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ENSAIO SOBRE ALGUNS ASPECTOS HISTÓRICOS DA FORMAÇÃO TERRITORIAL

E RELIGIOSA DA CIDADE DE IVINHEMA-MS

Resumo: Apresentar alguns aspectos históricos sobre a formação da cidade de Ivinhema-MS


consiste o objetivo deste artigo a fim de que deste modo possamos resgatar a origem da
identidade histórica que permeia os cidadãos ivinhemenses. Evidenciaremos os componentes
territoriais e religiosos que favoreceram a configuração da “Terra prometida”. Primeiro
abordaremos a formação do sul do antigo Matto Grosso desde os primeiros grupos humanos
até a divisão do Estado em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul no ano de 1977. Em seguida
apresentaremos a formação da referida cidade que possui as suas origens com Reynaldo
Massi, o processo de desmatamento e a concretização de um sonho. Ao lado deste
desenvolvimento encontramos a presença da Igreja Católica Apostólica Romana que por
iniciativa do próprio Reynaldo Massi, em 1963, ordenou aos carpinteiros da SOMECO que
iniciassem a construção da primeira Igreja da Cidade. Com isso a história de Ivinhema é
marcada pela religiosidade. Com o tempo Dom Teodardo Leitz, da ordem dos Frades
menores, em 05 de novembro de 1971 assinou o decreto de criação da Paróquia de Ivinhema
tendo como Padroeiro São Paulo Apóstolo, que por sua vez, era o santo de devoção do
fundador da cidade.

Palavras Chaves: Identidade, Religiosidade, história

1. A Formação do Sul do antigo Matto Grosso 1

A história da humanidade se configura a partir da dinamicidade de homens e mulheres


engajados em sua própria realidade e, por isso, foram construtores de tradição e de história. A
herança histórica de nossos antepassados determina o nosso modo de ser e, por isso, tem
muito a nos dizer. É a partir da história deles que moldamos a nossa e não tem outra
possibilidade, até porque, não se constrói um edifício a partir do nada.
De todo modo, a história é dinâmica porque o ser humano é dinâmico. A história, então, é
fruto do ser e do agir humano, por isso, resgatar as nossas origens e, assim, procurar entender
alguns aspectos históricos da formação do Estado de Mato Grosso do Sul, do município de
Ivinhema e da presença da Igreja Católica Apostólica Romana neste contexto não é uma
questão apenas de gosto, mas é uma questão que envolve a própria identidade do ser
ivinhemense, do ser cidadão. Com relação ao conhecimento da cultura Gressler e Vasconcelos
afirmam que “para melhor entendê-la... é necessário conhecer suas raízes e o contexto onde
2
vivem, bem como as estreitas relações existentes entre a vida humana e o meio geográfico,”

1
Segundo Gressler e Vasconcelos, (2005, p. 34): até 1943, o nome do Estado era escrito com t duplo, porém,
com a reforma ortográfica de 1943 passou a ser escrito com um único t.
2
GRESSLER, Lori Alice; VASCONCELOS, Luiza Mello. Mato Grosso do Sul aspectos históricos e
geográficos. Dourados: L. Gressler, 2005, p. 12.
eis a finalidade deste artigo que não pretende ser um tratado histórico, mas expressão de
reconhecimento para com aqueles que fizeram da sua própria existência não um conto de
fadas, mas uma verdadeira história humana.
A dinamicidade da história implica a existência de um processo histórico, dito isso,
sabemos que a história da formação do Estado de Mato Grosso do Sul não é diferente, pois
“os primeiros grupos humanos que chegaram seguindo o curso dos rios, isto é, das bacias
fluviais do rio Paraguai e do rio Paraná eram denominados nômades e indígenas, que
3
adentraram nestas terras com o objetivo de encontrar riquezas minerais.” Diante disso,
percebemos o interesse desses povos quanto a sua sobrevivência, assim, não seria diferente,
conforme GRESSLER E VASCONCELOS (2005) quando se refere à chegada dos europeus
nas terras que correspondem hoje ao Estado do Mato Grosso do Sul, mostrando que eles
exploraram não apenas as riquezas, mas também, os povos que ali habitavam. E também, de
outras culturas como a Gaúcha a partir do ano de 1853, dos paulistas que com as suas
expedições bandeirantes contribuíram com a fundação das cidades sul mato-grossenses, os ex-
combatentes brasileiros paraguaio-guaranis, a companhia mate laranjeira e o prolongamento
da antiga linha férrea noroeste do Brasil favoreceram o desenvolvimento demográfico e da
economia de Mato Grosso do Sul. 4
É necessário salientar que “enquanto Portugal criava as Capitanias Hereditárias a Espanha
em 1534 criou o Adelantazgo da Província do Rio de La Plata, esta Província abrangia os
atuais Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul” 5 e entre outros. Com o tempo surgiram
duas províncias menores: a província do Rio de la Plata e a Província do Paraguai ambas
foram derivadas da Província do Rio de La Plata. E cada uma possuía a sua sede,
respectivamente, uma em Buenos Aires e a outra em Assunção.6 Desse modo, a história do
Adelantazgo ou Província do Rio de la Plata é a mesma de Mato Grosso do Sul. 7
Segundo GRESSLER E VASCONCELOS (2005), os adelantazgos, isto é, as áreas
exploradas, eram governadas pelos espanhóis que investiam seu capital com a intenção de
adquirir terras e explorá-las; o modo como se organizavam era semelhante aos donatários
portugueses. Eram obrigados a direcionar uma porcentagem dos ganhos adquiridos à cora
espanhola.8 Para governar os seus territórios esta, por sua vez, os dotava de poderes tais como:

