Você está na página 1de 7

EMENTÁRIO DE VOTOS

(que, em matéria criminal, proferiu o Desembargador CARLOS


BIASOTTI, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Veja
a íntegra do voto no Portal do Tribunal de Justiça:
http://www.tj.sp.gov.br).

• MEIO AMBIENTE
(Lei nº 9605/98)

Voto nº 2773
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.239.789/1

Art. 32 da Lei nº 9.605/98 (crime contra a fauna)

– Incorre nas penas do art. 32 da Lei nº 9.605/98 (Lei do Meio Ambiente) quem
pratica maus-tratos contra os animais, estando nesse número os que
promovem briga de galos, espetáculo que, por sua crueza, repugna ao
sentimento ético-social da humanidade.
– “Protege a lei os animais não só por sentimento de piedade como ainda para
educar o espírito humano, a fim de evitar que a prática de atos de crueldade
possam transformar os homens em seres insensíveis ao sofrimento alheio,
tornando-os também cruéis para com os semelhantes” (cf. Rev. Tribs., vol.
295, p. 343).

Voto nº 3397
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.270.987/6

Art. 34 da Lei nº 9.605/98

– Não pode subsistir a condenação pelo crime do art. 34 da Lei nº 9.605/98 (Lei
do Meio Ambiente), sem prova do corpo de delito, ou da existência do fato.
À Acusação corre o ônus de demonstrar, além de dúvida, que o réu pescou em
período no qual era a pesca proibida.
– De todas as máximas que devem guiar o Julgador, não há mais sagrada nem
importante que esta: condenação exige certeza. Apenas a prova plena e
incontroversa da materialidade do fato criminoso, de sua autoria e da
culpabilidade do agente pode autorizar a edição de decreto condenatório. Se
incomprovado o fato, o próprio juízo de reprovação carecerá de substrato
lógico e a pena será, menos que retribuição pelo mal feito, pura expressão de
arbítrio. “A prova é a alma do processo” (Pereira e Sousa, apud João
Mendes Jr., Direito Judiciário Brasileiro, 1918, p. 202).

Voto nº 3908
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.302.861/3

Arts. 34, parág. único, nº II, e 37 nº I, da Lei nº 9.605/98

– A alegação do réu de que praticara o fato em estado de necessidade — art. 37,


nº I, da Lei nº 9.605/98 (Lei do Meio Ambiente) —, ao pescar mediante a
utilização de petrecho não permitido (rede), mostra-se atendível, por inferência
lógica imediata, se os autos revelam que se tratava de sujeito rústico,
desempregado e com prole numerosa por sustentar. Àquele que nada tem de
seu é lícito recorrer às dádivas da Natureza.
–“A luta pela existência é a lei suprema de toda a criação animada;
manifesta-se em toda a criatura sob a forma de instinto da conservação”
(Ihering, A Luta pelo Direito, 20a. ed., p. 17; trad. João Vasconcelos).
– Quem haverá, de ânimo tão obdurado e insensível, que faça rosto àquela
sublime apóstrofe do Evangelho: “Qual de vós porventura é o homem que, se
seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou porventura, se lhe pedir um
peixe, lhe dará uma serpente?” (Mt 7, 9-10)?
– As sutilezas do direito não constituem o direito (“apices juris non sunt jura”).

Voto nº 5064
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.378.369/5

Art. 34, ‘caput”, e parág. único, nº II, da Lei nº 9.605/98;


art. 24 do Cód. Penal

– Infringe a Lei do Meio Ambiente (art. 34, “caput”, e parág. único, nº II, da
Lei nº 9.605/98) o sujeito que realiza pescaria mediante a utilização de
petrecho não permitido (tarrafa).
– A alegação do agente de que em seu favor milita causa de justificação —
pescando, entendia no sustento da família e, pois, obrigado da necessidade —,
não merece acolhida sem prova plena e cabal do preenchimento dos requisitos
do art. 24 do Cód. Penal.

Voto nº 2850
HABEAS CORPUS Nº 380.996/1
Art. 39 da Lei nº 9.605/98;
art. 648, nº VI, do Cód. Proc. Penal

– Conforme doutrina geralmente recebida, a corrigenda do libelo (“emendatio


libelli”) é possível até à prolação da sentença final.
– Por não incorrer na censura de inépcia, a denúncia oferecida contra réu
acusado de infração do art. 39 da Lei nº 9.605/98 (Lei do Meio Ambiente)
deve basear-se na certeza de que as árvores cortadas sem permissão da
autoridade competente pertenciam a “floresta considerada de preservação
permanente”. Apenas com a satisfação desse requisito – elemento normativo
do tipo – é lícito processar quem transgrediu a lei e violou o mandamento que
a consciência ecológica aditou ao decálogo divino, parafraseando-o: Não
desmatarás!
– “A acusação deve estar acompanhada do inquérito policial ou de elementos
que habilitam o Ministério Público a promover a ação penal (art. 39, § 5º, do
Cód. Proc. Penal)” (José Frederico Marques, Elementos de Direito
Processual Penal, 2a. ed., vol. II, p. 162).

