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12ª aula

Sumário:
Resumo das leis da electrostática. Distribuições contínuas de cargas eléctricas. Campo
eléctrico criado por uma esfera carregada. Campo eléctrico criado por uma distribuição
uniforme linear de carga

Resumo das leis da electrostática

Na última aula vimos a importante lei de Gauss que se exprime por

Q
E ⋅ dA = . (12.1)
S ε0

Na 9ª aula vimos que a diferença de potencial é o simétrico da circulação do campo


eléctrico. Ora, a força que se exerce sobre uma carga é proporcional ao campo eléctrico.
Como esta força é conservativa, o trabalho que realiza ao longo de um percurso fechado
é nulo. Logo também a circulação do campo eléctrico num percurso fechado se anula o
que se exprime por

E ⋅ dl = 0 . (12.2)
C

Este integral é ao longo de um circuito C fechado [não confundir este integral de linha
ou de contorno com o integral de superfície (12.1)]. A Eq. (12.2) apenas exprime que a
diferença de potencial entre um ponto e esse mesmo ponto é nula.
As equações (12.1) e (12.2) resumem as leis da electrostática.

Distribuições contínuas de cargas eléctricas

Quando o sistema em estudo é formado por um conjunto de cargas pontuais,


como na Fig. 8.1, as linhas de força do campo resultante podem ser difíceis de traçar
sem recurso a meios computacionais. Mesmo um dipolo eléctrico já apresenta alguma
complexidade.
Muitas vezes as distribuições de cargas são tão densas que se podem considerar
contínuas. Neste caso é conveniente definir densidades de carga à semelhança do que se
faz para a densidade de massa. Se tivermos uma carga total Q distribuída num volume V
define-se a densidade média de carga, ρ , como a razão entre a carga e o volume que
esta ocupa:
Q
ρ= . (12.3)
V

Podemos também definir densidade de carga (ou, mais exactamente, densidade


volumétrica de carga) num ponto. Para tal consideramos um volume elementar dV ,
arbitrariamente pequeno (Fig. 12.1), e dividimos a carga (elementar) aí contida por esse
mesmo volume:

1
dQ
ρ= . (12.4
dV

dV

Figura 12.1

Inversamente, se soubermos a densidade volumétrica de carga, podemos obter a carga


total somando (ou seja, integrando) sobre todo o volume:

Q = ρ dV . (12.5)
V

O integral que aparece nesta expressão é “de volume”, sendo calculado através de três
integrais de Riemann.
Além de volumétricas, as distribuições de carga eléctrica podem também ser
superficiais (sobre superfícies) ou lineares (sobre linhas). No primeiro caso define-se
uma densidade superficial de carga, que se designa habitualmente por σ , sendo a carga
total contida numa superfície de área A dada por

Q = σ dA . (12.6)
A

O integral estende-se agora à superfície A de área A (ver lado esquerdo da Fig. 12.2).

dA
dl

Figura 12.2

Se a distribuição for ao longo de uma linha, define-se uma densidade linear de carga
(carga eléctrica por unidade de comprimento), λ e a carga eléctrica contida numa linha
de comprimento l é

2
Q = λ dl (12.7)
l

As distribuições contínuas de carga são comuns. Encontram-se, por exemplo,


nas superfícies de condutores carregados, em fluidos intracelulares de organismos, etc.
De facto, as cargas eléctricas são electrões ou iões (são corpúsculos, portanto). Contudo,
muitas vezes, olhando para o sistema de um ponto de vista macroscópico, o carácter
corpuscular das cargas não se revela e a distribuição das cargas pode ser vista como
contínua.

Campo eléctrico criado por uma esfera uniformemente carregada

Consideremos uma esfera oca de espessura muito pequena. Se essa esfera estiver
carregada qual é o campo eléctrico no interior da esfera? A Fig. 12.3 mostra esta “casca
esférica” e várias superfícies de Gauss no seu interior. A forma destas superfícies
fechadas é qualquer e nenhuma delas encerra carga eléctrica dentro de si. Então tem de
se concluir que o campo eléctrico é nulo pois apenas E = 0 pode garantir que

E ⋅ dA = 0 (12.8)
S

para toda e qualquer superfície S. Este resultado é independente da maneira como a


carga se distribui na superfície da esfera (seja esta distribuição uniforme ou
não-uniforme).

