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Cap. II - A cultura torna-se parte da natureza humana. - Vygotsky


Autora: Teresa Cristina Rego

• A teoria histórico-cultural (ou sócio-histórico) também conhecida como abordagem sócio-


interacionista, tem como objetivo central ”caracterizar os aspectos tipicamente humanos
do comportamento e elaborar hipóteses de como essas características se formaram ao
longo da história humana e como se desenvolvem durante a vida de um indivíduo”.
• Funções psicológicas superiores – consistem no modo de funcionamento psicológico
tipicamente humano, tais como a capacidade de planejamento, memória voluntária,
imaginação etc...
• São processos mentais considerados sofisticados e “superiores”, porque se referem a
mecanismos intencionais, ações conscientemente controladas, processos voluntários que dão
ao indivíduo a possibilidade de independência.
• Diferente dos processos psicológicos elementares ou inteligência prática (presente nas
crianças pequenas e nos animais),tais como, reações automáticas, ações reflexas e
associações simples, que são de origem biológica, as Funções Psicológicas Superiores são
capacidades que não encontramos em nenhum outro ser vivo.
• Estes processos não são inatos, se originam nas relações entre indivíduos humanos e se
desenvolvem ao longo do processo de internalização de formas culturais de comportamento.
• Vygotsky se preocupou com o estudo da gênese , formação e evolução dos processos
psíquicos superiores do ser humano (genética como o estudo das origens da formação das
características psicológicas ).
• Para a psicologia genética, o psiquismo humano se constitui ao longo da vida; não é uma
propriedade ou faculdade primitivamente existente no indivíduo.
• A psicologia estuda a infância para tentar compreender a formação dos complexos
processos do psiquismo e das etapas pelos quais passam em sua evolução.
• Seu programa de pesquisa é baseado no materialismo dialético e procurou construir uma
nova psicologia com o objetivo de integrar numa mesma perspectiva, o homem enquanto
corpo e mente, ser biológico e social, membro da espécie humana e participante de um
processo histórico.

• Principais idéias de Vygotsky:

• I - Relação indivíduo/sociedade- as características tipicamente humanas não estão


presentes desde o nascimento, nem são mero resultado de pressões do meio externo.
RESULTAM DA INTERAÇÃO DIALÉTICA DO HOMEM COM SEU MEIO SÓCIO-
CULTURAL.Ao mesmo tempo em que o homem transforma o seu meio para atender suas
necessidades básicas, transforma-se a si mesmo.
• QUANDO O HOMEM MODIFICA O AMBIENTE ATRAVÉS DE SEU
COMPORTAMENTO, ESSA MESMA MODIFICAÇÃO VAI INFLUENCIAR SEU
COMPORTAMENTO FUTURO. Notamos neste princípio a integração dos aspectos
biológicos e sociais do indivíduo: “as funções psicológicas superiores surgem da interação
dos fatores biológicos, que são parte da constituição física do Homo sapiens, com os
fatores culturais, que evoluíram através de milhares de anos”.
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• II- Refere-se a origem cultural das funções psíquicas . As funções psicológicas
especificamente humanas se originam nas relações do indivíduo e seu meio cultural e social.
• Isto é, o desenvolvimento mental humano não é dado a priori, não é imutável, não é
passivo, nem tampouco independente do desenvolvimento histórico e das formas sociais da
vida humana.
• A cultura é, portanto, parte constituída da natureza humana, já que sua característica
psicológica se dá através da internalização dos modos historicamente determinados e
culturalmente organizados de operar com informações.

• III- Base biológica do funcionamento psicológico : o cérebro visto como órgão principal
da atividade mental. Produto de uma longa evolução, é o substrato material da atividade
psíquica que cada membro traz consigo ao nascer. Não significa um sistema imutável e fixo.
É entendido como um sistema aberto, de grande plasticidade, cuja estrutura e
funcionamento são moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento
individual.
• O cérebro pode servir a novas funções, criadas na história do homem, sem que sofra
transformações no órgão físico.

