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OH4 – Portos, rios e canais

NOÇÕES DE OCEANOGRAFIA

1. INTRODUÇÃO
Os oceanos ocupam 70,8% da superfície do planeta. Consequentemente, têm uma
influência decisiva em todos os fenômenos físicos que ocorrem no planeta: na
Meteorologia, Geologia, Biologia, etc. No clima e na conformação das costas
continentais, a importância da sua influência é de percepção imediata. Na Biologia, apesar
de ser o aspecto menos visível da Oceanografia, é certamente o mais importante.
Está nos oceanos a maior reserva de alimentos conhecida da Humanidade. Mas, ainda
hoje, apesar dos inegáveis avanços da tecnologia e dos conhecimentos humanos, a
exploração dos mares é feita nos moldes empregados pelos nossos ancestrais das
cavernas: predatória, sem preocupação com a recomposição dos recursos retirados. A
exploração racional dos recursos do mar virá na forma de fazendas submarinas e a
aquicultura de espécies animais e vegetais com enormes vantagens em relação à feita em
terra: maior estabilidade das condições ambientais (sem inundações, secas, calor ou frio
em demasia), aproveitamento integral dos vegetais (100% das algas contra 5 a 10% dos
vegetais terrestres), reprodução muito mais rápida (50 colheitas de algas por ano, contra
1 a 2 em terra) e aproveitamento das 3 dimensões do espaço.

2. RELEVO SUBMARINO
De modo geral, o relevo submarino é bem mais acidentado que o terrestre. A
profundidade máxima dos oceanos é de 11.000 metros, superior portanto às maiores
elevações continentais. Em vários pontos do globo podem ser encontradas fossas com
mais de 9.000 metros de profundidade.
A profundidade média dos oceanos é de 3.795 metros que, apesar de parecer um valor
elevado, representa somente 1/1.700 do raio terrestre. Se a Terra for representada por
uma esfera de 1 metro de raio, os oceanos seriam representados por uma folha de papel
finíssima, recobrindo a sua superfície.
Em corte, são as seguintes as partes que representam o relevo submarino, a partir do
continente:
a) plataforma continental – em média, com até 65 km de extensão, vai a até
aproximadamente 200 metros de profundidade. Considerando a variação do nível do
mar, pode-se subdividi-la em:
- beira-mar – trecho acima do nível de preamar;
- estirâncio – trecho compreendido entre os níveis de preamar e de baixa-mar.
Junto com a beira-mar, forma a praia propriamente dita;
- ante-praia – trecho da plataforma continental abaixo do nível de baixa-mar. É o
trecho onde os sedimentos ainda podem ser movimentados pela ação
das ondas.
b) talude continental – parte onde a plataforma cai de forma bastante abrupta, até
mais ou menos 1000 metros de profundidade.

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c) Elevação continental
d) Plano abissal.

3. PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS
a) Temperatura
Depende da temperatura ambiente e da radiação solar acompanhando, de modo geral, a
variação da temperatura do ar, tanto a diária como a sazonal.
Em profundidade, decresce até aproximadamente 500 metros, mantendo-se então
praticamente constante, entre 4o e 5o C.

b) Salinidade
É a característica básica da água do mar. Na superfície, depende de vários fatores:
temperatura, evaporação, precipitação, etc., decrescendo com a profundidade.
É medida em partes por mil, com média em 35o/oo e extremo máximo em mares fechados (
270o/oo no Mar Morto).
A proporção dos sais dissolvidos na água do mar é constante, qualquer que seja a sua
origem. Ë a seguinte a sua composição média:
- NaCl – 77,7%
- MgCl – 10,8%
- MgSO4 – 3,4%
- Outros – 8,1%

4. ONDAS
4.1. Introdução
A superfície do mar apresenta-se normalmente ondulada, com ondulações de
características semelhantes entre si. As cristas são aproximadamente paralelas e se
propagam na direção da costa de maneira uniforme.
As ondas são as principais responsáveis pela modelagem das costas, seja através da ação
direta sobre costões e praias, seja indiretamente, originando certos tipos de correntes
litorâneas.
Para a Engenharia Costeira, interessa principalmente as características da onda junto às
costas, de forma a possibilitar o dimensionamento de obras de proteção.
O mar apresenta dois tipos de movimento: um semi-permanente (correntes marítimas) e
outro ondulatório (ondas e marés). Estes movimentos podem ser periódicos ou não. Assim,
por exemplo, as ondas de oscilação são periódicas, com uma periodicidade característica,
enquanto as ondas de translação são aperiódicas.
As ondas de gravidade, normalmente chamadas apenas de “ondas”, são as mais
importantes, apresentando períodos que variam de 1 a 20 segundos e amplitudes de até

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13,5 metros (Oceano Pacífico). No Brasil, registram-se períodos da ordem de 2 segundos


e amplitudes de 6 metros.

