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Universidade Rovuma
Extensão de Niassa
2020
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Universidade Rovuma
Extensão de Niassa
2020
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INTRODUÇÃO
Sendo a geografia uma ciência que tem como finalidade de estudo a superfície terrestre e
proporciona à sociedade uma visão em termos de relações homem-natureza quanto ao espaço,
suas transformações em benefício a si próprio. Neste âmbito, a geografia provê à sociedade
uma visão mais vasta e profunda em relação ao ambiente cativante e suas transformações,
onde a mesma mostra a sua contribuição e comprometimento como disciplina no Ensino
Secundário Geral, na estruturação de uma sociedade igualitária, a que tem como objectivo
auxiliar na formação de cidadãos responsáveis, activos e dotados de opinião própria.
A escolha do tema justifica-se pelo facto de a escola estar virada para o reconhecimento da
diversidade cultural, também marcada pela experiência de docência vivida no decorrer do
estágio pedagógico na escola em estudo e o conhecimento adquirido através de leituras. Por
ser hoje um assunto muito questionado nos espaços educativos. Nesta razão articulada com a
experiência da docência vê-se uma necessidade de ligar os saberes culturais locais com os
saberes curriculares para tornar a prática pedagógica mais próxima do quotidiano do aluno.
Durante as práticas pedagógicas vivenciou-se que há falta de inclusão dos saberes locais no
processo de ensino e aprendizagem de Geografia física de Moçambique na “Fitogeografia –
Preservação e conservação da vegetação” o que, traz o distanciamento da escola e
comunidade facto que influencia negativamente na assimilação dos conteúdos leccionados.
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H3: A forma de inclusão de saberes locais nas aulas de geografia sobre a fitogeografia pode
proporcionar um currículo tendo em vista a formação de cidadãos conscientes, capazes de
compreender, criticar a realidade, actuando na busca da superação das desigualdades e do
respeito ao ser humano.
Sob ponto de vista da abordagem, a pesquisa é qualitativa, pois permitiu uma relação
dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo
objectivo e a subjectividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. Assim, os
dados da pesquisa foram interpretados e avaliados a partir das respostas que foram obtidas
durante a pesquisa segundo a forma de abordagem do problema.
Quanto aos objectivos, é explicativa pois caracterizou-se pelo registo, analise e explicação
sobre as possibilidades e importância de inclusão de saberes locais de fitogeografia na
preservação e conservação da vegetação na ESG de Chiulugo.
O trabalho destaca alguns métodos de procedimentos nos quais foram usados para facilitar a
aquisição de informações referentes ao tema, para que de uma forma precisa possamos
encarar e explicar o tema com mas detalhe (método bibliográfico, cartográfico e
comparativo). O método bibliográfico possibilitou em fazer consulta documental para a
construção do marco teórico, o cartográfico permitiu na confecção do mapa da área de estudo
e o comparativo foi pertinente na comparação das diferentes metodologias utilizadas pelos
professores na leccionação de conteúdos referentes a inclusão dos saberes locais na
preservação e conservação da fitogeografia local.
Esta monografia encontra-se estruturada da seguinte forma: Introdução: onde faz a descrição
da problematização, objectivos definidos e a metodologia empregue na pesquisa, e seguido de
três (3) capítulos distintos. O primeiro capítulo, revisão da literatura: são definidos os
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conceitos básicos e a discussão dos principais pontos teóricos sobre a temática da pesquisa. O
segundo capítulo, caracterização da área de estudo: são descritos os aspectos físicos-naturais e
sócio-económicos da área. O terceiro capítulo, apresentação, análise e discussão de dados:
discute os resultados apurados durante o trabalho de campo. Fim da discussão de dados,
apresenta-se as conclusões e a bibliografia.
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Neste capítulo, fez-se a revisão da literatura segundo a discussão de alguns teóricos que
ressaltam sobre a definição de conceitos básicos conceitos básicos da inclusão dos saberes
locais, preservação e conservação fitogeografica, as possibilidades e importância de inclusão
de saberes locais de fitogeografia na preservação e conservação da vegetação.