• IV – Mediação presente em toda atividade humana: São os instrumentos técnicos e


sistemas de signos, construídos historicamente, que fazem a mediação dos seres humanos
entre si e com o mundo.
• A LINGUAGEM é um signo mediador por excelência, pois carrega os conceitos
generalizados e elaborados pela cultura.
• A relação com o mundo não é direta, é mediada por meios que se constituem nas
“ferramentas auxiliares” da atividade humana.
• A capacidade de criar estas ferramentas é exclusiva da espécie humana.
• O pressuposto da mediação é fundamental na perspectiva sócio-histórica justamente
porque é através dos instrumentos e signos que os processos de funcionamento psicológico
são fornecidos pela cultura.
• Linguagem tem um papel de destaque no processo de pensamento.

• V – A análise psicológica deve ser capaz de conservar as características básicas dos


processos psicológicos exclusivamente humanos. Estes modos de funcionamento
psicológicos mais sofisticados, que se desenvolvem num processo histórico, podem ser
explicados e descritos. Assim, ao abordar a consciência humana como produto da história
social, aponta na direção da necessidade do estudo das mudanças que ocorrem no
desenvolvimento mental a partir do contexto social.

• Com o objetivo d pesquisar a origem das características psicológicas tipicamente humana


Vygotsky estudou o comportamento e psiquismo dos mamíferos superiores , principalmente
os chimpanzés para identificar semelhanças e diferenças com o ser humano. Identifica três
diferenças:
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• 1- Diferentemente do comportamento humano, todo comportamento animal conserva
sua ligação com os motivos biológicos.
• As atividades dos animais são instintivas e marcadas pela satisfação das necessidades
biológicas (alimento, autoconservação ou necessidade sexual).
• Permanece sempre dentro dos limites das suas relações biológicas/ instintivas com a
natureza.
• O modo de perceber o mundo, de se relacionar e até as possibilidades de aquisição de
novas possibilidades, são determinadas por características inatas.
• Ex.Colocaram uma banana no alto, de maneira visível e deixaram a disposição caixotes
para que os macacos pudessem empilhar, subir e alcançar o alimento.
• Embora cada macaco, individualmente, fosse capaz de resolver o problema, em grupo, não
conseguiam, pois agiam como se estivessem sozinhos, o que promovia situações de luta e
disputa pelos caixotes.
• Isto demonstra que o animal não consegue organizar uma ação comum, pois cada um busca,
instintivamente, saciar sua fome. Desta forma, não estabelece relação com os semelhantes.
Apresenta também limitações na possibilidade de aprender novas atividades(abelha).
• A maior parte dos atos humanos não se baseia em inclinações biológicas.
• De modo geral, a ação do homem é motivada por complexas necessidades de adquirir
novos conhecimentos, de se comunicar, de ocupar determinado papel na sociedade, de
ser coerente com seus princípios e valores etc.
• Ex: O homem é capaz de jejuar, fazer sacrifícios, se autoflagelar e até morrer, ou seja,
através do controle intencional do comportamento, alem de não se sujeitar a elas, ele
reprime e até contraria suas necessidades biológicas. Isto é, apresenta independência do
comportamento, em relação, aos motivos biológicos .

