobre as imagens, em baixo aparece o nome das pessoas.
são alguns dos autores que estão na dança do lesa-leitor em traduções que, segundo
os dicionários, poderíamos qualificar de espúrias.

fonte das imagens: google images

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01/05/2009
o príncipe, mais um
recebo a informação de que o príncipe cá aportado a bordo da ed. suprema cultura
foi traduzido por márcio pugliesi. com isso a listinha dos diversos tradutores de
o príncipe vai para 34 nomes, e os incógnitos diminuem para 5.

imagem: www.emblibrary.com

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30/04/2009
simpaticices
Diálogo entre o tradutor Eric Nepomuceno e o escritor Gabriel García Márquez

ERIC Tem uma hora lá em que você escreve que ficou feliz porque ganhou um caderno
de "kalella". O que é isso?
GABO Não, eu não escrevi isso.
ERIC Claro que escreveu, ache aí, na pág. tal...
GABO Peraí. Porra, acho que chamei assim porque achei bonito. Como você colocou em
português?
ERIC Coloquei "caderno de kalella".
GABO Não quer dizer nada em português?
ERIC Não.
GABO Então tudo bem, porque em castelhano também não quer dizer nada.

veja aqui a íntegra dessa delícia.

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os 200 anos de darwin, hemus/ediouro
em le deuil, citei algumas supostas traduções de eduardo nunes fonseca que a
editora hemus licenciou para a ediouro. faço agora uma retificação: além de a
cidade antiga, de fustel de coulanges, uma outra dita "tradução" da hemus que está
na ediouro e que, a meu ver, consiste num flagrante atentado à boa-fé do leitor é
a origem das espécies, de darwin.

a tradução da hemus licenciada para a ediouro está em nome de eduardo fonseca, e


tem tido inúmeras reedições e reimpressões nas duas editoras. salta à vista a
inequívoca semelhança com a tradução do médico português joaquim dá mesquita paul,
publicada em 1913 pela livraria chardron, lello & irmão editores, no porto. aliás,
para quem se interessar, o portal da ediouro disponibiliza uma prévia do livro no
googlebooks e a tradução de joaquim paul está disponível para download gratuito na
web.

seguem-se, a título comparativo, apenas dois parágrafos, o primeiro e o último do


livro:
1. joaquim dá mesquita paul:
Proponho-me noticiar a largos traços o progresso da opinião relativamente à origem
das espécies. Até há bem pouco tempo, a maior parte dos naturalistas supunha que
as espécies eram produções imutáveis criadas separadamente. Numerosos sábios
defenderam habilmente esta hipótese. Outros, pelo contrário, admitiam que as
espécies provinham de formas preexistentes por intermédio de geração regular.
Pondo de lado as alusões que, a tal respeito, se encontram nos autores antigos,1
Buffon foi o primeiro que, nos tempos modernos, tratou este assunto de um modo
essencialmente científico. Todavia, como as suas opiniões variavam muito de época
para época, e não trata nem das causas, nem dos meios de transformação da espécie,
é inútil entrar aqui em maiores minudências a respeito dos seus trabalhos.
(1) Aristóteles, nas suas «Physicae Auscultationes» (lib. II, cap. VIII, 2),
depois de ter notado que a chuva não cai para fazer crescer o trigo como não cai
para o deteriorar quando o rendeiro o bate nas eiras, aplica o mesmo argumento aos
organismos e acrescenta (foi M. Clair Grece que me notou esta passagem): «Qual a
razão por que as diferentes partes (do corpo) não teriam na natureza estas
relações puramente acidentais? Os dentes, por exemplo, crescem necessariamente
incisivos na parte anterior da boca, para dividir os alimentos; os maiores,
planos, servem para mastigar; portanto não foram feitos para este fim, e esta
forma é o resultado de um acidente. O mesmo se diz para os outros órgãos que
parecem adaptados a
determinado acto. Por toda a parte, pois, todas as coisas reunidas (isto é, o
conjunto das partes de um todo) são constituídas como se tivessem sido feitas com
vista em algum desiderato; estas formas de uma maneira apropriada, por uma
espontaneidade interna, são conservadas, enquanto que, no caso contrário, têm
desaparecido e desaparecem ainda». Encontra-se aqui um esboço dos princípios da
selecção natural; mas as observações sobre a conformação dos dentes indicam quão
pouco Aristóteles compreendia estes princípios.
2. eduardo nunes fonseca:
Proponho-me noticiar a largos traços o progresso da opinião referente à origem das
espécies. Até há bem pouco tempo, a maioria dos naturalistas admitia que as
espécies eram produções imutáveis criadas separadamente. Numerosos cientistas
defenderam habilmente esta possibilidade. Outros, pelo contrário, admitiam que as
espécies provinham de formas preexistentes através de geração regular. Deixando de
lado as alusões que, a tal respeito, se encontram nos autores antigos,1 Buffon foi
o primeiro nos tempos modernos, a tratar este assunto de maneira essencialmente
científica. Contudo, como as suas opiniões variavam muito de época para época, e
não trata nem das causas, nem dos meios de transformação da espécie, é inútil
entrar aqui em minúcias com referência aos seus trabalhos.
(1) Aristóteles nas suas Physicae Auscultationes (lib. II, cap. VIII, 2), depois
de ter observado que a chuva não cai para fazer crescer o trigo como não cai para
o deteriorar quando o rendeiro o bate nas eiras, aplica o mesmo argumento aos
organismos e acrescenta (foi M. Clair Grece que me anotou esta passagem): «Qual a
razão por que as diferentes partes (do corpo) não teriam na natureza estas
relações puramente acidentais? Os dentes, por exemplo, crescem necessariamente
incisivos na parte anterior da boca, para dividir os alimentos; os maiores,
planos, servem para mastigar; portanto não foram feitos para este fim, e esta
forma é o resultado de um acidente. O mesmo se diz para os outros órgãos que
parecem adaptados a determinado ato. Por toda parte, pois, todas as coisas
reunidas (isto é, o conjunto das partes de um todo) são constituídas como se
tivessem sido feitas com vista em algum desiderato; estas formas de uma maneira
apropriada, por uma espontaneidade interna, são conservadas, enquanto que, no caso
contrário, desapareceram e desaparecem ainda». Encontra-se aqui um esboço dos
princípios da seleção natural; mas as observações sobre a conformação dos dentes
indicam quão pouco Aristóteles compreendia estes princípios.
1. joaquim dá mesquita paul:
É interessante contemplar uma ribeira luxuriante, atapetada com numerosas plantas
pertencentes a numerosas espécies, abrigando aves que cantam nos ramos, insectos
variados que volitam aqui e ali, vermes que rastejam na terra húmida, se se pensar
que estas formas tão admiravelmente construídas, tão diferentemente conformadas, e
dependentes umas das outras de uma maneira tão complexa, têm sido todas produzidas
por leis que actuam em volta de nós. Estas leis, tomadas no seu sentido mais lato,
são: a lei do crescimento e reprodução; a lei da hereditariedade que implica quase
a lei de reprodução; a lei de variabilidade, resultante da acção directa e
indirecta das condições de existência, do uso e não uso; a lei da multiplicação
das espécies em razão bastante elevada para trazer a luta pela existência, que tem
como consequência a selecção natural, que determina a divergência de caracteres, a
extinção de formas menos aperfeiçoadas. O resultado directo desta guerra da
natureza que se traduz pela fome e pela morte, é, pois, o facto mais admirável que
podemos conceber, a saber: a produção de animais superiores. Não há uma verdadeira
grandeza nesta forma de considerar a vida, com os seus poderes diversos atribuídos
primitivamente pelo Criador a um pequeno número de formas, ou mesmo a uma só? Ora,
enquanto que o nosso planeta, obedecendo à lei fixa da gravitação, continua a
girar na sua órbita, uma quantidade infinita de belas e admiráveis formas, saídas
de um começo tão simples, não têm cessado de se desenvolver e desenvolvem-se
ainda!
2. eduardo nunes fonseca:
É interessante contemplar uma ribeira exuberante, atapetada com numerosas plantas
pertencentes a numerosas espécies, abrigando aves que cantam nos galhos, insetos
variados que saltitam aqui e ali, vermes que rastejam na terra úmida, se se pensar
que estas formas tão admiravelmente construídas, tão diferentemente conformadas, e
dependentes umas das outras de uma maneira tão complicada, foram todas produzidas
por leis que atuam ao nosso redor. Estas leis, tomadas no seu sentido mais amplo,
são: a lei do crescimento e reprodução; a lei da hereditariedade de que implica []
a lei de reprodução; a lei de variabilidade, resultante da acção direta e indireta
das condições de vida, do uso e não-uso; a lei da multiplicação das espécies em
razão bastante elevada para provocar a luta pela sobrevivência, que tem como
consequência a seleção natural, que determina a divergência de caracteres, a
extinção de formas menos aperfeiçoadas. O resultado direto desta guerra da
natureza que se traduz pela fome e pela morte, é, pois, o fato mais admirável que
podemos conceber, a saber: a produção de animais superiores. Não há uma verdadeira
grandeza nesta forma de considerar a vida, com os seus poderes diversos atribuídos
primitivamente pelo Criador a um pequeno número de formas, ou mesmo a uma só? Ora,
enquanto que o nosso planeta, obedecendo à lei fixa da gravitação, continua a
girar na sua órbita, uma quantidade infinita de belas e admiráveis formas,
originadas de um começo tão simples, não cessou de se desenvolver e desenvolve-se
ainda!
escolhi este último parágrafo também por uma interessante observação adicional,
relatada pelo físico carlos fiolhais, no blog coletivo de rerum natura, e que
reproduzo aqui:
O Dr. José Feijó, Comissário da Exposição sobre Darwin, na Fundação Gulbenkian,
chamou-me a atenção para o facto de na edição original não haver esta referência
ao Criador, na penúltima frase... O leitor poderá verificar isso mesmo, lendo o
original inglês:
It is interesting to contemplate an entangled bank, clothed with many plants of
many kinds, with birds singing on the bushes, with various insects flitting about,
and with worms crawling through the damp earth, and to reflect that these
elaborately constructed forms, so different from each other, and dependent on each
other in so complex a manner, have all been produced by laws acting around us.
These laws, taken in the largest sense, being Growth with Reproduction;
inheritance which is almost implied by reproduction; Variability from the indirect
and direct action of the external conditions of life, and from use and disuse; a
Ratio of Increase so high as to lead to a Struggle for Life, and as a consequence
to Natural Selection, entailing Divergence of Character and the Extinction of
less-improved forms. Thus, from the war of nature, from famine and death, the most
exalted object which we are capable of conceiving, namely, the production of the
higher animals, directly follows. There is grandeur in this view of life, with its
several powers, having been originally breathed into a few forms or into one; and
that, whilst this planet has gone cycling on according to the fixed law of
gravity, from so simple a beginning endless forms most beautiful and most
wonderful have been, and are being, evolved.
a ediouro está ciente do fato desde dezembro de 2008, quando enviei um e-mail
alertando-a do problema. espero de todo o coração que ela tome providências junto
a nós leitores, pois esse descaso em relação ao público consumidor e a toda a
sociedade é realmente contristador.
imagem: http://dererummundi.blogspot.com