3
Idem, p. 13.
4

5
Idem, p. 30.
6
Idem.
7
Idem.
8
GRESSLER, Lori Alice; VASCONCELOS, Luiza Mello. Mato Grosso do Sul aspectos históricos e
geográficos. Dourados: L. Gressler, 2005, p. 31.
repartir as terras entre os homens, construir fortalezas, cunhar moedas e monopolizar o
trânsito e a pesca; isso tudo era legítimo para possibilitar a dominação.
9
Os limites territoriais estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas não eram obedecidos
pela ocupação portuguesa por causa das expedições dos bandeirantes. Diante desta realidade,
conforme GRESSLER E VASCONCELOS (2005), não houve impedimento para a criação da
Capitania Geral de Mato Grosso, em 2 de agosto de 1748, pelo Marquês de Pombal, quando
este criou uma nova divisão administrativa em Capitanias gerais e subalternas. No entanto,
até 1750, ano em que foi assinado o Tratado de Madri, na Espanha, o atual Estado de Mato
Grosso do Sul, oficialmente, pertencia à Província do Paraguai. 10 Contudo, a partir do Tratado
de Madri o Mato Grosso do Sul passou, então, em 1750, a ser legalmente português, pois foi
determinado que cada parte (Espanha e Portugal) ficaria com as terras que ocupava na época.
Este tratado foi resultado da boa diplomacia entre as coroas espanhola e portuguesa fruto do
casamento da princesa portuguesa D. Maria Bárbara com o rei Fernando VI, da Espanha.11
Com a criação da Capitania-Geral do Mato Grosso, o seu governador veio de Portugal
para assumi-la. D. Antônio Rolim de Moura Tavares recebera ordem do Reino para
estabelecer-se em terras chamadas de “Mato Grosso”, próximas da fronteira com os espanhóis
(atual fronteira com a Bolívia) e ali a intenção seria estabelecer a sede do seu governo,
fundando a Vila Bela da Santíssima Trindade de Mato Grosso. Com a descoberta de ouro em
Cuiabá, os espanhóis tentaram recuperar as terras perdidas pelo Tratado de Madri, mas Dom
Rolim conseguiu manter a posse das terras de sua capitania, incluindo as que hoje constituem
Mato Grosso do Sul.
Por ocasião da proclamação da Independência do Brasil por Dom Pedro o Brasil deixou
de ser colônia de Portugal e, assim, estava criado o Império do Brasil. As capitanias-gerais
passaram a províncias. Cada uma delas tinha seus presidentes que eram nomeados pelo
imperador, então Mato Grosso teve como seu primeiro governante José Saturnino da Costa