4.2. Formação das Ondas


As ondas são formadas em alto mar pela ação intermitente do vento sobre as massas
oceânicas, havendo então uma transferência de energia do ar em movimento para a água.
Nessa região de formação tem-se uma oscilação irregular da superfície, sem uma
definição precisa das características das ondas e sem uma direção de propagação
definida.
Ainda soba a ação do vento, as ondas começam a se propagar com aspecto desordenado
mas tendendo para a direção à qual o vento sopra. Esta situação é chamada de expansão e,
nesta zona, as ondas tendem a ganhar energia.
Saindo da região onde se apresenta a ação do vento, as ondas começam a se propagar
livremente (zona de propagação) sob efeito exclusivamente da gravidade. É nesta zona
que as ondas passam a definir suas características devido a um processo de filtragem:
ondas de características semelhantes passam a se propagar juntas.
À medida que a onda se aproxima da costa, as profundidades vão se tornando menores,
passando a influir nas suas características (amplitude, período, comprimento),
modificando-as substancialmente até ocorrer a perda total da energia até a arrebentação
na praia.
Esta região é chamada de zona de deformação das ondas e, por ocorrer nas proximidades
das costas, onde estão localizadas as obras marítimas, é a de maior interesse para a
Engenharia.

4.3. Deformação das Ondas Provocadas por Obstáculos

São basicamente dois os fenômenos de deformação de ondas:


a) Reflexão
Quando uma onda incide sobre um obstáculo imerso ou submerso, ocorre sua reflexão,
originando uma onda que se propaga em sentido inverso, com o mesmo período e
celeridade da onda incidente. A amplitude pode ser diferente, em função da energia
consumida na reflexão.
Dependendo do tipo de obstáculo, pode-se ter:
• Obstáculo Vertical → reflexão total;
• Obstáculo Inclinado → reflexão total ou parcial;
• Obstáculo Imerso → reflexão parcial;
• Obstáculo Submerso → reflexão parcial.
Quando se tem um obstáculo vertical e frente de onda incidente paralela a este, a
reflexão é total, com a onda refletida tendo o mesmo período e amplitude da onda
incidente. A superposição das duas ondas, a incidente e a refletida, dá origem a uma onda
estacionária chamada “Clapotis”.

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O “Clapotis” apresenta algumas características bastante interessantes:


• a sua amplitude é praticamente nula nos pontos fixos denominados “nós”;
• a amplitude é máxima nos pontos denominados “ventres”;
• a distância entre dois “nós”, ou dois “ventres”, é igual à metade do comprimento
de onda incidente. Junto ao obstáculo, sempre ocorre um “ventre”;
• nos “nós”, as partículas descrevem trajetórias aproximadamente horizontais:
• nos “ventres”, as partículas descrevem trajetórias aproximadamente verticais.
b) Difração
É a propagação da onda atrás de obstáculos. É um fenômeno análogo ao da difração de
ondas eletromagnéticas.
É importante no projeto de obras artificiais para a proteção de portos. Através do seu
estudo, é possível determinar a agitação na área abrigada pelos quebra-mares.
O período das ondas difratadas é igual ao das ondas incidentes mas a amplitude é variável
ao longo da frente de onda.
Os fenômenos de difração são bastante complexos e de difícil interpretação físico-
matemática devido ao grande número de variáveis intervenientes. São, por isso,
usualmente estudadas em modelo reduzido.

5. MARÉS
5.1. Introdução
Marés são movimentos oscilatórios do nível do mar que se repetem com períodos longos.
São provocadas pela ação da atração dos astros, principalmente o Sol e a Lua, que agem
sobre a massa líquida dos mares.
O conhecimento do fenômeno das marés é importante para o estudo dos portos e do
regime dos litorais. A partir do conhecimento da variação das marés num determinado
ponto da costa, são fixadas as cotas das cristas dos cais de atracação e as cotas mínimas
do fundo.
As marés põem em movimento grandes massas de água, dando origem às correntes de
maré, provocam mudanças na composição das águas dos estuários e podem provocar a
movimentação de grandes massas de aluviões.
As correntes provocadas pelas marés podem atingir velocidades que chegam a
comprometer a navegação mas, por outro lado, podem assegurar as profundidades
necessárias à navegação.
A atividade de muitos portos, em especial a entrada e saída, a atracação e a operação de
carga e descarga podem depender das marés locais.