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29/04/2009
maquiavel e a última flor do lácio
assim, maquiavel chega ao brasil por volta de 1940, com o príncipe e a famosa
carta a vettori na tradução de lívio xavier. se a data parece tardia, também é
surpreendente o adiantado dos anos da primeira publicação de maquiavel em
portugal. foi somente em 1935 que apareceu a primeira tradução portuguesa do
florentino: justamente o príncipe, posto em vernáculo por francisco morais e
publicado pela editora atlântida.

num contraste com a edição brasileira, e que achei muito interessante, a primeira
tradução maquiavelina lusitana traz como prefácio um artigo de mussolini* e o
tradutor era destacado defensor do regime de salazar. justiça lhe seja feita:
afirmam os comentadores que a integridade intelectual de francisco morais foi mais
do que suficiente para garantir que o viés do fascismo não interferisse no
trabalho de tradução.

* no brasil, até onde sei, a única edição que reproduz esse artigo (em posfácio) é
a da editora rio (1979), com tradução em nome de aurora pereira de carvalho.

assim, maquiavel leva uns 420 anos para aportar em solo luso ou brasileiro: entre
1935 e 1940. em ambos os casos, conhecemo-lo inicialmente em o príncipe. do lado
de lá do atlântico, sob a égide salazarista; do lado de cá, em lavra de eminente
figura de oposição à ditadura varguista. em ambos os casos, traduções respeitáveis
e respeitadas. a chamada "tradução fascista" jamais conheceu reedição, sendo
raridade bibliográfica, ao passo que a fortuna histórica da tradução de lívio
xavier ainda tem longa vida pela frente.

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maquiavel, lívio
sobre a abundância de edições de o príncipe de maquiavel, veja aqui o que foi
localizado agora:
- 58 edições diferentes
- 33 traduções diferentes (em princípio), sem contar a de carlos eduardo soveral,
por ser portuguesa
- 6 edições cujo tradutor não descobri
a tradução mais reproduzida é a de lívio xavier, em 11 editoras ou selos
editoriais diferentes, em inúmeras e sucessivas reedições: abril cultural, agir,
atena, ediouro, edipro, escala, fundação para a leitura do cego, nova cultural
(até 1999), pocket ouro, prestígio e tecnoprint.

agir, ediouro, pocket ouro, prestígio e tecnoprint fazem parte do mesmo grupo, a
ediouro. a atena fechou. a abril cultural fechou. a nova cultural trocou a
tradução de lívio xavier por uma de olívia bauduh. (sobre olívias bauduhs e trocas
na nova cultural, já vimos o caso dos pensamentos de pascal - talvez seja algo na
mesma linha.) a escala até 2008 publicava a tradução de o príncipe em nome de ciro
mioranza. parece que em 2009 resolveu adotar a de lívio xavier.

resumindo: atualmente, a tradução de lívio xavier circula pela ediouro, pela


edipro, pela escala e em braille. ainda é a mais difundida e certamente serve de
base ou de consulta para outras traduções.

é também a obra que introduziu maquiavel pela primeira vez no brasil. traz em
apêndice a famosa carta de maquiavel a vettori, e vem com prefácio e notas do
tradutor. ignoro o ano em que foi lançada pela atena editora. sei que a segunda
edição é de 1944. tenho a terceira edição, de 1948. então, aplicando ao reverso
esse intervalo de 4 anos, vou considerar 1940 como data hipotética da inaugural
arribada maquiavelina in terra brasilis.*

* agradeceria muito se alguém soubesse me informar a data exata dessa primeira


edição.

é um contexto bem interessante, em plena ditadura estadonovista, com uma razoável


influência ideológica do fascismo, época da segunda guerra mundial. lívio barreto
xavier, nascido em 1900 no ceará, formado em direito no rio de janeiro, teve
intensa militância política desde 1925, data em que ingressou no partido comunista
brasileiro. em 1929 foi expulso do partido, por divergências de fundo com a linha
dominante de perfil nacionalista, sob astrojildo pereira. em 1931 mudou-se para
são paulo, criando com mário pedrosa, aristides lobo, benjamin péret, a primeira
organização trotskista brasileira. sob a forte repressão da ditadura vargas e o
peso das divergências internas do trotskismo brasileiro, acabou se afastando da
política militante em 1935, dedicando-se à tradução, à crítica literária e ao
jornalismo cultural. morreu em 1988.

lívio xavier traduziu muito. seu nome faz parte do panteão dos tradutores que
colocaram as obras do pensamento universal ao alcance dos brasileiros. tinha
escrita fluente, elegante e mordaz. deixou sua marca entre a intelectualidade
brasileira. seu texto esboço de uma análise da situação econômica e social do
brasil (1930), em parceria com mário pedrosa, é tido como a primeira análise
marxista, séria e consistente, sobre o país. autor também de nosso patrimônio
cultural, tempestade sobre a ásia: a luta pela manchúria (com o pseudônimo de l.
mantsô), memórias de gandhi, infância na granja, o elmo de mambrino (que lhe valeu
o prêmio jabuti de 1976, na categoria de estudos literários). como poeta bissexto,
deixou uma coletânea de dez poemas de lívio xavier ilustrados por noêmia mourão.
seu acervo se encontra no cedem, centro de documentação e memória, da unesp.

entre suas traduções incluem-se:

benjamin farrington, a ciência grega, e o que significa para nós


edgar a. poe, o poço e o pêndulo
hegel, enciclopédia das ciências filosóficas (3 vol.) - aqui também trata-se da
primeira tradução de uma obra de hegel no brasil, em sua íntegra (1936)
maquiavel, carta a vettori
maquiavel, escritos políticos
maquiavel, o príncipe
rené wellek, história da crítica moderna
roger gal, história da educação
rosa luxemburgo, reforma ou revolução
rosa luxemburgo, reforma, revisionismo e oportunismo
spinoza, ética
trotsky, minha vida
trotsky, terrorismo e comunismo

imagem: http://cronologia.leonardo.it

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28/04/2009
nova lei rouanet
a consulta pública sobre o projeto de reformulação da lei rouanet está terminando.
faltam apenas nove dias. dê seus palpites:
http://blogs.cultura.gov.br/blogdarouanet/

e está rolando uma petição para o congresso avaliar o projeto com carinho:
http://www.petitiononline.com/mod_perl/petition-sign.cgi?rouanet

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quantos!