9
“assinado na povoação castelhana de Tordesilhas em 7 de Junho de 1494, foi um tratado celebrado entre o
Reino de Portugal e o recém-formado Reino da Espanha para dividir as terras "descobertas e por descobrir" por
ambas as Coroas fora da Europa. Este tratado surgiu na sequência da contestação portuguesa às pretensões da
Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristóvão Colombo, que ano e meio antes chegara ao chamado Novo
Mundo, reclamando-o oficialmente para Isabel a Católica. O tratado definia como linha de demarcação o
meridiano 370 léguas a oeste da ilha de Santo Antão no arquipélago de Cabo Verde. Esta linha estava situada a
meio-caminho entre estas ilhas (então portuguesas) e as ilhas das Caraíbas descobertas por Colombo, no Tratado
referidas como "Cipango" e Antília. Os territórios a leste deste meridiano pertenceriam a Portugal e os territórios
a oeste, à Espanha. O tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494.”
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Tordesilhas, no dia 05 de julho às 19h:43min.
10
GRESSLER, Lori Alice; VASCONCELOS, Luiza Mello. Mato Grosso do Sul aspectos históricos e
geográficos. Dourados: L. Gressler, 2005, p.
11
Idem, p. 32
Pereira, que assumiu o cargo de Presidente do Estado em 1824. Neste contexto a grande
preocupação do governo da província foi guarnecer e defender as fronteiras.
Com a abolição da escravatura pela princesa Izabel, filha de D. Pedro II, a 13 de maio de
1888, inúmeros senhores de escravos ficaram insatisfeitos. O descontentamento dos militares
com o sistema imperial era visível. Esses fatos contribuíram para apressar a queda do império,
e levaram à proclamação da república, em 1889.
Mato Grosso, que já havia sido Capital Geral e Província, passou então a ser Estado, tendo
como primeiro governador o general Antônio Maria Coelho. Mato Grosso, a época, era o
terceiro maior Estado brasileiro em extensão. Em 11 de outubro de 1977, o presidente Ernesto
Geisel sancionou a lei n. 31, criando um novo Estado, com a divisão de Mato Grosso em dois
Estados: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Diante dessa realidade BITTAR (2009) constata
a existência de duas histórias dentro de um único Estado, com relação a isso ela afirma que
“as regiões norte e sul do antigo Mato Grosso nunca chegaram a constituir a mesma história
por causa da geografia demasiadamente extensa e também pela dificuldade de comunicação,
devido às estas circunstâncias acabaram vivendo separadas.” 12

2. A Formação de Ivinhema

O município de Ivinhema13 está situado a margem direita do Rio Ivinhema, entre


os rios Piravevê ao norte, e Guiray ao Sul, com esta localização está a 350 km da Capital do
Estado de Mato Grosso do Sul. A sua fundação se deu por um paulista chamado Reynaldo
Massi14, que “nasceu aos 5 de junho de 1919, na cidade de Orlândia, Estado de São Paulo,
filho de Remo Massi, italiano por nascimento, chegado ao Brasil em 1898, e de Angelina
Bordignon, brasileira, também de Orlândia.” 15
A descoberta dessas terras se deu quando Reynaldo veio para uma pescaria e
sobrevoou a região depois mandou um corretor chamado João Gato fazer o negócio tendo em
vista que era muito barato e, assim, ele foi comprando tudo o que pôde, tanto que, ele

