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Práticas de Campo como Ferramenta Didática no

Ensino de Ecologia no Ensino Médio

Prof. Antonio Jorge Mota Campos


Colégio Estadual Zuleika Rapôso Valladares

Prof. Marcelo Ramos de Oliveira


Colégio Estadual Rapôso Valladares

Trabalho final do curso:


Ecologia no Ensino Médio
Professores:
Maria Margarida Gomes (Cap/UFRJ), Marcus Vinícius Vieira
(Departamento de Ecologia/UFRJ), Mariana Lima Vilela (Cap/UFRJ)
e Celina Costa (Cap/UFRJ)
Universidade Federal do Rio de Janeiro
PROMED - Formação continuada em Ciências da Natureza,
Matemática e suas Tecnologias

Novembro de 2005
Ecologia no Ensino Médio

Introdução

A abordagem da Ecologia no Ensino Médio comumente se encontra dissociada


do conhecimento prático, o que acarreta em um desinteresse por parte do corpo
discente ou em relação à matéria. Este processo de desvinculação deve ser interrompido
com práticas que unam a educação científica, a educação formal e a educação informal
(HOFSTEIN & ROSENFELD, 1996)
Este trabalho tem o objetivo de integrar os conhecimentos das
“Ecologias”DIDÁTICA, CIENTÍFICA E SOCIAL. Esta integração além de despertar
o interesse do aluno com relação à ciência também de forma prática e presencial, cria um
vínculo afetivo com o ambiente circunvizinho.
O homem é um “modificador natural” do seu ambiente desde a Pré-História. As
interferências do homem no meio ambiente começam quando ele deixa de ser nômade
(comportamento de coleta) e passa a se fixar em determinado local, alterando o
ambiente circunvizinho para o plantio de espécies vegetais e cultivo de animais para
consumo e tração. Muito tarde com a revolução industrial cria-se uma grande demanda
de madeira para alimentar caldeiras das máquinas a vapor. Estas interferências
continuam até os dias de hoje com a especulação imobiliária (regularizada ou não) e
emissão de poluentes orgânicos e industriais. (Campos, 2000)

Objetivo

O objetivo deste trabalho é a fixação de alguns conceitos de ecologia arrolados no


conteúdo programático do 3° ano do Ensino Médio Seriado.
As práticas realizadas servem como uma metodologia extra-muros que estimulam
o aluno a formar mecanismos lógicos relacionados à sua experiência pessoal para
compreender os processos que ocorrem a sua volta, dando assim passos importantes no
“caminho científico” (Cazelli, 1992). Estas adaptações metodológicas são importantes

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para estimular o convívio do aluno com os conteúdos aprendidos em sala (Soncini &
Castilho Jr. 1990)
Os conceitos didático-científicos abordados neste trabalho já haviam sido
abordados em sala no início do ano letivo de acordo com o planejamento seriado, este
trabalho vem aprofundar tais conceitos com uma metodologia de vivência em prática
científica.

Os conceitos didáticos abordados foram:


• Diversidade
• Sucessão Ecológica
• Impacto Ambiental
• Ecossistema
• Cadeia e Teia Trófica

Mote Central

- Diferenças entre áreas com e sem intervenção recente de origem antrópica.

Metodologia

Este trabalho foi desenvolvido com uma turma do 3° ano do Ensino


Médio Regular Seriado do Colégio Estadual Zuleika Rapôso Valladares localizado no
bairro da Ilha da Conceição no Município de Niterói – RJ.
Como os conceitos já haviam sido abordados em sala, foi feito um roteiro com
uma revisão teórica e a apresentação de um protocolo a ser utilizado em práticas de
campo (ANEXO 1).
A realização prática foi feita em campo considerando como área com recente
intervenção antrópica uma área de restauração paisagística localizada na entrada do
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bairro da Ilha da Conceição, já como área sem intervenção antrópica recente foi
escolhida uma área do Horto Zôo-Botânico de Niterói.
A prática foi realizada utilizando a técnica do quadrateamento comumente
utilizada em pesquisas em Ecologia. (Grieg-Smith, 1952; Brower et al. 1998). Para esta
prática foram utilizados quadrats (3m x 3m) feitos de 12 metros de corda sintética
fixados ao solo com ajuda de estacas de madeira, formando áreas de 9m2.
A turma foi dividida em 3 grupos constituídos por 10 alunos, cada grupo ficou
responsável pela leitura de um quadrat e pelas anotações de seus dados
Estes quadrats foram dispostos de forma aleatória na área analisada seguindo a
metodologia adotada.
No protocolo da prática estavam especificados alguns dados a serem coletados
em cada quadrat, entre eles:
• Distribuição da comunidade Vegetal
• Diversidade Populacional
• Presença de Fauna na superfície
• Porte da Vegetação
• Umidade do solo x cobertura