é impressionante como volta e meia a gente tropeça num príncipe, num contrato
social, num elogio da loucura, numa república. se quantidade de edições diferentes
significa avanço de qualidade, devemos ser uns especialistas na exegese
maquiavelina!

maquiavel, o príncipe:

ab editora, oliveira leite gonçalves


abril cultural, lívio xavier
agir, lívio xavier
atena, lívio xavier
bertrand brasil, roberto grassi
bibliex, edson bini
cedic, não consegui saber
centauro, brasil bandecchi
círculo do livro, antonio d'elia
civilização brasileira, roberto grassi
clio, henrique amat rêgo monteiro
cultrix, antonio d'elia
difel, roberto grassi
dpl, cândida de sampaio bastos
ed. unb, sérgio bath
edijur, não consegui saber
ediouro, lívio xavier
edipro, lívio xavier
elsevier, mônica bana
escala, ciro mioranza
escala, lívio xavier
fundação para a leitura do cego no brasil, lívio xavier
fundação para a leitura do cego no brasil, outra edição, não sei qual
garnier, ana carolina moreira
gb, não consegui saber
germape, gilson césar cardoso de sousa
hedra, josé antonio martins [bilíngue]
hemus, edson bini
hemus, torrieri guimarães
ícone, brasil bandecchi e mirtes de matteo
jardim dos livros, ana paula pessoa
juruá, nélia silka
leia, oberdan masucci
letras e artes, miécio tati
leud, amilcare carletti
lpm, antonio caruccio-caporale
madras, afonso teixeira filho
martin claret, pietro nassetti
martins fontes, maria júlia goldwasser
nova cultural, lívio xavier
nova cultural, olívia bauduh
otto pierre, não consta
parma, brasil bandecchi
paz e terra, maria lúcia cumo
planeta de agostini, carlos e. soveral
pocket ouro, lívio xavier
prestígio, lívio xavier
revista dos tribunais, josé cretella jr. e agnes cretella
rideel, torrieri guimarães
rigel, ferdinando schwartz
rio, aurora pereira de carvalho
russell, ricardo rodrigues gama
senado federal, mário e celestino da silva
suprema cultura, não consegui saber (como organizador valter roberto augusto)
tecnoprint, lívio xavier
três, lívio xavier
universo dos livros, não consegui saber
vecchi, mário e celestino silva
vozes, ivan hingo weber

afora o caso da planeta de agostini (a tradução de carlos eduardo soveral foi


publicada em 1955 pela guimarães, de portugal), os demais parecem ser fauna local.

achei um certo exagero: dá umas 35 traduções supostamente diferentes. claro que


sempre tem a banda podre do livro, que acha bonito roubar os neurônios dos outros
e ficar por aí falsificando livro. mas, tirando a ralé, podia até ser simpático
acompanhar esse périplo tradutório do príncipe em terra brasilis.

imagens: www.ga.wikipedia.org; http://www.playainnovations.com/

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27/04/2009
follow-up
periodicamente procuro encaminhar as questões que ficaram pendentes aqui no
nãogosto.

assim, no post sobre o caso da landmark se candidatando ao prêmio de originalidade


no plagiato nacional, comentei que não tivera ocasião de ver os outros títulos com
tradução em nome do sr. fábio cyrino.

tentei ler um deles, o estranho caso do doutor jekyll e do senhor hyde, de robert
louis stevenson (landmark, 2008) e, só por desencargo de consciência, consultei
várias outras edições. creio que nós leitores podemos respirar aliviados.
seguem abaixo alguns exemplos do original e do texto publicado pela landmark.

well, sir, the two ran into one another naturally enough at the corner; and then
came the horrible part of the thing: for the man trampled calmly over the child's
body and left her screaming on the ground. it sounds nothing to hear, but it was
hellish to see.
bem, meu caro, os dois se encontraram, um diante do outro, de modo absolutamente
natural, próximo à esquina. e, agora, vem a parte horrível da história, pois o
homem se atirou, calmamente, sobre o corpo da criança e lançou-a gritando ao chão.
não havia nada para ser ouvido, mas era terrível de se olhar.

if you choose to make capital out of this accident, said he, i am naturally
helpless. no gentleman but wishes to avoid a scene, says he. name your figure.
se desejarem aplicar a pena capital a este incidente, disse ele, naturalmente não
terei escapatória. não há ninguém que desejaria evitar tal cena, afirmou. digam os
seus nomes.

we screwed him up to a hundred pounds


nós o obrigamos a pagar mil libras

another man's cheque for close upon a hundred pounds


um cheque de, aproximadamente, mil libras de outro homem

the person that drew the cheque is the very pink of the proprieties, celebrated
too, and (what makes it worse) one of your fellows who do what they call good.
a pessoa que sacou o cheque é uma pessoa de boa reputação, famosa, também, e (o
que torna pior) um dos seus companheiros que acreditaram que ele tivesse agido
bem.

i feel very strongly about putting questions; it partakes too much of the style of
the day of judgement.
sei muito bem como colocar algumas questões; partilho, perfeitamente, do estilo do
dia do juízo.

a face which had but to show itself to raise up, in the mind of the
unimpressionable enfield, a spirit of enduring hatred.
rosto que nada tinha para revelar, na mente de uma pessoa impressionável como
enfield, espírito de um ódio permanente.

decididamente não é plágio.

imagem: emoticon msn, bigeyes

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26/04/2009
o plágio bem explicadinho

essa eu vi com um mês de atraso, mas que legal: a folha online ensinando ao povo
que plágio é feio.

"Veja diferença entre plágio, paráfrase e paródia; leia trecho da nova Gramática
Houaiss

Uma das mais conhecidas maneiras de reelaborar um texto é o plágio, caracterizado


pela apropriação ou imitação ilícita de um texto alheio. Outras formas de
reescrever um texto, como a paráfrase e a paródia, não são consideradas ilícitas.
A nova Gramática Houaiss da Língua Portuguesa (Publifolha, 2009) explica a
diferença entre o plágio, a paráfrase, a paródia e outras formas conhecidas de
reelaboração de texto.
Leia abaixo breve trecho do livro que define as formas mais conhecidas de
reelaboração de texto.
4.5.6.4.2 Reelaboração - A reelaboração consiste em produzir um texto (texto meta)
derivado de outro (texto fonte). A relação entre os dois é geralmente de todo e
todo. Entre os modos de reelaborar um texto, cinco são bem conhecidos, como segue.

4.5.6.4.2.1 Paráfrase - A paráfrase consiste em refazer um texto fonte em função


de seu conteúdo. É uma categoria que abrange resumos, condensações, atas,
adaptações relatórios.
4.5.6.4.2.2 Tradução - Tradução é uma variedade de reescrita de um texto, em que o
texto meta é reelaborado em uma língua diferente daquela em que foi produzido o
texto fonte. Tradução e paráfrase mesclam-se no gênero 'tradução adaptada', comum
quando se trata de traduzir obras literárias muito extensas para o público
infantil ou infanto-juvenil.
4.5.6.4.2.3 Paródia - A paródia é a recriação de viés crítico, com intenção cômica
ou satírica. Na paródia, o texto fonte não é apenas o ponto de partida. Ele
permanece entrevisto no espaço do texto recriado, sem o que se perde o efeito de
sentido da paródia.
4.5.6.4.2.4 Plágio - O plágio consiste na apropriação ou imitação, essencialmente
ilícita, de texto alheio. Pode ser parcial ou total, distinguindo-se da paráfrase
e da paródia por ocultar seu processo de criação. A facilidade, criada pela
internet, do acesso a textos alheios aumentou consideravelmente a prática do
plágio nos meios acadêmicos.
4.5.6.4.2.5 Retificação - A retificação consiste no ato discursivo pelo qual o
enunciador corrige ou modifica uma palavra, uma construção, uma formulação com o
propósito de tornar a expressão mais precisa ou mais adequada. O alvo da
retificação é normalmente um fragmento de texto, e pode ser extraído de um
discurso alheio ou do discurso em processo do próprio enunciador."

