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engenharia

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focando o Quadro de Unidades de Me-


dida do Sistema SI.
Essas padronizações são em ge-
ral de caráter internacional e, como
tais, vigentes em todos os países que
as adotam (como no Brasil), o que fa-
cilita, entre outros, o entendimento
entre esses países, razão pela qual
também passam a ser adotadas pe-
los setores técnicos do Mercosul,
como também da União Européia, EU
(Europe Union).
O presente estudo visa comentar
a aplicação destes documentos, ten-
do em vista que, em diversos níveis e
atividades, encontramos no Brasil
ainda procedimentos conflitantes
com essas determinações, “dando
origem assim a erros”. Visa ainda tra-
zer informações capazes de orientar
os profissionais no uso correto dos
documentos mencionados, indican-
do as fontes de consulta existentes
sobre o assunto.
INCORREÇÕES MAIS
FREQÜENTEMENTE
ENCONTRADAS
A análise das incorreções pode ser
abordada de diversas maneiras mas,
provavelmente, o modo mais direto é
o de se apontarem os erros que são
O uso incorreto de unidades encontrados com maior freqüência,
lembrando que “ninguém erra pelo

de medida e suas grandezas prazer de errar”, e de apontar o ca-


minho para evitá-los no futuro. O lei-
tor, certamente, concorda que, no mí-
Quais as regras para evitá-lo? nimo, esses fatos existem por uma
“falha de formação”, que provavel-
mente está ocorrendo desde que foi
RESUMO nham uma informação, um texto, uma completado o ciclo básico e que se
redação e a leitura de textos

A
proposta, cuja forma de redação tam- prolonga, comprovadamente, até de-
técnicos, tão freqüentes nas bém precisa ser observada. pois de uma pós-graduação.
atividades profissionais de Porém, a escrita correta de todas es- Assim, vejamos alguns exemplos
cada engenheiro, nos levam sas informações, bem como a dos seus que bem enfocam o problema, para em
ao uso obrigatório de gran- símbolos e plurais, “não fica a critério seguida destacar as principais regras e
dezas e de suas respectivas unidades do seu autor”, e sim precisa atender a a bibliografia disponível, encontrada na
de medida, associadas aos termos téc- alguns documentos normatizadores, documentação das entidades normati-
nicos que se aplicam ao assunto trata- em que sua grafia é “padronizada”, do- zadoras, citadas anteriormente.
do. Somam-se a estes fatores, normal- cumentos estes que podemos exempli-
mente valores numéricos que acompa- ficar como sendo as normas técnicas Exemplo 1
da Associação Brasileira de Normas O uso do prefixo “quilo”, ou seja,
WALFREDO SCHMIDT Técnicas, ABNT, da Comissão Eletro- 1 000, e que, como todo prefixo, “preci-
ENGENHEIRO ELETRICISTA, AUTOR DE LIVROS E AR- técnica Internacional, IEC ou ainda da sa ter associado a ele uma unidade de
TIGOS TÉCNICOS, FOI CONSELHEIRO DO CREA-SP;
ATUOU NA ELEVADORES ATLAS, SIEMENS E HMD (ME- ISO, além das Resoluções Federais medida”, (por exemplo, quilograma, ou
TRÔ DE SÃO PAULO); FOI PROFESSOR TITULAR NO oriundas do Instituto Nacional de quilômetro), seja como uma moeda, um
MACKENZIE, MAUÁ E FAAP; HOJE É CONSULTOR E
PESQUISADOR, SECRETÁRIO DE COMISSÃO DA ABNT Metrologia, Normalização e Qualida- peso ou massa, força, velocidade, ten-
E MEMBRO DO CONSELHO DA ABEE-SP de Industrial, Inmetro, este último en- são etc. Entretanto, com relação a esse

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prefixo, encontramos uma série de in- desta unidade de


