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Higienismo: Textos que fizeram cidade

Paulo Castro Seixas


Universidade Fernando Pessoa

1. Introdução

A Higiene e a Civilização é o título de uma palestra para ferroviários proferida por


João Cid e publicada em 1935 que, de certo modo, parece caracterizar a ideia
central do higienismo como ideologia. Higiene identifica-se a Civilização e a sua
ausência caracteriza a Barbárie. Cid define Civilização pela sua relação etimológica
com a palavra cidadão, cidade e civilidade constituindo assim um universo de
sentido com uma mensagem específica:

"A palavra civilização e as suas derivadas têm, como tantas outras palavras
portuguesas, a grande maioria, uma origem latina. Civilização vem de civis-is, o
cidadão, ser moral sui-juris, responsável perante si mesmo, perante os outros e
perante a lei. A mesma origem têm a palavra civil, do cidadão e civilidade -
ciencia do governar a cidade, que é o conjunto de cidadãos e não o
agrupamento de casas formando ruas mais ou menos alinhadas. A palavra
civilidade já entre os romanos significava afabilidade, cortesia, honestidade,
boas maneiras, qualidades que eram precisamente as que distinguiam o
cidadão daquêles que não tinham esse estado e que eram designados pelo
termo bárbaros que correspondia a pessoas de instintos ferozes, sanguinários,
em que predominavam as tendencias para a única satisfação de apetites
materiais." (Cid, 1935: 12-13)

Os verdadeiros cidadãos de uma cidade, ou seja aqueles que são dotados de


civilidade parecem ser assim o verdadeiro lugar da Civilização. Ao procurar ilustrar o
que designa por Civilização, o mesmo autor estabelece uma correlação nítida entre
os valores da limpeza, do trabalho competente, das boas maneiras e da ausência de
criminalidade; enquanto, por outro lado, relaciona sujidade, trabalho incompetente,
ausência de boas maneiras e criminalidade para assim retratar a barbárie.

Quanto à relação que estabelece entre Civilização e Higiene, Cid tem consciência de
que na passagem do século quase se identifica completamente Higiene e
Civilização. Esta identidade é tão visível que Cid, procurando estabelecer as
diferenças e a relação entre os dois conceitos, afirma , a certa altura na sua
conferência, que entre uma e outra há tais relações de interdependência que até
muita gente, e boa, as julga como sinónimas. No entanto, para Cid, a diferença entre
Civilização e Higiene "aprofunda-se quando nos lembramos que a primeira exprime
um estado que nós definimos de maior aperfeiçoamento espiritual, enquanto que a
segunda quere significar a acção para se alcançar êsse estado..." (id:20). Assim, a
Higiene é o meio necessário para se atingir o estado de Civilização. A Higiene é
assim definida como "a ciencia - e não o ramo da medicina - que procura modificar
as pessoas e o meio onde vivem no sentido mais favorável ao aperfeiçoamento
integral daquelas." (ibid:17). Cid, na sua palestra utiliza essa imagem específica para
ferroviários, afirmando que a Higiene não é senão a força que põe a locomotiva da
Humanidade em marcha "para um determinado ideal - isto é - na marcha geral da
civilização." (ibid:20). Cerca de 50 anos antes, em 1888, Ricardo Jorge tinha feito as
seguintes relações entre Cidade, Civilização e Higiene:

“Em verdade se diga - não são as luxuosas ostentações e dispendiosos


aformoseamentos o metro da valia d’uma cidade: é a limpeza publica. Não se
meça o merito citadino por uma esthetica, tantas vezes inutil e desperdiçadora,
mas sim por uma sanitariedade mais proveitosa e menos brilhante, que não
provoca o pasmo das gentes, mas que promove o bem-estar physico de todos.
Esse o padrão por onde se afere a craveira d’uma cidade na escala da
civilisação humanitaria; e só merece verdadeiramente o nome de cidade
aquella que se empenha em aproximar-se quanto possível do ideal da
salubridade.” (1888: 18)

*
Toda a produção discursiva e textual higienista pode, de certo modo, ser
interpretada como uma consciência da possibilidade de indistinção e o pânico
perante tal possibilidade. Os higienistas utilizam toda uma gama de argumentos,
religiosos, médicos, sociais e políticos no sentido de evidenciar a importância da
distinção entre aquelas duas ordens de sentido: a civilizacional e a barbárica.
Depois, munidos de uma legitimação civilizacional e civilizatória (médica,
religiosa...), assaltam a cidade com os seus inquéritos, os seus discursos e os seus
textos. A sua cruzada é pela Civilização e a Higiene é o meio pelo qual se localiza o
infiel - não para que o destruam, como afirmam pretenderem - e mais nítido se torna
o horizonte civilizacional.