isso mesmo, dona folha, não deixe o povo cair de bobo na vigarice dos ilícitos!

imagem: www.migas-bdc.blogger.com.br

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LOUSADA, CASIMIRO FERNANDES, HERNÂNI DONATO, LEONIDAS HEGENBERG, LEONEL VALLANDRO,
ARAÚJO NABUCO, OCTAVIO MENDES CAJADO, MODESTO CARONE, BRENNO SILVEIRA, JACÓ
GUINSBURG, BENTO PRADO JR.
26/04/2009
que livro você seria?

teste bonitinho, twittada de alessandro martins.


pra mim deu memórias póstumas de brás cubas!

imagens: emoticons msn thumb up e jester

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a galeria de pietro nassetti

leia nossa homenagem.

slideshow: www.slide.com

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25/04/2009
graças e desgraças
acho uma graça que thrawn janet apareça inicialmente no brasil como janet do
pescoço torcido.
mas uma segunda vez - aí já é uma desgraça!

robert louis stevenson, janet do pescoço torcido:


1. jacy monteiro em 1968, para as edições paulinas
2. pietro nassetti em 2004, para a martin claret

1. bem, quando se soube na aldeia que janet m'clour estava empregada como criada
na casa paroquial, ficaram todos furiosos, seja contra ela, seja contra o pastor.
algumas mulheres nada acharam de melhor que ir-lhe diante da porta e acusá-la de
tudo quanto se sabia a respeito dela, desde o filho que tivera do soldado até as
duas vacas de john tamson. ela não era muito conversadora; geralmente deixavam-na
seguir o próprio caminho, enquanto ela os deixava ir pelo deles, sem dizer nem
bom-dia nem boa-tarde; mas quando lhe dava na telha, tinha língua de fazer
ensurdecer um moleiro. pulou para fora, e não houve velho mexerico em balweary que
não viesse à luz do dia, naquela ocasião, irritando a todos; ninguém podia dizer
uma palavra que ela não rebatesse duas, até que, ao fim, as comadres a agarraram,
tiraram-lhe as roupas do corpo e a arrastaram pela aldeia, até às águas do dule,
para verem se era verdadeiramente bruxa e se flutuava ou ia ao fundo. a velha
berrou tanto que se podia ouvi-la até no maciço cadente,* mas lutava por dez;
muitas comadres trouxeram, no dia seguinte, os sinais das unhas dela, e
conservaram-nos vários dias. felizmente, mesmo no ponto mais alto da luta eis que
chegou, para sua sorte, o novo pastor. (pp. 215-16)

* candente: por gralha tipográfica comeu-se um "n". a gralha é fielmente


transcrita por nassetti.

2. bem, quando se soube na aldeia que janet m'clour estava empregada como criada
na casa paroquial, ficaram todos furiosos, tanto contra ela, tanto contra o
pastor. algumas mulheres nada acharam de melhor que ir-lhe diante da porta e
acusá-la de tudo quanto se sabia a respeito dela, desde o filho que tivera do
soldado até as duas vacas de john tamson. ela era de poucas palavras; geralmente
deixavam-na seguir [] caminho, enquanto ela os deixava ir pelo deles, sem dizer
nem bom-dia nem boa-tarde; mas quando lhe dava na telha, tinha língua de fazer
ensurdecer um moleiro. pois naquele dia pulou para fora, e não houve velho
mexerico em balweary que não viesse à luz do dia, naquela ocasião, irritando a
todos; ninguém podia dizer uma palavra que ela não devolvesse duas, até que, no
fim, as mulheres a agarraram, tiraram-lhe as roupas do corpo e a arrastaram pela
aldeia, até às águas do dule, para confirmarem se era verdadeiramente bruxa: se
flutuava ou ia ao fundo. a velha gritou tanto que se podia ouvi-la até no maciço
cadente, mas lutava por dez; muitas mulheres mostraram, no dia seguinte, os sinais
das unhas dela, e conservaram-nos por vários dias. felizmente, no ponto mais alto
da luta, eis que chegou, para sua sorte, o novo pastor. (pp. 107-8).

1. dirigiu-se então à janela, e lá ficou a contemplar as águas do dule. as árvores


estavam muito densas e as águas corriam profundas e escuras sob a casa paroquial;
era aí que janet lavava as roupas com o vestido arregaçado. estava de costas para
o pastor, que apenas percebia o que estava contemplando. após certo tempo ela se
voltou e mostrou o rosto; o senhor soulis sentiu o mesmo arrepio frio que sentira
duas vezes naquele dia, vindo-lhe à mente o que o povo dizia; janet estava morta
há muito tempo e aquele era um espírito envolvido nas carnes frias dela. encolheu-
se um pouco e observou-a atentamente. estava batendo as roupas e cantarolava de si
para si, mas (valha-me deus!) tinha um rosto espantoso. às vezes cantava
fortemente; não havia, contudo, quem conseguisse distinguir as palavras da
cantiga. outras vezes olhava para baixo obliquamente, embora nada houvesse para
ver. um horror atravessou-lhe as carnes até os ossos; era aviso do céu. (pp. 221-
22)

2. foi, então à janela, e lá ficou a contemplar as águas do dule. as árvores


estavam muito densas e as águas corriam profundas e escuras sob a casa paroquial;
era aí que janet lavava as roupas com o vestido arregaçado. estava de costas para
o pastor, que apenas percebia o que estava contemplando. após certo tempo, ela se
voltou e mostrou o rosto; o rev. soulis sentiu o mesmo arrepio frio que sentira
duas vezes naquele dia, vindo-lhe à mente o que o povo comentava: janet estava
morta há muito tempo e aquele era um espírito envolvido nas carnes frias dela.
encolheu-se um pouco e observou-a atentamente. estava batendo as roupas e
cantarolava de si para si, mas - santo deus! - tinha um rosto espantoso. às vezes
cantava fortemente; não havia, contudo, quem conseguisse distinguir as palavras da
cantiga. outras vezes olhava para baixo obliquamente, embora nada houvesse para
ver. um horror atravessou-lhe as carnes até os ossos; era aviso do céu. (p. 111)

o volume das paulinas traz cinco contos: além de markheim e janet do pescoço
torcido, contém a história que dá nome à coletânea, o doutor jekyll e o monstro, e
ainda will do moinho e olallá. há uma introdução bem boazinha de eliseu sgarbossa,
do qual não tenho outras referências. além de apresentar um painel da vida e obra
de stevenson, a introdução comenta cada um dos cinco contos, aliás estendendo-se
razoavelmente sobre olallá.

então é muito engraçado ver a introdução de eliseu sgarbossa, devidamente


creditada (mas duvido que autorizada), à guisa de posfácio na edição claretiana,
conservando as referências a o doutor jekyll e o monstro, embora a edição
claretiana use o título mais conhecido o médico e o monstro, e mantendo os
comentários sobre will do moinho e olallá. fica realmente bizarro!

imagem: www.amazon.com

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24/04/2009
mais um da galeria claretiana

apresento abaixo a clareto-nassettada em cima do conto markheim, de stevenson. ao


que tudo indica, a fonte de aspiração ou, melhor, de sucção foi o trabalho feito
por e. jacy monteiro, publicado em 1968 pelas edições paulinas (coleção "fio de
erva", volume 5).

