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TRANSTORNO DE CONDUTA (Delinqüência)

Dentro da psiquiatria da infância e da adolescência, um dos quadros mais problemáticos tem sido o
chamado Transtorno de Conduta, anteriormente (e apropriadamente) chamado de Delinqüência, o qual se
caracteriza por um padrão repetitivo e persistente de conduta anti-social, agressiva ou desafiadora, por no
mínimo seis meses (segundo a CID10). E é um diagnóstico problemático, exatamente por situar-se nos
limites da psiquiatria com a moral e a ética, sem contar as tentativas de atribuir à delinqüência aspectos
também políticos.

Trata-se, sem dúvida, de um sério problema comportamental, entretanto, muitos são os autores que se
recusam a situá-lo como uma doença, uma patologia capaz de isentar seu portador da responsabilidade
civil por seus atos, responsabilidade esta comum a todos nós.

De fato, soa estranho a alguns psiquiatras a necessidade de se considerar "doença" um quadro onde o
único sintoma é uma inclinação voraz ao delito. No mínimo, seria de bom senso à medicina ter em mente
que, para problemas médicos aplicam-se soluções médicas e para problemas éticos... devem ser aplicadas
soluções éticas. Entendam como quiser...

Para ser considerado Transtorno de Conduta, esse tipo de comportamento problemático deve alcançar
violações importantes, além das expectativas apropriadas à idade da pessoa e, portanto, de natureza mais
grave que as travessuras ou a rebeldia normal de um adolescente, ainda que extremamente enfadonhos.

Este tipo comportamento delinqüencial parece preocupar muito mais os outros do que a própria criança ou
adolescente que sofre da perturbação. Seu portador pode não ter consideração pelos sentimentos alheios,
direitos e bem estar dos outros, faltando-lhe um sentimento apropriado de culpa e remorso que caracteriza
as "boas pessoas".

Normalmente há, nesses delinqüentes, uma demonstração de comportamento insensível, podendo ter o
hábito de acusar seus companheiros e tentar culpar qualquer outra pessoa ou circunstância por suas
eventuais más ações.

A baixa tolerância a frustrações das pessoas com Transtorno de Conduta favorece as crises de
irritabilidade, explosões temperamentais e agressividade exagerada, parecendo, muitas vezes, uma espécie
de comportamento vingativo e desaforado. Entende-se por "baixa tolerância a frustrações" uma
incapacidade em tolerar as dificuldades existenciais comuns a todas as pessoas que vivem em sociedade,
uma falta de capacidade em lidar com os problemas do cotidiano ou com as situações onde as coisas não
saem de acordo com o desejado.

Essas crianças ou adolescentes costumam apresentar precocemente um comportamento violento, reagindo


agressivamente a tudo e a todos, supervalorizando o seu exclusivo prazer, ainda que em detrimento do
bem-estar alheio. Elas podem também exibir um comportamento de provocação, ameaça ou intimidação,
podem iniciar lutas corporais freqüentemente, inclusive com eventual uso de armas ou objetos capazes de
causar sério dano físico, como por exemplo, tacos e bastões, tijolos, garrafas quebradas, facas ou mesmo
arma de fogo.

Outra característica no comportamento do portador de Transtorno de Conduta é a crueldade com outras


pessoas e/ou com animais. Não é raro que a violência física possa assumir a forma de estupro, agressão
ou, em outros casos, homicídio. O padrão de comportamento no Transtorno de Conduta se caracteriza pela
violação dos direitos básicos dos outros e das normas ou regras sociais. Esse comportamento pode ser
agrupado em 4 tipos principais:
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1. conduta agressiva que causa ameaça ou danos a outras pessoas e/ou
animais;
2. conduta não-agressiva, mas que causa perdas ou danos a propriedades;
3. defraudação e/ou furto e;
4. violações habituais de regras.