Voto nº 3679
CORREIÇÃO PARCIAL Nº 1.293.725/3

Art. 39 da Lei nº 9.605/98

– Não cabe correição parcial onde não há “error in procedendo” ou inversão


tumultuária do processo.
–“Não há cousa mais dificultosa do que dar a razão de uma sem-razão” (Vieira,
Sermões, 1959, t. IV, p. 139).
– Embora agressão à Natureza — como o é toda a derrubada de árvores —;
ainda que se equipare sua conduta à dos “construtores de desertos” — como
lhes chamou, aos cúpidos desmatadores, o douto e esclarecido Juiz José
Renato Nalini (cf. Ética Ambiental, 2001, p. 58; Millennium Editora) —, não
tipifica o ilícito penal previsto no art. 39 da Lei do Meio Ambiente a ação de
quem corta árvores em área não considerada de preservação permanente.

Voto nº 2961
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.246.499/5

Art. 46, parág. único, da Lei nº 9.605/98

– Salvo a hipótese (que requer prova cabal) do sujeito que, para prover às suas
primeiras necessidades e da família, extrai pequenas quantidades de palmitos
de florestas consideradas de preservação permanente, constitui crime tê-los em
depósito ou para venda, em grande escala, sem licença da autoridade
competente (art. 46, parág. único, da Lei do Meio Ambiente).
– O desconhecimento da lei é inescusável (art. 21 do Cód. Penal).
Voto nº 3595
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.301.121/2

Art. 46 da Lei nº 9.605/98;


art. 33, § 1º, alínea c, do Cód. Penal

– Atenta contra a Natureza e incorre na sanção da Lei nº 9.605/98 (art. 46), por
lesar o meio ambiente, o sujeito que, sem exigir a exibição de licença do
vendedor, expedida pela autoridade competente, adquire, para fins comerciais,
palmitos extraídos da palmeira juçara, produto vegetal típico da Mata
Atlântica e da região compreendida na área de proteção ambiental de
Cananeia, Iguape e Peruíbe.
– Contra aquele que, infenso à ética ambiental, concorre para o desmatamento
de floresta considerada de preservação permanente, prevalece o rigor da lei,
como “ultima ratio”, em ordem a que “o mundo não seja, num futuro não-
remoto, um deserto fuliginoso e morto” (José Renato Nalini, Ética Ambiental,
2001, p. 204).
– Não repugna à consciência jurídica nem quebranta a vontade da lei a decisão
que defere a réu (mesmo reincidente) o regime aberto, se condenado a pena
de curta duração. Casado e chefe de família, os efeitos de sua prisão
alcançariam também pessoas inocentes (a mulher e os filhos); donde o
prescrever o direito positivo que, ao aplicar a lei, deve olhar o Juiz o bem da
sociedade (art. 5º da Lei de Introdução ao Cód. Civil).

Voto nº 3975
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.324.521/1

Art. 46, parág. único, da Lei nº 9.605/98;


art. 36 do Cód. Penal

– A lei não concede foral de impunidade àquele que tem em depósito ou guarda,
para fins comerciais ou industriais, produtos de origem vegetal (como o
palmito), sem licença da autoridade competente; antes, reprime-lhe
severamente a conduta (art. 46, parág. único, da Lei nº 9.605/98), por atentar
com insigne desdém e execrável cupidez contra floresta considerada de
preservação permanente e, portanto, contra o patrimônio comum de seu País e
de toda a Humanidade.
– Pena de curta duração, por crime cometido sem violência a pessoa, pode o
Juiz determinar que o réu a cumpra sob o regime aberto, ainda que
reincidente. Solução é esta que se conforma com os princípios da política
criminal, máxime o da reação penal mínima (art. 36 do Cód. Penal).
Voto nº 5308
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.407.771/1

Art. 46, parág. único, da Lei nº 9.605/98;


art. 24 do Cód. Penal

– Viola o meio ambiente e, pois, incorre na sanção da Lei nº 9.605/98 (art. 46,
parág. único), o sujeito que, sem licença da autoridade competente, transporta
palmitos extraídos da palmeira juçara, produto vegetal típico da Mata
Atlântica.
– Contra aquele que, infenso à ética ambiental, concorre para o desmatamento
de floresta considerada de preservação permanente, prevalece o rigor da lei,
como “ultima ratio”, em ordem a que “o mundo não seja, num futuro não-
remoto, um deserto fuliginoso e morto” (José Renato Nalini, Ética Ambiental,
2003, p. 234).
– A defesa com base em circunstância excludente de ilicitude jurídica, de cunho
excepcional — como o estado de necessidade —, não se satisfaz com
simples alegação, requer prova plena e cabal (art. 24 do Cód. Penal).