• 2- O comportamento humano não é forçosamente determinado por estímulos


imediatamente perceptíveis ou pela experiência passada.
• As reações dos animais se baseiam nas impressões evidentes recebidas do meio exterior
ou pela experiência anterior. O animal é incapaz de abstrair, fazer relações ou planejar
ações .
• Ex. Churrasco/carne próximo do cachorro. Não conseguira perceber que aquela carne se
destina à pessoa, nem a conseqüência do ato, aguardar a hora de comer etc.. Caixas onde
poderia colocar alimentos, sucessivamente. O animal não considera o princípio abstrato da
seqüência , do deslocamento sucessivo do alimento.
• O ser humano não se orienta somente pela impressão imediata e pela experiência
anterior, pois pode abstrair, fazer relações, reconhecer as causas e fazer previsões ,
refletir e interpretar.
• É livre e independente das condições do momento e do espaço presente. Ex.Deixa de
tomar um remédio vencido; mesmo com sede não tomara uma água contaminada; recusa
comida mesmo com fome; mesmo num dia ensolarado levará blusa, no inverno. Obedece a um
profundo conhecimento das leis da natureza e não à impressão imediata.
• O homem não vive somente de impressões imediatas como o animal, mas também de
conceitos abstratos, já que dispõe alem dos conhecimentos sensórios, o conhecimento
racional, capacidade de penetrar na essência das coisas.
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• 3- As diferentes fontes de comportamento do homem e do animal.
• Fontes de comportamento dos animais: Experiência da espécie animal é transmitida
hereditariamente(comportamento instintivo, inato) e Experiência imediata e individual
( mecanismos de adaptação ao meio).
• A imitação ocupa um lugar insignificante na formação do comportamento animal.
Diferente do homem, o animal não transmite a sua experiência, não assimila a experiência
alheia, não transmite nem aprende a experiência das gerações anteriores.
• Uma das principais característica que distingue o homem dos animais é o fato de que, alem
das definições hereditárias e da experiência individual, a atividade consciente tem uma
fonte responsável pela grande maioria do conhecimento, habilidades e procedimentos
comportamentais que é A ASSIMILAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DE TODA A
HUMANIDADE, ACUMULADA NO PROCESSO DA HISTÓRIA SOCIAL E
TRANSMITIDA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM.
• Desta forma, o desenvolvimento do psiquismo animal é determinado pelas leis da
evolução biológica e do homem pelas leis do desenvolvimento sócio – histórico.
• As características do funcionamento psicológico tipicamente humano não são transmitidas
por hereditariedade ( não estão presentes desde o nascimento), nem são adquiridas
passivamente através da pressão do meio externo.
• São construídas ao longo da vida através do processo de interação do homem com seu
meio físico e social, que possibilita a apropriação da cultura elaborada pelas gerações
precedentes ao longo da história.
• “Cada indivíduo aprende a ser um homem. O que a natureza lhe dá quando nasce não lhe
basta para viver em sociedade. É-lhe preciso adquirir o que foi alcançado no decurso do
desenvolvimento histórico da sociedade”.
• As origens das atividades psicológicas mais sofisticadas devem ser procuradas nas
relações sociais do individuo com o meio externo.
• O ser humano não só é produto de seu contexto social, mas também agente ativo na
criação deste contexto.
• Vygotsky acredita que para compreender as formas especificamente humanas é
necessário descobrir as relações entre a dimensão biológica (maturação física, mecanismos
sensoriais) e a cultural (mecanismos através do qual a sociedade e a historia moldam a
estrutura humana).
• Procurou examinar a origem do complexo psiquismo humano nas condições sociais de vida
historicamente formadas, que estaria relacionada ao trabalho social, ao emprego de
instrumentos e ao surgimento da linguagem.
• ”Ferramentas” que foram construídas e aperfeiçoadas pela humanidade ao longo da
história e fazem a mediação entre o homem e o mundo. Através delas o homem não só
domina o meio como seu próprio comportamento (materialismo histórico)
• Procura compreender a evolução da cultura humana (aspecto sóciogenético), o processo de
desenvolvimento individual(aspecto ontogenético) e se detém, no estudo do desenvolvimento
infantil, período onde ele acredita que estas “ferramentas” são aprendidas e acontece o uso
de instrumentos e da fala.
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• RAÍZES HISTÓRICO-SOCIAIS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO E A QUESTÃO
DA MEDIAÇÃO SIMBÓLICA
• É a mediação que caracteriza a relação do homem com o mundo e com os outros homens.
Através dela que as funções psicológicas superiores se desenvolvem.
• Distingue dois elementos básicos responsáveis por esta mediação:

• O instrumento, que tem a função de regular as ações sobre os objetos. Ex. faca,
instrumento que auxilia o homem para cortar objetos .

• E o signo que pode ser considerado aquilo, (objeto, forma, fenômeno, gesto, figura ou som)
que representa algo diferente de si mesmo. Substitui e expressa eventos, idéias, situações
e objetos, servindo de auxilio da memória e da atenção humana. Ex. código de trânsito, a cor
vermelha do semáforo é o significado ou simboliza , parar; o copo é um signo para utensílio
usado para beber algo. Signo regula as ações sobre o psiquismo das pessoas.