As perturbações do comportamento no Transtorno de Conduta acabam por causar sérios prejuízos no


funcionamento social, acadêmico ou ocupacional, favorecendo uma espécie de círculo vicioso: transtornos
de conduta, prejuízo sócio-ocupacional, repressões sociais, rebeldia, mais transtorno de conduta.

O Transtorno de Conduta é um diagnóstico especialmente infantil ou da adolescência pois, depois dos 18


anos, persistindo os sintomas básicos (contravenção), o diagnóstico deve ser alterado para Transtorno da
Personalidade Anti-Social. Outra característica do Transtorno de Conduta é que esse padrão sociopático de
comportamento costuma estar presente numa variedade de contextos sociais e não apenas em algumas
circunstâncias, ou seja, não só na escola, não só no lar, só na rua..., por exemplo. O portador desse
transtorno causa mal estar e rebuliço na comunidade em geral.

O diagnóstico de Transtorno de Conduta deve ser feito muito cuidadosamente, tendo em vista a
possibilidade dos sintomas serem indício de alguma outra patologia, como por exemplo, o Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade, ou Retardo Mental, Episódios Maníacos do Transtorno Afetivo
Bipolar ou mesmo a Esquizofrenia. Devido à excelente capacidade das pessoas com Transtorno de
Conduta manipular o ambiente e dissimular seus comportamentos anti-sociais, o psiquiatra precisa
recorrer a informantes para avaliar com mais precisão o quadro clínico.

Também a destruição deliberada da propriedade alheia é um aspecto característico do Transtorno de


Conduta, podendo incluir a provocação deliberada de incêndios com a intenção de causar sérios danos ou
destruição de propriedade de outras maneiras, como por exemplo, quebrar vidros de automóveis, praticar
vandalismo na escola, etc.

Atualmente a psiquiatria tende a considerar dois subtipos de Transtorno de Conduta com base na idade de
início, isto é, o Tipo com Início na Infância e Tipo com Início na Adolescência. Ambos os subtipos podem
ocorrer de 3 formas: leve, moderada ou severa.

Tipos

Com Início na Infância

Neste tipo de Transtorno de Conduta um dos critérios de diagnóstico (veja adiante) é que ele aparece antes
dos 10 anos. Os portadores de de Transtorno de Conduta com Início na Infância são, em geral, do sexo
masculino, freqüentemente demonstram agressividade física para com outros, têm relacionamentos
perturbados com seus pais, irmãos e colegas, podem ter concomitantemente um Transtorno Desafiador
Opositivo e, geralmente, apresentam sintomas que satisfazem todos os critérios para Transtorno de
Conduta antes da puberdade.

Esses indivíduos (que satisfazem todos os critérios para Transtorno de Conduta) estão mais propensos a
desenvolverem o Transtorno da Personalidade Anti-Social na idade adulta.

Com Início na Adolescência

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Este tipo de Transtorno de Conduta, ao contrário do anterior, se caracteriza pela ausência de sinais
característicos da conduta sociopática antes dos 10 anos de idade. Em comparação com o Transtorno de
Conduta com Início na Infância, esses indivíduos estão menos propensos a apresentar comportamentos
agressivos e tendem a ter relacionamentos mais normais com seus familiares e colegas.

Quanto mais tardio for o início do quadro, menos propensos estão as pessoas de desenvolver um
Transtorno da Personalidade Anti-Social na idade adulta. Aqui a incidência entre homens e mulheres é
quase o mesmo.

Níveis de Gravidade

Leve
No nível leve do Transtorno de Conduta há poucos problemas de comportamento, e tais problemas causam
danos relativamente pequenos a outros, tais como, por exemplo, mentiras, gazetas à escola, permanência
na rua à noite sem permissão.

Moderado
O número de problemas de conduta e o efeito sobre os outros são intermediários entre "leves" e "severos",
onde já pode haver furtos sem confronto com a vítima, vandalismo, uso de fumo e/ou outra droga.

Severo
Muitos problemas de conduta estão presentes na forma severa do Transtorno de Conduta, problemas que
causam danos consideráveis a outros, tais como, sexo forçado, crueldade física, uso de arma, roubo com
confronto com a vítima, arrombamento e invasão.