A avaliação do trabalho foi feita a partir de uma mesa redonda onde os alunos
apresentaram os resultados obtidos, compararam os resultados das duas áreas
identificando diferenças e discutiram os “possíveis motivos” de tais diferenças.

Discussão

No primeiro contato com a turma os professores responsáveis pelo


desenvolvimento do trabalho apresentaram o projeto para os alunos indicando a
necessidade de uma vivência prática dos conteúdos formais apreendidos em sala de aula
com o professor regente, no final desta apresentação a maioria dos alunos demonstrou
interesse no projeto, alguns pelo interesse pela área, outros pelo fato de ser uma aula
diferente, fora do ambiente formal da sala de aula.

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No dia da aula prática os alunos foram orientados, ainda no colégio, sobre


o comportamento em um ambiente de pesquisa e receberam o protocolo da prática
(anexo1). Após esta apresentação o roteiro seguia para o Horto de Niterói e depois para
a área da Ilha da Conceição.
No primeiro quadrat o grupo responsável apresentou certa dificuldade
inicial pela falta de prática com metodologias científicas, mas após estas primeiras
dificuldades os outros grupos não apresentaram maiores dificuldades em cumprir as
tarefas designadas. Após a avaliação da área do Horto as planilhas de campo foram
recolhidas e os grupos seguiram para a área contígua à Ilha da Conceição. Nesta área as
tarefas foram desenvolvidas mais rapidamente devido a maior familiaridade com a
metodologia aplicada.
No dia 5 de outubro a turma participante fez uma apresentação em forma
de mesa redonda com a participação de professores e alunos, durante a programação da
Feira Integrada de Ciências. Cada um expôs seus resultados na forma de cartazes e foi
feita a comparação dos resultados. O debate sobre as possíveis causas das diferenças
transcorreu com os alunos como atores principais, os professores de Biologia e
Geografia presentes coordenavam as discussões e interferiam em casos específicos para
esclarecer dúvidas mais profundas.
Alguns dos comentários que surgiram durante a mesa redonda estão
transcritos abaixo:
- “Quanto menos árvores formando uma cobertura vai ser menos a umidade no
solo!”;
- “Na área da Ilha, onde o Homem refez a vegetação, as árvores estão todas
organizadas e só tem um tipo (espécie). Já na mata do Horto as árvores são mais
“desorganizadas”, mas tem mais variedade!”;
- “Na entrada da Ilha teve uma área que meu grupo analisou que só tinha grama e
formigas! O solo era muito seco!”;
- “No Horto vimos muitos pássaros voando, eles é que devem levar sementes de
um lado para o outro, misturando as espécies, por isso que tem varias árvores diferentes
em uma mesma área!”;

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- “No Horto o solo é mais úmido com restos de folhas se decompondo sobre ele,
ali as árvores são maiores, na Ilha o solo é seco e exposto, ali as árvores são bem
menores!”.

Depois dos comentários os alunos junto com os professores responsáveis


estabeleceram a relação entre os fatos observados e os conceitos teóricos. As relações
estabelecidas demonstraram que os conceitos didáticos apreendidos em sala de aula
foram facilmente correlacionados com os fatos observados nas áreas de estudo. Os
comentários entre os alunos despertaram em alunos de outras turmas o desejo de
participar de projetos semelhantes, o que demonstra que o objetivo de despertar o
interesse pela ciência foi atingido, bem como a integração entre os conceitos didáticos e
os fatos observados na prática.

