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INSTITUCIONAIS EM TERESINA - PI
RESUMO
Com a pesquisa científica realizada sobre a arquitetura moderna de prédios institucionais em Teresina-PI foi
possivel se deparar com um acervo arquitetônico rico de grande qualidade trazendo de maneira geral, valor à
documentação. A metodologia utilizada é coerente à orientação e ao método empregado no grupo de pesquisa
“Modernidade Arquitetônica” da Universidade Federal do Piauí, cadastrado no CNPq e orientado pela arquiteta,
professora doutora em projetos arquitetônicos pela ETSAB/ UPC, Alcilia Afonso de Albuquerque Costa,
seguindo os métodos do departamento de projetos arquitetônicos da Escola Técnica Superior de Arquitetura de
Barcelona, ETSAB/ UPC da linha “la forma moderna”.
Este trabalho pretende apresentar a importância e necessidade dos arquivos de arquitetura, para uma
preservação e documentação da produção arquitetônica realizada em Teresina-PI, com intuito de difundi-la ao
panorama regional e nacional.Sendo possivel criar um efeito comparativo, demostrando que o Movimento
Moderno ainda dá as bases para uma produção contemporânea, justificando os conceitos projetuais. E que
apenas através da pesquisa de documentação pode-se realizar estas tarefas, de ter a compreensão de toda
evolução e absorver a formação da arquitetura no estado.
Palavras-chave: arquitetura moderna , documentação , arquitetura em Teresina -PI.
1. INTRODUÇÃO
A intenção deste trabalho é de documentar e resgatar o patrimônio arquitetônico da cidade
de Teresina, aprofundando a investigação de um acervo moderno teresinense, que se
mostra bastante relevante na história local, mas que por muitas vezes, por falta de
conhecimento a respeito da sua importância, por parte das instituições e da comunidade, é
destruído e descaracterizado.
O objetivo geral a respeito da produção arquitetônica moderna teresinense é observar a
linguagem arquitetônica e projetual criada para a adaptação de uma linguagem universal em
uma realidade sócio cultural, geográfica e econômica local. Por isso a necessidade da
realização dos levantamentos arquitetônicos das obras exemplos , para que se possam ser
devidamente analisados através de um levantamento composto por material fotográfico,
projetos, desenhos originais, textos, entrevistas, que são coletados em arquivos pessoais e
institucionais. E, por fim, a possibilidade de divulgação dos mesmos.
No estudo foram ressaltados os valores arquitetônicos de cada obra, análises projetuais,
construtivas, técnicas, bem como soluções climáticas típicas da arquitetura moderna
construída no nordeste brasileiro, mostrando que o conhecimento, estudo e a pesquisa
podem contribuir na produção contemporânea. As obras escolhidas foram as primeiras de
uma lista crescente de prédios ainda a serem analisadas, e tratam de obras institucionais
como o Fórum Judiciário de Teresina projeto por Acácio Gil Borsoi, DER –Departamento de
Estradas e Rodagens do Piauí projetado por Maurício Sued, Centro Administrativo do Piauí
pelos arquitetos mineiros Marcus Vinícius Rios Meyer, Márcio Pintos de Barros e Raul de
Largos Cirne e arquiteto piauiense Raimundo Dias e o Instituto de Educação Antonino Freire,
realizado pelo arquiteto Antonio Luiz Dutra.
Seguindo a linha histórica, a transferência da capital teve como um dos maiores desafios da
construção da nova cidade a falta de recursos econômicos para a construção dos edifícios
públicos e privados. Nos primeiros anos da cidade os órgãos públicos como o Palácio
Governamental funcionaram em casas alugadas. O hospital da Caridade, uma importante
instituição pública, funcionava no Quartel da polícia, e obras como o Mercado Público e o
Cemitério só tiveram suas obras finalizadas aproximadamente no ano de 1862.
A cidade de Teresina quando comparada às demais capitais brasileiras de origem colonial
teve seu crescimento intensificado apenas no período de 1900 a 1940, quando o
desenvolvimento econômico permitiu as melhorias urbanas, trazidas com a modernização
estatal.