Classificação

Uma das dúvidas de quem não está familiarizado com os Transtornos de Conduta é saber onde, dentro da
psiquiatria, se classificam esses quadros. Essa categoria de diagnóstico é classificado naquilo que
chamamos de Transtornos de Comportamentos Disruptivos (TCDs), segundo o DSM.IV. Os TCDs
englobam o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, o Transtorno Desafiador e Opositivo e o
Transtorno de Conduta, propriamente dito, sob o código (veja) 312.8.

Na CID.10 os Transtorno de Conduta são chamados de Distúrbios de Conduta e estão classificados como
uma categoria isolada no código (veja) F91.

Quando dissemos no início que os Transtornos de Conduta se situam nos limites da psiquiatria com a
moral e a ética, é porque o diagnóstico desses casos se baseia em conceitos sociológicos, uma vez que se
pautam nas conseqüências que as relações sociais divergentes e mal adaptadas podem ter sobre a argüição
das pessoas.

O comportamento de portadores de Transtorno de Conduta é definitivamente "mau" para todos os


envolvidos. Com freqüência o resultado desse tipo de conduta, além dos dissabores à boa convivência
social, acabam por determinar investimentos em classes de educação especial, colocações em lares
adotivos, hospitais e clínicas psiquiátricas e programas de tratamento de abuso de substâncias, cadeias,
além da periculosidade social à qual toda sociedade se sujeita.

Mesmo que esses comportamentos da infância e adolescência acabem por desaparecer com a idade, muitas
vezes deixam importantes cicatrizes policiais, jurídicas, familiares e sociais durante toda a idade adulta. Se
eles persistirem (transformando-se em Transtornos Anti-Social da Personalidade), a regra será perda de
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emprego, crimes, prisão e falhas terríveis de relacionamentos. Uma vez que os Transtornos de Conduta se
apresentam, há uma forte tendência do entorno sócio-familiar em reagir, e essa resposta da família, da
escola, dos pares, do sistema policial e da justiça criminal podem acompanhar a pessoa a vida toda,
empurrando-o definitivamente para a marginalidade.

Uma opinião pessoal

Justificar o comportamento humano como sendo decorrente desta ou daquela causa tem sido um exercício
incansável ao longo do tempo e através de muitas áreas do conhecimento.

Ora prevalece um sociologismo, atribuindo toda a responsabilidade da atitude humana às mazelas de


nossa sociedade, seguindo a linha de Rousseau. Ora prevalece o psicologismo, enfatizando traumas
infantis com severas repercussões sobre a maneira de ser atual das pessoas ou o organicismo, atribuindo a
postura da pessoa às características funcionais do Sistema Nervoso Central.

Enfim, parece que o único inocente e isento completamente de responsabilidades sobre o ato humano é a
própria pessoa. Parece que se desconhece totalmente a volição humana, a vontade, essa particularidade
completamente soberana de nosso caráter.

Neste ponto preferimos a máxima de Jean Paul Sartre: "não sou responsável pelo que os outros fizeram de
mim, mas sou responsável com o que faço com aquilo que os outros fizeram de mim".

Fora da sociedade, copiando a idéia de Thomas Hobbes, o ser humano tende naturalmente à amoralidade.
É o que ele chamava de Estado Natural do Homem, animalesco por natureza (mas não, necessariamente
maldoso).

Portanto, se a sociedade contribui com alguma coisa no agir humano, essa alguma coisa é a moral e a
ética. Estando todos participando da mesma sociedade, o ser humano comum deve, sobretudo, comportar-
se de acordo com a moral e éticas vigentes. Escapando dessa faixa média do comportamento humano a
pessoa se distingue, em um extremo por ser santo ou mártir, e no outro por ser sociopata.

Digamos, então, que da metade dessa faixa do homem comum para o extremo "do bem", encontramos as
boas pessoas e, da metade para o extremo "do mal", as más pessoas.