O termo saber significa ter conhecimento. No sentido fenómeno lógico conhecer é ter
consciência de alguma coisa, é aprender o objecto. É captar os fenómenos e as suas diversas
manifestações. Os saberes são um conjunto de enunciados que carregam consigo mesmas
noções de saber ser e estar, saber fazer, saber conhecer.
É nessa abordagem que LYOTARD (1989:43), advoga que “os saberes se fundamentam na
competência que excede a determinação e aplicação do mero critério da verdade”. Os saberes
dizem respeito à eficiência, a justiça e felicidade, a normalidade”.
De acordo com o autor percebe-se que o saber “é aquilo que torna qualquer pessoa capaz de
proferir bons enunciados avaliativos”. Isto é o saber é mais abrangente ele inclui enunciados
científicos e culturais que de facto estes últimos são incorporados em saberes locais. O termo
“local” referido no contexto do saber local não se refere apenas ao espaço localizado
geograficamente, mas aos discursos educativos produzidos por pessoas de uma determinada
comunidade. Refere se aos discursos de pertença comunitária que desempenham uma função
na educação dos jovens da mesma comunidade. Local tem um carácter regional e caracteriza
os residentes de uma determinada comunidade, ou cultura situada no espaço. Desta forma, a
selecção de conteúdos pode, pois, incluir a matéria que não sendo meramente local do ponto
de vista geográfico, se afigura relevante a sua aprendizagem no contexto da comunidade.
O saber local dá-se dentro do universal e vice-versa é por isso que LYOTARD (1989:43),
relaciona o saber local com o saber científico. Ele entende que o saber científico não é só o
conjunto de enunciados, mas também “o saber voltado à vida quotidiana e a escola tem a
obrigação de ensinar esse saber. O saber escolar é abrangente e prático e diz respeito à vida da
localidade”.
através de ritos, danças, celebrações da makeya1, fábulas, mitos entre outros. Portanto,
embora se apresentem como história colocada nos primórdios da criação, os saberes locais
não tem em vista o passado, mas o presente dando os conhecimentos científicos um sentido
pleno. Abordagem sobre os saberes locais não é totalmente uma coisa nova no sistema
escolar.
O currículo colonial já previa a integração dos saberes locais. E a partir desta perspectiva, os
antropólogos missionários discursavam em volta dos saberes locais, das culturas locais e das
línguas locais. Porém, os objectivos e métodos pautavam-se no processo de evangelização e
dominação portuguesa. A cultural local era tomada como uma questão estratégica para
converter assimilar os africanos. A intenção era usar os saberes locais para realizar com
facilidade o processo de colonização e de conversão (CASTIANO, 2005).
Actualmente, retoma-se a questão dos saberes locais não para instrumentalizá-los, mas Para
encontrar o seu estatuto epistemológico e resgatar o seu significado intrínseco para a escola. É
por resgate que se pode afirmar que os saberes locais têm um corpo de verdades legítimas
para aprendizagem escolar.
A relação que o autor que se tem vindo a citar faz entre o saber local e o saber científico é
legítima porque o saber se auto-afirma como saber científico recorrendo ao saber local, por
isso este afirma ainda que o "saber científico não pode saber e fazer saber que ele é o
verdadeiro saber sem recorrer ao outro saber narrativo, que é para ele o não saber e em caso
de ausência ele é obrigado a pressupor-se a si mesmo, caindo assim no que condena a
repetição do próprio, o preconceito. No entanto, querendo mostrar que para a construção do
saber científico é preciso recorrer-se a outras formas de saber que são empíricas de forma a
avançar com a sistematização, GEERTZ (1997:10), defende que “as formas de saber são
sempre e inevitavelmente locais, inseparáveis de seus instrumentos e de seus invólucros”.
Contudo, esta abordagem que o autor coloca nos remete a ideia de que os saberes locais se
manifestam através de uma série de formas simbólicas, facilmente observáveis, um repertório
elaborado de designações que se manifestam e se sistematizam no processo de ensino e
aprendizagem.