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Cronograma

AGOSTO

- Elaboração do Projeto
- Confecção do Material a ser Utilizado

SETEMBRO

12 - Contato inicial a turma e apresentação do projeto e revisão do conteúdo


(2aulas)

26 - Práticas extra-muros em horários extra-escolares

OUTUBRO

05 - “Mesa Redonda” (2 aulas)


- Discussão dos resultados
- Elaboração do texto final

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Referência Bibliográfica

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. 1996. NBR


ISO 14001: Sistema de Gestão Ambiental - Especificação e Diretrizes para Uso.

BEGON, M., J.L. HARPER & C.R. TOWNSEND. 1990. Ecology: individuals,
populations and communities. Blackwell Sci. 912 p.

BROWER, J.E., ZAR, J.H. & von ENDE, C.A. 1998. Field and laboratory
methods for general ecology. 4 ed. Wm. C. Brown Publishers, Dubuque.

CAMPOS, A.J.M.. 2000. Impactos Ambientais: Uma abordagem histórica.


Publicações Internas EIAA, 45p.

GRIEG-SMITH, P. 1952. The use of random and contiguous quadrats in the


study of the structure of plant communities. Annals of Botany 16:293-316.

HOFSTEIN, A., ROSENFELD, S. 1996. Bridging the Gap between Formal


and Informal Science Learning. Studies in Science Education. v.28, p.87-112.

CAZELLI, S. 1992. Alfabetização científica e os museus interativos de


ciência. Rio de Janeiro: Departamento de Educação PUC/RJ. Dissertação de
Mestrado.

SONCINI, M.I. e CASTILHO, M. 1990. Biologia. Série: Formação de


Professores. S. Paulo: Cortez.

RICKLEFS, R.E. 1993. The Economy of Nature. Freeman. 576 p.

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ANEXO 1 - Roteiro de Práticas

Conceituação Teórica

Biodiversidade
Biodiversidade ou diversidade biológica (grego bios, vida) é a diversidade da
natureza viva. Desde 1986, o termo e conceito tem adquirido largo uso entre biólogos,
ambientalistas, líderes políticos e cidadãos conscientes no mundo todo. Este uso
coincidiu com o aumento da preocupação com a extinção, observado nas últimas
décadas do Século XX.
Refere-se à variedade de vida no planeta Terra, incluindo a variedade genética
dentro das populações e espécies, a variedade de espécies da flora, da fauna, de fungos
macroscópicos e de microrganismos, a variedade de funções ecológicas desempenhadas
pelos organismos nos ecossistemas; e a variedade de comunidades, hábitats e
ecossistemas formados pelos organismos.
A Biodiversidade refere-se tanto ao número (riqueza) de diferentes categorias
biológicas quanto à abundância relativa (equitabilidade) dessas categorias. E inclui
variabilidade ao nível local (alfa diversidade), complementariedade biológica entre
hábitats (beta diversidade) e variabilidade entre paisagens (gama diversidade). Ela inclui,
assim, a totalidade dos recursos vivos, ou biológicos, e dos recursos genéticos, e seus
componentes.

Abordagens da Biodiversidade
Para os biólogos geneticistas, a Biodiversidade é a diversidade de genes e
organismos. Eles estudam processos como mutação, troca de genes e a dinâmica do
genoma, que ocorrem ao nível do DNA e constituem, talvez, a evolução.
Para os biólogos zoólogos ou botânicos, a Biodiversidade não é só apenas a
diversidade de populações de organismos e espécies, mas também a forma como estes
organismos funcionam. Organismos surgem e desaparecem. Locais são colonizados por
organismos da mesma espécie ou de outra. Algumas espécies desenvolvem organização

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social ou outras adaptações com vantagem evolutiva. As estratégias de reprodução dos


organismos dependem do ambiente.
Para os ecólogos, a Biodiversidade é também a diversidade de interações
duradouras entre espécies. Isto se aplica também ao biótopo, seu ambiente imediato, e à
ecorregião em que os organismos vivem. Em cada ecossistema os organismos são parte
de um todo, interagem uns com os outros mas também com o ar, a água e o solo que os
envolvem.