Por essa lógica, podemos dizer que os delinqüentes e sociopatas são as más pessoas. Mesmo porque seus
'sintomas' não são suficientes para caracterizar uma doença ou um estado mórbido pelos ditames da
medicina.

Isto é, não podemos aceitar uma doença cujo único sintoma é a propensão à contravenção e ao crime,
reincidentemente, sem se corrigir e sem se arrepender. Não podemos aceitar como doença uma maneira de
ser e, para a qual, não há nenhum tratamento médico disponível. Seria o mesmo que considerar doença os
baixinhos, os magros, os irrequietos, os determinados, os gênios e assim por diante.

Cada vez que um intelectual 'descobre' uma razão social para delinqüir, um atenuante à vontade de praticar
uma contravenção, uma justificativa para a maneira criminosa e insensível do psicopata, ou de sua
expressão infantil que é o Transtorno de Conduta, está prestando um desserviço muito grande à ciência, ao
bom senso e à virtude humana.

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Se fosse, realmente, uma doença, sua incidência permaneceria mais ou menos inalterada e proporcional ao
longo do tempo, como acontece com a Deficiência Mental, a Síndrome de Down e outros estados
organicamente alterados. Mas não, sua incidência aumenta paralelamente ao aumento da criminalidade.
G.J.Ballone

Outra opinião pessoal

O Estatuto do Menor e do Adolescente foi, talvez, um dos maiores retrocessos de nossa sociedade.

Através desse punhado de recomendações inviáveis e demagógicas se esconde uma discriminação


abominável e uma omissão sem precedentes. Discriminaram-se todos os adultos e idosos, omitiu-se
quaisquer esforços para tornar a vida mais digna em qualquer idade.

Se a boa intenção dos legisladores e idealizadores da panacéia para o bem viver dos menores fosse mais
atenciosa com as pessoas de um modo geral, independente da idade, nada disso seria necessário. A
começar pelo controle da natalidade, ou paternidade responsável, como queira. Mas tocar nesse assunto
parece que "dá câncer". Deveria haver uma espécie de "estatuto para os pais irresponsáveis", com severas
punições, principalmente para aqueles que "têm tantos filhos quanto Deus quiser", como dizem por ai.

Em seguida, poderiam começar pelo combate eficiente à corrupção e enriquecimento ilícito, depois pela
distribuição mais humana das rendas, depois ainda pela educação da gigantesca população de semi-
analfabetos (que votam), passando ainda por um modelo de escola que estimulasse o valor de quem se
esforça desde cedo, enfim, cuidando dos adultos de forma digna e honrosa e oferecendo educação básica
de alto nível não haveria a mínima necessidade de preocupar-se com os menores.

Infelizmente, parece que os maiores beneficiados com esse tal "estatuto" tem sido os milhares de
marmanjões sociopatas e criminosos que se privilegiam da benevolência da lei porque não completaram a
maioridade, embora matem, estuprem e roubem como qualquer pessoa "de maior" .

Ora. Em uma sociedade que glorifica a posse e o sucesso social incondicionalmente, em uma sociedade
onde personagens delinqüentes de filmes, novelas e da vida real são copiados e vistos como ídolos pela
criançada, em uma sociedade onde prevalece a máxima de levar vantagem em tudo, sempre e a qualquer
custo, os Transtornos de Conduta deixam a seara da patologia e passam, glamourosamente, para a esfera
do modus vivendi ou meio de vida.

Qualquer psiquiatra que, de fato, labuta atendendo pessoas emocionalmente sofredores, se martiriza com o
aumento do sofrimento emocional humano. Sofrimento este proporcionado, em grande proporção, por
seqüestros, estupros, assaltos, ameaças, assassinatos e toda sorte de violência executada por sociopatas,
psicopatas e delinqüentes juvenis.