A legitimação científica da Higiene, como ciência, entronca numa série de técnicas


que possibilitam o estudo do estado civilizacional de um povo ou de uma cidade, ou
seja medidas de civilização. Cid afirma que "para avaliar do estado de civilização de
um povo, nós podemos consultar índices que são a sua expressão quasi rigorosa.
Refiro-me aos índices da vida-média, naturalmente resultantes dos índices de
morbilidade, mortalidade e natalidade; o indice de <<criminalidade>>, um índice de
<<instrução>> e um índice de <<moralidade>>, consequência do índice judiciário."
(ibid:25). Estas medidas de civilização vão ser assim a máquina argumentativa
utilizada no inventar da distinção. A utilização de cada um destes índices é
ideologicamente conotada não só no que se refere às interpretações emergentes
dos dados recolhidos mas relativa à própria recolha de dados, encontrando-se a
Barbárie e a Civilização cada vez que é posta em funcionamento esta máquina
médica.

É a medicalização do social que se impõe. Foucault explicita como na transição do


século XVIII para o XIX uma mudança de olhar, de espaço e de linguagem por parte
dos médicos, associada à emergência da Sociedade Real de Medicina em 1776, faz
surgir "uma consciência colectiva dos fenômenos patológicos; consciência que se
manifesta, ao nível da experiência como ao nível do saber, tanto de forma
cosmopolita quanto no espaço da nação" (Foucault, 1994:31). Neste Nascimento da
Clínica, Foucault faz uma espécie de história da medicina feita de muitas

+
simultaneidades mas em que uma "Medicina das classes ou das espécies" dá lugar
a uma "Medicina dos sintomas", dando esta lugar a uma "Medicina dos orgãos".
Com a medicina social dos higienistas são estas diversas medicinas que se
inscrevem na paisagem de uma cidade patológica em construção. É neste sentido
que um século depois, Ricardo Jorge afirma que “Na gerencia social moderna
começa a avultar um principio dirigente que raro preoccupou a sociedade antiga, e
muito menos a sociedade de hontem: esse principio, que ámanhã será insculpido na
magna carta dos deveres politicos, é - a defeza da saude e da vida, a lucta contra a
morbilidade e a mortalidade” (1888: 1). Para Jorge, a “reivindicação energica” em
relação à “segurança hygiénica do cidadão contra os damnos morbidos” “é a mais
brilhante conquista operada pelas sciencias biologicas, em nome da medicina e da
hygiene, no campo das sciencias moraes e politicas” (1888: 1 e 2).

A medicalização do social inscreve no espaço habitado da cidade a ideia de um


enorme corpo, corpo este que há que tornar visível nos seus múltiplos aspectos e
em que esta visibilidade tem que ser apalavrada e escrita para que finalmente se
possa diagnosticar aquele corpo e expurgá-lo das suas partes doentes, num
sacrifício necessário à sua saúde. O Corpo, a Visibilidade, a Escrita e o Sacrifício
são assim os principais mecanismos que asseguram ao higienismo a sua eficácia na
função de regulação da distinção para a qual foram chamados.

2. O corpo como princípio ordenador

"Se é verdade que tudo simboliza o corpo, também é verdade (se não mais verdade
e pela mesma razão) que o corpo simboliza tudo" (Douglas, 1991:145). As
habitações e a cidade eram entendidas pela metáfora do corpo e da alma na
ideologia higiénica. A cidade-como-corpo pode ser lida ao longo da obra de Ricardo
Jorge como por exemplo nas seguintes passagens:

"Se o colosso portuense fôra dado a vida nomade, elle locomovia-se para
buscar alimento e semear os seus dejectos. A sua vida é porém sedentaria;
está collado ao chão da cidade como um polypeiro. Para a sua nutrição é
forçoso que lhe vasem na boca os mantimentos, tal qual como a Gulliver, os

,
liliputianos. E não basta dar-lhe boa água e bom alimento a fartura; é preciso
remover-lhe a estrumeira, limpar esse estábulo d'
augias, diante do qual um
Hercules recuaria as suas façanhas."
"A grande hygiene, a hygiene municipal por excellencia, visa essencialmente a
essa dupla finalidade: contrastar a pureza do bolo alimentar e da água que tem
que ser ingerida no ventre da cidade -remover toda a massa fecal, todos os
escorralhos immundos..." (Jorge, 1888:9-10).

De facto a imagem da cidade-como-corpo parece ter sido mais que uma metáfora,
ela foi uma ideologia em acção com uma grande eficácia simbólica. Os textos
higienistas indiciam que os lugares altos e abertos seriam a cabeça da cidade (aliás
já o eram tradicionalmente), nas partes baixas estava o grande ventre da cidade e
também os seus mil braços, e no subsolo estavam os intestinos e o recto da cidade.
Este princípio ordenador das cidades deve, aliás, ser bastante antigo, senão tomado
conscientemente, pelo menos implicitamente (Douglas, 1991: 145). Parece ser um
raciocínio normal identificar a frente de uma cidade. Ninguém, creio, duvida que o
Porto nasceu defronte do Douro, Lisboa defronte do Tejo, etc. Ora, se é do senso
comum que uma cidade tenha frente, há-se também ter costas, e um lado direito e
um lado esquerdo. E as valorações humanas, culturalmente formadas, dadas a
todas essas lateralizações corporais hão-de estar também em parte representadas
nas próprias cidades.