1.2. Fitogeografia
dos seres vivos de acordo com as condições climáticas e com a dependência das
possibilidades de adaptação.
Sendo RIZZINI (1997), afirma que, a fitogeografia (do grego φυτο, phyto = planta e
γεωγραφία, “geografia” que significa também distribuição) ou geografia botânica é o ramo da
biogeografia que se preocupa com a distribuição geográfica das espécies de plantas e sua
influência na superfície terrestre.
Relativamente ao currículo local, este serve-se como base para a sua integração e auto-firmar-
se como parte integrante no PEA. O currículo local resulta de conteúdos recolhidos na
comunidade através de entrevistas dirigidas aos intervenientes da educação. Nesta linha de
pensamento, CASTIANO (2003:5), diz que “o imperativo de introduzir os conteúdos locais
foi expresso por diferentes grupos sociais com objectivo de eliminar o deficit epistemológico
oferecendo ferramentas ao aluno para a leitura e interpretação dos fenómenos naturais,
sociais da região”.
O INDE (2003:1), por sua vez, define currículo local como sendo: “Uma componente do
currículo nacional correspondente a 20% do total do tempo previsto para a leccionação de
cada disciplina. Esta componente é constituída por conteúdos definidos localmente como
sendo relevantes, para a integração da criança na sua comunidade”.
A intenção com o currículo local é, sem dúvidas, abrir mais espaço para os saberes locais
entrarem na escola. Nesta perspectiva, CASTIANO (2005:192) volta a referir que “o
Currículo local é um critério de ensino que facilita o aluno a viver os seus usos e costumes,
aprender a fazer e conservar os ensinamentos que a sociedade oferece, sobretudo ajudar a
obter prática e aplicação”.
O currículo local tem como principal objectivo a formação de cidadãos capazes de contribuir
para a melhoria da sua vida, da vida da sua família, da sua comunidade e do seu pais, tendo
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em conta as necessidades e potencialidades locais. O currículo tem sido o meio pelo qual as
sociedades têm determinado ontologicamente o tipo de homem que pretendem.
Os saberes locais são a base do meio humano vivido como constitutivo do conteúdo e elas são
solidificados e cristalizados pelas comunidades para a sua transmissão às gerações vindouras
e este saber é explorado dentro de um contexto curricular que é o currículo local.
A Geografia é uma Ciência que estuda, descreve e interpreta os fenómenos que ocorrem na
superfície terrestre. Pela sua natureza ela dedica-se à distribuição desses fenómenos no globo.
Ela possui alguns conceitos chaves capazes de sintetizar o seu objectivo, como ciência social
a geografia tem como sua preocupação o estudo da sociedade, englobando cinco conceitos-
chave num parentesco bem próximo modelando a superfície terrestre em paisagem, região,
espaço, lugar e território.
“É uma ciência de síntese, isto é, capaz de interpretar os fenómenos que ocorrem sobre a
face da terra, com a ajuda de um instrumental proveniente de uma multiplicidade de ramos
do saber...” SANTOS apud MAPATSE, (2006:19).
Desta forma, conhecer o aluno como ser sócio-cultural, mapear os cenários exteriores da
Geografia escolar com os quais os alunos vivenciam seu tempo, seu espaço e seu mundo,
pensar sobre seus olhares em relação à Geografia no espaço escolar, e comunitário são
proposições para se pensar essa disciplina e ampliar as reflexões sobre as dimensões do
currículo, conteúdo-forma e o ensino-aprendizagem oferecidos aos alunos. Reflectir sobre o
ensino da Geografia, partindo da consciência da época em que vivemos, significa pensar
também no aluno que está em sala de aula como sujeito desse contexto histórico-cultural
complexo e dinâmico.
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O saber geográfico busca abordar os conflitos entre a Geografia Física e a Geografia Humana.
