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O GATO LAMBÃO

E A RESPEITÁVEL D. SÂNCIA

Faixa 1 - Após pausa inicial, entra o gato Lambão. Vê um caixote do lixo e


chama os outros, entusiasmado. Entra a Faísca, seguida por Zimbro e Riscado.
Procuram restos de comida.

Lambão Comida! Comida! Estou cheio de fome.

Faixa 2 - Atiram para o chão tudo o que encontram no caixote. Nada serve
para comer.

Riscado Ó Lambão, acho que desta vez estamos com azar.


Não conseguimos comer nada.
Faísca Que fome que eu tenho! Miau! (tom de lamento)
Zimbro Miau! Eu também tenho fome, Faísca.
Lambão Pronto, está decidido. Vou deixar de procurar restos de comida.
Vou procurar uma dona que trate bem de mim.

(Vira-se para o público e sussurra:)


Psss! Vou fingir que estou doente.
Talvez assim consiga arranjar uma dona...

(Enrosca-se no chão a miar:)


Miau, miau, miau... Rom, rom…

Aparece a D. Sância.Faísca, Zimbro e Riscado continuam a vasculhar os caixotes.

D. Sância Coitadinho. Pobrezinho. Deve estar doente...


Anda, bichinho, vou tratar de ti.

D. Sância leva o Lambão para casa..


Dá-lhe uma tijela de leite. Depois, dá-lhe banho e aconchega-o numa caminha.
D. Sância senta-se a ver televisão, e a fazer-lhe festinhas.

Faixa 3 - Lambão espreguiça-se, boceja e acaba por adormecer ao lado da sua


nova dona. Há uma pausa.

D. Sância Bichaninho gato. Bom dia! Que comeste hoje?


Lambão Sopinhas de leite!
D. Sância Guardaste-me delas?
Lambão Guardei, guardei!
D. Sância Com que as tapaste?
Lambão Com o meu rabo de gato! (agarra o rabo)
D. Sância Sape, sape, sape!

D. Sância levanta-se e pega num prato com um peixe.Lambão senta-se na cadeira


da D. Sância. Os gatos continuam a vasculhar.

D. Sância Bom dia, bichinho! Olha o que a dona trouxe hoje: peixinho.
(Lambão come e lambe as patas)

A luz apaga-se. D. Sância pega no mesmo prato e esconde o peixe.


Acende-se foco nos gatos a vasculhar.
Apaga-se e acende o foco na D. Sância: é um novo dia.
D. Sância Bxxxxx. Bom dia! Olha o que há hoje para ti: muito leitinho.
(Lambão bebe)

A luz apaga-se outra vez. Lambão coloca almofada na barriga. D. Sância, Zimbro
e Riscado saiem.
Passado um pouco, a luz acende-se. Lambão acorda, gordo e espreguiça-se.

Lambão Miau! Que gordo que estou. Esta D. Sância trata-me mesmo bem (dá
palmadinhas na barriga). Tão bem que já nem me consigo mexer...
Já não corro atrás dos ratos. Já nem consigo subir aos telhados para
namorar... (lambe uma pata, desgostoso)

Aparece D. Sância, a chamar o bichano.

D. Sância Bicho, bichinho, onde estás tu? (agacha-se a procurar nos cantos)

Lambão tenta esconder-se mas a D. Sância encontra-o.

D. Sância Ah, estás aqui! Vem para o pé da dona.


(Leva-o para a sala e deita-o na caminha. D. Sância senta-se a ver
televisão e adormece a fazer festinhas ao Lambão. Começa a
ressonar.)

Faísca, que continua a vasculhar os caixotes, tira do meio deles uma cadeira de
praia e uma grafonola antiga. Finge que dá corda à grafonola. Senta-se na
cadeira de praia, recosta-se e põe óculos escuros.

Faixa 4 - Lambão levanta a cabeça, atento. Põe a mão junto ao ouvido para
ouvir melhor.

Lambão Eh, lá! Eu conheço esta música! Será que é a ... (estica-se a ouvir)
É mesmo, é a minha Faísca!

Lambão esgueira-se sorrateiramente para a rua, sem a D. Sância perceber.


Aproxima-se silenciosamente da Faísca e assusta-a.

Lambão Miau!

Faísca salta da cadeira, surpreendida.

Lambão Olá, querida! (diz com um tom sedutor)


Faísca Achssss (emite um silvo, meio zangada) Que susto! Mas quem és tu?
Lambão Eh, lá! Então, já não me conheces? Sou eu: o Lambão! (abre os
braços, a dar enfâse)
Faísca Lambão... És mesmo tu? Estás tão gooooordo... (arrasta a palavra)
Lambão É a D. Sância. Só me dá leitinho, peixinho e docinhos....
(diz com tom de desculpa, encolhendo os ombros)
Aparece o Riscado.