• A invenção destes mediadores significou o salto evolutivo da espécie.


• Para Marx o desenvolvimento de habilidades e funções específicas do homem e a origem
da sociedade são resultados do trabalho. É através do trabalho que o homem ao mesmo
tempo em que transforma a natureza se transforma .
• Para realizar sua atividade, o homem se relaciona e fabrica os meios - nstrumentos que irá
utilizar.
• As relações dos homens entre si e com a natureza são mediadas pelo trabalho.
• Partindo deste princípio Vygotsky analisa a função mediadora presente nos instrumentos
elaborados para a realização humana.
• O instrumento provoca mudanças externas pois amplia as intervenções na natureza(ex. na
caça, a flecha permite alcançar uma animal distante, cortar a carne com faca no lugar da
mão )
• O homem não só produz seus instrumentos como também é capaz de conservá-los,
transmitir suas funções, aperfeiçoar e criar novos.

• Os INSTRUMENTOS auxiliam nas ações concretas e os SIGNOS auxiliam nas


atividades psíquicas (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher, etc...).

• Com o signo, o homem pode controlar voluntariamente sua atividade psicológica e ampliar
sua capacidade de atenção , memória.Ex. amarrar barbante no dedo para não esquecer
compromisso, consultar atlas para localizar um país etc...

• Linguagem entendida como um sistema simbólico fundamental em todos os grupos


humanos, elaborado no curso da historia social que organiza os signos em estruturas
complexas e desempenha papel imprescindível na formação das características
humanas.
• Através da linguagem é possível designar os objetos do mundo.Ex. a palavra faca que
designa um utensílio usado na alimentação; designa ações (andar,cortar, ferver); designa
qualidades dos objetos como flexível, áspero e designa relações entre objetos como abaixo,
acima, próximo etc...
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• A linguagem imprime três mudanças essenciais nos processos psíquicos do homem:
• 1- Permite lidar com os objetos do mundo mesmo quando estão ausentes. Ex. O vaso caiu.
• 2- Permite o processo de abstração e generalização. Ex. palavra “árvore” designa qualquer
árvore.
• 3- Função de comunicação entre os homens que garante a preservação , transmissão e
assimilação de informações e experiências acumuladas ao longo da história.

• A linguagem é um sistema de signos que possibilita o intercâmbio social entre os


indivíduos.
• Cada palavra indica significados específicos. A palavra “pássaro” traduz o conceito deste
elemento presente na natureza e nesse sentido representa ou substitui a realidade.
• Deste modo, os sistemas simbólicos entendidos como sistemas de representação da
realidade, especialmente a linguagem, funcionam como mediadores que permitem: a
comunicação entre os homens, o estabelecimento de significado compartilhado por um grupo
cultural, a interpretação e percepção dos objetos, eventos e situações do mundo.
• Vygotsky afirma então que os processos de funcionamento mental são fornecidos pela
cultura , através da mediação simbólica.
• A partir de sua inserção num contexto social, sua interação com os membros de seu grupo
e sua participação em práticas sociais historicamente construídas, a criança incorpora
ativamente as formas de comportamentos já consolidadas na experiência humana.
• A cultura para ele não é algo pronto, um sistema estático ao qual o homem se submete,
mas é visto como um ‘palco de negociações ‘, EM QUE SEUS MEMBROS ESTÃO NUM
CONSTANTE MOVIMENTO DE RECRIAÇÃO E REINTERPRETAÇÃO DE INFORMAÇOES ,
CONCEITOS E SIGNIFICADOS.
• A internalização das práticas culturais, que constituem o desenvolvimento humano ,
assume papel de destaque.