A consciência da cidade como território corporal explica /é explicada pela aplicação


à mesma de disciplinas até então aplicadas apenas ao corpo humano como o caso
da “anatomia” e da “fisiologia” já referidas previamente e explica também que a
cidade pudesse ser analisada para se produzir um “diagnóstico”, procedendo-se
depois a uma “terapêutica” de erradicação da doença. Certas partes da cidade são
mesmo concebidas como focos de doenças e estas doenças são concebidas como
derivando de uma ausência de higiene. Douglas refere que as noções de impureza
e higiene são um excelente caminho para a compreensão das religiões primitivas,
entendendo a impureza essencialmente como desordem ou como ofensa à ordem.
Toda a ideologia higienista pode ser compreendida em função da noção de higiene e
dos dois lados do sagrado, pureza e perigo, e estes "longe de serem aberrações que

-
afastam os fiéis do fim da religião, são actos essencialmente religiosos. Por meio
deles, as estruturas simbólicas são elaboradas e exibidas à luz do dia. No quadro
destas estruturas, os elementos díspares são relacionados e as experiências
adquirem sentido." (Douglas, 1991: 15).

Douglas afirma que as noções de impureza, de poluição se inserem na vida social


em dois níveis, um funcional e outro expressivo. No primeiro nível as crenças
tornam-se práticas sociais, constituindo uma ideologia em acção, reforçando uma
ordem social através de constrangimentos sociais quotidianos ritualizados; no
segundo nível "algumas poluições servem de analogias para exprimir uma ideia
genérica da ordem social." (id: 16). Ora, por um lado, a noção de habitação-como-
corpo inscreveu-se no quotidiano citadino e, em particular nas camadas
populacionais mais baixas, enquanto, por outro lado, a centralização da atenção
higienista nas Ilhas possibilitou a construção de um estereotipo de poluição citadina
que ajudou a sedimentar uma determinada urbanidade desejada.

A habitação-como-corpo é de facto uma ideia recorrente da ideologia higienista. Mas


mais que um corpo, a cidade e as suas habitações são interpretadas como um corpo
doente, um corpo que precisa de ser analisado atentamente por médicos-sociais e,
possivelmente mesmo, internado: "O médico-social tem o mesmo dever de examinar
a habitação, que o corpo do doente. Um inquérito das habitações para o
esclarecimento da situação social é tão indispensável como o emprêgo do
termómetro para a diagnose da doença." (Liepman, cit. in Moreira, 1941). Toda a
cidade deveria ser hospitalizada para que nela se pudesse viver como se pode
operar num hospital: "A cidade, como o hospital, são saneáveis; à força de medidas
hygienicas é possível operar-se num hospital e viver-se numa cidade, sem que a
morte nos imponha os excessos incomportáveis das cifras obituárias." (Jorge, 1888:
14-15).

Esta ideia de cidade doente ou o receio de contágio a toda a cidade das partes
doentes da mesma pode ser interpretada como tendo a sua origem na consciência
de um "curto-circuito no ciclo fecal". Talvez por isso esta metáfora hospitalar não nos
aparece como o lugar de uma prevenção da doença mas antes como lugar de

.
guerra e extermínio, pois: "a saneabilidade urbana tomou para base o mesmo
princípio da hospitalar: a destruíção dos focos putridos, a desinfecção, numa
palavra, a guerra de exterminação contra toda a bactéria nociva." (Jorge, 1888: 14-
15). Aliás, a cidade como lugar de uma arena, de um campo de batalha, lugar de
lutas ou de guerra repete-se em Ricardo Jorge: "...a arena por excellencia das lutas
conquistadoras da hygiene é a cidade; nem outro pudera ser o seu campo de
batalha senão ella, alli onde exubera a vida social em toda a plenitude dos seus
vicios e disformidades." (id: 5).

Esta linguagem bélica não é acidental. De facto, a linguagem bélica utilizada


pressupõe uma resistência ao (r)estabelecimento da distinção num mundo que
tende para a indistinção. Não era de facto apenas a linguagem que pressupunha
uma resistência dado que se formou toda uma máquina político-administrativo-
médico-policial que actuava de forma coercivo-educativa em que cada inquirição
implicava a presença de um médico e de um polícia de forma a que o corpo citadino
fosse obrigatória e competentemente tornado visível.