1. jacy monteiro:
tinha o tempo grande quantidade de vozes no negócio, algumas majestosas e lentas
conforme lhes convinha à venerável idade; outras gárrulas e pressurosas. todas
marcavam os segundos em coro complicado de tique-taques. de repente os passos de
um menino que corria pesadamente sobre a calçada cobriram aqueles pequenos sons e
trouxeram markheim de sobressalto à consciência do lugar em que se achava. olhou
em roda espantado. a candeia estava colocada sobre o banco e a chama oscilava
solenemente à corrente de ar; e com aquele insignificante movimento a sala inteira
enchia-se de muda agitação fazendo-a ondear como o mar. as sombras longas anuíam;
as largas manchas de escuridão dilatavam-se e restringiam-se como a respiração, os
rostos dos retratos e os ídolos de porcelana mudavam e ondeavam como imagens sobre
a água. a porta interior estava meio aberta e mostrava-se apenas naquele exército
de sombras por longa estria de luz como dedo acusador. (p. 186)

2. pietro nassetti:
tinha o tempo grande quantidade de vozes na loja, algumas majestosas e lentas
conforme lhes convinha à venerável idade; outras, tagarelas e impacientes. todas
marcavam os segundos em coro complicado de tique-taques. repentinamente, os passos
de um menino que corria pesadamente sobre a calçada cobriram aqueles pequenos sons
e trouxeram markheim de sobressalto à consciência do lugar em que se achava.
espantado, olhou em redor. a candeia estava colocada sobre o banco e a chama
oscilava solenemente à corrente de ar; e com aquele insignificante movimento a
sala inteira enchia-se de muda agitação, fazendo-a ondear como o mar. as sombras
longas anuíam; as largas manchas de escuridão dilatavam-se e restringiam-se como a
respiração, os rostos dos retratos e as estátuas de porcelana mudavam e ondeavam
como imagens sobre a água. a porta interior estava meio aberta e mostrava-se
apenas naquele exército de sombras por longa aresta de luz tal qual dedo acusador.
(p. 92)

1. jacy monteiro:
mas já estava tão agitado por outros receios que, enquanto uma parte da mente
ainda estava vigilante e aguda, a outra tremia no limiar da loucura. apoderava-se
dele certa alucinação de maneira particular. o vizinho que, de rosto branco,
escutava perto da janela, o passante que parava na calçada preso de dúvida
terrível... podiam pelo menos suspeitar, mas não saber; através das paredes de
tijolo e das janelas fechadas, somente os sons podiam penetrar. (p. 189)

2. pietro nassetti:
entretanto já estava tão agitado por outros receios que, enquanto uma parte da
mente ainda estava vigilante e aguda, a outra tremia no limiar da loucura. certa
alucinação tomara conta dele de maneira particular. o vizinho que, de rosto
branco, escutava perto da janela, o passante que parava na calçada preso de dúvida
terrível... podiam pelo menos suspeitar, mas não saber; através das paredes de
tijolo e das janelas fechadas, somente os sons podiam penetrar. (p. 94)

1. jacy monteiro:
a luz débil e nublada do dia caía indistintamente sobre o soalho nu e sobre a
escada, sobre a armadura brilhante ereta com a alabarda na mão sobre o primeiro
patamar, e sobre os entalhes profundos e sobre os quadros emoldurados, pendentes
dos painéis amarelos da tapeçaria. o barulho da chuva por toda a casa era tão
forte que começou, aos ouvidos de markheim, a subdividir-se em muitos sons
diversos. rumor de pés e suspiros, passo cadenciado de regimentos que marchavam ao
longe, tilintar de moedas sobre o balcão, e o chiar de portas fechadas
furtivamente parecia misturarem-se com o bater das gotas sobre a cúpula e o
escorrer da água nos canos. (pp. 193-94)

2. pietro nassetti:
a luz fraca e nublada do dia caía indistintamente sobre o soalho nu e sobre a
escada, sobre a armadura brilhante ereta com a alabarda na mão sobre o primeiro
patamar, e sobre os entalhes profundos e sobre os quadros emoldurados, pendentes
dos painéis amarelos da tapeçaria. o barulho da chuva por toda a casa era tão
forte que começou, aos ouvidos de markheim, a subdividir-se em muitos sons
diversos. som de pés e suspiros, passo cadenciado de regimentos que marchavam ao
longe, tilintar de moedas sobre o balcão, e o chiar de portas fechadas
furtivamente parecia misturarem-se com o bater das gotas sobre a cúpula e o
escorrer da água nos canos. (p. 96)

in: stevenson, o doutor jekyll e o monstro (paulinas, 1968; pp. 179-207);


stevenson, o médico e o monstro (martin claret, 2004; pp. 89-104).

imagem: www.ebooks.imgs.connect.com

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23/04/2009
salve, jorge!

pois não é que 23 de abril, além do dia do livro e do direito do autor, é também o
dia de são jorge, o santo guerreiro contra o dragão da maldade?

paolo uccello, detalhe de são jorge e o dragão

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dia mundial do livro e do direito do autor

a todas as letras do mundo


e a todos os leitores do mundo

imagens: www.faisalmb.com; www.mir.com.my; http://paternallife.wordpress.com

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22/04/2009
ooops
ih, pisei no calo de alguém. cinco visitas do mesmo ip de um servidor da usp a
pequenos intervalos de tempo, com direito a deixar comentário com ameaçazinha
anônima para mim e tudo? complicado.

imagem: http://respectance.com

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per seculae seculorum

respondendo a consultas:
não, o plágio nunca prescreve.
é crime imprescritível.

imagem: http://cleacroche.blogspot.com

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a cidade antiga

fustel de coulanges, la cité antique [1864] (hachette, 1920)


1. fernando de aguiar (clássica editora, 1945; martins fontes, 1987)
2. jonas camargo leite e eduardo nunes fonseca (hemus, 1975; tecnoprint, 1986;
ediouro, 1992)

[livro 2, cap. vi]


Voici une institution des anciens dont il ne faut pas nous faire une idée d’après
ce que nous voyons autour de nous. Les anciens ont fondé le droit de propriété sur
des principes qui ne sont plus ceux des générations présentes ; il en est résulté
que les lois par lesquelles ils l’ont garanti sont sensiblement différentes des
nôtres.

1. eis uma instituição dos antigos da qual não podemos formar idéia através do
direito de propriedade no mundo moderno. os antigos basearam o direito de
propriedade em princípios diferentes dos das gerações presentes; e daqui resulta
serem as leis que o garantiram sensivelmente diversas das nossas.

2. eis uma instituição dos antigos da qual não podemos formar idéia através do
direito de propriedade no mundo moderno. os antigos alicerçaram o direito de
propriedade em princípios diferentes dos das gerações presentes; e daqui resulta
serem as leis que o garantiram bem diversas das nossas.
On sait qu’il y a des races qui ne sont jamais arrivées à établir chez elles la
propriété privée ; d’autres n’y sont parvenues qu’à la longue et péniblement. Ce
n’est pas, en effet, un facile problème, à l’origine des sociétés, de savoir si
l’individu peut s’approprier le sol et établir un si fort lien entre son être et
une part de terre qu’il puisse dire : Cette terre est mienne, cette terre est
comme une partie de moi. Les Tartares conçoivent le droit de propriété quand il
s’agit des troupeaux, et ne le comprennent plus quand il s’agit du sol. Chez les
anciens Germains, suivant quelques auteurs, la terre n’appartenait à personne ;
chaque année la tribu assignait à chacun de ses membres un lot à cultiver, et on
changeait de lot l’année suivante. Le Germain était propriétaire de la moisson ;
il ne l’était pas de la terre. Il en est encore de même dans une partie de la race
sémitique et chez quelques peuples slaves.

1. sabe-se terem existido raças que nunca chegaram a instituir a propriedade


privada entre si, e outras só demorada e penosamente a estabeleceram. efetivamente
não é problema fácil, no começo das sociedades, saber-se se o indivíduo pode
apropriar-se do solo e estabelecer tão forte vínculo entre a sua própria pessoa e
uma porção de terra, a ponto de poder dizer: "esta terra é minha, esta terra é
parcela de mim mesmo." os tártaros admitiam o direito de propriedade, no que dizia
respeito aos rebanhos, e já não o concebiam ao tratar-se do solo. entre os antigos
germanos, segundo alguns autores, a terra não pertencia a ninguém; em cada ano, a
tribo indicava a cada um dos seus membros o lote para cultivar, e mudava no ano
seguinte. o germano era proprietário da colheita, mas não o dono da terra. ainda
acontece o mesmo em parte da raça semítica e entre alguns povos eslavos.

2. sabe-se terem existido povos que nunca chegaram a instituir a propriedade


privada entre si, e outras [sic] só demorada e penosamente a estabeleceram. com
efeito, não é problema simples, no início das sociedades, saber-se se o indivíduo
pode apropriar-se do solo e estabelecer tão forte união entre a sua própria pessoa
e uma parte da terra, a ponto de poder dizer: esta terra é minha, esta terra é
parte de mim mesmo. os tártaros admitiam o direito de propriedade, quando se
tratava de rebanhos e já não o concebiam ao tratar-se do solo. entre os antigos
germanos, segundo alguns autores, a terra não era propriedade de ninguém; cada
ano, a tribo indicava a cada um dos seus membros um lote para cultivo, lote que
era trocado no ano seguinte. o germano era proprietário da colheita, mas não o
dono da terra. o mesmo acontece em uma parte da raça semítica e entre alguns povos
eslavos.