• O desenvolvimento infantil na perspectiva sócio-histórica


• Seu objetivo era explicar como o processo de desenvolvimento é socialmente constituído.
Este foi a principal razão por seu interesse pela infância.
• Para ele, a maturação biológica é um fator secundário no desenvolvimento humano, pois
essa depende da interação da criança com sua cultura.
• “Aquilo que é inato, não é suficiente para produzir o indivíduo humano, na ausência do
ambiente social. As características sociais como, modo de agir, pensar, sentir, valores,
conhecimentos, visão de mundo, depende da interação do homem com seu meio físico e
social. Chama atenção para a ação recíproca entre organismo e meio.
• Quando isolado, privado do contato com outros seres, entregue apenas as suas próprias
condições e a favor dos recursos da natureza, o homem é fraco e insuficiente. Ex. menino-
lobo
• Devido as características especificamente humanas torna-se impossível considerar o
desenvolvimento como um processo previsível, universal, linear ou gradual.
• O desenvolvimento está intimamente relacionado ao contexto social em que a pessoa está
inserida e se processa de forma dinâmica e dialética através de rupturas e desequilíbrios
provocadores de contínuas reorganizações por parte do indivíduo.
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• O fator biológico tem preponderância sobre os sociais somente no início da vida da
criança. Aos poucos as interações com seu grupo social e com os objetos de sua cultura
passam a governar o comportamento e desenvolvimento de seu pensamento.
• Desta forma, no processo da constituição humana é possível distinguir duas linhas
qualitativamente diferentes de desenvolvimento: de um lado, os processos elementares que
são de origem biológica, de outro, as funções psicológicas superiores, de origem sócio-
cultural. Para ele, a história do comportamento da criança nasce do entrelaçamento dessas
duas linhas.
• Desde o nascimento o bebê está em constante interação com os adultos, que asseguram
sua sobrevivência e medeiam a sua relação com o mundo.
• Os adultos incorporam as crianças à sua cultura atribuindo significado às condutas e aos
objetos culturais que se formaram ao longo da história.
• A criança recebe influências dos costumes e objetos da sua cultura como dormir no berço,
usar talheres, andar com sapatos etc..
• Inicialmente a relação da criança com o mundo é mediada pelos adultos.
• Assim as crianças vão assimilando ativamente essas habilidades que foram constituídas ao
longo de milênios.
• Através das intervenções constantes do adulto e das crianças mais experientes, os
processos psicológicos mais complexos começam a se formar. Ex. Pai falando e mostrando
carros que encontra pelo caminho ao seu filho de dois anos.
• As conquistas individuais resultam de um processo compartilhado. O desenvolvimento se
dá através das constantes interações com o meio social , já que as formas psicológicas mais
sofisticadas emergem da vida social.
• Assim, o desenvolvimento do psiquismo é sempre mediado por outras pessoas do grupo
cultural, que indica , delimita e atribui significados à realidade.
• Através dessas mediações, os membros imaturos da espécie humana vão pouco a pouco se
apropriando dos modos de funcionamento psicológico, do comportamento e da cultura, enfim
do patrimônio da história da humanidade e de seu grupo cultural.
• A atividade que antes precisou ser mediada(regulação interpsicológica ou atividade
interpessoal) passa a se constituir num processo voluntário e independente
( regulação intrapsicologica ou atividade intrapessoal).

• Segundo ele, a verdadeira essência do comportamento humano complexo se dá a


partir da unidade dialética da atividade simbólica (a fala, entendida como instrumento
ou signo) e a atividade prática:”o momento de maior significado no curso do
desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente humanas de inteligência
prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática, então duas linhas
completamente independentes de desenvolvimento, convergem.
• Em síntese, o desenvolvimento das funções intelectuais é mediado socialmente pelos
signos e pelo outro. Ao internalizar as experiências fornecidas pela cultura, a criança
reconstrói individualmente os modos de ação realizados externamente e aprende a
organizar os próprios processos mentais. Deixa de se basear em signos externos e começa a
se apoiar em recursos internalizados (imagens, representações mentais, conceitos etc...).
• Para a Psicologia sócio-histórica, a subjetividade é definida como o conjunto das
experiências do indivíduo, constituída nas e pelas relações sociais.
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• Relação entre linguagem e pensamento
• A fala passa por várias mudanças ao longo da vida.
• Graças à inserção da criança no grupo, numa certa altura do desenvolvimento, o
pensamento e a linguagem se encontram e dão origem ao modo de funcionamento psicológico
mais sofisticado (funções psicológicas superiores).
• Para o teórico, a conquista da linguagem representa um marco no desenvolvimento; habilita
a criança a providenciar instrumentos auxiliares; superarem a ação impulsiva; planejar a
solução de um problema antes da execução.
• Signos e palavras constituem para as crianças, primeiro e acima de tudo, um meio de
contato social com outras pessoas.
• As funções cognitivas e comunicativas da linguagem tornam-se a base de uma forma nova e
superior de atividade nas crianças.