Esta disciplina é a única entre as ciências humanas a ter em conta os aspectos físicos do
planeta e analisar os processos que se desenvolvem na natureza e na sociedade individual e
colectiva. Os conceitos que a utiliza sofrem mudanças ao longo do tempo onde seus interesses
e raciocínios, e muitas vezes individualizados e contextualizados.
Ora, em relação ao acima exposto, é importante notar que para ministrar uma aula é preciso
uma acção didáctica ena perspectiva de KARLING (1991: 34), “ a didáctica é a ciência, a
técnica e a arte de bem orientar a aprendizagem e de conseguir que o aluno queira aprender ”.
Num outro desenvolvimento o mesmo autor acrescenta que a didáctica é ciência, enquanto se
fundamenta em princípios científicos. É técnica, enquanto aplica princípios na acção docente.
A didáctica ensina como o professor deve agir para conseguir que o aluno aprenda da melhor
forma possível. A didáctica dará a orientação de como proceder em sala de aula. Ela indica
quais são as técnicas mais eficientes.
A geografia física, tão valorizada na geografia tradicional, foi esquecida durante um bom
tempo durante a renovação e o surgimento da Geografia Crítica. Hoje percebemos um retorno
de seu ensino, inicialmente pela necessidade de se discutir a questão ambiental, e
posteriormente com uma perspectiva da integração e conhecimento real e profundo da
realidade na qual os alunos estão inseridos (AFONSO, 2009).
É preciso cada vez mais repensar os conteúdos na sala de aula, buscar essa visão integrada do
espaço. O conhecimento adquirido na vida extra-escolar deve ser incorporado e organizado
pelo professor de forma coerente e relevante para que seja possível melhorar cada vez mais a
relação professor-aluno e, logicamente, o processo de ensino-aprendizado.
Torna-se cada vez mais importante que o professor seja capaz de transitar de forma crítica e
criativa na sua área de conhecimento específico e seja capaz de dialogar com as demais áreas
do conhecimento, isto é, respeitando as especificidades disciplinares, porém pensando de
maneira conjunta numa totalidade dinâmica e respeitando o seu objecto de estudo: sociedade e
natureza(AFONSO, 2009).
O enfoque dos saberes locais deve se as duas razões: a primeira, revitalizar o valor intrínseco
dos saberes locais, e o segundo eles, favorecem a inserção do aluno na sua comunidade. A par
da categorização, um autor contemporâneo escreve sobre a tipologia dos saberes locais, trata-
se de:
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Aprender a conhecer;
Aprender a fazer;
Aprender a viver juntos ou aprender a viver com os outros;
Aprender a Saber.
A grande preocupação do autor ao referir estes tipos de saberes é desenvolver a educação para
a vida e para o mundo de trabalho. Daí que refere que:
(i) Aprender a conhecer oferece ao aluno a estrutura lógica que lhe permite ler e interpretar o
mundo. Com este saber o aluno lança se a descoberta, isto leva a compreender o ambiente que lhe
rodeia. Sob ponto de vista local os mais velhos ensinam os mais novos a interpretar os fenómenos
como a chuva, doenças, falta de chuva, origem dos lugares míticos e os rios mais importantes da
comunidade. O aumento de saberes sob diversos aspectos leva a compreender melhor o ambiente,
favorece o despertar da curiosidade intelectual, estimula o sentido crítico e compreende o real
mediante a aquisição de autonomia na capacidade de discernir.
(ii) Aprender a fazer responde à questão como se faz algo, é um saber prático. Responde a
questão de como se faz algo e está ligado ao profissionalismo. O saber fazer bem tem uma
dimensão técnica: a do saber e do saber fazer, isto é do domínio dos conteúdos de que o
sujeito necessita para desempenhar o seu papel, aquilo que se quer deste socialmente
articulado com o domínio com a técnica, das estratégias que permitem que ele ‘dê conta do
seu recado em seu trabalho.