5.2. Amplitude e Período das Marés


Registrando-se de forma contínua a variação lenta do nível do mar, obtém-se uma curva
senosoidal que se repete no tempo com períodos e amplitudes bem definidos.

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Quando a maré está subindo, diz-se que ela está na “montante”, no “fluxo” ou na
“enchente”. Quando ela atinge o nível máximo, diz-se que está na “preamar” ou “maré
cheia”. Quando está na descida, diz-se que está na “vazante” ou no “refluxo”, até atingir o
nível mínimo que é a “baixa-mar” ou “maré baixa”.
À oscilação observada entre a preamar e a baixa-mar, denomina-se “amplitude da maré”.
O tempo entre duas preamares ou entre duas baixa-mares é o “período da maré”. Este
período corresponde a meio dia lunar que equivale a 12 horas, 20 minutos e 14 segundos.
As marés resultam da variação da atração exercida pelo Sol e pela Lua sobre a água dos
oceanos. A amplitude das marés será tanto maior quanto maior for a resultante da ação
desses astros. A atração exercida pela Lua tem efeito maior porque, apesar de ser muito
menor que o Sol, ela está muito mais próxima da Terra que o Sol.
Quando estes dois astros estão alinhados com a Terra, diz-se que a maré é de “sizígia”.
Isto só acontece nos períodos de Lua Nova ou Lua Cheia. Nesses períodos observam-se as
amplitudes máximas das marés. Quando os astros não estão alinhados, a soma das
atrações resulta em marés menores e diz-se que os astros estão em “quadratura”.
Por ocasião dos equinócios, quando o Sol e a Lua encontram-se no mesmo plano, ocorrem
as máximas marés de sizígia.

6. CORRENTES MARÍTIMAS
6.1. Introdução
As correntes marítimas podem ser definidas como o movimento das águas do mar em
caráter semi-permanente. Diversas são as forças que originam as correntes: ação dos
ventos, atração gravitacional dos astros, forças gravitacionais, rotação da Terra
(aceleração de Coriolis), variações de pressão na massa líquida, variações de densidade,
temperatura, etc. A ação de todas essas forças se faz sentir concomitantemente,
tornando bastante complexo o estudo das correntes.
As correntes marítimas são muito importantes pois estão intimamente ligadas ao clima,
aos recursos de pesca, aos problemas de poluição, etc. Por estes motivos, a Oceanografia
dá grande ênfase ao estudo das correntes. Para o engenheiro, o estudo das correntes é
importante, principalmente os para problemas de morfologia costeira, problemas de
poluição (difusão de águas servidas) e interferência com o tráfego e a acostagem de
navios.

6.2. Circulação Geral dos Oceanos


As grandes correntes oceânicas têm sua origem básica nas diferenças de temperatura
das massas de água dos oceanos devido à diferente insolação na superfície terrestre.
Essas diferenças geram ventos regulares e gradientes de pressão devido às diferenças
de densidade da água. O movimento assim gerado é bastante estável mas sofre mudanças
periódicas com as estações do ano.
As principais correntes oceânicas têm andamentos semelhantes nos Oceanos Atlântico
Norte e Sul, Pacífico e Índico. Formam circuitos fechados entre o Equador e a latitude
aproximada de 40o, girando em sentido anti-horário no Hemisfério Sul e sentido horário

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no Hemisfério Norte. Esta circulação dá origem a correntes secundárias ao norte e ao sul


do Equador e nas regiões polares.
Ao largo da costa do Brasil, a circulação geral acontece de Norte para o Sul, sendo
portanto uma corrente de água quente. É conhecida como “Corrente do Brasil”, atingindo
velocidade de menos de 1 nó (cerca de 0,5 m/s). O outro ramo deste circuito se situa ao
largo da costa africana, tem direção Sul-Norte e é conhecido como “Corrente de
Benguela”.
A mais conhecida das grandes correntes oceânicas é a Corrente do Golfo, a “Gulf Stream”
que, entre a ilha de Cuba e a Flórida, tem velocidade de até 5 nós.
As grandes correntes oceânicas só são sensíveis a dezenas de milhas da costa e
normalmente não ultrapassam 1 a 1,5 nós. Por esse motivo são de difícil observação.

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