• A LINGUAGEM TANTO EXPRESSA O PENSAMENTO DA CRIANÇA COMO AGE COMO


ORGANIZADORA DESSE PENSAMENTO.
• A função primordial da fala é o contato social. Assim a fala mais primitiva da criança é
social.
• Estágio pré-intelectual do desenvolvimento da fala – Nos primeiros meses, o balbucio, o
riso, o choro, expressões faciais ou as primeiras palavras cumprem a função de alívio
emocional (conforto ou incômodo) e também são meios de contato.
• Esses sons, gestos ou expressões são bastante difusos, pois não indicam significados
específicos. Ex. o choro pode ser fome, dor etc...

• Estágio pré-lingüístico do desenvolvimento do pensamento - Antes de aprender a falar a


criança demonstra uma inteligência PRÁTICA que consiste na sua capacidade de agir no
ambiente e resolver problemas, inclusive com o auxílio de instrumentos (banco para alcançar
um objeto) sem a mediação da linguagem.
• A interação e o diálogo com os membros mais maduros do grupo proporcionam a
possibilidade de aprender a linguagem como instrumento do pensamento.

• Pensamento e linguagem se associam. O pensamento torna-se verbal e a fala racional.


• A fala evolui de uma fala exterior para uma fala egocêntrica e desta, para uma fala
interior.

• A fala egocêntrica é entendida como um estágio de transição entre a fala exterior


(fruto das atividades interpsíquica, que ocorrem no plano social) e fala
interior(atividade intrapsíquica, individual).
• DISCURSO SOCIALIZADO – primeiro a criança usa a fala como meio de comunicação.
Ex. Para alcançar um doce em cima da mesa, a criança pede para um adulto. Neste estágio a
fala é global, tem múltiplas funções, mas não é utilizada como instrumento de pensamento.
• DISCURSO INTERIOR – ao poucos a criança apela para si mesma para resolver um
problema. Deste modo além das funções comunicativas e emocionais, a fala começa a ter
função planejadora. Ex. Preciso arrumar um jeito de pegar o doce encima do armário. Posso
subir no banco....
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• A fala passa a preceder a ação e funcionar como auxílio de um plano já concedido mas não
executado.
• Ao aprender a usar a linguagem para planejar uma ação futura, a criança consegue ir além
das experiências imediatas.
• Esta visão do futuro permite realizar operações psicológicas bem mais complexas (prever,
comparar, deduzir etc...)
• Vygotsky explica que existe uma fala intermediária que funciona como transição entre o
discurso socializado e interior.
• Fala egocêntrica – ela acompanha a ação e se dirige ao próprio sujeito. Fala alto, dialoga
consigo mesmo. Ex. Como posso pegar aquele doce?Ah...já sei! Vou subir na mesa!
• Piaget – postula uma trajetória de dentro pra fora, enquanto Vygotsky o percurso é de
fora pra dentro.
• O domínio da linguagem falada propicia a aquisição de formas complexas de se relacionar
com o mundo.
• O aprendizado da linguagem escrita representa um novo salto no desenvolvimento da
pessoa.
• O domínio deste sistema de signos fornece novo instrumento de pensamento(na medida em
que aumenta a capacidade de memória, registro de informações etc..), propicia diferentes
formas de organizar a ação e permite acesso ao patrimônio da cultura, promove modos
diferentes e ainda modos mais abstratos de pensar, se relacionar com pessoas e com o
conhecimento.