3. O visível como princípio ordenador

O olhar é fulcral na história do conhecimento. Como afirma Foucault "tantos poderes


- desde o lento esclarecimento das obscuridades, a leitura sempre prudente do
essencial, o cálculo do tempo e das possibilidades, até ao domínio do coração e o
confisco dos prestígios paternos - são formas através das quais se instaura a
soberania do olhar. Olho que sabe e que decide, olho que rege." (Foucault, 1994:
100). A importância do olhar na arqueologia da ciência moderna remonta pelo
menos ao século XVII: "A história natural, desde a segunda metade do século XVII
se propusera analisar e classificar todos os seres naturais segundo suas
características visíveis." (Foucault, 1994: 100). É este imperativo do olhar naturalista
que o higienismo utiliza no desnudar da cidade doente.

O higienismo baseia-se, antes de mais, no imperativo de olhar que se transforma em


olhar imperativo. É pelo olhar que a cidade se tornará patológica aos olhos de quem
olha. O percurso que transforma a medicina dos corpos e de hospital em medicina

/
social da cidade e do seu saneamento, é um trajecto do olhar que procura as
invisibilidades, o lado obscuro, as lacunas da cidade, os intervalos de uma coerência
que é a visível para aí descobrir os seus lados negativos e as suas patologias. Tal
como na medicina dos corpos “o olhar do médico não se dirige inicialmente ao corpo
concreto, ao conjunto visível, à plenitude positiva que está diante dele - o doente -,
mas a intervalos de natureza, a lacunas e a distâncias em que aparecem como em
negativo <<os signos que diferenciam uma doença de uma outra, a verdadeira da
falsa, a legítima da bastarda, a maligna da benigna>>." (Foucault, 1994: 7). O
higienismo, capacitado do poder e da competência para tornar o invisível visível,
purificará o impuro, tornando assim saneável a cidade patológica que ele próprio
criou. O olhar médico, livre de obstáculos, tornando tudo em que se focaliza
translúcido e sendo por isso purificador ao instaurar um princípio de ordem era um
mito da transição do século XVIII para o XIX que Foucault refere: "Grande mito do
livre olhar que, em sua fidelidade em descobrir, recebe a virtude de destruir; olhar
purificado que purifica; liberto da sombra, ele dissipa as sombras." (id:17).

Esta ânsia da visibilidade é notória em diversos textos do higienismo, a propósito


dos mais variados aspectos. A propósito dos carreiros, por exemplo, Ricardo Jorge
diz:

“Quem tem assistido a todos estes horrores, chega a desejar vivamente que,
em vez da vidange se operar de madrugada, como ordenam todos os
regulamentos municipaes, fôsse licito pratica-la alto dia. A hygiene nada lucra
em se poupar os olhos do publico a esse espectaculo ascoroso. Pelo contrario,
quanto mais se patenteasse tal indecencia mais odiosa se tornaria, e todo o
mundo havia de clamar por que se puzesse um termo a tão monstruosa
insalubridade.” (Jorge, 1888: 40)

Mas o olhar higienista rapidamente adopta para a cidade os instrumentos de


observação sistemática e mesmo de vigilância que já utilizava nos hospitais. Se a
vigilância se quer sobre o corpo e a alma, quer-se também, por extensão, sobre as
suas habitações e sobre a cidade como um todo. É já como um olhar vigilante,
registo de mudanças passadas e atento a mudanças futuras que se institui a figura

0
dos inquéritos sanitários. No Manual do Médico Sanitário de Almeida Garrett de
1911 refere-se com pormenor em que consistiam tais inquéritos.

"O R.G.S. (Regulamento Geral de Saúde) impõe como dever dos


subdelegados de saúde, o vistoriar com a auctoridade policial as habitações
que pelas suas condições de insalubridade exijam beneficiações, obras, ou
demolição, e o proceder a visitas domiciliárias, no caso de invasão ou ameaças
de epidemia, ou motivo grave de saúde pública (nº19 do art. 74). Ao Delegado
cumpre vigiar pelas condições sanitárias das habitações das classes pobres
(nº14 do art. 76), e promover a beneficiação ou destruição das habitações
insalubres (nº13 do art. 76). Os delegados de Lisboa e Porto devem ainda
elaborar o cadastro sanitário das habitações das duas cidades, com a menção
das condições de salubridade e dos casos de molestias infecciosas quen'
ellas
se tenham dado (n.º 7 do art. 94). " (Garrett, 1911:60).

O objectivo de tais inquéritos era, por um lado, o do "vigiar" ou "vistoriar" a cidade


como se de um corpo humano se tratasse e, por outro lado, o "cadastrar" das
habitações de pobres, associadas que eram da insalubridade e, especificamente, de
doenças contagiosas, como se de uma parte doente desse corpo humano se
tratasse.