Voto nº 2895
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.241.445/1
Art. 48 da Lei nº 9.605/98;
art. 44, § 2º, do Cód. Penal

– Incide nas penas do art. 48 da Lei nº 9.605 (Lei do Meio Ambiente) o sujeito
que realiza gradeamento em terreno às margens de represa, pois com seu ato
impede ou dificulta a regeneração natural de florestas e demais formas de
vegetação.
– Ainda que o não tenha pleiteado a denúncia, pode o Magistrado, ao julgá-la
procedente, impor ao réu infrator do art. 48 da Lei nº 9.605 (Lei do Meio
Ambiente), além da pena restritiva de liberdade, multa reparatória (art. 20).

Voto nº 3203
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.262.285/1

Art. 55 da Lei nº 9.605/98


– Incorre nas penas da Lei nº 9.605/98 (Lei do Meio Ambiente) aquele que, sem a
competente autorização, extrai recurso mineral (areia) e, em consequência,
dificulta a regeneração natural de floresta e outras formas de vegetação,
danificando-as (arts. 55, 48 e 50).
– Ao reprimir a atividade lesiva ao meio ambiente, pôs a mira o legislador em
preservar a Natureza como bem inestimável da Humanidade e garantir às
futuras gerações a posse de herança comum: as condições ideais de uma vida
saudável e feliz!
– Oportuna e abalizada é a admoestação de José Renato Nalini, insigne jurista
e apóstolo infatigável da ética ambiental: “Derrubar uma árvore é um crime.
Não apenas previsto pela Lei de crimes ambientais, mas um crime contra o
futuro, uma lesão contra a Humanidade. E antes de ser crime, é evidente
infração ética” (Ética Ambiental, 2001, p. 81; Millennium Editora).

Voto nº 8076
HABEAS CORPUS Nº 1.003.811-3/6-00
Arts. 41, 361, 362 e 569 do Cód. Proc. Penal;
arts. 3º da Lei nº 9.605/98;
art. 41 do Cód. Proc. Penal

— Não é inepta a denúncia que permite ao réu o exercício do direito de ampla


defesa. Eventual preterição de requisito do art. 41 do Cód. Proc. Penal pode
suprir-se até à sentença final (art. 569 do Cód. Proc. Penal).
— “Se a denúncia narra fato que permite adequação típica, ela não é,
formalmente, inepta (art. 41 do CPP)” (STJ; Jurisprudência, vol. 105, p. 303;
rel. Min. Félix Fischer).
— Ainda que instrumento processual de dignidade constitucional, próprio a tutelar a
liberdade do indivíduo, não pode o “habeas corpus” substituir o recurso
ordinário, máxime quando a “causa petendi” respeita a questões de alta
indagação.
— A partícula aditiva e entre as palavras penais e administrativas (art. 225, § 3º, da
Const. Fed.) dá bem a conhecer o intuito do legislador: sujeitar os autores dos
delitos definidos na Lei do Meio Ambiente (Lei nº 9.065/96) – pessoas físicas e
jurídicas – a sanções penais e administrativas.
—“(...) a denúncia poderá ser dirigida apenas contra a pessoa jurídica, caso não
se descubra a autoria ou participação das pessoas naturais, e poderá, também,
ser direcionada contra todos. (...) Agora o Ministério Público poderá imputar o
crime às pessoas naturais e à pessoa jurídica, juntos ou separadamente. A
opção dependerá do caso concreto” (Vladimir Passos de Freitas e Gilberto
Passos de Freitas, Crimes contra a Natureza, 8a. ed, p. 70).

Voto nº 2821
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.216.529/3
Art. 26, letra n, da Lei nº 4.771/65 (Código Florestal);
art. 37 da Lei das Contravenções Penais (arremesso ou colocação perigosa)

– Nisto de prova, tem universal aplauso o velho brocardo chinês: uma fotografia
é mais eloquente que um discurso, pois vale por mil palavras.
– A Defesa do Meio Ambiente acrescentou novo mandamento ao decálogo divino:
Não desmatarás!

FINIS
(Em breve, novas ementas).

Você também pode gostar