Se pudesse, daria uma recomendação aos legisladores e, principalmente, à justiça: preocupem-se em


defender a moral, a ética e os valores com o mesmo entusiasmo com que defendem os contraventores
porque, se eles têm direito à defesa, esse direito não deve subtrair o direito dos demais a viverem em uma
sociedade mais segura.
G.J.Ballone

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"Em abril de 1997 cinco adolescentes brasilienses puseram fogo no índio pataxó Antônio José Galdino,
que dormia em um banco de um ponto de ônibus. Um deles é filho de um juiz de Brasília e entre os
advogados deles há um ex-procurador da República e um ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral."

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"Policiais civis e militares do Jardim Vila Rica estimam que as favelas Primavera e Colina empregam pelo
menos 30 adolescentes na faixa etária entre 8 e 14 anos, responsáveis pelo movimento de R$ 30 mil por
semana.

Os mais novos, de 8 a 10, ocupam os cargos de olheiro e aviões. Ariscos, os aviões trabalham em dupla no
sistema drive-thru. Um deles entrega a droga de um lado, enquanto o outro recolhe o dinheiro do outro,
numa ação sincronizada. ..." veja tudo

Pesquisa mapeia crimes de menores em São Paulo

O estudo mostra que, sozinhos, os menores são responsáveis por 2,7% do total de crimes registrados pela
Polícia Civil. A participação deles é mais importante em três tipos de delito: o porte de drogas, pelos quais
respondem por 18,7% do total de casos, o porte de armas (11,8%) e o tráfico de drogas (9,6%).

Em números absolutos, os adolescentes foram presos 3.993 vezes portando droga, 2.152 vezes com armas
de fogo e 969 vezes traficando entorpecentes.

Eles também têm uma participação importante nos casos de estupro, pelos quais são responsáveis por
4,2% do total de casos - 164 em número absolutos -, lesões corporais (3,8%) e roubos seguidos de morte
(3,2%). Os dados são relativos a 2001...".veja a página

Sintomas

Como dissemos, as pessoas com Transtorno de Conduta costumam ter pouca empatia e pouca preocupação
pelos sentimentos, desejos e bem-estar dos outros. Elas podem ter uma sensibilidade grosseira para as
questões sentimentais e emocionais (dos outros) e não possuem sentimentos próprios e apropriados de
culpa, ética, moral ou remorso.

Entretanto, como essas pessoas são extremamente manipuladoras e aprendem que a expressão de culpa
pode reduzir ou evitar punições, não titubeiam em demonstrarem remorso sempre que isso resultar em
benefício próprio. Por outro lado, costumam delatar facilmente seus companheiros e tentar culpar outras
pessoas por seus atos.

Uma característica marcante nesse quadro é a baixíssima tolerância à frustração, irritabilidade, acessos de
raiva e imprudência quando contrariados. O Transtorno de Conduta está freqüentemente associado com
um início precoce de comportamento sexual, consumo de álcool, uso de substâncias ilícitas e atos
imprudentes e arriscados.

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Os comportamentos do Transtorno de Conduta podem levar à suspensão ou expulsão da escola, problemas
de ajustamento no trabalho, dificuldades legais, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez não
planejada e ferimentos por acidentes ou lutas corporais.

Os sintomas do transtorno variam com a idade, à medida que o indivíduo desenvolve maior força física,
capacidades cognitivas e maturidade sexual. Comportamentos menos severos (por ex., mentir, furtar em
lojas, entrar em lutas corporais) tendem a emergir primeiro, enquanto outros (por ex., roubo, estupro...)
tendem a manifestar-se mais tarde. Entretanto, existem amplas diferenças entre os indivíduos, sendo que
alguns se envolvem em comportamentos mais prejudiciais em uma idade mais precoce.

Curso e Prevalência

O diagnóstico de Transtorno de Conduta é importante, tendo em vista o grande número de


encaminhamentos psiquiátricos motivados por comportamentos anti-sociais e agressivos, notadamente
depois da criação do Estatuto do Menor e do Adolescente. Interessa ao sistema (família, juizado de
menores e polícia, nessa ordem) que adolescentes problemáticos sejam deixados aos cuidados médicos e
psiquiátricos, poupando à muitos o dissabor de deparar-se com o fato de "não ter o que fazer".