As "visitas domiciliárias" que o texto refere eram necessárias para elaborar o


"cadastro sanitário" das habitações. Para tal procedia-se do seguinte modo: o
inspector entra em casa acompanhado da autoridade policial e "percorrerá
sucessivamente todos os pavimentos da casa, entrando em todas as divisões, e
fazendo apenas as perguntas indispensáveis." (Garrett, 1911:61). Ao fazer esta
vistoria vai tirando apontamentos e "se, percorrido o último andar, tiver o cuidado de
fazer rapidamente a revisão dos seus apontamentos, poderá ao descer inspeccionar
novamente os locaes que mais careçam da sua attenção" (id.: 61). O mecanismo de
regulação que se traduzia no ritual de "inspecção" ou "vistoria" incluía uma série de
preceitos através dos quais se efectuava a transmutação do espaço vivido em
espaço escrito. De facto, Almeida Garrett toma como exemplo os levantamentos
feitos em Paris e propõe o mesmo tipo de inquérito para a elaboração do "cadastro

1
sanitário de todos os domicilios d'
uma determinada area":

"1º Um envolucro com a indicação do bairro, rua, e número da casa.


2º Uma planta na escala de 2/1000, com indicação das canalizações, fossas, poços, fontes e estrumeiras.
3º Uma folha de descripção da habitação.
4º Uma folha indicando os obitos por doenças contagiosas, com as respectivas datas, e os casos de doenças de declaração
obrigatória ou facultativa.
5º Uma folha indicando as desinfecções feitas na casa, a sua data e a sua causa.
6º Uma folha indicando as medidas prescriptas pelas comissões sanitárias e a sua aplicação.
7º Uma folha indicando as investigações d'
ordem scientifica, d'
interesse hygienico, que tenham sido realizadas na casa.
8º Todos os resultados d'
inqueritos sanitários não compreendidos nas precedentes folhas." (ibid:110)

Almeida Garrett coloca ainda a hipótese do inspector sanitário ser encarregado de


organizar um inquérito especial sobre as habitações dos "proletários". Para este
efeito propõe que se siga um inquérito administrado às habitações operárias dos
Cantões de Liége:

"A- Condições higiénicas da localidade (.../...)


B- Relações da habitação com as construcções visinhas (.../...)
C- População (.../...)
D- Condições economicas (.../...)
E- Salubridade e conservação da casa
a)iluminação natural
b)aquecimento e ventilação
d)abastecimento em água
e)remoção de águas domésticas
f)defectos solidos
g)estábulos, curraes, galinheiros e pombais
F- Estatística da tysica pulmunar, da febre typhoide e da dyphteria"

Da vistoria de uma habitação resultava uma compilação de "vicios hygienicos" -"os


vicios hygienicos d'
un domicilio podem ser devidos à falta de cuidados dos
inquilinos, ou à má construcção ou mau estado de conservação do predio" (id:61).
Quanto aos primeiros davam origem a lições de higiene "aproveitando todas as
opportunidades para fazer em face das coisas a vulgarisação de noções
rudimentares d'
hygiene, que deverão ser explicadas d'
uma maneira clara, acessivel
à cultura e mentalidade do inquilino." (ibid.: 61). Curiosamente, quanto aos segundos
o inspector deveria abster-se de falar quer com o inquilino quer com o proprietário do
prédio, evitando assim "discussões desagradáveis e desprestigiosas da sua
auctoridade" (ibid.:61).
2
Assim, criticava-se a higiene/ordem interna mais que a higiene/ordem externa, mais
o inquilino e os seus actos do que o proprietário. Aliás, logo a seguir, o mesmo
manual evidencia exactamente isto, ao referir como aspecto fundamental o "desleixo
dos inquilinos", afirmando que "a falta de limpeza dos inquilinos pode transformar
uma habitação salubre n'
um foco morbifico" (ibid.:61). Por isso era necessária uma
educação higiénica que seria mais importante do que a coerção higiénica: "a
correcção dos vicíos devidos aos desleixo dos inquilinos depende mais da educação
hygiénica das populações do que de possíveis exigências da polícia sanitária,
difficeis de exercer d'
uma maneira sufficientemente continua" (ibid.:62).

A transmutação do invisível em visível, tornando o imperativo de olhar em olhar


imperativo era um autêntico ritual de poder sobre o espaço, legitimado por dois dos
tipos de autoridade identificados por Weber, a tradicional-coerciva-policial e a
moderna-educativa-científica. Estas duas autoridades, afirmam o seu poder, um por
meio do uniforme e dos elementos bélicos a ele associados, o outro por meio
essencialmente de um conhecimento que se demonstra pela escrita. Assim todo o
espaço privado, normalmente oculto ao estranho, é devassado, tornado visível e
apropriado, ou melhor expropriado, pelo poder científico-policial numa metamorfose
de inversão que o torna oculto exactamente aos únicos que até aí o conheciam pelo
poder cifrador da escrita. Assim o espaço privado é expropriado por meio de uma
escrita triplamente ocultadora: porque deriva de uma inquirição policiada, porque de
carácter científico e porque aqueles na casa de quem se fazem estas inquirições são
maioritariamente analfabetos.