+ +
+ S3 +
+ +

+
S1 S2 +

+
+
+ E =0 +
+
+
+ +
+

Figura 12.3

Consideremos que a carga à superfície está distribuída uniformemente. Qual é o campo


no exterior? Um plano que contenha um ponto no exterior, P, e o centro da esfera, C,
divide a esfera carregada em duas semiesferas, como se mostra na Fig. 12.4

3
+ +
+ +
+ +
E1
+ +
E
+
+ P
C
+ + E2
+
+
+ +
+
Figura 12.4

A parte superior da esfera cria o campo E 2 “para baixo”; mas a parte inferior cria o
campo E1 “para cima”. Por simetria, e tal como mostra a Fig. 12.4, as componentes na
direcção perpendicular à linha que une P ao centro da esfera anulam-se e só resta a
componente radial do campo. Claro que este raciocínio só é válido se a distribuição de
carga for uniforme!

r
Q r̂

Figura 12.5

O campo eléctrico produzido pela distribuição uniforme de carga da carga Q numa


superfície esférica é da forma E ( r ) = E ( r ) r̂ . Então E ( r ) ⋅ dA = E dA , com E uma
constante para todos os pontos da superfície de Gauss esférica de raio r (Fig. 12.5).
Como vimos na aula anterior, nestas condições o fluxo do campo eléctrico radial através
da superfície esférica é 4π r 2 E e, de 4π r 2 E = Q / ε 0 resulta o campo eléctrico

1 Q
E= r̂ (ponto exterior) (12.9)
4πε 0 r 2

O campo criado por uma distribuição esférica superficial e uniforme de carga a uma
distância r do centro é igual ao que seria produzido se a carga estivesse concentrada no
centro.
Também nada muda no resultado (12.9) se a carga estiver distribuída
uniformemente em todo o volume da esfera. A forma radial para o campo é a que
resulta de considerações como as que acima tecemos baseadas na Fig. 12.4. Podemos

4
mesmo ir mais longe e afirmar que o campo eléctrico produzido por uma distribuição
esfericamente simétrica de carga (em superfície ou em volume) produz um campo radial
(relativamente ao centro dessa distribuição esférica).
Se for Q a carga contida numa esfera de raio R, o campo eléctrico num ponto
exterior é

1 Q ρ R3
E= r̂ = r̂ . (12.10)
4πε 0 r 2
3ε 0 r 2

Para se escrever a última igualdade levou-se em conta que a densidade de carga ρ é a


carga total a dividir pelo volume da esfera [ver (12.3)].
E qual é o campo eléctrico num ponto do interior da esfera? O caso da esfera oca
o campo é zero mas agora já não vai ser nulo pois qualquer superfície de Gauss interior
à esfera encerra sempre alguma carga eléctrica. Argumentos de simetria como os
expostos acima baseados na Fig. 12.4 podem ser invocados para se concluir que o
campo ainda é radial no interior: E ( r ) = E ( r ) r̂ . A Fig. 12.6 mostra uma esfera de raio
R uniformemente carregada e duas superfícies de Gauss concêntricas com essa esfera:
uma exterior e outra interior, cujos raios designamos genericamente por r.

Q Q' r

R
r

Figura 12.6

Para r > R (ponto fora da distribuição), o campo eléctrico é dado por (12.9) − é o
campo criado por uma carga pontual Q situada no centro. Para r < R (ponto dentro da
distribuição), o campo eléctrico ainda é dado pela mesma expressão, mas agora a carga
Q é substituída pela carga Q’ que está dentro da esfera de raio r. Esta carga é

3
4 r
Q ' = ρ πr 3 = Q (12.11)
3 R

e o campo eléctrico para r < R é

5
1 Q'
E= rˆ . (12.12)
4πε 0 r 2

Este campo ainda se pode escrever

ρr
E= rˆ . (12.13)
3ε 0

Na Fig. 12.7 representa-se o valor do campo eléctrico criado por uma esfera
uniformemente carregada,

ρr
, r<R
3ε 0
E (r ) = (12.14)
ρR 3
, r > R,
3ε 0 r 2

em função da distância.

R r

Figura 12.7

Campo eléctrico criado por uma distribuição uniforme linear de carga

Uma linha está uniformemente carregada com densidade linear de carga λ , ou


seja, λ = Q / L . Se a distribuição de carga for rectilínea e infinita, o campo eléctrico é
da forma E ( r ) = E ( r ) ê r , onde ê r é um vector unitário, definido em cada ponto,
perpendicular à linha de carga.
Considera-se como superfície de Gauss um cilindro de raio r e comprimento L
como mostra a Fig. 12.8.

6
E

êr
r

L
r

Figura 12.8

O fluxo do campo eléctrico através das bases do cilindro é nulo pois o campo é tangente
às bases. O fluxo através da superfície lateral do cilindro é o produto do campo pela
área lateral do cilindro pois a normal à superfície tem a mesma direcção e sentido do
campo eléctrico. O fluxo é pois

Φ = 2π r L E (12.15)

Por outro lado, de acordo com o teorema de Gauss,


Φ= (12.16)
ε0

donde

1 λ
E= ê r . (12.17)
2πε 0 r

O campo criado por uma carga eléctrica pontual (ou por uma distribuição esférica de
carga) decresce com r−2. O campo criado por uma linha decresce mais lentamente: vai
com r−1.

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