12
BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul: a construção de um Estado. Campo Grande: Ed. UFMS, 2009, p. 35.
13
“Terra há muito desejada” ou ainda a “terra prometida”
14
“Cursou o primário como interno em colégios religiosos, primeiro em Batatais e depois em Franca, São Paulo,
com os irmãos Maristas... Fez o ginásio em Ribeirão Preto, São Paulo, em estabelecimento oficial, após o que, já
em 1935, na capital do Estado, fez o colegial para medicina, aquela que, no seu entender, seria a sua vocação
natural. Aqueles anos foram marcados pela maior crise econômica do século, a de 1929, que abalou toda
estrutura social, política e econômica mundial. No mundo todo as fábricas fecharam, o comércio faliu, as
estruturas financeiras ruíram... as cidades esvaziaram ... acompanhando o êxodo, a família transferiu-se para o
interior do Estado, desta vez Presidente Prudente... pela proximidade do Paraná que por ser uma zona nova e
ainda pioneira.” MASSI, Sandra. Reynaldo Massi: meu pai. São Paulo: Tempo & Memória, 2000, p. 15.
15
MASSI, Sandra. Reynaldo Massi: meu pai. São Paulo: Tempo & Memória, 2000, p. 12.
comprou cerca de quatrocentos mil hectares em Mato Grosso meridional, nas proximidades
16
do rio Ivinhema entre 1958 e 1962. Podemos notar a partir do que foi dito acima e sobre
aquilo que se dirá que uma das características da personalidade do nosso saudoso Reynaldo
Massi foi herdada do seu avó Remo que, segundo Sandra Massi, “fazia o próprio destino” 17,
isso porque talvez sabia onde queria chegar e como conseqüência sabia tomar decisões, é
visível o espírito aventureiro e desafiador deste “legítimo” ivinhemense que não mediu
esforços para lançar as bases da edificação de um projeto que aos poucos se tornava realidade.
Em 25 de novembro de 1957, foi constituída uma empresa com nome SOMECO
(Sociedade de Melhoramentos e Colonização), a fim de possibilitar e organizar a demarcação
das terras. Neste sentido aos poucos a cidade de Ivinhema foi se configurando como tal; o
processo de empreendimento iniciado por Reynaldo Massi com o tempo adquiriu perspectivas
amplas. A construção de um campo de pouso para pequenos aviões foi necessária, uma vez
que, a região a ser explorada estava totalmente coberta pela mata fechada, com isso, os
golpes de machados, foices, enxadões e outras ferramentas manuais foram utilizadas para
possibilitar e facilitar o acesso a região.18 Após um árduo trabalho, segundo dados da
SOMECO S/A, pousou o primeiro avião, no dia 23 de agosto de 1961, trazendo os primeiros
administradores para intensificar e fiscalizar os trabalhos de derrubada. Diante disso, o dia 01
de setembro de 1961 é considerado histórico porque foi a data em que atearam fogo na área
recém-derrubada; esta primeira queimada plantou, conforme os dados do Livro Tombo, a
semente de uma nova cidade...”19
É importante mencionar, de acordo com os dados da SOMECO, que Francisco
Prestes Maia iniciou o projeto da cidade de Ivinhema destinada a comportar 60.000
habitantes. A divisão fora realizada em quatro zonas distintas: 1. área centro-comercial; 2.
área residencial; 3. área operária e 4. área industrial. Em todas estas áreas foram distribuídos
oito bairros os quais foram denominados: Piravevê, Guiray, Vitória, Água Azul, Triguinã,
Itapoã, Centro e Industrial. Perante o desenvolvimento e a sólida estrutura o Governo
Estadual sancionou a Lei nº 1.949 de 11 de novembro de 1963, criando o município de
Ivinhema em área antes pertencente ao município de Dourados.

16
Idem, p. 85-86.
17
Idem, p. 16.
18
MASSI, Sandra. Reynaldo Massi: meu pai. São Paulo: Tempo & Memória, 2000, p.
19
PARÓQUIA, São Paulo Apóstolo. Livro Tombo I. 1970, p. 7.
3. A Igreja católica em Ivinhema (1963-1974)