4. O discurso e a escrita como princípio ordenador

Podemos perguntar-nos porque é que a palavra, falada e escrita, era tão importante
para os higienistas. Os higienistas deixaram-nos uma produção textual relativamente
impressionante: palestras e discursos, artigos, relatórios e livros. A palavra foi usada
por eles das mais diversas formas, desde a descrição da química da água de um
poço, da mecânica de um aparelho higiénico, das condições de vida de uma
população à exortação política ou até ao discurso poético. Há no higienismo toda
uma economia da palavra, desde a produção da palavra escrita e oralizada como
sistema de produção (os inquéritos) até à palavra escrita e oralizada como produto,
académico ou para o grande público.

O universo de sentido no qual se movem as palavras do higienismo é o da impureza,


o da insalubridade, o do abjecto. A palavra parece ter no higienismo duas funções
básicas: uma função de descoberta/construção de um mundo abjecto e uma função
de exorcização/purificação desse mesmo mundo. Esta dupla função que a palavra
leva a cabo no higienismo é, de certo modo, referida por Kristeva quando afirma que
"it is the Word that discloses the abject. But, at the same time, the Word alone
purifies from the abject" (Kristeva, 1982: 23). A escrita e, especificamente, a escrita
sobre o abjecto, é uma espécie de ofício religioso, pois "the abject is equivalent of
death. And writing, which allows one to recover, is equal to resurrection. The writer,
then, finds himself marked out for identification with Christ..." (id: 26). Escrever sobre
o abjecto é evocar a sua existência e invocar a sua presença, escrever sobre o
abjecto é colocar-se assim numa zona de perigoso contágio com o mesmo. Seria
aqui de perguntar se o papel da polícia sanitária não era exactamente a construção
cultural de uma fronteira a esse possível perigo de contágio que determinados
grupos sociais constituíam e, poderíamos também perguntar-nos se não seria esse
exactamente o papel do polícia que acompanhava o médico-social nas suas
inquirições higiénicas. Assim, a polícia sanitária era um completo lugar-fronteira pois,
ao mesmo tempo que possibilitava, coercivamente se preciso fosse, o contacto com
o abjecto, defendia, se necessário fosse, o médico-social ou a cidade, do contágio
por parte desse mesmo abjecto. A polícia sanitária era no campo empírico o que a
escrita higiénica do médico-social era no campo das ideias pois se a escrita é um
instrumento que traz à existência o abjecto, a própria escrita possibilita uma
distância racionalizadora em relação a esse mesmo abjecto, como refere Kristeva
"Writing them [os textos sobre o abjecto] implies an ability to imagine the abject, that
is, to see oneself in its place and to thrust it aside only by means of the
displacements of verbal play." (id:16). A distância física que a polícia sanitária
possibilitava traduzia-se numa distância racional pelos discursos e textos dos
higienistas: uns fortaleciam o Topos, os outros, o Logos. Se tivermos em conta que a

*
própria polícia sanitária foi uma invenção higienista, podemos então dar talvez a
devida noção da relação da análise higienista com o abjecto, com a sua
descoberta/construção e a sua revelação/purificação. Refira-se, ainda a esse
propósito, Kristeva: "abjection, which modernity has learned to repress, dodge, or
fake, appears fundamental once the analytic point of view is asumed. (.../...) One
must keep open the wound where he or she who enters into the analytic adventure is
located -a wound that the professional establishment, along with the cynicism of the
times and of institutions, will soon manage to close up. (.../...) Purification is
something only the Logos is capable of.” (id: 27).

A purificação que a escrita possibilita corporiza-se num sistema de classificações e


hierarquias que deriva de uma relação entre o Topos e o Logos. Os higienistas,
dotados de um sistema que eles próprios construíram e administraram (os inquéritos
sanitários) traduziam o Topos citadino num Logos higienicamente conformado que,
depois, publicamente revelado, era utilizado em relação às estruturas de poder e aos
cidadãos em geral para criar um novo sistema de classificações e hierarquias
citadinas, enfim uma nova cultura citadina na qual passavam a viver. Produzir um
saber escrito acerca do espaço é, à partida, produzir um instrumento de poder pois
como afirma Lacoste "a articulação de conhecimentos relativos ao espaço, que
constituem a geografia, é um saber estratégico, um poder." (Lacoste, 1977: 9). O
Higienismo torna-se um poderoso instrumento de poder ao legitimar-se num Logos
médico instituído e ao tornar-se autoridade na produção de instrumentos que
permitem topografar e avaliar as patologias e agonias urbanas existentes e até,
quem sabe, prever as emergentes. Este conhecimento cifrado do espaço, legitimado
profissional e institucionalmente, possibilitava o exercício de um poder sobre esse
mesmo espaço e os seus habitantes, mas também a constituição de um poder
paralelo face ao próprio poder político.