A produção arquitetônica observada nas primeiras construções prédios de grande parte é a
adoção pelo gosto da arquitetura eclética, a cidade tornava-se cheia de palacetes, com
residências e prédios públicos trabalhados, “com intenções decorativas sem rigor e com
maior liberdade plástico formal” (AFONSO 2002 ,p. 41)
Antes do período do Estado Novo (1937 a 1945), novas estruturas, principalmente
institucionais, mostravam uma arquitetura destoante com a predominante, em que linhas
mais retas contrastavam com o convencional, estas de modo discreto retiram os exageros
nas decorações; um bom exemplo foi a obra do Hospital Getúlio Vargas, localizado
atualmente na Avenida Frei Serafim, principal eixo de ligação da área central a zona leste,
que iniciou o processo e tornou esta área da cidade referência e mais tarde, pólo de saúde
da região, foi construído em um estilo mais uniforme do modo sóbrio sem ornatos em suas
fachadas.
A partir de 1970 a arquitetura moderna em Teresina começa a ganhar novas produções, os
prédios modernos que caracterizam uma nova visão do desenvolvimento, marcos das
modificações das ideologias em que as transformações ocorriam em todo o país.
3. ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA E AS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS
“Algumas enormes diferenças assinalam, (...) o nosso modernismo: a boa condição
econômica do Brasil, o desejo de o governo buscar uma nova fase para a capital
federal e uma brilhante geração de intelectuais e arquitetos, com penetração nas
brechas do aparelho cultural do estado, que transformaram o estilo em uma nova
linguagem, inconfundivelmente brasileira e universal.” (CALVALCANTI,2001,p.12)
A modernidade espelhada nas vanguardas européias, no âmbito da arquitetura, está quase
sempre vinculada a uma variação do ecletismo e do neocolonial; mas a produção moderna
brasileira apesar de passar por todos os contratempos apresenta-se como produção forte e
marcante chegando a refluir a hemisfério norte como analisado por Cavalcanti (2001).
Os discursos com sentidos revolucionários dos governos brasileiros após a década de 1930,
principalmente durante o governo do presidente Getulio Vargas, mostram o país com idéias
inovadoras, com modificações em todo o sistema político–administrativo. A busca de uma
maior agilidade nas produções e o crescimento acelerado em alguns setores movimenta em
conseqüência o setor da construção civil. Os interesses não eram apenas na construção de
novos prédios para realização de suas atividades, mas de estruturas que representassem
também esteticamente as novas concepções dos ideais do progresso.
As instituições e obras públicas foram as primeiras a serem construídas com características
marcantes desse novo modo de pensar, claro que ocorreram grandes divergências entre os
valores antigos, antes defendidos que o estilo clássico deveria ser seguido. Mas conforme
escreveu Segawa (2002,p.66) “Nos anos de 1930, conceitos de funcionalidade, eficiência e
economia na arquitetura – termos próprios de equações racionalistas- tiveram firmes
aplicação em obras públicas” .
E foi exatamente esta proposta do novo e da racionalização, trazidos com a vanguarda
moderna, que se encaixaram nos interesses políticos vigentes. A arquitetura monumental
também foi produzida com grande valor plástico pelos modernos, e transformando os
cenários que seguiam as ideologias dos governos tanto autoritários ou democratas,
acrescentando que não apenas no setor político, mas as grandes empresas particulares
construíam prédios que ostentavam seu fortalecimento geralmente, estas vinculadas ao
crescimento econômico por qual o país passa nas décadas seguintes.
“As grandes cidades brasileiras na virada da década de 1930 para 1940 tiveram sua
fisionomia alterada, sobretudo com o adensamento de seus núcleos antigos ou áreas
lindeiras. Essa ocupação se processou, sobretudo com a verticalização, com a
construção de grandiosos volumes em concreto armado - no imaginário da época
signos de progresso e modernização- inseridos em lotes definidos por padrões de
divisões fundiárias do período colonial e do Império.” (SEGAWA, 2002,p.75)
Nas décadas seguintes de 1950 a 1980, o país apresentava-se grande e moderno, com a
uma população de 93 milhões de habitantes e 56% desta viviam nas cidades (em 1970),
apresentando já uma elevada densidade urbana, este período correspondente após a
segunda guerra, que também causou transformações de certo modo positivas,
principalmente crescimento econômico e cultural no Brasil.