“A religiosidade era um traço da família Massi e não simples formalidade” 20, com
isso é evidente que não podia faltar esta característica na “terra prometida”, ou nas terras de
Reynaldo Massi, assim, em 1963 ele ordenou aos carpinteiros da SOMECO que iniciassem a
construção da primeira Igreja da Cidade. No dia 28 de julho de 1963 foi celebrada a primeira
missa campal presidida pelo Padre Alderige Baggio. Esta celebração ocorreu junto ao cruzeiro
no marco zero da cidade. No dia 31 de janeiro de 1967, foi realizada a inauguração da torre
dos sinos da Igreja os quais foram adquiridos com recursos da própria comunidade.
Desde a data de fundação de Ivinhema no ano de 1961 até 1970 a comunidade era
atendida pelos padres da Paróquia de Glória de Dourados. Somente em 1969, a pequena
comunidade de Ivinhema, desejava ardorosamente que os católicos se unissem para terem um
padre permanente a fim de elevar a comunidade a nível de paróquia. O fundador da cidade
Reynaldo Massi, já havia construído a Primeira Capela de madeira pela Colonizadora Someco
com arquitetura do Dr. Prestes Maia inaugurada em 30 de agosto de 1967, recebeu o nome
Capela São Paulo Apóstolo, pelo fundador por ser seu santo de devoção.
No dia 20 de dezembro de 1969, por iniciativa própria, reuniram-se 33 pessoas da
comunidade e criaram uma comissão Paroquial de Ivinhema, para sensibilizar a população
sobre a construção da paróquia, então, foi constituída uma diretoria composta das seguintes
pessoas: Sebastião Staut, presidente; Dr. Albari Ribeiro de Souza, vice-presidente; Paulo
Rodrigues dos Santos, 1º secretário; Elizeu Vilela Barbel, 2º secretário; Vicente Brando Staut,
1º tesoureiro; José Gildo Benassi, 2º tesoureiro. Outros membros da Comissão: Ângelo
Roberto Borghi, Osvaldo Casarotti, Francisco Staut, Dr. Luis Carlos Sbrissia, Benedito
Ferreira, Antônio Travain, Miguel Squinelo, Manoel Félix Câmara, Mário Olívio, Miguel
Novais, Francisco Pieretti, Otacílio Lopes da Piedade, Íris Morais Coelho, Ovicto Ferrari,
José Batista da Cunha, Alzira Monteiro, Anselmo Batista Lontro, Adelino Tolfo, Odair
Aparecido Pereira, Claudemiro Baziquetto, Paulo Nakata, Walter Piva, Aquiles Motta, Lelis
Balbino, Dr. Fernão José Ribas Mauger, Dionísio Ramos Martins, e José Batista.21
Dom Carlos Schimitt, então bispo de Dourados, sentindo a falta de sacerdotes, já
havia entrado em contato com Dom Benedito Zorzi- bispo missionário da Diocese de Caxias
do Sul-Rs, solicitando alguns padres para trabalhar na região, assim, no mês de novembro de
1969 os Padres Antônio Galialto e João Parazzolo vieram em missão oficial para ver as

20
MASSI, Sandra. Reynaldo Massi: meu pai. São Paulo: Tempo & Memória, 2000, p. 64.
21
PARÓQUIA, São Paulo Apóstolo. Livro Tombo I. 1970, p. 4.
possibilidades, as condições para a realização de um trabalho missionário nesta região, assim
a diocese de Dourados confiava Ivinhema aos cuidados pastorais de Caxias do Sul que se
comprometeriam com o trabalho por três anos. 22 O contrato intitulado “Missão Dourados” foi
assinado no dia 23 de janeiro de 1970 por Dom Carlos Schmitt e Dom Benedito Zorzi; neste
contrato a Diocese de Dourados entregava aos cuidados da Diocese de Caxias do Sul os
municípios de Nova Andradina, Batayporã, Ivinhema, o distrito de Angélica do Município de
Dourados e Anaurilândia, tudo isso está conforme o livro tombo I da Paróquia São Paulo
Apóstolo da cidade referida. Quando aqui chegaram foram acolhidos pelo Bispo titular da
época, pelo Senhor Sebastião Staut, que era o diretor da SOMECO S/A de Ivinhema,
acompanhado pelo Dr. Luiz Carlos de Vasconcelos que, por sua vez, era o dentista da cidade.
Um dado a ser mencionado se refere ao dia 22 de fevereiro do mesmo ano em que o contrato
foi assinado, aconteceu que o “Correio do Povo” de Porto Alegre na sua edição divulgou a
notícia da renúncia de Dom Carlos pedido feito por ele e concedido pelo Papa Paulo VI.
A fundação de Ivinhema é datada em 01 de setembro de 1961, neste período até
1970 a comunidade era atendida pelos padres da Paróquia de Glória de Dourados. Em 05 de
março de 1970 chegou em Ivinhema o primeiro Padre, João Panazzolo, enviado pelo Bispo
Dom Benedito Zorzi da Diocese de Caxias do Sul – RS. Foi ele quem iniciou os preparativos
para a criação da Paróquia . 23
Dom Teodardo Leitz, da ordem dos Frades menores, em 05 de novembro de 1971
assinou o decreto de criação da Paróquia de Ivinhema tendo como Padroeiro São Paulo
Apóstolo. E nomeou Pe. João Panazzolo, sacerdote secular da Diocese de Caxias do Sul,
como pároco, já que este já residia em Ivinhema mais de um ano trabalhando com as
primeiras religiosas Irmãs Sebastiana Lima da Silva, Ana Maria Araújo Costa.24 A celebração
eucarística com o rito de tomada de posse foi realizada no dia 14 de novembro de 1971 na
Igreja matriz com a presença do bispo diocesano de Dourados. O termo de posse de acordo
com o Livro Tombo I da referida paróquia foi assinado pelas seguintes pessoas: Angelo
Roberto Borghi; Francisco Pieretti; Manoel Felix Câmara; Miguel Esquinelo; Carlos Alberto
Correia Leite; Vicente Brando Staut; Antônio Bertani; Angela Ferreira, Albari Ribeiro de
Souza; Roberto Borghi, Ovicto Ferrari, Paulo Rodrigues dos Santos e entre elas se encontra o
a assinatura do nosso saudoso Reynaldo Massi.25