correções, tais como: medida. Veja os
1.1. A grafia desta palavra não é exemplos das figu-
“kilo”, como se vê freqüentemente, por ras 2 e 3.
exemplo, nos restaurantes, quitandas,
feiras etc. Este fato é antes de mais Exemplo 3
nada, “um erro de grafia da língua Ainda aprovei-
portuguesa”; tando a citação da
1.2. O prefixo “quilo” vem freqüente- “hora” na figura 1,
mente “sem uma unidade de medida” e vale lembrar que
(como nos restaurantes, o “kilo” de a unidade de tem-
comida), subentendendo-se tratar de po “segundo” tem Figura 1 - Uma placa de um restaurante, informando fornecer comida
peso ou de massa. Veja o que mostra a seu símbolo como “p/kilo”. Encontramos aí quatro erros: o símbolo da palavra “kilo” (o
figura 1. sendo um “s”, sim- correto seria “quilograma”), o símbolo de grama (é apenas um “g”
1.3. A abreviatura ou o “símbolo” des- plesmente, e o “mi- minúsculo), a ausência da moeda em que a comida é oferecida, e o
sa grandeza e seu prefixo, escrito como nuto” tendo o sím- horário de almoço, onde a abreviatura da unidade de tempo, a hora
sendo KG ou Kg, ambas formas erra- bolo “min”. Portan- no caso, está como “hs”, ao invés de simplesmente um “h” minúsculo,
das. O correto é escrever “kg”, ambas to, está “errado” sem “s”
letras minúsculas, segundo determina- usar como símbolo
ção do Inmetro. Portanto, prefixo e uni- do “segundo” a grafia “Seg.”, “seg.” Exemplo 5
dade, com letras minúsculas. Isto por- etc. Se assim, tivermos t =1 minuto, o Uma rápida referência aos “termos
que, o “K” maiúsculo é o símbolo da seu símbolo será t = 1 min. Se, por técnicos”, encontrados com suas defi-
unidade kelvin, e o “M” maiúsculo outro lado, tivermos t = 10 minutos, o nições nas respectivas normas técni-
identifica o prefixo mega. seu símbolo será t = 10 min, (e não 10 cas ou no Vocabulário Internacional de
O exposto vem baseado nas seguin- mins), pois abreviando como indica- Termos Básicos e Gerais de Metrologia,
tes regras contidas no Quadro de Uni- do no parêntesis, o seu significado também publicado pelo Inmetro. Vou
dades SI: seria 10 minutos-segundos, o que evi- fazer a citação de alguns termos
A grafia dos símbolos dos “prefixos” dentemente é um absurdo. indevidamente utilizados em engenha-
deve obedecer a tabela 1, do Sistema SI, Assim, naquela figura 1, aparece ria elétrica, apesar de haver exemplos
e a “unidade de medida”, não sendo “grs”, para informar o custo das “gra- em qualquer outra das áreas técnicas,
derivada de nome próprio, tem seu sím- mas” de alimento. Só que, interpre- a saber:
bolo escrito com letra minúscula. tando “grs”, teríamos o “g” como 5.1. O termo “voltagem”. Esse termo,
Todo valor numérico vem segui- sendo “gramas”, o “r” sozinho, mi- que designa a grandeza “tensão elétri-
do de uma unidade de medida, com núsculo, não existe como símbolo de ca”, não existe na terminologia brasi-
ou sem prefixo, a menos dos casos em unidade de medida e o “s” é o símbo- leira “e não pode ser usado”. O único
que estamos usando valores relativos lo de “segundo”. termo admitido é “tensão elétrica”,
(por exemplo permeabilidade magné- Portanto, nova regra: medido em “volt” (todas letras minús-
tica relativa), onde não temos uma Não existe plural do símbolo de culas), símbolo U maiúsculo (e não V),
unidade de medida. uma unidade de medida. O símbolo é medido em “volts” com todas as letras
Cada unidade de medida se repor- o mesmo no singular e no plural. minúsculas (símbolo V maiúsculo).
ta a uma grandeza, que vem definida Veja a figura 4, de uma etiqueta em um
na norma ISO 31. Exemplo 4 hotel de uma das principais cidades
Na medição de energia, utiliza-se brasileiras.
Exemplo 2 o “watt”, cuja grafia é feita com to- Na mesma situação de “termos téc-
Outra grandeza freqüentemente das as letras minúsculas, com seu nicos não admitidos”, estão as pala-
usada é o “metro”, com ou sem prefixo símbolo sendo o “W” maiúsculo, ten- vras amperagem (usar corrente),
(quilômetro, por exemplo). O seu sím- do como um dos seus múltiplos mais wattagem (usar potência), conduit
bolo é apenas um “m” minúsculo, es- freqüentes, o quilowatt (kW). Forma (usar eletroduto), tap (usar derivação),
tando “erradas” formas como M, MTS, alternativa que pode ser usada ain- shunt (usar derivador), diagrama (usar
MTs, e outras encontradas, ou ainda, da, apesar de não pertencer ao Siste- esquema), e outros mais. Consulte a ter-
no caso do quilômetro, formas como ma SI, é o “cavalo vapor”, símbolo minologia das normas, antes de se ex-
KM, Kmts etc. Este erro se amplia quan- “cv” minúsculos, não se admitindo por, ao empregar termos não existen-
do do uso do símbolo da grandeza “ve- mais, (já há algum tempo), a unidade tes tecnicamente.
locidade”, redigida como sendo KM, “horse power”. Os casos de erros são muitos, o que
KM/H, Km/H etc., pois, aplicando a Acrescente-se ainda o quilovolt- nos leva a propor uma atenção especial
regra antes enunciada, o “h” de hora é ampére, ou, no símbolo, kVA (k minús- sobre o assunto, pois, lamentavelmen-
minúsculo como também o “k” e o “m” culo e VA maiúsculos). te, quem utiliza unidades de medida,