Boa parte da importância do diagnóstico está no fato de, muito freqüentemente, o Transtorno de Conduta
ser um precursor do Transtorno Anti-social no adulto. De modo geral, é muito incomum encontrar um
adulto com Transtorno Anti-social da personalidade na ausência de uma história pregressa Transtorno de
Conduta na infância ou adolescência.

Apesar dos modismos atrelados ao comportamento inconseqüente e irrequieto da juventude, as estatísticas


sobre a delinqüência refletem o fato de que, embora algum tipo de comportamento delinqüente seja
relativamente comum na adolescência, apenas um pequeno percentual de jovens torna-se infrator crônico
ou anti-social depois de adulto.

Há alguma crença de que o Transtorno de Conduta seja mais freqüente nas classes sociais mais baixas,
notadamente em famílias que apresentam, concomitantemente, instabilidade familiar, desorganização
social, alta mortalidade infantil e incidência mais alta de doenças mentais graves. Entretanto, essa não é
uma opinião unânime, acreditando-se que entre o comportamento delinqüencial das classes mais baixas e
mais altas hajam diferenças apenas no modo de apresentação do comportamento, sugerindo assim uma
falsa idéia de que os mais pobres têm mais esse transtorno.

A prevalência do Transtorno de Conduta tem aumentado nas últimas décadas, podendo ser superior em
circunstâncias urbanas, em comparação com a rural. As taxas variam amplamente, mas têm sido
registradas, para os homens com menos de 18 anos, taxas que variam de 6 a 16%; para as mulheres, as
taxas vão de 2 a 9%.

O Transtorno de Conduta pode se iniciar já aos 5 ou 6 anos de idade, mas habitualmente aparece ao final
da infância ou início da adolescência. O início após os 16 anos é raro. Alguns pesquisadores crêem que a
maioria dos portadores o Transtorno de Conduta apresenta remissão na idade adulta, entretanto,
acreditamos que essa visão otimista reflita mais um erro de diagnóstico que uma evolução benéfica do
quadro. O início muito precoce indica um pior prognóstico e um risco aumentado de Transtorno Anti-
Social da Personalidade e/ou Transtornos Relacionados a Substâncias na vida adulta.

As pessoas que não apresentam mais o quadro delinqüencial depois de adulto eram, exatamente, aquelas
que tinham essa postura motivada por modismo ou adequação ao grupo social. De fato, não se tratava de
Transtorno de Conduta propriamente dito.
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É por isso que muitos indivíduos com Transtorno de Conduta, particularmente aqueles com Início na
Adolescência e aqueles com sintomas mais leves conseguem um ajustamento social e profissional
satisfatório na idade adulta. De verdade, uma proporção substancial de pessoas diagnosticadas com o
Transtorno de Conduta continua apresentando, na idade adulta, comportamentos próprios do Transtorno
Anti-Social da Personalidade.

Diagnóstico

O diagnóstico de Distúrbio de Conduta deve ser feito somente se o comportamento anti-social continuar
por um período de pelo menos seis meses, e assim representar um padrão repetitivo e persistente. Devem
estar presentes algumas características importantes para o diagnóstico:

1. Roubo sem confrontação com a vítima em mais de uma ocasião


(incluindo falsificação).
2. Fuga de casa durante a noite, pelo menos duas vezes enquanto
vivendo na casa dos pais (ou em um lar adotivo) ou uma vez sem
retornar.
3. Mentira freqüente (por motivo que não para evitar abuso físico
ou sexual).
4. Envolvimento deliberadamente em provocações de incêndio.
5. Gazetas freqüentemente na escola (para pessoa mais velha,
ausência ao trabalho).
6. Violação de casa, edifício ou carro de uma outra pessoa.
7. Destruição deliberadamente de propriedade alheia (que não por
provocação de incêndio).
8. Crueldade física com animais.
9. Forçar alguma atividade sexual com ele ou ela.
10. Uso de arma em mais de uma briga.
11. Freqüentemente inicia lutas físicas.
12. Roubo com confrontação da vítima (por exemplo: assalto,
roubo de carteira, extorsão, roubo à mão armada).
13. Crueldade física com pessoas.