• Interação entre aprendizado e desenvolvimento: Zona de desenvolvimento proximal

• A criança só aprenderá a falar se pertencer a uma comunidade de falantes, as condições


orgânicas embora necessárias, não são suficientes para a aquisição da linguagem.
• A aprendizagem vai promover o desenvolvimento.
• O desenvolvimento deve ser olhado de maneira prospectiva, isto é, para além do momento
atual, ou seja, para o que esta por acontecer em sua trajetória. Esta postulação esta ligada
ao conceito de zona de desenvolvimento proximal, que entremeia dois níveis de
desenvolvimento:
• 1-Nível de desenvolvimento real ou efetivo – se refere às conquistas já efetivadas,
aquelas funções ou capacidades que a criança já aprendeu e domina sem a assistência de
alguém mais experiente.Ciclos de desenvolvimento que já se completaram.
• 2- Nível de desenvolvimento potencial – refere-se às capacidades em vias de serem
construídas, aquilo que a criança é capaz de fazer, só que mediante a ajuda de alguém mais
experiente. Neste caso a criança realiza tarefa e soluciona problemas através do diálogo,
da colaboração, da imitação, da experiência compartilhada e das pistas que lhe são
fornecidas. Ex. montar certo tipo de quebra-cabeça.
• Zona de desenvolvimento proximal – é a distância entre aquilo que a criança é capaz de
fazer sozinha e aquilo que realiza em colaboração com pessoas do grupo social.
• Funções que ainda não amadureceram e que estão em processo de maturação.
• O aprendizado é o responsável por criar a zona de desenvolvimento proximal, na medida
em que, em interação com outras pessoas, a criança coloca em movimento vários processos
de desenvolvimento que, sem a ajuda de outras pessoas, seriam impossíveis de ocorrer.
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• Segundo ele, aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje será nível de
desenvolvimento real amanhã.
• A formação do conceito e o papel do ensino escolar.
• Muito antes de entrar para a escola a criança já construiu uma série de conhecimentos do
mundo que o cerca. Ex. antes de estudar matemática a criança já teve experiência com
quantidade. Conceitos cotidianos ou espontâneos.
• Conceitos científicos se relacionam aqueles eventos não diretamente acessíveis à
observação, manipulação e vivência direta; são os conhecimentos sistematizados, adquiridos
nas interações escolares. Ex. conceito de “gato” pode ser ampliado e tornar-se ainda mais
abstrato e abrangente. Será incluído num sistema conceitual de abstrações, com diferentes
graus de generalização: gato, mamífero, vertebrado, animal, ser vivo.

• A função da brincadeira no desenvolvimento


• O ensino não é o único fator responsável por alargar os horizontes da zona de
desenvolvimento proximal.
• O brinquedo (ato de brincar); faz-de-conta; jogos de papéis. Tipos de brincadeiras que
mostram a capacidade de representar simbolicamente e de se envolver numa situação
imaginária é uma importante fonte de promoção do desenvolvimento.
• Crianças com menos de três anos querem apenas satisfazer seus desejos imediatos, há
uma fusão muito intima entre o significado e o que é visto. É impossível a participação de
crianças muito pequenas numa situação imaginária.
• È na idade pré-escolar que ocorre uma diferenciação entre os campos de significado e da
visão. O pensamento que era determinado pelos objetos do exterior passa a ser regido
pelas IDÉIAS.
• A criança utilizará materiais para representar a realidade ausente. Ex: cabo de vassoura
pode representar um cavalo.
• Será capaz de imaginar, abstrair as características dos objetos reais e se deter no
significado definido pela brincadeira.
• Criará uma situação ilusória para satisfazer seus desejos não realizáveis. Ex. a criança
dirigindo um carro.
• Tenta desempenhar com fidelidade aquilo que observa em sua realidade, assim atua num
nível bastante superior ao que se encontra. É como se fosse maior. Ex. quando brinca de
escolinha reproduz as regras de uma escola de verdade.
• A atuação no mundo imaginário e o estabelecimento de regras a serem seguidas criam uma
zona de desenvolvimento proximal, na medida em que impulsiona conceitos e processos em
desenvolvimento.
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