No contexto geográfico, este tipo de saber materializa-se na medida em que o aluno antes de
aprender na escola, tem conhecimento de técnicas de combate à erosão na sua comunidade
(usa sacos, planta relva abre canais de circulação de água entre outras), conhece e cuida das
florestas e lugares sagrados da sua comunidade, pratica a agricultura, sabe quando e como
colocar a semente na agricultura, todavia lhe falta saber o porquê de colocar a semente
naquele lugar e não noutro; porque é que um solo produz e outro não; saber quando e quais os
sinais da chuva, mas não sabe porque é que chove mais num momento e noutro não; enfim
conhece os objectos e não os conceitos, desta forma o papel dos educadores deve ser de
conciliar o objecto conhecido pelo aluno com o conceito contido nos programas de ensino, ou
seja, no saber escolar criando, deste modo, um “espaço de coexistência.
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(iii) Aprender a viver junto para levar o aluno a tomar consciência das semelhanças e da
interdependência entre os seres humanos e o meio onde vive, este saber do ponto de vista
geográfico, leva ao reconhecimento do aluno como um ser social e que deve respeitar as
dinâmicas populacionais com os recursos que o meio disponibiliza para a sobrevivência, sob
ponto de vista local, portanto, leva o aluno a aprender e ocupar de forma sadia o espaço
geográfico e os outros elementos espaciais como partes integrantes do mesmo sistema e que
precisa-se respeitar e reconhecer os seus atributos diante de todo um conjunto, vivendo em
harmonia com a natureza e os outros seres. A educação tem por missão, por um lado,
transmitir conhecimento sobre a diversidade da espécie humana e, por outro, levar as pessoas
a tomarem consciência das semelhanças e da interdependência entre os seres humanos do
planeta.
(iv) Aprender a ser para que o aluno desenvolva os juízos de valor para agir com prudência
na sociedade. Trata-se do conhecimento ético comportamental do reconhecimento do valor
das pessoas e das coisas, por exemplo, dentro de uma comunidade que encontramos florestas
tradicionais ou mesmo uma árvore sagrada é um mito indicativo que leva a conservação de
uma determinada espécie. Dentro de uma comunidade encontramos um leque de saberes que
tem como finalidade cultivar um comportamento socialmente aceitável.
Aqui o aluno aprende a desenvolver juízo de valor para agir com prudência na sociedade.
Estes saberes categorizados pelo autor levam-nos aferir que para a formação de um cidadão
íntegro e participativo de uma determinada sociedade é preciso explorar os saberes veiculados
localmente em consonância com os escolares de forma a contribuir para a resolução dos
problemas e melhoria da vida das comunidades, visto que onde está o problema lá está a
solução do mesmo, só basta explorar os respectivos mecanismos de resolução.
A relação entre os saberes escolares e locais é estabelecida na escola à medida que estes se
cruzam. Esse cruzamento é necessário porque os saberes escolares são o eixo do sistema de
educação universal formal e os saberes locais são a base da educação informal, estes últimos
atravessam os primeiros e pela sua relevância são indispensáveis para a aprendizagem, portanto
esta é uma relação de complementaridade.
Para explicitar a relação entre os saberes locais e escolares apresenta-se um quadro baseado na
tipologia de Delors (Tabela 1).
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Para posicionar os saberes locais no conhecimento escolar dado que a criança deve atender a
cultura local e os grupos sociais eliminando a distância entre o local e o universal, é nessa
senda que LYOTARD (1989:93), relaciona o saber local com o saber científico. Ele entende
que “o saber científico não é só o conjunto de enunciados, mas também o saber voltado à vida
quotidiana e a escola tem a obrigação de ensinar esse saber. O saber escolar é abrangente e
pratico e diz respeito a vida da localidade”.
A relação que o autor acima referido faz entre o saber local e o saber científico é legítima
porque o saber se auto-afirma como saber científico recorrendo ao saber local, por isso ele
advoga também que “o saber científico não pode saber e fazer saber que ele é verdadeiro
saber sem recorrer a outro saber, narrativo, que é para ele o não saber, cuja ausência ele é
obrigado a pressupor-se a si mesmo, Caindo assim no que condena, a repetição do próprio, o
preconceito”.