Au contraire, les populations de la Grèce et de l’Italie, dès l’antiquité la plus


haute, ont toujours connu et pratiqué la propriété privée. Il n’est resté aucun
souvenir historique d’une époque où la terre ait été commune ; et l’on ne voit non
plus rien qui ressemble à ce partage annuel des champs qui est signalé chez les
Germains. Il y a même un fait bien remarquable. Tandis que les races qui
n’accordent pas à l’individu la propriété du sol lui accordent au moins celle des
fruits deson travail, c’est-à-dire de sa récolte, c’était le contraire chez les
Grecs. Dans quelques villes, les citoyens étaient astreints à mettre en commun
leurs moissons, ou du moins la plus grande partie ; et devaient les consommer en
commun ; l’individu n’était donc pas absolument maître du blé qu’il avait récolté
; mais en même temps, par une contradiction bien remarquable, il avait la
propriété absolue du sol. La terre était à lui plus que la moisson. Il semble que
chez les Grecs la conception du droit de propriété ait suivi une marche tout à
fait opposée à celle qui paraît naturelle. Elle ne s’est pas appliquée à la
moisson d’abord, et au sol ensuite. C’est l’ordre inverse qu’on a suivi.

1. ao contrário, as populações da grécia e as da itália, desde a mais remota


antiguidade, sempre conheceram e praticaram a propriedade privada. nenhuma
recordação histórica nos chegou, e de época alguma, que nos revele a terra ter
estado em comum; e nada tampouco se encontra que se assemelhe à partilha anual dos
campos, tal como esta se praticou entre os germanos. há mesmo um fato
verdadeiramente digno de destaque. enquanto as raças que não concedem ao indivíduo
a propriedade do solo lhe facultam, ao menos, a dos frutos do seu trabalho, isto
é, a colheita, com os gregos sucede o contrário. em algumas cidades os cidadãos
são obrigados a ter em comum as colheitas, ou, pelo menos, a maior parte delas,
devendo gastá-las em sociedade; portanto, o indivíduo não nos aparece como
absoluto senhor do trigo por ele colhido, mas mercê de notável contradição, já que
tem propriedade absoluta do solo. a terra era mais dele do que a colheita. parece
que a concepção de direito de propriedade tinha seguido, entre os gregos, caminho
inteiramente oposto àquele que se afigura como o mais natural. não se aplicou
primeiro à colheita e depois ao solo. seguiu-se a ordem inversa.

2. ao contrário, as populações da grécia e da itália, desde a mais longínqua


antiguidade, sempre reconheceram e praticaram a propriedade privada. nenhuma
lembrança histórica nos chegou, e de época alguma, que nos revele a terra ter
estado em comum; e nada tampouco se encontra que se assemelhe à partilha anual dos
campos, tal como se praticou entre os germanos. há mesmo um fato verdadeiramente
digno de nomeada. enquanto as raças que não concedem ao indivíduo a propriedade do
solo facultam-lhe, pelo menos, tal direito sobre os frutos do seu trabalho, isto
é, da colheita, entre os gregos acontecia o contrário. em algumas cidades os
cidadãos são obrigados a reunir em comunidade as colheitas ou, pelo menos, a maior
parte delas e devendo gastá-las em sociedade; portanto, o indivíduo não nos
aparece como senhor absoluto do trigo por ele colhido, mas, mercê de notável
contradição, já tem a propriedade absoluta do solo. a terra para ele valia mais do
que a colheita. parece ter a concepção de direito de propriedade seguido, entre os
gregos, caminho inteiramente oposto àquele que se afigura como o mais natural. não
se aplicou primeiro à colheita e depois ao solo. seguiu-se a ordem inversa.

Or, entre ces dieux et le sol, les hommes des anciens âges voyaient un rapport
mystérieux. Prenons d’abord le foyer : cet autel est le symbole de la vie
sédentaire ; son nom seul l’indique 1. Il doit être posé sur le sol ; une fois
posé, on ne doit plus le changer de place. Le dieu de la famille veut avoir une
demeure fixe ; matériellement, il est difficile de transporter la pierre sur
laquelle il brille ; religieusement, cela est plus difficile encore et n’est
permis à l’homme que si la dure nécessité le presse, si un ennemi le chasse ou si
la terre ne peut pas le nourrir. Quand on pose le foyer, c’est avec la pensée et
l’espérance qu’il restera toujours à cette même place. Le dieu s’installe là, non
pas pour un jour, non pas même pour une vie d’homme, mais pour tout le temps que
cette famille durera et qu’il restera quelqu’un pour entretenir sa flamme par le
sacrifice. Ainsi le foyer prend possession du sol; cette part de terre, il la fait
sienne ; elle est sa propriété.

1. encontraram os antigos misteriosa relação entre estes deuses e o solo. vejamos,


primeiramente, o lar: este altar é o símbolo da vida sedentária; o seu próprio
nome o indica. deve estar assente no solo; uma vez ali colocado nunca mais deve
mudar de lugar. o deus da família quer ter morada fixa; materialmente, a pedra
sobre a qual ele brilha, torna-se de difícil transporte; religiosamente, isso
parece-lhe ainda mais difícil, só sendo permitido ao homem quando dura necessidade
o obriga, o inimigo o expulsa ou a terra não pode alimentá-lo. ao assentar-se o
lar, fazem-no com o pensamento e a esperança de que ficará sempre no mesmo lugar.
o deus instala-se nele, não para um dia, nem mesmo só para a precária vida de um
homem, mas para todos os tempos, enquanto esta família existir e dela restar
alguém a conservar a sua chama em sacrifício. assim o lar toma posse do solo;
apossa-se desta parte de terra que fica sendo, assim, sua propriedade.

2. divisaram os antigos misteriosa relação entre estes deuses e o solo. vejamos,


primeiramente, o lar; este altar é o símbolo da vida sedentária; o seu próprio
nome o indica. deve estar assente no solo; uma vez ali colocado nunca mais devem
mudá-lo de lugar. o deus da família deseja ter morada fixa; materialmente, a pedra
sobre a qual ele brilha, torna-se de difícil transporte; religiosamente, isso
parece-lhe ainda mais difícil, só sendo permitido ao homem quando dura necessidade
o aperta, o inimigo o expulsa, ou a terra não pode alimentá-lo. ao assentar-se o
lar, fazem-no com o pensamento e a esperança de que permanecerá sempre no mesmo
lugar. o deus ali se instala não para um dia, nem mesmo pelo espaço de uma vida
humana, mas por todo o tempo que dure esta família e dela restar alguém que
alimente a chama do sacrifício. assim o lar toma posse do solo; apossa-se dessa
parte de terra que fica sendo, assim, sua propriedade.

Et la famille, qui par devoir et par religion reste toujours groupée autour de son
autel, se fixe au sol comme l’autel lui-même. L’idée de domicile vient
naturellement. La famille est attachée au foyer, le foyer l’est au sol ; une
relation étroite s’établit donc entre le sol et la famille. Là doit être sa
demeure permanente, qu’elle ne songera pas à quitter, à moins qu’une force
supérieure ne l’y contraigne. Comme le foyer, elle occupera toujours cette place.
Cette place lui appartient ; elle est sa propriété, propriété non d’un homme
seulement, mais d’une famille dont les différents membres doivent venir l’un après
l’autre naître et mourir là.

1. e a família, ficando, destarte, por dever e por religião, agrupada em redor do


seu altar, fixa-se ao solo tanto como o próprio altar. a idéia de domicílio surge
espontaneamente. a família está vinculada ao lar e este, por sua vez, encontra-se
fortemente ligado ao solo; estreita conexão se estabeleceu, portanto, entre o solo
e a família. aí deve ser a sua residência permanente, que nunca pensará deixar, a
não ser quando alguma força superior a isso a constranja. como o lar, a família
ocupará sempre este lugar. o lugar pertence-lhe: é sua propriedade, propriedade
não de um só homem, mas de uma família, cujos diferentes membros devem vir, um
após outros, nascer e morrer ali.

2. e a família, destarte, ficando, por dever e por religião, agrupada ao redor do


seu altar, fixa-se ao solo tanto como o próprio altar. a idéia de domicílio surge
naturalmente. a família está vinculada ao altar e este, por sua vez, encontra-se
fortemente ligado ao solo; estreita relação se estabeleceu, portanto, entre o solo
e a família. aí deve ser sua residência permanente, que jamais abandonará, a não
ser quando alguma força superior a isso a constranja. como o lar, a família
ocupará sempre esse lugar. o lugar pertence-lhe: é sua propriedade, propriedade
não de um único homem, mas de uma família, cujos diferentes membros devem vir, um
após outro, nascer e morrer ali.