Assim, por um lado, a escrita, interpretada como invocação-purificação da desordem


urbana, poderia ser o lugar da catarse pela qual as elites (e portanto a classe
política) deslocam o medo e a culpa numa tradução científica dos mesmos. Os
médicos, representados socialmente de uma forma complexa e poderosa em que a
figura do médico-padre e a figura do médico-magistrado se confundiam ( Foucault,

+
1994: 35 e 45), eram os exorcistas ideais dos medos e das culpas das elites, que em
França e em Inglaterra tinham resultado num mar de sangue e que em Portugal
tinham tido Maria da Fonte como resultado. A figura do médico-padre-magistrado
poderia gerir a deslocação da culpa para um discurso científico que funcionou talvez
como o elo catártico de uma cadeia de catarses que, segundo Kristeva, vai da
religião à arte: "The various means of purifying the abject - the various catharses -
make up the history of religions, and end up with that catharsis par excellence called
art, both on the far and near side of religion." (Kristeva, 1982: 17). O poder de um
discurso interrogativo, baseado numa autoridade médico-policial (inquéritos
sanitários) impunha como resultado a perplexidade e a expectativa dos
dependentes-revoltados. É esta mesma perplexidade e expectativa que a figura
herdeira dos higienistas, o psico-sociólogo/funcionário da Câmara/jornalista ainda
hoje encontra nas suas deambulações interrogativas pelos mesmos espaços. A
perplexidade/ expectativa habituou as populações desses espaços a uma esperança
ritual que se renova periodicamente através de novas visitas interrogativas. A figura
do médico-padre, reforçada se necessário pelo polícia, possibilita as interrogações
sobre os mais recônditos espaços da habitação, do corpo e da alma que se
apresentam como confissões de vida; o médico-magistrado cifra todas as
informações numa escrita científica - portanto duplamente secreta - e guarda
segredo do diagnóstico-sentença mantendo os interrogados numa dependência
expectante. De facto, os diagnósticos-sentenças surgem normalmente em textos
(artigos ou livros) de carácter académico inacessíveis sequer ao mero conhecimento
dos interrogados.

Mas, por outro lado, esta "topografia médica" (Foucault, 1994: 34) se possibilitava
uma função catártica, era também um poderoso instrumento de poder que levou os
higienistas a terem cada vez mais importância ao longo de todo o século XIX e
mesmo na primeira metade do presente século, sendo Ricardo Jorge o autor da
reforma de 1901 na saúde pública em Portugal.

Em todo o complexo ideológico higienista - assim como também em algumas


ciências sociais que o herdaram - a escrita é metáfora de civilização (Goody, 1988).
O processo que vai do diálogo da inquirição-confissão à escrita do texto científico ou

,
de divulgação é sinónimo daquele que vai da natureza à cultura. A Higiene,
entendida como o meio necessário para se atingir a civilização, com o mesmo gesto
que transforma o invisível em visível, nomeia o indizível. Abrir a cidade até ao limite
do olhar e escrever esse olhar são os passos fulcrais da purificação higiénica. A
escrita higiénica surge-nos assim como um retrato da natureza, mas um retrato
purificado. Ou seja, um retrato que (re)inscreve uma ordem na natureza, assim
recontextualizando a cultura.

5. O Sacrifício como Princípio Ordenador

O higienismo afirma-se desde o início como uma ideologia sacrificial pois o processo
que transforma a cidade num corpo que há-se ser perscrutado pelo imperativo de
um olhar imperativo para que os topos se cifrem num logos, implica, finalmente, que
este logos identifique os topos da "insalubridade", topos esses que, de facto,
estavam já seleccionados quando se iniciou o mecanismo de busca. O higienismo
hospitalizou a cidade para nela descobrir as doenças que ele tinha inventado antes
de a hospitalizar. Os topos doentes da cidade estavam condenados a sê-lo antes
mesmo de qualquer diagnóstico em função de uma crença ideológica que
relacionava pobreza-insalubridade-imoralidade -criminalidade e todo o edifício
fantástico que o higienismo criou não serviu senão para legitimar culturalmente este
sacrifício topológico, ele próprio um sistema de segurança das convulsões criadas
pelo processo de urbanização.