A geografia é por excelência uma disciplina que permite a ligação entre a teoria e a prática. O
seu objecto de estudo é a superfície terrestre, onde ocorrem vários fenómenos físico-naturais e
humanos. O ensino de Geografia como disciplina especifica tem seu inicia na 8ª classe onde o
programa preconiza uma Geografia física Geral com o objectivo principal de levar o aluno a
conhecer a sua espacialidade com a aplicação dos conceitos básicos da disciplina. Na 9ª classe
é discutida a Geografia económica geral, com objectivo de explicar e interpretar os
fenómenos humanos de forma o aluno compreender as dinâmicas espaciais do seu ambiente e
fazer analogia com o espaço global e por fim na 10ª classe entra-se para a geografia regional
com vista a fazer um cruzamento significativo entre os fenómenos físicos e humanos e suas
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Portanto, o programa de geografia 10ª classe reflecte uma selecção de conteúdos ordenados
pelas comunidades, portanto, este saber se reflecte num conjunto de problemas que
afectam a comunidade e que a escola se traduz num centro da busca de soluções, mas só
é possível buscar soluções depois do estudo e recolha do real problema que afecta a
comunidade através da exploração dos saberes locais.
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A cobertura de Moçambique pela vegetação natural deve-se, por um lado, a sua localização
geográfica e por outro, a diferentes factores, tais como: latitude, altitude, geologia, clima,
solos, entre outros. Razão pela qual, apresenta diferentes tipos de formações vegetais.
Esta região caracteriza-se por apresenta uma riqueza florística avaliada em cerca de 8.500
espécies das quais 4.590 são endémicas, o correspondente a 54% e uma diversidade de
formações vegetais, tais como: florestas abertas de miombo, floresta de montanha, floresta
galeria, floresta aquática( mangal), savanas ,mata indiferenciada, entre outras.
Também tem a sua representatividade nas três regiões do território nacional: -Norte- cobre
zonas marginais dos principais rios, litoral da foz do Rovuma até próximo de Angoche.
-Centro- depois duma relativa interrupção de um percurso de 160km, reergue-se do rio Raraga
até ao rio Save. -Sul- do rio Save volta a alargar-se até terminar próximo do rio Limpopo.
Nesta região, há cerca de 3.000 espécies embora não sejam endémicas. Em termos de
formações vegetais, destacam-se: florestas fechadas e abertas, floresta sempre verde, floresta
semicaduca, floresta de folha caduca, floresta galeria, brenhas, e pradarias.
Compreende a zona costeira, do rio Limpopo a Ponta do Ouro com uma largura variável entre
35 a 90 km , acompanhando a linha da costa. Nesta região ocorrem formações vegetais tais
como: florestas abertas e fechadas, flora aquática ou seja mangal e gramíneas turfosas com
uma altura acima de 1 metro.
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Savana: é uma formação vegetal menos desenvolvida com três estratos, elas são típicas das
zonas de fraca precipitação e com aspecto diferenciado, de acordo com a sua constituição,
assim distingue-se: Savana herbácea com domínio de estrato herbáceo de gramíneas ou
capim. Savana arbustiva o estrato de arbustos é dominante em relação aos outros (herbáceo e
arbóreo). Savana arbórea apresenta os três estratos, sendo o de árvores o mais dominante.
Floresta galeria desenvolve-se ao longo das margens dos rios com um aspecto de um túnel,
trata-se duma vegetação que se confunde com a floresta densa, ocorrendo principalmente nas
regiões Norte e Centro. Estepe- é uma formação vegetal muito menos desenvolvida e típica
das zonas sob influência de climas tropical seco e semi-árido que ocorrem principalmente nas
terras do interior das províncias de Inhambane, Gaza, Maputo e Sul de Tete.
Flora Aquática/Mangal: cresce ao longo da costa, sobre solos halomórficos (salgados) sob
influência das marés, ventos marítimos e descargas dos rios. O seu aspecto vegetativo varia
entre arbustivo e arbóreo.