Sucessão Ecológica
Sucessão ecológica é o nome dado à seqüência de comunidades, desde a
colonização até o clímax para determinado ecossistema.
As espécies de cada etapa podem ser diferentes, ou podem conviver em estratos
diferentes na comunidade clímax.
Existem dois tipos de sucessões: as primárias, quando a evolução se dá a partir da
rocha nua, ou secundárias, quando estas se dão após um desastre ambiental,como por
exemplo um incêndio ou uma inundação.

Impacto Ambiental
De acordo com a definição da NBR ISO 14001:1996, Impacto Ambiental é
qualquer alteração benéfica ou adversa causada pelas atividades, serviços e/ou produtos
de uma organização, ou seja, é qualquer interferência antrópica no meio.

Ecossistema
Ecossistema (grego oykos, casa) designa o conjunto formado por todos os
organismos vivos (fatores bióticos) que habitam numa determinada área, pelas condições
ambientais (fatores abióticos) dessa área, e pelas relações entre as diversas populações e
entre estas e o meio.

Cadeia e Teia Trófica


A cadeia alimentar ou trófica é a maneira de expressar as relações de alimentação
entre os organismos de uma comunidade, iniciando-se nos produtores e passando pelos
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herbívoros, predadores e decompositores, por esta ordem. Ao longo da cadeia alimentar


há uma transferência de energia e de nutrientes, sempre no sentido dos produtores para
os decompositores. No entanto, a transferência de nutrientes fecha-se com o retorno
dos nutrientes aos produtores, possibilitado pelos decompositores que transformam a
matéria orgânica em compostos mais simples, pelo que falamos de um ciclo de
transferência de nutrientes. A energia, por outro lado, é utilizada por todos os seres que
se inserem na cadeia alimentar para sustentar as suas funções, não sendo reaproveitável.
Esse processo é conhecido pelos ecologistas como fluxo de energia.
A posição que cada um ocupa na cadeia alimentar é um nível hierárquico que os
classifica entre produtores (como as plantas), consumidores (como os animais) e
decompositores (fungos e bactérias).
Porque frequentemente cada organismo se alimenta de mais de um tipo de
animais ou plantas, as relações alimentares (também conhecidas por relações tróficas)
tornam-se mais complexas, dando origem a redes ou teias alimentares, em que as
diferentes cadeias alimentares se inter-relacionam.

Atividades Práticas

1) Formação dos Grupos:


Organizar grupos de 10 alunos
Atribuir a cada integrante uma responsabilidade (montagem, coleta de dados,
anotação; a elaboração do relatório será responsabilidade de todo o grupo).

2) Montagem dos Quadrats:


A montagem dos quadrats será feita com uma corda de 12 metros marcada a cada
3 metros. (Como no esquema)
Cada marcação deverá ser o vértice do quadrat e ficará fixada ao solo com uma
estaca de madeira.

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A localização do quadrat será aleatória, mas devendo estar distante da área


“quadrateada” por outro grupo!

3) Coleta de Dados
Em papel quadriculado deverá ser feito um esquema em escala do quadrat;
Nos esquemas deverão ser identificadas as espécies vegetais presentes na área e
sua localização no quadrat (para cada espécie utilizar uma marca diferente).
Anotar a presença de animais sobre o solo, se houver.
Anotar o porte da vegetação local (pequeno, médio e grande porte).
Anotar a umidade do solo
Verificar a cobertura da área pelas copas das árvores formando dossel (percentual
aproximado)

4) Apresentação e Análise dos Resultados


Cada grupo deverá confeccionar um cartaz com seus dados;
Estabelecer as diferenças entre os dados obtidos na área do Horto e na área de Ilha;
Verificar a distribuição dos vegetais (isolados, agregados, em manchas, uniforme).
Estabelecer hipóteses para explicar tais diferenças;
Estabelecer uma correlação entre a umidade do solo e a cobertura vegetal.

3m

Vegetal A

Vegetal A
3m

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