Causas

Não está estabelecido ainda uma causa única para o Transtorno de Conduta. Uma multiplicidade de
diferentes tipos de estressores sociais e a vulnerabilidade de personalidade parece associado com esses
comportamentos anti-sociais.

Durante muitos anos, as teorias sobre comportamentos eram de natureza sociológica. O princípio básico
desta tendência afirmativa era que jovens socialmente e economicamente desprivilegiados, incapazes de
adquirirem sucesso através de meios legítimos e socialmente aceitos, se voltariam para o crime.
Atualmente os sociólogos têm se mostrado mais dispostos a considerar como fatores causais a integração
entre características individuais e forças ambientais (veja elementos históricos em Personalidade
Criminosa).

Certamente devem influenciar no desenvolvimento do Transtorno de Conduta as atitudes e


comportamentos familiares, assim como a exclusão sócio-econômica, a má distribuição de rendas, a
inversão dos valores, a desestrutura familiar e mais um sem número de ocorrências sociais, políticas e

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econômicas propaladas por pesquisadores das mais variadas áreas. De qualquer forma essas tentativas de
explicações causais são sempre muito vagas e imprecisas.

É difícil estabelecer claras relações causais entre condições familiares adversas e caóticas com
delinqüência pois, como se exige em medicina, não se observa constância satisfatória dessa regra e, muitas
vezes, jovens provenientes de famílias conturbadas ou mesmo sem famílias não desenvolvem a
delinqüência, enquanto seus irmãos, que vivenciam o mesmo ambiente, sim.

Observa-se, variavelmente em diversas estatísticas, que muitos pais de delinqüentes sofrem de


psicopatologias‚ assim como histórias de crianças com perturbações comportamentais graves podem
revelar, muitas vezes, um quadro de abuso físico e/ou sexual por adultos, geralmente os pais e
padrastos.Existem estudos mostrando relações entre certos tipos de violência episódica e transtornos do
SNC (veja Violência e Psiquiatria), particularmente do sistema límbico. Alguns portadores de Transtornos
de Conduta podem mostrar, no exame clínico, sinais e sintomas indicativos de algum tipo de disfunção
cerebral.

Uma das ocorrências neuropsiquiátricas mais comumente encontradas nos Transtornos de Conduta é o de
Hiperatividade com Déficit de Atenção, outras vezes o diagnóstico se confunde com casos atípicos de
depressão grave em crianças e adolescentes.

Tratamento

Um dos fatores que mais desanimam a psiquiatria em relação aos portadores de Transtornos de Conduta é
o fato de não haver nenhum tratamento efetivo e reconhecido especificamente para esse estado. Este é um
fator que contribui, significativamente, para alguns autores não considerarem este modo de reagir à vida
como doença. Tratar-se-ia de uma alteração qualitativa do caráter que caracteriza uma maneira de ser, não
exatamente um processo ou desenvolvimento patológico.

Evidentemente quando esse Transtorno de Conduta reflete uma depressão subjacente ou uma
Hiperatividade o tratamento é dirigido para esses estados patológicos de base e, é claro, o prognóstico é
substancialmente melhor (veja tratamento da Depressão Infantil e da Hiperatividade).

Outros programas têm tentado lidar com o comportamento disruptivo dessas crianças com fármacos, tais
como o carbonato de lítio, a carbamazepina ou antidepressivos, conforme o caso. O sucesso não tem sido
muito animador

Ballone GJ - Transtornos de Conduta - in. PsiqWeb, Internet, disponível em


<www.psiqweb.med.br/infantil/conduta.html> revisto em 2003

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