Pradaria: formação vegetal principalmente de gramíneas baixas de altura que vai até um
metro e desprovida de arbustos e árvores. Ela desenvolve-se em zonas planas de solos
aluvionares de textura média e fina que se sujeitam às inundações em regiões depressionárias.
Flora cultural: refere-se a espécies vegetais seleccionadas pelo Homem segundo o seu valor
socioeconómico e cultural. Fazem parte da flora cultural espécies como: fruteiras, cereais,
oleaginosas e árvores de sombra.
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Ainda como parte da definição de fitogeografia, TRAPPMAIR (1976), ressalvou que neste
caso devem ser considerados os aspectos dinâmicos dos processos que se desenvolvem
continuamente na natureza, foto especialmente acentuado nos seres vivos.
MARTINS (1985), relembra que o interesse pela área de fitogeografia não é um facto recente.
O filósofo grego Aristóteles foi um dos pioneiros neste ramo ao fazer uma classificação
zoológica e estudar a fauna e flora na região do mar mediterrâneo.
São estes factores que influenciam decisivamente na distribuição das diferentes espécies em
todo o nosso território. O crescimento das plantas depende muito do clima, isso é, das chuvas
e da temperatura. Nas zonas onde chove muito a vegetação é densa, exuberante,
contrariamente aos lugares onde a chuva é pouca, sendo que aí a vegetação é escassa. Tendo
em conta os factores atrás citados, podemos encontrar no nosso território florestas, savanas,
estepes e mangal.
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Segundo MAE (2005), o clima da área de estudo abrange as zonas planálticas e montanhosas
de Lichinga, A temperatura média anual está compreendida entre os 18 e 24°C, mas em geral
é inferior a 22°C. o valor médio anual da precipitação é superior a 1200 mm podendo exceder
este valor e atingir os 1400 mm de chuva. As deficiências hídricas são geralmente baixas (um
a três meses) e a evapotranspiração potencial é igual ou inferior a 1300mm. Corresponde s
terras altas, acima dos 1000 metros de altitude onde se encontram as zonas altiplanalticas e
montanhosas com destaque para o planalto de Lichinga. A descida para o Lago Niassa é
abrupta, passando-se, em menos de 15 km, dos 1300 aos 480 metros (nível do lago).
Nas florestas encontram-se várias espécies de árvores. Ocorrem de modo igual vastas áreas de
miombo - o tipo de mata mais extenso na África Austral. A área é classificada como mata
húmida de miombo ou planalto norte de miombo semi-decíduo. Junto às povoações, as matas
são geralmente abertas, encontrando-se em processo de regeneração, após terem sido durante
vários anos intensivamente exploradas para a prática da actividade agrícola e combustível
lenhoso. Áreas extensas de mata secundária ocorrem a oriente do rio Lucheringo e em
algumas áreas próximas às estradas e aldeias (MAE, 2005).
De acordo com o CENSO 2017, o distrito de Lichinga é composto por 1,865,976 habitantes
sendo 105,084 homens e 108,277 mulheres. O Posto Administrativo de Meponda conta com
uma população de 98,313 habitantes, desse universo, 44,603 são homens e 53,710 mulheres
(INE, 2017).
O fomento pecuário do distrito tem sido fraco Porém dada a tradição na criação de gado e
algumas infra-estruturas existentes, verificou-se algum crescimento do efectivo pecuário. As
mulheres do distrito esto envolvidas na venda de alimentos, lenha e carvão. Os homens
vendem alimentos e tecidos. No que respeita a pequena indústria, existem algumas
carpintarias onde são produzidas para venda, portas, janelas, cadeiras e mesas.
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O distrito de Lichinga conta com linhas férreas e uma rede de estradas que comporta cinco
estradas. Estas estradas facilitam o movimento das pessoas e as comunicações entre os Postos
Administrativos, sede distrital, posto de saúde e escolas, a implementação de programas de
ajuda de emergência, acesso a água potável e o comércio em Lichinga.