O higienismo pode assim ser considerado como uma ideologia sacrificial de


reminiscências religiosas que se organiza como resposta cultural a uma crise do
sistema socio-espacial. Utilizando a perspectiva de René Girard, podemos dizer que
o processo de urbanização se caracteriza por uma “mimesis de apropriação” (Girard,
1983: 41), ou seja, pelo desejo contagiante que todos sentem em se apropriarem
das condições reais e imaginárias do mundo da cidade, criando-se assim um
processo de violência reciproca que os higienistas temiam e os socialistas
desejavam. Foi esta violência mimética e recíproca (cf. Girard, 1983: 22-25) que
possibilitou mesmo que o socialismo imaginasse a dissolução do próprio sistema e a

-
total metamorfose do mesmo, ao mesmo tempo que o higienismo se inventava como
mecanismo de manutenção e regulação do mesmo. De facto, ambas as ideologias
eram sacrificiais, impondo a interdição da mimesis de apropriação pela substituição
da mesma por uma “mimesis de antagonista” (id.: 41) quer em relação aos
capitalistas, no caso do socialismo, quer em relação aos topos da insalubridade-
imoralidade-criminalidade urbana, no caso dos higienistas.

Ambos os mitos tomaram partido de uma indistinção socio-espacial e interpretaram-


na culturalmente, um em função de uma diferenciação presente, a dos proletários-
burgueses, propondo uma indiferenciação futura, a da cidade-proletária; o outro em
função de uma indiferenciação presente, a da cidade-doente, e a favor de uma
diferenciação futura. A avaliação de que as cidades estavam doentes era aceitável
por todos e a indiferenciação era mais consciente do que a diferenciação, ao mesmo
tempo que a construção cultural de vitimas crentes da sua culpa era bem mais fácil
no imaginário higienista do que no imaginário socialista. Assim, no caso da cidade
do Porto, o higienismo projectou no topos das ilhas a vitima expiatória, possibilitando
uma mimesis de antagonista em que “la polarisation mimetique fait converger sur
elle toutes les significations de crise et de reconciliation” (Girard, 1983: 71), ou seja,
a expiação dos males urbanos nas ilhas colectiviza-se no paroxismo de uma morte
que todos desejam para um melhor futuro urbano (ibid.: 38). Assim, as ilhas
destruídas tornam-se espelho da vida futura da comunidade que nessa morte
topológica revê as regras culturais sobre as quais se deve recriar (id.: 49). Por outro
lado, a morte das ilhas e, especificamente a sua substituição por esse “espaço
alternativo” que é o Bairro Social, ao longo de cerca de um século, possibilitou a
concretização dos dois imperativos que Girard refere (id: 44) como consequentes à
morte da vitima expiatória: a) o imperativo da interdição do mimetismo de
apropriação, por um lado, ou seja o fim do capitalismo selvagem em que a
sociedade estava envolvida, em que “chaque rival devient pour l’autre le modele-
obstacle adorable et haissable, celui qu’il faut a la fois abatre et absobre” (id.: 41) e
b) o imperativo do ritual, ou seja, a re-presentação do mimetismo de antagonista de
forma simbolizada ou não, o que veio a acontecer ao longo de um século, quando
não por higienistas por todos aqueles que os substituíram nesse papel de
sentenciadores, vendedores de promessas e ortopedizadores topológicos. Uma

.
cidade em crise em função de uma mimética capitalista da apropriação é re-
presentada quase como ritual quotidiano para aqueles que, como os assistentes
sociais, trabalham directamente com aqueles que são vitimas dessa violência e
chega aos Media quando os jornalistas ou opinion makers consideram que essa
violência possibilita a união da comunidade envolvente em actos de repúdio ou
compaixão e, finalmente, em alturas de renovação da cosmogonia política, os
políticos recorrem à re-presentificação da crise para se constituírem como arautos
de uma nova ordem social mais justa.

As ilhas tornam-se assim, pela via do mecanismo ideológico-sacrificial higienista, o


supremo mal urbano que, ao ser expiado, se transforma em elemento
supremamente benéfico pois através dessa expiação uma nova civilização se
anuncia. O asselvajamento1 das ilhas enquanto topos de confluência da
insalubridade-pobreza-imoralidade-criminalidade é, assim, o acto sacrificial
necessário do qual emerge o verdadeiro sentido civilizatório, à contrário, para toda
uma cidade.

6. Conclusão

Os textos higienistas estiveram, assim, na base da construção da cidade


contemporânea. Foi a palavra, falada e escrita, que identificou a cidade e a
civilização à higiene; foi a palavra falada e escrita que caracterizou a cidade como
um corpo; foi a palavra falada e escrita que hospitalizou esse corpo analisando-o e
inquirindo-o; foi a palavra falada e escrita que tornou visíveis as suas zonas
invisíveis e, finalmente, foi ainda a palavra falada e escrita que identificou as
“chagas” urbanas e as sacrificou simbolicamente ainda que elas permanecessem
vivas na malha urbana por mais de um século após discursos e os textos higienistas.

Os discursos e os textos higienistas tiveram um papel essencial na produção da


cidade oitocentista, tendo sido através deles que se estabeleceu todo o processo de
diagnóstico – prognóstico – terapêutica que esteve na origem das transformações

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que estão na base da cidade contemporânea. Assim, os textos higienistas, podemos
dizê-lo com toda a propriedade, foram textos que fizeram cidade.

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