Riscado Olha, olha, quem é ele! (tom gozão) Deixaste a tua dona e vieste
visitar-nos. Volta mas é para o pé dela (tom de desprezo).
Aqui já não há lugar para ti!
Lambão Mas eu quero continuar vosso amigo... (tom suplicante)
Faísca Humm (tom pensativo). Olha, se quiseres, aparece mais logo no
baile do Tinoco.

Ouve-se a voz da D. Sância a chamar pelo Lambão.

D. Sância Bxxxx, bxxxxx... Bicho, bichinho...


Riscado Vá, vai lá ter com a tua querida dona. (tom gozão)

Faísca e Riscado desatam a rir, acenam e saiem. Faísca leva a cadeira.


Muito envergonhado e contrariado, Lambão vai para casa.

Aparece a D. Sância com um colar de ouro na mão.

D. Sância Bicho, bichinho, toma lá este coleira que comprei para ti. (coloca o
colar no pescoço do Lambão). Sim, senhora, que bem que fica! (tom
de aprovação)

D. Sância senta-se na cadeira em frente à televisão. Lambão mostra-se indignado.


Agita a cabeça, incomodado.

Lambão Miau! Coleira de ouro! Era só o que me faltava. Agora vão todos
gozar comigo no baile. (Abana a cabeça, desconsolado)

Lambão deita-se aos pés de D. Sância. Impaciente, espera que a dona adormeça.

Lambão Vá lá, dorme. Dorme. (cantarola uma música de embalar)

D. Sância acaba por adormecer e ressona. Lambão sai sorrateiro para ir ao baile.
Lambão chega ao pé do Café do Tinoco.

Faixa 5 - Há muitas luzes e música. Lambão olha à procura os amigos e, de


repente, vê algo que não lhe agrada nada.
Faísca dança com Zimbro. Riscado aproxima-se de Lambão.

Riscado Que belo colar. Foi prenda da tua dona?


Lambão (encolhe os ombros, envergonhado) Parece que sim.
(Tenta desviar a conversa) Ouve lá, quem é aquele gato que está com
a Faísca? (olha melhor) Eh, lá! Então é o Zimbro!

Faixa 6 - Lambão aproxima-se zangado do Zimbro e dá-lhe um safanão.


Zimbro não gosta e dá-lhe outro como resposta. Envolvem-se numa zaragata.
Faísca muito chateada por lhe terem interrompido a dança, separa-os.

Faísca Mas afinal o que é que se passa aqui? Parem já com isso!
Já se esqueceram do tempo em que éramos todos amigos e
andávamos aos caixotes?
Lambão Mas tu eras a minha namorada...
Faísca Era, era, dizes bem! Mas já não sou. Foste-te embora...
Preferiste a D. Sância e os seus doces (todos em coro: “doces”), os
Bollycaos (idem: “Bollycaos”), as batatas fritas (idem: “batatas
fritas”), as gomas (idem: “gomas”), os chocolates (idem:
“chocolates”)...
E agora, olha para ti: estás um barrigudo, e com os dentes todos
pretos!

Riscado aproxima-se do Lambão. Trocista, põe-lhe um braço por cima dos


ombros.

Riscado Pronto, pronto, já chega (tom irónico). Já arranjei uma solução: em


vez de comeres tudo sozinho, começas a trazer uma coisitas aos teus
velhos amigos... Assim, já não ficas tão gordo!
Zimbro Sim, sim! Aproveita, vai já lá a casa!
Todos Vai, vai!

Faixa 7 - Lambão dirige-se para casa da D. Sância, pé ante pé. Os outros gatos
imitam-no, mas ficando no mesmo lugar.

Em casa, a D. Sância está a dormir e a ressonar.


Lambão vai, em bicos de pés, tirar umas guloseimas de uma frasco numa mesa,
com um rótulo grande a dizer “AÇUCAR”.
Quando a música termina, assusta-se e deixa cair uma lata que faz muito barulho.
D. Sância acorda, assarapantada, e vai à cozinha.

D. Sância Sape gato lambareiro


Tira a mão do açucareiro.
Sape gato lambareiro
Sape gato que te mato!

Lambão foge, correndo no mesmo sítio.


D. Sância persegue o gato, correndo também no mesmo sítio, enquanto lhe dá
palmadas nas costas.

Lambão corre finalmente para fora da casa da D. Sância, e regressa à festa.


Chega ao pé dos amigos e distribui as guloseimas.

Faísca Boa!
Zimbro Miau, miau!
Riscado Conseguimos!
Todos (agitam os braços e caudas)

Faixa 8 - A festa acaba com todos a dançar.

FIM

Disponível no blog: Natal2002.wordpress.com

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