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Figuras 2 e 3 - É a de um luminoso na entrada de um túnel recém inaugurado em uma grande cidade brasileira, onde na primeira vista, aparece: “velocidade
máxima”, e logo em seguida; “60 KM”. Portanto, a velocidade dada em quilômetros (que não é unidade de velocidade e sim de distância), com o “quilo” com
símbolo errado (deveria ser “k” minúsculo), o “metro” com símbolo de um M maiúsculo (deveria ser “m” minúsculo) e faltando a unidade de medida do
tempo (supostamente deve ser neste caso a “hora”, ou seja, “h” minúsculo)

termos técnicos e símbolos errados ex- uma norma técnica! Um


põe claramente o seu desconheci- alerta, portanto, a alguns
mento do assunto, “o que não é nada dos nossos caros profes-
recomendável no meio técnico em que sores.
atuamos”. 2. O livro que, na forma
de texto-base, utilizamos
POR QUE ISSO ACONTECE? como alunos, freqüente-
Se, de um lado, é raro encontrar- mente está desatualizado
mos textos errados quanto à sua orto- em relação às normas a
grafia e concordância, por que mos- que deve atender. “Esse
tram-se assaz freqüentes os erros no fato ocorre devido à falta Figura 4 - Etiqueta informando, em português e em inglês, a
uso de unidades de medida e de suas de cuidado dos autores e tensão existente nas tomadas. Informação muito útil, porém,
usando um termo “que não existe” na terminologia, e o símbo-
grandezas? A resposta parece que editores” desses livros
lo da unidade de medida, o volt, deveria ser um “V “maiúsculo,
pode ser encontrada em alguns fatos em mantê-los atualiza- e não minúsculo, como está. Deveria ser “tensão 220 V ou ten-
que cada um de nós pode constatar, e dos e “válidos”, tanto são elétrica 220 V”. Também não informa se é corrente contí-
que são: quanto às normas quan- nua ou alternada
1. Enquanto a língua portuguesa nos é to ao que vimos em rela-
ensinada anos a fio, em diversos ní- ção ao uso correto de todos os deta- mar a respeito, sugerimos consultar
veis, muitos dos profissionais de ati- lhes que definidos no Sistema SI e na a bibliografia mencionada. Um e-
vidades técnicas terminam o seu estu- ISO 31. O que está sendo afirmado xemplo de redação incorreta de um
do profissionalizante de 2o e 3º graus, quanto aos livros se amplia conside- valor numérico numa aplicação téc-
ou mesmo de pós-graduação, sem uma ravelmente se observarmos que nas re- nica: vem a indicação de uma dis-
sólida informação quanto ao uso de vistas técnicas, com raras exceções, tância em “1.000 m”, ao invés de
normas técnicas, de unidades de me- ocorrem as mesmas deficiências. “1 000 m”. “Não se deve usar o pon-
dida e de suas grandezas, por absolu- Observe: um livro, um artigo, um re- to separando os números de três em
to “descuido” de seus professores das latório, um texto enfim, que não res- três”. A regra estabelece: deixar um
disciplinas profissionalizantes. Per- peita os documentos mencionados, simples intervalo (1 000), ou escre-
gunto: “Quantos dos leitores deste ar- pode perfeitamente ser considerado ver os números juntos (1000).
tigo utilizaram as normas técnicas em sem validade.
suas aulas de projeto, de materiais 3. Sem entrar na análise dos critéri-
etc.?” Posso afirmar com segurança que os que devem ser adotados, gostarí- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
não corresponde à realidade a alega- amos de observar que a redação cor-
ção que “o texto de norma não é ade- reta de “valores numéricos” também 1. Metrologia Aplicada – Engº.
quado ao ensino”, sempre que, junta- está definida no Quadro de Unida- Profº. Walfredo Schmidt.
mente com o uso da norma, sejam da- des SI, destacando-se modos diferen- (e-mail: awschmidt@uol.com.br).
das explicações técnicas para o seu en- tes de sua redação em documentos 2. Documentação técnica do
tendimento, o que, aliás, é basilar para técnicos, documentos jurídicos e do- Inmetro e ABNT.
que o profissional use corretamente cumentos comerciais. Para se infor-

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