Suivons les idées des anciens. Deux foyers représentent des divinités distinctes,
qui ne s’unissent et qui ne se confondent jamais ; cela est si vrai que le mariage
même entre deux familles n’établit pas d’alliance entre leurs dieux. Le foyer doit
être isolé, c’est-à-dire séparé nettement de tout ce qui n’est pas lui [...] Cette
enceinte tracée par la religion et protégée par elle est l’emblème le plus
certain, la marque la plus irrécusable du droit de propriété.

1. sigamos o raciocínio dos antigos. dois lares representam divindades distintas


que nunca se unem nem se confundem; isto é tão evidente que o próprio casamento
realizado entre duas famílias não estabelece a união entre os seus deuses. o lar
deve estar isolado, isto é, nitidamente separado de tudo quanto não lhe pertença
[...] esta vedação, traçada pela religião e por ela protegida, afirma-se como o
tributo mais verdadeiro, o sinal irrecusável do direito de propriedade.

2. sigamos o raciocínio dos antigos. dois lares representam duas divindades


distintas que nunca se unem nem se confundem; isto é tão evidente que o próprio
casamento realizado entre duas famílias não estabelece aliança entre os seus
deuses. o lar deve ser isolado, isto é, visivelmente separado de tudo quanto não
lhe pertença [...] este limite, traçado pela religião e por ela protegido, afirma-
se como o tributo mais verdadeiro, o sinal irrecusável do direito de propriedade.

Il est résulté de ces vieilles règles religieuses que la vie en communauté n’a
jamais pu s’établir chez les anciens. Le phalanstère n’y a jamais été connu.
Pythagore même n’a pas réussi à établir des institutions auxquelles la religion
intime des hommes résistait.

1. dessas velhas disposições religiosas resultou nunca poder estabelecer-se entre


os antigos a vida em comunidade. o falanstério nunca foi conhecido entre estas
populações. o próprio pitágoras não ousou estabelecer instituições às quais a
religião íntima dos homens resistia.

2. dessas antigas disposições religiosas resultou nunca poder estabelecer-se a


vida em comunidade, entre os antigos. o falanstério nunca foi conhecido. o próprio
pitágoras não ousou estabelecer instituições às quais a religião íntima dos homens
resistia.

La tente convient à l’Arabe, le chariot au Tartare, mais à une famille qui a un


foyer domestique il faut une demeure qui dure. A la cabane de terre ou de bois a
bientôt succédé la maison de pierre. On n’a pas bâti seulement pour une vie
d’homme, mais pour la famille dont les générations devaient se succéder dans la
même demeure.

1. ao árabe convém a tenda, ao tártaro o carro, mas para estas famílias, tendo um
lar doméstico, é necessária a morada fixa. à cabana de terra, ou de madeira,
sucedeu, dentro em pouco, a casa de pedra. esta casa não se construiu somente para
a vida dum homem, mas para uma família cujas gerações deviam suceder-se na mesma
habitação.

2. ao árabe convém a tenda, ao tártaro o carro, mas para estas famílias, tendo um
lar doméstico, é necessária a residência fixa. à cabana de terra ou de madeira,
seguiu-se, dentro em pouco, a casa de pedra. esta casa não se construiu apenas
para a vida de um homem, mas para uma família cujas gerações deviam suceder-se na
mesma habitação.

[livro 4, cap. i]
Jusqu’ici nous n’avons pas parlé des classes inférieures et nous n’avions pas à en
parler. Car il s’agissait de décrire l’organisme primitif de la cité, et les
classes inférieures ne comptaient absolument pour rien dans cet organisme. La cité
s’était constituée comme si ces classes n’eussent pas existé. Nous pouvions donc
attendre pour les étudier que nous fussions arrivés à l’époque des révolutions.

1. até aqui não falamos das classes inferiores, e nem mesmo havia ocasião para nos
referirmos a estas. e isto porque a finalidade era traçar a estrutura primitiva da
cidade, e as classes inferiores não tiveram importância absolutamente nenhuma
nesta organização. a cidade achava-se constituída como se estas classes não
existissem. podíamos reservar, portanto, seu estudo para quando chegássemos ao
período das revoluções.

2. até aqui não falamos ainda das classes inferiores, e nem mesmo havia ocasião
para nos referirmos a ela [sic], porque nossa finalidade era descrever a estrutura
primitiva da cidade, e as classes inferiores não tiveram nenhuma importância nessa
organização. a cidade constituíra-se como se estas classes não existissem. poderia
reservar-se, pois, o seu estudo para quando atingíssemos esse período de
revoluções.
Puis cette famille a des serviteurs, qui ne la quittent pas, qui sont attachés
héréditairement à elle, et sur lesquels le pater ou patron exerce la triple
autorité de maître, de magistrat et de prêtre. On les appelle de noms qui varient
suivant les lieux ; celui de clients et celui de thètes sont les plus connus.

1. depois, esta família tem servos que não a abandonam, servos hereditariamente
ligados à família e sobre os quais o pater ou patrono usa da sua tríplice
autoridade de senhor, de magistrado e de sacerdote. davam-lhes nomes diferentes,
segundo os lugares, embora os mais comumente conhecidos sejam os de clientes e
tetas.

2. depois, essa família tem servos que não a abandonam, servos hereditariamente
vinculados à família e sobre os quais o pater ou patrono exerce sua tríplice
autoridade de mestre, de magistrado e de sacerdote. davam-lhes nomes diferentes,
segundo as regiões, embora os mais comumente conhecidos sejam os de clientes e
tetas.

La ville [...] est le centre de l’association, la résidence du roi et des prêtres,


le lieu où se rend la justice ; mais les hommes n’y vivent pas. Pendant plusieurs
générations encore, les hommes continuent à vivre hors de la ville, en familles
isolées qui se partagent la campagne.

1. a urbe [...] centro da associação, residência do rei e dos sacerdotes, e lugar


onde se administra a justiça, mas os homens continuam a viver do lado de fora da
urbe, em famílias isoladas, que dividem entre si os campos.

2. a cidade [...] o centro da associação, a residência do rei e dos sacerdotes, e


lugar onde se administra a justiça, mas onde os homens continuam a viver fora da
cidade, em famílias isoladas, que dividem entre si os campos.

Cette classe, qui devint plus nombreuse à Rome que dans aucune autre cité, y était
appelée la plèbe. Il faut voir l’origine et le caractère de cette classe pour
comprendre le rôle qu’elle a joué dans l’histoire de la cité et de la famille chez
les anciens.
Les plébéiens n’étaient pas les clients ; les historiens de l’antiquité ne
confondent pas ces deux classes entre elles.

1. esta classe, mais numerosa em roma que em qualquer outra cidade, tinha aí o
nome de plebe. precisamos examinar a origem e o caráter desta classe para melhor
entender o papel, entre os antigos, desempenhado pela plebe na história da cidade
e da família.
os plebeus não eram clientes; os historiadores da antiguidade nunca confundiram
estas duas classes uma com a outra.

2. essa classe, mais numerosa em roma que em nenhuma outra cidade, tinha aí o nome
de plebe. precisamos examinar a origem e o caráter dessa classe para melhor
compreendermos o papel desempenhado pela plebe na história da cidade e da família
entre os antigos.
os plebeus não eram clientes; os historiadores da antiguidade nunca confundiram
estas duas classes uma com a outra.

a título ilustrativo, seguem-se os trechos correspondentes na tradução de


frederico ozanam (edameris)*

Eis uma instituição dos antigos sobre a qual não devemos formar idéia pelo que
vemos a nosso redor. Os antigos basearam o direito de propriedade sobre princípios
que não são mais os das gerações presentes, e daqui resultou que as leis pelas
quais o garantiram são sensivelmente diversas das nossas.

Sabemos que há raças que jamais chegaram a instituir entre si a propriedade


privada; outras só a admitiram depois de muito tempo e a muito custo. Com efeito,
não é um problema fácil, na origem das sociedades, saber se o indivíduo pode
apropriar-se do solo, e estabelecer uma união tão forte entre si e uma parte da
terra a ponto de poder dizer: Esta terra é minha, esta terra é como que parte de
mim mesmo. Os tártaros admitem direitos de propriedade quando se trata de
rebanhos, e não o compreendem quando se trata do solo. Entre os antigos germanos,
de acordo com alguns autores, a terra não pertencia a ninguém; todos os anos a
tribo designava a cada um de seus membros um lote para cultivar, lote que era
trocado no ano seguinte. O germano era proprietário da colheita, e não da terra. O
mesmo acontece ainda em uma parte da raça semítica, e entre alguns povos eslavos.