22
Idem, p. 1.
23
24
Idem, p. 30.
25
Idem.
É destacado a própria receptividade do povo para com a presença da Igreja
Católica Apostólica Romana. O que se percebia de início era que o povo se confessava muito
pouco; a juventude nunca tinha se confessado e os adultos fazia anos que não buscavam o
sacramento da Penitência; muitos casamentos estavam apenas no civil, esta prática era
comum, tendo em vista que “roubava-se” a moça para evitar os gastos ou por não aceitação
dos pais que apoiavam o casamento depois de um longo período de namoro. Diante disso a
única alternativa era o assim chamado “roubo”. 26
Outro fato é mencionar é a precariedade em que as pessoas se encontravam, isto é,
a alimentação era insuficiente em calorias, a grande maioria das famílias não tinham leite, as
moradias eram de pau a pique, a maioria das pessoas eram desprovidas de agasalho para o frio
e, também havia falta de higiene e em decorrência disso a grande mortalidade infantil. Esta
realidade aos poucos foi melhorando. A cidade foi crescendo e a quantidade de fiéis também,
com isso, a capela existente não comportava mais a comunidade católica, então, as
Celebrações Eucarísticas passaram a ser celebradas no salão de festa da Igrejinha, e enquanto
isso se pensava em construir uma igreja maior; com a permanência dos padres de Santa Maria
do Rio Grande do Sul- Diocese de Caxias do Sul o pároco da época, João Panazzolo, pediu
auxílio ao bispo Dom Benedito Zorzi do RS na elaboração do projeto arquitetônico para a
construção da Igreja Matriz e o pedido foi atendido. Contudo no ano de 1974 foi realizada
pelo Bispo Dom Teodardo a cerimônia da pedra fundamental da construção da Igreja Matriz
no centro da cidade.27

4. Considerações finais

A formação da cidade de Ivinhema é marcada pelo espírito aventureiro e desafiador de


Reynaldo Massi que ao explorar as terras ivinhemenses possibilitou a colonização de uma das
cidades que pertence ao Estado de Mato Grosso do Sul; ele sendo um Paulista expandiu não
apenas os seus horizontes, mas tornou possível a expansão não de toda a história do próprio
Estado de Mato Grosso do Sul, mas de uma parte territorial conhecida como Ivinhema. Assim
percebemos o entrelaçamento existente entre a história universal e a história particular. É
notável que tanto a história territorial e religiosa da cidade de Ivinhema é marcada pela
personalidade do fundador. Podemos dizer, então, que os germes do catolicismo foram
trazidos por Reynaldo Massi e cultivados oficialmente pela Instituição denominada Igreja

26
PARÓQUIA, São Paulo. Livro Tombo I, 1970, p. 8
27
PARÓQUIA, São Paulo. Livro Tombo I. 1970, p. 57.
Católica Apostólica Romana com o surgimento da paróquia São Paulo Apóstolo em 05 de
novembro de 1971. É visível a construção da história realizada pelos homens, de modo
específico na história da formação territorial e religiosa da cidade de Ivinhema, a partir da
cooperação mútua entre as pessoas foi formando a identidade histórica que só é possível
quando pautada em suas raízes.

REFERÊNCIA
BITTAR, Marisa. Mato Grosso do sul: a construção de um Estado. Campo Grande: UFMS,
2009.

Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Tordesilhas, no dia 05 de julho às


19h:43min.

GRESSLER, Lori Alice; VASCONCELOS, Luiza Mello. Mato Grosso do Sul aspectos
históricos e geográficos. Dourados: L. Gressler, 2005.

MASSI, Sandra. Reynaldo Massi: meu pai. São Paulo: Tempo & Memória, 2000.

PARÓQUIA, São Paulo Apóstolo. Livro Tombo I. 1970.

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