Durante o governo do presidente Juscelino Kubitschek, com o seu plano de metas, houve o
reordenamento do sistema de energia e transporte, implantação de estruturas industriais,
além da construção de Brasília, cujo preceitos modernos e universais de Le Corbusier foram
utilizados na arquitetura institucional e no seu plano urbanístico. No período de 1964, com o
golpe militar ocorreu uma intensa centralização administrativa e econômica, onde pequenos
grupos foram aglomerados para serem fortalecidos e desenvolvem-se as áreas no setor
energético, serviços bancários, transporte e comércio, além de reestruturação na área
educacional; o que demonstra modificações e o desenvolvimento contínuos.
“... intensificação do processo de diferenciação no setor da construção civil, baseado
fundamentalmente nas áreas de infra estrutura, transporte, comunicação, estradas e
outros, num projeto político econômico de integração nacional, constituído um ramo
dinâmico e concentrado no setor e solidário aos setores mais dinâmicos da economia”
(OSEKI 1982,p120, apud SEGAWA, 2002, p.160)
O crescimento e direcionamento político brasileiro levam como conseqüência as guias do
desenvolvimento da construção civil, a necessidade de planejamento e da produção de
novos projetos em tantos âmbitos tende a diversificar a produção, aumentando o número de
construtoras e a integração de novos profissionais. Os centros voltados aos vetores de
necessidades das metas políticas vinculavam a produção arquitetônica para a produção
habitacional, centros educacionais, e os políticos administrativos sejam municipais estaduais
ou federais, eram estes da ordem de primeiras necessidades. Tendo como justificativas do
movimento moderno a eliminação de ornatos, a estrutura aparente, a planta “livre”, a idéia de
protótipos e a possibilidade de reprodução industrial, atraem o contratante, o Estado, em
busca da rápida produção.
Já no caso da produção de prédios políticos administrativos utilizando-se os fundamentos
modernos nestas obras para passar a simbologia do poder político sobre a sociedade, tendo
como Brasília o maior marco dessa representatividade, e em todas as capitais do país se
baseiam de algum modo suas ambições ou demonstrações do poder.
Interessante notar que os centros políticos administrativos geralmente foram construídos em
núcleos um tanto mais afastados dos centros urbanos, em grandes vazios e em alguns casos
obedecendo planos diretores ou seguindo os padrões de ocupação, tendo sempre Brasília
seguida como modelo, criando-se na maioria das vezes vetores de crescimentos urbanos,
possuindo como conseqüência a integração destes centros na área urbana. No caso de
Teresina os pólos da organização administrativa e política, estava de certa forma afastada do
centro urbano inicial da cidade, mas logo integraram- se de maneira completa a malha
urbana.
Figura 4 - Localização. Fonte: imagem Prodater, 2005 . Edição de imagem Ana Negreiros.
Figura 5- Fachadas . Fonte: redesenho Ana Negreiros.
Figura 10 - Planta Baixa tipo do Fórum Judiciário. Fonte: redesenho Ana Negreiros.
Figura 11- Fachada e Corte esquemático do Fórum Judiciário. Fonte: redesenho Ana
Negreiros.
5. CONCLUSÃO
A Pesquisa sobre produção arquitetônica moderna mostra produção relevante. Desenvolvida
através dos levantamentos técnicos de plantas arquitetônicos, trabalhos fotográficos,
realizações de painéis expositivos, cartões para distribuição e exposições realizadas na UFPI
e no centro da cidade, além de documentos escritos apresentados e publicados em anais de
congresso nacional. Esta continua a desenvolver-se com uma quantidade crescente de
prédios a serem catalogados e estudados. Os prédios aqui apresentados foram dados
fornecidos por materiais de modos diferenciados, alguns com maiores dificuldades outros
com material documental de maior preservação.
Além de todos os aspectos arquitetônicos e construtivos, a pesquisa ainda em
desenvolvimento observa a maior importância do estudo, a configuração de uma estrutura
social, econômica e histórica representativa que estas obras mostram e marcam a cidade,
definindo-se assim a questão patrimonial deve ser protegida e continuamente documentada.
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