Pelo contrário, as populações da Grécia e da Itália, desde a mais remota


antiguidade, sempre reconheceram e praticaram a propriedade privada. Não ficou
nenhuma lembrança histórica de época em que a terra fosse comum e também nada se
vê que se assemelhe a essa divisão anual dos campos, praticada entre os germanos.
Há até um fato bastante notável. Enquanto as raças que não concediam ao indivíduo
a propriedade do solo, concedem-lhe pelo menos tal direito sobre os frutos do
trabalho, isto é, das colheitas, entre os gregos acontecia o contrário. Em algumas
cidades os cidadãos eram obrigados a reunir em comum as colheitas, ou, pelo menos,
a maior parte delas, e deviam consumi-las em comum; o indivíduo, portanto, não era
absoluto senhor do trigo que havia colhido; mas ao mesmo tempo, por notável
contradição, tinha absolutos direitos de propriedade sobre o solo. A terra para
ele valia mais que a colheita. Parece que entre os gregos a concepção do direito
de propriedade tenha seguido caminho absolutamente oposto ao que parece natural.
Não se aplicou primeiro à colheita e depois ao solo. Seguiu-se a ordem inversa.

Ora, entre esses deuses e o solo, os homens das épocas mais antigas divisavam uma
relação misteriosa. Tomemos, em primeiro lugar, o lar; esse altar é o símbolo da
vida sedentária, como o nome bem o indica. Deve ser colocado sobre a terra, e, uma
vez construído, não o devem mudar mais de lugar. O deus da família deseja possuir
morada fixa; materialmente, é difícil transportar a terra sobre a qual ele brilha;
religiosamente, isso é mais difícil ainda, e não é permitido ao homem senão quando
é premido pela dura necessidade, expulso por um inimigo, ou se a terra não o puder
sustentar por ser estéril. Quando se constrói o lar, é com o pensamento e a
esperança de que continue sempre no mesmo lugar. O deus ali se instala, não por um
dia, nem pelo espaço de uma vida humana, mas por todo o tempo em que dure essa
família, e enquanto restar alguém que alimente a chama do sacrifício. Assim o lar
toma posse da terra; essa parte da terra torna-se sua, é sua propriedade.

E a família, que por dever e por religião fica sempre agrupada ao redor desse
altar, fixa-se ao solo como o próprio altar. A idéia de domicílio surge
naturalmente. A família está ligada ao altar, o altar ao solo; estabelece-se
estreita relação entre a terra e a família. Aí deve ter sua morada permanente, que
jamais abandonará, a não ser quando obrigada por força superior. Como o lar, a
família ocupará sempre esse lugar. Esse lugar lhe pertence, é sua propriedade; e
não de um homem somente, mas de toda uma família, cujos diferentes membros devem,
um após outro, nascer e morrer ali.

Sigamos o raciocínio dos antigos. Dois lares representam duas divindades


distintas, que nunca se unem ou se confundem; isso é tão verdade, que o casamento
entre duas famílias não estabelece aliança entre seus deuses. O lar deve ser
isolado, isto é, separado claramente de tudo o que não lhe pertence [...] Essa
linha divisória traçada pela religião, e por ela protegida é o emblema mais certo,
a marca mais irrecusável do direito de propriedade.
O resultado dessas velhas regras religiosas é que entre os antigos jamais se
estabeleceu uma vida de comunidade. O falanstério nunca foi conhecido. O próprio
Pitágoras não conseguiu estabelecer instituições às quais a religião íntima dos
homens resistia.

A tenda convém ao árabe, o carro ao tártaro, mas uma família que tem um altar
doméstico precisa de uma casa que dure. À cabana de terra ou de madeira seguiu-se
logo a casa de pedra. E esta não foi construída somente para a vida de um homem,
mas para a família, cujas gerações deviam suceder-se na mesma morada.

Até aqui ainda não falamos das classes inferiores, nem tínhamos o que falar,
porque se tratava de descrever o organismo primitivo da cidade, e as classes
inferiores não tinham importância nenhuma em sua estrutura, A cidade constituíra-
se como se essas classes não existissem. Podíamos, portanto, esperar para estudá-
las quando chegássemos à época das revoluções.

Depois, essa família tem criados, que não a deixam, e que a ela estão ligados por
hereditariedade, e sobre as quais o pater, ou patrono, exerce a tríplice
autoridade de mestre, de magistrado e de sacerdote. Seus nomes variam de acordo
com os lugares; os mais conhecidos são os de clientes e tetas.

A cidade [...] é o centro da associação, a residência do rei e dos sacerdotes, o


lugar onde se administra justiça, e não a morada dos homens. Durante muitas
gerações ainda os homens continuam a viver fora da cidade, em famílias isoladas,
que dividem entre si os campos.

Essa classe, que se torna mais numerosa em Roma que em nenhuma outra cidade,
chamava-se ali de plebe. É preciso que vejamos a origem e o caráter dessa classe,
para compreendermos o papel que desempenhou na história da cidade e da família
entre os antigos.
Os plebeus não eram clientes; os historiadores da antiguidade não confundem essas
duas classes entre si
* existem outras traduções de a cidade antiga: edson bini (edipro, 1998), nélia
pinheiro padilha (juruá, 2002), joão cretella jr. e agnes cretella (revista dos
tribunais, 2003), aurélio barroso rebello e laura alves (pela própria ediouro,
2004), heloísa da graça burati (rideel, 2005), cf. http://www.bn.br/.

imagens: http://stubenrock.blogspot.com/; héstia e deméter

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21/04/2009
le deuil
naturalmente o caro leitor se deu conta da calamidade referida no post aiaiai, e
agora.

em se confirmando o plágio da hemus (1975) em cima da tradução de fernando de


aguiar de a cidade antiga, de fustel de coulanges, essa praga adquire uma dimensão
exorbitante. por várias razões:
- se quem faz um faz cem, isso obriga a checar as outras traduções em nome de
jonas camargo leite (ao que parece, tradutor de livro único, a dita cidade antiga
da hemus, que a bem dizer não é propriamente uma tradução) e de eduardo nunes
fonseca.
- se uma editora publica traduções que não são propriamente traduções, isso obriga
a conferir os demais títulos dessa editora, em nome de outros tradutores.
- se essa editora vende e sublicencia suas pseudotraduções para outras editoras,
isso obriga a conferir o catálogo dessas outras editoras.

e, estando a editora há quase quarenta anos na praça, a coisa fica deveras


alarmante. a pergunta básica, que qualquer criança faria, é: "mas então ninguém
viu?" - ou, pior: "viram e pouco se importaram?". não interessa, o fato permanece.

então, recapitulando: a editora martin claret, responsável pela maior enxurrada de


fraudes e plágios no mercado editorial de que há notícia na história do livro no
brasil, tem em circulação a cidade antiga, de fustel de coulanges, em nome de
"jean melville". um grupo de estudantes descobriu que era um plágio da edição da
ediouro, em nome de jonas camargo leite e eduardo nunes fonseca. de minha parte,
descobri que essa edição da ediouro, por sua vez, era reedição de um plágio da
hemus em cima da clássica editora, de portugal.

se a coisa tivesse parado lá pelos anos 70, época da publicação da hemus, eu nem
mexeria nisso. o problema é que essa fraude está aí próspera e viçosa, ainda em
catálogo da hemus, licenciada para a ediouro (a qual declarou que vai tomar as
providências cabíveis), e replagiada pelo intrépido claret, na mais autêntica
ciranda com o joão-bobo do leitor no meio.

mas, nessa brincadeira, a perninha curta da mentira já começa a aparecer. eduardo


nunes fonseca, o suposto cotradutor de a cidade antiga, assina pelo menos mais
duas traduções pela hemus que TAMBÉM estão licenciadas para a ediouro, em
sucessivas reedições. a saber: darwin, a origem das espécies, e émile zola,
germinal. ainda esta semana apresentarei os cotejos clássica x hemus/ediouro (a
cidade antiga) e vecchi x hemus/ediouro (germinal).

resta ver o que a ediouro fará. seria uma vergonha que o maior grupo editorial do
país continuasse a abrigar lixo tóxico em seu catálogo.

imagens: o luto

POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS


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